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Ativismo anti-imigração e extrema-direita na Europa: Entrevista com Kristian Berg Harpviken

Dr. Kristian Berg Harpviken é sociólogo e professor pesquisador no Peace Research Institute Oslo (Prio). Ele foi o diretor do instituto de 2009 a 2017 e atualmente lidera o Prio Middle East Centre. Os interesses de pesquisa de Harpviken incluem processos de paz, construção da paz, dinâmica da guerra civil, migração e comunidades transnacionais e metodologia em contextos difíceis. Harpviken foi pesquisador visitante na University of Chicago e na Georgetown University, e é associado da University of York, do Doha Institute for Graduate Studies e do Institute for National Security Studies Sri Lanka. Harpviken é conhecido por sua competência em questões relacionadas ao Afeganistão e arredores, mas também trabalhou em vários outros países, incluindo Angola, Bósnia-Herzegovina, Irã, Iraque, Líbano, Moçambique, Paquistão, África do Sul e Turquia. Harpviken é um comentarista de mídia frequentemente e faz palestras regularmente para o público acadêmico e geral. Ele é autor de Social networks and migration in Afghanistan (Palgrave Macmillan, 2009), e (com Shahrbanou Tadjbakhsh) de A rock between hard places: Afghanistan as an arena for regional insecurity (Hurst/Oxford University Press, 2016).

Professor, muito obrigado por aceitar conversar conosco. Gostaria que começasse falando sobre o que é o projeto Reaching Out to Close the Border: The Transnationalization of Anti-Immigration Movements in Europe (MAM), coordenado pelo professor e Prio e quais são os objetivos das investigações.

Dr. Kristian Berg Harpviken [KBH]: O projeto MAM tem como objetivo investigar, em profundidade, a mobilização contra a imigração na Europa. Estamos realizando estudos de caso, considerando diversas dimensões e perspectivas, em seis países bastante diferentes: Noruega, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Itália e Portugal. Uma dessas dimensões é identificar quem são os atores sociais envolvidos nos movimentos anti-imigração, como eles trabalham juntos e até que ponto trabalham juntos (Bedock et al., 2023BEDOCK, Camille; OTJES, Simon; BEST, Volker & WEISSKIRCHER, Manes. (2023), “A policy like no other? The populist radical right challenge in the field of democracy reform”, Party Politics, 29, issue 4. DOI: 10.1177 /13540688221089126.
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). É claro para nós que é difícil dizer que eles são um “movimento social”: em grande parte, estes movimentos são um conjunto de diferentes tipos de ativistas, em muitos casos com apelo a diferentes posições do espectro político. Existem interações entre eles, mas não necessariamente uma relação constante que as transforme em um movimento homogêneo. É até difícil determinar quem são os líderes (Heinze e Weisskircher, 2020HEINZE, Anna-Sophie & WEISSKIRCHER, Manes. (2021), “No strong leaders needed? AfD party organisation between collective leadership, internal democracy, and ‘movement-party’”. Strategy, Politics and Governance, 9 (4): 263-274.). Também observamos que o ativismo anti-imigração está intimamente ligado à política partidária, particularmente à extrema-direita (Rydgren, 2018RYDGREN, Jens. (2018), The Oxford handbook of the radical right. Oxford, Oxford University Press.).

O segundo ponto que estamos investigando são os “frames” (enquadramento interpretativo) (Snow e Benford, 1988SNOW, David & Robert BENFORD. (1988), “Ideology, frame resonance and participant mobilization”. International Social Movement Research, 1: 197-217.). Ou seja, como esses ativistas justificam sua resistência à imigração. Existem vários tipos de frames em circulação na esfera pública. Alguns enfatizam os efeitos econômicos da imigração, seus impactos no emprego ou na sustentabilidade do estado de bem-estar social. Outros ressaltam os desafios de segurança pública que podem surgir com a imigração, como o crime organizado e o terrorismo, por exemplo (Rydgren, 2008RYDGREN, Jens. (2008), “Immigration sceptics, xenophobes or racists? Radical right-wing voting in six West European countries”. European Journal of Political Research, 47 (6): 737-65. DOI: 10.1111/j.1475-6765.2008.00784.x.
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). Alguns até apontam questões menos convencionais, como os impactos ambientais da imigração, em um momento em que as preocupações com a mudança climática e o meio ambiente estão em alta na agenda pública (Turner e Bailey, 2022TURNER, Joe & BAILEY, Dan. (2022), “‘Ecobordering’: Casting immigration control as environmental protection”. Environmental Politics, 31 (1): 110-31. DOI: 10.1080/09644016.2021.1916197.
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). Mais proeminentemente nos últimos anos, há referências à saúde pública, sendo a preocupação a possibilidade de que os altos fluxos migratórios tragam novas doenças e novas formas de contágio (Pickup et al., 2021PICKUP, Mark; ROOIJ, Eline A. de; LINDEN, Clifton van der & GOODWIN, Matthew J. (2021), “Brexit, covid-19, and attitudes toward immigration in Britain”. Social Science Quarterly, 102 (5): 2184-93. DOI: 10.1111/ssqu.13010.
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). Talvez até argumentem que os imigrantes de certas outras partes do mundo não têm necessariamente a mesma “cultura de higiene” que as pessoas na Europa. Esses tipos de preocupações também podem ser usados como justificativas.

Por fim, estamos interessados em entender qual é o impacto da mobilização contra a imigração em diferentes dimensões da sociedade. Realmente estas mobilizações têm influenciado a política migratória dos países europeus? (Bedock et al., 2023BEDOCK, Camille; OTJES, Simon; BEST, Volker & WEISSKIRCHER, Manes. (2023), “A policy like no other? The populist radical right challenge in the field of democracy reform”, Party Politics, 29, issue 4. DOI: 10.1177 /13540688221089126.
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; Kyriazi et al., 2022KYRIAZI, Anna; MENDES, Mariana S.; RONE, Julia & WEISSKIRCHER, Manes. (2022), “The politics of emigration in Europe: A research agenda”. Journal of Common Market Studies. DOI: 10.1111/jcms.13392.
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; Bazurli et al., 2022BAZURLI, Raffaele; Tiziana CAPONIO & GRAAUW, Els de. (2022), “Between a rock and a hard place: mayors, migration challenges and multilevel political dynamics”. Territory, Politics, Governance, 10 (3): 297-305. Disponível em https://doi.org/10.1080/21622671.2022.2046633.
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). Por exemplo, o governo dinamarquês trabalhou arduamente nos últimos dois ou três anos para não apenas firmar um acordo com Ruanda, mas também para fazer com que Ruanda processe seus solicitantes de asilo em solo ruandês (Amnesty International, 2021AMNESTY INTERNATIONAL. (2021), “Denmark: Plans to send asylum-seekers to Rwanda ‘unconscionable and potentially unlawful’”. Amnesty International. Disponível em https://www.amnesty.org/en/latest/news/2021/05/denmark-plans-to-send-asylum-seekers-to-rwanda-unconscionable-and-potentially-unlawful/, consultado em 26/05/2023.
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). Isso é algo que o governo dinamarquês faz porque acredita ser a melhor maneira de gerenciar a migração, ou o faz como um gesto de apoio para os críticos mais severos da imigração na política dinamarquesa? Essas são as perguntas que estamos investigando. E para todas essas questões, estamos interessados em entender como os ativistas anti-imigração estão alcançando outros países, como estão trocando informações, compartilhando ideias, aprendendo com o sucesso ou a falta de sucesso de várias formas de ativismo, e assim por diante.

Como a sua trajetória acadêmica o levou a estudar a extrema-direita e os movimentos anti-imigração na Europa?

KBH: A trajetória que me levou a estes estudos é bastante não convencional. Meu principal interesse tem sido em questões relacionadas com a guerra e a paz em países distantes da Europa1 1 Desde a década de 1980, Harpvinken tem trabalhado sobretudo com questões do Oriente Médio, particularmente com o Afeganistão, como consultor político e como pesquisador. Para mais informações: https://www.prio.org/people/3472. . Eu tenho, por exemplo, trabalhado muito para compreender os atores sociais armados no Afeganistão e a natureza do conflito naquele país (Strand, Borchgrevink e Harpviken, 2017STRAND, Arne; BORCHGREVINK, Kaja & HARPVIKEN, Kristian Berg. (2017), “Afghanistan: A political economy analysis”, Nupi Report. Oslo, Nupi; Prio; CMI.; Harpviken, 2009HARPVIKEN, Kristian Berg. (2009), Social networks and migration in wartime Afghanistan. Nova York, Palgrave Macmillan.). Tenho investigado a recuperação social em situação pós-conflito em lugares como Moçambique ou Angola (Millard, Harpviken e Kjellman, 2002MILLARD, A. S.; HARPVIKEN, K. B. & KJELLMAN, K. E. (2002), “Risk removed? Steps towards building trust in humanitarian mine action”. Disasters, 26 (2): 161-174.). Atualmente, trabalho em vários problemas relacionados com o Oriente Médio, incluindo questões associadas à migração (Palik et al., 2020PALIK, Júlia; RUSTAD, Siri Aas; HARPVIKEN, Kristian Berg & METHI, Fredrik. (2020), “Conflict trends in the Middle East, 1989-2019”. Prio Paper. Oslo, Prio.). Mas todas essas questões estão apenas remotamente vinculadas aos debates sobre imigração na Europa. Embora talvez a sobreposição seja que, quando olhamos para as mobilizações anti-imigração na Europa, estamos falando sobre movimentos políticos, e grande parte do meu trabalho em outras partes do mundo tem sido sobre movimentos políticos e militantes naqueles casos (Harpviken, 2008HARPVIKEN, Kristian Berg. (2008), “From ‘refugee warriors’ to ‘returnee warriors’: militant homecoming in Afghanistan and beyond”. Global Migration and Transnational Politics Working Paper, 5. Arlington, VA, Center for Global Studies, George Mason University.). É claro: o interesse em migração como questão de pesquisa. Meu interesse anterior também era compreender a migração, como e por que as pessoas decidem migrar e qual impacto isso tem em suas vidas e, por sinal, na vida das pessoas que não migram. Então há alguma conexão também com a resistência à migração. Ou seja, uma rota muito indireta e um tanto inesperada, acho, para chegar à questão específica do MAM. Então, o que realmente despertou meu interesse para este projeto foi a enorme intensidade que vimos no debate sobre imigração na Europa há bastante tempo. Mas ele realmente se concretizou como objeto de pesquisa a partir da chamada crise dos refugiados, em 2015. Na época em que comecei a desenvolver a ideia do MAM, em 2017, vimos que esta era uma questão muito importante na agenda política na maioria dos países da Europa. Hoje está menos em evidência2 2 Harpvinken refere-se à maior visibilidade da guerra da Ucrânia e consequentemente às crises financeiras e energéticas e ao risco eminente de uma expansão territorial da guerra nas discussões políticas na Europa no momento. , mas acho que o potencial para isso ressurgir como a questão-chave em vários países europeus ainda é muito alto.

Como você vê o futuro das mobilizações anti-imigração na Europa e qual é o papel das lideranças políticas atuais para determinar os resultados e desfechos desses processos?

KBH: Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Acredito que essa seja a pergunta em que todo líder político responsável na Europa está pensando no momento. Não acho que esse seja um problema que irá desaparecer tão cedo. Acredito que veremos grandes surtos de sentimentos anti-imigrantes. E o que me preocupa em particular é que, se você olhar a tendência nos últimos dez anos, há duas coisas que se destacam. Uma delas é que, em geral, em média, a população europeia está se tornando cada vez mais receptiva em relação aos imigrantes (European Commission, 2021EUROPEAN COMMISSION. (2021), Special Eurobarometer 519 - Integration of Immigrants in the European Union. European Commission.). Então, nesse sentido, é uma boa notícia. Mas a má notícia é que a parcela da população que se opõe profundamente à imigração também está aumentando (Heath et al., 2020HEATH, Anthony; DAVIDOV, Eldad; FORD, Robert; GREEN, Eva G. T.; RAMOS, Alice & SCHMIDT, Peter. (2020), “Contested terrain: Explaining divergent patterns of public opinion towards immigration within Europe”. Journal of Ethnic and Migration Studies, 46 (3): 475-88. DOI: 10.1080/1369183X.2019.1550145.
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). Não apenas essa parcela está aumentando, mas também se torna cada vez mais crítica. Então, estamos diante de uma enorme polarização nas questões imigratórias. Claro, há alguns países em que partidos fortemente contrários à imigração estão no governo. Na Suécia, por exemplo, geralmente vista como o país mais amigável aos imigrantes na Europa, temos agora uma situação em que os Democratas da Suécia (DS), um partido de extrema-direita, fortemente contrário à imigração, é um partido que apoia a coalizão do governo. Temos a Polônia, governada pelo partido Lei e Justiça (PiS), e que possui visões bastante céticas em relação à imigração e é maioria no governo. Portanto, a situação é muito diferente de um país para outro. Mas é uma grande preocupação e está interligada com uma série de outras questões. No momento, o maior desafio migratório que a Europa enfrenta é a imigração da Ucrânia. Felizmente, apesar do enorme volume dessa migração, ela tem sido amplamente recebida com simpatia. Você ouve muito poucas vozes expressando uma oposição fundamental em receber refugiados ucranianos (De Coninck, 2023DE CONINCK, David. (2023), “The refugee paradox during wartime in Europe: How Ukrainian and Afghan refugees are (not) alike”. International Migration Review, 57 (2): 578-86. DOI: 10.1177/01979183221116874.
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), embora, é claro, deva-se dizer que na maioria dos países essa recepção é temporária.

Dada a multiplicidade de realidades, devemos pensar esses movimentos de forma específica em cada país ou é possível pensar enquanto Europa?

KBH: De ambos os modos. Quero dizer, este projeto foi em parte inspirado pelo desejo de compreender até que ponto este é um fenômeno no qual ativistas anti-imigração colaboram através das fronteiras, de forma transnacional. É um pouco cedo para tirar conclusões sólidas, mas acho que nossas descobertas iniciais indicam que a maioria dos ativistas nas mobilizações anti-imigração se veem muito dentro do quadro nacional ou mesmo dentro do quadro local. Isso não significa, no entanto, que não haja interação através das fronteiras, porque o que também vemos é que existem indivíduos-chave que são os intermediários de informação, os interlocutores que passam lições aprendidas e novas maneiras de pensar sobre o problema e novas formas de agir sobre o problema (Rydgren 2005RYDGREN, Jens. (2005), “Is extreme right-wing populism contagious? Explaining the emergence of a new party family”. European Journal of Political Research, 44 (3): 413-37. DOI: 10.1111/j.1475-6765.2005.00233.x.
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). Então, há uma forte dimensão transnacional, embora para a maioria dos ativistas haja muito pouca consciência, até mesmo conhecimento desse alcance transnacional.

Um dos objetivos do projeto é compreender os enquadramentos políticos-ideológicos dos movimentos e ativistas. Eles sempre estão relacionados com a extrema-direita ou existem exceções?

KBH: Bem, se olharmos para a questão em uma perspectiva mais histórica, em dez, vinte ou talvez até trinta anos, os sentimentos anti-imigração têm sido muito associados à extrema-direita e à direita radical (Stockemer, Halikiopoulou e Vlandas, 2021STOCKEMER, Daniel; HALIKIOPOULOU, Daphne & VLANDAS, Tim. (2021), “‘Birds of a feather’? Assessing the prevalence of anti-immigration attitudes among the far right electorate”. Journal of Ethnic and Migration Studies, 47 (15): 3409-3436. DOI: 10.1080/1369183X.2020.1770063.
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). Mas parte da motivação para o projeto reside na observação de que há algum apelo dos sentimentos anti-imigração em outras partes do espectro político (Hjorth e Larsen, 2022HJORTH, Frederik & LARSEN, Martin Vinæs. (2022), “When does accommodation work? Electoral effects of mainstream left position taking on immigration”. British Journal of Political Science, 52 (2): 949-57. DOI: 10.1017/S0007123420000563.
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). Agora, se você observar meu próprio país, a Noruega, que tem sido moderadamente amigável aos imigrantes, mas não é um país que recebe imigrantes em massa (bastante diferente da vizinha Suécia, por exemplo), os partidos mainstream Trabalhista e Conservador têm se preocupado muito com a questão de extrema-direita quando se trata de imigração (Fangen e Vaage, 2018FANGEN, Katrine & VAAGE, Mari. (2018), “‘The immigration problem’ and Norwegian right-wing politicians.” New Political Science, 40 (3): 459-476. DOI: 10.1080/07393148.2018.1487145.
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). Então, em 2017, quando tivemos a eleição de um novo parlamento, ambos os partidos (Trabalhista e Conservador) avaliam que saíram derrotados nessas eleições. Ambos perderam muito. Eles associaram a derrota à falta de uma postura clara em relação à imigração (Fangen e Vaage, 2018FANGEN, Katrine & VAAGE, Mari. (2018), “‘The immigration problem’ and Norwegian right-wing politicians.” New Political Science, 40 (3): 459-476. DOI: 10.1080/07393148.2018.1487145.
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). Uma postura clara aqui significaria uma linha um pouco mais rigorosa, não necessariamente adotando a linha do partido populista de extrema-direita, o Partido do Progresso.

Como consequência, esses partidos tentaram tirar a questão migratória do domínio da extrema-direita, definindo políticas distintas e comunicando essas políticas de forma muito eficaz ao público (Hagelund, 2020). Então, sim, convencionalmente o discurso anti-imigração é associado à extrema direita. Mas eu diria que há algum apelo de outros partidos e ideologias, como mencionei anteriormente em nossa conversa. São diferentes tipos de justificativas. Acho que, se olharmos para a extrema-direita, seriam usados vários tipos de argumentos, incluindo, por exemplo, culturais, a ameaça à nossa língua, a ameaça ao nosso modo de vida, a ameaça à cultura, as ameaças aos nossos padrões familiares, papéis de gênero, equidade de gênero (Fangen, 2020FANGEN, Katrine. (2020), “Gendered images of us and them in Anti-Islamic Facebook groups”. Politics, Religion & Ideology, 21 (4): 451-468. https://doi.org/10.1080/21567689.2020.1851872.
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). É até um pouco irônico ver que os tradicionalistas da extrema direita criticam os imigrantes por não tratarem as mulheres da maneira que deveriam ser tratadas em nossa sociedade (com igualdade de gênero), dado que eles mesmos têm uma visão bastante retrógrada dos papéis de gênero.

Mas deixando isso de lado, vemos que, em outras partes do espectro político, pode haver outros tipos de justificativas que têm mais apelo. Então, por exemplo, se você conversar com um segmento de população de um sindicato trabalhista tradicional, talvez seu principal argumento tenha a ver com o desemprego, as ameaças aos empregos que decorrem da imigração em grande escala ou do dumping social. Você sabe que os salários estão diminuindo porque há mais concorrência por empregos. Ou alternativamente, poderia ser uma preocupação com a sustentabilidade do estado de bem-estar social. “Será que realmente podemos nos dar ao luxo de receber tantos imigrantes que precisariam de apoio, pelo menos durante um período de transição, ou que muitos, muitos deles talvez não conseguissem encontrar empregos em nosso mercado de trabalho e acabariam precisando de apoio social a longo prazo?” Esses tipos de preocupações podem ter mais apelo nesse sentido. Portanto, existem argumentos diferentes que apelam para diferentes partes da população. Mas ainda acho absolutamente claro que a única parte do espectro político para a qual a anti-imigração é uma questão central é a extrema-direita, e em outras partes do espectro político, é uma questão muito mais controversa. Então, mesmo em um país como a Dinamarca, onde o Partido Social-Democrata tem adotado uma política muito mais rígida em relação à imigração, esta é uma questão difícil para o partido lidar (Grødem, 2022GRøDEM, Anne Skevik. (2022), “Scandinavian social democrats facing the ‘progressive dilemma’: Immigration and welfare states in left-of-centre party programs”. Nordic Journal of Migration Research,12 (2): 223-39. DOI: 10.33134/njmr.351.
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).

Pode falar um pouco mais sobre quais são as motivações dos movimentos anti-imigração na Europa? O que vocês têm percebido no projeto?

KBH: Bem, em última instância, acho que para muitas pessoas é uma sensação de que seu modo de vida está ameaçado e o que isso significa pode ser coisas bem diferentes, dependendo de cada país e segmento social (Halikiopoulou e Vlandas, 2019HALIKIOPOULOU, Daphne & VLANDAS, Tim. (2019), “What is new and what is nationalist about Europe’s new nationalism? Explaining the rise of the far right in Europe”. Nations and Nationalism, 25 (2): 409-34. DOI: 10.1111/nana.12515.
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). Para alguns, podem ser seus empregos, a base de seu bem-estar que sentem ameaçada. Para outros, podem ser as próprias tradições e costumes que eles seguem. Mas acho que, em certa medida, a resistência à imigração é uma consequência de preocupações que têm muito pouco a ver com a imigração. Então, há outros tipos de crises que afetam a política no contexto europeu de maneira muito séria, como os períodos de grande recessão econômica. Tivemos uma grande reestruturação das economias, e alguns grupos que historicamente costumavam ser bastante favorecidos em termos de renda e padrão de vida foram prejudicados (Vogt Isaksen, 2019VOGT ISAKSEN, Joachim. (2019), “The impact of the financial crisis on European attitudes toward immigration”. Comparative Migration Studies, 7 (1): 24. DOI: 10.1186/s40878-019-0127-5.
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). Mesmo que seja difícil culpar os imigrantes por isso, a imigração é, em certo sentido, um fenômeno muito visível e facilmente identificável no cotidiano. Então, até certo ponto, eu argumentaria que os imigrantes e a imigração se tornam um bode expiatório, são culpados por preocupações sérias na vida de muitos cidadãos europeus, mas que no final do dia, na verdade, não têm nada a ver com imigração, mas sim com outras mudanças estruturais principalmente de natureza econômica e também outras transformações políticas.

E sobre a motivação cultural? Isso também é um fator presente no discurso anti-imigração?

KBH: Sim, este é um problema. E talvez a manifestação mais dramática disso tenha sido a resistência à imigração proveniente de países islâmicos. Agora, é claro, vimos isso nos Estados Unidos também, com Donald Trump, logo depois de ter assumido a presidência em 2017, banindo a imigração de vários países muçulmanos (Pertwee, 2020PERTWEE, Ed. (2020), “Donald Trump, the Anti-Muslim far right and the new conservative revolution”. Ethnic and Racial Studies 43 (16): 211-30. DOI: 10.1080/01419870.2020.1749688.
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). E sim, em vários países europeus também vemos que pelo menos imigrantes de certos países muçulmanos estão, de certa forma, se integrando menos do que outros grupos de imigrantes (Simonsen e Bonikowski, 2020SIMONSEN, Kristina Bakkær & BONIKOWSKI, Bart. (2020), “Is civic nationalism necessarily inclusive? Conceptions of nationhood and Anti-Muslim attitudes in Europe”. European Journal of Political Research, 59 (1): 114-36. doi: 10.1111/1475-6765.12337.
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). Então, por exemplo, em meu próprio país, a Noruega, os paquistaneses noruegueses estão mais segregados do restante da população do que imigrantes de outros países (Friberg e Sterri, 2021FRIBERG, Jon Horgen & BRAANEN STERRI, Erika. (2021), “Decline, revival, change? Religious adaptations among Muslim and Non-Muslim immigrant origin youth in Norway”. International Migration Review, 55 (3): 718-45. DOI: 10.1177/0197918320986767.
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). Agora, devemos ter cuidado ao generalizar aqui, e não está claro que isso tem a ver com religião ou mesmo com o país de origem. Acho que tem igualmente muito a ver com a classe social. Por exemplo, qual é a formação educacional e a situação econômica das pessoas que acabam vindo para a Noruega de origem paquistanesa? Acho que muitos deles têm um tipo de formação social e econômica que torna mais difícil conseguir bons empregos e se integrar bem na sociedade norueguesa. Na segunda e terceira geração é uma história muito, muito diferente. Eles (os descendentes de imigrantes) começam a se casar com pessoas de origens muito diferentes e recebem boas formações educacionais e talvez se saiam bem; então, os chamados imigrantes “étnicos” se saem melhor do que a população “étnica” norueguesa. Mas o ceticismo em relação à migração que parece culturalmente muito estrangeira e muito diferente tem sido forte. A cultura aqui interage não apenas com preocupações econômicas, mas também com preocupações de segurança pública. É claro que a enorme fixação que tivemos, especialmente a partir de 2001, com a ameaça do extremismo islâmico, também não tem sido útil. Isso é muito injusto, porque o extremismo não é amplamente apoiado entre os muçulmanos na Europa, mas bastam alguns eventos dramáticos para alimentar esses estereótipos.

Qual é o papel das redes sociais e da mídia em geral na disseminação do sentimento anti-imigrante na Europa? Como as vozes anti-imigrantes são amplificadas e disseminadas on-line?

KBH: Obviamente, a mídia é muito importante. Mas a mídia também é muitas coisas diferentes. Para simplificar um pouco a imagem muito mais complexa, vamos distinguir entre a mídia convencional e a mídia de nicho. A mídia convencional aqui seriam canais de TV tradicionais, canais de rádio, jornais e até canais digitais com orientação tradicional (de massa), e eu acho que eles contribuem facilmente, de forma voluntária ou não, para uma escalada do sentimento anti-imigração ao cobrirem eventos que poderiam ser percebidos para demonstrar os problemas da imigração, por assim dizer. Um exemplo seria a cobertura jornalística da tragédia de Ano-Novo em Colônia, há alguns anos, em que os imigrantes foram culpados pela mídia por quatro casos graves de assédio sexual a mulheres (Bielicki, 2018BIELICKI, Jan. (2018), “Cologne’s New Year’s eve sexual assaults: The turning point in German media coverage”. In: Refugee News, Refugee Politics. Nova York, Routledge.). A mídia convencional também pode dar atenção excessiva a manifestações de extrema-direita e outras ações anti-imigrantes (Brown e Mondon, 2021BROWN, Katy & MONDON, Aurelien. (2021), “Populism, the media, and the mainstreaming of the far right: The Guardian’s coverage of populism as a case study”. Politics, 41 (3): 279-95. DOI: 10.1177/0263395720955036.
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). Todos nós vemos em nossos respectivos países que mesmo os tipos de manifestações que não têm virtualmente nenhuma ressonância para ninguém, exceto para um seleto grupo que faz parte daquela manifestação em particular, ainda assim atraem enorme atenção na mídia. Então, em meu próprio país, temos uma organização chamada “Pare a Islamização da Noruega” (Stop Islamisation of Norway). Essa é uma organização que comumente realiza manifestações nas quais se queima o Alcorão (Hafez, 2018HAFEZ, Farid. (2018), “Street-level and government-level Islamophobia in the Visegrád four countries”. Patterns of Prejudice, 52 (5): 436-47. DOI: 10.1080/0031322X.2018.1498440.
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), por exemplo, e há apenas um punhado de pessoas que as apoiariam. Mas, muitas vezes, essas manifestações recebem enorme cobertura e, às vezes, até cobertura internacional maciça. Então, sim, a mídia convencional, voluntariamente ou não, contribui para amplificar vozes que muitas vezes podem ser bastante marginais e minoritárias. É claro, você tem a mídia de nicho, que é muito mais ampla, sobretudo a mídia não convencional que fala em nome dos ativistas anti-imigração, e que pode ser qualquer coisa, desde a Dark Web, onde eles publicam suas próprias coisas fora do público, a sites distintos ou de críticos de toda a migração (Ekman, 2019EKMAN, Mattias. (2019), “Anti-immigration and racist discourse in social media”. European Journal of Communication, 34 (6): 606-18. DOI: 10.1177/0267323119886151.
https://doi.org/10.1177/0267323119886151...
). Creio que em todos os países europeus, temos uma série de plataformas como essas que são muito importantes para manterem os movimentos juntos. Sua credibilidade pode variar e elas vêm em formas muito diferentes, mas certamente são extremamente importantes.

Quais políticas e caminhos podem ajudar a promover uma visão mais positiva e inclusiva da imigração na sociedade europeia?

KBH: Esta é uma pergunta enormemente desafiadora e difícil, e eu sou muito cuidadoso para afirmar que tenho uma receita para resolver essa questão. Claramente, é um grande desafio para a política europeia neste momento. Inevitavelmente, acho que continuará sendo um grande desafio à medida que avançamos. Mas acredito que os políticos convencionais terão que provar sua habilidade em balancear quais são, em última instância, as necessidades legítimas de quem representam. Pelo menos se você presume que um sistema de estados-nação é legítimo, e é assim que o mundo está organizado, mas isso é uma discussão diferente. O sistema de estado-nação tem uma série de aspectos problemáticos, mas é assim que o mundo funciona. Então, dado que, em última instância, é legítimo que os políticos regulamentem a imigração, eles terão que equilibrá-la com uma comunicação muito clara da necessidade de inclusão e um reconhecimento das enormes contribuições que os imigrantes estão fazendo para nossas sociedades. Principalmente, uma compreensão do que é que produz a migração. Acho que o exemplo ucraniano tem sido muito interessante. Pelo menos até agora não identifiquei quaisquer reações contrárias fortes à recepção de refugiados ucranianos. Acho que parte da razão é que há uma identificação tão forte com a Ucrânia e também uma cobertura bastante abrangente do que é que essas pessoas estão fugindo. Então, em parte, claro, tem a ver com o fato desconfortável de que eles são um pouco mais parecidos conosco do que muitos dos outros imigrantes que vêm. Mas também tem a ver com o fato de que acredito que temos, como cidadãos, uma compreensão mais profunda da necessidade de proteção e das razões pelas quais estão tendo que fugir de seu país.

Entrevista realizada em fevereiro de 2023 com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp (processo 2022/10108-2), e do projeto Mapping Out: Portugal on the European anti-immigrant movements map, financiado pelo EEA Grants Portugal (referência FBR_OC1_120_ISCTE).

  • 1
    Desde a década de 1980, Harpvinken tem trabalhado sobretudo com questões do Oriente Médio, particularmente com o Afeganistão, como consultor político e como pesquisador. Para mais informações: https://www.prio.org/people/3472.
  • 2
    Harpvinken refere-se à maior visibilidade da guerra da Ucrânia e consequentemente às crises financeiras e energéticas e ao risco eminente de uma expansão territorial da guerra nas discussões políticas na Europa no momento.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    27 Maio 2023
  • Aceito
    07 Jul 2023
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