Acessibilidade / Reportar erro

Orientação sexual para adolescentes: relato de experiência

Sexual orientation for adolescents: report of experience

Orientación sexual para adolescentes: relato de experiencia

Resumos

Os autores apresentam aspectos teóricos e práticos que envolvem o Projeto de Extensão Universitária "Corporalidade e Saúde" da Universidade Federal de São Paulo. O desenvolvimento ocorre no campo da Promoção da Saúde, com ênfase nas questões do corpo e sexualidade, saúde mental e violência; visando catalisar discussões e reflexões críticas sobre esse universo. Tem como principal finalidade articular ações nos campos do ensino, assistência e pesquisa. Seu conjunto de ações está direcionado a adolescentes e jovens que freqüentam escolas de ensino fundamental e médio. É uma atividade que se apóia nas orientações do Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD), nas ementas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e na Declaração dos Direitos Sexuais da World Association for Sexology, alem dos pressupostos da Psicologia Social e Psicanálise. Trata-se de uma prática libertária em que a sexualidade, quando compreendida e adequadamente canalizada, se traduz em amor, criatividade, potência geradora de progresso e de desenvolvimento.

Adolescente; Educação sexual; Saúde do adolescente; Sexualidade


The authors tried to present theoretical and practical framework of the project "Corporeal and Health", developed as an extension activity at the Federal University of São Paulo city, Brazil. The project is developed within the Health Promotion area and emphasizes the questions related to the body and sexuality, mental health, and violence, in order to catalyze discussions and critical thinking on this universe. The main purpose of this project is to articulate nursing teaching, caring and researching actions and its activities are directed to teenagers and young adults from fundamental and high school. All activities are based upon the orientations of the Adolescent Health Program (PROSAD) from the Brazilian Ministry of Health, the Brazilian Child and Adolescent Statute (ECA) and the Declaration of Sexual Rights, from the World Association for Sexology, along with principles from Social Psychology and Psycho Analysis. It is a liberating practice in which sexuality, when is well understood and properly canalized, can be translated into love, creativity, a force that lead to progress and self development.

Adolescent; Sex education; Teen health; Sexuality


Los autores presentan aspectos teóricos y prácticos que envuelven el Proyecto de Extensión Universitaria "Corporalidad y Salud" de la Universidad Federal de São Paulo. El desarrollo ocurre en el campo de la Promoción de la Salud, con énfasis en las cuestiones del cuerpo y sexualidad, salud mental y violencia; visando catalisar discuciones y reflexiones críticas sobre ese universo. Tiene como principal finalidad articular acciones en los campos del enseñanza, asistencia y investigación. Su conjunto de acciones está direccionado la adolescentes y jóvenes que frecuentan escuelas de enseñanza fundamental y medio. Es una atividad que se apoya en las orientaciones del Programa de Salud del Adolescente (PROSAD) en los temarios del Estatuto del Niño y del Adolescente (ECA) y en la Declaración de los Derechos Sexuales de la World Association for Sexology, alem de las presuposiciónones de la Psicología Social y Psicoanálisis. Se trata de una práctica libertaria en que la sexualidad, cuando compreendida y adecuadamiente canalizada, se traduce en amor, criatividad, potencia generadora de adelanto y de desarrollo.

Adolescente; Educación sexual; Salud de los adolecentes; Sexualidad


RELATO DE EXPERIÊNCIA

Orientação sexual para adolescentes: relato de experiência

Sexual orientation for adolescents: report of experience

Orientación sexual para adolescentes: relato de experiencia

José Roberto da Silva BrêtasI; Conceição Vieira da SilvaII

IEnfermeiro, Psicólogo, Doutor em Enfermagem, Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil

IIEnfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil

Autor correspondente Autor correspondente: José Roberto Brêtas Rua Napoleão de Barros, 754 - Vila Clementino 04024-002 São Paulo - SP E-mail: jrbretas@denf.epm.br

RESUMO

Os autores apresentam aspectos teóricos e práticos que envolvem o Projeto de Extensão Universitária "Corporalidade e Saúde" da Universidade Federal de São Paulo. O desenvolvimento ocorre no campo da Promoção da Saúde, com ênfase nas questões do corpo e sexualidade, saúde mental e violência; visando catalisar discussões e reflexões críticas sobre esse universo. Tem como principal finalidade articular ações nos campos do ensino, assistência e pesquisa. Seu conjunto de ações está direcionado a adolescentes e jovens que freqüentam escolas de ensino fundamental e médio. É uma atividade que se apóia nas orientações do Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD), nas ementas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e na Declaração dos Direitos Sexuais da World Association for Sexology, alem dos pressupostos da Psicologia Social e Psicanálise. Trata-se de uma prática libertária em que a sexualidade, quando compreendida e adequadamente canalizada, se traduz em amor, criatividade, potência geradora de progresso e de desenvolvimento.

Descritores: Adolescente; Educação sexual; Saúde do adolescente; Sexualidade

ABSTRACT

The authors tried to present theoretical and practical framework of the project "Corporeal and Health", developed as an extension activity at the Federal University of São Paulo city, Brazil. The project is developed within the Health Promotion area and emphasizes the questions related to the body and sexuality, mental health, and violence, in order to catalyze discussions and critical thinking on this universe. The main purpose of this project is to articulate nursing teaching, caring and researching actions and its activities are directed to teenagers and young adults from fundamental and high school. All activities are based upon the orientations of the Adolescent Health Program (PROSAD) from the Brazilian Ministry of Health, the Brazilian Child and Adolescent Statute (ECA) and the Declaration of Sexual Rights, from the World Association for Sexology, along with principles from Social Psychology and Psycho Analysis. It is a liberating practice in which sexuality, when is well understood and properly canalized, can be translated into love, creativity, a force that lead to progress and self development.

Keywords: Adolescent; Sex education; Teen health; Sexuality

RESUMEN

Los autores presentan aspectos teóricos y prácticos que envuelven el Proyecto de Extensión Universitaria "Corporalidad y Salud" de la Universidad Federal de São Paulo. El desarrollo ocurre en el campo de la Promoción de la Salud, con énfasis en las cuestiones del cuerpo y sexualidad, salud mental y violencia; visando catalisar discuciones y reflexiones críticas sobre ese universo. Tiene como principal finalidad articular acciones en los campos del enseñanza, asistencia y investigación. Su conjunto de acciones está direccionado la adolescentes y jóvenes que frecuentan escuelas de enseñanza fundamental y medio. Es una atividad que se apoya en las orientaciones del Programa de Salud del Adolescente (PROSAD) en los temarios del Estatuto del Niño y del Adolescente (ECA) y en la Declaración de los Derechos Sexuales de la World Association for Sexology, alem de las presuposiciónones de la Psicología Social y Psicoanálisis. Se trata de una práctica libertaria en que la sexualidad, cuando compreendida y adecuadamiente canalizada, se traduce en amor, criatividad, potencia generadora de adelanto y de desarrollo.

Descriptores: Adolescente; Educación sexual; Salud de los adolecentes. Sexualidad

INTRODUÇÃO

Diante do panorama atual, podemos afirmar que a população de adolescentes constitui um grupo de risco, e que precisa de programas em políticas públicas voltados para garantir o caminho da juventude rumo ao exercício pleno da cidadania e que assim comecem a ter perspectivas.

Entendemos cidadania como um processo, onde a gênese se dá pelo conhecimento e domínio do próprio corpo, pois este é o referencial da existência humana, no espaço, no tempo e no meio social. É referência da autoestima, da liberdade, do prazer sexual e do prazer pela vida, pelo respeito ao próprio corpo e pelo corpo do outro com quem se relaciona.

Neste sentido, procuramos enfocar a sociedade disciplinar em que vivemos, repleta de dispositivos(ª (a ) Um conjunto heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. Tem uma função estratégica dominante (1). ) de controle social, sexual e outros, em que técnicas de controle sobre os seres humanos são criadas constantemente, principalmente no que se refere ao controle do corpo, por meio de técnicas de adestramento sociais, educacionais, políticas e tecnológicas, que desde muito cedo somos submetidos; que fabrica falsos desejos e prazeres representados por ícones que moldam o comportamento, tornando adormecidos os verdadeiros desejos e prazeres que o corpo pode oferecer ao ser humano. Tudo isso ocorre em nosso meio, deixando à margem fatores importantes como os que narramos anteriormente.

Atualmente, os dispositivos disciplinares de repressão sexual levam a um estado de "coisificação" do sexo por meio da legalização do mercado sexual, onde existe um processo de alienação sexual.

Os métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõe uma relação de docilidade-utilidade, são chamados de disciplinas(1).

O poder disciplinar é, com efeito, um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior "adestrar"; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor(2).

Foucault(3) afirma que o poder seria, essencialmente, aquilo que dita a lei, no que diz respeito ao sexo. O que significa, em primeiro lugar, que o sexo fica reduzido, por ele, a um regime binário: lícito e ilícito, permitido e proibido. O poder prescreve ao sexo uma ordem que funciona, ao mesmo tempo, como forma de inteligibilidade; o sexo se decifra a partir de sua relação com a lei. O poder age pronunciando a regra: o domínio do poder sobre o sexo seria efetuado por meio da linguagem, ou melhor, por um ato de discurso que criaria, pelo próprio fato de se enunciar, um estado de direito.

Sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea que se apreende com dificuldade, mas à grande rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder(3).

Neste contexto, a escola pela sua importância no campo de socialização do escolar e adolescente, seria um veículo muito importante para educação sexual, mas devido a variáveis como o despreparo dos professores para discussão do tema, a ideologia em que para dominar a situação usam mecanismos de controle como a repressão ou a biologização da sexualidade, com a conivência das ciências médicas, vinculando o exercício da sexualidade somente a prática das funções reprodutoras. Esta equivalência imposta entre sexualidade e reprodução, como um fenômeno essencialmente biológico, objetivo, palpável através dos filhos gerados, ocasiona uma cisão entre a sexualidade e a subjetividade, restando apenas informações sobre reprodução, anatomia, fisiologia, AIDS e contracepção, assim deixando de lado a subjetividade, seja da criança ou do adolescente. A realidade nos mostra que ignorar o tema ou privilegiar o aspecto informativo não foi suficiente, pois as informações sobre conduta contraceptiva e de prevenção a AIDS não asseguram sua eficácia entre os adolescentes. Isso talvez ocorra porque a subjetividade tem mais influência que as informações dadas aos adolescentes.

A maneira predominante de modelo de educação sexual é aquele onde o educador tenta eliminar sua própria sexualidade, e espera-se que sufoque também a sexualidade dos educandos. Desde que fale sobre anatomia e fisiologia está tudo bem, e melhor ainda se expuser normas que confundem a sexualidade. Neste modelo, dificilmente se tolera que o educador introduza um discurso sobre a essência do problema, que é o binômio prazeramor(4).

O termo responsabilidade é muito utilizado como um instrumento repressivo, principalmente quando se trata do exercício da sexualidade. O discurso utilizado é sutil, impõe a culpa, impedindo assim que os jovens possamassumir a verdadeira responsabilidade de estarem juntos em uma inter-relação segura do ponto de vista da saúde sexual, com troca recíproca de amor e prazer.

Outro aspecto importante neste contexto é o papel da família, onde os pais apresentam enormes dificuldades com a sexualidade dos filhos adolescentes, acabando por transferir o papel educativo a terceiros e reproduzindoformas disciplinares de controle, perpetuando assim um ciclo por muitas gerações.

Muitas vezes os pais tem dificuldades em abordar questões de sexualidade com seus filhos, justamente por não terem muito claro o que aconteceu com eles próprios. Neste contexto a maioria dos pais atribui a tarefa da orientação sexual de seus filhos à escola e esta, por sua vez, apresenta dificuldade em cumprir tal tarefa. Neste sentido, Murani(5) afirma que é importante considerar também o fato de que o professor pode sentir-se despreparado em lidar com aspectos da orientação sexual junto a seus alunos.

Temos de pensar em sexualidade, família e escola pelo princípio da não exclusão, isto é, pensarmos em sistemas interagentes por intermédio de processos cujos princípios de convergência (vinculação, união) e complementaridade (respeito pelas diferenças) estejam estabelecidos(6).

Concordamos com Mandú e Corrêa(7), quando referem que a sexualidade articula processos biológicos e socioculturais, embora tenham uma expressão singular em cada sujeito, é um processo subjetivo, mediado através do corpo, da experiência, da troca, da procura, das projeções construídas em meio a vida. Ela é um componente humano que se define a partir da complexa interrelação entre biologia, subjetividade e condições existenciais concretas. A complexa inter-relação entre corpo biológico, subjetividade e influências socioculturais, é que dá especificidade ao exercício da sexualidade dos diferentes grupos. As várias manifestações refletem sempre, de modo único e singular, a individualidade de cada sujeito e, de modo coletivo e plural, a marca dos espaços específicos onde é exercida.

Para aliviar a tensão sexual na adolescência, os jovens recorrem à masturbação, que é uma prática que produz a sensação de alívio sexual à tensão e tem uma função gratificante. Mas jovens que chegam antes à plena maturação física e psíquica não se contentam mais com a masturbação e não conseguem mais sufocar o intenso desejo de se relacionar sexualmente, assim deparamo-nos com um problema delicado e complexo, onde a orientação sexual faz-se necessária(8).

Devido à influência da cultura patriarcal, a religião, escola e ciência mecanicista, ainda mantém o pensamento dualista acerca do ser humano, no sentido corpo-máquina e alma, onde tentam fazer crer que o ato sexual existe unicamente para procriar. Neste campo, Reich (9) se contrapõe a esta forma de pensar, referindo que o relacionamento sexual é praticado por que existe o impulso da tensão sexual, que na adolescência é notadamente aumentado e busca uma via de descarga. Na realidade, devemos considerar o grande problema da excitação sexual e do prazer proibido que aparece durante a gratificação sexual.

Com relação à repressão sexual, Reich(10) a concebe como fator responsável pela fabricação de indivíduos que poderão adaptar-se à sociedade autoritária e que a ela se submeterão apesar de todo o sofrimento e humilhação de que serão vítimas. Entende que a repressão sexual produz indivíduos aterrorizados pela autoridade, e que os recalcamentos sexuais, que é resultado da interiorização sexual, enfraquece o Eu por que o indivíduo, tendo que constantemente investir energia para impedir a expressão consciente dos seus desejos sexuais, priva-se assim de uma parte das suas potencialidades. Revela que a função social da repressão sexual serve para radicar no caráter a submissão à autoridade e o medo da liberdade. O que reproduz de geração em geração as condições que permitem submeter às massas.

Pode-se dizer que a adolescência é um momento de (re) descoberta, por que acreditamos que a sexualidade é construída ao longo da vida, da história pessoal de cada indivíduo, desde sua infância, na teia de relações interpessoais que se estabelecem entre o indivíduo e o ambiente no qual vive, sendo permeado por ideologias e visões de mundo diferenciadas. Neste sentido, Foucault (1) refere que a sexualidade se constrói não apenas no biológico, mas principalmente no imaginário: a sexualidade se coloca não apenas no palpável, mas sim no discurso que sustenta o palpável, na ideologia subjacente aos padrões de "normalidade" impostas na convivência social.

O grande desafio consiste, em entender de forma sistêmica um objeto, já em si mesmo complexo como a mudança corporal e sua influência nos fenômenos da adolescência; transcendendo assim o pensamento linear, da lógica cartesiana que só nos leva a recortes e encapsulamentos dos problemas.

Assim, elaboramos um Projeto de Extensão Universitária denominado "Corporalidade e Saúde", voltado para o campo da promoção de saúde, com ênfase no corpo e sexualidade, para população de adolescentes e jovens.

Considerando a complexidade do assunto, a construção do trabalho no campo do pensamento sistêmico, em que existe uma grande rede de relações com várias causas e efeitos e tendo como núcleo central a adolescência, definimos como matriz metodológica para compreensão dos fenômenos e para o direcionamento do projeto, a Representação Social .

Na busca de apoio teórico para o trabalho, nos reportamos ao campo da psicologia do corpo, especificamente a alguns aspectos teóricos elaborados pelo psicanalista Wilhelm Reich, que defendia a necessidade de instituir-se consultórios sexuais para os jovens, onde não se limitaria a distribuir contraceptivos, mas que se propunha a prestar uma verdadeira e apropriada educação social e sexual. Neste sentido, é importante conciliar o interesse sexual do jovem ao que há para fazer no futuro, ao que atribuímos uma importância primária, sendo necessário que se encontre o modo de viver uma vida sexual ordenada e satisfatória(8).

O projeto de extensão Corporalidade e Saúde também se apoia nas ementas da Declaração dos Direitos Sexuais, concebidas durante o XV Congresso Mundial de Sexologia, ocorrido em Hong Kong, no período de agosto de 1999, pela assembléia geral da World Association for Sexology(11), onde se levou em consideração os seguintes pressupostos: sexualidade é uma parte integral da personalidade de todo ser humano; o desenvolvimento total depende da satisfação de necessidades humanas básicas tais quais desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, carinho e amor; sexualidade é construída por uma interação entre o indivíduo e as estruturas sociais; o total desenvolvimento da sexualidade é essencial para o bem estar individual, interpessoal e social; os direitos sexuais são direitos humanos universais baseados na liberdade inerente, dignidade e igualdade para todos os seres humanos; saúde sexual é um direito fundamental, então esta deve ser um direito humano básico. Representados pelas seguintes ementas: 1. direito à liberdade sexual - a liberdade sexual diz respeito à possibilidade dos indivíduos em expressar seu potencial sexual. No entanto, aqui se excluem todas as formas de coerção, exploração e abuso em qualquer época ou situações de vida; 2. direito à autonomia sexual. Integridade sexual é a segurança do corpo sexual - envolve a habilidade de uma pessoa em tomar decisões autônomas sobre a própria vida sexual num contexto de ética pessoal e social. Também inclui o controle e o prazer de nossos corpos livres de tortura, mutilação e violência de qualquer tipo; 3. direito à privacidade sexual - o direito às decisões individuais e aos comportamentos sobre intimidade desde que não interfiram nos direitos sexuais dos outros; 4. direito à igualdade sexual - liberdade de todas as formas de discriminação, independentemente do sexo, idade, raça, classe social, religião, deficiências mentais ou físicas; 5. direito ao prazer sexual - prazer sexual incluindo auto-erotismo, é uma fonte de bem estar físico, psicológico, intelectual e espiritual; 6. direito à expressão sexual - a expressão sexual é mais que um prazer erótico ou atos sexuais. Cada indivíduo tem o direito de expressar a sexualidade por meio da comunicação, toques, expressão emocional e amor; 7. direito a livre associação sexual - significa a possibilidade de casamento ou não, ao divórcio, e ao estabelecimento de outros tipos de associações sexuais responsáveis; 8. direito às escolhas reprodutivas livres e responsáveis - é o direito em decidir ter ou não ter filhos, o número e o tempo entre cada um, e o direito total aos métodos de regulação da fertilidade; 9. direito à informação baseada no conhecimento científico - a informação sexual deve ser gerada através de um processo científico e ético e disseminado em formas apropriadas a todos os níveis sociais; 10. direito à educação sexual compreensiva - é um processo que dura a vida toda, desde o nascimento, pela vida afora e que deve envolver todas as instituições sociais; 11. o direito à saúde sexual - o cuidado com a saúde sexual deve estar disponível para a prevenção e tratamento de todos os problemas sexuais, preocupações e desordens.

A TRAJETÓRIA NO CAMPO DA EXTENSÃO

Baseado no contexto e nos conceitos já mencionados, o Projeto de Extensão Universitária "Corporalidade e Saúde" se constitui por um conjunto de atividades, que inicialmente envolveu a parceria do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo com a Secretaria de Assistência Social, Regional Vila Mariana / Jabaquara da Prefeitura Municipal de São Paulo, no período entre 1999 e 2001. Além de contar com convênio junto ao Ministério da Saúde/Coordenação Nacional de DST/AIDS, para distribuição de preservativos durante as atividades desenvolvidas com adolescentes e jovens.

Segundo documento do I Encontro de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras de 1987, a extensão universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade. Estabelece a troca de saberes sistematizados/ acadêmico e popular, tendo como conseqüência: a produção de conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional; e a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade(12). Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/ prática, a extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social. A instrumentalização da extensão implica na adoção de medidas e procedimentos necessários às questões de relevância social.

A extensão como prática acadêmica visa interligar a universidade em suas atividades de ensino e pesquisa com as demandas da sociedade, buscando respeitar o compromisso social da universidade. A relação entre extensão e pesquisa ocorre, sobretudo pelo papel que esta passa a desempenhar enquanto criadora e recriadora de conhecimentos, enquanto seja capaz de contribuir para a transformação da sociedade.

O projeto tem como principal finalidade, articular ações nos campos do ensino, extensão e pesquisa. Na área do ensino procuramos: a) proporcionar ao aluno do curso de graduação em Enfermagem da UNIFESP/EPM, aprendizagem e vivências no campo da Educação em Saúde com adolescentes; b) promover a elaboração e confecção de tecnologias de ensino destinadas à orientação de adolescentes na temática abordada pelo projeto. Na extensão buscou-se desenvolver atividades educativas junto a adolescentes e jovens que freqüentam equipamentos sociais, escolas da rede pública e privada. Na pesquisa adotou-se o desenvolvimento de estudos junto aos serviços que possam reverter em novas práticas de ensino, assistência e gerar conhecimento.

Sendo a comunidade o contexto estrutural de nossa praxis, o conjunto de ações foi direcionado aos Centros de Juventude e Centros de Formação Profissional, para uma população de adolescentes e jovens entre 14 e 18 anos de idade que freqüentavam estas instituições. Para a qual forneceram-se conhecimentos sobre o corpo, a sexualidade e suas vicissitudes, como: esquema e imagem corporal, desenvolvimento humano, comportamento sexual e saúde sexual, para adolescentes e funcionários das instituições, além do desenvolvimento de pesquisas sobre estratégias e tecnologia de ensino na área da sexualidade humana.

As áreas de ação do projeto atendem em parte algumas áreas prioritárias preconizadas pelas diretrizes do Programa de Saúde do Adolescente(13), que são: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, sexualidade, saúde mental, saúde reprodutiva, saúde do escolar adolescente, violência e maus tratos.

Atualmente, o projeto desenvolve atividades de Oficinas em Orientação Sexual em escolas publicas de ensino fundamental e médio, junto ao Projeto "Escola Promotora da Saúde", vinculado ao Programa de Integração Docente-Assistencial do Embu (PIDA/EMBU), desenvolvido pela integração de vários departamentos da Universidade Federal de São Paulo, no município da Estância Turística de Embu.

O conceito de ação adotado pelo projeto é o de Orientação Sexual, que pode ser conceituado como o processo de intervenção sistemática na área da sexualidade humana e que se propõe a fornecer informações sobre sexualidade e a organizar um espaço de reflexões e questionamentos sobre a importância da prevenção, mudanças corporais, identidade, postura, relações inter-pessoais, auto-estima, relações de gênero, tabus, crenças e valores a respeito de relacionamentos e comportamentos sexuais. Trata-se também de um espaço que visa auxiliar o adolescente a ver a sexualidade não apenas como fonte de medo e angústias, devido à AIDS e DST, risco de gravidez e outros; mas sim como fonte de prazer, de vida compartilhada a dois, tirando o aspecto muitas vezes de terrorismo em que são veiculadas as informações sobre sexualidade aos adolescentes.

A orientação sexual tem basicamente três objetivos: suprir as lacunas de informação do adolescente, mexer com os preconceitos, de maneira especial os referentes ao machismo e feminismo; e mexer com os conflitos dos adolescentes, abrindo um espaço afetivo onde ele possa falar ou representar suas angustias e medos. Refere que o termo orientação sexual, deriva do conceito pedagógico de orientação educacional, definindo-se como um processo de intervenção sistemática na área da sexualidade, realizado principalmente em escolas(14).

As Oficinas de Orientação Sexual desenvolvidas junto aos adolescentes são operacionalizadas pelos autores deste texto e por bolsistas do Programa de Monitoria da Universidade Federal de São Paulo e de iniciação científica (PIBIC/CNPq). Estas práticas de orientação sexual foram incorporadas à atividade curricular de Educação para Saúde, que tem por objetivo mudar os comportamentos sobre saúde dos seres humanos, de modo favorável. É a educação para uma vida mais saudável, com qualidade tanto do indivíduo como da família e da comunidade.

A Orientação Sexual tem como princípios fundamentais os seguintes pressupostos: a Oficina de Orientação Sexual é uma experiência de crescimento pessoal e aprendizagem (tanto para o orientador como para o orientando); o meio social e cultural molda a forma pela qual os indivíduos aprendem e expressam sua sexualidade; a sexualidade é fundamental para a vida do ser humano, que a expressam de várias maneiras; os cuidados com o próprio corpo requerem informações adequadas, atitudes preventivas específicas e acesso a serviços de saúde de boa qualidade.

Os objetivos atribuídos à orientação sexual de forma geral compreendem: identificar e refletir sobre os valores socioculturais e posicionar-se de forma pessoal em relação aos mesmos; identificar e expressar seus sentimentos; desenvolver a auto-estima; compreender que a sexualidade faz parte do desenvolvimento humano; relacionar o comportamento sexual ao respeito e responsabilidade; reconhecer e respeitar as diferentes formas de atração sexual; relacionar as diferentes manifestações da sexualidade a cidadania; discriminar entre comportamentos sexuais enriquecedores e prejudiciais a si e aos outros; aprender a conhecer o próprio corpo e a cuidar dele; prevenir-se de abusos sexuais; evitar contrair e transmitir as DST; vencer tabus e preconceitos relacionados à sexualidade; evitar comportamentos discriminatórios e intolerantes; viver a sexualidade de forma congruente com os próprios valores.

Esta ação caracteriza-se, principalmente por ser participativa, com um processo que se dá com base no compartilhamento de idéias, troca, questionamento, expressão de experiências e valores dos adolescentes.

OS SUJEITOS E A CONSTRUÇÃO DAS ATIVIDADES

A população envolvida no projeto apresenta características de desenvolvimento físico e emocional muito significantes, que vão marcar a passagem do indivíduo da fase de criança para o adulto. O crescimento é intenso em altura, peso e musculatura, e o desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias podem ser acompanhados de estados emocionais relevantes, dando ao crescimento físico significados altamente pessoal.

Neste contexto pode-se dizer que a adolescência é um período de transição entre a infância e a idade adulta, caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento que se manifesta por marcantes transformações anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais. Em um contexto mais psicológico, é a etapa na qual o indivíduo busca a identidade adulta, apoiando-se nas primeiras relações afetivas, já interiorizadas, que teve com seus familiares e verificando a realidade que a sua sociedade lhe oferece(15).

As modificações biológicas que caracterizam este processo propicia a experiência de uma série de eventos psicológicos que culminam naquilo que denominamos de aquisição da identidade sexual, ou seja, das características mentais do sexo que lhe corresponde.

Nesta fase as mudanças corporais e a sexualidade são, sobretudo, elementos estruturadores da identidade do adolescente. Essa função estruturante é, em grande parte, realizada através da representação mental que o adolescente tem de seu corpo, ou seja, através de seu esquema corporal.

A sexualidade é algo que se constrói e aprende, sendo parte integrante do desenvolvimento da personalidade, capaz de interferir no processo de aprendizagem, na saúde mental e física do indivíduo.

Há também uma transformação na convivência social. O adolescente começa a se relacionar com turmas, inicialmente só de meninos ou meninas, e a exercitar sua possibilidade de relacionamento com os outros. Como em todas as outras situações da vida do adolescente, enfrentar esta situação nova desperta medos e receios, ao mesmo tempo em que ocasiona o desejo de conhecer, de buscar o novo, e de conseguir se relacionar com os demais. O medo e o desejo causados pelas mudanças impostas ou obtidas são uma constante na vida de um adolescente.

A sexualidade é uma manifestação psicoafetiva individual e social que transcende sua base biológica (sexo) e cuja expressão é normatizada pelos valores sociais vigentes. Refere que o desenvolvimento sexual do adolescente sofre as influências dele próprio, da família, de sua cultura e subcultura e de seus companheiros, sendo que a pressão do grupo é, talvez, o fator mais poderoso para determinar seu comportamento. Se a esse dado soma-se o fato de que a falta de conhecimento sobre sexo e/ou o constrangimento provocado pelo tema faz com que os pais, educadores sexuais por excelência, não assumam esse papel vê-se, freqüentemente, o adolescente iniciando uma atividade sexual num momento em que não está preparado. Os papéis sexuais determinados pela nossa sociedade e sobre os quais se constrói a sexualidade masculina e feminina nos fazem acreditar, erradamente, que o homem é inexoravelmente um ser genital, naturalmente preparado para o coito, e que a mulher, com seu instinto maternal, priorizaria a reprodução. Os adolescentes não estão livres de preocupações sobre o seu desempenho sexual da mesma maneira que, como tudo na vida, a paternidade e a maternidade são resultados de uma aprendizagem (13).

Os 943 adolescentes de ambos os sexos que participaram das atividades promovidas pelas Oficinas de Orientação Sexual, no período de 1999 a 2001, tiveram origem nos seguintes bairros da zona sul da cidade de São Paulo: Americanópolis, Cidade Ademar, Jabaquara, Cidade Júlia, Vila Paulista, Vila do Encontro, Jardim São Carlos, Vila Santa Catarina, Jardim São Savério, Jardim Mendes Gaia, Vila Inglesa, Vila Clara, Vila Campestre, Jardim Miriam, Jardim Prudência e Vila Mariana.

Nesta população, verificamos que a maior parte dos participantes estavam na faixa etária entre 16 e 18 anos (61%), e entre 14 e 16 anos de idade incompletos (39%).

Em relação à distribuição dos sujeitos quanto ao sexo, observamos que o número de garotas que freqüentavam as instituições foi de 60%, pouco maior que o número de rapazes que foi de 40%.

A respeito da renda familiar da população participante, verificamos que 43% do total possuiam renda familiar entre zero a três salários mínimos, enquanto que 25% tinham entre três a seis salários mínimos, 17% foram classificados nas categorias de 6 a 12 salários mínimos e 15% não souberam informar.

Para execução das atividades do Projeto Corporalidade e Saúde, desenvolveu-se discussões individuais, em grupo, na comunidade e nas instituições, em que se realizou entrevista com os adolescentes, nas quais utilizou-se instrumento estruturado e não estruturado. Foi a maneira encontrada para documentar e compreender os interesses acerca do conteúdo. Posteriormente, os resultados foram agrupados por suas semelhanças, dando origem a várias categorias, que passaram a nortear a sistematização e operacionalização do conteúdo abordado durante as Oficinas de Orientação Sexual. Desta forma, possibilitou-se o atendimento das necessidades específicas dos grupos que trabalhamos. O conteúdo em questão constitui-se de: puberdade e mudanças corporais; manifestações da sexualidade no ambiente que vivemos; aparelho reprodutor e resposta sexual humana (anatomo-fisiologia dos órgãos sexuais internos e externos masculino e femininos, higiene, virgindade, menstruação, fisiologia do orgasmo); discutindo os papéis: homem e mulher (relações de gênero, opção sexual); namoro e as relações interpessoais (subjetividades como: a primeira relação sexual, prazer, violência, orgasmo, frigidez sexual e ejaculação precoce); fecundação, gestação e parto; gravidez na adolescência: prevenção e responsabilidade; DST/ AIDS e formas de prevenção (apresentação de algumas Doenças Sexualmente Transmissíveis, repercussões sociais, preconceito e discriminação, formas de prevenção, uso correto do preservativo masculino e feminino); violência de gênero.

Para sistematização deste conteúdo foi organizado um laboratório prático destinado a criação de tecnologias de ensino na área. Elaborou-se um arquivo contendo referências bibliográficas e material didático sobre o tema, para consulta dos monitores, bolsistas e alunos. Neste espaço ocorreu a elaboração e confecção de tecnologias de ensino destinadas à orientação de escolares e adolescentes na temática abordada pelo projeto. Desta forma desenvolvemos um conjunto de estratégias voltadas principalmente para atender os interesses e expectativas de cada faixa etária, de forma a adotar estratégias pedagógicas sempre dinâmicas e mutáveis, proporcionando assim possibilidades de condução do assunto ao grupo participante e um espaço para discussão das subjetividades.

Neste contexto, Brêtas e Silva (16) referem que as informações devem ser corretas e precisas, compreendendo aspectos relacionados ao desenvolvimento sexual do indivíduo, resposta sexual humana, comportamento sexual, tipos de práticas sexuais, prevenção de gravidez, noções sobre DST/AIDS. Afirmam que é necessário orientar sobre a responsabilidade de adotar uma prática sexual segura, ao invés de somente tentar mudar o comportamento que expõe o adolescente a situação de risco, através de medidas disciplinares ou pelo "biologicismo" vazio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizarmos este texto, citamos um trecho da letra de uma música do Belchior, que diz: "... Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...". Frase como esta leva-nos a refletir sobre questões importantes acerca das relações humanas, como o fato de que no final do milênio que passou e no início deste, estamos assistindo e participando de grandes mudanças no mundo, como o processo irreversível de globalização, grandes avanços tecnológicos e no respeito a cidadania e aos direitos do indivíduo, caracterizados por eventos como a divisão do átomo, a transformação do silicone em força motriz dos computadores, os meios de comunicação de massa, a engenharia genética na identificação precoce das doenças genéticas, clonagem e a decodificação do genoma humano. Certamente trata-se de grandes avanços sociais, mas no campo das micro-relações, do cotidiano humano e das subjetividades, pouco se avançou. Desta forma, na grande teia de relações, onde não existe neutralidade e as mudanças são constantes, delimitamos um grupo dentre muitos outros para efeito de construção deste trabalho de extensão, os adolescentes.

Neste contexto, entendemos que a sexualidade continua sendo um tabu em nosso meio, sendo acentuado apenas o que é negativo e prejudicial do sexo. Aquilo que é biológica e psicologicamente positivo, que constitui a base do amor, do prazer, da convivência, da família e da própria sobrevivência humana é relegado. Assim, entendemos que os profissionais da área das ciências da saúde encontram-se numa encruzilhada política e micropolítica fundamental. Ou fazer o jogo dessa reprodução de modelos que não permite que se criem saídas para os processos de singularização, ou, ao contrário vamos estar trabalhando com o indivíduo observando suas singularidades e tornando-as parte do processo. Neste sentido, fizemos a nossa opção, que engloba a problemática entre adolescência, sexualidade e sociedade, e estamos construindo juntamente com os estudantes do curso de Enfermagem o Projeto de Extensão Universitária "Corporalidade e Saúde". E atuando no campo da promoção de saúde, com ênfase no corpo e sexualidade, visando catalisar discussões e reflexões críticas sobre esse universo.

Acreditamos no caminho da prática libertária e achamos que compreender o interesse e a necessidade sexual do adolescente não significa libertinagem, mas facilitar o contato sadio e protegido entre os adolescentes de ambos os sexos. A sexualidade, quando compreendida e adequadamente canalizada, se traduz em amor, criatividade, potência geradora de progresso e de desenvolvimento.

A prática tem nos ensinado que um dos maiores talentos, necessários para trabalhar e se relacionar com adolescentes é a capacidade de ouvi-los. Quando isso acontece, nossa experiência demonstra que fluem opiniões surpreendentes, sugerindo que a imagem do "adolescente agressivo" ou do "aborrecente" é, ela própria, uma visão superficial. Na intimidade, gera-se a cumplicidade, forjam-se as alianças.

Descobrimos que para ensinar adolescentes é preciso transformar o conhecimento em caso pessoal, fazer o que Pinto(17) propõe chamar de "subjetivação do conhecimento". Trata-se em transformar espectadores, nem sempre muito interessados, em atores que entendam e direcionem de forma consciente a sua história sexual-afetiva.

Como já relatamos, a via que escolhemos para chegar ao adolescente foi a oficina, que pode ser entendida como lugar onde se exerce um ofício, lugar onde se verificam grandes transformações. A prática das oficinas consiste precisamente na prática do ofício de pensar sobre a vida e senti-la em vista de pequenas e grandes transformações.

A vivência da oficina implica um esforço pedagógico pessoal e coletivo, com a racionalidade e a objetividade próprias da pedagogia, associada à abordagem da dimensão afetiva-emocional da pessoa, de modo a permitir a desconstrução de preconceitos e tabus, e reconstrução social dos valores, das crenças sociais e historicamente construídas.

Vale observar o quanto é importante à saúde do adolescente, o fato de que os adultos além de necessitar reconhecer a "imaturidade" dos adolescentes terão de acreditar e atuar sua própria maturidade como nunca, ou seja, atuando com maturidade na ajuda compreensiva e na confrontação do adolescente. Nesse sentido, Winnicott(18) escreve:

estou afirmando (dogmaticamente, em função da brevidade) que o adolescente é imaturo. A imaturidade é um elemento essencial da saúde durante a adolescência. Só existe uma cura para imaturidade, a passagem do tempo e o crescimento para maturidade que o tempo pode trazer.

Finalizando, ressaltamos que a dissociação entre sexo e afeto, entre prazer físico e carinho, constitui a própria negação da essência humana, da família e do amor.

Artigo recebido em 28/11/04 e aprovado em 27/05/04

  • 1. Foucault M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes; 1987.
  • 2. Foucault M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal; 1979.
  • 3. Foucault M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal; 1988.
  • 4. Bernardi M. A deseducação sexual. São Paulo: Summus; 1985.
  • 5. Murani DB. Desenvolvendo orientação sexual com adolescentes. Rev Bras Cresc Desenv Hum. 1996;6(1/2):3-10.
  • 6. Meirelles JAB. Os Ets e a gorila: um olhar sobre a sexualidade, a família e a escola. In: Aquino JG, Souza MCC, Guirado M, Pinto HDS,Albertini P, Sayão R. et al. Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus; 1997.
  • 7. Mandú ENT, Corrêa ACP. Educação sexual formal na adolescência: contribuições à construção de projetos Educativos. Acta Paul Enferm. 2000;13(1):27-37.
  • 8. Reich W. Crianças do futuro. Curitiba: Centro Reichiano; 1998.
  • 9. Reich W. Psicologia de massas do fascismo. São Paulo: Martins Fontes; 1988.
  • 10. Reich W. O Combate sexual da juventude. Porto: Textos Marginais; 1975.
  • 11. World Association for Sexology. Declaração dos direitos sexuais. Rev Terapia Sexual. 1999;2(2):121-2.
  • 12. Nogueira MDP. Extensão universitária: diretrizes conceituais e políticas. Belo Horizonte: PROEX/UFMG; 2000.
  • 13. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coorde-nação da Saúde da Criança e do Adolescente. Programa Saúde do Adolescente: bases programáticas. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 1996.
  • 14. Suplicy M. Guia de orientação sexual: diretrizes e metodologia. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1994.
  • 15. Aberastury A, Knobel M. Adolescência normal. Porto Alegre: Artes Médicas; 1981.
  • 16. Brêtas JRS, Silva CV. Interesse de escolares e adolescentes sobre corpo e sexualidade. Rev Bras Enferm. 2002;55(5): 528-34.
  • 17. Pinto HDS. A individualidade impedida: adolescência e sexualidade no espaço escolar. In: Aquino JG, Souza MCC, Guirado M, Pinto HDS, Albertini P, Sayão R et al. Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus; 1997.
  • 18. Winnicott DW. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes; 1989.
  • Autor correspondente:
    José Roberto Brêtas
    Rua Napoleão de Barros, 754 - Vila Clementino
    04024-002
    São Paulo - SP
    E-mail:
  • (a
    ) Um conjunto heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. Tem uma função estratégica dominante
    (1).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Set 2007
    • Data do Fascículo
      Set 2005

    Histórico

    • Aceito
      27 Maio 2004
    • Recebido
      28 Nov 2004
    Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: actapaulista@unifesp.br