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A Enfermagem e a pesquisa: projeto temático FAPESP

EDITORIAL

A Enfermagem e a pesquisa: projeto temático FAPESP

A Enfermagem vem ampliando sua participação na comunidade científica através da coordenação de projetos científicos financiados por diferentes órgãos de fomento envolvendo a formação de recursos humanos para a pesquisa.

Até a década de 90, a forma de conduzir as pesquisas na Enfermagem se dava através de esforços isolados e pontuais sem comunicação e articulação entre os pesquisadores. A visão "que os esforços devem ser somados, que grupos de pesquisa devem ser formados em torno de projetos evitando-se conduzir pesquisas isoladas"(1) vai ganhando espaço e se fortalece, a partir de 1993, com a criação do Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A partir do ano 2000, amplia-se a concepção de projetos em grupos, ganhando força os projetos integrados CNPq e temáticos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) na área da Enfermagem.

Nesse mesmo período, implanta-se a cultura da avaliação no ensino superior com impacto sobre a pesquisa. Os pesquisadores são classificados por rankeamento pelo CNPq; os periódicos recebem uma classificação pelo ranking denominado "Qualis" que é definido pela CAPES em cada área pelo comitê que avalia os Programas de Pós-Graduação. Estimula-se a internacionalização da produção do conhecimento através de estratégias como o intercâmbio de pesquisadores (nacional e internacional); entre 2001-2006 há um incremento de 54% da produção científica da Enfermagem no Brasil(2).

A partir do ano 2000, a Enfermagem amplia sua participação em projetos mobilizadores, desenvolvendo projetos temáticos financiados pela FAPESP, que têm como uma linha de ação o desenvolvimento e a promoção de ações conjuntas de cientistas(3).

Em 2003, o Grupo de Pesquisa Interinstitucional em Tuberculose/CNPq liderado por pesquisadores da Enfermagem e Medicina submeteu um projeto temático FAPESP envolvendo uma equipe de 20 pesquisadores da área da saúde de diferentes instituições universitárias de algumas regiões do Brasil.

A modalidade projeto temático visa à obtenção de um conjunto de resultados conceitualmente coerentes sobre um tema de pesquisa envolvendo abordagens metodológicas diversas, com objetivos bem definidos, visando à obtenção de resultados científicos ou tecnológicos e socioeconômicos de maior impacto. Este se estrutura a partir de uma parceria entre equipes de pesquisadores de várias instituições universitárias, podendo envolver diferentes áreas do conhecimento, aliados a uma base acadêmica, considerando-se que a realização da pesquisa necessita interfaces com profissionais, pesquisadores e alunos envolvidos nessa temática.

Nesse sentido, a experiência de construção de um projeto temático sob a liderança da Enfermagem envolve a integração/articulação entre diferentes atores (pesquisadores, gestores e profissionais de saúde), saberes (epidemiológico e clínico operacional), profissões (médica, enfermagem, estaticista, etc.) e locais (municípios prioritários para a Tuberculose no Brasil) visando a obtenção de um conjunto de resultados conceitualmente coerentes sobre um tema de pesquisa, no caso a tuberculose, envolvendo abordagens metodológicas diversas, com objetivos bem definidos, visando à obtenção de resultados científicos ou tecnológicos e socioeconômicos de maior impacto.

A fase de submissão do projeto traz um aprendizado para todos os pesquisadores do grupo. Envolve sugestões propostas pelo diretor científico baseado no parecer dos revisores Ad-hoc da FAPESP. São sugestões de ordem teórico-metodológica relacionadas aos objetivos e etapas previstas no cronograma de desenvolvimento do projeto.

Após a aprovação, é feito um acompanhamento sistemático anual de cada etapa desenvolvida através de relatórios científicos que apresentam o avanço da produção do conhecimento e as dificuldades encontradas, bem como o relatório de prestação de contas baseado no orçamento aprovado.

As fases de desenvolvimento do projeto temático e as articulações que demandam seu desenvolvimento retratam a necessidade da Enfermagem organizar o trabalho de pesquisa em grupo, buscar novas parcerias e articular-se com pesquisadores de outras áreas do conhecimento e instituições universitárias.

Essa modalidade de fomento, além de financiar o desenvolvimento da pesquisa, oferece benefícios complementares aos coordenadores e pesquisadores principais, através da oportunidade de realizar visitas técnicas, intercâmbios, reuniões científicas e eventos nacionais e internacionais.

O projeto temático possibilita inovações no processo de gestão da pesquisa em termos de integração de sub-projetos vinculados a programas de pós-graduação já consolidados e outros em fase de constituição, através do intercâmbio entre pesquisadores que atuam em áreas semelhantes ou afins e da orientação conjunta de estudantes de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado por professores de diferentes programas em torno de projetos comuns, de modo a aumentar o grau de eficiência do sistema de formação de pessoal para a pesquisa.

A participação da Enfermagem na coordenação de Projeto Temático(4) vem ampliando a oportunidade dos pesquisadores de enfermagem desenvolver pesquisas colaborativas em rede nacionais e internacionais, participar de intercâmbios e eventos científicos que ampliam a visibilidade da produção através da socialização de experiências para o debate público e acadêmico sobre questões de pesquisa e propor novas estratégias de intervenção de enfermagem nos serviços de saúde, bem como a capacidade de estabelecer parcerias e ações conjuntas e assumir novos desafios e formas de ampliação da escala de trabalho articulando os níveis local, regional, nacional e internacional.

A ampliação da forma de trabalho em pesquisa na Enfermagem que vem obtendo êxito é a experiência de coordenação de uma área de pesquisa operacional em Tuberculose da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose (REDE-TB www.redetb.usp.br), desde 2002, que vem apoiando projetos colaborativos em tuberculose de mais de 40 enfermeiros de diferentes instituições universitárias do Brasil. Esses projetos vêm obtendo financiamento nas seguintes modalidades: temático FAPESP, Universal/ CNPq, Doenças Negligenciadas/ CNPq, Políticas Públicas /PPSUS-FAPESP, entre outros editais de demanda induzida(3).

Tereza Cristina Scatena Villa

Professor Associado da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Coordenadora da Área de Pesquisa Operacional da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose (REDE-TB) www.redetb.usp.br Membro do Comitê Diretor da Enfermagem na International Union Against Tuberculosis (Paris)

  • 1. Trevizan MA, Mendes IAC, Angerami ELS. A investigação em enfermagem no Brasil. Rev Paul Enferm. 1991; 10(3): 91-5.
  • 2. Ribeiro RJ. A avaliação: quem faz, quem decide [texto na Internet]. In: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). [sítio na Internet]. Brasilia (DF): CAPES; c 2007. [citado 2007 Out 8]. Disponível em: http://www.capes.gov.br/opencms/export/sites/capes/download/artigos/Artigo_27_07_2007.pdf
    » link
  • 3
    Vigilância à saúde de famílias com tuberculose: estratégias de intervenção [projeto]. São Paulo:FAPESP; 2004/2007. [Processo n. 03/ 08386-3 – Projeto temático coordenado por: Villa TCS. 2004-2007].
  • 4. Motoyama S. FAPESP: Uma história de política científica e tecnológica. Marcos documentais. São Paulo: FAPESP, 1999.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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