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A família e a educação sexual dos filhos: implicações para a enfermagem

La familia y la educación sexual de los hijos: implicaciones para la enfermería

Resumos

OBJETIVO: Identificar como os pais vivenciam a educação sexual de seus filhos adolescentes. MÉTODOS: Pesquisa qualitativa descritiva exploratória, realizada em uma escola privada do município de Toledo, Paraná. Participaram do estudo 10 pais de alunos da 7ª e 8ª séries. Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada e analisados conforme o método do Discurso do Sujeito Coletivo. RESULTADOS: Os pais fizeram algumas considerações sobre o modo como orientam os filhos sobre sexualidade, entre elas, a importância do diálogo e da conversa franca entre pais e filhos; a dificuldade na comunicação entre pais e filhos; dificuldades relacionadas à educação recebida; ensino de valores e a importância da educação compartilhada com a escola. CONCLUSÃO: Faz-se necessário um trabalho contínuo de orientação sobre sexualidade aos adolescentes e também às suas famílias visto a diversidade e complexidade deste tema.

Educação sexual; Relações pais-filho; Adolescência; Sexualidade; Relações familiares


OBJETIVO: Identificar cómo los padres vivencian la educación sexual de sus hijos adolescentes. MÉTODOS: Se trata de una investigación cualitativa descriptiva exploratoria, realizada en una escuela privada del municipio de Toledo, Paraná. Participaron del estudio 10 padres de alumnos de la 7ª y 8ª series. Los datos fueron recolectados a través de una entrevista semi-estructurada y analizados conforme el método del Discurso del Sujeto Colectivo. RESULTADOS: Los padres hicieron algunas consideraciones sobre el modo cómo orientan a sus hijos sobre sexualidad, entre ellas, la importancia del diálogo y de la conversación franca entre padres e hijos; la dificultad en la comunicación entre padres e hijos; dificultades relacionadas a la educación recibida; enseñanza de valores y la importancia de la educación compartida con la escuela. CONCLUSIÓN: Se hace necesario un trabajo continuo de orientación sobre sexualidad a los adolescentes y también a sus familias dada la diversidad y complejidad del tema.

Educación sexual; Relaciones padres-hijo; Adolescencia; Sexualidad; Relaciones familiares


OBJECTIVE: This paper aims to identify how parents experience the sexual education of their adolescent children. METHODS: Qualitative descriptive and exploratory study, conducted in a private school in the municipal district of Toledo, Paraná state, Brazil. Data was collected through semi-structured interviews and analyzed with content analysis. RESULTS: The parents reported interesting points regarding the approaches they use to educate their adolescent children regarding sexuality. These points included the open and honest dialogue, difficulties in communication, difficulties related to their own sexual education, the teaching of values, and the importance of sharing the sexual education of their children with the school. CONCLUSION: There is a need for continuing support and education of patents regarding sexual education of their children since this is a complex issue to address.

Sex education; Parent-child relations; Adolescence; Sexuality; Family relations


ARTIGO ORIGINAL

A família e a educação sexual dos filhos: implicações para a enfermagem* * Artigo extraído da Dissertação de Mestrado intitulada "Educação Sexual de adolescentes: o olhar da família" apresentado ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná – UFPR – Curitiba (PR), Brasil.

La familia y la educación sexual de los hijos: implicaciones para la enfermería

Ana Carla Campos Hidalgo de AlmeidaI; Maria de Lourdes CentaII

IMestra, Professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR – Curitiba (PR), Brasil

IIDoutora, Professor Colaborador do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná - UFPR – Curitiba (PR), Brasil

Autor Correspondente Autor Correspondente: Ana Carla Campos Hidalgo de Almeida Av. Tiradentes, 1001 Apto. 82 - Centro Toledo - PR - CEP. 85900-230 E-mail: ana-carla.hidalgo@bol.com.br

RESUMO

OBJETIVO: Identificar como os pais vivenciam a educação sexual de seus filhos adolescentes.

MÉTODOS: Pesquisa qualitativa descritiva exploratória, realizada em uma escola privada do município de Toledo, Paraná. Participaram do estudo 10 pais de alunos da 7ª e 8ª séries. Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada e analisados conforme o método do Discurso do Sujeito Coletivo.

RESULTADOS: Os pais fizeram algumas considerações sobre o modo como orientam os filhos sobre sexualidade, entre elas, a importância do diálogo e da conversa franca entre pais e filhos; a dificuldade na comunicação entre pais e filhos; dificuldades relacionadas à educação recebida; ensino de valores e a importância da educação compartilhada com a escola.

CONCLUSÃO: Faz-se necessário um trabalho contínuo de orientação sobre sexualidade aos adolescentes e também às suas famílias visto a diversidade e complexidade deste tema.

Descritores: Educação sexual; Relações pais-filho; Adolescência; Sexualidade; Relações familiares

RESUMEN

OBJETIVO: Identificar cómo los padres vivencian la educación sexual de sus hijos adolescentes.

MÉTODOS: Se trata de una investigación cualitativa descriptiva exploratoria, realizada en una escuela privada del municipio de Toledo, Paraná. Participaron del estudio 10 padres de alumnos de la 7ª y 8ª series. Los datos fueron recolectados a través de una entrevista semi-estructurada y analizados conforme el método del Discurso del Sujeto Colectivo.

RESULTADOS: Los padres hicieron algunas consideraciones sobre el modo cómo orientan a sus hijos sobre sexualidad, entre ellas, la importancia del diálogo y de la conversación franca entre padres e hijos; la dificultad en la comunicación entre padres e hijos; dificultades relacionadas a la educación recibida; enseñanza de valores y la importancia de la educación compartida con la escuela.

CONCLUSIÓN: Se hace necesario un trabajo continuo de orientación sobre sexualidad a los adolescentes y también a sus familias dada la diversidad y complejidad del tema.

Descriptores: Educación sexual; Relaciones padres-hijo; Adolescencia; Sexualidad; Relaciones familiares

INTRODUÇÃO

A sexualidade faz parte da vida de todos os indivíduos, e embora muitas vezes velada ou mal resolvida, não podemos deixar de mencioná-la ou tentar ignorá-la.

Quando se aborda a sexualidade com adolescentes observa-se uma infinidade de idéias, perturbações, expectativas e dúvidas que são manifestadas ao longo desta etapa da vida. Entretanto, é justamente neste período da vida que a educação sexual deve ser praticada, não de maneira superficial e confusa, mas de forma harmônica e saudável(1).

O despertar da sexualidade é algo que se constrói e se aprende ao longo da vida, pois faz parte do desenvolvimento do ser humano, motivo pelo qual ela pode interferir em todo o processo de formação da personalidade(2).

Especificamente, na época da adolescência o despertar da sexualidade se dá de maneira bastante diferenciada, marcada por características próprias.

A adolescência é um período de grandes transformações e descobertas, é tempo de afirmação da personalidade e de formação de relações mais profundas com a sociedade, escola e principalmente com a família. Ela é compreendida como uma fase de transição entre a infância e a idade adulta e é de fundamental importância por apresentar características muito peculiares, que conduzem a criança a tornar-se adulto capaz de reproduzir (2-4). É acompanhada também pela busca da identidade própria e pelo despertar do erotismo o que a faz um período delicado no qual poderá surgir um aumento de conflitos entre pais e filhos.

Nesta etapa há uma busca pela determinação de valores, ideologias e estilo de vida e uma vulnerabilidade a certos agravos relacionados ao abuso de drogas, álcool, práticas sexuais desprotegidas(5).

É nesta fase que muitas famílias podem sentir-se despreparadas para atender as exigências dos filhos por se acharem incapazes intelectual e emocionalmente para orientar, conduzir, informar e direcioná-los sobre sexualidade em suas várias dimensões(6). Neste sentido, é necessário que pais e filhos compreendam e vivenciem esta etapa de vida, valorizando seus conhecimentos, sua história e suas crenças para que tomem consciência de que a família é um espaço essencial na formação dos indivíduos(7).

A família é considerada como um espaço indispensável para garantir a sobrevivência, a proteção integral de seus membros, independente da dinâmica ou da forma como ela está estruturada.

O meio familiar propicia a sustentação da afetividade e também desempenha um papel decisivo na educação de seus membros, pois é nela que são aprendidos os valores éticos e humanitários necessários para se viver em sociedade(8).

Muitas vezes, os pais não sabem como agir diante das demonstrações da sexualidade de seus filhos, porque não é tarefa fácil aceitar e entender a maneira de pensar dos jovens. É preciso rever preconceitos e estereótipos, entender as diferenças de idéias, uma vez que o crescimento dos filhos pode gerar conflitos e tensão familiar(9).

É importante que ao perceberem a entrada dos filhos na puberdade, os pais procurem entendê-los de forma a facilitar o vínculo afetivo entre ambos. É essencial que nesta fase seja criado um ambiente de confiança para que, ao perceber o início da adolescência, haja uma proximidade entre pais e filhos. Esta aproximação fará com que os adolescentes não se sintam sozinhos, perdidos ou desorientados o que os ajudará a compreender e vivenciar esta fase, valorizando seus conhecimentos e sua história, pois é na família que encontrarão apoio e segurança para enfrentar os conflitos próprios da idade(10).

É fundamental que a sexualidade seja discutida o mais precoce possível, pois é um assunto que normalmente gera muita polêmica e idéias contraditórias, entretanto, discuti-la permite, desde cedo, que crianças e adolescentes cultivem hábitos saudáveis, esclareçam dúvidas e falem de questões pertinentes à sua própria saúde(11).

Neste momento de transição, a enfermeira poderá assistir e cuidar tanto do adolescente como de sua família através de aconselhamento, troca de idéias, esclarecimentos e ações que possam prevenir problemas, tornando esta etapa de vida mais saudável, segura e harmoniosa.

Ela é uma das profissionais que está habilitada para desenvolver ações de educação em saúde, portanto, poderá planejar e implementar ações que favoreçam a saúde do adolescente e também que apóiem sua família, pois é neste período que os pais apresentam grande dificuldade para interagir com os filhos, principalmente no que se refere à sexualidade(12).

Ao trabalhar questões sobre sexualidade, o profissional deve levar em conta as particularidades de cada família e agir de forma a apoiá-la, protegê-la e fortalecê-la. A família e a enfermeira devem compartilhar conhecimentos e ações com o objetivo de orientar os adolescentes para exercerem sua sexualidade com responsabilidade, dignidade e prazer.

OBJETIVO

Identificar como os pais vivenciam a educação sexual de seus filhos adolescentes.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, descritivo exploratório, realizado em uma escola privada do município de Toledo, Paraná. Os participantes foram 10 familiares de alunos matriculados na 7ª e 8ª séries do ensino fundamental, que foram escolhidos através de sorteio realizado pela pesquisadora.

A pesquisa foi realizada após a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Paraná e seguiu o que preconiza a Resolução nº 196/96, Diretrizes e Normas Regulamentadoras para Pesquisa com Seres humanos(13).

A decisão de participar foi respeitada e os pais só foram incluídos no estudo mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O anonimato dos sujeitos participantes foi garantido através da denominação F1, F2 sucessivamente, sendo respectivamente familiar um e familiar dois.

Para a coleta de dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada, com cinco questões referentes ao tema que foram abordadas durante a entrevista que foi gravada e transcrita na íntegra, através da qual foi possível coletar dados sobre a identificação dos pais e o modo como eles realizam a orientação sexual de seus filhos adolescentes.

Para analisar os dados obtidos através da entrevista utilizou-se o método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) proposto por Lefévre e Lefévre(14), o qual possibilita a pesquisa do "pensamento coletivo" e a construção de algumas categorias originadas a partir das expressões-chave retiradas dos discursos dos entrevistados.

RESULTADOS

Dos dez pais que participaram do estudos sete eram mulheres e três homens, sendo a maioria de ascendência italiana, com idade de 31 a 46 anos, casados, católicos; grande parte possuía ensino superior completo, sendo que alguns possuíam especialização e mestrado, a maioria trabalhava fora e possuíam uma renda que variava de 11 a mais de 20 salários mínimos.

Após a realização da entrevista com os pais, onde foram questionados sobre como orientavam seus filhos sobre sexualidade, resultaram algumas idéias retiradas do material coletado as quais são dispostas em tópicos.

A conversa franca entre pais e filhos como modo de orientar

Alguns pais que participaram do estudo referiram ter tranqüilidade para conversar com seus filhos sobre sexualidade. Acham importante ter uma conversa franca com seus filhos, pois acreditam que este tipo de conversa permite uma aproximação entre eles, facilita a comunicação, a relação familiar e oportuniza uma educação sobre sexualidade adequada, baseada na franqueza, naturalidade e responsabilidade. Estes pais acreditam, também, que o diálogo seja uma forma de estreitar laços com os filhos e melhorar a comunicação entre ambos.

A gente sempre conversa, lá em casa tudo é aberto (F1,F3,F7). Quero prevenir antes que ele descubra coisas novas (F2). Eu não tenho dificuldade, a gente sempre está junto, a gente é muito amiga, ela é bem aberta, temos liberdade .Eu não tenho dificuldades com ela (F4). "Ela conta tudo....outro dia, veio me contar que já transou... a gente tenta explicar e fala que a coisa é bem mais complexa do que eles pensam (F5). A gente está presente,..não esconde nada... não põe panos quentes, a gente responde com franqueza e naturalidade.. .Não existe tabu. Nenhuma preocupação em ficar enfeitando. Sempre me coloco à disposição. A sexualidade é uma coisa natural e se houver dúvidas ele irá nos procurar e terá esclarecimentos. Quero sempre estar disponível,com tranqüilidade e sem dificuldade nenhuma. (F7). É melhor ter informação agora do que mais tarde ter uma situação pior (F10).

Dificuldade de comunicação entre pais e filhos

Alguns pais relataram ter dificuldade de realizar a orientação sexual dos filhos, pois não conseguem comunicar-se com seus adolescentes porque não tem coragem para falar de algumas questões referentes à sexualidade, principalmente pelo desinteresse e falta de atenção por parte dos filhos para ouví-los.

Eles não querem ouvir o que a gente fala, ficam com vergonha (F1, F2, F3,F9). Já preferem conversar com as amigas, por achar que a gente está tirando sarro...Eu tenho vergonha de conversar com ela, mas eu tenho que criar coragem e conversar sobre sexo (F1,F2,F8). Meu marido não é muito assim, de chegar e conversar..., é mais restrito a outras coisas, não tem jeito para chegar até ela.

Que ao sentirem dificuldade para abordar este assunto com os filhos, várias lembranças vieram à tona e eles não conseguiram esconder que a maneira como tinham sido educados, principalmente em relação à sexualidade teria deixado marcas que estavam presentes até hoje, o que dificulta a sexualidade, principalmente pelo desinteresse e falta de atenção por parte dos filhos para ouví-los.

Dificuldades relacionadas com a educação recebida

Alguns pais, revelaram o quanto sentem-se constrangidos em falar sobre sexualidade com seus filhos. Relatam que ao sentirem dificuldade para abordar este assunto com os filhos, várias lembranças vieram à tona e eles não conseguiram esconder que a maneira como tinham sido educados, principalmente em relação à sexualidade teria deixado marcas que estavam presentes até hoje, o que dificulta a comunicação e a transmissão de conhecimentos e valores relacionados à sexualidade.

A gente nunca teve uma orientação sexual. Quando menstruei pela primeira vez, levei um susto, minha mãe não falava nada, não beijava ninguém, era seca. O meu pai e a minha mãe nunca sentavam e falavam sobre sexualidade, é de família, isso fica marcado (F1,F2). Só que hoje eu tenho que agir de outra forma, é difícil conversar sobre sexo, você fica meio retraída, envergonhada. Quero ver se crio coragem e chego a conversar com elas...É difícil (F8). Eu lembro que quando era pequena meu pai, ficava de olho, com medo porque a gente morava no interior. Minha mãe é muito rígida, ficou viúva com 36 anos, acha que a mulher tem que ter só um homem... falava que tinha que se cuidar, que sexo era só depois do casamento (F4,F5). Eu fui criada nisso..é complicado, sofro... (F4) Na minha geração se eu perguntasse qualquer coisa, era surra na certa, a gente ouvia 'a vida ensina, não precisa ensinar'. Era medo de incentivar (F7) Nós não fomos educados assim nunca vai ser fácil, a gente enfrenta porque tem que enfrentar, venho de uma família de italianos, daqueles durões, pessoas humildes, com pouca educação,pouca instrução, não sobrava muito tempo para uma conversa normal, imagine sexual (F10).

Ensino de valores

Alguns pais demonstraram preocupação em ensinar aos filhos o respeito consigo mesmo e com o próximo, responsabilidade na maneira de exercer sua sexualidade e de comportar-se em sociedade.

A gente procura sempre mostrar o correto, o verdadeiro, as conseqüências. (F3,F6). Tem que pensar mais em estudar... tem que ter os seus limites... Tudo tem seu tempo,(F1,F2,F6)....não é porque suas amigas estão saindo que você vai ficar saindo... transando. Tem que cuidar com os meninos... Eu falo para ela que a menina tem que se dar valor, não pode correr atrás dos meninos, porque fica mal falada. Não pode ficar com um... com outro, tem que ser mais reservada (F8). A mulher tem que ser só de um homem... se guardar. Muitos casais acham que sexo é só relação sexual mas sexo tem que ser com amor e tem que existir fidelidade... que família é a coisa mais importante que tem (F4). A gente tenta ensinar o respeito...se dar respeito e depois respeitar a outra pessoa (F6,F7.). Tem que ter consciência das conseqüências, da responsabilidade de uma escolha (F9, F10). Procuro passar para ele que ele deve se organizar...respeitar sua sexualidade, daí a vida fica muito mais fácil, porque uma gravidez não planejada, complica para os dois lados (F3,F4,F6,F7). A gente sabe que hoje a tendência. é fazer sexo cada vez mais cedo, isso é mostrado pela televisão, pelas novelas... o excluído é quem não faz sexo, mas não é bem assim, tem que ser com responsabilidade.. .sem se vulgarizar, se respeitando..(F10). A gente faz isso porque tem medo que elas sofram... (F9)"

Educação sexual compartilhada com a escola

Os pais reconhecem o papel da escola como educadora e aliada na educação sexual de seus filhos e citam ainda a importância que a escola teve e tem na formação sexual de seus filhos, explicando que muitas das informações que eles possuem, foram repassadas pela escola.

Ela é muito bem orientada na escola (F8). Elas já tinham informações suficientes pois, desde cedo, desde o prezinho, tiveram isso e foram evoluindo (F9) Tanto na escola que ela estudou como aqui informaram muito bem, foi muito bom, a gente aprendeu (F10). Um pouquinho na escola, um pouquinho em casa, ela também vai se descobrindo, a coisa flui melhor (F2,F6).

DISCUSSÀO

A comunicação da família com os filhos, durante o período da adolescência, embora muitas vezes difícil e conflituosa, deve ser sempre estimulada, pois é nesta fase que os filhos querem e mais necessitam receber informações, pois se os pais não as fornecem eles acabam adquirindo-as entre os amigos ou na rua, pois eles precisam ter respostas para suas dúvidas.

O diálogo franco com os filhos pode ser considerado uma estratégia facilitadora para melhorar o processo de comunicação entre adolescentes e família, podendo ainda ser um momento de reflexão de sentimentos, de confrontar e estabelecer limites. É importante que a conversa entre pais e filhos seja permeada de sentimentos como honestidade e confiança, para que os filhos sintam que não existe barreiras de comunicação no meio familiar(10).

Os pais precisam avaliar o tipo de comunicação que usam com seus filhos ao falar de sexualidade e saber que este tipo de assunto precisa ser conversado de acordo com o grau de amadurecimento do adolescente e ser relevante aos acontecimentos da etapa de vida que está vivendo(10).

Nesses momentos de conversa franca entre pais e filhos, é necessário e importante que os pais estimulem o adolescente a ter uma postura crítica e reflexiva diante das questões que envolvem a sexualidade. É preciso criar no jovem o pensamento crítico e a capacidade de entender as modificações provocadas pela própria idade(15).

A relação interpessoal entre pais e filhos adolescentes é um momento único e deve ser aproveitada em cada minuto, pois é justamente neste tipo de contato que acontece a apreensão de valores que tendem a permanecer para o resto da vida. Acreditamos que uma das tarefas mais árduas dos pais seja manter uma comunicação harmoniosa e eficaz com seus filhos na fase da adolescência, porém é necessário, apesar das dificuldades que aparecem e do afastamento que ocorre entre pais e filhos nesta etapa de vida, que os pais estejam conscientes de que eles continuam sendo os principais educadores no que diz respeito à sexualidade, portanto devem ser encorajados para que continuem falando com seus filhos(16).

Sabe-se que diante da falta de orientação e da ausência de diálogo na família, o adolescente tende a procurar informações com outros adolescentes, ainda mais ou igualmente imaturos, o que contribui para a prática do sexo inseguro e aquisição de informações errôneas(17).

Muito do que aprendemos e ouvimos no ambiente familiar sobre sexualidade, acabamos reproduzindo na educação de nossos filhos. Quase sempre recebemos influência da família no modo como educamos, sendo raro os casos em que este modelo não seja incorporado(18).

Pais que tiveram uma educação extremamente repressiva e autoritária, onde o sexo era visto como algo pecaminoso e somente praticado com fins de reprodução, entram em conflito com seus filhos adolescentes, por muitas vezes, não concordarem com suas idéias, gerando um clima tenso. É importante que os pais admitam que nem sempre seus valores e pensamentos sobre as questões da sexualidade vão ao encontro das necessidades dos filhos e que desta maneira o adolescente pode receber uma mensagem negativa dos pais, através de um modelo educacional repressivo, distante, autoritário e indiferente por parte dos pais(19).

É fundamental que os pais revejam suas atitudes frente às indagações dos filhos sobre sexualidade, deixando para trás preconceitos e estereótipos construídos a partir da educação recebida, pois esta dificuldade em desvencilhar-se de tabus e antigos conceitos pode impossibilitar os pais de manter um diálogo franco e aberto e entender as manifestações presentes de uma sexualidade aflorada própria da fase da adolescência(20).

O ambiente familiar é normalmente, onde os valores são fortemente apreendidos e enraizados, pois é no núcleo da família que inicialmente os indivíduos vivenciam, incorporam e adotam valores, crenças, ritos, mitos e costumes necessários e fundamentais para se viver em sociedade(10). Estes valores geralmente perduram por muito tempo e podem trazer benefícios ou prejuízos para a vida adulta, pois a família pode ser considerada o primeiro lócus de aprendizagem, portanto é preciso que ela oriente e cuide para que os seus valores sejam transmitidos ao longo do desenvolvimento dos filhos, inclusive aqueles que interferem no exercício da sexualidade(7).

Hoje, vivemos um período de transição no que diz respeito à construção de valores relacionados às questões da sexualidade, o que comumente leva os pais a apresentarem muitas dificuldades para escolher a forma mais adequada para orientar seus filhos sobre o tema(20).

Para Hoz(21), a educação da sexualidade pode ser considerada como um tema bastante amplo por estar relacionado com várias manifestações do ser humano, portanto ele deve envolver tanto a família como a escola.

É a partir desta idéia que salienta-se a importância da abordagem da sexualidade no âmbito escolar juntamente com a educação formal. Ela está inclusa nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que partem do princípio de que a sexualidade é uma questão social e que, portanto, deve ser trabalhada tanto na família como na escola, porém de maneira dinâmica e global, ou seja, respeitando a diversidade de crenças, de costumes e de valores próprios de cada cultura(22).

Devido a importância da educação sexual dos adolescentes ser compartilhada entre família e escola, é que o processo de educação pode ser definido como sendo comunicação e diálogo, e não simplesmente a mera transferência de informações, mas sim. o encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados(23).

Portanto, é necessário que a escola tenha conhecimento de sua importânciaenquanto instituição que educa indivíduos e é formadora de opiniões e de indivíduos.

CONCLUSÃO

Este estudo mostra que alguns pais, acreditam que a conversa franca entre pais e filhos pode ser um recurso facilitador na orientação sobre sexualidade de seus filhos adolescentes e deve ser praticada com honestidade e satisfação.

Outros relatam, que apesar das dificuldades encontradas, eles devem estar disponíveis para conversar, sobre sexualidade, com seus filhos.

Alguns referem que o ensino de valores deve prevalecer como maneira de formar a personalidade e de estimular o conhecimento de si e do outro; que a escola desempenha um papel primordial como aliada na educação sexual de seus filhos, fornecendo conhecimento, não só sobre o biológico, mas também sobre sentimentos.

A enfermeira como profissional capacitada para assistir ao indivíduo em todas as etapas de vida, necessita estar inserida nos Programas de Educação Sexual das escolas, promovendo ações e programas voltados para a saúde do adolescente e sua família os quais devem atender as reais necessidades de ambos

Todas as instituições que atendem o adolescente como: unidades básicas de saúde, escolas, associações, entre outras, devem incluir a família em suas ações para que ela seja apoiada, protegida e orientada no sentido de proporcionar melhores condições para que exerça a tarefa de educar os filhos sobre sexualidade.

É fundamental que todos, governo, profissionais de saúde e de educação, família, escola e sociedade não economizem esforços para que os adolescentes sejam educados, não só para exercer sua sexualidade, mas, principalmente para exercer seus direitos com responsabilidade, sendo respeitados e respeitando os outros.

Artigo recebido em 12/05/2008 e aprovado em 29/09/2008

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  • Autor Correspondente:
    Ana Carla Campos Hidalgo de Almeida
    Av. Tiradentes, 1001 Apto. 82 - Centro
    Toledo - PR - CEP. 85900-230
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    Artigo extraído da Dissertação de Mestrado intitulada "Educação Sexual de adolescentes: o olhar da família" apresentado ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná – UFPR – Curitiba (PR), Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Abr 2009
    • Data do Fascículo
      Fev 2009

    Histórico

    • Recebido
      12 Maio 2008
    • Aceito
      29 Set 2008
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