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O modus operandi online e o avanço dos periódicos brasileiros de enfermagem

EDITORIAL

O modus operandi online e o avanço dos periódicos brasileiros de enfermagem

Abel L. Packer

Assessor de Informação e Comunicação em Ciência da Fundação de Apoio à UNIFESP. Programa SciELO / FAPESP

A comunicação científica, especialmente a realizada por meio dos periódicos, foi enriquecida sobremaneira a partir do surgimento e evolução da Web nas últimas três décadas, que fizeram do suporte digital e da disponibilização dos conteúdos online o modus operandi da publicação e intercâmbio de informação científica, em todas as áreas do conhecimento. Convivemos com sucessivos melhoramentos e inovações sempre orientados ao objetivo de manter e aumentar a visibilidade, o acesso e o impacto dos periódicos e das pesquisas que publicam. Não obstante a publicação sobre papel persistir, na maioria dos casos como legado inercial do passado e custos dispensáveis, é impensável na comunidade científica um periódico de qualidade sem publicação online. Com o concurso dos dispositivos móveis, como os tablets e os smartphones, a cobertura dos serviços online amplia-se progressivamente. Com o advento de novas tecnologias de redes sem fio os conteúdos online terão acessibilidade ubíqua.

Recuperado e processado a partir do arquivo digital, o texto online, particularmente o artigo científico, emerge na tela dos computadores e dos dispositivos móveis como um portal operado no espaço virtual, com inúmeros links e serviços associados que permitem chegar a publicações similares, a outros trabalhos dos autores, ao número de vezes que o texto foi acessado, citado. Dispõem ainda a possibilidade de comentários e discussão entre os leitores. Permite também imprimir em papel o texto. O artigo online desprende-se do fascículo (ou número) do periódico com autonomia e disponibilidade como se fosse uma separata pronta para ser exposta e compartilhada desde qualquer local. Os índices bibliográficos reforçam esta autonomia ao conectar a referência bibliográfica diretamente ao texto completo do artigo, isto é, dispensando a sua localização pela identificação do volume, número e paginação. Esta autonomia permitiu também o surgimento de megaperiódicos como o PLoS One que publicou em 2011 em média mais de mil artigos por mês, operação inviável no papel. Uma aplicação típica dessa nova condição do artigo digital ainda na estrutura clássica dos periódicos é a sua publicação antes que o número esteja pronto, isto é, logo após o manuscrito ser aprovado e o texto editado. A publicação antecipada (ahead of print) reforça e explicita o periódico como espaço realizador do fluxo de informação científica de uma área temática. Agrega valor a duas funções deste fluxo. Por um lado, atende a demanda básica dos autores de verem sua pesquisa avaliada por pares e comunicada o mais rapidamente possível. Por outro, atualiza mais rapidamente o espaço do conhecimento científico. A pesquisa pode ser lida e citada mais rapidamente. Aliada ao acesso aberto, a publicação antecipada acelera a disponibilidade universal da pesquisa científica.

Os periódicos brasileiros e dos demais países da América Latina adotaram com pioneirismo o modus operandi online com acesso aberto, apoiados desde 1998 pelo Programa SciELO da FAPESP e a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), ambos com a cooperação técnica da BIREME/OPAS/OMS, com enorme ganho em visibilidade. Com sistemas de avaliação e qualificação o SciELO e a BVS contribuem sistematicamente para o melhoramento da qualidade dos periódicos . Nesse contexto e alimentados pelo avanço da pesquisa brasileira e pela ampliação da cobertura dos índices internacionais, os periódicos brasileiros adquiriam maior presença internacional e comunicam atualmente mais de um terço da produção científica nacional referenciada nos índices multidisciplinares Web of Sciences e Scopus e afirmando-se como parte integral das infraestruturas e capacidades da pesquisa brasileira. O investimento no desenvolvimento dos periódicos brasileiros, incluindo a profissionalização e internacionalização, é uma linha da ação essencial para promover e assegurar a ampla comunicação, visibilidade e impacto da pesquisa brasileira. Esta linha de ação deve convergir editores, sociedades científicas, agências de fomento à pesquisa e comunicação científica (1-2).

A presença dos periódicos brasileiros é mais acentuada em algumas disciplinas, como é o caso da enfermagem, que, no final de 2011, alcançou 14 periódicos indexados na BVS Enfermagem, 7 no SciELO, 5 no Scopus, 4 no Wos e 3 entre os 89 títulos listados no JCR 2010. Considerando como referência o universo de 5293 artigos originais e de revisão publicados em 2011 por estes 89 títulos de enfermagem indexados no WoS, o Brasil (com 435 artigos) ocupa o terceiro lugar no ranking mundial após os Estados Unidos (2397) e Austrália (517) e com mais artigos que todos os demais BRICS (151). Dos 435 artigos de autores com afiliação brasileira, 398 (91%) são publicados nos três periódicos brasileiros, a Revista Latino-americana de Enfermagem (36%), a Revista da Escola de Enfermagem da USP (33%) e a Acta Paulista de Enfermagem (23%). Os dois primeiros publicam predominantemente em inglês enquanto a Acta Paulista de Enfermagem publica em português. A Revista Latino-americana de Enfermagem tem maior impacto e está no terceiro quartil da distribuição do Fator de Impacto dos 89 periódicos de enfermagem no JCR 2010. Somente 8% dos 435 artigos com afiliação brasileira são de colaboração internacional. Entre os 398 artigos publicados pelos três periódicos, 14% dos artigos tem pelo menos uma afiliação estrangeira.

O desafio de profissionalização e inserção internacional aplica-se em particular aos periódicos de enfermagem. A adoção plena do modus operandi online deverá nortear este processo. A Acta Paulista de Enfermagem deu esse passo a partir de 2012 com a decisão de publicar exclusivamente online e com a opção de publicação antecipada.

  • 1. Packer, AL. Os periódicos brasileiros e a comunicação da pesquisa nacional. Rev USP. 2011;86:26-61.
  • 2. Meneghini, R. (2012). Emerging journals. The benefits of and challenges for publishing scientific journals in and by emerging countries. EMBO Reports. 2012;13:106-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Maio 2012
  • Data do Fascículo
    2012
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