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Segurança na administração de medicamentos em Pediatria

Seguridad en la administración de medicamentos en pediatría

Resumos

Erros ou falhas podem ocorrer em qualquer fase do sistema de medicação. Em crianças, fatores como idade, peso, estatura, condições clínicas, características do metabolismo e escassez de medicamentos direcionados para a população pediátrica contribuem para a ocorrência de erros de medicação. Este artigo teve como objetivos, apresentar aspectos relevantes do sistema de medicação e recomendações para a redução de erros de medicação em crianças, com fundamentação nos princípios da segurança do paciente em pediatria.

Erros de medicação; Enfermagem pediátrica; Segurança; Sistemas de medicação


Errores o fallas pueden suceder en cualquier fase del sistema de medicación. Tratándose de niños, fatores como edad, peso, estatura, condiciones clínicas, características del metabolismo y escasez de medicamentos dirigidos a la población pediátrica contribuyen en la ocurrencia de errores de medicación. En este artículo se tuvo como objetivos, presentar aspectos relevantes del sistema de medicación y recomendaciones para la reducción de errores de medicación en niños, fundamentados en los principios de la seguridad del paciente en pediatría.

Errores de medicación; Enfermería pediátrica; seguridad; Sistemas de medicación


Errors or failures can occur at any phase of the medication administration system. In children, factors such as age, weight, height, medical conditions, metabolic characteristics and lack of targeted drugs for the pediatric population contribute to the occurrence of medication errors. This article presents relevant aspects of the medication system and recommendations for reducing medication errors in children, with a foundation in the principles of patient safety in pediatrics.

Medication errors; Pediatric nursing; Safety; Medication systems


ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO

Segurança na administração de medicamentos em Pediatria

Seguridad en la administración de medicamentos en pediatría

Maria de Jesus Castro Sousa HaradaI; Daniella Cristina ChanesII; Denise Miyuki KusaharaIII; Mavilde da Luz Gonçalves PedreiraIV

IEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Escola Paulista de Enfermagem - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil

IIEnfermeira, Especialista em Enfermagem em Oncologia Pediátrica, Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil

IIIEnfermeira. Doutora em Ciências. Técnico Administrativo do Departamento de Enfermagem Pediátrica da Escola Paulista de Enfermagem - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil

IVEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Associado da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil. Pesquisadora do CNPq

Autor correspondente Autor correspondente: Denise Miyuki Kusahara Escola Paulista de Enfermagem Rua Napoleão de Barros 754. S. 113 CEP 04024-002 - Vl. Clementino. São Paulo. SP

RESUMO

Erros ou falhas podem ocorrer em qualquer fase do sistema de medicação. Em crianças, fatores como idade, peso, estatura, condições clínicas, características do metabolismo e escassez de medicamentos direcionados para a população pediátrica contribuem para a ocorrência de erros de medicação. Este artigo teve como objetivos, apresentar aspectos relevantes do sistema de medicação e recomendações para a redução de erros de medicação em crianças, com fundamentação nos princípios da segurança do paciente em pediatria.

Descritores: Erros de medicação/prevenção & controle; Enfermagem pediátrica; Segurança; Sistemas de medicação

RESUMEN

Errores o fallas pueden suceder en cualquier fase del sistema de medicación. Tratándose de niños, fatores como edad, peso, estatura, condiciones clínicas, características del metabolismo y escasez de medicamentos dirigidos a la población pediátrica contribuyen en la ocurrencia de errores de medicación. En este artículo se tuvo como objetivos, presentar aspectos relevantes del sistema de medicación y recomendaciones para la reducción de errores de medicación en niños, fundamentados en los principios de la seguridad del paciente en pediatría.

Descriptores: Errores de medicación/prevención & control; Enfermería pediátrica; seguridad; Sistemas de medicación

INTRODUÇÃO

O Institute of Medicine destaca que ocorrem cerca de 7.000 mortes ao ano nos Estados Unidos da América, provocadas por erros de medicação.(1) Os erros relacionados à utilização de medicamentos podem resultar em sérias consequências para o paciente e sua família, como gerar incapacidades, prolongar o tempo de internação e de recuperação, expor o paciente a um maior número de procedimentos e medidas terapêuticas, atrasar ou impedir que reassumam suas funções sociais, e até mesmo a morte.(2,3)

Neste sentido, destaca-se que recém-nascidos, crianças, adolescentes e adultos apresentam características diferentes de absorção, distribuição, metabolismo e excreção de drogas. No entanto, cerca de 80% dos fármacos comercializados são destinados a adultos, sendo que muitas dessas drogas são utilizadas em crianças, incluindo recém-nascidos.(2)

Como consequência, identifica-se a necessidade da administração de doses muito fracionadas de medicamentos o que acarreta maior demanda de tempo de trabalho de enfermagem, além de manipulação excessiva das soluções, o que pode comprometer a qualidade do procedimento em vários aspectos, como quanto à estabilidade e possibilidade de contaminação. Além dessas dificuldades, ressalta-se a possibilidade de intoxicação do paciente pediátrico em decorrência do uso de medicamentos comercializados em altas concentrações. (2)

Segurança do paciente: especificidades da Pediatria

Erro de medicação se caracteriza por um evento evitável, ocorrido em qualquer fase da terapia medicamentosa, que pode ou não causar danos ao paciente. A presença do dano caracteriza o evento adverso, que se define como um prejuízo sofrido durante o atendimento à saúde, ocasionando doenças secundárias ou piora nas condições gerais do paciente.(4,5)

O sistema de medicação é constituído por vários processos como prescrição, revisão e validação da prescrição, distribuição ou dispensação, preparo, administração, e acompanhamento do paciente para monitoramento da ação ou reação ao medicamento. Erros ou falhas podem ocorrer em qualquer uma dessas fases.(6) Revisão sistemática conduzida com a finalidade de identificar os estudos realizados acerca de erros de medicação em crianças identificou a ocorrência de erros durante alguma das etapas do processo de medicação de crianças, sendo os mais frequentes os erros de prescrição (3-37%), dispensação (5-58%), administração (72-75%) e documentação (17-21%).(7)

Estudo conduzido na Inglaterra, entre 2007 e 2008, com o objetivo de analisar isoladamente os incidentes envolvendo medicação relatados em um sistema de notificação, identificou que a faixa etária mais acometida foi a de zero a quatro anos de idade e os erros de dose e ou concentração corresponderam a 23% dos eventos envolvendo crianças e neonatos. O segundo tipo de erro mais relatado foi o erro de omissão e o terceiro o erro de administração.(8)

Pesquisa realizada com o objetivo de estudar as ocorrências adversas da prática de enfermagem em crianças assistidas em uma Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos (UCIP), com uma amostra de 113 ocorrências adversas em 38 crianças (média de 2,9 ocorrências adversas por criança), demonstrou que as relacionadas com medicação corresponderam a 32,7%.(9)

Também no Brasil, estudo realizado em uma UCIP para atendimento de pacientes oncológicos, registrou 71 notificações de 110 erros de medicação, representando ocorrência de 227 erros por 1000 pacientes-dia. De acordo com os relatos, o erro de omissão foi o tipo mais frequente (22,7%), seguido pelos erros de administração (18,2%), prescrição e dose que ocorreram na mesma frequência, correspondendo cada um a 16,4% dos relatos.(4)

Um dos fatores que contribuem para a ocorrência de erros de medicação em crianças, em especial o erro de dose, advém da complexidade dos cálculos que necessitam ser realizados considerando-se idade, peso, estatura e condições clínicas da criança, uma vez que as características de absorção, distribuição, metabolismo e excreção de drogas, diferem entre recém-nascido, adolescente e adulto.(8)

A característica de maior complexidade na terapia medicamentosa em crianças, não resulta em diferentes abordagens dos órgãos de fiscalização que produzam práticas mais seguras. No que tange a enfermagem, apesar da lei do exercício profissional preconizar que práticas mais complexas sejam executadas por enfermeiros, no cotidiano da assistência observa-se que as instituições de saúde conferem a enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, as mesmas atribuições na terapia medicamentosa realizada em crianças em seus protocolos assistenciais, sem aumentar o dimensionamento de enfermeiros para execução de práticas de terapia medicamentosa, o que pode estar contribuindo para que vários erros de medicação atinjam pacientes pediátricos. Outra questão de ordem legal se refere a falta de obrigatoriedade de comercialização de medicamentos parenterais com apresentação pediátrica, fato já legislado em vários países, para fármacos utilizados amplamente em crianças. Estudo conduzido em quatro unidades pediátricas de um hospital universitário identificou a administração de 8245 doses de medicamentos por via intravenosa, de 41 fármacos diferentes, dos quais nenhum tinha apresentação farmacológica pediátrica.(2)

Autores(7) sugerem em uma revisão sistemática várias estratégias para a prevenção deste tipo de erro em crianças, as quais encontram-se descritas no Quadro 1.


Além das recomendações específicas para a prevenção da ocorrência de erros de medicação, a Academia Americana de Pediatria publicou em 2001 os Princípios da Segurança do Paciente em Pediatria as quais encontram-se pontuadas no Quadro 2.(10)


CONSIDERAÇÕES FINAIS

É consenso entre os profissionais da área da saúde que erros decorrentes da terapia medicamentosa representam um problema, que nas últimas décadas tem alcançado proporções elevadas. Em pediatria, esse fato acarreta impacto ainda maior. Sendo assim, é um desafio para toda instituição e equipe de saúde, promover mudanças na cultura organizacional que permitam a reestruturação de processos e a implementação de estratégias de segurança.

Artigo recebido em 03/03/2011 e aprovado em 11/12/2011

  • 1. Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS, editors. To err is human: building a safer health system. Washington (DC): National Academy Press; 2000. 536p.
  • 2. Peterlini MA, Chaud MN, Pedreira ML. Órfãos da terapia medicamentosa: a administração de medicamentos por via intravenosa em crianças hospitalizadas. Rev Latinoam Enferm. 2003; 11(1): 88-95.
  • 3. Reason J. Beyond the organizational accident: the need for "error wisdom" on the frontline. Qual Saf Health Care. 2004;13 Suppl 2:ii28-33.
  • 4. Belela AS, Peterlini MA, Pedreira ML. Revelação da ocorrência de erro de medicação em unidade de cuidados intensivos pediátricos. Rev Bras Ter Intensiva. 2010; 22(3):257-63.
  • 5. Runciman W, Hibbert P, Thomson R, Van Der Schaaf T, Sherman H, Lewalle P. Towards an international classification for patient safety: key concepts and terms. Int J Qual Health Care. 2009; 21(1): 18-26.
  • 6. Yamanaka TI, Pereira DG, Pedreira ML, Peterlini MA. Redesenho de atividades da enfermagem para redução de erros de medicação em pediatria. Rev Bras Enferm. 2007;60(2):190-6.
  • 7. Miller MR, Robinson KA, Lubomski LH, Rinke ML, Pronovost PJ. Medication errors in paediatric care: a systematic review of epidemiology and an evaluation of evidence supporting reduction strategy recommendations. Qual Saf Health Care. 2007;16(2):116-26.
  • 8
    National Patient Safety Agency. Review of patient safety for children and young people [Internet]. London: National Patient Safety Agency; 2009 [cited 2012 Feb 12]. Available from: http://www.npsa.nhs.uk/EasySiteWeb/GatewayLink.aspx?alId=45187
  • 9. Harada MJ, Marin HF, Carvalho WB. Ocorrências adversas e consequências imediatas para os pacientes em unidade de cuidados intensivos pediátricos. Acta Paul Enferm. 2003; 16(3): 62-70.
  • 10. Lannon CM, Coven BJ, Lane France F, Hickson GB, Miles PV, Swanson JT, Takayama JI, Wood DL, Yamamoto L; National Initiative for Children's Health Care Quality Project Advisory Committee. Principles of patient safety in pediatrics. Pediatrics. 2001; 107(6):1473-5.
  • Autor correspondente:
    Denise Miyuki Kusahara
    Escola Paulista de Enfermagem
    Rua Napoleão de Barros 754. S. 113
    CEP 04024-002 - Vl. Clementino. São Paulo. SP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      2012

    Histórico

    • Recebido
      03 Mar 2011
    • Aceito
      11 Dez 2011
    Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
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