Acessibilidade / Reportar erro

Adaptação cultural e confiabilidade para o Brasil do Automated Telephone Disease Management: resultados preliminares

Adaptación cultural y confiabilidad para el Brasil del Automated Telephone Disease Management: resultados preliminares

Resumos

OBJETIVOS: Traduzir, adaptar culturalmente para o Brasil o ATDM Satisfaction Scales e avaliar a confiabilidade da versão adaptada em adultos brasileiros com DM. MÉTODOS: Estudo metodológico, cujo processo de adaptação cultural incluiu: tradução, comitê de juízes, retrotradução, análise semântica e pré-teste. Este estudo incluiu uma amostra de 39 adultos brasileiros com DM cadastrados em um programa educativo do interior paulista. RESULTADOS: A versão adaptada do instrumento mostrou boa aceitação com fácil compreensão dos itens pelos participantes, com confiabilidade variando entre 0,30 e 0,43. CONCLUSÃO: Após a análise das propriedades psicométricas e finalização do processo de validação no País, o instrumento poderá ser utilizado por pesquisadores brasileiros, possibilitando ser comparado com outras culturas.

Telemedicina; Satisfação do paciente; Diabetes mellitus; Telefone


OBJETIVOS: Traducir, adaptar culturalmente para el Brasil el ATDM Satisfaction Scales y evaluar la confiabilidad de la versión adaptada en adultos brasileros con DM. MÉTODOS: Estudio metodológico, cuyo proceso de adaptación cultural incluyó: traducción, comité de jueces, retrotraducción, análisis semántica y pre-test.Este estudio incluyó una muestra de 39 adultos brasileros con DM registrados en un programa educativo del interior paulista. RESULTADOS: La versión adaptada del instrumento mostró buena aceptación con fácil comprensión de los items por los participantes, con confiabilidad variando entre 0,30 y 0,43. CONCLUSIÓN: Después del análisis de las propiedades psicométricas y finalización del proceso de validación en el País, el instrumento podrá ser utilizado por investigadores brasileros, posibilitando su comparación con otras culturas.

Telemedicina; Satisfacción del paciente; Diabetes mellitus; Teléfono


OBJECTIVES: To translate, culturally adapt for Brazil the Automated Telephone Disease Management (ATDM) Satisfaction Scales and evaluate the reliability of the adapted version in Brazilian adults with diabetes mellitus (DM). METHODS: A methodological study whose cultural adaptation process included: translation, expert committee, back translation, semantic analysis and pretesting. This study included a sample of 39 Brazilian adults with DM enrolled in an educational program in São Paulo. RESULTS: The adapted version of the instrument showed good acceptance with easy comprehension of the items by the participants, with reliability ranging between 0.30 and 0.43. CONCLUSION: After analyzing the psychometric properties and finalizing the validation process in the country, the instrument can be used by Brazilian researchers, making it possible to compare with other cultures.

Telemedicine; Patient satisfaction; Diabetes mellitus; Telephone


Adaptação cultural e confiabilidade para o Brasil do Automated Telephone Disease Management: resultados preliminares* * Trabalho de conclusão do curso de Graduação em Bacharelado em Enfermagem, apresentado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil, 2011. Suporte Financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP – Iniciação Científica – IC – processo nº 2010/07522-4.

Adaptación cultural y confiabilidad para el Brasil del Automated Telephone Disease Management: resultados preliminares

Talita BalaminutI; Camila Aparecida Pinheiro LandimII; Tânia Alves Canata BeckerII; Ellen Cristina Barbosa dos SantosII; Gabriela Marsola OlivattoIII; Maria Lúcia ZanettiIV; Carla Regina de Souza TeixeiraV

IEnfermeira. Residente de Enfermagem em Neonatologia, Departamento de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina – UEL – Londrina (PR), Brasil

IIEnfermeira. Mestre em Ciências. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental, Departamento de Enfermagem Geral e Especializada, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil

IIIAcadêmica do terceiro ano de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil

IVEnfermeira. Livre-Docente. Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental, Departamento de Enfermagem Geral e Especializada, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil

VEnfermeira. Pós-Doutora em Medicina Social e Orientadora do estudo em questão. Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental, Departamento de Enfermagem Geral e Especializada, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil

Autor Correspondente Autor Correspondente: Camila Aparecida Pinheiro Landim Rua São Salvador, 328, apto 37, Sumarezinho Ribeirão Preto (SP), Brasil – CEP 14055-260 E-mail: camilaapapila@usp.br

RESUMO

OBJETIVOS: Traduzir, adaptar culturalmente para o Brasil o ATDM Satisfaction Scales e avaliar a confiabilidade da versão adaptada em adultos brasileiros com DM.

MÉTODOS: Estudo metodológico, cujo processo de adaptação cultural incluiu: tradução, comitê de juízes, retrotradução, análise semântica e pré-teste. Este estudo incluiu uma amostra de 39 adultos brasileiros com DM cadastrados em um programa educativo do interior paulista.

RESULTADOS: A versão adaptada do instrumento mostrou boa aceitação com fácil compreensão dos itens pelos participantes, com confiabilidade variando entre 0,30 e 0,43.

CONCLUSÃO: Após a análise das propriedades psicométricas e finalização do processo de validação no País, o instrumento poderá ser utilizado por pesquisadores brasileiros, possibilitando ser comparado com outras culturas.

Descritores: Telemedicina; Satisfação do paciente; Diabetes mellitus; Telefone

ABSTRACT

OBJECTIVES: To translate, culturally adapt for Brazil the Automated Telephone Disease Management (ATDM) Satisfaction Scales and evaluate the reliability of the adapted version in Brazilian adults with diabetes mellitus (DM).

METHODS: A methodological study whose cultural adaptation process included: translation, expert committee, back translation, semantic analysis and pretesting. This study included a sample of 39 Brazilian adults with DM enrolled in an educational program in São Paulo.

RESULTS: The adapted version of the instrument showed good acceptance with easy comprehension of the items by the participants, with reliability ranging between 0.30 and 0.43.

CONCLUSION: After analyzing the psychometric properties and finalizing the validation process in the country, the instrument can be used by Brazilian researchers, making it possible to compare with other cultures.

Keywords: Telemedicine; Patient satisfaction; Diabetes mellitus; Telephone

RESUMEN

OBJETIVOS: Traducir, adaptar culturalmente para el Brasil el ATDM Satisfaction Scales y evaluar la confiabilidad de la versión adaptada en adultos brasileros con DM.

MÉTODOS: Estudio metodológico, cuyo proceso de adaptación cultural incluyó: traducción, comité de jueces, retrotraducción, análisis semántica y pre-test.Este estudio incluyó una muestra de 39 adultos brasileros con DM registrados en un programa educativo del interior paulista.

RESULTADOS: La versión adaptada del instrumento mostró buena aceptación con fácil comprensión de los items por los participantes, con confiabilidad variando entre 0,30 y 0,43.

CONCLUSIÓN: Después del análisis de las propiedades psicométricas y finalización del proceso de validación en el País, el instrumento podrá ser utilizado por investigadores brasileros, posibilitando su comparación con otras culturas.

Descriptores: Telemedicina; Satisfacción del paciente; Diabetes mellitus; Teléfono

INTRODUÇÃO

A importância das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no perfil atual de saúde das populações é extremamente relevante. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que as DCNT já são responsáveis por 58,5% de todas as mortes e por 45,9% da carga total global de doenças expressa por anos perdidos de vida saudável(1). Dentre essas, o Diabetes mellitus (DM) configura-se hoje como uma epidemia mundial, traduzindo-se em grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo(2)

Pesquisas realizadas pelo Diabetes Control and Complications Trial – DCCT (1993) e United Kingdon Prospective Diabetes Study Group – UKPDS (1998), mostraram que tanto para o Diabetes mellitus tipo 1 (DM1) como para o Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) o controle metabólico com tratamento intensivo dentro de determinados limites é capaz de diminuir significativamente o desenvolvimento das complicações(3,4).

Para atender à complexidade desse tratamento, torna-se necessário o emprego de tecnologias inovadoras em DM, visto que estas proporcionam melhora nos resultados clínicos. Nesse sentido, o uso do telefone surgiu como uma importante estratégia na comunicação em saúde prevendo-se um aumento da aplicação dessa tecnologia nos próximos anos(5). A telenfermagem é uma estratégia da ação em saúde, muito diferente da enfermagem assistencial, representando um salto perante o tradicional cuidado de enfermagem(6,7).

Em 2006, o Ministério da Saúde lançou um manual com recomendações específicas para o cuidado integral da pessoa com DM e também para os vários profissionais da equipe de saúde, recomendando as seguintes condutas: providência do contato telefônico entre as consultas agendadas e planejamento de serviços de pronto-atendimento da descompensação aguda da glicemia via contato telefônico(8).

A literatura internacional aponta um crescente esforço na inserção de novas tecnologias que visem ao cuidado da pessoa com DM(9). Os estudos com a participação da comunidade no planejamento e avaliação da assistência são relevantes, pois possibilitam o feedback das intervenções realizadas pela equipe de saúde, proporcionando melhoria dos serviços de saúde(10).Portanto, também se faz necessário avaliar o trabalho desenvolvido com novas tecnologias na perspectiva da própria pessoa com DM.

Assim, a estratégia do uso do telefone na assistência a pessoas com DCNT parece ser uma possibilidade de avançar e acompanhar ao longo do tratamento, garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado. Dessa maneira, há necessidade de disponibilizar instrumentos que possibilitem a avaliação da assistência dos serviços de saúde por telefone, como intervenções ou programas educativos para pessoas com Diabetes mellitus.

Neste sentido, depois da revisão da literatura em bases de dados nacionais e internacionais, foi evidenciado que, dentre os instrumentos para avaliação do uso de telefone no cuidado em saúde para condições crônicas, cujo objetivo é mensurar especificamente a satisfação de pessoas com DM, após serem submetidas à intervenção ou programas educativos por telefone é o Automated Telephone Disease Management (ATDM) Satisfaction Scales.

O instrumento ATDM Satisfaction Scales, originalmente desenvolvido na língua inglesa por Dr. John Piette, constitui-se de 11 itens que abrangem três domínios: Facilidade de completar a chamada (4 itens), Utilidade percebida da chamada (3 itens) e Intromissão da chamada (4 itens). Para cada item desse instrumento, são oferecidas cinco alternativas de resposta, com escore(s) sobre variação de 1 a 5 pontos. A graduação dos itens do instrumento ocorre por escala de variação do tipo Likert: Always (1); Mostly (2); Sometimes (3); Rarely (4); Never (5)(11).

Considerando a inexistência de instrumentos com a finalidade de avaliar essa dimensão de cuidado na cultura brasileira, o presente estudo teve por objetivo traduzir e adaptar culturalmente para o Brasil o ATDM Satisfaction Scales e apresentar resultados preliminares sobre a confiabilidade da versão adaptada em pessoas brasileiras com DM, apesar do número reduzido da amostra por conveniência representada pelo estudo.

MÉTODOS

Este estudo caracteriza-se como uma investigação metodológica que engloba a busca de novos significados, interpretações de fenômenos e desenvolvimento de instrumentos para coleta de dados(12) e compreende a adaptação cultural e a confiabilidade de um instrumento que avalia a satisfação de brasileiros com DM, após intervenção ou programas educativos pelo telefone.

Embora pesquisas hipotéticas e reais em investigações metodológicas tenham demonstrado que uma amostra mínima de 50 sujeitos é suficiente para representar e analisar adequadamente as propriedades psicométricas iniciais de um instrumento a ser testado em outro país(13), a amostra deste estudo constituiu-se de 39 adultos brasileiros, de ambos os sexos, na faixa etária entre 36 e 79 anos, sendo 97,7% com DM2 e 2,3% com DM1, cadastradas durante o período de 2010-2011 no Programa de Educação em Diabetes do Centro Educativo de Enfermagem para Adultos e Idosos, localizado no Campus Universitário da Universidade de São Paulo, no município de Ribeirão Preto-SP, e vinculado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP), selecionados, mediante os seguintes critérios de inclusão: frequência maior ou igual a 75% de participação nos grupos educativos do Programa de Educação em Diabetes, idade maior que 18 anos e concordantes em participar do estudo. A amostra foi por conveniência, pois os participantes foram convidados a participar do estudo por telefone e conforme a ordem em que estavam cadastrados no Programa de Educação em Diabetes do local do estudo. Apesar de não probabilística, houve cuidado para manutenção da homogeneidade entre sexos e faixa etária. Amostras desse tipo podem ser consideradas representativas da população assistida no serviço considerado(14).

Em relação aos aspectos éticos, a presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos da EERP, conforme Protocolo de Pesquisa nº 1.175/2010, com aprovação em 20 de agosto de 2010, e os dados foram coletados durante o período de março e maio de 2011. Em todas as entrevistas por contato telefônico, foi lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e solicitado o consentimento verbal dos participantes, assegurando-lhes a privacidade e a condição de estrita confidencialidade de seus nomes.

Para a coleta de dados, procedeu-se da seguinte maneira: inicialmente, as pessoas foram convidadas a participarem do estudo por contato telefônico e esclarecidas sobre os objetivos e os propósitos da pesquisa por meio da leitura do TCLE. Após o consentimento verbal da pessoa para participar do estudo, a entrevista foi iniciada, com a finalidade de compor a amostra.

Sendo assim, a entrevista dirigida foi realizada por contato telefônico, no qual foi utilizado o instrumento ATDM Satisfaction Scales traduzido para o português do Brasil e adaptado para à cultura do País. Cada entrevista apresentou um tempo médio de 10 minutos, e os dados foram gravados no programa PActel que registra as conversas realizadas no telefone. Após as ligações, as respostas foram transpostas manualmente no instrumento e digitadas no banco de dados com validação e dupla alimentação, elaborado no Excel da suíte da Microsoft Office 2010.

Na sequência, foram consultados nos prontuários dos 39 participantes da amostra do estudo os seguintes dados sociodemográficos: idade em anos completos e a data de nascimento, gênero, estado civil, ocupação profissional, nível de escolaridade e renda familiar.

Em seguida, o processo de adaptação cultural adotado para o instrumento ATDM Satisfaction Scales foi realizado, conforme as etapas seguintes: Tradução do instrumento para a língua portuguesa do Brasil; Obtenção do primeiro consenso na versão em português das traduções; Avaliação pelo comitê de juízes; Retrotradução (back-translation); Obtenção do consenso das versões em inglês e comparação com a versão original; Análise semântica dos itens e Pré-teste(15).

A tradução do instrumento ATDM Satisfaction Scales em sua Versão Original (ATDM-VO) da língua inglesa para a língua portuguesa do Brasil foi realizada de forma individual, por duas pessoas bilíngues e com conhecimento sobre a temática abordada. As duas versões foram analisadas pelos pesquisadores envolvidos neste estudo, originando a Versão Português Consensual 1 (ATDM-VPC1).

Assim, a avaliação foi realizada por um Comitê de Juízes composto por pesquisadores, profissionais da saúde, professores com experiências na temática do cuidado em Diabetes mellitus e comunicação em enfermagem, profissionais de idiomas e tradutores, com a finalidade de avaliar as equivalências cultural, conceitual, semântica e idiomática entre a ATDM-VPC1 e a ATDM-VO do instrumento. As possíveis modificações das equivalências supracitadas foram acatadas, quando obtiveram um consenso de, no mínimo, 85% de aprovação em consenso do total do número de membros do Comitê de Juízes, originando a Versão Português Consensual 2 (ATDM-VPC2).

A ATDM-VPC2 foi então submetida individualmente a dois tradutores nascidos nos Estados Unidos da América do Norte, residentes no Brasil e que desconheciam os objetivos do estudo, para a realização da retrotradução. Em seguida, as duas versões retrotraduzidas foram analisadas em reunião entre os dois tradutores e os pesquisadores envolvidos no estudo e determinou-se a Versão Inglês Final do instrumento ATDM Satisfaction Scales (ATDM-VIF), que foi comparada com a ATDM-VO e submetida à avaliação do autor principal do instrumento, Dr. John Piette. A comparação entre as versões ATDM-VO e ATDM-VIF não resultou em nenhuma modificação na Versão Português Consensual 2 (ATDM-VPC2).

Para a análise semântica dos itens do instrumento, foi aplicada a ATDM-VPC2 em cinco pessoas com DM cadastradas no Programa de Educação em Diabetes da EERP-USP. Em seguida, as cinco pessoas selecionadas foram convidadas a participar dessa etapa, visando à compreensão adequada da redação dos 11 itens e da escala das respostas para a população a qual o instrumento se destina na análise das possíveis mudanças, acréscimos e sugestões dos participantes, nenhuma alteração foi sugerida.

Desta forma, utilizou-se a ATDM-VPC2 no pré-teste em cinco pessoas com DM cadastradas no Programa de Educação em Diabetes do local do estudo. Não houve necessidade de modificações no preenchimento e compreensão do instrumento. Dessa forma, o processo de adaptação cultural do instrumento ATDM Satisfaction Scales para o Brasil foi considerado finalizado, mantendo-se a ATDM-VPC2 como a Versão Português Final (ATDM-VPF).

Finalmente, após a conclusão do processo de adaptação cultural e da coleta dos dados, verificou-se a confiabilidade da ATDM-VPF pela consistência interna dos itens, calculada pelo alfa de Cronbach. Este é o indicador com mais frequência utilizado na análise da consistência interna de instrumentos, pois reflete o grau de covariância dos itens entre si(16). O nível de significância adotado foi de 5% (α = 0.05).

RESULTADOS

O instrumento ATDM Satisfaction Scales foi traduzido e adaptado para o português do Brasil, para ser empregado na etapa de análise semântica, conforme descrito nos métodos. Após a etapa de retrotradução, a versão ATDM-VIF foi comparada com a versão original ATDM-VO pelo autor principal, Dr. John Piette, que deu seu parecer favorável e esteve concluída a versão final em português, para o Brasil. O processo de adaptação cultural teve a duração de 3 meses.

Como mencionado, na análise semântica participaram cinco pessoas com DM. Na análise das possíveis mudanças, acréscimos e sugestões dos participantes, nenhuma alteração foi sugerida ao instrumento ATDM-VPC2. Da mesma forma, o instrumento ATDM-VPC2 foi também aplicado em cinco pessoas com DM, não havendo necessidade de modificações no preenchimento e compreensão do instrumento, mediante sua aplicação por meio do pré-teste.

O título do instrumento Automated Telephone Disease Management (ATDM) Satisfaction Scales foi então denominado Escala de Satisfação para Manejo da Doença Automatizado por Telefone (MDAT).

Conforme exposto anteriormente, para a análise de confiabilidade participaram 39 adultos brasileiros, não havendo recusas. Verificou-se que a média de idade foi de 60 anos, a maioria era do sexo feminino (67,4%), casados (65,2%), aposentados (51,2%), frequentou a escola até a educação infantil (60,5%), com uma média de 7 anos de estudo. Em relação à renda familiar, 44,1% declararam renda de três a quatro salários mínimos.

Com relação aos itens da Escala de Satisfação para MDAT, no primeiro item, 94,9% responderam que as palavras usadas nas ligações foram sempre fáceis de entender. Quanto à questão referente ao volume do som da voz nas ligações, 36 (92,3%) responderam que o som era sempre suficiente para ouvir sem dificuldade. Quando perguntado se as informações eram passadas rápido demais, mais da metade, 53,8 %, responderam que nunca. 28 (71,8%) afirmaram nunca terem dificuldade de responder às perguntas utilizando um telefone.

A maioria (64,1%) afirmou que sempre as ligações fizeram com que sentissem segurança de que a enfermeira sabia como ele estava e 51,3% disseram que sempre aprendiam algo novo durante as ligações. 69,2% afirmaram que sempre as ligações lembraram-lhes de fazer algo, como verificar sua glicemia ou comer alimentos saudáveis.

A grande maioria (94,9%) respondeu que sempre achou as ligações interessantes; 92,3% que sempre gostavam de receber as ligações e 87,2% que as ligações nunca eram um incômodo. No último item, 84,6% afirmaram que sempre a duração das ligações era adequada.

A análise de confiabilidade pela consistência interna dos itens da versão adaptada foi calculada pelo coeficiente alfa de Cronbach, resultando de α = 0,39 para a escala total, variando entre valores de 0,30 e 0,43 para os 11 itens do instrumento.

DISCUSSÃO

O sistema de saúde brasileiro precisa ser fortalecido para oferecer assistência às pessoas com DCNT mediante modelos de atenção a condições crônicas com base em experiências locais; expansão e qualificação da Estratégia Saúde da Família; acesso ampliado a medicamentos custo-efetivos; maior comunicação entre a atenção básica e outros níveis de cuidado; integração entre ações programáticas para doenças crônicas, dentre outros(23).

Neste contexto, juntamente com a modernização e a inserção de novas tecnologias na área da saúde, se faz necessário avaliar o uso dessas novas tecnologias, a fim de que as ações em saúde sejam cada vez mais eficazes, eficientes e de fácil acesso a toda a população. Assim, para conhecer e avaliar a assistência prestada às pessoas com diabetes Mellitus, se faz necessário o uso de novas tecnologias, sendo o telefone uma opção muito vantajosa.

A avaliação da tecnologia em saúde necessita ser expandida para fornecer uma base sólida para a seleção apropriada de novos programas e ações em saúde pública e de novos medicamentos, dispositivos e testes diagnósticos(23). A avaliação consiste em fazer um juízo de valor a respeito de uma intervenção, com o objetivo de auxiliar na tomada de decisão(24).

Desta maneira, a introdução de metodologias como a avaliação da satisfação de pessoas com DM após serem submetidas a programas educativos realizados pelo telefone no sistema de saúde permite obter um conhecimento abrangente da necessidade da pessoa, onde a carência de instrumentos de mensuração na área são aspectos a serem considerados em pesquisas que avaliam o efeito de novas modalidades de tratamento e que impacto elas podem trazem para o cuidado em saúde, além dos dados objetivos esperados.

A média de idade foi de 60 anos. A maioria dos participantes era do sexo feminino e com baixa escolaridade. Esses achados estão em conformidade com o perfil da amostra de estudos que compararam a efetividade de estratégias educativas em um Programa de Educação em Diabetes(17,18). A predominância do sexo feminino é indicativa de que as mulheres apresentam maior comportamento de busca para o autocuidado e são mais assíduas aos programas educativos do que os homens(19). O nível de educação formal é uma característica importante a ser levada em consideração na proposição de programas educativos, visto que a baixa escolaridade poderá dificultar o acesso às informações e prejudicar a adesão ao tratamento(20). Quanto à ocupação profissional e a predominância de pessoas aposentadas, estudo mostrou que apenas 25% dos idosos eram economicamente ativos. As pessoas que trabalhavam mostraram maior disposição física e mental, nível de escolaridade e de renda familiar mais elevado, bem como menor prevalência de doenças crônicas(21). O baixo nível socioeconômico encontrado deve ser levado em consideração, uma vez que a pessoa que se mantém ativa do ponto de vista ocupacional poderá obter maior satisfação pessoal, oportunidade de interação social e benefícios à saúde física e mental(22).

Após a finalização das etapas do processo de adaptação cultural, as pessoas com DM responderam a Escala de Satisfação para MDAT de maneira fácil e rápida, em que se verificou que não houve dificuldade tanto para a compreensão das questões como para a adequação das categorias de respostas, as quais foram utilizadas facilmente.

Para a análise da consistência interna dos itens da versão adaptada, foi calculado o coeficiente alfa de Cronbach, com valores de α = 0,39 para a escala total, variando entre 0,30 e 0,43 para os itens. No entanto, 0,70 é considerado um valor mínimo ideal, podendo-se aceitar 0,60 para pesquisas exploratórias(25). Justificam-se os valores baixos encontrados para as medidas dos itens deste estudo como uma limitação do tamanho amostral. Esclarece-se que se trata de uma fase inicial do processo de validação do instrumento, tendo sido considerado o número da amostra pequeno para a quantidade de itens do instrumento adaptado. É importante destacar que a amostra do estudo será aumentada para a avaliação das propriedades psicométricas do instrumento brasileiro adaptado.

É importante considerar que em um país de grande extensão, como o Brasil, diferentes contextos culturais podem ser identificados e isto pode ter implicações no processo de adaptação e validação de instrumentos de mensuração de construtos tão específicos, como é o caso da satisfação de pessoas após serem submetidas a programas educativos por telefone. Desta forma, adultos brasileiros com DM podem estar se desenvolvendo em contextos culturais e sociais diversos dentro de uma mesma nação. A baixa escolaridade encontrada na amostra do presente estudo somada ao contexto social e cultural de pessoas com condições crônicas como uma importante fonte de aquisição e modificação de saberes(26) são motivos que podem estar ser influenciados por diferentes culturas, hábitos de vida e educação.

CONCLUSÃO

O instrumento ATDM Satisfaction Scales, originalmente na língua inglesa, foi traduzido e adaptado culturalmente para o português do Brasil, seguindo todas as etapas sequenciais referidas na metodologia.

Dessa forma, observou-se que as equivalências idiomática, semântica, cultural e conceitual do instrumento original foram mantidas, e a Escala de Satisfação para Manejo da Doença Automatizado por Telefone, traduzida e adaptada para o contexto brasileiro, manteve os conceitos e a avaliação das dimensões do instrumento original, sendo inclusive ratificado pelo autor principal.

Com relação aos resultados apresentados pela análise da consistência interna, verificou-se que o instrumento adaptado apresentou baixos índices, visto que se trata de uma fase inicial do estudo com tamanho amostral reduzido. Contudo, a amostra será futuramente ampliada no mesmo ambiente social do local do estudo, a fim de possibilitar uma confiabilidade viável do instrumento e análises estatísticas complementares.

Espera-se que, após a replicação deste estudo em tamanho amostral maior e a análise de suas propriedades psicométricas da Escala de Satisfação para MDAT no Brasil, este instrumento possa então ser utilizado por pesquisadores brasileiros e seus resultados sejam comparados com o de outras culturas, bem como incorporados como instrumento complementar no cuidado diário de profissionais de saúde para monitorar o estado de saúde ao longo do tempo e, assim, conhecer o impacto de suas intervenções na condição e evolução de pessoas adultas brasileiras com DM.

Diante do exposto, reitera-se a importância para o desenvolvimento de estudos dessa natureza que possam contribuir para a compreensão dos fatores envolvidos com a satisfação de pessoas com DM após participarem de programas educativos realizados por telefone, no contexto relevante do cuidado gerenciado, assegurando, assim, a continuidade das ações de saúde e contribuindo, dessa forma, para a prática clínica e educacional da enfermagem.

Artigo recebido em 08/11/2011 e aprovado em 08/04/2012

  • 1
    World Health Organization. World Health Report 2002. Reducing risks, promoting healthy life. Geneva: WHO; 2002.
  • 2. International Diabetes Federation. Complicações do diabetes e educação. Diabetes Clín. 2004; 6(3):217-20.
  • 3. The effect of intensive treatment of diabetes on the development and progression of the long-term complications in insulin-dependent diabetes Mellitus. The Diabetes Control and Complications Trial Research Group. N Engl J Med. 1993; 329(14):977-86.
  • 4. Intensive blood-glucose control with sulphonylureas or insulin compared with conventional treatment and risk of complications in patients with type 2 diabetes (UKPDS 33). UK Prospective Diabetes Study (UKPDS) Group. Lancet. 1998; 352(9131):837-53.
  • 5. Blake H. Innovation in practice: mobile phone technology in patient care. Br J Community Nurs. 2008; 13(4):160, 162-5.
  • 6. Peck A. Changing the face of standard nursing practice through telehealth and Telenursing. Nurs Adm Q. 2005; 29(4):339-43.
  • 7. Snooks HA, Williams AM, Griffiths LJ, Peconi J, Rance J, Snelgrove S, et al. Real nursing? The development of telenursing. J Adv Nurs. 2008; 61(6):631-40.
  • 8
    Brasil. Ministério da Saúde. VIGITEL Brasil 2006. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sócio-demográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2006. Brasília: Ministério da Saúde; 2007.
  • 9. Kim HS, Oh JA. Adherence to diabetes control recommendations: impact of nurse telephone calls. J Adv Nurs. 2003; 44(3):25661.
  • 10. Zanetti ML, Otero LM, Biaggi MV, dos Santos MA, Péres DS, Guimarães FP. Satisfaction of diabetes patients under follow-up in a diabetes education program. Rev Latinoam Enferm. 2007; 15(4):583-9.
  • 11. Piette JD. Satisfaction with automated telephone disease management calls and its relationship to their use. Diabetes Educ. 2000; 26(6):1003-10.
  • 12. Kerlinger FN. Metodologia da pesquisa em ciências sociais. São Paulo: EPU; 1979.
  • 13. Sapnas KG, Zeller RA. Minimizing sample size when using exploratory factor analysis for measurement. J Nurs Meas. 2002; 10(2);135-54.
  • 14. Belle GV, Fisher LD, Heagerty PJ, Lumley T. Biostatistics: a methodology for the health sciences. 2nd ed. New Jersey: John Wiley & Sons; 2004.
  • 15. Ferrer M, Alonso J, Prieto L, Plaza V, Monsó E, Marrades R, et al. Validity and reliability of the St George's Respiratory Questionnaire after adaptation to a different language and culture: the Spanish example. Eur Respir J. 1996;9(6):1160-6.
  • 16. Cummings SR, Stuart A, Hulley SB. Elaboração de questionários e instrumentos de coleta de dados. In: Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady D, Hearst N, Newman TB. Delineando a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 265-81.
  • 17. Torres HC, Franco LJ, Stradioto MA, Hortale VA, Schall VT. Evaluation of a diabetes education program. Rev Saude Publica. 2009; 43(2):2918.
  • 18. Zanetti ML, Otero LM, Peres DS, dos Santos MA, Guimarães FP, Freitas MC. Progress of the patients with diabetes mellitus who were managed with the staged diabetes management framework. Acta Paul Enferm. 2007; 20(3):338-44.
  • 19. Péres DS, Franco LJ, dos Santos MA. Feelings of women after the diagnosis of type 2 diabetes. Rev Latinoam Enferm. 2008; 16(1):1018.
  • 20. Delamater AM. Improving patient adherence. Clin Diabetes. 2006; 24(2):717.
  • 21. Giatti L, Barreto SM. [Health, work and aging in Brazil]. Cad Saude Publica. 2003; 19(3): 75971. Portuguese
  • 22. Kinder LS, Kamarck TW, Baum A, Orchard TJ. Depressive symptomatology and coronary heart disease in Type 1 diabetes mellitus: a study of possible mechanisms. Health Psychol. 2002; 21(6):54252.
  • 23. Schmidt MI, Ducan BB, Azevedo e Silva G, Menezes AM, Monteiro CA, Barreto SM, Chor D, Menezes PR. Chronic non-communicable diseases in Brazil: burden and current challenges. Lancet. 2011; 377(9781):1949-61.
  • 24. Contadriopoulos AP, Champagne F, Denis JL, Pineault R. A avaliação na área da saúde: conceitos e métodos. In: Hartz ZM, organizador. Avaliação em saúde: dos modelos conceituais à prática na análise de implantação de programas. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1997. p. 29-48.
  • 25. Pestana MH, Gageiro JG. Análise de dados para ciências sociais: a complementaridade do SPSS. 3a ed. Lisboa: Silabo; 2003.
  • 26. Duarte S. Saber de saúde e de doença: porque vão as pessoas ao médico. Coimbra: Quarteto editores; 2002.
  • Autor Correspondente:

    Camila Aparecida Pinheiro Landim
    Rua São Salvador, 328, apto 37, Sumarezinho
    Ribeirão Preto (SP), Brasil – CEP 14055-260
    E-mail:
  • *
    Trabalho de conclusão do curso de Graduação em Bacharelado em Enfermagem, apresentado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil, 2011. Suporte Financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP – Iniciação Científica – IC – processo nº 2010/07522-4.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Out 2012
    • Data do Fascículo
      2012

    Histórico

    • Recebido
      08 Nov 2011
    • Aceito
      08 Abr 2012
    Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: actapaulista@unifesp.br