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Validação de um álbum seriado para promoção da autoeficácia em amamentar

Resumos

OBJETIVO: Validar o conteúdo e a aparência do álbum seriado "Eu posso amamentar meu filho", junto às puérperas internadas no alojamento conjunto. MÉTODOS: Estudo de validação das figuras do álbum seriado quanto à aparência (clareza/compreensão) e conteúdo (relevância), realizado com 21 puérperas. Foi utilizado um instrumento que incluiu um questionário dissertativo, avaliação de conteúdo, aparência e motivação e das características sociodemográficas das mulheres. RESULTADOS: Todas as ilustrações foram consideradas claras e compreensíveis, no entanto, a Figura 6 apresentou 85,7% de relevância e as demais se mantiveram entre 90% e 100%. O índice de validade de conteúdo global para o álbum seriado foi de 0,92 para todas as figuras. CONCLUSÃO: O álbum encontra-se apto para ser utilizado em outras pesquisas e na prática diária com mulheres, seja na comunidade ou no âmbito hospitalar, como é o caso do alojamento conjunto.

Aleitamento materno; Autoeficácia; Enfermagem materno-infantil; Prática avançada de enfermagem; Estudos de validação


OBJECTIVE: To validate the content and appearance of a flipchart titled "I can breastfeed my child" among puerperal women admitted to a rooming-in obstetrics ward. METHODS: Validation study of the appearance (clarity/comprehension) and content (relevance) of the flipchart pictures among 21 puerperal women. The pictures were used as part of an instrument that includes a discursive questionnaire that was used to evaluate the content and appearance of the flipchart and the motivation and sociodemographic characteristics of the women. RESULTS: All illustrations were considered clear and comprehensive. However, picture 6 had an 85.7% relevance compared with 90% to 100% for the other pictures. The index of global content validity for the pictures in the flipchart was 0.92. CONCLUSION: The flipchart appears to usable in other studies and in daily practice in the community or a hospital environment, such as a rooming-in ward.

Breastfeeding; Self-efficacy; Maternal-child nursing; Advanced practice nursing; Validation studies


ARTIGO ORIGINAL

Validação de um álbum seriado para promoção da autoeficácia em amamentar

Andressa Peripolli Rodrigues; Ludmila Alves do Nascimento; Regina Cláudia Melo Dodt; Mônica Oliveira Batista Oriá; Lorena Barbosa Ximenes

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil

Autor correspondente Autor correspondente: Andressa Peripolli Rodrigues Av. da Universidade, 2853, Fortaleza, CE, Brasil. CEP: 60020-181 andressaufsm@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVO: Validar o conteúdo e a aparência do álbum seriado "Eu posso amamentar meu filho", junto às puérperas internadas no alojamento conjunto.

MÉTODOS: Estudo de validação das figuras do álbum seriado quanto à aparência (clareza/compreensão) e conteúdo (relevância), realizado com 21 puérperas. Foi utilizado um instrumento que incluiu um questionário dissertativo, avaliação de conteúdo, aparência e motivação e das características sociodemográficas das mulheres.

RESULTADOS: Todas as ilustrações foram consideradas claras e compreensíveis, no entanto, a Figura 6 apresentou 85,7% de relevância e as demais se mantiveram entre 90% e 100%. O índice de validade de conteúdo global para o álbum seriado foi de 0,92 para todas as figuras.

CONCLUSÃO: O álbum encontra-se apto para ser utilizado em outras pesquisas e na prática diária com mulheres, seja na comunidade ou no âmbito hospitalar, como é o caso do alojamento conjunto.

Descritores: Aleitamento materno; Autoeficácia; Enfermagem materno-infantil; Prática avançada de enfermagem; Estudos de validação

Introdução

A Promoção à Saúde é considerada um dos principais modelos teórico-conceituais que subsidiam políticas de saúde em todo o mundo, reforçando a importância da atuação nos determinantes e causas da saúde, da participação social e da necessidade de elaboração de alternativas às práticas educativas.(1) Em vista disso, estratégias educativas a partir de folhetos, cartões-postais, livretos, recursos audiovisuais, orientações, softwares, escalas, entre outros, têm sido utilizados por enfermeiros para a promoção do aleitamento materno.(2)

Entretanto, a construção de tais intervenções não é suficiente, sendo necessária a avaliação dessas estratégias, sobretudo das que abordam a autoeficácia no contexto da amamentação.(3)

A autoeficácia é destacada como um dos conceitos e princípios fundamentais para a promoção da saúde, sendo relevante para o enfrentamento dos desafios contemporâneos na promoção da saúde. No documento da Organização Mundial da Saúde,(4) as crenças de autoeficácia podem ser utilizadas para determinar como as pessoas sentem, pensam, são motivadas e comportam-se diante de determinada situação, demonstrando quanto esforço e tempo os indivíduos vão utilizar no sentido de persistir para transpor um obstáculo ou uma experiência negativa.

Reconhecendo, então, a importância do material educativo com enfoque na autoeficácia da mulher em amamentar seu filho, foi construído o álbum seriado "Eu posso amamentar meu filho". Esse material foi validado quanto a aparência e conteúdo, por meio da apreciação de um Comitê composto por juízes da área da enfermagem que evidenciaram a pertinência e a validade do material, caracterizando-o como um instrumento apto para uso na prática clínica.(5)

Sabe-se que para conferir maior credibilidade aos materiais educativos que se pretende implementar nos diversos campos de atuação da enfermagem, é oportuno utilizar um processo de avaliação desses para melhorar sua qualidade.(6) Para tanto, alguns autores reforçam que todo material educativo não deve somente ser validado por juízes, mas também por meio de painéis compostos por pessoas leigas,(7) sendo que esse modelo foi utilizado por diversos estudos em validação de materiais educativos e instrumentos.(8)

A validação é um processo que visa coletar e avaliar as evidências da validade de um instrumento, estando sob responsabilidade do sujeito confirmar ou não a validade do instrumento.(9) Considera-se que o álbum seriado apresenta ilustrações que refletem o realismo e a compreensão, além de reforçar ou explicar a informação passada.(10) Deste modo, o álbum "Eu posso amamentar meu filho" é um tipo de material educativo que possibilita a visualização de figuras. Ademais, este material ofereceu as mulheres a oportunidade de verbalizarem suas dúvidas e incertezas, também como discuti-las durante a intervenção.(11) Neste estudo optou-se proceder a validação com pessoas leigas.

Este processo possibilita o julgamento do álbum quanto a sua relevância em relação ao seu conteúdo e aparência.(12) Dessa forma, o objetivo deste estudo foi validar o conteúdo e a aparência do álbum seriado "Eu posso amamentar meu filho", junto às puérperas internadas no alojamento conjunto.

Métodos

Estudo de validação do álbum seriado "Eu posso amamentar meu filho", baseado na autoeficácia em amamentação, adotado como recurso tecnológico educativo e aplicado a puérperas internadas no alojamento conjunto.

A validação foi composta pela validade de conteúdo e aparência. A validade de conteúdo refere-se ao grau de relevância que as figuras apresentam e as diretrizes fornecidas por meio das fichas-roteiro, levando em consideração a adequação da cobertura da área de conteúdo medida. Para a validação da aparência, o recurso educativo foi julgado quanto à clareza das figuras, compreensão e forma de apresentação do instrumento, o que evidenciou a percepção que os indivíduos possuem em relação ao que está sendo medido.(5,12)

O estudo incluiu 21 puérperas internadas no alojamento conjunto de uma Maternidade Escola, sendo que este número atende ao recomendado por outros autores que sugerem de seis a 20 participantes.(13) O número ímpar de mulheres foi induzido pois estudo demonstra a importância desta condição para evitar questionamentos dúbios.(14)

A amostra foi por conveniência, atendendo os seguintes critérios de inclusão: mulheres no período puerperal imediato (1º ao 10º dia após o parto) a partir de 12 anos de idade, considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente devido ao aumento da gravidez na adolescência;(15) puérperas internadas por no mínimo 6 horas após o parto no alojamento conjunto e acompanhadas de recém-nascido - RN com boa vitalidade, capacidade de sucção efetiva e controle térmico. Foram removidas do estudo mulheres com intercorrências clínicas ou obstétricas no período puerperal, com patologias que impossibilitavam ou contraindicavam a amamentação, além das puérperas internadas no alojamento conjunto com filhos admitidos na Unidade de Terapia Intensiva de alto e médio risco.

A coleta de dados ocorreu em junho de 2013 por meio de fonte primária (entrevista com as puérperas). À beira do leito foi realizado convite às mulheres para participarem do estudo. As que concordaram em participar, receberam orientações sobre a finalidade do estudo. Todas puérperas assinaram em duas vias o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

O primeiro momento da coleta de dados consistiu-se na aplicação do álbum seriado por uma única pesquisadora de modo individual com tempo médio de 20 a 30 minutos. No segundo momento da pesquisa foram aplicados instrumentos (entrevistas com duração de 15 a 20 minutos) por outras duas enfermeiras pesquisadoras devidamente treinadas e membras do grupo de pesquisa Enfermagem para Promoção e Educação em Saúde da Família e da Criança.

O instrumento a ser validado foi submetido à avaliação de um painel de pessoas leigas para avaliar clareza, compreensão e a redundância das figuras e das informações prestadas.(12) A validação utilizou um instrumento elaborado e validado por dois especialistas na área de autoeficácia em amamentação, que abrange um questionário dissertativo(7) acerca dos seguintes domínios: compreensão, atratividade, autoeficácia, aceitabilidade cultural e persuasão do material educativo; neste estudo o domínio autoeficácia será discutido com maior profundidade. O instrumento também continha a avaliação de conteúdo, aparência e motivação e caracterização sociodemográfica das mulheres.(5)

O álbum seriado foi construído a partir de uma reflexão dos itens da escala Breastfeeding Self-Efficacy Scale - Short Form (BSES-SF), dos pressupostos da Teoria de Autoeficácia Bandura de 1977 e de referências sobre alojamento conjunto, contendo sete figuras (Fi) e sete fichas roteiro (FR). No processo de validação de dez juízes, o álbum seriado obteve excelentes índices de validade de conteúdo (CVI) de 0,92 para as figuras e 0,97 para as fichas-roteiro. Apresentando ainda 77,1% de clareza e de compreensão quanto às figuras e as fichas roteiros.(5)

Os dados foram organizados e processados pelo Predictive Analytics Software (PASW®) versão 18, e são apresentados em tabelas e gráficos. As respostas do questionário dissertativo foram organizadas com base na síntese das respostas e subsequentemente analisadas de maneira descritiva.

A análise do conteúdo das figuras mostrou que o álbum seriado foi feito utilizando o CVI e calculado com base em três equações matemáticas: o S-CVI/AVE (média do I-CVIs para cada item da escala), S-CVI/UA (Proporção dos itens em uma escala que atinge uma classificação de relevância de 3 ou 4 para todos os especialistas) e o I-CVI (validade de conteúdo dos itens individuais: proporção de especialistas de conteúdo que dão ao item a classificação de relevância de 3 ou 4). O CVI varia de -1 a 1 sendo considerado válido o item que apresenta concordância entre os juízes igual ou maior que 0,80.(16)

No que diz respeito a validade de aparência, o critério de pertinência foi de pelo menos 75% de concordância entre as mulheres. As figuras não atingiram tal porcentagem, portanto considerou-se os comentários e sugestões para a não conformidade, possibilidade de ajuste ou supressão dos aspectos sob avaliação.(17)

O desenvolvimento do estudo atendeu as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados

O álbum seriado foi aplicado a 21 puérperas com média de idade de 24 anos. Dessas, 66,7% possuíam união consensual e 47,6% eram donas de casa. Além disso, 38,1% tinham o segundo grau completo e 61,9% residiam com mais três pessoas. O total de 38,1% das puérperas tinham renda de R$ 678,00 mensais.

Com relação à história obstétrica, a maioria (42,9%) não tinha outros filhos, e das que possuíam (n= 12) 71,4% já haviam amamentado anteriormente e 50,0% delas o fizeram exclusivamente por seis meses. Todas as mulheres quando questionadas se pensavam em amamentar o filho atual responderam afirmativamente e 71,4% pretendiam fazê-lo de forma exclusiva por seis meses.

No que se refere ao parto e puerpério atual, 57,1% das mães foram submetidas a cesariana, sendo que parte delas (71,4%) amamentaram seus filhos nos primeiros 30 minutos após o parto e 42,9% amamentaram no momento em que ainda estavam na sala de parto. Além disso, 42,9% dos RNs necessitaram de incubadora ou internação na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, 95,2% deles não utilizaram chupeta e mamadeira e 61,9% não receberam leite artificial. Em relação ao fornecimento de diretrizes a respeito da amamentação na maternidade, 61,9% referiram não ter recebido nenhuma orientação, e as que receberam (38,1%), obtiveram essas orientações de enfermagem (62,5%).

Diante da opinião das puérperas quanto à complexidade das figuras do álbum seriado, 83,7% consideraram as figuras simples e 94,6% consideraram que as figuras estavam associadas à confiança materna em amamentar o filho. Todas as ilustrações do álbum seriado foram consideradas claras e compreensíveis, com percentual acima de 80% e com média de 89,5% (Figura 1).


Referente à relevância das figuras do álbum seriado, a Fi6 apresentou 85,7% de relevância e as demais se mantiveram entre 90% e 100% (Figura 2).


A tabela 1 revela o CVI de cada figura. Além disso, o CVI global foi 0,92 para as figuras, indicando excelente nível de concordância entre as puérperas.

Quando as mulheres foram indagadas se qualquer participante da atividade com o álbum seriado poderia entender facilmente do que se tratava, 95,2% indicaram que sim e a mesma percentil de mulheres se sentiram motivadas para participar da atividade até o final, fazendo com que todas pensassem a respeito da sua saúde e do seu filho.

A partir da análise descritiva dos domínios do questionário dissertativo,(7) todas as mães apresentaram compreensão do material, como indicado pela atratividade, aceitação cultural. Considerou-se o álbum como estimulador à prática da amamentação.

No que diz respeito ao domínio autoeficácia identificou-se que as mães quando questionadas se poderiam seguir o que as figuras do álbum seriado sugeriam, indicaram que sim (90,5%) e a maioria (80,9%) ressaltou que o álbum continha informações necessárias para se sentirem confiantes em amamentar os seus filhos. O assunto mais importante abordado no álbum, considerado pelas puérperas, foi a pega e posição correta durante a amamentação (47,6%), sendo evidenciado por elas que não era necessário nenhuma outra informação (66,7%) além das que já estavam no álbum (Tabela 2).

Discussão

As participantes do estudo apresentaram características sociodemográficas e obstétricas que retrata a realidade brasileira, como por exemplo, a baixa média de idade e renda, que implicam em fatores que podem levar a mulher ao desmame precoce de seus filhos.(15) Nesse sentido, é oportuno a utilização de materiais educativos acessíveis e que possibilitem o aumento da autoeficácia materna em amamentar seu filho, como é o caso do álbum seriado "Eu posso amamentar meu filho".

A maioria das participantes consideraram as figuras do álbum claras, compreensíveis e relevantes. Além disso, das puérperas se sentiram motivadas para participar da atividade até o final, apresentando bons índices relacionados aos domínios do questionário dissertativo. Esses fatores indicam que o álbum seriado é um material educativo válido e que pode ser aplicado a qualquer realidade,(7,12) uma vez que permite ao profissional promover a amamentação e a autoeficácia materna.

De acordo com a validação realizada pelas puérperas internadas no alojamento conjunto, o álbum seriado foi considerado um material educativo que apresenta conteúdo e aparência pertinentes e válidos no que diz respeito a autoeficácia na amamentação, fatores que foram evidenciados pelos excelentes CVI individuais e global das figuras. Sendo assim, obteve-se um CVI global de 0,92, indicando que a intervenção educativa por meio da utilização do álbum promoveu confiança para as mulheres seguirem o que as figuras sugerem, tendo a pega e a posição correta como os assuntos mais importantes para as puérperas.

Nesse sentido, a autoeficácia é determinada individualmente por quatro fatores. Esses fatores influenciam os domínios da BSES-SF (intrapessoal e técnico) que são denominadas como experiências pessoais, experiências vicárias, persuasão verbal, fatores psicológicos e afetivos.(18) Portanto, considerando que o álbum seriado foi construído a partir da BSES-SF, ressalta-se que o formulário não apenas conseguiu destacar a autoeficácia em amamentar, mas também salientou os conteúdos considerados relevantes, principalmente, aqueles relacionados ao domínio técnico e relatados pelas puérperas, tal como a pega e posição corretas, sendo esses aspectos os que mais causam insegurança entre as mulheres.(5)

Para que a sucção eficiente aconteça por meio da pega satisfatória deve-se identificar os seguintes sinais: boca bem aberta, mínima visualização da aréola, lábio inferior do bebê evertido (para fora), queixo da criança encostado ou bem próximo à mama e bochechas arredondadas. É importante ressaltar que a amamentação com posicionamento e sucção adequadas não causa dor à mãe.(19) Associado a isso está o esvaziamento correto da mama, alternação da mama quando esvaziada completamente, evitando alguns processos dolorosos como ingurgitamento e mastite e proporcionando ao RN o recebimento de todos os constituintes do leite.(20)

O domínio intrapessoal tende a elevar-se ao longo do tempo(5) que pode ser evidenciado pelo CVI da Fi6, que foi o menor CVI em comparação com as demais. No entanto, a Fi6 apresentou tendência de elevação, pois o fato da mãe receber apoio de membros familiares, em especial do marido ou companheiro e dos avós, exerce influência positiva na autoeficácia de amamentar. Para que esse apoio se concretize, os familiares devem ser envolvidos na promoção da amamentação ainda no ambiente hospitalar, para que possam apoiar a mãe e contribuir para que ela se sinta capaz de amamentar.(21)

Ao identificar as características do leite materno como uma fonte de energia nutricional e imunológica que devem ser consumidas em quantidades suficientes pelo RN, a mulher torna-se mais confiante para amamentar seu filho e manter essa prática por maior período. Assim, a amamentação fortalece a imunidade, mantém o crescimento e desenvolvimento normais da criança, além de melhorar o processo digestivo no sistema gastrointestinal, promover o vínculo mãe-filho e facilitar o desenvolvimento emocional, cognitivo e do sistema nervoso do lactente.(22)

Em relação a identificação do choro da criança pelas puérperas, considerada uma informação importante abordada no álbum seriado, pode-se afirmar que o choro é uma das formas de comunicação do RN de difícil interpretação, o que pode causar ansiedade e insegurança materna, gerando dúvidas em relação à sua capacidade para cuidar do filho. As crianças choram por muitos motivos além da fome, nesse sentido, é necessário saber como identificar o real motivo do choro, sendo as causas mais comuns cólicas, desconforto (frio, calor, sujidade de fezes e /ou urina), substâncias no leite materno (cafeína, nicotina, leite de vaca e outras), carência por afastamento prolongado, dor ou doença e, por fim, fome.(23)

Mesmo tendo considerado as figuras do álbum claras, compreensivas e relevantes, as puérperas sugeriram acréscimos de informações no material, tais como: alimentação materna, intercorrências com a mama e importância do colostro. Essas informações são relevantes, mas sabe-se que de maneira geral os materiais educativos apresentam um foco,(24) e o álbum seriado em questão vislumbra a amamentação, mas, principalmente, a autoeficácia, portanto essas temáticas não estão relacionadas com a autoeficácia, especialmente no que se refere à nutrição materna. Além disso, evidenciou-se a adequação do álbum com relação ao conteúdo, pois todas elas se sentiram confiantes para amamentar o filho a partir da intervenção com o álbum.

Sabe-se que a alimentação materna durante a prática da amamentação deve ser considerada pelos profissionais de saúde. Um estudo apontou que a maioria das mulheres alteram sua dieta durante a gravidez e amamentação, sendo necessário nesse período que elas sejam aconselhadas a adotar uma dieta adequada, sem restrição de alimentos específicos. As restrições alimentares das puérperas reduzem a diversidade de sabores que o lactente será exposto e podem, posteriormente, diminuir a aceitação de novos alimentos e limitar a variedade de sabores para a criança.(25)

Além disso, a abordagem no álbum seriado sobre transtornos físicos durante a amamentação, como as fissuras, foi solicitada pelas puérperas para se sentissem mais confiantes ao realizar a prática. A dor nas mamas é muito comum logo nos primeiros dias de amamentação, sendo que constitui-se como uma das principais queixas quando a mãe apresenta fissura, o que pode levar ao desmame precoce do filho.(26,27)

As puérperas também sentiram necessidade da abordagem no álbum seriado em relação a importância da amamentação para a saúde do filho. No entanto, ressalta-se que o aleitamento materno é importante também para a saúde materna devendo ser reforçada pelos profissionais da saúde. Preocupar-se com a saúde do filho contribui para o processo de decisão da mulher de iniciar e manter a amamentação, assim, apropriar-se desses conhecimentos facilita a conquista da autonomia para manter a amamentação.(28) Nesse contexto, a promoção da amamentação exclusiva deve ser realizada com todas as mulheres, fazendo com que essa prática ocorra nos primeiros seis meses de vida da criança, pois a mãe ao oferecer somente o leite materno percebe que esse é suficiente para o crescimento e desenvolvimento da criança, aumentando assim sua confiança na amamentação.(29)

De acordo com o processo de validação do estudo pelas puérperas, pode-se perceber que o álbum é válido e aplicável à realidade, entretanto, somente a utilização do álbum não garante que a mulher receba o acompanhamento necessário durante o período gravídico-puerperal. Portanto, o álbum deve ser utilizado como um material de suporte pelos profissionais para acompanhamento hospitalar e em unidades de saúde, visionando um maior período de amamentação.

Dessa forma, destaca-se a necessidade da puérpera retornar à unidade de saúde para realizar o acompanhamento dos cuidados em relação a sua saúde e de seu filho. O retorno de ambos, de 7 a 10 dias após o parto, deve ser incentivado desde o pré-natal, na maternidade e pelos agentes comunitários de saúde na visita domiciliar onde é abordado assuntos de atenção ao RN como amamentação, alimentação complementar, orientação a respeito do crescimento, desenvolvimento e vacinação.(30)

O álbum encontra-se apto para ser utilizado em outras pesquisas, principalmente na prática diária com as mulheres, seja na comunidade ou no âmbito hospitalar; sendo esse último o caso do alojamento conjunto. Este recurso possibilita o apoio à puérpera durante o processo de amamentação, promove a autoeficácia e a amamentação.

Destaca-se que os materiais educativos são ferramentas importantes no cotidiano de trabalho da enfermagem, pois permite a reflexão e a cooperação dos envolvidos no processo de construção do conhecimento. No entanto, o profissional diante do seu papel de educador deve utilizar este tipo de ferramenta de maneira adequada para incentivar a formação de um ser humano autônomo e que busque a transformação de sua realidade.

Conclusão

O conteúdo e aparência do álbum seriado "Eu posso amamentar meu filho" foi validado, o que conferiu maior credibilidade a essa nova ferramenta educativa que pretende promover a autoeficácia materna na amamentação. Sendo assim, este processo de validação indicou a importância de realizar a validação do material educativo também pela consulta de pessoas leigas e não somente por juízes.

Colaborações

Rodrigues AP; Nascimento LA e Ximenes LB contribuíram para a concepção e desenho do estudo, análise e interpretação dos dados, elaboração do artigo, revisão crítica do conteúdo intellectual e aprovação final da versão a ser publicada. Dodt RCM e Oriá MOB contribuíram na redação e revisão crítica do conteúdo intelectual e aprovação final da versão a ser publicada.

Submetido 17 de outubro de 2013

Aceito 11 de novembro de 2013

Conflito de interesse: os autores declaram não haver conflitos de interesse.

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  • Autor correspondente:

    Andressa Peripolli Rodrigues
    Av. da Universidade, 2853, Fortaleza, CE, Brasil. CEP: 60020-181
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Abr 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      17 Out 2013
    • Aceito
      11 Nov 2013
    Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
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