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Prevalência do uso de psicotrópicos e fatores associados na atenção primária à saúde

Resumos

Objetivo

Investigar a prevalência de uso de psicotrópicos e fatores associados na atenção primária à saúde com fatores sociodemográficos, farmacoterapêuticos, histórico de saúde e Transtornos Mentais Comuns.

Método

Estudo transversal que incluiu 430 pacientes de atenção primária à saúde. O instrumento de pesquisa foi o Self-reporting Questionnaire e prontuários. Para análise, utilizou-se teste qui-quadrado na análise univariada e regressão logística na multivariada.

Resultados

A prevalência de uso de psicotrópicos foi de 25,8%. Houve associação entre uso de psicofármacos e transtornos mentais comuns, uso de medicamentos não psicofármacos, número de medicamentos prescritos, número de comprimidos/dia, patologias clínicas, idade e escolaridade. Na análise multivariada os preditores para uso de psicofármacos foram: transtornos mentais comuns, patologias clínicas e escolaridade.

Conclusão

A prevalência de uso de psicofármacos e os fatores associados variaram conforme a análise uni ou multivariada.

Enfermagem de atenção primária; Enfermagem em saúde pública; Transtornos mentais; Psicotrópicos; Prevalência


Objective

Investigating the prevalence in the use of psychotropics and associated factors in primary health care withsocio-demographic and pharmacotherapeutic factors, medical history, and Common Mental Disorders.

Methods

A cross-section study which includes 430 primary health care patients. The research instruments were Self-reporting Questionnaires and medical records. A chi-squared test was used in the univariate analysis, and a logistic regression was used in the multivariate analysis.

Results

The prevalence in the use of psychotropics was 25.8%. There was an association among the use of psychiatric drugs and common mental disorders, use of non-psychiatric drugs, number of medications prescribed,number of pills a day, clinical pathologies, age, and schooling. In the multivariate analysis, the predictors for the use of psychiatric drugs were: common mental disorders, clinical pathologies, and schooling.

Conclusion

The prevalence in the use of psychiatric drugs and the associated factors varied according to the univariate or the multivariate analyses.

Primary care nursing; Public health nursing; Mental disorders; Psychotropic; Prevalence


Introdução

Os psicofármacos estão entre as classes de medicamentos mais prescritas nos Estados Unidos.(1. Mark TL. For what diagnoses are psychotropic medications being prescribed?: a nationally representative survey of physicians. CNS Drugs. 2012;24(4):319-26.) Tal fenômeno parece ser mundial, visto que estudos realizados em outros países demonstram altas taxas de sua utilização.(2. Kapp PA, Klop AC, Jenkins LS. Drug interactions in primary health care in the George subdistrict, South Africa: a cross-sectional study. S Afr Fam Pract. 2013;55(1):78-84.)

Embora seja indiscutível o benefício relacionado à utilização de psicofármacos como modalidade terapêutica, com a grande popularização dos mesmos surgiram questionamentos referentes à real necessidade de sua utilização.(3. Hedenrud TM, Svensson, SA, Wallerstedt SM. “Psychiatry is not a science like others” - a focus group study on psychotropic prescribing in primary care. BMC Fam Pract. 2013;14(1):115.) Nem sempre os psicofármacos são utilizados para transtornos mentais específicos, algumas vezes o próprio prescritor não consegue pontuar ao certo o motivo da utilização de psicofármacos por alguns de seus pacientes.(1. Mark TL. For what diagnoses are psychotropic medications being prescribed?: a nationally representative survey of physicians. CNS Drugs. 2012;24(4):319-26.,4. Quintana MI, Andreoli SB, Moreira FG, Ribeiro WS, Feijó MM, et al. Epidemiology of psychotropic drug use in Rio de Janeiro, Brazil: gaps in mental illness treatments. PLoS One.2013;8(5):e62270.)

Visto que as atuais políticas brasileiras de saúde mental consideram unidades de atenção primária à saúde a principal porta de entrada para os pacientes com queixas psicológicas; e que, tais unidades são responsáveis por atender transtornos mentais considerados menores, os chamados Transtornos Mentais Comuns, verifica-se lacuna na literatura para investigar neste tipo de serviço se as pessoas que utilizam psicofármacos são positivas para Transtornos Mentais Comuns e os fatores relacionados ao consumo de psicofármacos.(5. Barbui C. Cipriani A, Patel V, Ayuso-Mateos JL, van Ommeren M. Efficacy of antidepressants and benzodiazepines in minor depression: systematic review and meta-analysis. Br J Psychiatry. 2011;198(1):11-16. Suppl 1.,6. Motjabai R, Olfosom M. Nacional trends in psychotropic medication polypharmacy in office-based psychiatry. Arch Gen Psychiatry. 2010;67(1):26-36.)

A importância de estudos que contemplem essa temática justifica-se pela possibilidade de os pacientes serem orientados não só quanto à melhor modalidade terapêutica para seu caso, mas também em relação à correta utilização de medicamentos, visto que o uso mal orientado de psicofármacos envolve riscos de agravos que podem ser graves.(7. Lam TP, Goldberg D, Dowell AC, Fortes S, Mbatia JK, Minhas FA, Klinkman MS. Proposed new diagnoses of anxious depression and bodily stress syndrome in ICD-11-PHC: an international focus group study. Fam Prac. 2013;30(1):76-87.)

Este estudo objetivou investigar a prevalência de uso de psicofármacos em unidades de atenção primária à saúde e as possíveis associações entre tal uso e fatores sociodemográficos, farmacoterapêuticos, histórico de saúde e presença de Transtornos Mentais Comuns.

Métodos

Trata-se de estudo quantitativo, epidemiológico, de corte transversal e caráter correlacional-descritivo, realizado em um município do interior de São Paulo, Brasil.

A cidade utilizada como campo de pesquisa é dividida em cinco setores de saúde. Foi selecionada a unidade básica de saúde com maior área de abrangência em número de pessoas de cada setor. Os dados foram coletados em um período de nove meses. Os indivíduos foram recrutados enquanto aguardavam por consulta médica nas referidas unidades.

Foram considerados critérios de inclusão ter idade igual ou superior a 18 anos, ser capaz de se comunicar verbalmente em português e ter consulta agendada nas unidades. Como critérios de exclusão foram considerados: comparecer à unidade com a finalidade de utilização da farmácia, sala de curativos e sala de vacinas (sem consulta médica agendada); ter idade inferior a 18 anos e apresentar dificuldade de comunicação (Exemplo: impossibilidade de falar).

Foram investigadas associações estatísticas entre a variável dependente (uso de psicofármacos) e variáveis independentes (sociodemográficas, farmacoterapêuticas, histórico de saúde e presença de Transtornos Mentais Comuns).

Para coleta dos dados utilizou-se a técnica de entrevista estruturada na própria unidade de saúde, em local privativo. O roteiro utilizado constituiu-se por questões relacionadas ao perfil sociodemográfico e farmacoterapêutico dos pacientes.

A descrição dos medicamentos foi realizada utilizando o primeiro nível da classificação Anatomical Therapeutical Chemical - ATC.(8. World Health Organization (WHO). ATT/DDD Index 2015. Disponível em: http://www.whocc.no/atc_ddd_index/. Available from: cited 2015 jan 20.
http://www.whocc.no/atc_ddd_index/...
)

Para identificar a prevalência de Transtornos Mentais Comuns foi utilizada a versão brasileira do SRQ-20 (Self-Reporting Questionnaire), composta por 20 questões. A mesma foi validada no início da década de 1980 e tem sido amplamente utilizada.(9. Mari JJ, Williams PA. Validity study of a Psychiatric Screening Questionnaire (SRQ-20) in primary care in the city of São Paulo. Br J Psychiatry. 1986;148(1):23-6.)

Foram verificados os prontuários dos participantes para identificar corretamente os fármacos prescritos, buscando minimizar a chance de falhas. A fim de testar se por meio de seu conteúdo e forma o instrumento elaborado poderia atingir os objetivos propostos foi realizado um pré-teste no local de pesquisa. Os sujeitos entrevistados na fase de pré-teste não fizeram parte da amostra.

A amostra constou de 430 pacientes. A amostragem foi do tipo estratificada, onde cada Unidade Básica de Saúde consistiu em um estrato. O erro tolerável de amostragem foi de 5% e o nível de significância de 5%. Foi acrescentada uma taxa de não resposta equivalente a 15%.

Foram investigadas associações estatísticas entre a variável dependente e as variáveis independentes usando o teste Qui-quadrado, sendo a hipótese de associação aceita quando “p” encontrado foi menor ou igual a 0,05. Quando a variável independente consistia em somente duas categorias, foi utilizada Correção de Yates. Em casos nos quais houve categorias com menos de cinco indivíduos, foi utilizado o Teste de Fisher.

Foram desenvolvidos modelos de regressão logística para verificar o impacto das variáveis independentes sobre a variável dependente. Foram incluídas nos modelos todas as variáveis explicativas que apresentaram na análise univariada p<0,05 e as variáveis que embora não apresentassem associações significativas fossem fortemente relacionadas com as variáveis dependentes, segundo a literatura. Cabe ressaltar que foram incluídas nos modelos de regressão logística somente as variáveis que não apresentaram problemas de multicolinearidade. A adequação dos modelos foi verificada por meio do teste de Hosmer-Lemeshow.

O desenvolvimento do estudo atendeu as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados

A amostra foi composta majoritariamente por mulheres (84,8%). A média da idade foi de 45 anos, variando de 18 a 83 anos. A maioria dos entrevistados era casada (59,3%); possuía escolaridade em nível fundamental (51,6%); trabalhava formal ou informalmente (57,7%); tinha renda familiar mensal de até três salários mínimos (56,5%) e alguma religião (95,3%), sendo a maioria católica (54,9%). Verificou-se que 65,8% faziam uso de medicamentos e 58,8% apresentavam patologias clínicas, havendo maior prevalência de hipertensão (31,4%) e patologias endócrinas (30,7%). Ainda, 5,6% apresentaram diagnóstico de depressão.

Uso de psicofármacos e fatores relacionados

A prevalência de uso de psicotrópicos foi de 25,8%. A classe mais prescrita foi a dos antidepressivos (N06A) (73%), seguida pelos ansiolíticos benzodiazepínicos (N05B) (46,8%), antiepiléticos (N03A) (4,5%), antipsicóticos (N05A) 3,6% e agentes dopaminérgicos (N04B) (0,9%).

Dentre os antidepressivos, o medicamento mais prevalente foi a fluoxetina, perfazendo 53,1% das prescrições. Amitriptilina e escitalopram estiveram presentes em 28,4% e 22,2%, respectivamente. Entre os ansiolíticos benzodiazepínicos, os dois mais prescritos e igualmente prevalentes foram diazepam e clonazepam, cada um esteve presente em 48,1% das prescrições. Observou-se que 30,6% dos indivíduos que usavam psicofármacos, na ocasião da coleta de dados, tinham pelo menos dois psicofármacos prescritos.

Natabela 1, verifica-se que o uso de psicofármacos foi mais prevalente na categoria de usuários acima de 60 anos (41,6%) e a menor prevalência foi encontrada em pessoas de 18 a 40 anos (10,2%). A associação entre idade e uso de psicofármacos foi confirmada estatisticamente (p<0,001). Verificou-se associação significativa entre uso de psicofármacos e escolaridade (p<0,001). A maioria dos usuários de psicofármacos (65,8%) possuía ensino fundamental completo ou incompleto.

Tabela 1
Variáveis sociodemográficas e econômicas e uso de psicofármacos

A prevalência de transtornos mentais comuns foi de 41,4%. Observa-se natabela 2que 41% das pessoas positivas para Transtornos Mentais Comuns usavam psicofármacos e que, entre as pessoas negativas para Transtornos Mentais Comuns, esse uso foi de 15,1%. Tal associação foi significativa (p<0,001). Todos os pacientes que tiveram diagnóstico de depressão (5,6%), estavam em uso de psicofármacos na ocasião da entrevista. Associações significativas foram encontradas entre o uso de psicofármacos, variáveis farmacoterapêuticas e doenças clínicas (p<0,001).

Tabela 2
Variáveis relacionadas ao perfil farmacoterapêutico, presença de doenças clínicas e Transtornos Mentais Comuns

O modelo de regressão logística (Tabela 3) com todos os preditores foi significativo estatisticamente (x2(8, N = 430) = 97,81, p<0,001). Como um todo, o modelo explicou entre 20,3% (Cox e Snell R quadrado) e 29,9% (Nagelkerke R quadrado) da variância entre usar ou não usar psicofármacos e classificou corretamente 79,1% dos casos.

Tabela 3
Modelo de regressão logística para predição de uso de psicofármacos

Ter doenças clínicas foi o preditor mais forte do uso de psicofármacos, apresentando odds ratio (OR) de 5,4; sendo a variável Transtornos Mentais Comuns a segunda mais forte, com OR de 3,9. A variável escolaridade apresentou OR de 1,7.

Discussão

A primeira limitação deste estudo é relacionada ao desenho transversal, o que não permite predizer causalidade nas questões abordadas. O instrumento de pesquisa utilizado para detecção de transtornos mentais comuns não é o padrão-ouro, o qual seria a entrevista psiquiátrica. Ainda assim, o SRQ-20, tem padrões considerados confiáveis para ser utilizado em estudos de prevalência.

A despeito das limitações, os resultados trazem aspectos relevantes para a prática do enfermeiro, ao estabelecer a dimensão do uso de psicotrópicos na atenção primária à saúde. É possível basear-se nas associações encontradas para planejar ações específicas para este panorama. Um destes aspectos remete à associação entre uso de psicofármacos com doenças clínicas. Neste sentido, o enfermeiro pode orientar o paciente em relação à possível potencialização de efeitos adversos que podem decorrer do uso concomitante de psicofármacos com outras classes de medicamentos e como preveni-los ou minimizá-los. Ainda, considerando a associação do uso de psicofármacos com fatores sociodemográficos, o enfermeiro pode estruturar grupos de apoio ou educação, para auxiliar no enfrentamento de sintomas psicológicos neste contexto.

Contrapondo-se os dados encontrados neste estudo com a literatura, há considerações a serem feitas. Em concordância com a literatura verificou-se que a amostra foi predominantemente feminina.(7. Lam TP, Goldberg D, Dowell AC, Fortes S, Mbatia JK, Minhas FA, Klinkman MS. Proposed new diagnoses of anxious depression and bodily stress syndrome in ICD-11-PHC: an international focus group study. Fam Prac. 2013;30(1):76-87.)

A taxa de utilização de psicofármacos observada (25,8%) foi superior à encontrada na literatura, que varia de 9 a 13%.(1. Mark TL. For what diagnoses are psychotropic medications being prescribed?: a nationally representative survey of physicians. CNS Drugs. 2012;24(4):319-26.,2. Kapp PA, Klop AC, Jenkins LS. Drug interactions in primary health care in the George subdistrict, South Africa: a cross-sectional study. S Afr Fam Pract. 2013;55(1):78-84.)

Em relação aos tipos de psicofármacos prescritos, os mais prevalentes foram os da classe dos antidepressivos seguidos pelos benzodiazepínicos. Em concordância com os resultados deste trabalho, estudos evidenciam que tais classes de medicamentos são as mais prescritas em diferentes países.(1. Mark TL. For what diagnoses are psychotropic medications being prescribed?: a nationally representative survey of physicians. CNS Drugs. 2012;24(4):319-26.,2. Kapp PA, Klop AC, Jenkins LS. Drug interactions in primary health care in the George subdistrict, South Africa: a cross-sectional study. S Afr Fam Pract. 2013;55(1):78-84.)

O alto índice de prescrição de fluoxetina pode ser justificado por alguns fatores. Primeiramente, a fluoxetina é classificada como inibidor seletivo da receptação de serotonina, classe de antidepressivos mais seguros e tolerados. Não obstante, destaca-se que todos os antidepressivos e ansiolíticos benzodiazepínicos prescritos consistem em medicamentos distribuídos pelo Sistema Único de Saúde, o que poderia fomentar sua prescrição em detrimento de outras opções.(1010 . Mari JJ, Tófoli LF, Noto C, Li LM, Diehl AM, Claudino AM, Juruena MF. Pharmacological and psychosocial management of mental, neurological and substance use disorders in low- and middle-income countries: issues and current strategies. Drugs. 2013;73:1549-68.)

No que se refere aos fatores sociodemográficos, o uso de psicofármacos mostrou-se associado à idade e à escolaridade. Observa-se na literatura a tendência da prevalência de uso de psicofármacos aumentar com a faixa etária do indivíduo.(1111 . Milos V, Rekman E, Bondesson A, Eriksson T, Jakobsson U, Westerlund T, Midlo P. Improving the Quality of Pharmacotherapy in Elderly Primary Care Patients Through Medication Reviews: A Randomised Controlled Study. Drugs Aging. 2013;30:235-46.) Tal achado corrobora os resultados encontrados neste estudo. Assim, a análise dos dados evidenciou que a menor prevalência de uso de psicofármacos foi encontrada na faixa etária de 18 a 40 anos (10,1%), seguida por pessoas entre 41 e 59 anos (31,6%). O uso de psicofármacos foi mais comum nos indivíduos acima de 60 anos (41,6%).

Na análise multivariada a baixa escolaridade (pacientes que relataram ter estudado até ensino fundamental incompleto ou completo) mostrou-se como preditor do uso de psicofármacos, ao lado de Transtornos Mentais Comuns e ser portador de patologias clínicas, sendo este último o fator que mais contribuiu com o modelo com OR de 5,4.

Em relação à escolaridade, não foi encontrada na literatura pesquisa que evidenciasse especificamente a associação entre a mesma e uso de psicofármacos. No entanto, visto que o uso de psicofármacos mostrou-se constantemente associado com Transtornos Mentais Comuns neste estudo, é possível utilizar-se da literatura a respeito de Transtornos Mentais Comuns para elucidar tal relação. Desse modo, é importante destacar que a escolaridade está usualmente ligada a piores chances de ascensão profissional e social, podendo contribuir para pior qualidade de vida, chances de desenvolver Transtornos Mentais Comuns e, consequentemente, aumento da possibilidade de uso de psicofármacos.(9. Mari JJ, Williams PA. Validity study of a Psychiatric Screening Questionnaire (SRQ-20) in primary care in the city of São Paulo. Br J Psychiatry. 1986;148(1):23-6.)

Obviamente, se grande parte dos pacientes que usam psicofármacos tem patologias clínicas, não é surpreendente que usem mais medicamentos e administrem mais comprimidos por dia, como encontrado no presente estudo. Não obstante há evidências de que a polifármacia é comum em usuários de psicofármacos.(6. Motjabai R, Olfosom M. Nacional trends in psychotropic medication polypharmacy in office-based psychiatry. Arch Gen Psychiatry. 2010;67(1):26-36.,1111 . Milos V, Rekman E, Bondesson A, Eriksson T, Jakobsson U, Westerlund T, Midlo P. Improving the Quality of Pharmacotherapy in Elderly Primary Care Patients Through Medication Reviews: A Randomised Controlled Study. Drugs Aging. 2013;30:235-46.) Tal aspecto é particularmente importante uma vez que esses pacientes apresentam maior risco de ocorrência de efeitos adversos e interações medicamentosas.(2. Kapp PA, Klop AC, Jenkins LS. Drug interactions in primary health care in the George subdistrict, South Africa: a cross-sectional study. S Afr Fam Pract. 2013;55(1):78-84.,1111 . Milos V, Rekman E, Bondesson A, Eriksson T, Jakobsson U, Westerlund T, Midlo P. Improving the Quality of Pharmacotherapy in Elderly Primary Care Patients Through Medication Reviews: A Randomised Controlled Study. Drugs Aging. 2013;30:235-46.)

A associação entre psicofármacos e Transtornos Mentais Comuns revelada no presente estudo é corroborada por estudos anteriores.(5. Barbui C. Cipriani A, Patel V, Ayuso-Mateos JL, van Ommeren M. Efficacy of antidepressants and benzodiazepines in minor depression: systematic review and meta-analysis. Br J Psychiatry. 2011;198(1):11-16. Suppl 1.) A despeito de tal associação, chama a atenção no presente estudo o fato de que entre as pessoas negativas para Transtornos Mentais Comuns 15,1% usavam psicofármacos.

Diante desse contexto, cabe considerar duas suposições: ou há pacientes em uso de psicofármacos com ausência de sintomatologia ou os mesmos estão em remissão de sintomas. Sendo assim, há indícios de que os psicofármacos não estejam sendo efetivos, indicando dissonâncias em relação ao seu uso e ao reconhecimento correto de Transtornos Mentais Comuns.

De particular interesse para a discussão dos resultados, estudo desvelou as razões pelas quais médicos trabalhadores em atenção primária à saúde prescreviam psicofármacos. Os entrevistados consideraram que a psiquiatria “não é uma ciência como as outras ciências; deixa margem para muitas interpretações”. Além disso, consideraram que fatores como, “os pacientes buscam tratamento para suas queixas” e “falta de recursos na unidade” pesam mais na decisão pela prescrição de psicofármacos do que a necessidade do paciente em si.(3. Hedenrud TM, Svensson, SA, Wallerstedt SM. “Psychiatry is not a science like others” - a focus group study on psychotropic prescribing in primary care. BMC Fam Pract. 2013;14(1):115.)

Ainda, médicos de família nos Estados Unidos classificaram seu conhecimento sobre prescrição de psicofármacos ausente ou insuficiente, embora prescrevessem tais medicamentos rotineiramente.(1212 . Fraser K, Oyama O. Knowledge of psychotropics and prescribing preferences of family physicians: a preliminary study. Acad Psychiatry. 2013;37(5):325-8.)

Conclusão

A prevalência de uso de psicofármacos encontrada foi alta. Na análise univariada houve associação entre uso de psicofármacos e transtornos mentais comuns, uso de medicamentos não psicofármacos, número de medicamentos prescritos, número de comprimidos/dia, patologias clínicas, idade e escolaridade. Na análise multivariada os preditores para uso de psicofármacos foram: transtornos mentais comuns, patologias clínicas e escolaridade.

Agradecimentos

Pesquisa realizada com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, processo 2013/20435-1 e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, processo 478814/2012-7.

Referências

  • 1
    Mark TL. For what diagnoses are psychotropic medications being prescribed?: a nationally representative survey of physicians. CNS Drugs. 2012;24(4):319-26.
  • 2
    Kapp PA, Klop AC, Jenkins LS. Drug interactions in primary health care in the George subdistrict, South Africa: a cross-sectional study. S Afr Fam Pract. 2013;55(1):78-84.
  • 3
    Hedenrud TM, Svensson, SA, Wallerstedt SM. “Psychiatry is not a science like others” - a focus group study on psychotropic prescribing in primary care. BMC Fam Pract. 2013;14(1):115.
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    Quintana MI, Andreoli SB, Moreira FG, Ribeiro WS, Feijó MM, et al. Epidemiology of psychotropic drug use in Rio de Janeiro, Brazil: gaps in mental illness treatments. PLoS One.2013;8(5):e62270.
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    Barbui C. Cipriani A, Patel V, Ayuso-Mateos JL, van Ommeren M. Efficacy of antidepressants and benzodiazepines in minor depression: systematic review and meta-analysis. Br J Psychiatry. 2011;198(1):11-16. Suppl 1.
  • 6
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  • 7
    Lam TP, Goldberg D, Dowell AC, Fortes S, Mbatia JK, Minhas FA, Klinkman MS. Proposed new diagnoses of anxious depression and bodily stress syndrome in ICD-11-PHC: an international focus group study. Fam Prac. 2013;30(1):76-87.
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    » http://www.whocc.no/atc_ddd_index/
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  • 12
    Fraser K, Oyama O. Knowledge of psychotropics and prescribing preferences of family physicians: a preliminary study. Acad Psychiatry. 2013;37(5):325-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    July-Aug 2015

Histórico

  • Recebido
    15 Jan 2015
  • Aceito
    20 Fev 2015
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