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Comparação entre ambiente de trabalho de hospitais públicos acreditado e não acreditado

Resumo

Objetivo

Comparar e identificar o ambiente de trabalho de hospitais públicos sendo um acreditado e o outro não.

Métodos

Abordagem quantitativa, dois estudos transversais em paralelo, com 106 enfermeiros dos hospitais entre janeiro a setembro de 2014. Hospital A, não acreditado, e B acreditado. Coleta de dados por meio de um questionário com dados sóciodemográficos laborais e Nursing Work Index - Revised - Versão Brasileira (B-NWI-R) com 57 itens e quatro domínios. A confiabilidade do instrumento foi medida pelo alpha de Cronbach.

Resultados

Participaram 50 enfermeiros do hospital A e 56 do B. Comparados os hospitais, houve significância estatística na satisfação salarial (hospital A tem maior satisfação com o salário) e na jornada de trabalho (de 30 a 36 horas semanais no B enquanto no A 40 horas). O ambiente foi favorável aos quatro domínios da B-NWI-R em ambos hospitais, independentemente da acreditação ou não.

Conclusão

A aplicação do instrumento evidenciou que a acreditação hospitalar não interferiu no ambiente de trabalho dos enfermeiros.

Gerenciamento da prática profissional; Ambiente de trabalho; Acreditação; Qualidade da assistência à saúde; Satisfação no emprego

Abstract

Objective

To compare and identify the working environment of accredited and non-accredited public hospitals.

Methods

A quantitative approach with two cross-sectional studies in parallel, with 106 nurses from the hospitals, conducted between January and September of 2014. Hospital A was not accredited, and Hospital B was accredited. Data collection used a questionnaire with sociodemographic labor information and the Nursing Work Index - Revised - Brazilian version (B-NWI-R), with 57 items and four domains. The reliability of the instrument was measured using Cronbach’s alpha.

Results

The participants included 50 nurses of Hospital A and 56 of Hospital B. Hospitals were compared; there were statistically significant wage satisfaction (Hospital A showed greater salary satisfaction) and working hours (30-36 hours per week in Hospital B;40 hours in Hospital A). The environment was favorable to the four domains of B-NWI-R in both hospitals, regardless of accreditation status.

Conclusion

The administration of the instrument showed that hospital accreditation did not affect the nurses’ work environment.

Practice management; Working environment; Accreditation; Quality of health care; Job satisfaction

Introdução

As organizações de saúde têm buscado a melhoria da qualidade assistencial aos usuários dos serviços, o que implica no aprimoramento contínuo de suas práticas que está relacionado principalmente com as pessoas e seu desenvolvimento no processo de trabalho.

O ambiente está intimamente relacionado com a satisfação no trabalho dos profissionais da saúde, dentre esses o enfermeiro e sua equipe e à qualidade do cuidado.(11. Cucolo DF, Perroca MG. Factors involved in the delivery of nursing care. Acta Paul Enferm. 2015; 28(2):120-4.)

Além de influenciar resultados com os pacientes, o ambiente de trabalho também influencia os resultados com enfermeiros devido à sobrecarga de trabalho, condições de trabalho inadequadas, as relações interpessoais conflituosas, falta de expectativa profissional, pouca autonomia profissional e ambiguidade de funções, que podem prejudicar o processo de trabalho como um todo.(22. Cunha AP, Souza EM, Mello R. Os fatores intrínsecos ao ambiente de trabalho como contribuintes da síndrome de burnout em profissionais de enfermagem. Rev Pesq Cuid Fundam. 2012; (Supl):29-32.)

A avaliação da qualidade do ambiente de trabalho é um indicador fundamental para alicerçar a prática do enfermeiro, o qual, como líder da equipe necessita ter o conhecimento dos pilares que organizam sua prática, a fim de garantir a qualidade da assistência prestada.(33. Balsanelli AP, Cunha IC. The work environment in public and private intensive care units. Acta Paul Enferm. 2013; 6(26):561-8.)

Sendo assim, é fundamental um ambiente de trabalho adequado, não somente para obter ótimos resultados quanto à assistência ao paciente, mas também para propiciar um clima inovador para a equipe de saúde, pois um ambiente de trabalho saudável impacta positivamente na eficácia do próprio trabalho.(44. Ditomassi M. A Multi-instrument evaluation of the professional practice environment. JONA. 2012; 42(5):266-72.)

Uma das possibilidades de identificar o ambiente de trabalho das organizações de saúde é a utilização de instrumentos que possam mensurar aspectos objetivos presentes nesse ambiente.

A utilização de escalas contribui para inovar e criar novos modelos, funções e mudanças, os quais poderão ser identificados e contribuir para o trabalho do enfermeiro por meio de exploração de novas ideias.(44. Ditomassi M. A Multi-instrument evaluation of the professional practice environment. JONA. 2012; 42(5):266-72.)

Para enfatizar a relevância desse tema, estudos foram realizados com a perspectiva de identificar e analisar o ambiente de trabalho para o enfermeiro e o quanto este pode afetar a qualidade assistencial.(11. Cucolo DF, Perroca MG. Factors involved in the delivery of nursing care. Acta Paul Enferm. 2015; 28(2):120-4.,33. Balsanelli AP, Cunha IC. The work environment in public and private intensive care units. Acta Paul Enferm. 2013; 6(26):561-8.

4. Ditomassi M. A Multi-instrument evaluation of the professional practice environment. JONA. 2012; 42(5):266-72.

5. Rebelo AF, Gasparino RC. Características do ambiente que favorecem a prática profissional do enfermeiro. Rev Saúde. 2011; 5(4):27-31.

6. Bowers PT, Otterness N, Pritchard M. Environment, health, & nursing practice. Scient Res. 2011; 2(3):321-6.

7. Gasparino RC, Guirardello EB, Aiken LH. Validation of the Brazilian version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). J Clin Nurs. 2011; 20:34(23-24):3494-501.
-88. Gasparino RC, Guirardello EB. Translation and cross-cultural adaptation of the Nursing Work Index Revised into brazilian portuguese. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3):281-7.)

Dentre os instrumentos desenvolvidos o Nursing Work Index - Revised (NWI-R) tem sido utilizado em diferentes culturas e ambientes da prática profissional do enfermeiro.(77. Gasparino RC, Guirardello EB, Aiken LH. Validation of the Brazilian version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). J Clin Nurs. 2011; 20:34(23-24):3494-501.,88. Gasparino RC, Guirardello EB. Translation and cross-cultural adaptation of the Nursing Work Index Revised into brazilian portuguese. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3):281-7.) É um instrumento que se compõe de 57 itens cujo “objetivo é mensurar a presença de determinadas características do ambiente de trabalho que favorecem a prática profissional do enfermeiro”.(88. Gasparino RC, Guirardello EB. Translation and cross-cultural adaptation of the Nursing Work Index Revised into brazilian portuguese. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3):281-7.) Do total dos itens existem quatro subescalas: autonomia, controle sobre o ambiente de trabalho, relacionamento entre enfermeiros e médicos e suporte organizacional.(88. Gasparino RC, Guirardello EB. Translation and cross-cultural adaptation of the Nursing Work Index Revised into brazilian portuguese. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3):281-7.)

Esse instrumento foi adaptado e validado para a cultura brasileira sendo que a versão final do instrumento foi intitulada de Nursing Work Index -Revised - Versão Brasileira (B-NWI-R).(77. Gasparino RC, Guirardello EB, Aiken LH. Validation of the Brazilian version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). J Clin Nurs. 2011; 20:34(23-24):3494-501.,88. Gasparino RC, Guirardello EB. Translation and cross-cultural adaptation of the Nursing Work Index Revised into brazilian portuguese. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3):281-7.) Para a adaptação cultural do instrumento, algumas fases foram seguidas: tradução do instrumento para a língua portuguesa, tradução do instrumento de volta para o idioma de origem, avaliação da versão traduzida por um grupo de juízes e pré-teste.(99. Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine. 2000; 25(24):3186-91.)

O B-NWI-R é composto pelos 57 itens originais e pelas mesmas subescalas que contribuem para avaliar a presença de certas características no ambiente de trabalho dos enfermeiros que podem interferir com o nível de satisfação profissional, a percepção da qualidade do cuidado, rotatividade da equipe e níveis de burnout.(88. Gasparino RC, Guirardello EB. Translation and cross-cultural adaptation of the Nursing Work Index Revised into brazilian portuguese. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3):281-7.)

Em todo o mundo, se faz presente o desafio para otimizar a segurança e a qualidade da assistência oferecida aos pacientes nas instituições de saúde. A qualidade no ambiente de trabalho de enfermagem, tem interferência na qualidade e na segurança do cuidado prestado.(1010. Garcia PC, Fugulin FM. Tempo de assistência de Enfermagem em unidade de terapia intensiva adulto e indicadores de qualidade assistencial: análise correlacional. Rev Lat Am Enfermagem. 2012; 20(4): 651-8.)

Portanto, o ambiente onde os processos de trabalho se desenvolvem é um dos aspectos fundamentais para a qualidade, pois este pode estar relacionado ao contexto da Prática Baseada em Evidências (PBE), devido aos seus estressores, sejam eles psicológicos ou físicos.(1111. Portella JR, Pereira LR, Demutti FP, Rutz AP, Buss MT. Implicações do ambiente no desenvolvimento do processo de trabalho da enfermagem: uma revisão integrativa. Enferm Global. 2012; (27):388-96.)

Os processos de certificação de qualidade têm contribuído para que as organizações de saúde visem a excelência tendo como princípios os padrões embasados cientificamente e o envolvimento da organização como um todo para o alcance destes.

A Organização Nacional de Acreditação (ONA) é uma entidade não governamental, isenta de fins lucrativos, responsável pela coordenação de todo o sistema de acreditação certificando as organizações de saúde existentes no país.(1212. Novaes HM. The accreditation process in healthcare services. Rev Adm Saúde. 2007; 9(37):133-40.

13. Donabedian A. Evaluating the quality of medical care. Milbank 2005; 83(4):691-729.
-1414. Organização Nacional de Acreditação (ONA). [Internet]. São Paulo: ONA; 2010. [citado 2015 Jan 1] Disponível em: http://www.ona.org.br.
http://www.ona.org.br...
) Os padrões estão alicerçados nos princípios de qualidade que envolve a estrutura, o processo e o resultado.(1313. Donabedian A. Evaluating the quality of medical care. Milbank 2005; 83(4):691-729.) O resultado da acreditação reflete-se nos conceitos: não acreditado, acreditado (nível 1), acreditado pleno (nível 2) e acreditado com excelência (nível 3).(1515. Organização Nacional de Acreditação (ONA). Manual de acreditação Hospitalar. Brasília (DF); ONA; 2014.)

A produção científica tem aumentado significativamente tornando-se necessárias estratégias metodológicas que contemplem a síntese das melhores evidências científicas para incorporá-las na prática do cuidado à saúde, embasando a tomada de decisão diagnóstica, terapêutica e gerencial.(1616. Karino ME, Felli VE. Enfermagem baseada em evidências: avanços e inovações em revisões sistemáticas. Cienc Cuid Saúde. 2012; 11(Supl):11-5.)

Considerando a importância dessa temática, a escassez de estudos no Brasil que utilizam escalas para mensurar o ambiente de trabalho e o reconhecimento que a utilização de instrumentos contribui para um processo decisório embasado em evidências, justifica-se a realização desta pesquisa que tem como perguntas:

a) como os enfermeiros avaliam seu ambiente de trabalho de acordo com as subescalas: autonomia, controle sobre o ambiente de trabalho, relacionamento entre enfermeiros e médicos e suporte organizacional?

b) qual a correlação existente entre duas instituições públicas, uma acreditada e outra que não se submeteu ao processo de acreditação, quanto ao ambiente de trabalho?

Sendo assim, o objetivo do estudo foi identificar e comparar o ambiente de trabalho de enfermeiros dos hospitais públicos A (não acreditado) e B (acreditado) por meio do B-NWI-R.

Métodos

A abordagem quantitativa foi adotada para realizar a comparação entre os hospitais em relação às características do ambiente de trabalho que favorecem a prática profissional do enfermeiro. O delineamento consistiu de dois estudos transversais.

A pesquisa foi realizada em dois hospitais públicos na região de saúde do Departamento Regional de Saúde - VI (DRS-VI) que foram denominados de hospital A e B. O hospital A atende exclusivamente pacientes oriundos do Sistema Único de Saúde - SUS - é um hospital terciário, com população estimada de 1,8 milhão de pessoas, conta com 529 leitos ativos atualmente. O hospital B é uma instituição pública vinculada ao SUS e possui certificado de acreditação nível 1 pela ONA. Possui 318 leitos operacionais e 63 leitos complementares.

A população alvo foi de enfermeiros assistenciais que trabalharam em unidade de internação de adultos, dos hospitais A e B, em atividade entre janeiro/2014 a setembro/2014. Não houve amostragem, pois todos os enfermeiros (n= 185) que trabalhavam nas respectivas unidades de adultos atendiam aos critérios de inclusão e foram convidados a participar. Destes, 106 (57,3%) aceitaram participar (50 do hospital A e 56 do hospital B).

O instrumento B-NWI-R é uma escala de medida do tipo Likert, cuja pontuação varia entre um a quatro pontos. O participante foi solicitado a responder se concorda ou não com a afirmativa “esse fator está presente no meu trabalho diário” com as opções: concordo totalmente (um ponto); concordo parcialmente (dois pontos); discordo parcialmente (três pontos) e discordo totalmente (quatro pontos), ou seja, quanto menor a pontuação, maior a presença de atributos favoráveis.(77. Gasparino RC, Guirardello EB, Aiken LH. Validation of the Brazilian version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). J Clin Nurs. 2011; 20:34(23-24):3494-501.,88. Gasparino RC, Guirardello EB. Translation and cross-cultural adaptation of the Nursing Work Index Revised into brazilian portuguese. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3):281-7.) Valores abaixo de 2,5 representam ambientes favoráveis à prática profissional, e acima de 2,5 pontos, ambientes desfavoráveis.(1717. Panunto MR, Guirardello EB. Ambiente da prática profissional e exaustão emocional entre enfermeiros de terapia intensiva. Rev Lat Am Enfermagem. 2013; 21(3):765-72.) Cada escore foi calculado pela média das respostas dadas em seus itens.

Como variável independente tem-se o hospital no qual trabalha A (não acreditado) ou B (acreditado). Os potenciais confundidores elencados consistiram em: nível acadêmico do enfermeiro; jornada de trabalho em horas semanais (30, 36, 40); jornada dupla ou tripla de trabalho (Não/Sim); turno de trabalho (Diurno/Noturno); trabalho em unidade de longa permanência do paciente (Não/Sim); promoção nos últimos 12 meses (Não/Sim); avaliação negativa na última avaliação administrativa (Não/Sim); satisfação salarial (Não/Sim).

Como variáveis dependentes tem-se o escore das quatro subescalas referente à B- NWI-R:

  • Escore da subescala “Autonomia” (variação entre 1 a 4). Subescala captada por 5 itens do instrumento B-NWI-R: (itens 4,6,17,24 e 35) e mede o quanto a autonomia é favorável às atividades do enfermeiro.

  • Escore da subescala “Controle sobre o ambiente”. Subescala captada por 7 itens do instrumento B-NWI-R: (itens 1,11,12,13,16,46 e 48) e mede o quanto o controle do ambiente é favorável às atividades do enfermeiro.

  • Escore da subescala “Relações entre Médicos e Enfermeiros”. Subescala captada por 3 itens do instrumento B-NWI-R: (itens 2,27 e 39) e mede o quanto as relações entre médicos e enfermeiros são favoráveis às atividades do enfermeiro.

  • Escore da subescala “Suporte Organizacional”. Subescala captada por 10 itens do instrumento B-NWI-R: (itens 1,2,6,11,12,13,17,24,27 e 48) e mede o quanto o suporte organizacional é favorável às atividades do enfermeiro.

As pontuações das subescalas do B-NWI-R foram medidas por aplicação direta do questionário nos enfermeiros de cada uma das unidades dos hospitais A e B.

As variáveis com potencial efeito confundidor foram disponibilizadas pelos enfermeiros quando responderam o questionário.

A estatística foi utilizada para a análise dos dados em duas fases. A Fase 1 tratou da identificação de potenciais confundidores por meio dos testes não paramétricos Qui-quadrado e teste exato de Fisher. Na Fase 2 os locais de trabalho foram comparados em relação a pontuação do B-NWI-R pelo teste não-paramétrico de Mann-Whitney.

As relações foram consideradas significativas se p < 0,005. As análises foram executadas pelos softwares SPSSv 15.0 e R.v2.11.0.

Foi realizado o coeficiente Alpha de Cronbach, pois trata-se de uma ferramenta estatística que avalia a confiabilidade por meio da consistência interna de um questionário.

Não há erro sistemático de seleção, por tratar-se de pesquisa de base populacional, ou seja, enfermeiros que atuam nos hospitais A e B.

O estudo foi registrado na Plataforma Brasil sob o número do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAEE) 23304713.4.0000.5411.

Resultados

A amostra pesquisada incluiu 106 enfermeiros dos dois hospitais abordados, sendo no hospital A 50 e destes 41 (82%) eram mulheres e 9 (18%) homens, com a faixa etária predominante entre 20 à 35 anos. No hospital B foram 56 sujeitos destes 52 (93%) do sexo feminino e 4 (7%) do sexo masculino com a mesma faixa etária do hospital A.

A maior parte 44 (88%) dos enfermeiros participantes do hospital A era de etnia branca, 13 (26%), casados e 12 (24%) tinham filhos. No hospital B, 40 (71%) eram brancos, 26 (46%) casados e 28(50%) tinham filhos.

Em relação ao nível acadêmico no hospital A somente 1 (2%) enfermeiro possui título de doutor e 3 (5%) no hospital B. No que se refere a unidade de longa permanência do paciente 45 (80%) enfermeiros da instituição B atuam nessas unidades e no hospital A 34 (68%). Dos 50 profissionais do hospital A, 20 (40%) trabalham no período noturno e 12 (24%) têm outro emprego formal; enquanto que no hospital B, 14 (25%) exercem sua função à noite e 16 (28%) enfermeiros possuem outra ocupação.

No que concerne à avaliação de desempenho profissional, no hospital A 2% dos enfermeiros participantes do estudo foram avaliados negativamente e 2 (4%) promovidos nos últimos 3 meses. Já no hospital B 10 (18%) receberam uma promoção e 3 (5%) tiveram uma avaliação negativa.

Houve significância estatística no que se refere à satisfação salarial e jornada de trabalho. Os enfermeiros do hospital A evidenciaram maior satisfação com o salário (44%) ao se comparar com o hospital B (14%) e a jornada de 30 a 36 horas semanais foi predominante no hospital B (80%), enquanto que na outra instituição, essa jornada apresentou equivalência com a de 40 horas semanais ou mais.

A tabela 1 compara as duas instituições no que se refere às características sociodemográficas e laborais.

Tabela 1
Comparação entre os locais de trabalho em relação à sociodemografia e variáveis relacionadas ao trabalho (n=106)

A tabela 1 mostra a relação do local de trabalho com algumas variáveis sociodemográficas e algumas variáveis de trabalho, tais variáveis não foram consideradas como confundimento por não se relacionarem significativamente com a pontuação B-NWI-R em nenhum subescala.

Portanto, a comparação entre os locais de trabalho em relação à pontuação B-NWI-R foi feita sem a necessidade de correção por qualquer confundidor (Tabela 2).

Tabela 2
Comparação entre os locais de trabalho e as subescalas do B-NWIR- (n=106)

A confiabilidade da escala foi analisada por meio do coeficiente de Alpha de Cronbach que foi calculado para cada uma das subescalas e para o total de itens do instrumento. A tabela 3 apresenta os resultados.

Tabela 3
Confiabilidade do B-NWI-R

Discussão

A limitação do presente estudo foi a não participação de todos os enfermeiros, tanto do hospital A quanto do B, atuantes no período estudado e também do não envolvimento de outros hospitais públicos acreditados e não acreditados para uma maior abrangência e possibilidade de comparação.

A contribuição do estudo foi conhecer, na perspectiva dos enfermeiros assistenciais, o ambiente de trabalho de hospitais públicos e as diferenças e similaridades desse ambiente para hospitais acreditados e não acreditados. A aplicação desse instrumento no contexto de trabalho do enfermeiro subsidia os gestores para melhoria desse ambiente.

No presente estudo, a caracterização da amostra dos enfermeiros foi semelhante a outras pesquisas realizadas, sendo que o perfil dos profissionais são adultos jovens com predominância do sexo feminino, o que se justifica pelo caráter histórico da profissão.(77. Gasparino RC, Guirardello EB, Aiken LH. Validation of the Brazilian version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). J Clin Nurs. 2011; 20:34(23-24):3494-501.,1717. Panunto MR, Guirardello EB. Ambiente da prática profissional e exaustão emocional entre enfermeiros de terapia intensiva. Rev Lat Am Enfermagem. 2013; 21(3):765-72.,1818. Cho SH, Mark BA, Yun SC, June KJ. Differences in intensive care unit work environments among and within hospitals using subscales and a composite measure of the Revised Nursing Work Index. J Adv Nurs. 2011; 67(12):2637-48.)

A competitividade do mercado e a necessidade de buscar inovações tecnológicas na prática do cuidar por meio da assistência direta ou na qualidade de gestor, educador, pesquisador, têm se mostrado um desencadeador de tensões ao enfermeiro.(1919. Simonetti SH, Dedini MF, Bianchi ER, Kobayashi RM. Avaliação do estresse de enfermeiros assistenciais no ensino à distância. J Health Inform. 2013; 5(3): 86-90.)

Observou-se significância estatística entre o índice de enfermeiros dos dois hospitais em relação à satisfação salarial, no qual enfermeiros do hospital A se revelaram mais jubilosos em comparação aos que trabalham no hospital B. Além da alta competição, o não contentamento com o nível salarial pode levar ao estresse, o qual somado a outros fatores origina a síndrome de burnout. Nessa visão, verifica-se que essa síndrome advém de uma cronificação do estresse ocupacional, absorvendo consequências negativas relacionadas ao indivíduo, profissão, família, sociedade e instituição, o que leva o trabalhador à perda da capacidade de se reorganizar e retornar a realização das demandas existentes.(2020. Franca FM, Ferrari R, Ferrari DC, Alves ED. [Burnout and labour aspects in the nursing teams at two medium-sized hospitals]. Rev Lat Am Enfermagem. 2012; 20(5):961-70. Portuguese.

21. Meneghini F, Paz AA, Lautert L [Occupational factors related to burnout syndrome components among nursing personnel]. Texto Contexto Enferm. 2011; 20(2):225-33. Portuguese.
-2222. Silva TL, Benevides-Pereira AM, França IS, Alchieri JC. [Sociodemographic aspects related to burnout syndrome in physiotherapists]. Rev Inspirar. 2010; 2(1):6-13. Portuguese.) Tal situação também se explica considerando as características do exercício em enfermagem, como plantões extensos, maior número de vínculos, além do trabalho doméstico que marca o gênero feminino, ocasionando dupla ou até mesmo uma tripla jornada de trabalho.(2323. Silva JS, Ana GG, Griep RH, Rotenberg L. Validade e confiabilidade do índice de capacidade para o trabalho (ICT) em trabalhadores de enfermagem. Cad Saúde Pública. 2011; 27(6):1077-87.)

A sobrecarga de trabalho, uma jornada extensa, habilidades técnicas limitadas, gestão de conflitos, falta de apoio social no local de trabalho e incapacidade de resolução de problemas podem levar o profissional a ter transtornos de humor.(2424. Wu H, Ge CX, Sun W, Wang JN, Wang L. Depressive symptoms and occupational stress among Chinese female nurses: the mediating effects of social support and rational coping. Res Nurs Health. 2011; 34(5):401-7.) Em outra pesquisa, a depressão foi associada à síndrome de burnout, incluindo a exaustão emocional, a qual pode levar à despersonalização e como consequência a insatisfação profissional.(2525. Tavares KF, Souza NV, Silva LD, Kestenberg CC. Ocorrência da síndrome de Burnout em enfermeiros residentes. Acta Paul Enferm. 2014; 27(3):260-5.)

A maioria dos participantes referiu não possuir outro vínculo empregatício, efeito também obtido em outros estudos já realizados no país.(77. Gasparino RC, Guirardello EB, Aiken LH. Validation of the Brazilian version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). J Clin Nurs. 2011; 20:34(23-24):3494-501.,88. Gasparino RC, Guirardello EB. Translation and cross-cultural adaptation of the Nursing Work Index Revised into brazilian portuguese. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3):281-7.)

No que se refere à confiabilidade da escala, o coeficiente de alpha de Cronbach foi satisfatório e semelhante ao estudo que validou essa escala para uso no Brasil.(1717. Panunto MR, Guirardello EB. Ambiente da prática profissional e exaustão emocional entre enfermeiros de terapia intensiva. Rev Lat Am Enfermagem. 2013; 21(3):765-72.) Estudo que aplicou essa escala a enfermeiros que trabalhavam em Unidades de Terapia Intensiva demonstrando assim que a escala mede aquilo que ela propõe-se a medir.(33. Balsanelli AP, Cunha IC. The work environment in public and private intensive care units. Acta Paul Enferm. 2013; 6(26):561-8.)

A aplicação do B-NWI-R neste estudo revelou que os enfermeiros do hospital A e do hospital B que compuseram a amostra têm autonomia, controle sobre o ambiente, respeito entre médicos e enfermeiros e suporte organizacional favorável, pois apresentaram valores abaixo de 2,5 independentemente do local que trabalham.(77. Gasparino RC, Guirardello EB, Aiken LH. Validation of the Brazilian version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). J Clin Nurs. 2011; 20:34(23-24):3494-501.) Esse dado foi semelhante ao estudo, já mencionado, realizado nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais públicos e privados no Brasil, visto que não houve diferença significativa referente aos quatro subitens da B-NWI-R citados.(33. Balsanelli AP, Cunha IC. The work environment in public and private intensive care units. Acta Paul Enferm. 2013; 6(26):561-8.)

O processo de acreditação hospitalar não interferiu para que o ambiente de trabalho fosse mais favorável no hospital certificado. Esse achado remete a considerar que outros fatores são intervenientes no ambiente de trabalho.

O ambiente de trabalho é formado de espaços, físicos e sociais. No que tange à ambiência social, firmar relações interpessoais embasadas no autoconhecimento e no conhecimento do outro podem ser estratégias que favorecem a qualidade de vida no trabalho, humanizando o processo.(2626. Fontana RT. Humanization in the process of working in nursing: a reflection. Rev Rene. 2010; 11(1):200-7.)

O contexto organizacional é criticamente importante para o impacto das ações da enfermagem e a utilização do instrumento pode capturar o ambiente contribuindo assim para o processo gerencial do enfermeiro.(2727. Li YF, Lake ET, Sales AE, Sharp ND, Greiner GT, Lowy E, et al. Measuring nurses’ practice environments with the revised nursing work index: evidence from registered nurses in the Veterans Health Administration. Res Nurs Health. 2007; 30(1):31-44.)

Conclusão

A realização dessa pesquisa permitiu analisar o ambiente de trabalho do enfermeiro de dois hospitais públicos evidenciando, por meio do instrumento B-NWI-R, que o ambiente é favorável nas dimensões da autonomia, controle sobre o ambiente, respeito entre médicos e enfermeiros e suporte organizacional. Não houve diferença significante em relação ao ambiente de trabalho nas dimensões já referidas entre o hospital acreditado e o não acreditado. As diferenças apresentadas foram em relação à jornada de trabalho e à satisfação com o salário, pois na organização que não se submeteu ao processo de acreditação os enfermeiros têm menor jornada de trabalho e estão mais satisfeitos com o salário.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2016

Histórico

  • Recebido
    18 Ago 2015
  • Aceito
    1 Fev 2016
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