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Incontinência urinária e função sexual feminina: revisão integrativa de questionários validados

Incontinencia urinaria y función sexual femenina: revisión integrativa de cuestionarios validados

Resumo

Objetivo:

Analisar a produção científica nacional e internacional quanto à relação escores dos instrumentos ICIQ-UI-SF (Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Urinary Incontinence/Short Form (ICIQ-UI/SF) e FSFI (Female Sexual Function Index) na população feminina.

Métodos:

Revisão integrativa da literatura, realizada durante os meses de Dezembro de 2017 a Maio de 2018, nas bases de dados Scielo, Lilacs, Scopus e Pubmed. As buscas foram conduzidas através da associação dos nomes dos questionários como descritores, sem delimitações quanto ao ano de publicação, idioma e disponibilidade em texto completo. Priorizados achados com nível de evidência de no mínimo 3A para estudos observacionais. Totalizaram 5 artigos científicos.

Resultados:

As evidências encontradas sobre a relação direta dos instrumentos apresentaram como objetivo predominante a sua aplicação para validar a efetividade de técnicas cirúrgicas para a correção da incontinência urinária. Mesmo diante da melhora da incontinência, os achados divergiram quanto a melhora da função sexual, apresentando modificações apenas em alguns domínios do FSFI ou nenhuma mudança. Apenas um estudo buscou investigar a relação direta dos instrumentos, indicando fraca ligação. Já a busca isolada dos instrumentos, associada com descritores específicos apontara que a incontinência urinária é fator determinante para a deterioração tanto da qualidade de vida quanto e da função sexual.

Conclusão:

O baixo quantitativo de produções e resultados encontrados demonstraram que é necessário um maior aprofundamento sobre a temática, para um embasamento e qualificação da assistência para portadoras de incontinência urinária.

Descritores
Incontinência urinária; Saúde da mulher; Comportamento sexual; Sexualidade; Coito

Resumen

Objetivo:

Analizar la producción científica nacional e internacional en cuanto a la relación entre los indicadores de los ICIQ-UI-SF (ICIQ-UI / SF) y FSFI (Female Sexual Function Index) en la población femenina.

Métodos:

Durante los meses de diciembre de 2017 a mayo de 2018, se realizó una revisión integrativa de la literatura en las bases de datos Scielo, Lilacs, Scopus y Pubmed. Las búsquedas se hicieron a través de la asociación de los nombres de los cuestionarios como descriptores, sin delimitaciones en cuanto al año de publicación, idioma y disponibilidad en texto completo. Se priorizaron hallazgos con nivel de evidencia de por lo menos 3A para estudios observacionales. Hubo un total de 5 artículos científicos.

Resultados:

Las evidencias encontradas sobre la relación directa de los instrumentos presentaron como objetivo predominante su aplicación para validar la efectividad de técnicas quirúrgicas para la corrección de la incontinencia urinaria. Incluso ante la mejora de la incontinencia, los hallazgos divergían en cuanto a la mejora de la función sexual, presentando modificaciones sólo en algunos dominios del FSFI o ningún cambio. Solo un estudio buscó investigar la relación directa de los instrumentos e indicó débil conexión. La búsqueda aislada de los instrumentos, asociada con descriptores específicos, apunta que la incontinencia urinaria es un factor determinante para el deterioro tanto de la calidad de vida como de la función sexual.

Conclusión:

La poca cantidad de producciones y resultados encontrados demostró que es necesario una mayor profundización sobre la temática para una base y calificación de la asistencia para portadoras de incontinencia urinaria.

Descriptores
Incontinencia urinaria; Salud de la mujer; Conducta sexual; Sexualidad; Coito

Abstract

Objective:

To analyze the national and international scientific production regarding the relationship between the ICIQ-UI-SF (International Consultation on Incontinence Questionnaire – Urinary Incontinence/Short Form (ICIQ-UI/SF) and FSFI (Female Sexual Function Index) in the female population.

Methods:

Integrative literature review, carried out from December 2017 to May 2018, in the Scielo, Lilacs, Scopus and Pubmed databases. Searches were conducted through the association of the names of the questionnaires as descriptors, without delimitations regarding the year of publication, language, and availability of full text. Findings with a level of evidence of at least 3A for observational studies were prioritized. There was a total of five scientific papers.

Results:

The evidence found about the direct relationship of the instruments had as predominant objective their application to validate the effectiveness of surgical techniques to correct urinary incontinence. Even with the improvement of incontinence, the findings were different regarding the improvement of sexual function, showing changes only in some FSFI domains, or no change. Only one study sought to investigate the direct relationship of the instruments, indicating a poor connection. On the other hand, the isolated search of the instruments, associated with specific descriptors, indicated that urinary incontinence is a determining factor for the deterioration of both quality of life and sexual function.

Conclusion:

The low number of productions and results found have shown that a deeper understanding of the subject is necessary for a justification and qualification of care for patients with urinary incontinence.

Keywords
Urinary incontinence; Women's health; Sexual behavior; Sexuality; Coitus

Introdução

Diversos desafios permeiam a assistência à saúde da população feminina portadora de distúrbios do assoalho pélvico. Modelos de cuidado focados apenas nos aspectos patológicos dessas condições promovem a perpetuação de dados psicossociais em suas portadoras. Dentre eles, a incontinência urinária (IU) é definida como uma condição onde ocorre alguma perda involuntária de urina. Desde 1998 não é mais considerada como apenas um sintoma, passando a ser parte da Classificação Internacional de Doenças (CID/OMS).(11. Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griffiths D, Rosier P, Ulmsten U, et al.; Standardisation Sub-Committee of the International Continence Society. The standardisation of terminology in lower urinary tract function: report from the standardisation sub-committee of the International Continence Society. Urology. 2003;61(1):37–49.) Possui etiologia multifatorial, onde condições como idade avançada, lesões traumáticas do assoalho pélvico, obesidade, menopausa, fatores hereditários, doenças crônicas, exercícios físicos de maior impacto, tabagismo e uso de medicamentos específicos são alguns dos fatores que podem favorecer a sua ocorrência.(22. Higa R, Lopes MH, dos Reis MJ. Fatores de risco para incontinência urinária na mulher. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(1):187–92.)

Não se trata de condição associada à risco de morte, entretanto, é capaz de gerar extremo impacto na vida das mulheres acometidas. Além do comprometimento clínico, a convivência com a IU também pode se tornar determinante para a ocorrência de isolamento social, sintomas de ansiedade, depressão e comprometimento da autoestima.(33. Lopes MH, Higa R. Restrições causadas pela incontinência urinária a vida da mulher. Rev Esc Enferm USP. 2006;40(1):34–41.)

Diante das inúmeras especificidades de tal condição de saúde, torna-se necessário a realização de assistência diferencial, que abranja tais mulheres além dos aspectos meramente clínicos da IU. Como alternativas para a realização de cuidado de maior amplitude, existem a estratégia de aplicações de questionários específicos. Desde 1997, recomenda-se que medidas de qualidade de vida fossem incluídas em todas as pesquisas clínicas sobre IU, como um complemento adicional aos tradicionais parâmetros clínicos.(44. Blaivas JG, Appell RA, Fantl JA, Leach G, McGuire EJ, Resnick NM, et al. Standards of efficacy for evaluation of treatment outcomes in urinary incontinence: recommendations of the Urodynamic Society. Neurourol Urodyn. 1997;16(3):145–7.)

Dentre os questionários específicos para a IU, podemos citar o Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Urinary Incontinence/Short Form (ICIQ-UI/SF). Ele foi traduzido e adaptado culturalmente em nosso país por Guillemin, no ano de 2004.(55. Tamanini JT, Dambros M, D’Ancona CA, Palma PC, Rodrigues Netto N Jr. Validação para o português do “International Consultation on Incontinence Questionnaire— short Form” (ICIQ-SF). Rev Saude Publica. 2004;38(3):438–44.) Possui domínios que permitem contemplar tanto a caracterização das queixas de quantificação, frequência e momentos nos quais ocorrem as perdas urinárias como a subjetividade da mulher acometida, através de sua percepção de quanto tal condição prejudica a sua vida. Um olhar diferencial para tais campos traduz-se como uma assistência de qualidade para essas mulheres.(66. Herrmann V, Di Sessa RG, Ricceto CL, Morais SS, Castro EB, Juliato CR. Associação entre o escore do International Consultation on Incontinence Questionaire: Urinary Incontinence/Short Form e a Avaliação Urodinâmica em mulheres com incontinência urinária. Rev Bras Ginecol Obstet. 2013;35(1):16–20.)

Um dos campos da vida afetados pela IU, normalmente pouco abordado, é o relacionado com a sua sexualidade. Tal termo, geralmente possui relação direta com o ato sexual em si, porém, seu sentido é mais amplo, pois envolve a ampla subjetividade do ser humano. Sua construção possui como embasamento aspectos sociais, culturais, crenças e ideologias e sua vivência pode ser diretamente afetada com a presença de uma doença como a incontinência urinária. A compreensão da vivência da sexualidade face a convivência das limitações ocasionadas pelas perdas urinárias, permite a construção de um cuidado especializado e qualificado que as mesmas tanto necessitam. Abordagens tardias e ineficazes dessa relevante questão podem gerar consequências de uma desistência completa da vida sexual por parte dessas mulheres.(77. Pacagnella RC, Martinez EZ, Vieira EM. Validade de construto de uma versão em português do Female Sexual Function Index. Cad Saude Publica. 2009;25(11):2333–44.)

Atuais propostas diagnósticas para a questão buscam compreender e atuar na questão de uma forma mais abrangente, contemplando os problemas sexuais em esferas além de olhares reducionistas clínicos, ao enfocar dimensões focadas com a subjetividade de suas portadoras.(88. Basson R, Leiblun S, Brotto L, Derogatis L, Fourcroy J, Fugl-Meyer K, e Graziottin A, Heiman JR, Laan E, Meston C, Schover L, van Lankveld J, Schultz WW. Definitions of women's sexual dysfunction reconsidered: advocating expansion and revision. J Psychosom Obstet Gynaecol. 2003.24(4):221-9.) A abordagem dos questionários também surge nessa temática como uma estratégia diferencial de assistência, dentro os quais destaca-se o Female Sexual Function Index (FSFI), que contempla a natureza multidimensional da função sexual feminina. De fácil aplicação, possui 6 domínios específicos e 19 perguntas, e, por meio dele, transforma percepções subjetivas em informações objetivas quantificáveis, permitindo o melhor conhecimento e atuação por parte dos profissionais de saúde.(77. Pacagnella RC, Martinez EZ, Vieira EM. Validade de construto de uma versão em português do Female Sexual Function Index. Cad Saude Publica. 2009;25(11):2333–44.)

Refletir e discutir acerca da relação desses dois aspectos da saúde da mulher, abordados por esses questionários que estão intimamente ligados, é imprescindível para a qualificação da assistência prestada para essas mulheres. Levanta-se, então, o seguinte questionamento: Quais as evidências científicas apresentadas na literatura nacional e internacional sobre a relação do ICIQ-UI/SF com o FSFI? Justifica-se tal inquietação devido a necessidade que essas mulheres possuem de um cuidado que contemple sua esfera biopsicossocial, tão afetada com a convivência com a IU e que tais campos abordados não podem ser negligenciados em detrimento de um cuidado reducionista, visando apenas aspectos clínicos. Conhecer o que já se foi realizado sobre a temática é o primeiro passo para a fundamentação de uma assistência adequada para a portadora de incontinência urinária. Diante disso, o estudo possui como objetivo analisar a produção científica nacional e internacional quanto à relação dos escores instrumentos ICIQ-UI/SF e FSFI na população feminina.

Métodos

Para o alcance do objetivo proposto, foi realizada uma revisão integrativa da literatura. O passo inicial deu-se a partir da vivência diária multiprofissional dos pesquisadores na abordagem de mulheres com incontinência urinária culminou, inicialmente, com a inquietação sobre a necessidade de uma abordagem diferencial no âmbito da incontinência urinária e sexualidade, levantando, assim, o seguinte problema de pesquisa: Quais as evidências científicas apresentadas na literatura nacional e internacional sobre a relação dos escores do ICIQ-UI/SF com o FSFI na população feminina?

Dessa forma, guiados pelas recomendações do PRISMA, foram iniciadas as buscas por evidências nas bases de dados eletrônicas. Foram utilizados os resultados encontrados na Scielo, PubMed, Scopus e Lilacs, durante os meses de dezembro a maio de 2018. Para evidenciar a interligação direta dos questionários, as buscas foram através da utilização de seus nomes como descritores da seguinte forma: (“ICIQ-UI/SF”) AND (“FSFI”). Diante dos baixo quantitativo encontrado, também optou-se por combinar os descritores no formato (“ICIQ-SF”) AND (“FSFI”), encontrando, dessa forma, outros achados que também contemplavam a temática. As buscas foram conduzidas sem limitações quanto ao tempo, idioma e disponibilidade completa em meios eletrônicos. Foi enfocado para os achados o nível de evidência mínimo 3 A para estudos observacionais segundo a classificação de Oxford.

Diante dos resultados encontrados, foram excluídas as pesquisas relacionadas com: incontinência urinária no sexo masculino, bexiga hiperativa e prolapso de órgãos pélvicos. Também foram excluídos os que não enfocavam majoritariamente a incontinência urinária como temática principal do estudo, tratando-a como evento secundário da presença de qualquer outra afecção. Além da aplicação desses critérios, também não foram incluídas as evidências as quais não obtivemos êxito na tentativa de aquisição da disponibilidade do texto completo para análise de sua adequação com os objetivos desse estudo, além das que não contemplavam o nível de evidência desejado.

Após aplicação das condições citadas, obtiveram-se os seguintes quantitativos de resultados, listados no quadro 1.

Quadro 1
Aspectos quantitativos dos resultados encontrados

As etapas de inclusão dos achados encontram-se listadas abaixo. É importantes salientar a exclusão de um único artigo elegível com texto completo da base de dados Scopus, pois, após sua aquisição, foi verificado que não contemplava os objetivos desse estudo (Figura 1).

Figura 1
Amostra dos artigos

Os achados encontrados foram agrupados em um quadro, e, para o maior detalhamento da produção encontrada, foram categorizados categorizando-a quanto: título, revista, local, ano de publicação, população, critérios de inclusão e exclusão e principais achados. Tais pontos específicos de extração de informações foram coletados por meio de um instrumento adaptado de Ursi,(99. Ursi ES, Gavão CM. Prevenção de lesões de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura. Rev Lat Am Enfermagem. 2006;14(1):124–31.) visando sua melhor organização e discussão com a literatura pertinente.

Resultados

A busca de estudos que abordassem a relação entre os escores dos instrumentos ICIQ-UI-SF e FSFI gerou 5 artigos científicos, produzidos entre os anos de 2006 a 2018, em diferentes países, predominante voltados para a área médico-cirúrgica, com o principal objetivo da aplicação de ambos os questionários para validar a efetividade de técnicas cirúrgicas e tratamentos de correção de perdas urinárias.

A população estudada eram mulheres portadoras de incontinência urinária, que aguardavam alguma modalidade de procedimento para correção de suas perdas urinárias. Predominaram entre os critérios de inclusão a presença de incontinência urinária de esforço e de vida sexual ativa. Como exclusão, também foi consenso entre os estudos a presença de incontinência urinária de urgência, condições clínicas que impossibilitassem de responder os questionários e presença de graus mais elevados de prolapso de órgãos pélvicos. Apenas um estudo deu ênfase a exclusão de mulheres que fizessem uso de medicações antidepressivas, antipsicóticas e betabloqueadores, relacionando os mesmos como influenciadores diretos da resposta sexual. A amostra média entre os estudos foi de 91 participantes.

A principal modalidade foi de estudos descritivos e transversais. Predominaram melhoras nos escores referentes à severidade da incontinência, porém, não visualizado um resultado padrão entre os escores indicativos da melhora do funcionamento sexual. Nenhum estudo buscou estudar se existia a relação direta entre os resultados dos questionários.

As principais evidências científicas encontram-se listadas no quadro 2.

Quadro 2
Resultados de evidências científicas da relação dos escores do ICIQ-UI/SF e FSFI

Discussão

As evidências existentes encontradas nos resultados não nos permitem levantar certezas que a melhora da incontinência urinária esteja diretamente ligada a uma melhora dos escores do FSFI, diante de alguns dados divergentes encontrados, onde não foi vista melhora ou apenas em alguns domínios. Tal retorno não desqualifica a técnica cirúrgica utilizada, porém, nos faz refletir que ao compreendermos a função sexual feminina como interação de vários fatores, onde os mais complexos são aqueles ligados a sua subjetividade das mesmas, tais mulheres apenas são uma tradução da contemplação reducionista do aspecto clínico da doença, sendo mais uma vítima da negligência do seu psicossocial que continuará padecendo de consequências maléficas.(1515. Queiroz MA, Crisóstomo LR, Coelho MM, Miranda KC, Barbosa RG, Bezerra ST. Representações sociais da sexualidade entre idosos. Rev Bras Enferm. 2015;68(4):662–7.)

O baixo quantitativo encontrado sobre a temática, que necessitou de buscas diferenciais para seu maior aprofundamento, demonstra a necessidade de mais estudos voltados para a relação do ICIQ-UI/SF X FSFI. Os achados demonstram a carência de abordagens para essas mulheres que não seja aplicada apenas quando a diante da realização de uma cirurgia. Oliveira(1616. Oliveira TM, Valdez FM, Lima KE, Magalhaes MS, Abdon AP, Bezerra IN. Prevalência de incontinência urinária e fatores associados em mulheres no climatério em uma unidade de atenção primária à saúde. Rev Bras Promoção Saúde. 2015;28(4):606–12.) em seu estudo realizado em uma unidade básica de saúde sobre a prevalência de incontinência urinária em mulheres climatéricas, buscou caracterizando-as quanto aspectos sociodemográficos e histórico de saúde, demonstrou que uma visão mais ampla sobre quem se cuida permite um melhor direcionamento da assistência desde a atenção básica.

Discutir sobre sexualidade, onde nas diferentes culturas permeiam uma série de concepções estigmatizadas não é algo simples. Quando se associa a uma condição como a incontinência urinária, geradora de diversas alterações psicossociais para suas portadoras, tal fato torna-se ainda mais complexo. Essa junção muitas vezes passa despercebida por parte dos profissionais que ainda não estão plenamente capacitados para essa abordagem junto dos seus pacientes, principalmente por também trazerem junto a si barreiras que não os permitem enxergar a urgência da necessidade da abordagem dessa temática com essas mulheres, seja em sua formação pessoal, devido a aspectos culturais pessoais e profissional, pautada em cuidados meramente clínicos sem foco na integralidade a quem assistem.(1717. Thiel RR, Dambros M, Palma PC, Thiel M, Riccetto CL, Ramos MF. Tradução para português, adaptação cultural e validação do Female Sexual Function Index. Rev Bras Ginecol Obstet. 2008;30(10):504–10.)

Sem o devido suporte para uma abordagem adequada dessa questão da sexualidade no contexto da incontinência urinária, mesmo com a correção dos sintomas, continuaremos vendo mulheres vítimas de uma cultura assistencial e social deturpada e de concepções errôneas que as farão seguir com o sentimento de incapacidade de sua expressão plena como seres humanos que são. Conhecer e discutir o que se tem realizado na área para esse contexto proporciona o subsídio e a esperança de um cuidado diferencial para as mesmas.

Como limitações da realização dessa revisão, nos chamou a atenção, diante da relevância dessa temática, a baixa quantidade de produções científicas realizadas em torno dessa temática e que tal realidade é global. Também merece destaque que além de se pouco abordar essa questão em pesquisas científicas foi evidenciado a predominância da categoria médica nas pesquisas sobre o assunto. A grandeza de especificidades dessa tão importante relação da incontinência urinária e disfunção sexual merece um olhar multiprofissional diferenciado pelas diversas profissões que realizam a assistência à saúde, para que se oferte a essas mulheres um cuidado verdadeiramente efetivo nas suas vidas.

Conclusão

A análise, reflexão e discussão das produções acerca da relação dos instrumentos ICIQ-UI/SF e FSFI demonstrou que, mesmo diante de um tema relevante para a saúde da população feminina, ainda padecemos mundialmente de um olhar superficial e fragmentado sobre a temática. Os achados reforçam a que é inegável a necessidade de um maior aprofundamento sobre a temática, para um embasamento de cuidado e sua consequente qualificação à assistência para portadoras de incontinência urinária, diante das inúmeras consequências que as mesmas podem padecer caso tal ação não ocorra.

Agradecimentos

Ao Programa de pós-graduação em ciências médico cirúrgicas, do departamento de Cirurgia, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior (CAPES) (bolsa de Mestrado para autor correspondente).

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    14 Jun 2018
  • Aceito
    15 Out 2018
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