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COVID-19 e as repercussões na saúde mental de gestantes: revisão integrativa

COVID-19 y las repercusiones en la salud mental de mujeres embarazadas: revisión integradora

Resumo

Objetivo

Identificar, a partir das evidências presentes na literatura, os impactos da COVID-19 na saúde mental de mulheres grávidas.

Métodos

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases de dados/biblioteca eletrônica MEDLINE, CINAHL, PUBCOVID19 e MEDRXIV. A busca aconteceu de forma pareada no mês de dezembro de 2020, com artigos disponíveis na íntegra abordando a saúde mental das grávidas na pandemia.

Resultados

Os estudos que compuseram a amostra foram publicados entre os meses de abril e dezembro de 2020 e nos 10 estudos incluídos, a depressão e a ansiedade são apontados como fatores impactantes na saúde das gestantes, tendo como elementos contribuintes o medo da COVID-19, estresse e preocupações associadas à pandemia.

Conclusão

Houve impacto na saúde mental das gestantes na pandemia com repercussões de ordem psicossocial, socioeconômica e de assistência à saúde. Nesse contexto, a abordagem do componente psicológico na consulta de enfermagem pode fazer a diferença na atenção à gestação.

Gravidez; COVID-19; Infecções por coronavírus; Saúde mental; Atenção à saúde

Resumen

Objetivo

Identificar, a partir de evidencias presentes en la literatura, los impactos del COVID-19 en la salud mental de mujeres embarazadas.

Métodos

Se trata de una revisión integradora de la literatura, realizada en las bases de datos/biblioteca electrónica MEDLINE, CINAHL, PUBCOVID19 y MEDRXIV. La búsqueda se realizó de forma pareada en el mes de diciembre de 2020, con artículos con texto completo disponible que abordaban la salud mental de embarazadas en la pandemia.

Resultados

Los estudios que formaron la muestra fueron publicados entre los meses de abril y diciembre de 2020. En los diez estudios incluidos, la depresión y la ansiedad son señaladas como factores impactantes en la salud de las mujeres embarazadas, donde los elementos contribuyentes son el miedo al COVID-19, el estrés y las preocupaciones relacionadas con la pandemia.

Conclusión

Hubo impacto en la salud mental de las mujeres embarazadas en la pandemia, con repercusiones de orden psicosocial, socioeconómica y de atención a la salud. En este contexto, el enfoque del componente psicológico en la consulta de enfermería puede marcar una diferencia en la atención al embarazo.

Embarazo; COVID-19; Infecciones por coronavírus; Salud mental; Atención a a salud

Abstract

Objective

To identify the impacts of COVID-19 on pregnant women’s mental health from evidence in the literature.

Methods

This is an integrative literature review performed in MEDLINE, CINAHL, PUBCOVID19 and MEDRXIV databases/electronic libraries. The search took place in pairs in December 2020, with articles available in full addressing pregnant women’s mental health in the pandemic.

Results

The studies that made up the sample were published between April and December 2020 and in the ten studies included, depression and anxiety were identified as factors exerting impact on pregnant women’s health, and the fear of COVID-19, stress and worries associated with the pandemic as contributing elements.

Conclusion

There was an impact on pregnant women’s mental health in the pandemic with psychosocial, socioeconomic and health care repercussions. In this context, the approach to the psychological component in the nursing consultation can make a difference in pregnancy care.

Pregancy; COVID-19; Coronavirus infections; Mental health; Health attencion

Introdução

Em dezembro de 2019 uma infecção surgiu em Wuhan na China e se disseminou rapidamente pelo mundo, sendo seu agente causador um novo coronavírus (SARS-COV-2). O vírus é responsável pela infecção humana considerada uma emergência de saúde mundial.(11. Liu Y, Gayle AA, Wilder-Smith A, Rocklöv J. The reproductive number of COVID-19 is higher compared to SARS coronavirus. J Travel Med. 2020;27(2):taaa021. Review.)

Alguns grupos e populações estão mais vulneráveis às complicações causadas pela COVID-19 incluindo gestantes e puérperas, pois estas têm maior potencial de risco para desenvolvimento de Síndrome Gripal, devendo seguir recomendações importantes para evitar seu contágio.(22. Brasil. Portal de Boas Práticas. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e Adolescente Fernandes Figueira (IFF). Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ministério da Saúde (MS). Nota Informativa nº 13/2020 – SE/GAB/SE/MS – Manual de Recomendações para a Assistência à Gestante e Puérpera frente à Pandemia de Covid-19. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/manual-de-recomendacoes-para-a-assistencia-a-gestante-e-puerpera-frente-a-pandemia-de-covid-19/
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz...
)

No entanto, as informações acerca da COVID-19 em mulheres grávidas ainda são inconsistentes, pois os estudos concentram-se potencialmente em outros grupos da população. Há um ambiente de incertezas, no qual investigações relacionadas ao potencial de transmissão vertical, se há sintomatologia distinta, entre outras questões, ainda devem ser elucidadas.(33. Chen H, Guo J, Wang C, Luo F, Yu X, Zhang W, et al. Clinical characteristics and intrauterine vertical transmission potential of COVID-19 infection in nine pregnant women: a retrospective review of medical records. Lancet. 2020;395(10226):809-15. Erratum in: Lancet. 2020;395(10229):1038.)

Somam-se a essas questões às mudanças de ordem biológica e psíquica esperadas nesta fase decorrentes principalmente de alterações hormonais, tornando essas mulheres mais suscetíveis ao adoecimento mental.(44. Prabhuswami H. Need for Psychological Assessment during Pregnancy - A Nursing Perspective. Glob J Nurs Forensic Stud. 2016;1(3):7.) Deste contexto de modificações podem emergir manifestações patológicas da saúde mental da mulher, que podem ser percebidas através de preocupações e intranquilidades, oscilações de humor, insônia, insegurança e ansiedade.(55. Bonassi SM, Melgaço DA. Somatização na gestação: a relação das ansiedades e impressões oníricas sob a perspectiva psicanalítica. Vínculo. 2020;17(1)138-63.)

Dentro dessa conjuntura de vulnerabilidade própria do período gestacional, outros eventos são associados ao transtorno mental, como a mulher não trabalhar nem estudar, não ter companheiro, ter dois ou mais filhos, sofrer internações durante a gestação e possuir alguma doença crônica associada.(66. Kassada DS, Waidman MA, Miasso AI, Marcon SS. Prevalence of mental disorders and associated factors in pregnant women. Acta Paul Enferm. 2015; 28(6):495-502.)

Nesse sentido, a pandemia acrescenta circunstâncias desafiadoras para o bem-estar psicológico. O medo de contrair a doença e esta ser transferida ao feto, alterações na rotina de consultas de pré-natal e restrições à presença de acompanhantes na maternidade se constituem fatores que podem contribuir para aumento do sofrimento psicológico em gestantes.(77. Preis H, Mahaffey B, Heiselman C, Lobel M. Vulnerability and resilience to pandemic-related stress among U.S. women pregnant at the start of the COVID-19 pandemic. Soc Sci Med. 2020;266:113348.)

Associa-se a isso outras implicações da pandemia, caracterizadas como fatores estressores, à saber, a insegurança das grávidas em acessar os serviços de saúde, prognósticos incertos, mensagens conflitantes das autoridades, dificuldades financeiras, perda do emprego, diminuição do salário, assim como as novas atribuições relacionadas ao cuidado com a família.(88. Kajdy A, Feduniw S, Ajdacka U, Modzelewski J, Baranowska B, Sys D, et al. Risk factors for anxiety and depression among pregnant women during the COVID-19 pandemic: a web-based cross-sectional survey. Medicine (Baltimore). 2020;99(30):e21279.)

Em meio às consequências advindas de um surto de doença, até então desconhecida, com risco de vida para as gestantes, os sentimentos de medo, incerteza, e estigmatização são recorrentes e se comportam como barreiras na busca por ajuda para se intervir de forma apropriada nos fatores psicológicos no período gestacional.(99. Wu Y, Zhang C, Liu H, Duan C, Li C, Fan J, et al. Perinatal depressive and anxiety symptoms of pregnant women during the coronavirus disease 2019 outbreak in China. Am J Obstet Gynecol. 2020;223(2):240.e1-240.e9.)

Dessa forma é necessário que os profissionais de saúde forneçam atenção à saúde mental das gestantes, sendo importante identificar as características dos principais fatores e sintomas associados às mudanças do estado psicossocial dessa população. Nesse contexto, sabe-se que o impacto da pandemia na saúde mental das gestantes ainda é pouco pesquisado de forma sistematizada na literatura acerca da temática.(1010. Moyer CA, Compton SD, Kaselitz E, Muzik M. Pregnancy-related anxiety during COVID-19: a nationwide survey of 2740 pregnant women. Arch Womens Ment Health. 2020;23(6):757-65.)

Diante do exposto investigações relacionadas às implicações da pandemia da COVID-19 na saúde mental durante a gravidez precisam de maiores esclarecimentos, visto que uma disfunção psicológica nesse período acarreta perigos maternos e fetais. Dessa forma, o estudo objetivou identificar, a partir das evidências presentes na literatura, os impactos da COVID-19 na saúde mental das mulheres grávidas.

Métodos

Tratou-se de uma revisão integrativa da literatura desenvolvida a partir das seguintes etapas: identificação do tema e construção da pergunta de pesquisa, estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos, categorização, avaliação dos estudos incluídos, interpretação dos resultados e apresentação da revisão.(1111. Mendes KD, Silveira RC, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm. 2008;17(4):758-64.) O estudo foi desenvolvido durante os meses de julho de 2020 a março de 2021, sendo norteado pela pergunta: quais os impactos da pandemia de COVID-19 na saúde mental de mulheres grávidas evidenciados pela literatura? A escolha dos descritores Medical Subject Headings (MeSH) adequados para responder à questão foi baseada na estratégia Population, Intervention, Comparison, Outcomes (PICO) (Quadro 1).

Quadro 1
Descritores do MeSH para os componentes da pergunta norteadora

Foram estabelecidos como critérios de inclusão: artigos originais, publicados no ano de 2020, considerando as publicações a partir de abril do mesmo ano, nos idiomas português, inglês e espanhol e que pudessem responder à pergunta de pesquisa. Documentos em formatos de editoriais, artigos de revisão ou reflexão, resumos, resenhas, relatos de experiência e artigos não disponíveis em texto completo foram excluídos. A busca na literatura foi realizada por dois pesquisadores durante o mês de dezembro de 2020, nas bases de dados Medical Literature Analyses and Retrieval System Online (MEDLINE), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), site PUBCOVID-19 e servidor público de pré-impressão popular (medRxiv). Destaca-se que utilizou-se o formulário de busca avançada nas bases de dados. Os operadores booleanos AND e OR foram utilizados para cruzamento dos descritores em inglês nas bases de dados: Pregnancy AND Coronavirus infections OR Covid-19 AND Mental health, sendo esse mesmo formato utilizado em todas as bases. Aplicou-se a classificação dos níveis de evidência segundo uma modificação da Agency for Health care Research and Quality (AHRQ): nível 1, revisão sistemática ou metanálise de ensaios clínicos randomizados controlados / diretrizes clinicas que contenham os estudos de revisão supracitados; nível 2, ensaio clinico randomizado controlado e bem delineado; nível 3, ensaio clinico controle, mas sem randomização; nível 4, estudos de caso-controle ou coorte bem delineados; nível 5, revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; nível 6, estudos descritivos ou qualitativos; e nível 7 opinião de especialistas.(1212. Melnyk BM, Fineout-Overholt E, Stillwell SB, Williamson KM. Evidence-based practice: step by step: igniting a spirit of inquiry: an essential foundation for evidence-based practice. Am J Nurs. 2009;109(11):49-52.) Para análise dos dados, as principais características dos estudos foram distribuídas em um quadro, possibilitando organização, reunião e sintetize das informações chaves.

Resultados

A busca resultou em 250 estudos encontrados, sendo 94 na MEDLINE, 27 na CINAHL, 12 no PUBCOVID-19 e 117 na medRxiv. Logo após, foram excluídos 193 estudos por não contarem os descritores do assunto em seus títulos e/ou resumos. Dos artigos restantes, ainda foram removidos 11 por duplicidade. Por fim, foram selecionadas 46 publicações para leitura na íntegra. Nesse momento verificou-se quais textos realmente respondiam à questão norteadora e possuíam discussão válida sobre a temática. Os estudos que apresentaram alguma discordância dos critérios de inclusão e exclusão foram reanalisados por um dos pesquisadores e, posteriormente, excluídos, restando 10 publicações. Cada etapa da pesquisa foi descrita por meio do fluxograma Preferred Reporting Itens for Sistematic Review and Meta-Análises (PRISMA), composto por quatro itens, recomendado para auxiliar pesquisadores na descrição e apresentação de revisões(1313. Galvão TF, Pansani TS, Harrard D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises: a recomendação PRISMA*. Epidemiol Serv Saúde. 2015;24(2):335-42.) como observado na figura 1.

Figura 1
Fluxograma de seleção dos estudos incluídos na revisão integrativa

Dos artigos selecionados dois foram desenvolvidos na china, enquanto, Turquia, Argentina, Estados Unidos, Irã, Áustria, Nigéria, Alemanha e Catar entregaram uma produção cada. Todos os estudos utilizaram como participantes mulheres grávidas, no entanto, um estudo avaliou, além das gestantes, puérperas, uma vez que respondeu à pergunta de pesquisa. Quanto ao período gestacional, em sete estudos foram incluídas mulheres em qualquer idade gestacional, um incluiu apenas gestantes com menos de 20 semanas de gestação, em outro havia apenas gestantes no terceiro trimestre e um artigo não citou essa informação. O quadro 2 apresenta a caracterização dos 10 estudos incluídos na revisão.

Quadro 2
Descrição dos estudos incluídos na revisão integrativa

Os achados apontaram a sintomatologia de depressão recorrente nas gestantes durante a pandemia.(1010. Moyer CA, Compton SD, Kaselitz E, Muzik M. Pregnancy-related anxiety during COVID-19: a nationwide survey of 2740 pregnant women. Arch Womens Ment Health. 2020;23(6):757-65.)Questões específicas foram consideradas influentes para o desenvolvimento do sintoma, incluindo conflitos familiares desencadeados pelo aumento do tempo de convivência, a possibilidade de falta de alimentos e preocupação com os entes queridos.(1010. Moyer CA, Compton SD, Kaselitz E, Muzik M. Pregnancy-related anxiety during COVID-19: a nationwide survey of 2740 pregnant women. Arch Womens Ment Health. 2020;23(6):757-65.) A ansiedade também foi descrita como alteração prevalente.(1010. Moyer CA, Compton SD, Kaselitz E, Muzik M. Pregnancy-related anxiety during COVID-19: a nationwide survey of 2740 pregnant women. Arch Womens Ment Health. 2020;23(6):757-65.)Alguns fatores são associados a este desfecho incluindo os aspectos obstétricos, como a interrupção das consultas pré-natais de forma presencial (p<0.0001), a necessidade de alteração do plano de parto (IC: 95%; p< 0.001) e, em algumas ocasiões, mudança do local do parto (IC: 95%; p=0.004).(1616. Liu X, Chen M, Wang Y, Sun L, Zhang J, Shi Y, et al. Prenatal anxiety and obstetric decisions among pregnant women in Wuhan and Chongqing during the COVID-19 outbreak: a cross-sectional study. BJOG. 2020;127(10):1229-40.)O relacionamento com o marido e o Índice de Massa Corpórea (IMC) esteve associado ao estado de depressão (p=0.02) e ansiedade (p=0.001) vivenciados pelas gestantes. Dessa forma, as mulheres com obesidade apresentaram escores aumentados de depressão e ansiedade.(1414. Ayaz R, Hocaoğlu M, Günay T, Yardımcı OD, Turgut A, Karateke A. Anxiety and depression symptoms in the same pregnant women before and during the COVID-19 pandemic. J Perinat Med. 2020;48(9):965-70.) Verificou-se o aumento do estresse entre as gestantes como fator importante de alteração do estado mental.(1010. Moyer CA, Compton SD, Kaselitz E, Muzik M. Pregnancy-related anxiety during COVID-19: a nationwide survey of 2740 pregnant women. Arch Womens Ment Health. 2020;23(6):757-65.)A perda de renda familiar, perda de creches, conflitos familiares e ausência do parceiro nas consultas de pré-natal foram relacionados a essa alteração, assim como a alta paridade e estar no terceiro trimestre da gestação.(1717. Nwafor JI, Okedo-Alex IN, Ikeotuonye AC. Prevalence and predictors of depression, anxiety, and stress symptoms among pregnant women during COVID-19-related lockdown in Abakaliki, Nigeria. Malawi Med J. 2021;33(1):54-8.)

O medo influenciou no estado mental das gestantes e esteve associado ao risco de autoinfecção e à contaminação de entes queridos. Outras alterações citadas foram os pensamentos negativos, de automutilação, desespero e preocupações relacionadas a inúmeros aspectos afetados pelo contexto pandêmico da COVID-19.(99. Wu Y, Zhang C, Liu H, Duan C, Li C, Fan J, et al. Perinatal depressive and anxiety symptoms of pregnant women during the coronavirus disease 2019 outbreak in China. Am J Obstet Gynecol. 2020;223(2):240.e1-240.e9.)

Discussão

A presença de depressão foi citada como importante alteração mental das mulheres no período aqui contextualizado. Observou-se também que o tempo prolongado da pandemia tem interação com a gravidade desses sintomas, e seus efeitos no bem-estar materno.(1515. López-Morales H, Del Valle MV, Canet-Juric L, Andrés ML, Galli JI, Poó F, et al. Mental health of pregnant women during the COVID-19 pandemic: a longitudinal study. Psychiatry Res. 2021;295:113567.) Fato também constatado por outro estudo, o qual evidenciou que o isolamento social provocado pela pandemia teve efeito significativo sobre os escores de depressão em grávidas.(2222. Durankuş F, Aksu E. Effects of the COVID-19 pandemic on anxiety and depressive symptoms in pregnant women: a preliminary study. J Matern Fetal Neonatal Med. 2020;18:1-7.)

Ademais, a depressão durante o pré-natal pode ter repercussões importantes na vida materna, como maior vulnerabilidade para o desenvolvimento de depressão pós-parto e estabelecimento de prejuízo na relação mãe/filho, afetando negativamente sua capacidade de interação.(2323. Morais AO, Simões VM, Rodrigues LS, Batista RF, Lamy ZC, Carvalho CA, et al. Sintomas depressivos e de ansiedade maternos e prejuízos na relação mãe/filho em uma coorte pré-natal: uma abordagem com modelagem de equações estruturais. Cad Saude Publica. 2017;33(6):e00032016.)

Os achados também revelaram que a pandemia da COVID-19 ampliou a ansiedade relacionada à gravidez em muitas mulheres, impactando diretamente em sua saúde mental, destacando-se a associação com a mudança para as consultas online.(1010. Moyer CA, Compton SD, Kaselitz E, Muzik M. Pregnancy-related anxiety during COVID-19: a nationwide survey of 2740 pregnant women. Arch Womens Ment Health. 2020;23(6):757-65.) Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo, onde verificou-se que a ansiedade maior com a saúde estava relacionada ao adiamento ou cancelamento de consultas.(2424. Shayganfard M, Mahdavi F, Haghighi M, Sadeghi Bahmani D, Brand S. Health Anxiety Predicts Postponing or Cancelling Routine Medical Health Care Appointments among Women in Perinatal Stage during the Covid-19 Lockdown. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(21):8272.)

O suporte social necessário às mulheres durante a gravidez foi extremamente prejudicado pela pandemia, sendo afetado principalmente pelo isolamento e afastamento de pessoas importantes. Dessa forma, a ausência desse apoio corroborou para o aparecimento da ansiedade.(1919. Farrell T, Reagu S, Mohan S, Elmidany R, Qaddoura F, Ahmed EE, et al. The impact of the COVID-19 pandemic on the perinatal mental health of women. J Perinat Med. 2020;48(9):971-6.)

Contudo, é importante destacar que a ansiedade pode estar comumente ligada ao processo gestacional, sendo associada a algumas variáveis como a ocupação da gestante, antecedentes obstétricos, ao desejo materno em relação à gravidez, ao tabagismo e utilização de drogas ilícitas.(2525. Silva MM, Nogueira DA, Clapis MJ, Leite EP. Anxiety in pregnancy: prevalence and associated factors. Rev Esc Enferm USP. 2017;51:e03253.)

Diante da complexidade do problema, alerta-se para a necessidade do profissional da atenção básica, especialmente o enfermeiro, estar atento à identificação precoce de alterações psicológicas, realizando acolhimento adequado às demandas detectadas, através da escuta e do diálogo, evitando que os sintomas passem despercebidos(2626. Araújo AB, Nunes AC, Pessoa AV, Gomes BC, Silva ER, Sousa LM, et al. Assistência de enfermagem a mulheres com ansiedade e depressão na gravidez: uma revisão integrative. Res Society Devel. 2020;9(10):e4349106961. Review.) ou se sobreponham aos que porventura possam aparecer em decorrência da pandemia instaurada pela COVID-19.

O medo, principalmente da contaminação pelo coronavírus, corresponde a outra questão que tem impacto no estado psicológico pré-natal.(21) Esse sintoma é influenciado por aspectos individuais, como a perda de rotinas, perda de emprego, busca de informações sobre a doença, e o risco de infecção de pessoas próximas, assim como a divulgação de mensagens pela mídia, que pode culminar em pânico e histeria.(2727. Mertens G, Gerritsen L, Duijndam S, Salemink E, Engelhard IM. Fear of the coronavirus (COVID-19): Predictors in an online study conducted in March 2020. J Anxiety Disord. 2020;74:102258.)

O estresse consistiu em outro sintoma apresentado pelas grávidas nessa fase de isolamento, este foi mais recorrente em mulheres com muitos filhos ou quando encontravam-se no último trimestre da gestação.(1717. Nwafor JI, Okedo-Alex IN, Ikeotuonye AC. Prevalence and predictors of depression, anxiety, and stress symptoms among pregnant women during COVID-19-related lockdown in Abakaliki, Nigeria. Malawi Med J. 2021;33(1):54-8.) Há evidências em outros estudos de que a pandemia por si só age como fator estressor e contribui para o sofrimento psicológico durante a gestação, sendo considerado um forte preditor de ansiedade comórbida e sintomas depressivos leves a graves.(2828. Liu CH, Erdei C, Mittal L. Risk factors for depression, anxiety, and PTSD symptoms in perinatal women during the COVID-19 Pandemic. Psychiatry Res. 2021;295:113552.)

Os conflitos familiares também foram citados como responsáveis pelo aumento do estresse nas gestantes.(1010. Moyer CA, Compton SD, Kaselitz E, Muzik M. Pregnancy-related anxiety during COVID-19: a nationwide survey of 2740 pregnant women. Arch Womens Ment Health. 2020;23(6):757-65.) Segundo estudo realizado com participantes de todos os estados brasileiros, em tempos de isolamento é comum a observação da ocorrência de algum estresse familiar, havendo relação significante com a quantidade de pessoas vivendo na casa.(3030. Bezerra AC, Silva CE, Soares FR, Silva JA. Factors associated with people’s behavior in social isolation during the COVID-19 pandemic. Cien Saude Colet. 2020;25(Supl1):2411-21.)

Uma preocupação recorrente entre as gestantes foi o bem-estar fetal, uma vez que as evidências em relação à transmissão vertical e os efeitos do vírus não são concretas, assim as mulheres percebem que existe o risco de infecção do bebê, debilitando ainda mais o seu estado mental.(88. Kajdy A, Feduniw S, Ajdacka U, Modzelewski J, Baranowska B, Sys D, et al. Risk factors for anxiety and depression among pregnant women during the COVID-19 pandemic: a web-based cross-sectional survey. Medicine (Baltimore). 2020;99(30):e21279.)

Conforme a análise dos dados do estudo, os fatores sociodemográficos têm contribuição na exacerbação de alterações da saúde mental materna durante a pandemia, como baixo nível socioeconômico, suporte social insuficiente e comportamentos de saúde precários.

Diante dessas questões é importante a busca de estratégias para identificação precoce de sintomas que apontem alteração da condição mental das grávidas, que possam subsidiar a avaliação dos riscos e necessidades de intervenções que garantam desfechos maternos e perinatais favoráveis.(3131. Lima MO, Tsunechiro MA, Bonadio IC, Murata M. Depressive symptoms in pregnancy and associated factors: longitudinal study. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):39-46.)

A temática aqui discutida pode trazer implicações na prática de enfermagem, uma vez que pode fornecer ao enfermeiro subsídios para a abordagem sobre componente psicológico durante a consulta de enfermagem, sendo esta, o espaço adequado para capturar e entender as expressões das questões diárias vivenciadas pelas gestantes, considerando-se também o componente pandêmico.

No entanto, algumas limitações devem ser citadas. A totalidade dos artigos se caracterizam por um nível de evidência baixo, com amostras não randomizadas. Por outro lado, há um recorte temporal relacionado ao fato de a pandemia ser recente, não havendo tempo para pesquisas mais robustas.

Conclusão

Os dados obtidos evidenciaram que a saúde mental das gestantes foi impactada pela pandemia e seus desdobramentos, incluindo o isolamento, as mudanças de consultas e conflitos familiares. Os sintomas depressivos e de ansiedade se sobressaíram, mas também apareceram de forma recorrente o estresse, o medo, pensamentos negativos e preocupações acerca de diversos aspectos relacionados à pandemia. Espera-se que o estudo fortaleça a prática da enfermagem na atuação frente aos problemas identificados, através das reflexões, discussões e apontamentos para as necessidades de buscar estratégias que identifiquem precocemente as grávidas com fatores de risco para alterações do bem-estar mental.

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Editado por

Editor Associado (Avaliação pelos pares): Thiago da Silva Domingos (https://orcid.org/0000-0002-1421-7468) Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    27 Maio 2021
  • Aceito
    7 Dez 2021
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