Qualidade de vida de cuidadores familiares de pessoas idosas acamadas

Calidad de vida de cuidadores familiares de adultos mayores encamados

Resumo

Objetivo

Avaliar a qualidade de vida dos cuidadores familiares e sua relação com as condições socioeconômicas, de saúde e de prestação de cuidado.

Métodos

Estudo transversal e analítico realizado na cidade de Palmas/TO, no período de 2020-2022, com amostra de 49 cuidadores familiares de idosos acamados. A qualidade de vida foi avaliada pelo instrumento “12-Item- Short- Form Health Survey” (SF-12). Para verificar a relação entre os componentes físico e mental e variáveis independentes, utilizou-se o Teste T.

Resultados

Os cuidadores apresentaram valores médios do componente físico de 43,26 pontos (IC 95%: 39,87 – 46,64) e no componente mental, de 50,98 pontos (IC 95%: 47,96 – 54,00). Encontraram-se diferenças significativas entre os escores do componente mental para disfunção familiar, consumo de bebida alcóolica e sobrecarga; e, entre o componente físico para multimorbidade, polifarmácia, índice de massa corpórea e sobrecarga.

Conclusão

Os achados deste estudo demonstraram relação entre condições sociais, de saúde, cuidado e qualidade de vida, concedendo assim conhecimento aos profissionais de saúde para orientá-los no planejamento de ações que visem a melhoria da qualidade de vida do cuidador.

Cuidadores; Idosos fragilizados; Família; Qualidade de vida; Pessoas acamadas

Resumen

Objetivo

Evaluar la calidad de vida de los cuidadores familiares y su relación con las condiciones socioeconómicas, de salud y de prestación de cuidado.

Métodos

Estudio transversal y analítico realizado en la ciudad de Palmas, estado de Tocantins, en el período 2020-2022, con una muestra de 49 cuidadores familiares de adultos mayores encamados. La calidad de vida fue evaluada mediante el instrumento “12-Item- Short- Form Health Survey” (SF-12). Se utilizó el test-T para verificar la relación entre los componentes físicos y mentales y las variables independientes.

Resultados

Los cuidadores presentaron un valor promedio del componente físico de 43,26 puntos (IC 95 %: 39,87 – 46,64) y del componente mental de 50,98 puntos (IC 95 %: 47,96 – 54,00). Se observaron diferencias significativas en la puntuación del componente mental en disfunción familiar, consumo de bebida alcohólica y sobrecarga; y en el componente físico, en multimorbilidad, polifarmacia, índice de masa corporal y sobrecarga.

Conclusión

Los resultados de este estudio demostraron que existe relación entre las condiciones sociales, de salud, cuidado y calidad de vida, lo que permite que los profesionales de la salud tengan conocimientos para la planificación de acciones que busquen mejorar la calidad de vida de del cuidador.

Cuidadores; Anciano frágil; Família; Calidad de vida; Personas encamadas

Abstract

Objective

To assess the quality of life of family caregivers and their relationship with socioeconomic, health and care conditions.

Methods

a cross-sectional and analytical study carried out in the city of Palmas/TO, in the period of 2020-2022, with a sample of 49 family caregivers of bedridden older adults. Quality of life was assessed by the instrument “12-Item- Short- Form Health Survey” (SF-12). To verify the relationship between physical and mental components and independent variables, the t-test was used.

Results

Caregivers presented mean values of the physical component of 43.26 points (95% CI: 39.87 – 46.64) and the mental component of 50.98 points (95% CI: 47.96 – 54.00). Significant differences were found between the scores of the mental component for family dysfunction, alcohol consumption and overload, and between the physical component for multimorbidity, polypharmacy, body mass index and overload.

Conclusion

The findings of this study demonstrated a relationship between social conditions, health, care and quality of life, thus granting knowledge to health professionals to guide them in planning actions aimed at improving caregivers’ quality of life.

Caregivers; Frail elderly; Family; Quality of life; Bedridden persons

Introdução

Evidencia-se que no final do século passado houve declínios nas taxas de mortalidade e fecundidade, este fator trouxe como grande desafio o envelhecimento populacional. Associada a transição demográfica surgem as doenças crônicas não transmissíveis, caracterizadas por tempo prolongado, que podem ocasionar a incapacidade funcional.(¹) Esse fator pode levar o idoso a uma demanda de cuidado a longo prazo e de auxílio no desenvolvimento de suas atividades cotidianas, necessitando assim de um cuidador.

Os cuidadores podem ser classificados como informais ou formais, sendo o informal aquele que dedica o cuidado sem remuneração e usualmente é um membro familiar; por outro lado, os formais são aqueles remunerados para desempenhar esta atividade.(²) A família costuma ser a principal fonte de apoio do idoso, prestando cuidados e assistência ao dependente.(³)

O processo de cuidar de alguém requer uma série de adaptações tanto para o cuidador quanto para o dependente. O cuidador familiar é aquele que assume a tarefa de cuidar na maioria das vezes de forma repentina, por ser o membro mais próximo e com uma relação afetiva mais íntima ou até mesmo por ser o único familiar e não ter opção. Geralmente, o cuidador inicia o desempenho das atividades sem domínio de técnicas e conhecimento relativo ao cuidado.(⁴)

Este fator torna a atividade mais árdua, pois gera desgaste proveniente da mudança do estilo de vida, com restrições em suas vidas pessoais e maior parte do tempo dedicado ao cuidado. Isto limita o convívio social, gerando assim uma sobrecarga e impactando diretamente na saúde e qualidade de vida do cuidador.(⁴-⁶)

A qualidade de vida é definida como “a percepção do indivíduo acerca de sua posição na vida, de acordo com o contexto cultural e o sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.(⁷) A literatura aponta vários fatores associados à qualidade de vida do cuidador, como: sexo, idade, escolaridade, recreação e lazer, falta de apoio familiar, residir com o idoso, alterações no sono, ansiedade, sofrimento psicológico, sobrecarga, nível de dependência do idoso, tempo exercendo a função de cuidador, ser cuidador principal, número de horas dedicadas ao cuidado, presença de sequelas e doenças no idoso.(³,⁶,⁸-¹⁴)

Levando em consideração o envelhecimento populacional e o aumento crescente de número de cuidadores, optou-se pela avaliação dos cuidadores familiares por serem os principais atores sociais envolvidos no processo de cuidar. O estudo é relevante pela necessidade do reconhecimento desse público de forma mais singularizada quanto às implicações causadas na qualidade de vida e ainda pela pouca visibilidade que se tem no contexto da saúde, em especial, na Atenção Primária à Saúde.

Esses atores sociais necessitam de melhor promoção de saúde, com atenção mais individualizada, para que se possa traçar intervenções direcionadas em que a equipe de saúde possa auxiliar no desenvolvimento de conhecimento contribuindo no bem-estar, autocuidado e assim podendo promover melhor qualidade de vida.

Dessa forma, este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida dos cuidadores familiares e sua relação com as condições socioeconômicas, de saúde e de prestação de cuidado.

Métodos

Estudo transversal e analítico realizado no município de Palmas-TO, Brasil, proveniente da pesquisa “Cuidadores de idosos dependentes no Município de Palmas”. A amostra foi calculada a partir dos seguintes critérios: poder amostral de 0,95, tamanho de efeito médio f=0,50, nível de significância de 5% e acréscimo de 10% ao valor inicial para perdas previstas, estimando assim o número mínimo de 49 cuidadores.

Foram incluídos cuidadores que eram membros familiares, possuíam idade igual ou superior a 18 anos e praticavam o cuidado a uma pessoa idosa (≥ 60 anos), que era acamada e cadastrada na Estratégia de Saúde da Família da zona urbana do município de Palmas. Excluíram-se os cuidadores ao qual não se conseguiu realizar o contato por três vezes consecutivas. Os cuidadores foram contatados via telefone para agendamento da visita domiciliar, que foi realizada juntamente com agente comunitário de saúde. Entrevistadores treinados aplicaram questionário semiestruturado, previamente testado, contendo informações sociodemográficas e de saúde. A entrevista foi realizada entre os meses de janeiro de 2020 a janeiro de 2022 e teve duração média de 90 minutos. Em virtude da pandemia, as coletas foram suspensas em março de 2020 e retomadas em outubro de 2021.

Para este estudo, a variável dependente foi a qualidade de vida, que foi mensurada pela escala “12-Item- Short- Form Health Survey” ou SF-12. Esta avalia oito dimensões diferentes, levando em consideração um período das quatro últimas semanas. Os seus escores permitem o cálculo de dois componentes separadamente: o escore do componente físico (ECF) e o componente mental (ECM). A pontuação da escala tem uma variação de 0 a 100, quanto menor a pontuação dos escores pior é considerada a qualidade de vida. Os maiores escores estão associados a melhora da qualidade de vida.(¹⁵,¹⁶)

Consideraram-se variáveis independentes as condições:

• Sociodemográficas e econômicas: sexo (masculino; feminino), idade (contínua), escolaridade (anos de estudo - contínua), estado marital (com companheiro; sem companheiro – solteiro, divorciado/separado, viúvo), renda familiar (≤ 1 salário-mínimo; > 1 salário-mínimo), coabita com o idoso (não; sim), parentesco com o idoso (cônjuge; filhos; nora/genro; netos; cuidador formal) e funcionalidade familiar (APGAR de famílias). O APGAR de Famílias é composto por cinco dimensões: Adaptation (adaptação), Partnership (companheirismo), Growth (desenvolvimento), Affection (afetividade) e Resolve (capacidade resolutiva). Os itens são pontuados de 0 a 2, sendo: sempre (2), algumas vezes (1), nunca (0). Sua pontuação tem uma variação de 0 a 10 e para critérios de análise foi considerado como disfuncionalidade familiar o idoso que apresentava somatório ≤6 pontos.(¹⁷)

• Saúde: multimorbidade (apresentar duas ou mais doenças crônicas: hipertensão arterial, asma, bronquite ou enfisema, diabetes, doenças cardiovasculares, osteoporose, doenças osteoarticulares, câncer e transtornos psiquiátricos); polifarmácia (≥ uso de 4 medicamentos contínuos), índice de massa corpórea – IMC (≤ 18,5 kg/m²: baixo peso; 18,5 a 24,9 kg/m²: eutrofia; e ≥ 25 kg/m²: excesso de peso), tabagismo (fumante e não fumante), prática de atividade física (prática de, no mínimo, 150 minutos semanais) e consumo de bebida alcoólica (baixo consumo: < um dia por semana); ingestão moderada/elevada (um ou mais dias por semana).

• Prestação de cuidado: dedicação diária ao cuidado (≤ 12 horas; > 12 horas), recebimento de capacitação ou formação para prestar o cuidado (não; sim), tempo de cuidado (≤ 4 anos; > 4 anos); recebimento de auxílio na prestação de cuidado (não; sim); e sobrecarga de cuidado.

A sobrecarga foi avaliada pela Escala de Zarit, que é composta por 22 afirmativas referentes a como as pessoas se sentem cuidando de outra pessoa. A escala varia entre 0 a 88 pontos, quanto maior a pontuação, maior o nível de sobrecarga do cuidador.(¹⁸) Neste estudo, considerou-se sobrecarga quando a pontuação foi igual ou superior a 21 pontos.(¹⁹)

Para a análise dos dados utilizou-se o Programa Stata versão 17^®. Para todos os testes estatísticos adotados considerou-se o p-valor ≤ 0,05. ECF e ECM foram testados para verificar a normalidade por meio do Teste Shapiro-Wilk. Para comparar as médias dos componentes da qualidade de vida e variáveis independentes qualitativas utilizou-se o Teste T. A correlação entre qualidade de vida e variáveis independentes quantitativas foi avaliada por meio do Teste de Correlação de Pearson.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Tocantins, sob parecer nº 3.138.324/2019, Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE): 00688118.0.0000.5519. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido após explicações verbais e escritas sobre o estudo.

Resultados

Um total de 49 cuidadores familiares responderam as questões relativas à qualidade de vida, dos quais 73,08% eram filhos, 13,46% cônjuges, 5,77% netos, 3,85% genros/noras e 3,85% irmãos. A maioria dos cuidadores familiares era do sexo feminino (83,67%), com média de idade de 51,02 anos e com 10,74 anos de estudo, possuía companheiro (69,39%), referiu renda familiar ≤ 1 salário-mínimo (58,62%), coabitava com o idoso (91,84%) e relatou boa funcionalidade familiar (70,83%) (Tabela 1). Em relação à qualidade de vida, os cuidadores apresentaram valores médios do componente físico de 43,26 pontos e no componente mental, de 50,98 pontos. Quanto aos aspectos socioeconômicos, observou-se diferença significante entre disfunção familiar e componente mental, conforme demonstrado na tabela 1.

Tabela 1
Caracterização dos cuidadores familiares de idosos acamados segundo componentes de qualidade de vida, aspectos demográficos e socioeconômicos (n=49)

Características	Total n(%)	Qualidade de vida
		ECF Média (IC 95%)	p-value	ECM Média (IC 95%)	p-value
Sexo			0,112		0,274
Masculino	8(16,33)	47,91(41,23 – 54,59)		53,05(44,49 – 61,62)
Feminino	41(83,67)	42,34(38,47 – 46,21)		50,47(45,41 – 55,52)
Idade, em anos (Média; DP)	51,02(11,51)	-0,26*	0,073	0,25*	0,081
Anos de estudo (Média; DP)	10,74(5,03)	0,187*	0,199	-0,22*	0,126
Estado marital			0,324		0,342
Com companheiro	34(69,39)	42,73(37,55 – 51,32)		50,57(46,92 – 54,22)
Sem companheiro	15(30,61)	44,43(38,67 – 46,80)		51,92(45,87 – 57,96)
Renda familiar (n=29)			0,468		0,077
≤ 1 salário-mínimo	17(58,62)	43,99(37,19 – 50,79)		52,64(47,87 – 57,41)
> 1 salário-mínimo	12(42,38)	44,33(39,90 – 48,75)		47,18(40,38 - 53,98)
Coabita com o idoso			0,308		0,412
Não	4(8,16)	46,12(33,04 – 59,19)		52,11(37,24 – 66,98)
Sim	49(91,84)	43,00(39,37 – 46,63)		50,88(47,67 – 54,09)
Disfunção familiar (n=48)			0,217		0,013
Não	34(70,83)	44,22(40,33 – 48,13)		52,88(49,84 – 55,91)
Sim	14(29,17)	41,24(33,33 – 49,15)		45,57(39,15 – 52,99)
Total	49(100,00)	43,26(39,87 – 46,64)		50,98(47,96 – 54,00)

• ECF - escore do componete físico; ECM - escore do componente mental; DP – desvio padrão; IC – intervalo de confiança. *Teste de correlação de Pearson para as variáveis idade e anos de estudos. Para as demais variáveis, utilizou-se o Teste T

Na tabela 2 são descritos os resultados segundo os componentes de qualidade de vida e condições de saúde. Houve predomínio de cuidadores não tabagistas (77,55%), sedentários (91,84%), que tinham baixo consumo de bebidas alcoólicas (81,63%), não possuíam multimorbidade (69,39%), não faziam uso de polifarmácia (87,76%) e apresentavam excesso de peso (68,29%). Encontram-se diferenças significativas entre os escores médios ECF para multimorbidade (p=0,003), polifarmácia (p= 0,003) e índice de massa corpórea (p=0,012), enquanto para o ECM e consumo de bebida alcóolica (p=0,038).

Tabela 2
Descrição dos cuidadores familiares de idosos acamados segundo componentes de qualidade de vida e condições de saúde (n=49)

Características	Total n(%)	Qualidade de vida
		ECF Média(IC 95%)	p-value	ECM Média(IC 95%)	p-value
Tabagismo			0,398		0,455
Não	38(77,55)	43,02(38,96 – 47,07)		50,89(47,33 – 54,45)
Sim	11(22,45)	44,08(37,29 – 50,86)		51,30(44,69 – 57,90)
Prática de exercícios físicos			0,27/9		0,210
Não	45(91,84)	43,55(40,06 – 47,05)		50,62(47,53 – 53,70)
Sim	4(8,16)	39,90(16,43 – 63,37)		55,08(32,88 – 77,28)
Consumo de bebidas alcóolicas			0,419		0,038
Baixo consumo	40(81,63)	43,09(39,23 – 46,95)		52,24(48,97 – 55,50)
Moderado consumo	9(18,37)	43,99(35,50 – 52,47)		45,39(37,24 – 53,54)
Multimorbidade			0,003		0,287
Não	34(69,39)	46,29(42,61 – 49,97)		51,55(48,31 – 54,79)
Sim	15(30,61)	36,38(29,79 – 42,95)		49,69(42,42 – 56,97)
Polifarmácia			0,001		0,579
Não	43(87,76)	44,53(41,09 – 47,97)		51,09(48,04 – 54,15)
Sim	6(12,24)	34,09(20,49 – 47,70)		50,17(34,26 – 66,08)
Índice de Massa corpórea (n=41)			0,012		0,214
Eutrofia	13(31,71)	49,75(44,03 – 55,47)		49,43(43,04 – 55,82)
Excesso de peso	28(68,29)	40,32(35,30 – 45,35)		52,24(48,19 – 56,29)
Total	49(100,00)	43,26(39,87 – 46,64)		50,98(47,96 – 54,00)

• ECF - escore do componete físico; ECM - escore do componente mental; DP – desvio padrão; IC – intervalo de confiança. O p-value foi obtido pelo teste T

Em relação à prestação de cuidado, 82,63% dos cuidadores dedicavam mais de 12 horas diárias, 69,39% recebiam ajuda de alguém para desempenhar o cuidado, 51,02% referiram um tempo de cuidador ≤ 4 anos e 77,78% mencionaram sobrecarga de cuidado. Houve relação significativa entre sobrecarga e os componentes de qualidade de vida. Cuidadores com sobrecarga de cuidado apresentaram menores escores tanto no ECF e no ECM quando comparados àqueles sem sobrecarga (Tabela 3).

Tabela 3
Caracterização dos cuidadores familiares de idosos acamados segundo componentes de qualidade de vida e prestação de cuidado (n=49)

Características	Total n(%)	Qualidade de vida
		ECF Média(IC 95%)	p-value	ECM Média (IC 95%)	p-value
Dedicação diária no cuidado			0,241		0,389
≤ 12 horas	9(18,37)	45,78(36,66 – 54,91)		50,08(40,82 – 59,34)
> 12 horas	40(81,63)	42,69(38,90 – 46,47)		51,18(47,89 – 54,47)
Recebe ajuda de alguém			0,282		0,467
Não	15(30,61)	41,77(34,23 – 49,31)		51,17(45,32 – 57,03)
Sim	34(69,39)	43,91(40,05 – 47,76)		50,89(47,19 – 54,61)
Tempo de cuidado			0,339		0,358
≤ 4 anos	24(48,98)	43,98(39,33 – 48,62)		50,42(45,85 – 54,98)
> 4 anos	25(51,02)	42,56(37,32 – 47,80)		51,52(47,23 – 55,82)
Sobrecarga de cuidado			0,034		0,012
Não	16(22,22)	47,66(42,78 – 52,54)		55,76(52,07 – 59,45)
Sim	33(77,78)	41,12(36,70 – 45,53)		48,66(44,68 – 52,64)
Total	49(100,00)	43,26(39,87 – 46,64)		50,98(47,96 – 54,00)

• ECF - escore do componete físico; ECM - escore do componente mental; DP – desvio padrão; IC – intervalo de confiança. O p-value foi obtido pelo teste T

Discussão

Os cuidadores familiares avaliados são, em sua maioria, mulheres, filhas e adultas de meia idade, características semelhantes foram identificadas em outras pesquisas.(²,⁴-⁶,⁸,⁹,²⁰,²¹)

Em decorrência da cultura do cuidado, os filhos são as principais fontes de apoio como forma de retribuição dos cuidados realizados pelos pais aos filhos quando crianças.(²⁰,²²) Ademais, o cuidado está associado às mulheres em decorrência da atenção à casa, família, filhos e parentes, ou pode se dar pela proximidade da relação afetiva e grau de parentesco entre o cuidador e o dependente.(⁶)

A atividade do cuidado somada as atividades cotidianas desempenhadas pelos cuidadores exigem uma série de competências que podem tornar esse trabalho árduo, impactando de forma física, gerando estresse, comprometimento da saúde e da qualidade de vida.(³, ¹²)

Em relação à qualidade de vida, notou-se que os cuidadores familiares apresentaram maiores pontuações médias no ECM quando comparado ECF. O ECM envolve a saúde mental, aspectos emocionais, aspectos sociais e vitalidade,(¹⁵) e sinaliza o equilíbrio no relacionamento entre o cuidador e o idoso, bem como os esforços cognitivos e comportamentais para lidar com as exigências do cuidar.

Os achados evidenciaram que cuidadores com boa funcionalidade familiar apresentaram melhor pontuação no ECM. A funcionalidade familiar refere-se as relações interpessoais que caracterizam a identidade da família, relacionando-se com a capacidade de resolução de problemas e forma de demonstração de afeto.(²²) Destaca-se que a funcionalidade familiar foi a única condição socioeconômica relacionada à qualidade de vida neste estudo. A qualidade de vida do cuidador tem relação intrínseca com uma boa funcionalidade familiar, uma vez que, no cuidado com a pessoa dependente, o bom relacionamento familiar, o apoio social prestado pela familia ao cuidador e a maturidade familiar são características chaves que facilitam a divisão e auxílio de cada membro da família na realização do cuidado.(²³)

Entretanto, se somente um membro da família estiver envolvido no desempenho de múltiplas atividades pode ocasionar disfunções emocionais e biomecânicas, propiciando assim uma situação de vulnerabilidade para os cuidadores, desencadeando estresse.(¹⁴,²³-²⁵)

Autores sugerem que o estresse derivado do cuidado pode levar os cuidadores a consumirem bebidas alcóolicas.(²⁶) No presente estudo, notou-se que cuidadores consumidores de bebidas alcóolicas de forma moderada/elevada apresentaram piores médias do ECM. Diante desse comportamento, torna-se necessário a compreensão do uso problemático de álcool durante a assistência ao cuidador a fim de propor maneiras de ajudar a prevenir riscos à saúde do cuidador quanto ao receptor de cuidado, por estar mais vulnerável a situações de violência e negligência de cuidado.

No que tange ao ECF, envolve aspectos como dor e desconforto, sono e repouso, mobilidade física, atividades da vida cotidiana, dependência de medicações, entre outros.(¹⁶) Tendo em vista que os cuidadores estavam em processo de envelhecimento, os tornam mais suscetíveis a condições e doenças crônicas, que impactam na saúde física do cuidador.

Estudo realizado em Vitória da Conquista, Bahia, com cuidadores informais de idosos, evidenciou que existe uma associação estatisticamente significativa entre o domínio físico e a presença de problemas de saúde.(²⁷) Resultado semelhante ao encontrado neste estudo, uma vez que cuidadores com multimorbidade apresentaram menores ECF. As doenças crônicas exigem atividades diárias de autogerenciamento e os cuidadores podem ter menos probabilidade de adesão ao controle terapêutico.

Ainda o ECF, relacionou-se com polifarmácia, sedentarismo e excesso de peso, no qual os cuidadores com tais condições apresentaram menores escores quando comparados ao que não tinham. A prestação de cuidados desvia a atenção e o cuidado de si tende a não ser prioridade. E como ônus do déficit do autocuidado, os cuidadores estão mais propensos a apresentar piora na saúde física, como insônia, ganho de peso corporal e tendem a adiar a procura de cuidados médicos necessários; na saúde emocional, como ansiedade, sintomas depressivos, sobrecarga, desencadeando alterações na qualidade de vida do cuidador.(⁸,⁹,²³,²⁵-²⁹)

A sobrecarga reflete os níveis tensionais associados ao cuidado e é explicada pela combinação condições relativas ao perfil do cuidador, contexto de cuidado, enfrentamento e apoio, e às manifestações do estresse.(²⁹) Vários autores demonstraram a relação negativa entre sobrecarga e qualidade de vida, ou seja, quanto maior o nível de sobrecarga, menor será a qualidade de vida do cuidador.(⁹,²⁴,³⁰) Os achados deste estudo evidenciaram essa relação tanto ao ECF quanto ao ECM, no qual cuidadores com sobrecarga apresentaram menores valores médios para os escores de qualidade de vida.

Dentre as limitações do estudo, aponta-se que a amostra foi constituída por cuidadores familiares de idosos acamados e não podem ser generalizáveis para aqueles de contextos diferentes. Os achados não podem ser interpretados como causais. Os resultados aqui relatados sugerem a necessidade de pesquisas que compreendam melhor os fatores de risco que comprometem a qualidade de vida de cuidadores familiares.

Conclusão

Os achados desta pesquisa evidenciaram relação entre qualidade de vida e condições sociais, de saúde e cuidado. Escores do componente mental relacionaram-se com disfunção familiar e consumo de bebida alcóolica; e do componente físico com multimorbidade, polifarmácia e índice de massa corpórea. Cuidadores com sobrecarga de cuidado apresentaram piores escores tanto no ECM quanto no ECF da qualidade de vida. Ressalta-se que os fatores relacionados à qualidade de vida são norteadores para os profissionais de saúde na identificação dos indicadores, no planejamento e na implementação de estratégias de prevenção e promoção de autocuidado aos cuidadores familiares, a fim de proporcionar efeitos benéficos na qualidade de vida.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins pelo financiamento da pesquisa.

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Editado por

Editor Associado (Avaliação pelos pares): Rafaela Gessner Lourenço (https://orcid.org/ 0000-0002-3855-0003) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  06 Fev 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  22 Fev 2022
• Aceito
  20 Jun 2022