Acessibilidade / Reportar erro

Cuidados de enfermagem com crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa: revisão sistemática

Cuidados de enfermería a niños y adolescente con epidermólisis ampollosa: revisión sistemática

Resumo

Objetivo

Analisar a produção científica referente às ações/Intervenções de Enfermagem no ambiente hospitalar relacionadas ao cuidado com crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa.

Métodos

Revisão sistemática, cuja busca se deu nas bases Cinahl, MEDLINE®/PubMed®, SCOPUS, LILACS e SciELO, realizada no período de setembro de 2020 a janeiro de 2021. Para a busca, foram utilizados os descritores “epidermólise bolhosa” AND “criança” AND “adolescente” AND “enfermagem”, nas bases Lilacs e SciELO, e “epidermolysis bullosaANDchildrenANDadolescentAND, “nursing” nas demais bases em inglês.

Resultados

Houve maior registro de artigos publicados com base na pergunta norteadora tendo como país de origem os Estados Unidos (22%). A maioria da classificação era no nível VI (44%) da evidência científica. Ainda, 86% dos estudos envolveram pesquisas para o plano de cuidados. As evidências encontradas decorreram de opiniões de especialistas, estudos de casos e consenso. Os fatores de cuidados mais citados foram planos de cuidados voltados à pele; troca de fraldas; cuidados com as roupas e uso de coberturas antiaderentes.

Conclusão

As pesquisas reportaram dificuldades quanto à disponibilidade de materiais, tratamento e profissionais especializados, além das limitações dos conhecimentos na prática clínica voltada às características da epidermólise bolhosa. Dentre os cuidados, houve destaque para informação sobre a complexidade e as características da ferida como forma de antecipar as estratégias de cuidado.

Epidermólise bolhosa; Cuidados de enfermagem; Criança; Adolescente

Resumen

Objetivo

Analizar la producción científica referente a las acciones/intervenciones de enfermería en el ambiente hospitalario relacionadas con el cuidado a niños y adolescentes con epidermólisis ampollosa.

Métodos

Revisión sistemática, cuya búsqueda se realizó en las bases Cinahl, MEDLINE®/PubMed®, SCOPUS, LILACS y SciELO, realizada en el período de septiembre de 2020 a enero de 2021. Para la búsqueda se utilizaron los descriptores “epidermólisis ampollosa” AND “niño” AND “adolescente” AND “enfermería”, en las bases Lilacs y SciELO, y “epidermolysis bullosaANDchildrenANDadolescentAND, “nursing” en las demás bases en inglés.

Resultados

Con base en la pregunta orientadora, hubo un mayor registro de artículos publicados que tenían como país de origen Estados Unidos (22 %). La mayoría de la clasificación era de nivel VI (44 %) de la evidencia científica. Además, el 86 % de los estudios incluyeron investigaciones en el plano de los cuidados. Las evidencias encontradas derivaban de opiniones de especialistas, estudios de casos y consenso. Los factores de cuidados más citados fueron planos de cuidados orientados a la piel, cambio de pañales, cuidados con la ropa y uso de coberturas antiadherentes.

Conclusión

Las investigaciones indicaron dificultades en cuanto a la disponibilidad de material, tratamiento y profesionales especializados, además de las limitaciones de conocimientos en la práctica clínica orientada hacia las características de la epidermólisis ampollosa. Entre los cuidados, se destacó la información sobre la complejidad y las características de la herida como forma de anticipar las estrategias de cuidado.

Epidermólisis ampollosa; Atención de dnfermería; Niño; Adolescente

Abstract

Objective

To analyze the scientific production regarding actions/Nursing Interventions in hospital environments related to the care of children and adolescents with epidermolysis bullosa.

Methods

This is a systematic review, which was searched in the CINAHL, MEDLINE®/PubMed®, Scopus, LILACS and SciELO databases, carried out from September 2020 to January 2021. For the search, the descriptors “epidermólise bolhosa” AND “criança” AND “adolescente” AND “enfermagem” were used, in Portuguese, in the LILACS and SciELO databases, and “epidermolysis bullosa” AND “children” AND “adolescent” AND “nursing” in the other databases.

Results

There was a greater number of articles published based on the guiding question having the United States as the country of origin (22%). Most of the classification was at level VI (44%) of scientific evidence. Still, 86% of studies involved research for the care plan. The evidence found resulted from expert opinions, case studies and consensus. The most cited care factors were skin care plans, diaper changing, clothing care and non-stick coating use.

Conclusion

The surveys reported difficulties regarding the availability of materials, treatment and specialized professionals, in addition to limitations of knowledge in clinical practice focused on the characteristics of epidermolysis bullosa. Among the care, there was emphasis on information about the wound complexity and characteristics as a way of anticipating care strategies.

Epidermolysis bullosa; Nursing care; Child; Adolescent

Introdução

“Epidermólise bolhosa” é o nome dado a um grupo de genodermatose, sendo clinicamente classificada em quatro subtipos geneticamente diferentes: hereditária, não contagiosa, rara e crônica e sem cura. Suas características são: formações de bolhas; mutação em proteínas estruturais epiteliais acarretando fragilidade à pele; e rupturas, com grande variabilidade genética.(11. Debra Brasil. O que é epidermólise bolhosa? Santa Catarina: Debra Brasil; 2018 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/
https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/...
,22. Mariath LM, Santin JT, Schuler-Faccini L, Kiszewski AE. Inherited epidermolysis bullosa: update on the clinical and genetic aspects. An Bras Dermatol. 2020;95(5):551–69.)Considerando tais características, existem aproximadamente 500 mil pacientes com epidermólise bolhosa em todo o mundo, em sua maioria crianças.(33. Uitto J, Bruckner-Tuderman L, Christiano AM, McGrath JA, Has C, South AP, et al. Progress toward treatment and cure of epidermolysis bullosa. J Invest Dermatol. 2016;136(2):352–8.)

De acordo com estimativas da Dystrophic Epidermolysis Bullosa Research Association of America (Debra of America), a incidência de epidermólise bolhosa é de aproximadamente 19,57 casos por milhão de nascidos vivos.(44. Fine JD. Epidemiology of inherited epidermolysis bullosa based on incidence and prevalence estimates from the National Epidermolysis Bullosa Registry. JAMA Dermatol. 2016;152(11):1231–8.) No Brasil, estima-se que existam aproximadamente 1.600 pessoas com epidermólise bolhosa, em sua maioria crianças e adolescentes.(11. Debra Brasil. O que é epidermólise bolhosa? Santa Catarina: Debra Brasil; 2018 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/
https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/...
)

Apesar da relevância significativa desse problema, o manejo dos cuidados da epidermólise bolhosa é um desafio diante dos cuidados de enfermagem, devido à complexidade e à variedade de suas manifestações. Além do mais, a imaturidade da pele do recém-nascido com epidermólise bolhosa exige cuidados especializados, pois sua fragilidade provoca a ruptura da pele, com formação de bolhas ao mínimo atrito. A epiderme se rompe por conta do aumento da temperatura espontânea, causando bolhas que podem variar de leve a grave, conforme o subtipo de epidermólise bolhosa.(55. Chernyshov PV, Marron SE, Tomas-Aragones L, Pustišek N, Gedeon I, Suru A, et al. Initial validation of the epidermolysis bullosa-specific module of the Infants and Toddlers Dermatology Quality of Life Questionnaire. Dermatol Ther. 2020;33(6):e14128.)

A pele saudável contém uma camada de proteínas, denominada colágeno, capaz de mantê-la íntegra e a qual é responsável pela união das células da camada mais superficial da pele com a camada mais interna, proporcionando resistência e tendo uma função protetora. Nas pessoas diagnosticadas com epidermólise bolhosa, esse colágeno é ausente ou está alterado, ocasionando ruptura e formação de bolhas na pele.(11. Debra Brasil. O que é epidermólise bolhosa? Santa Catarina: Debra Brasil; 2018 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/
https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/...
,55. Chernyshov PV, Marron SE, Tomas-Aragones L, Pustišek N, Gedeon I, Suru A, et al. Initial validation of the epidermolysis bullosa-specific module of the Infants and Toddlers Dermatology Quality of Life Questionnaire. Dermatol Ther. 2020;33(6):e14128.,66. Mellerio JE, El Hachem M, Bellon N, Zambruno G, Buckova H, Autrata R, et al. Emergency management in epidermolysis bullosa: consensus clinical recommendations from the European reference network for rare skin diseases. Orphanet J Rare Dis. 2020;15(1):142.)

Destarte, a principal característica de epidermólise bolhosa é o surgimento de lesões crônicas na pele que, em geral, são pequenas, numerosas, dolorosas, desconfortáveis e com exsudato. Os subtipos de naturezas mais graves da epidermólise bolhosa provocam sofrimento físico e emocional à criança e ao adolescente. Estão frequentemente interligados com o envolvimento cutâneo da lesão e podem lesionar olhos, nariz, mucosa oral, dentição, tratos gastrintestinais e geniturinário e sistema musculoesquelético, além de causar desequilíbrios metabólicos, como desnutrição e anemia.(22. Mariath LM, Santin JT, Schuler-Faccini L, Kiszewski AE. Inherited epidermolysis bullosa: update on the clinical and genetic aspects. An Bras Dermatol. 2020;95(5):551–69.)

Por isso, a qualidade de vida das crianças e dos adolescentes é afetada pela epidermólise bolhosa, carecendo de uma assistência integrada, especializada e individualizada nos cuidados de saúde, sobretudo do profissional enfermeiro.(66. Mellerio JE, El Hachem M, Bellon N, Zambruno G, Buckova H, Autrata R, et al. Emergency management in epidermolysis bullosa: consensus clinical recommendations from the European reference network for rare skin diseases. Orphanet J Rare Dis. 2020;15(1):142.) São grandes os desafios diante das Intervenções de Enfermagem (IEs), como variabilidade do plano de cuidado, gestão individualizada; e disponibilidade de produtos específicos, que geralmente têm alto custo para o orçamento da família e os hospitais; conhecimento específicos sobre a complexidade da doença e cuidados especializados com a lesão.(77. Grocott P, Blackwell R, Weir H, Pillay E. Living in dressings and bandages: findings from workshops with people with Epidermolysis bullosa. Int Wound J. 2013;10(3):274–84.,88. Adni T, Martin K, Mudge E. The psychosocial impact of chronic wounds on patients with severe epidermolysis bullosa. J Wound Care. 2012;21(11):528–38.)

O enfermeiro possui conduta relevante, uma vez que participa de forma integral dos cuidados com a saúde desses pacientes, seja para controle e alívio da dor; observação dos sinais clínicos; manuseio; realização de curativos; mudança de decúbito e redução do prurido, como para orientação quanto aos cuidados com a lesão; alimentação e prevenção de complicações, com planejamento assistencial da enfermagem e instrução dos cuidados às famílias/cuidadores.(99. Pitta AL, Magalhães RP, Silva JC. Congenital Epidermolysis Bullosa- importance of nursing care. Cuid Arte Enferm. 2016;10(2):201–8.)

O cuidado dessas crianças e adolescentes em período pandêmico deve ser cauteloso, redobrando as medidas de prevenção e proteção, tendo em vista sua suscetibilidade aos agravos. Pesquisas apontam que o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) entra nas células hospedeiras usando a proteína spike para se ligar ao receptor celular da enzima conversora de angiotensina (ECA), o qual é manifestado nos capilares da pele, na camada basal de queratinócitos, nas glândulas écrinas, na mucosa e no epitélio nasal, o que aumenta a vulnerabilidade dessas crianças e adolescentes ao vírus.(1010. Ramirez-Quizon M, Murrell DF. Managing epidermolysis bullosa during the coronavirus pandemic: experience and ideals. Clin Dermatol. 2021;39(3):369–73.

11. Murrell DF, Lucky AW, Salas-Alanis JC, Woodley DT, Palisson F, Natsuga K, et al. Multidisciplinary care of epidermolysis bullosa during the COVID-19 pandemic-Consensus: recommendations by an international panel of experts. J Am Acad Dermatol. 2020;83(4):1222–4.
-1212. Lyu X, Li H, Liu H, Chou H, Li T, Zhou W. Genetic analysis of a child with recessive dystrophic epidermolysis bullosa due to compound heterozygous variants of (COL7A1 gene. Zhonghua Yi Xue Yi Chuan Xue Za Zhi. 2020;37(4):445–8.)

O cenário pandêmico é desafiador, tanto para a família/criança-adolescente, quanto para os profissionais da enfermagem, devido a grande complexidade do cuidado, aliado às limitações que a pandemia gerou, como isolamento e dificuldade de acesso aos hospitais, havendo carência de cuidados holísticos e especializados.(1313. Benício CD, Carvalho NA, Santos JD, Nolêto IR, Luz MH. Epidermólise bolhosa: foco na assistência de Enfermagem. ESTIMA. 2016;14(2):91-8. Review.)

Dessa forma, para que esse cuidado possa se fundamentar em bases sólidas, é imprescindível o desenvolvimento de pesquisas com vistas à busca de evidências, mas ainda são escassos estudos na literatura científica e relacionados às IEs no ambiente hospitalar direcionadas aos cuidados com as crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa.(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.)

Desse modo, a fim de viabilizar, de forma clara e explícita, evidências sobre cuidados de enfermagem com crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa, emergiu o seguinte questionamento: o que vem sendo produzido sobre as ações/IEs no ambiente hospitalar relacionadas aos cuidados de crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa?

Para responder essa questão, objetivou-se analisar a produção científica referente às ações/IEs no ambiente hospitalar relacionadas ao cuidado com crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa.

Métodos

Revisão sistemática da literatura, construída com base nos Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA).(1515. Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ. 2021;372:n71.) Para a elaboração da questão de pesquisa, seguiram-se as recomendações do Instituto Joanna Briggs, utilizando-se a estratégia PICo, sendo P para população, I para intervenção e Co para contexto, para a formulação da pergunta da revisão, na qual P correspondeu a crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa; I à ação/IE e Co ao contexto hospitalar. A partir disso, formulou-se a seguinte questão: Quais são as ações/IEs no cuidado com a criança e adolescente com epidermólise bolhosa no período de hospitalização? Foi utilizado o Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) para acessar as seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE®), Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature (Cinahl), PubMed®, Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Scopus.

A busca dos artigos foi realizada entre setembro de 2020 e janeiro de 2021, seguindo-se as demais fases da pesquisa. Foram utilizados os descritores indexados no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH) em português e inglês, combinados por meio do operador booleano AND: “epidermólise bolhosa” AND “criança” AND “adolescente” AND “enfermagem”, na base Lilacs e SciELO, e “epidermolysis bullosaANDchildrenANDadolescentANDnursing”, nas demais bases para o inglês. Para a seleção das publicações, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: artigos completos; publicados no período de 2010 a 2020; nos idiomas português, inglês e espanhol; que abordassem a temática da questão norteadora; com descrição de ações/IEs aplicáveis durante assistência hospitalar. Foram removidas as citações duplicadas manualmente. Foram excluídos artigos de reflexão, resenhas, monografias, teses, anais de congresso e estudos incipientes.

Os artigos foram avaliados por dois revisores de forma independentes, os quais, leram o título e o resumo, seguindo os critérios de inclusão. Posteriormente, os artigos selecionados foram lidos na íntegra. Em caso de discordância ou dúvida, um terceiro revisor foi contactado para esclarecimento.

Foi construída pelo autor principal uma planilha eletrônica contemplando os seguintes itens: ano de publicação, periódico, autor, título do artigo, delineamento da pesquisa, país, principais resultados e Nível de Evidência. Posteriormente, esses itens foram discutidos de acordo com o referencial teórico das necessidades humanas básicas de Wanda de Aguiar Horta, considerando os três níveis de vida (psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais), no intuito de estruturar as necessidades afetadas no cuidado ao binômio mãe-filho. Em relação ao Nível de Evidência, foi empregado, para avaliação, um sistema de classificação proposto em sete níveis,(1616. Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Evidence-based in nursing & healthcare: a guide to best practice. Philadelphia: Wolters Kluwer Health; 2015.) descrito no quadro 1.

Quadro 1
Relação dos Níveis de Evidência e suas respectivas definições

Resultados

Analisaram-se oito artigos. A figura 1 apresenta a síntese dos resultados das buscas, segundo as bases de dados consultadas. A investigação inicial nas bases de dados utilizando os descritores e termos MeSH somou 202 artigos, com a seguinte distribuição: dois da Lilacs, sete da MEDLINE®, dez da Cinahl, 162 da Scopus, 21 na PubMed® e nenhum artigo na SciELO. Destes, ao avaliar os artigos que atendiam aos critérios de inclusão e à questão norteadora, permaneceram oito estudos, sendo três (38%) da Scopus e cinco (63%) na PubMed®.

Figura 1
Fluxograma dos artigos encontrados nas bases de dados pesquisadas

Cinahl: Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature; MEDLINE®: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online; SciELO: Scientific Electronic Library Online; Lilacs: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde


Dos 202 artigos encontrados durante a busca, apenas oito (4%) contemplaram a questão norteadora. É importante salientar que 31 (15%) deles não tinham relação com a questão norteadora do estudo; 83 (41%) não faziam parte da temática; 61 (30%) estavam duplicados; 13 (6%) eram revisões integrativas; 1 (0%) estava em outro idioma e 5 (2%) eram propagandas. Em relação ao período de publicação de 2010 a 2020, foram observadas oscilações em publicações em alguns anos: 2010, 2013, 2016, 2017 e 2018 não tiveram publicações; houve 1 (13%) publicação para o ano de 2011, 2012 e 2020 cada; 2014, 2015 e 2019 tiveram duas (22%) publicações cada. Os estudos tiveram como países de origem Estados Unidos (2; 22%), Reino Unido, Canadá, Gales, França, Suíça e Brasil (1; 13% para cada) publicação cada. Em relação à classificação com base no Nível de Evidência científica, identificou-se que 4 (44%) pertenciam ao nível VI; 2 (22%) ao VII e 2 (22%) aos níveis III e IV. Desse modo, 7 (86%) estudos envolveram pesquisas para o plano de cuidados e/ou instrução educativa voltada aos pais, aos enfermeiros/profissionais de saúde e aos pacientes, além de cuidados com a pele, como trocas de curativos, cuidados com roupas, artigos hospitalar, medicamentos e produtos específicos para epidermólise bolhosa. Um (14%) era estudo observacional relacionado aos cuidados específicos com as feridas da epidermólise bolhosa, a exemplo de banho com água salgada. As evidências encontradas decorrem de opiniões de especialistas, consenso, estudo observacional, retrospectivo e estudos e relatos de casos. Por se tratar de uma doença rara, não foram encontrados estudos experimentais ou de metodologias para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias para aprimorar as IEs para crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa (Quadro 2).

Quadro 2
Produção científica acerca da temática

Discussão

Os resultados fornecem um panorama das evidências sobre as principais IEs e apontam que a temática ainda tem pouco foco de interesse para produção científica nacional e internacional. Esta análise possibilitou identificar as ações desenvolvidas pelo enfermeiro no contexto hospitalar, além da participação da família nesse processo de cuidado, associado à complexidade de conhecimento e das habilidades exigidas na assistência a crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa.

As ações realizadas concentram-se em aspectos da gestão do cuidado, método de utilização e técnicas de curativos e manejo de sintomas da dor, além das intervenções relacionadas aos impactos psicológicos e sociais. Sabendo que a prática de enfermagem deve ser orientada por um embasamento teórico,(2424. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº 358/2009. Brasília (DF): COFEN; 2009 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-35...
) utilizou-se a teoria das necessidades humanas básicas de Wanda Horta para organizar as evidências. Essa teoria engloba três níveis de necessidades: psicobiológica, psicossocial e psicoespiritual.(2525. Horta WA. Processo de enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.)

As necessidades psicobiológicas englobam intervenções desafiadoras para o profissional e dizem respeito ao cuidado com a pele, especificamente bolhas e lesões. Em geral, surgem espontaneamente, são numerosas, dolorosas, desconfortáveis e extensas.(1919. Kearney S, Donohoe A, McAuliffe E. Living with epidermolysis bullosa: daily challenges and health-care needs. Health Expect. 2020;23(2):368–76.,2020. Denyer J, Marsh C, Kirsner RS. Keratin gel in the management of epidermolysis bullosa. J Wound Care. 2015;24(10):446–50.,2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.)

Compreendendo toda a estrutura da doença com implicações nos subtipos severos e limitações na qualidade de vida com ausência de intervenções específicas e especializadas,(1919. Kearney S, Donohoe A, McAuliffe E. Living with epidermolysis bullosa: daily challenges and health-care needs. Health Expect. 2020;23(2):368–76.,2020. Denyer J, Marsh C, Kirsner RS. Keratin gel in the management of epidermolysis bullosa. J Wound Care. 2015;24(10):446–50.,2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.) os principais objetivos do tratamento são controlar ou eliminar os fatores causais e proporcionar uma assistência direcionada, para moderar ou cessar os agentes coexistentes e potenciais, por meio da prevenção de infecções secundárias e promoção de um ambiente ideal para a cicatrização da lesão. Para tal, em consenso,(22. Mariath LM, Santin JT, Schuler-Faccini L, Kiszewski AE. Inherited epidermolysis bullosa: update on the clinical and genetic aspects. An Bras Dermatol. 2020;95(5):551–69.,2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.) recomenda-se avaliar a localização e as características da bolha, como lesão com potencial risco de infecção, exsudação e subtipo da epidermólise bolhosa.

Dois procedimentos simples, mas considerados fatores altamente de risco para surgir lesões, são as trocas de curativos e os atritos na mobilização e na troca de roupas. Comumente, é um momento traumático, e isso acarreta o surgimento de novas bolhas e o aumento da dor e prurido, além de prorrogar a cicatrização das lesões.(11. Debra Brasil. O que é epidermólise bolhosa? Santa Catarina: Debra Brasil; 2018 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/
https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/...
,22. Mariath LM, Santin JT, Schuler-Faccini L, Kiszewski AE. Inherited epidermolysis bullosa: update on the clinical and genetic aspects. An Bras Dermatol. 2020;95(5):551–69.) Visando diminuir sinais e sintomas, a enfermagem apropria-se do momento do banho desses pacientes para fazer a remoção atraumática de coberturas, utilizando solução salina, no intuito de beneficiar a criança e/ou adolescente na redução da dor, contribuindo para melhoria da cicatrização da lesão e evitando e/ou diminuindo infecções e prurido.(1717. Petersen BW, Arbuckle HA, Berman S. Effectiveness of saltwater baths in the treatment of epidermolysis bullosa. Pediatr Dermatol. 2015;32(1):60–3.,2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.) Todavia, sugere-se que estudos com maior rigor metodológico sejam desenvolvidos, com todos os subtipos de epidermólise bolhosa – de leve, moderada a grave.

Enfermeiros assistenciais e pesquisadores sustentam a troca de curativos durante o banho com solução salina, considerando os benefícios já descritos, e que o sal é um soluto acessível e facilmente disponível, que pode ser adquirido por familiares. É uma intervenção não invasiva, que oferece redução de dor, melhora a adesão ao banho e diminui sinais e sintomas de infecção.(1717. Petersen BW, Arbuckle HA, Berman S. Effectiveness of saltwater baths in the treatment of epidermolysis bullosa. Pediatr Dermatol. 2015;32(1):60–3.)

O estudo apontou que o tratamento com solução salina pode ser recomendado para todos os subtipos de epidermólise bolhosa, entre 2 meses e 13 anos, de acordo com os participantes da pesquisa.(1717. Petersen BW, Arbuckle HA, Berman S. Effectiveness of saltwater baths in the treatment of epidermolysis bullosa. Pediatr Dermatol. 2015;32(1):60–3.)Salienta-se que, apesar das limitações devido à amostra, os resultados mostraram diminuição da secreção, do odor, do tempo de cicatrização, do prurido e do uso de analgésico para o banho, com redução da dor.

A dor é um sintoma característico da epidermólise bolhosa. Sua frequência e intensidade costumam ser proporcionais à gravidade da lesão. Embora multifatorial, a pele lesionada contribui significadamente para o sintoma. Com isso, a enfermagem lança mão de produtos emolientes, hidratantes, gel à base de queratina, curativos não aderentes, banho com água morna e salgada, e instrui as mães, por meio do incentivo à amamentação materna exclusiva ou sempre que possível, pois o leite materno favorece o binômio entre mãe-filho, estimula a segurança e imunidade e oferece conforto aos neonatos.(1717. Petersen BW, Arbuckle HA, Berman S. Effectiveness of saltwater baths in the treatment of epidermolysis bullosa. Pediatr Dermatol. 2015;32(1):60–3.,2121. El Hachem M, Zambruno G, Bourdon-Lanoy E, Ciasulli A, Buisson C, Hadj-Rabia S, et al. Multicentre consensus recommendations for skin care in inherited epidermolysis bullosa. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(1):76.,2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.,2626. Has C, Bauer JW, Bodemer C, Bolling MC, Bruckner-Tuderman L, Diem A, et al. Consensus reclassification of inherited epidermolysis bullosa and other disorders with skin fragility. Br J Dermatol. 2020;183(4):614–27.)

A idade do paciente é importante na realização dos cuidados com as bolhas. O neonato com epidermólise bolhosa possui imaturidade imunológica extrauterina e requer atenção imediata para evitar traumas cutâneos.(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.) Isso porque a formação de bolhas em bebês geralmente tem uma predisposição pelas extremidades ao redor da área da fralda, e, conforme o amadurecimento da idade, os bebês se tornam móveis, necessitando de joelheiras e sapatos macios, para evitar o cisalhamento e superaquecimento térmico.(2121. El Hachem M, Zambruno G, Bourdon-Lanoy E, Ciasulli A, Buisson C, Hadj-Rabia S, et al. Multicentre consensus recommendations for skin care in inherited epidermolysis bullosa. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(1):76.,2626. Has C, Bauer JW, Bodemer C, Bolling MC, Bruckner-Tuderman L, Diem A, et al. Consensus reclassification of inherited epidermolysis bullosa and other disorders with skin fragility. Br J Dermatol. 2020;183(4):614–27.,2727. Khan MT, O’Sullivan M, Faitli B, Mellerio JE, Fawkes R, Wood M, et al. Foot care in epidermolysis bullosa: evidence-based guideline. Br J Dermatol. 2020;182(3):593–604.)

Para cuidados com as bolhas, as IEs devem ser iniciadas logo após o nascimento, pois o reconhecimento dos pais a respeito das limitações da doença na vida diária é importante, para superação dos desafios relacionados aos cuidados desse neonato, que necessita de cuidado integral e contínuo. Para isso, a presença dos pais é necessária para o fortalecimento do binômio mãe-filho e redução de rupturas familiares.(66. Mellerio JE, El Hachem M, Bellon N, Zambruno G, Buckova H, Autrata R, et al. Emergency management in epidermolysis bullosa: consensus clinical recommendations from the European reference network for rare skin diseases. Orphanet J Rare Dis. 2020;15(1):142.,1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.,1919. Kearney S, Donohoe A, McAuliffe E. Living with epidermolysis bullosa: daily challenges and health-care needs. Health Expect. 2020;23(2):368–76.,2828. Wu YH, Sun FK, Lee PY. Family caregivers’ lived experiences of caring for epidermolysis bullosa patients: a phenomenological study. J Clin Nurs. 2020;29(9-10):1552–60.,3030. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da epidermólise bolhosa hereditária e adquirida. Relatório de recomendação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2019 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: http://antigo-conitec.saude.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2019/Relatrio_-Epidermolise-bolhosa_-CP_60_2019_verso-10-10-19.pdf
http://antigo-conitec.saude.gov.br/image...
)

Sob a ótica das intervenções não medicamentosas, há uma miríade de produtos que podem ser utilizados, de acordo a especificidade e o subtipo da epidermólise bolhosa. Os achados sustentam a afirmação de que é eficaz a utilização de coberturas com espuma, por conter uma camada de silicone para reduzir o aparecimento de novas lesões e absorver o exsudato.(2929. Bardhan A, Bruckner-Tuderman L, Chapple IL, Fine JD, Harper N, Has C, et al. Epidermolysis bullosa. Nat Rev Dis Primers. 2020;6(1):78.,3030. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da epidermólise bolhosa hereditária e adquirida. Relatório de recomendação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2019 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: http://antigo-conitec.saude.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2019/Relatrio_-Epidermolise-bolhosa_-CP_60_2019_verso-10-10-19.pdf
http://antigo-conitec.saude.gov.br/image...
) Coberturas são elaboradas para manter a lesão limpa, reduzir chances de contaminação e promover à cicatrização, principalmente de lesões crônicas, que têm potencial significativa de perda de tecido.(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.,2121. El Hachem M, Zambruno G, Bourdon-Lanoy E, Ciasulli A, Buisson C, Hadj-Rabia S, et al. Multicentre consensus recommendations for skin care in inherited epidermolysis bullosa. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(1):76.,3030. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da epidermólise bolhosa hereditária e adquirida. Relatório de recomendação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2019 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: http://antigo-conitec.saude.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2019/Relatrio_-Epidermolise-bolhosa_-CP_60_2019_verso-10-10-19.pdf
http://antigo-conitec.saude.gov.br/image...
)

O hidrogel puro ou associado a ácidos graxos essenciais contribui com o desbridamento autolítico e protege o tecido de granulação. Hidrofibras favorecem a umidade do local da lesão e reduzem os traumas físicos e dor. As gazes com ácidos graxos essenciais podem beneficiar o processo de epitelização, impossibilitam a aderência ao tecido íntegro e favorecem ao cuidado dos espaços interdigitais. O hidrocoloide não adesivo evita bolhas através de meticulosa proteção da pele e previne infecções através do tratamento de lesões.(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.,2121. El Hachem M, Zambruno G, Bourdon-Lanoy E, Ciasulli A, Buisson C, Hadj-Rabia S, et al. Multicentre consensus recommendations for skin care in inherited epidermolysis bullosa. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(1):76.,3030. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da epidermólise bolhosa hereditária e adquirida. Relatório de recomendação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2019 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: http://antigo-conitec.saude.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2019/Relatrio_-Epidermolise-bolhosa_-CP_60_2019_verso-10-10-19.pdf
http://antigo-conitec.saude.gov.br/image...
)

A educação em saúde é um método importante no cuidado de enfermagem, com foco nas necessidades psicossociais, tendo em vista que as intervenções são direcionadas às famílias para o encorajamento das atividades cotidianas e de lazer da criança, além da busca de direitos, pois a epidermólise bolhosa é também um fenômeno social, que traz consigo a discriminação. O nascimento de uma criança com epidermólise bolhosa pode ser um momento traumático para a família. A atuação da enfermagem no cuidado do neonato com epidermólise bolhosa e da família é fundamental e deve ser iniciada precocemente.(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.,1818. Packard S. Teaching in Real Time: a model of excellence in nursing care. Newborn Infant Nurs Rev. 2011;11(1):40–2.,1919. Kearney S, Donohoe A, McAuliffe E. Living with epidermolysis bullosa: daily challenges and health-care needs. Health Expect. 2020;23(2):368–76.,2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.,2828. Wu YH, Sun FK, Lee PY. Family caregivers’ lived experiences of caring for epidermolysis bullosa patients: a phenomenological study. J Clin Nurs. 2020;29(9-10):1552–60.)

O enfermeiro é responsável por atender às necessidades da educação em saúde, instruindo, portanto, a família, o cuidador e/ou o adolescente quanto ao tratamento tópico; ao manuseio do bebê e da criança com suavidade para não provocar o surgimento de novas bolhas; aos cuidados quanto a banho, alimentação, troca de fraldas, amamentação e à manutenção do calendário vacinal.(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.,1818. Packard S. Teaching in Real Time: a model of excellence in nursing care. Newborn Infant Nurs Rev. 2011;11(1):40–2.,1919. Kearney S, Donohoe A, McAuliffe E. Living with epidermolysis bullosa: daily challenges and health-care needs. Health Expect. 2020;23(2):368–76.,2121. El Hachem M, Zambruno G, Bourdon-Lanoy E, Ciasulli A, Buisson C, Hadj-Rabia S, et al. Multicentre consensus recommendations for skin care in inherited epidermolysis bullosa. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(1):76.,2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.,2828. Wu YH, Sun FK, Lee PY. Family caregivers’ lived experiences of caring for epidermolysis bullosa patients: a phenomenological study. J Clin Nurs. 2020;29(9-10):1552–60.)

Pesquisadores apontam que o reconhecimento dos pais a respeito das limitações da doença e na vida diária é importante, para a superação dos desafios relacionados aos cuidados, bem como à integração social do paciente e da família.(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.,2828. Wu YH, Sun FK, Lee PY. Family caregivers’ lived experiences of caring for epidermolysis bullosa patients: a phenomenological study. J Clin Nurs. 2020;29(9-10):1552–60.,2929. Bardhan A, Bruckner-Tuderman L, Chapple IL, Fine JD, Harper N, Has C, et al. Epidermolysis bullosa. Nat Rev Dis Primers. 2020;6(1):78.)Dessa forma, é primordial a educação em saúde realizada pelos enfermeiros como meio de cuidado sobre como lidar com crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa.

Por isso, o incentivo realizado por esses profissionais para as famílias por meio da comunicação e da escuta qualificada encoraja os pais a superarem os desafios e reduzir os traumas psicológicos; favorece o enfrentamento da doença das crianças, adolescentes e cuidadores; e reduz a dificuldade do casal em relação ao sentimento de culpa.(1818. Packard S. Teaching in Real Time: a model of excellence in nursing care. Newborn Infant Nurs Rev. 2011;11(1):40–2.,1919. Kearney S, Donohoe A, McAuliffe E. Living with epidermolysis bullosa: daily challenges and health-care needs. Health Expect. 2020;23(2):368–76.

20. Denyer J, Marsh C, Kirsner RS. Keratin gel in the management of epidermolysis bullosa. J Wound Care. 2015;24(10):446–50.

21. El Hachem M, Zambruno G, Bourdon-Lanoy E, Ciasulli A, Buisson C, Hadj-Rabia S, et al. Multicentre consensus recommendations for skin care in inherited epidermolysis bullosa. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(1):76.
-2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.)É relevante pontuar que seis artigos(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.,1717. Petersen BW, Arbuckle HA, Berman S. Effectiveness of saltwater baths in the treatment of epidermolysis bullosa. Pediatr Dermatol. 2015;32(1):60–3.,1818. Packard S. Teaching in Real Time: a model of excellence in nursing care. Newborn Infant Nurs Rev. 2011;11(1):40–2.-1919. Kearney S, Donohoe A, McAuliffe E. Living with epidermolysis bullosa: daily challenges and health-care needs. Health Expect. 2020;23(2):368–76.,2121. El Hachem M, Zambruno G, Bourdon-Lanoy E, Ciasulli A, Buisson C, Hadj-Rabia S, et al. Multicentre consensus recommendations for skin care in inherited epidermolysis bullosa. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(1):76.,2222. Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.) afirmaram a necessidade de o enfermeiro estar capacitado para conduzir a imaturidade cognitiva e instrucional dos pais.

Vale destacar a deficiência de estudos no tocante aos cuidados psicoespirituais das crianças e adolescentes e de suas famílias. É possível compreender essa relação mais estreita com as necessidades psicobiológicas, uma vez que o comprometimento da pele desencadeia inúmeras alterações sistêmicas que podem significar a vida de uma criança, a depender de sua idade.

Considerando o número de resultados e metodologia identificadas, esta pesquisa limita-se pela ausência de estudos experimentais e ensaios clínicos randomizados.

É importante destacar que apenas um estudo(1414. Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.)descreveu o Processo de Enfermagem como direcionador da assistência às crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa e suas famílias. Esse resultado é alarmante, uma vez que, para o cuidado integral, é fundamental que o enfermeiro liste Diagnósticos de Enfermagem e as demais etapas do processo à clientela do estudo. Ainda, é sabido que o Processo de Enfermagem é parte da assistência em vários países.

Reforça-se a necessidade de que mais pesquisas forneçam resultados acessíveis à prática assistencial, contribuindo com os familiares e cuidadores e para a assistência e qualidade de vida desse público.

Conclusão

A investigação permitiu analisar as Intervenções de Enfermagem para os cuidados prestados às crianças e aos adolescentes com epidermólise bolhosa em nível hospitalar. As pesquisas reportam dificuldades quanto à disponibilidade de materiais, tratamento e profissionais especializados, além de limitações na prática clínica voltadas às características da epidermólise bolhosa. Destacam-se os seguintes cuidados de enfermagem: mudança de decúbito; cuidados com roupas, descontaminação do local da lesão com solução hipoclorito; uso de cobertura estéril com ácidos graxos essenciais, hidrogel, espuma com silicone e analgesia para banho e troca de curativo. Evitar o uso de material adesivo diretamente na pele e/ou que cause o cisalhamento e realizar trocas de curativos diariamente, ou conforme necessidade ou tipo de espuma utilizada também são recomendados, além de estratégias de educação em saúde direcionadas às especificidades da epidermólise bolhosa, aos direitos dessa população e ao apoio psicossocial aos familiares com uma interação efetiva. O presente estudo evidenciou as principais ações/Intervenções de Enfermagem. Todavia, identificou lacunas sobre a prática clínica no cuidado com crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa. Por sim, apresenta material que deve subsidiar o tratamento e favorecer a assistência de enfermagem no atendimento às necessidades humanas básicas desse público infantil. No entanto, urge a necessidade de estudos específicos, que apresentem evidências mais específicas quanto ao uso de coberturas na prática clínica com crianças e adolescentes com epidermólise bolhosa, além de estudos longitudinais sobre as práticas de cuidados com essas famílias.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de nível Superior – Brasil (CAPES) por meio da bolsa de doutorado, número do processo: 88887.487273/2020-00; e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil (CNPq) por meio da bolsa de mestrado, número do processo: 133515/2020-6.

Referências

  • 1
    Debra Brasil. O que é epidermólise bolhosa? Santa Catarina: Debra Brasil; 2018 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/
    » https://debrabrasil.com.br/o-que-e-eb/
  • 2
    Mariath LM, Santin JT, Schuler-Faccini L, Kiszewski AE. Inherited epidermolysis bullosa: update on the clinical and genetic aspects. An Bras Dermatol. 2020;95(5):551–69.
  • 3
    Uitto J, Bruckner-Tuderman L, Christiano AM, McGrath JA, Has C, South AP, et al. Progress toward treatment and cure of epidermolysis bullosa. J Invest Dermatol. 2016;136(2):352–8.
  • 4
    Fine JD. Epidemiology of inherited epidermolysis bullosa based on incidence and prevalence estimates from the National Epidermolysis Bullosa Registry. JAMA Dermatol. 2016;152(11):1231–8.
  • 5
    Chernyshov PV, Marron SE, Tomas-Aragones L, Pustišek N, Gedeon I, Suru A, et al. Initial validation of the epidermolysis bullosa-specific module of the Infants and Toddlers Dermatology Quality of Life Questionnaire. Dermatol Ther. 2020;33(6):e14128.
  • 6
    Mellerio JE, El Hachem M, Bellon N, Zambruno G, Buckova H, Autrata R, et al. Emergency management in epidermolysis bullosa: consensus clinical recommendations from the European reference network for rare skin diseases. Orphanet J Rare Dis. 2020;15(1):142.
  • 7
    Grocott P, Blackwell R, Weir H, Pillay E. Living in dressings and bandages: findings from workshops with people with Epidermolysis bullosa. Int Wound J. 2013;10(3):274–84.
  • 8
    Adni T, Martin K, Mudge E. The psychosocial impact of chronic wounds on patients with severe epidermolysis bullosa. J Wound Care. 2012;21(11):528–38.
  • 9
    Pitta AL, Magalhães RP, Silva JC. Congenital Epidermolysis Bullosa- importance of nursing care. Cuid Arte Enferm. 2016;10(2):201–8.
  • 10
    Ramirez-Quizon M, Murrell DF. Managing epidermolysis bullosa during the coronavirus pandemic: experience and ideals. Clin Dermatol. 2021;39(3):369–73.
  • 11
    Murrell DF, Lucky AW, Salas-Alanis JC, Woodley DT, Palisson F, Natsuga K, et al. Multidisciplinary care of epidermolysis bullosa during the COVID-19 pandemic-Consensus: recommendations by an international panel of experts. J Am Acad Dermatol. 2020;83(4):1222–4.
  • 12
    Lyu X, Li H, Liu H, Chou H, Li T, Zhou W. Genetic analysis of a child with recessive dystrophic epidermolysis bullosa due to compound heterozygous variants of (COL7A1 gene. Zhonghua Yi Xue Yi Chuan Xue Za Zhi. 2020;37(4):445–8.
  • 13
    Benício CD, Carvalho NA, Santos JD, Nolêto IR, Luz MH. Epidermólise bolhosa: foco na assistência de Enfermagem. ESTIMA. 2016;14(2):91-8. Review.
  • 14
    Secco IL, Costa T, Moraes EL, Freire MH, Danski MT, Oliveira DA. Nursing care of a newborn with epidermolysis bullosa: a case report. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03501.
  • 15
    Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ. 2021;372:n71.
  • 16
    Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Evidence-based in nursing & healthcare: a guide to best practice. Philadelphia: Wolters Kluwer Health; 2015.
  • 17
    Petersen BW, Arbuckle HA, Berman S. Effectiveness of saltwater baths in the treatment of epidermolysis bullosa. Pediatr Dermatol. 2015;32(1):60–3.
  • 18
    Packard S. Teaching in Real Time: a model of excellence in nursing care. Newborn Infant Nurs Rev. 2011;11(1):40–2.
  • 19
    Kearney S, Donohoe A, McAuliffe E. Living with epidermolysis bullosa: daily challenges and health-care needs. Health Expect. 2020;23(2):368–76.
  • 20
    Denyer J, Marsh C, Kirsner RS. Keratin gel in the management of epidermolysis bullosa. J Wound Care. 2015;24(10):446–50.
  • 21
    El Hachem M, Zambruno G, Bourdon-Lanoy E, Ciasulli A, Buisson C, Hadj-Rabia S, et al. Multicentre consensus recommendations for skin care in inherited epidermolysis bullosa. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(1):76.
  • 22
    Pope E, Lara-Corrales I, Mellerio J, Martinez A, Schultz G, Burrell R, et al. A consensus approach to wound care in epidermolysis bullosa. J Am Acad Dermatol. 2012;67(5):904–17.
  • 23
    Schlueer AB, Schwieger-Briel A, Theiler M, Neuhaus K, Schiestl C, Weibel L. Negative pressure wound treatment in a neonate with epidermolysis bullosa simplex severe generalized: a case report. Pediatr Dermatol. 2020;37(6):1218–20.
  • 24
    Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº 358/2009. Brasília (DF): COFEN; 2009 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
    » http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
  • 25
    Horta WA. Processo de enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
  • 26
    Has C, Bauer JW, Bodemer C, Bolling MC, Bruckner-Tuderman L, Diem A, et al. Consensus reclassification of inherited epidermolysis bullosa and other disorders with skin fragility. Br J Dermatol. 2020;183(4):614–27.
  • 27
    Khan MT, O’Sullivan M, Faitli B, Mellerio JE, Fawkes R, Wood M, et al. Foot care in epidermolysis bullosa: evidence-based guideline. Br J Dermatol. 2020;182(3):593–604.
  • 28
    Wu YH, Sun FK, Lee PY. Family caregivers’ lived experiences of caring for epidermolysis bullosa patients: a phenomenological study. J Clin Nurs. 2020;29(9-10):1552–60.
  • 29
    Bardhan A, Bruckner-Tuderman L, Chapple IL, Fine JD, Harper N, Has C, et al. Epidermolysis bullosa. Nat Rev Dis Primers. 2020;6(1):78.
  • 30
    Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da epidermólise bolhosa hereditária e adquirida. Relatório de recomendação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2019 [citado 2022 Set 26]. Disponível em: http://antigo-conitec.saude.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2019/Relatrio_-Epidermolise-bolhosa_-CP_60_2019_verso-10-10-19.pdf
    » http://antigo-conitec.saude.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2019/Relatrio_-Epidermolise-bolhosa_-CP_60_2019_verso-10-10-19.pdf

Editado por

Editor Associado Alexandre Pazetto Balsanelli (https://orcid.org/0000-0003-3757-1061) Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    4 Nov 2021
  • Aceito
    24 Out 2022
Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: actapaulista@unifesp.br