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EXPLORANDO OS POTENCIAIS DA HISTÓRIA DIGITAL: A EXPERIÊNCIA DO CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E IMAGEM DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO - CAMPUS DE NOVA IGUAÇU

Exploring the potentials of digital history: the experience of the Documentary and Image Center of the Federal Rural University of Rio de Janeiro - Nova Iguaçu campus

Explotando las potencialidades de la historia digital: la experiencia del Centro de Documentación e Imagen de la Universidad Federal Rural do Rio de Janeiro - campus Nova Iguaçu

RESUMO

Este artigo analisa as perspectivas abertas pela história digital para a renovação da produção historiográfica a partir da experiência do Centro de Documentação e Imagem (Cedim) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Destaca a contribuição da disponibilização de acervos digitais para a autoestima coletiva dos moradores da Baixada Fluminense, superando os estigmas tradicionalmente associados à região, como no caso da documentação da Cúria Metropolitana de Nova Iguaçu, de grande relevância para o estudo dos movimentos sociais locais. Por fim, analisa o Cedim como locus de cooperação entre historiadores e cientistas da computação, que originou o Mestrado em Humanidades Digitais da UFRRJ.

PALAVRAS-CHAVE:
História digital; Centro de Documentação; Baixada Fluminense; Diocese de Nova Iguaçu; Movimentos sociais

ABSTRACT

This article analyses the perspectives open by digital history for the renewal of the historiographic production departing from the experience of UFRRJ’s Documentary and Image Center (CEDIM). It highlights the contribution of making available digital holdings for the collective self-esteem of Baixada Fluminense dwellers, overcoming stigmas traditionally associated to the region, as in the case of the documents of the Nova Iguaçu Metropolitan Curia, of great relevance for the study of local social movements. Finally, it analyses CEDIM as a locus of cooperation between historians and computer scientist, that originated UFRRJ’s Masters in Digital Humanities..

Keywords:
Digital history; Documentary Center; Baixada Fluminense; Diocese of Nova Iguaçu; Social movements

RESUMEN

Este artículo analiza las perspectivas abiertas por la historia digital para la renovación de la producción historiográfica partiendo de la experiencia del Centro de Documentación e Imagen (CEDIM), de la UFRRJ. Destaca la contribución de la disponibilización de acervos digitales para la autoestima colectiva de los moradores de la Baixada Fluminense, superando los estigmas tradicionalmente asociados a la región, como en el caso de los documentos de la Curia Metropolitana de Nova Iguaçu, de gran relevancia para los estudios sobre los movimientos sociales locales. Por fin, analiza el CEDIM como un locus de cooperación entre historiadores e científicos computacionales, que originó la Maestría en Humanidades Digitales de la UFRRJ.

PALABRAS CLAVE:
Historia digital; Centro de Documentación; Baixada Fluminense; Diócesis de Nova Iguaçu; Movimientos sociales

INTRODUÇÃO

Poucas afirmações sobre a realidade histórica atual seriam tão consensuais quanto a de que a difusão das tecnologias digitais exerce influência crescente sobre as mais variadas dimensões das sociedades humanas em escala global. Embora não seja possível definir uma data precisa de início desse processo, o nascimento da World Wide Web, há cerca de 25 anos - intervalo de tempo que já pode ser considerado historicamente significativo -, pode ser apontado como um marco de mudanças qualitativas que desde então seguem se aprofundando continuamente (Brügger, 2018BRÜGGER, N. The archived web: doing history in the digital age. Cambridge, Mass./Londres: The MIT Press, 2018.: 5). É crescente a percepção de que a “revolução digital” gera também profundas transformações no âmbito da produção e circulação do conhecimento histórico.

Sistematizando reflexões sobre “promessas e perigos da história digital” em 2006, Cohen e Rosenzweig relembravam a polarização estabelecida nos anos 1990 entre os “profetas” que viam na internet o início de mudanças sociais tão profundas quanto as trazidas pela descoberta do fogo e os tecnocéticos “neoludditas”, como a conservadora Gertrude Himmelfarb, que alertava para os riscos de uma rede global que “não distingue entre o verdadeiro e o falso, o importante e o trivial, o duradouro e o efêmero” (Himmelfarb, 1996). Descartando essas posições extremadas, Cohen e Rosenzweig identificaram sete qualidades das mídias digitais e das redes que “potencialmente nos permitem fazer as coisas melhor”: capacidade, acessibilidade, flexibilidade, manipulabilidade, interatividade e hipertextualidade. Ao mesmo tempo, reconheceram cinco perigos a serem evitados: qualidade, durabilidade, legibilidade, passividade e inacessibilidade (Cohen e Rosenweig, 2006COHEN, D. J.; ROSENZWEIG, R. Digital history: a guide to gathering, preserving, and presenting the past on the web 2006.: 3).

Mais recentemente, em The history manifesto, Jo Guldi e David Armitage dedicaram o capítulo “Big questions, big data” à análise de como os historiadores, ao se apropriarem das ferramentas analíticas geradas pela tecnologia digital, podem desempenhar papel fundamental no enfrentamento da “sobrecarga de informação” que ameaça a capacidade de pensamento de longo prazo no mundo contemporâneo. Os historiadores, argumentam os autores, são profissionais treinados para o exercício crítico da curadoria que envolve problematizar simultaneamente múltiplas bases de dados quanto ao contexto e aos vieses relativos a seu processo de produção. Além disso, a perspectiva processual inerente ao olhar do historiador oferece um poderoso antídoto às abordagens deterministas de curto prazo, a partir das quais outras disciplinas tendem a interpretar as grandes massas de dados atualmente disponíveis. Para evitar que o monopólio de ferramentas de mineração de dados aumente as assimetrias no processo de produção do conhecimento histórico, entretanto, é fundamental que o historiador se engaje em projetos interdisciplinares que gerem soluções tecnológicas abertas disponibilizadas a qualquer pesquisador, como ocorreu com Guldi no desenvolvimento do aplicativo Paper Machines (Guldi e Armitage, 2014KELLY, T. M. Teaching history in the digital age. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 2013.: 88-117).

O fato é que os impactos das transformações tecnológicas sobre o ofício do historiador são inevitáveis. Como destaca Bolick, a criação de arquivos digitais “alterou as dinâmicas do fazer da pesquisa histórica ao mudar quem é capaz de conduzir a pesquisa e como ela é feita”. O autor destaca o caráter gratuito do acesso à maioria dos arquivos digitais cuja disponibilização na internet se amplia vertiginosamente, além da oportunidade de “interação com recursos de forma não linear que eles oferecem aos usuários” (Bolick, 2006: 122). Trabalhar nessa nova realidade, porém, desafia o historiador a lidar com o que Brügger denomina “dupla dualidade da digitalidade”. De um lado, a dualidade entre a linguagem digital “imaterial”, que não pode ser lida diretamente pelos seres humanos, e os artefatos materiais (mídias) nos quais ela é armazenada. De outro, a dualidade entre os diversos tipos de textos (palavras, imagens etc.) gerados por meios digitais da forma como se apresentam aos usuários e as várias camadas de linguagem computacional por detrás deles, que definem suas características e atributos (Brügger, 2018BRÜGGER, N. The archived web: doing history in the digital age. Cambridge, Mass./Londres: The MIT Press, 2018.: 19-20). Fontes digitalizadas, destaca Pons, demandam formas específicas de conservação, reprodução e leitura (Pons, 2011: 44). Para Gallini e Noiret, a história digital 2.0, caracterizada pela interação e pela interdisciplinaridade, com o envolvimento ativo dos pesquisadores na construção de soluções tecnológicas, visando a ampliar o impacto de seu trabalho, convida-nos a “revisar comportamentos epistemológicos de numerosas disciplinas humanísticas, incluindo a história, no contexto do que agora se definem como as humanidades digitais” (Gallini e Noiret, 2011: 31).

Sem menosprezar os desafios e a cautela necessários, Cohen e Rosenzweig conclamam os historiadores profissionais a se juntarem ao “eclético mas disseminado esforço de base para colocar o passado online”, que se estende desde as iniciativas pontuais de colocar uns poucos documentos online até os esforços para de captação de recursos para “projetos mais ambiciosos para criar arquivos públicos livres”. Para os autores, do mesmo modo como os cientistas da computação mobilizam-se em favor do “software livre” (open source), cabe aos “historiadores e acadêmicos populares” defender o potencial democratizante das “fontes livres” (open sources) (Cohen e Rosenzweig, 2006COHEN, D. J.; ROSENZWEIG, R. Digital history: a guide to gathering, preserving, and presenting the past on the web 2006.: 13).

O impacto da história digital também se faz sentir no âmbito da educação. Refletindo sobre o conservadorismo ainda reinante na metodologia de trabalho docente, Kelly alerta que “o futuro do ensino de história depende da nossa habilidade e disposição para nos ajustarmos” a esse “ciclo de mudanças rapidamente acelerado, tecnologicamente determinado” e a seus impactos sobre todas as dimensões da prática profissional do historiador (Kelly, 2013KELLY, T. M. Teaching history in the digital age. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 2013.: 3). Relatando o caso de um aluno que alterou a trilha sonora de cinejornal sobre o julgamento de Nuremberg apresentado em sala de aula para nele inserir uma música que considerava “mais adequada”, o autor reflete sobre as transformações correntes nas concepções sobre “originalidade” e “autenticidade”, fundamentais para o trabalho do historiador. Kelly conclui que a iniciativa do aluno e a reação positiva da turma diante dela não revelam apenas “uma forma divertida de abordar o passado”, mas também mudanças na “forma de pensar sobre a natureza da evidência e como a evidência pode e deve ser usada para fazer sentido de eventos passados” (Kelly, 2013KELLY, T. M. Teaching history in the digital age. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 2013.: 3-4). Trata-se de uma geração que não se limita mais ao papel de consumidora de conteúdo online, mas que já nasce exercendo o papel de “criadora agressiva de conteúdo digital”, algo que precisa ser considerado ao se planejar “o uso da mídia digital para ensino e aprendizagem” (Kelly, 2013KELLY, T. M. Teaching history in the digital age. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 2013.: 11-12). Um exemplo dessa relação da atual geração de estudantes com a tecnologia digital é o sucesso alcançado pelo perfil “História no Paint”, criado por Leandro Marin, aluno de licenciatura em história do Instituto Multidisciplinar (IM), campus de Nova Iguaçu, da UFRRJ. Partindo da produção diária de memes irônicos e criativos (atualmente estendida para outras mídias como podcasts), Marin construiu uma audiência que já se aproxima dos 300 mil seguidores em redes sociais, como o Twitter e o Instagram (Verly, 2019VERLY, C. Aluno da UFRRJ inova e faz sucesso com sua página “História no Paint”. Rural Semanal, abr. 2019. Disponível em: <Disponível em: https://portal.ufrrj.br/aluno-da-ufrrj-inova-e-faz-sucesso-com-sua-pagina-historia-no-paint/ >. Acesso em:13 dez. 2019.
https://portal.ufrrj.br/aluno-da-ufrrj-i...
).

O IM-UFRRJ também é cenário de experiências que buscam explorar os potenciais da história digital na criação de condições para a democratização do acesso à produção e à circulação de conhecimento histórico, como é o caso do Centro de Documentação e Imagem (Cedim). Conforme destacam Guldi e Armitage (2014GULDI, J.; ARMITAGE, D. The history manifesto. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.: 108), “questões sobre como preservar vozes subalternas por meio da integração de microarquivos no conjunto dos registros digitalizados da longa duração formam uma fronteira acadêmica nova e vitalmente importante”. O imenso trabalho e o pensamento crítico envolvido nesses esforços, argumentam os autores, merecem ser recompensados com financiamento, premiações e canais de publicação específicos. Iniciativas dessa natureza, destacam, terão cada vez mais impacto na historiografia, “ampliando os horizontes do que o pesquisador individual é capaz de enxergar” (Guldi e Armitage, 2014GULDI, J.; ARMITAGE, D. The history manifesto. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.: 109).

Analisaremos a seguir a trajetória do Cedim na construção de um dos “arquivos invisíveis”, que, como destacam Guldi e Armitage, oferecem uma contribuição fundamental para a inserção das vozes subalternas suprimidas nas novas narrativas de longa duração tornadas viáveis pela tecnologia digital. Antes disso, e até mesmo para contextualizar a relevância desse trabalho e dos resultados já alcançados, é necessário abordar, ainda que rapidamente, alguns elementos peculiares à realidade sócio-histórica da Baixada Fluminense.

A BAIXADA FLUMINENSE PARA ALÉM DOS ESTEREÓTIPOS

O cineasta Nélson Pereira dos Santos inicia em janeiro um filme que vai despertar curiosidade geral: trata-se de uma história das antigas lutas políticas na Baixada Fluminense. As cenas principais são passadas em [Duque de] Caxias, e nelas aparece um personagem inspirado na figura do ex-deputado Tenório Cavalcanti. (Jornal do Brasil, 19 jan. 1971: 10)

Lançado em 1974, o filme O amuleto de Ogum, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, foi um importante marco na produção cinematográfica brasileira - recebendo indicação ao prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes e conquistando o Kikito de melhor filme no Festival de Gramado. Como demonstra a citação, o fato de a produção ser ambientada na cidade de Duque de Caxias (Simões, 2006SIMÕES, M. R. A cidade estilhaçada: reestruturação econômica e emancipações municipais na Baixada Fluminense. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.; Silva, 2013; Silva, 2017) 1 1 Tem sido bastante debatida no meio universitário a noção de Baixada Fluminense, que não foi uma denominação estabelecida formalmente. Há diversas tensões para se definir quais os municípios que compõem a região. Consideramos Baixada Fluminense o território que reúne os municípios derivados das Vilas de Iguaçu e Estrela, estabelecidas no século XIX, ou seja, os atuais municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti. Em definições mais abrangentes, os municípios de Guapimirim, Itaguaí e Seropédica também fariam parte da Baixada. causou surpresa e curiosidade. O enredo de O amuleto de Ogum mobiliza uma série de estereótipos associados à imagem da Baixada Fluminense, que, de um lado, estão embasados em processos históricos característicos da região, mas, de outro, reproduzem e amplificam os estigmas a ela atribuídos.

À época do lançamento, o diretor afirmou à imprensa que escolheu uma cidade da Baixada como cenário “porque aqui as pessoas vivem sua própria realidade”. A obra conta a história de uma família da região, na qual o pai e um dos filhos haviam sido assassinados. A pedido da mãe, o filho sobrevivente resolve “fechar o corpo” em um terreiro de umbanda, passando a utilizar um amuleto de Ogum. Mais tarde, ao se envolver em crimes e se relacionar com a amante de um bicheiro, o protagonista é jurado de morte e sua proteção espiritual é posta à prova.

O destaque atribuído na película às relações entre contraventores e lideranças políticas locais inspira-se, sobretudos na trajetória de Tenório Cavalcanti, uma espécie de “mito político” da Baixada Fluminense. Tendo migrado do estado de Alagoas para os subúrbios cariocas, fixando-se posteriormente na Baixada, Tenório estabeleceu-se inicialmente como líder político local, mas gradualmente conquistou proeminência regional e nacional. Eleito vereador na década de 1930, participou da campanha pela emancipação de Duque de Caxias, consumada em 1943, o que lhe garantiu a lealdade da maioria do eleitorado da nova localidade. Foi eleito deputado estadual em 1947, deputado federal em pleitos consecutivos entre 1950 e 1960 e candidatou-se aos governos do estado da Guanabara, em 1961, e do Rio de Janeiro, em 1962, ficando em segundo lugar em ambas as ocasiões. Também se lançou como pré-candidato à Presidência da República no fim do governo de Juscelino Kubitschek, em 1960, sem sucesso (Beloch, 1986BELOCH, I. Capa preta e Lurdinha: Tenório Cavalcanti e o povo da Baixada. Rio de Janeiro: Record, 1986.: 43-61, 97 e 136; Ralston, 2013RALSTON, T. A. Social change and populist politics in Brazil: the Baixada Fluminense and the legendary Tenorio Cavalcanti, 1945-1964. 2013. Tese (Doutorado em História), Universidade do Arizona, Arizona (EUA), 2013.: 134-145).

Sobre a trajetória de Tenório muito já se produziu, entre livros jornalísticos, filmes e pesquisas acadêmicas. Foi um personagem controverso, cujos posicionamentos políticos oscilaram em diferentes momentos do liberalismo udenista ao socialismo, mas sempre se apresentando como um justiceiro, um “advogado do povo”, ou um “pistoleiro vingador das multidões”, acompanhado de sua inseparável metralhadora “Lurdinha”. Sua biografia conquistou as telas do cinema, em 1986, com O homem da capa preta, dirigido por Sérgio Rezende. Assim como ocorrera com O amuleto de Ogum 11 anos antes, o filme de Rezende também se sagrou vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Gramado (Beloch, 1986BELOCH, I. Capa preta e Lurdinha: Tenório Cavalcanti e o povo da Baixada. Rio de Janeiro: Record, 1986.; Grynszpan, 1990GRYNSZPAN, M. Os idiomas da patronagem: um estudo da trajetória de Tenório Cavalcanti. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, 1990; Silva, 2012SILVA, C. A. de S. e. A virtude dos sacrifícios versus a ciência das transações: Tenório Cavalcanti e o campo político do Rio de Janeiro. 2012. Tese (Doutorado em Ciências Sociais), Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.)2 2 Entre as produções que buscam explicar o fenômeno Tenório Cavalcanti, destacamos os trabalhos de Israel Beloch, que investe na categoria “coronelismo urbano”; Mário Grynszpan, que, diversamente de Beloch, utiliza os conceitos de “patronagem” e “clientelismo”; e Claudio Silva, que, dialogando com as noções de “populismo”, caracteriza o “tenorismo” como uma espécie de “udenismo popular”. ..

Figura 1
Localização da Baixada Fluminense e da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

O pano de fundo pouco explicitado nos filmes de Nelson Pereira dos Santos e Sérgio Rezende é o processo de intensa efervescência política vivido pela Baixada Fluminense no período do pós-guerra. Nos anos 1970 e 1980, enquanto a região atraía a atenção de cineastas e da imprensa principalmente pelos altos índices de violência, ela despontava como um importante centro político do estado do Rio de Janeiro, por dois motivos. De um lado, a Baixada vivia o auge da “explosão demográfica”, que a tornava decisiva nas disputas eleitorais estaduais. De outro, os movimentos sociais, incluindo aí sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais, associações de bairro, entidades de defesa da cultura africana e afrodescendente, além das próprias Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica, assumiam protagonismo cada vez maior na região.

O Cedim-UFRRJ, por meio da geração e da disponibilização de seus acervos digitais, tem influenciado, catalisado e desenvolvido variados estudos sobre a história da Baixada Fluminense, resgatando as experiências dos trabalhadores urbanos e rurais entre as décadas de 1940 e 1980. Desse modo, pretende contribuir para a superação de estereótipos altamente disseminados, como aqueles reproduzidos por filmes como os citados, que reduzem a imagem da região a características como violência e pobreza, dificultando a formação de identidades coletivas positivas entre seus habitantes.

A INSERÇÃO DA UFRRJ NA BAIXADA FLUMINENSE

A criação do Instituto Multidisciplinar (IM) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) em Nova Iguaçu, em 2006, ocorreu no contexto da primeira fase da expansão das universidades federais durante o governo Lula. Herdeira da Escola Superior de Agronomia e Medicina Veterinária (ESAMV), fundada em 1910, desde os anos 1970 a UFRRJ já vinha diversificando o perfil dos cursos de graduação oferecidos no campus de Seropédica, para além das ciências agrárias e correlatas, à medida que seu entorno se urbanizava e se integrava à Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A expansão ocorrida na primeira década do século XXI, contudo, deu-se em ritmo incomparavelmente mais acelerado. Em cerca de cinco anos, a universidade passou de 5 mil para 20 mil alunos, distribuídos em 58 cursos, espalhados em uma nova estrutura multicampi, com sedes nos municípios de Seropédica, Três Rios e Nova Iguaçu. Fruto desse processo, o IM-UFRRJ constitui a maior unidade de ensino superior criada no período sem ser uma nova universidade, com 11 cursos de graduação, cerca de 3.200 alunos e atuação dos docentes em oito programas de pós-graduação, seis deles em modalidade multicampi (aulas realizadas também em Seropédica)3 3 UFRRJ. História do campus. Disponível em: <http://r1.ufrrj.br/im/wp/historia-do-campus/>. Acesso em: 8 maio 2018. .

Foi, portanto, em um contexto de ampliação do acesso ao ensino superior, com a criação de um curso de história localizado no coração da Baixada Fluminense, que surgiu, em 2013, o Centro de Documentação e Imagem (Cedim), com o objetivo reunir, sistematizar, preservar e disponibilizar documentação histórica digitalizada. É importante ressaltar que, em que pesem os esforços de historiadores e memorialistas locais, a região carece de arquivos públicos. Em função disso, apesar de sua recente trajetória, o Cedim já está se constituindo em uma das poucas instituições voltadas para a disponibilização de fontes históricas sobre a Baixada Fluminense ao público mais amplo, sobretudo por meio da internet4 4 Convém registrar importantes iniciativas, visando ao estabelecimento de arquivos públicos na Baixada Fluminense. A Fundação Educacional de Duque de Caxias (Feuduc), por exemplo, chegou a organizar um importante Centro de Memória, Pesquisa e Documentação da História da Baixada Fluminense (Cempedoch-BF), mas a iniciativa não teve prosseguimento. Já a Câmara Municipal de Duque de Caxias mantém, desde 1973, um Instituto Histórico, que reúne importantes acervos físicos sobre a cidade e a Baixada de forma geral. Em todos os casos, porém, faltam estruturas tecnológicas e pessoal capacitado, necessários à preservação e à disponibilização dos acervos. .

Diante da própria ausência de condições para a manutenção de um acervo físico, o Cedim vem se notabilizando na digitalização, catalogação e disponibilização de acervos relacionados, prioritariamente, com a história da Baixada Fluminense5 5 Disponível em: <http://r1.ufrrj.br/cedim/index.php/acervo/> e <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/ 1235813/2>. Acessos em: 21 dez. de 2018. . Na maior parte dos casos, esses acervos digitais são produzidos a partir de parcerias com instituições (órgãos de imprensa, cartórios, Prefeitura Municipal, Cúria Diocesana etc.) e movimentos sociais locais. As condições de acesso a esses acervos são negociadas caso a caso com os detentores de direitos sobre a documentação, em geral resultando em transferência temporária e gradual dos acervos para o Cedim, a fim de que seja processada sua digitalização e catalogação. O Centro funciona também como laboratório de pesquisa e ensino aberto aos vários cursos existentes no Instituto, ainda que, por sua natureza, esteja ligado mais diretamente à graduação e à pós-graduação em história.

A geração e a disponibilização de um crescente acervo digital têm contribuído para minimizar uma carência latente, que sempre prejudicou, em muito, o trabalho dos pesquisadores da região. A expansão da busca de acesso a esses acervos começou rapidamente a sobrecarregar a limitada estrutura física do Cedim. Funcionando em uma sala de 25 metros quadrados aproximadamente, empregando bolsistas e voluntários de graduação nas diversas atividades cotidianas, como as de digitalização do material, transcrição de entrevistas, identificação do material, catalogação, além de disponibilizar dois terminais de vídeo para pesquisa dos consulentes, o espaço foi se tornando cada vez mais exíguo.

As limitações do espaço disponível para os pesquisados somou-se às preocupações com a ampliação do acesso à documentação e com a importância de divulgação do trabalho realizado pelo Centro, o que levou a equipe à busca de informações sobre os potenciais abertos pela disponibilização de acervos digitais online. A partir daí, começamos a analisar outras plataformas utilizadas por diversos centros de pesquisa, arquivos e bibliotecas no Brasil e em outros países. Incorporamos a concepção de ciência aberta (open science), pautada pela disponibilização não apenas dos produtos finais, mas das bases de dados e fontes geradas no processo de pesquisa.

O projeto de criação de um Centro de Referência em História do Trabalho, coordenado pelo professor Alexandre Fortes, obteve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O objetivo inicial era constituir um conjunto de acervos e instrumentos de referência sobre a história do trabalho no Brasil (acervos textuais, orais e bibliografia comentada), visando a contribuir para o desenvolvimento de pesquisas históricas sistemáticas e abrangentes nessa área, e seu produto final seria a criação de uma plataforma digital online para difundir os acervos reunidos. A proposta acabou se expandindo para uma plataforma que abrigasse gradualmente todos os acervos do Cedim, além da produção acadêmica do IM-UFRRJ. Daí surgiu o Repositório do Instituto Multidisciplinar e Acervos (Rima), disponível em <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/>, construído com a assessoria técnica de Ricardo Campos, que opera baseado no software DSpace.

A criação do Rima contribuiu também para a construção da política institucional de acervos da UFRRJ e para o estabelecimento de parcerias de capacitação com o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT-Fiocruz), visando a tornar a universidade autônoma no domínio tecnológico e na regulamentação do uso do DSpace, também utilizado no repositório de teses e dissertações (<https://tede.ufrrj.br/?locale=pt_BR>). Nesse sentido, o projeto inclui o fortalecimento do Cedim, e a construção de um novo Laboratório de Digitalização e Conservação no campus de Seropédica foi aprovado no edital CT-Infra da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em 2018.

O processo de implantação do repositório gerou ainda uma colaboração interdisciplinar entre as áreas de história e ciência da computação, com foco em tecnologias de mineração de dados aplicada à pesquisa histórica, e desdobrou-se na elaboração de uma proposta de mestrado em humanidades digitais, aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 2018. A expertise adquirida pela UFRRJ por meio do Cedim, no que diz respeito à digitalização e à disponibilização de acervos, vem sendo reconhecida externamente, o que gera demandas que extrapolam o alcance originalmente previsto. Um exemplo significativo foi a parceria firmada com um grupo de docentes especializados em história da América Latina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) para a digitalização da coleção completa da revista Cadernos do Terceiro Mundo, realizada com apoio do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (Iema).

Exemplificaremos o potencial das coleções de documentos históricos disponibilizadas pelo Cedim, analisando a parceria estabelecida entre o Centro e a Cúria Metropolitana de Nova Iguaçu. Para compreender a relevância dessa documentação, entretanto, é necessário traçar um breve panorama das lutas sociais na segunda metade do século XX na região e da atuação da Igreja junto a esses movimentos.

APONTAMENTOS SOBRE A EFERVESCÊNCIA POLÍTICA ENTRE AS DÉCADAS DE 1950 E 1980 E A PRESENÇA DA IGREJA CATÓLICA

A Baixada Fluminense, atualmente com uma população em torno de 4 milhões de habitantes (a depender da definição dos municípios que compõem a região), sofreu um intenso processo de crescimento demográfico, mudanças na ocupação do solo e na produção econômica na segunda metade do século XX. A partir de meados dos anos 1950, a região viveu o declínio da agricultura, com destaque para a crise da citricultura, e o crescimento paulatino de algumas indústrias de pequeno e médio porte (Geiger e Santos, 1954GEIGER, P. P.; SANTOS, R. L. Notas sôbre a evolução da ocupação humana na Baixada Fluminense. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, ano 26, n. 3. jul./set.1954.; Rodrigues, 2006RODRIGUES, A. O. De Maxambomba a Nova Iguaçu (1833-90’s): economia e território em processo. 2006. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.; Pereira, 1977PEREIRA, W. Cana, café e laranja: história econômica de Nova Iguaçu. Rio de Janeiro: FGV, 1977.; Soares, 1962SOARES, M. T. de S. Nova Iguaçu: absorção de uma célula urbana pelo grande Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, ano 24, n. 2, abr./jun. 1962.; Souza, 1992SOUZA, S. M. de. Da laranja ao lote: transformações sociais em Nova Iguaçu. 1992. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1992.).

Tabela 1
Dados populacionais (1940-1970)

Ao mesmo tempo, a inauguração da Rodovia Presidente Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, e a expansão da malha ferroviária tornaram-na atrativa para migrantes que buscavam trabalho na capital do estado, mas não tinham condições de arcar com os custos da moradia na cidade do Rio de Janeiro. Em poucas décadas, o número de moradores da Baixada Fluminense dobrou. Nova Iguaçu, maior cidade da região, passou de 145 mil habitantes, nos anos 1950, para 727 mil, nos anos 1970, conforme observamos na Tabela 1.

O crescimento desordenado transformou a Baixada Fluminense em um local de extrema pobreza e exclusão social. Nessas circunstâncias, as violações de direitos básicos de cidadania ganharam contornos assustadores na região. A falta de moradia e saneamento básico, a ausência de equipamentos mínimos de saúde e educação, os assassinatos massivos cometidos à sombra dos poderes políticos local e policial passaram a se associar fortemente à imagem da Baixada (Alves, 2003ALVES, J. C. S. Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada Fluminense. Duque de Caxias: APPH-Clio, 2003.).

Mas a região também foi cenário de importantes lutas sociais desde a década de 1940. Na área rural, destacaram-se os conflitos pela posse da terra em localidades como Pedra Lisa, em Nova Iguaçu, e Xerém, em Duque de Caxias. 6 6 A Associação de Pedra Lisa, chamada Sociedade dos Lavradores e Posseiros de Pedra Lisa, em Nova Iguaçu, foi fundada por Bráulio Rodrigues em 1948, constando como a primeira organização de lavradores da Baixada Fluminense. Em 1949, José Pureza organizou a criação de uma comissão de lavradores em Xerém, que seria o embrião da Associação dos Lavradores Fluminenses (ALF). Na área urbana, as greves e os conflitos fabris em indústrias têxteis da região, na Fábrica Nacional de Motores (FNM) e na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc). As lutas aprofundaram-se na resistência à ditadura, capitaneada por movimentos apoiados pelos chamados “bispos progressistas” da Igreja Católica na região, entre eles Dom Adriano Hypólito, da Diocese de Nova Iguaçu. Tendo chegado à região na década de 1960, Dom Adriano notabilizou-se por fomentar as CEBs, que deram origem ao Movimento de Amigos de Bairro (MAB). Essas experiências contribuíram também para a formação de uma base social militante por organizações de esquerda na Baixada, desembocando na criação do Partido dos Trabalhadores (PT), na década de 1980 (Cantalejo, 2008CANTALEJO, M. H. de S. O município de Duque de Caxias e a ditadura militar: 1964-1985. 2008. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.; Silva, 2004SILVA, P. Origem e trajetória do Movimento de Amigos de Bairro em Nova Iguaçu. 2004. Dissertação (Mestrado em Educação), Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 2004.; Pinheiro Jr., 2007PINHEIRO JR., J. da M. A formação do PT na Baixada Fluminense: um estudo sobre Nova Iguaçu e Duque de Caxias. 2007. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007.; Sótenos, 2013SÓTENOS, A. F. O surgimento do Movimento Amigos de Bairros no Rio de Janeiro e a comunidade de informações no período de distensão política (1974-1985). 2013. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.).

Durante o regime militar, a Baixada Fluminense, por ser uma região com significativo e variado processo de industrialização e com histórico de conflitos agrários e urbanos, chegou a atrair diversos grupos de resistência à ditadura, que passaram a atuar junto aos movimentos sociais locais (Carvalho, 2015CARVALHO, M. S. M. A greve da Bayer Belford Roxo: ascensão e crise de uma indústria multinacional na Baixada Fluminense (1958-1989). 2015. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2015.; Costa, 2009COSTA, P. A. Duque de Caxias: de cidade dormitório à cidade do refino do petróleo, entre o início dos anos 1950 e o início dos anos 1970. 2009. Tese (Doutorado em História), Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2009.; Grinszpan, 1987; Mendonça, 2017MENDONÇA, C. B. “Família Compactor”: a trajetória da cia. de canetas Compactor e a relação com os trabalhadores no processo de industrialização de Nova Iguaçu nos anos 1950, 1960 e 1970. 2017. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2017.; Ramalho, 1989RAMALHO, J. R. Estado-patrão e luta operária: o caso FNM. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.; Ribeiro, 2015RIBEIRO, F. A foice, o martelo e outras ferramentas de ação política: os trabalhadores rurais e têxteis de Magé/RJ (1956-1973). 2015. Tese (Doutorado em História), Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 2015.). Um exemplo disso foi o Partido Comunista do Brasil - Ala Vermelha (PCdoB-AV), dissidente comunista que abandonou a guerrilha para atuar em táticas de inserção junto aos trabalhadores e trabalhadoras na região durante a ditadura. Uma das principais ferramentas de mobilização utilizadas pelo grupo foi o Jornal da Baixada, periódico que circulou entre os anos 1979 e 1980 (Ribeiro, 2013RODRIGUES, A. O. De Maxambomba a Nova Iguaçu (1833-90’s): economia e território em processo. 2006. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.)7 7 A coleção completa do Jornal da Baixada, digitalizado pelo Cedim, pode ser acessada em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/83>. .

Por outro lado, setores conservadores e ligados ao regime militar também procuram mobilizar-se tanto para evitar a atuação de movimentos sociais quanto para se beneficiar das políticas econômicas do regime militar. Nos pleitos de 1972, 1974 e 1976, o município de Nova Iguaçu ocupava a oitava colocação entre os maiores colégios eleitorais do país, o maior sem ser capital de estado. Duque de Caxias vinha em 11o lugar, São João de Meriti, em 20o, Nilópolis, em 66o, e Magé, na 70o colocação (Jornal do Brasil, 21 nov. 1976: 24). Por seu peso eleitoral, a região tornou-se alvo dos interesses do partido de sustentação dos governos militares, a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Deputados arenistas chegaram a propor - nas discussões que culminaram no estabelecimento legal da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em 1974 - a formação de uma superintendência para o desenvolvimento da Baixada Fluminense. Esse debate gerou tensões entre os próprios políticos locais, alguns alegando que a proposta só valeria a pena se fosse “totalmente desapegada de qualquer movimento demagógico, visando uma compensação eleitoral” (Correio da Manhã, 2 jun. 1970: 10).

Um exemplo da relação entre os interesses locais e o regime militar pode ser exemplificada pela trajetória da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis. Contraventores do jogo do bicho ocupavam cargos estratégicos na escola e mantinham estreitas relações com os governos militares. Desfilando “sambas de exaltação ao regime”, no início da década de 1970, a Beija-Flor sagrou-se como a primeira campeã do Carnaval carioca com sede fora da cidade do Rio de Janeiro, em 1976, tendo como enredo o próprio jogo do bicho (Bezerra, 2010BEZERRA, L. A. A família Beija-Flor. 2010. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010.).

É nesse contexto que precisamos situar a atuação política da Diocese de Nova Iguaçu, sob Dom Adriano Hypólito, que assumiu o cargo em novembro de 1966 e teve seu episcopado marcado pela aproximação da Igreja com os pobres e pelo profundo engajamento nas causas sociais. Por meio das CEBs, das Pastorais Operária e Camponesa, a Diocese de Nova Iguaçu deu suporte a movimentos de ocupações de terra rurais e urbanas, movimentos de bairro e aos militantes de direitos humanos. Também disponibilizava espaço para que diversos movimentos pudessem realizar reuniões em suas dependências e criou a Escola de Líderes, voltada para a formação política de leigos (Silva, 2014SILVA, G. do N. Um atentado à paixão do povo: fé e política na evangelização da Diocese de Nova Iguaçu nas décadas de 1960 e 1970. 2014. Dissertação (Mestrado em História), Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.). Em função de sua atuação, Dom Adriano Hypólito chegou a ser sequestrado por agentes da repressão, em 1976, sendo espancado e abandonado nu, com o corpo pintado de vermelho, em um matagal na cidade do Rio de Janeiro, enquanto seu carro foi destruído em uma explosão. Três anos depois, uma bomba foi detonada em pleno altar da Catedral da Diocese de Nova Iguaçu (Gomes, 2012GOMES, A. Religião e política: construção da memória de Dom Adriano Hypólito. 2012. Dissertação (Mestrado), Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.; Serafim, 2014SERAFIM, A. A Missa da Unidade entre faixas e crucifixos: hierarquia e política na Diocese de Nova Iguaçu (1982). 2014. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2014.)8 8 Os dossiês originais produzidos pela Diocese de Nova Iguaçu sobre a repercussão dos atentados cometidos pela extrema direita contra Dom Adriano Hypólito, digitalizados pelo Cedim, podem ser acessados em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/8>. .

A PARCERIA DO CEDIM E A CÚRIA METROPOLITANA DE NOVA IGUAÇU

Durante o bispado de Dom Adriano Hipólyto, entre 1966 e 1996, a diocese acumulou um número expressivo de documentos relativos tanto às atividades eclesiais quanto à luta dos trabalhadores rurais e urbanos, além de diversos outros conflitos sociais. Em uma região carente de equipamentos públicos, a Cúria Metropolitana tem o maior acervo documental sobre a história dos trabalhadores da Baixada Fluminense (Conselho Nacional de Arquivos (Conarq - Parecer no 16/2011).

Por outro lado, a Igreja não tem condições materiais e de pessoal para disponibilizar regularmente ao consulente o acesso a essa documentação. A partir desse diagnóstico, o Cedim estabeleceu, em maio de 2015, seu primeiro termo de cooperação institucional, por meio do qual se comprometeu a digitalizar e a disponibilizar na internet os documentos guardados no arquivo da Cúria. Diante dos poucos recursos disponíveis para o desenvolvimento do trabalho, optou-se por iniciar essa digitalização a partir de documentos de maior interesse para pesquisadores e em melhor estágio de organização.

Até o momento, entre outros documentos digitalizados e disponibilizados, destacamos os seguintes fundos documentais da Cúria Metropolitana9 9 O conjunto da documentação digitalizada até o momento a partir da celebração do convênio pode ser acessado em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/3>. :

  1. Apóstola da Baixada - Irmã Filomena Lopes Filha (1946-1990) - A freira Filomena Lopes Filha integrou o Instituto de Educação Santo Antônio (Iesa), em Nova Iguaçu, e organizou grupos de sem-teto para a construção de casas em bairros como Itaipu, em Belford Roxo. Com seu envolvimento na questão das moradias, foi assassinada em 1990;

  2. Dossiê Dom Adriano Hypólito - Compõe um conjunto de 13 pastas de documentos sobre a vida de Dom Adriano Hypólito como bispo de Nova Iguaçu (1966-1994). A documentação versa principalmente sobre o sequestro sofrido pelo bispo, em 1976, e o atentado à bomba na catedral da cidade Nova Iguaçu, em 1979. Esses dois episódios foram uma retaliação à atuação do bispo junto aos movimentos sociais e ao movimento de direitos humanos;

  3. Juventude Operária Católica (JOC) - Movimento de formação de jovens trabalhadores, fundado pelo cardeal Joseph Cardijn, em 1925. O Fundo tem documentos sobre a presença da JOC na Baixada Fluminense, bem como sobre sua atuação no Brasil;

  4. Pastoral Operária (PO) - Documentação sobre a atuação da Pastoral Operária em Nova Iguaçu e no Brasil, com destaque para a inserção dos participantes ligados à Igreja em diversos movimentos de trabalhadores na região;

  5. Ocupações urbanas - Baixada Fluminense - Reúne documentos a respeito de ocupações urbanas na Baixada Fluminense, com reflexões bem interessantes sobre a participação da Igreja junto aos movimentos de ocupação;

  6. Reforma agrária e trabalhadores rurais - Reúne documentação relativa à questão agrária na Baixada Fluminense e em nível nacional;

  7. Direitos humanos e a Diocese de Nova Iguaçu - Conjunto de documentos relacionados com a participação da Diocese de Nova Iguaçu em movimentos pelos direitos humanos no Brasil e nas denúncias sobre assassinatos na Baixada Fluminense.

OUTRAS PARCERIAS CELEBRADA PELO CEDIM

Além da documentação proveniente da Cúria Metropolitana, o Cedim, por meio de diversos acordos e doações, tem outros fundos que possibilitam a pesquisa sobre a história dos movimentos sociais na Baixada Fluminense.10 10 Os acervos comentados adiante, entre outros, podem ser acessados na comunidade Cedim do Rima, disponível em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/2>. Entre outros materiais, podemos destacar:

  1. Correio da Lavoura - É o jornal mais antigo da cidade de Nova Iguaçu e do Rio de Janeiro, ainda em circulação. Fundado em 22 de março de 1917 por Silvino Hipólito de Azeredo, tem periodicidade semanal. A análise de seus exemplares possibilita pesquisas de mais variados matizes sobre a inserção dos trabalhadores na história da região;

  2. Jornal da Baixada - Circulou entre os anos 1979 e 1980. Foi um periódico da chamada imprensa alternativa, que nasceu do esforço de moradores e trabalhadores da Baixada Fluminense, com a colaboração de um grupo de jornalistas. Está ainda relacionado com militantes da Ala Vermelha, uma dissidência do PCdoB, que atuavam na Baixada Fluminense durante a ditadura militar;

  3. Entrevistas - Reúne depoimentos concedidos por militantes de diversos movimentos sociais da Baixada Fluminense, como de trabalhadores que participaram da greve da empresa Bayer S.A. em 1989, na cidade de Belfort Roxo;

  4. Livros de escrituras e procurações do 2o Ofício de Justiça de Nova Iguaçu - Registro de Imóveis da 1a Circunscrição - Fontes produzidas entre 1834 e 1894, agrupando dados acerca de personagens expoentes da região, como o comendador Soares e o barão de Tinguá. Essa documentação também aglomera informações sobre escravos e pequenos comerciantes, especialmente nos distritos que compuseram o que atualmente é o município de Nova Iguaçu. Sua análise possibilita, entre outras abordagens, a discussão sobre trabalho livre e trabalho escravo na região da Baixada Fluminense;

  5. Livros de atos oficiais de Nova Iguaçu - A coleção contempla decretos e resoluções emitidas pelo poder municipal de Nova Iguaçu, entre 1948 e 1974. Além de temas mais amplos da administração da cidade, a documentação possibilita pesquisas sobre a demanda dos trabalhadores à Câmara Municipal.

A partir dessa ampla gama documental, os pesquisadores associados ao Cedim têm desenvolvido projetos mais amplos, para sistematizar os esforços e as reflexões a respeito da história dos trabalhadores. Entre essas iniciativas, destacam-se a criação do Centro de Referência em História da Baixada Fluminense (CRHBF), do Centro de Referência em História do Trabalho (CRHT) e do Grupo de Estudos Mundos do Trabalho e o Pós-Abolição (Gemtrapa).

A primeira iniciativa aglutina diversos projetos de pesquisa sobre a história da Baixada Fluminense que vêm sendo realizados desde 2006 e que têm gerado tanto trabalhos autorais quanto instrumentos de pesquisa voltados ao fomento de novas investigações. O segundo projeto pretende constituir, no âmbito do IM-UFRRJ, um conjunto de acervos e instrumentos de referência sobre a história do trabalho no Brasil que contribuam para o desenvolvimento de pesquisas históricas sistemáticas e abrangentes nessa área tanto na UFRRJ e em instituições parceiras no projeto quanto no país como um todo. O terceiro busca analisar os mundos do trabalho e sua relação com o processo histórico que aboliu jurídica e politicamente o trabalho escravo e no qual surgiram formas diversas de trabalho compulsório e livre no país, tendo especial atenção àquelas decorrentes das migrações de nordestinos e gerações descendentes de escravos do Vale do Paraíba para a Baixada Fluminense. Além desses, destaca-se o Grupo de Estudos Históricos da Baixada Fluminense (GEHBAF), no qual estão incluídos pesquisadores especializados em diferentes momentos, desde a antiga Iguassu até o que denominamos hoje Baixada Fluminense.

A partir das pesquisas realizadas por esses grupos e por pesquisadores individuais, valendo-se amplamente dos acervos digitais disponibilizados pelo Cedim, a visibilidade historiográfica da Baixada Fluminense vem se ampliando, e a diversidade e a riqueza da história da região passam a ser gradualmente reconhecidas11 11 Até novembro de 2019, a comunidade Cedim do Rima recebeu 3.376 acessos, sendo 18% de internautas de outros países (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, Argentina, Costa Rica, Espanha, Países Baixos, Portugal e Arábia Saudita). .

CONCLUSÕES

A implantação da UFRRJ na Baixada Fluminense e a criação de seus cursos de graduação e pós-graduação em história estão influenciando de forma significativa a produção historiográfica e a mobilização de setores da sociedade em torno da memória e da história local. Por sua vez, a criação do Cedim vem ajudando a catalisar diversos projetos individuais e coletivos voltados à pesquisa histórica na região, alguns dos quais já existentes tanto dentro quanto fora dos muros da universidade.

É significativo dessa mobilização em torno da história regional o fato de um número crescente de alunos de história do IM-UFRRJ escolherem como tema de seus trabalhos de conclusão de curso aspectos relativos à história da Baixada Fluminense, conforme pode ser verificado nos 165 trabalhos já disponibilizados na comunidade criada com essa finalidade no Rima. 12 12 Disponível em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/31>. Acesso em: 13 dez. 2019. Gradualmente, essa tendência de produção de pesquisas empíricas originais sobre diversos temas da história regional também começa a se refletir nas teses e dissertações produzidas no Programa de Pós-Graduação em História da UFRRJ. Os resultados gerados por essas novas pesquisas representam uma expansão bastante expressiva do corpo de estudos acadêmicos sobre a história local, sobretudo no que tange aos trabalhadores e movimentos sociais, contribuindo para a superação do preconceito que estigmatiza a Baixada Fluminense como um local marcado apenas pela violência, pela pobreza e pela precarização e para a valorização do protagonismo de um amplo leque de sujeitos sociais, todos portadores de ricas experiências históricas.

A criação do Cedim tem possibilitado também o fortalecimento da articulação entre diversos atores sociais e políticos unidos em torno da causa da valorização da história da região. Um momento relevante dessa aproximação deu-se em junho de 2015, quando foi realizado, no campus de Nova Iguaçu, o lançamento do Rima, que tornou possível a disponibilização online do acervo do Cedim.13 13 Estiveram presentes, entre outros convidados, o então bispo da Diocese de Nova Iguaçu, Dom Luciano Bergamine; o padre Luigi Costanzo Bruno e o coordenador do Arquivo da Diocese de Nova Iguaçu, Antônio Lacerda, compondo uma mesa sobre as memórias e histórias de Dom Adriano Hypólito. Além dos professores e pesquisadores do Cedim, compareceram ainda o professor José Ricardo Ramalho, autor de uma importante obra sobre a luta dos trabalhadores na Baixada Fluminense, e a professora Dulce Pandolfi, que estudou temas relacionados com a história da Igreja e também sobre a ditadura militar. Na ocasião, foi lançada a coletânea A Baixada Fluminense e a ditadura militar, que viria a ser premiada com Menção Honrosa no XV Prêmio Baixada 2016 - segmento Produção Acadêmica, em evento organizado pelo Fórum Cultural da Baixada Fluminense.

Como vimos, na década de 1970 a imprensa e os cineastas mobilizaram estereótipos para despertar a “curiosidade geral” da opinião pública dos grandes centros do país pela Baixada Fluminense. Hoje, iniciativas como as do Cedim vêm proporcionando os meios para que a história da região comece a ser conhecida em pé de igualdade com a de áreas mais privilegiadas do país. Não mais apenas um objeto exótico sujeito a olhares condescendentes, a Baixada resgata seu protagonismo próprio, outrora silenciado por preconceitos.

Flórez salienta as tensões inerentes ao caráter eminentemente global da história digital. De um lado, ela expressa a dominação da língua inglesa e o poder das grandes corporações tecnológicas (que dominam o desenvolvimento dos equipamentos computacionais). De outro, proporciona uma “acumulação de histórias locais”, na qual “as histórias subalternas, as memórias ocultas e ocultadas” emergem, desafiando as narrativas tradicionais estabelecidas (Flórez, 2011FLÓREZ, J. A. M. Historia digital: la memoria en el archivo infinito. Historia Critica, Bogotá, n. 43, p. 82-103, jan./abr. 2011.: 84).

Como destacam Guldi e Armitage, a superação desses riscos passa pela criação de “estruturas microarquivísticas para a narrativa macro-histórica”, a partir de projetos de história digital com foco nas vozes de atores sociais subalternos. A implementação dessas iniciativas, destacam os autores, constitui um desafio fundamental, de natureza inerentemente colaborativa e interdisciplinar, que redesenha o próprio padrão de atuação profissional do historiador, habilitando-o, a partir do diálogo com arquivistas, bibliotecários e profissionais de computação, a se inserir na “vanguarda do design informacional” (Guldi e Armitage, 2014GULDI, J.; ARMITAGE, D. The history manifesto. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.: 109).

O trabalho do Cedim do IM-UFRRJ no campo da história digital, em seus poucos anos de atuação, é um exemplo claro da possibilidade de realização desses potenciais mesmo em contextos particularmente adversos.

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  • VERLY, C. Aluno da UFRRJ inova e faz sucesso com sua página “História no Paint”. Rural Semanal, abr. 2019. Disponível em: <Disponível em: https://portal.ufrrj.br/aluno-da-ufrrj-inova-e-faz-sucesso-com-sua-pagina-historia-no-paint/ >. Acesso em:13 dez. 2019.
    » https://portal.ufrrj.br/aluno-da-ufrrj-inova-e-faz-sucesso-com-sua-pagina-historia-no-paint/
  • 1
    Tem sido bastante debatida no meio universitário a noção de Baixada Fluminense, que não foi uma denominação estabelecida formalmente. Há diversas tensões para se definir quais os municípios que compõem a região. Consideramos Baixada Fluminense o território que reúne os municípios derivados das Vilas de Iguaçu e Estrela, estabelecidas no século XIX, ou seja, os atuais municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti. Em definições mais abrangentes, os municípios de Guapimirim, Itaguaí e Seropédica também fariam parte da Baixada.
  • 2
    Entre as produções que buscam explicar o fenômeno Tenório Cavalcanti, destacamos os trabalhos de Israel Beloch, que investe na categoria “coronelismo urbano”; Mário Grynszpan, que, diversamente de Beloch, utiliza os conceitos de “patronagem” e “clientelismo”; e Claudio Silva, que, dialogando com as noções de “populismo”, caracteriza o “tenorismo” como uma espécie de “udenismo popular”.
  • 3
    UFRRJ. História do campus. Disponível em: <http://r1.ufrrj.br/im/wp/historia-do-campus/>. Acesso em: 8 maio 2018.
  • 4
    Convém registrar importantes iniciativas, visando ao estabelecimento de arquivos públicos na Baixada Fluminense. A Fundação Educacional de Duque de Caxias (Feuduc), por exemplo, chegou a organizar um importante Centro de Memória, Pesquisa e Documentação da História da Baixada Fluminense (Cempedoch-BF), mas a iniciativa não teve prosseguimento. Já a Câmara Municipal de Duque de Caxias mantém, desde 1973, um Instituto Histórico, que reúne importantes acervos físicos sobre a cidade e a Baixada de forma geral. Em todos os casos, porém, faltam estruturas tecnológicas e pessoal capacitado, necessários à preservação e à disponibilização dos acervos.
  • 5
    Disponível em: <http://r1.ufrrj.br/cedim/index.php/acervo/> e <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/ 1235813/2>. Acessos em: 21 dez. de 2018.
  • 6
    A Associação de Pedra Lisa, chamada Sociedade dos Lavradores e Posseiros de Pedra Lisa, em Nova Iguaçu, foi fundada por Bráulio Rodrigues em 1948, constando como a primeira organização de lavradores da Baixada Fluminense. Em 1949, José Pureza organizou a criação de uma comissão de lavradores em Xerém, que seria o embrião da Associação dos Lavradores Fluminenses (ALF).
  • 7
    A coleção completa do Jornal da Baixada, digitalizado pelo Cedim, pode ser acessada em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/83>.
  • 8
    Os dossiês originais produzidos pela Diocese de Nova Iguaçu sobre a repercussão dos atentados cometidos pela extrema direita contra Dom Adriano Hypólito, digitalizados pelo Cedim, podem ser acessados em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/8>.
  • 9
    O conjunto da documentação digitalizada até o momento a partir da celebração do convênio pode ser acessado em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/3>.
  • 10
    Os acervos comentados adiante, entre outros, podem ser acessados na comunidade Cedim do Rima, disponível em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/2>.
  • 11
    Até novembro de 2019, a comunidade Cedim do Rima recebeu 3.376 acessos, sendo 18% de internautas de outros países (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, Argentina, Costa Rica, Espanha, Países Baixos, Portugal e Arábia Saudita).
  • 12
    Disponível em: <http://rima.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/31>. Acesso em: 13 dez. 2019.
  • 13
    Estiveram presentes, entre outros convidados, o então bispo da Diocese de Nova Iguaçu, Dom Luciano Bergamine; o padre Luigi Costanzo Bruno e o coordenador do Arquivo da Diocese de Nova Iguaçu, Antônio Lacerda, compondo uma mesa sobre as memórias e histórias de Dom Adriano Hypólito. Além dos professores e pesquisadores do Cedim, compareceram ainda o professor José Ricardo Ramalho, autor de uma importante obra sobre a luta dos trabalhadores na Baixada Fluminense, e a professora Dulce Pandolfi, que estudou temas relacionados com a história da Igreja e também sobre a ditadura militar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2020

Histórico

  • Recebido
    01 Ago 2019
  • Aceito
    03 Dez 2019
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