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Competências Infocomunicacionais: possibilidades para uma ultrapassagem lógica

Infocommunication Skills: possibilities for a logical overtaking

Resumo

O presente trabalho objetiva ampliar as discussões sobre as Competências Infocomunicacionais, por meio de reflexões que buscam desnudar estigmas intrínsecos em seus distintos discursos. Pretende-se, por conseguinte, empreender um esforço para se fazer uma transposição lógica dos seus atributos constitutivos — competência em informação, em comunicação e habilidades operacionais —, para além da perspectiva instrumental. Com esse fim, o caminho metodológico, teórico-reflexivo, foi ancorado na dialógica. Destarte, refletiu-se sobre possibilidades de se proceder um alargamento conceitual acerca do tema, tomando-se o cuidado em não se eliminar as contradições discursivas envolvidas no processo em curso. Concluiu-se, portanto, que a expressão “competência”, considerando o seu aspecto provocador, que remete a uma imediata antítese da desqualificação e submissão, por outro lado, obriga à reflexão sobre as aberturas lógicas propiciadas por suas tensões, sendo, portanto, adequada e suficiente para o fortalecimento de um discurso epistêmico referente à infocomunicação no âmbito da Ciência da Informação.

Palavras-chave:
Ciência da Informação; Competência; Competência em Informação; Competência em Comunicação; Competências Infocomunicacionais

Abstract

The present work aims to expand the discussions about infocommunication skills, through reflections that seek to denude intrinsic stigmas in their different speeches. It is intended, therefore, to make an effort to make a logical transposition of its constitutive attributes — information, communication and operational skills — beyond the instrumental perspective. To this end, the methodological theoretical-reflexive path was anchored in dialogic. Thus, a reflection was made on the possibilities of proceeding with a conceptual broadening of the theme, taking care not to eliminate the discursive contradictions involved in the ongoing process. It is concluded that the expression “skill”, considering its provocative aspect, which leads us to an immediate antithesis of disqualification and submission; on the other hand, it forces reflection on the logical openings provided by its tensions, being, therefore, adequate and sufficient for strengthening an epistemic speech referring to infocommunication in the field of Information Science.

Keywords:
Information Science; Competence; Information Skills; Communication Skills; Infocommunication Skills

Introdução

Neste artigo, será traçado um percurso que, inicialmente, problematiza a competência em informação, desembocando em uma trajetória que remete às Competências Infocomunicacionais (doravante Competências InfoCom), considerando essas já como atributo da própria Ciência da Informação (CI).

Busca-se mostrar a trajetória construída na direção de retirar a centralidade da concepção de domínio que se instaura nos discursos das competências. Para isso, recorreu-se, sobretudo, a Chauí ( 2014Chauí, M. A ideologia da competência. In: Rocha, A. (org.). Escritos de Marilena Chaui. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. v. 3, p. 55-61.), Ardoino ( 2001Ardoino, J. A complexidade. In: Morin, E. (org.). A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Tradução e notas de Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 548-558.) e Martín-Barbero ( 2008Martín-Barbero, J. Saberes de hoje: disseminações, competências e transversalidade. In: Martín- Barbero, J. M. Comunicação e história interfaces e novas abordagens. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. p. 237-252.), entre outros autores, para colocar a questão, conforme defendem Daher Junior e Borges DAHER JUNIOR; BORGES ( 2021Daher Junior, F. J.; Borges, J. Ciência da Informação e Competências Infocomunicacionais: possíveis diálogos epistêmicos. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 26, n. 4, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/37612. Acesso em: 5 jan. 2022.
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), a partir do princípio da dupla complexidade teorizado por Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.).

Na perspectiva de compreender os distintos discursos que gravitam em torno do tema, busca-se superar o estigma contido no termo “competência”. Para tanto, será feita uma breve incursão na trajetória da American Library Association AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION ( 1998American Library Association. A progress report on information literacy: an update on the American Library Association Presidential Committee on Information Literacy: Final Report. Mar. 1998. Disponível em: http://www.ala.org/acrl/publications/whitepapers/progressreport. Acesso em: 20 de jun. 2019.
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), da Association of College and Research Libraries ( 2015Association of College and Research Libraries. Information literacy framework for higher education. 2015. Disponível em: https://view.officeapps.live.com/op/view.aspx?src=https%3A%2F%2Fconnect.ala.org%2FHigherLogic%2FSystem%2FDownloadDocumentFile.ashx%3FDocumentFileKey%3D804d3267-5144-494e-bf20-3766443b507e%26forceDialog%3D0&wdOrigin=BROWSELINK. Acesso em: 30 ago. 2021.
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), da International Federation of Library Associations and Institutions ( 2005International Federation of Library Associations and Institutions. Faróis da sociedade da informação: Declaração de Alexandria sobre literacia da informação e aprendizagem ao longo da vida. Alexandria, Egito, nov. de 2005. Disponível em: https://www.ifla.org/wp-content/uploads/2019/05/assets/wsis/Documents/beaconinfsoc-pt.pdf. Acesso em: 15 jun. 2019.
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) e da Unesco UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION ( 2014United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Paris declaration on media and information literacy in the digital era. Paris: Unesco, 2014. Disponível em: https://www.unesco.org/en/articles/paris-declaration-media-and-information-literacy-adopted#:~:text=The%20Declaration%20reaffirms%20. Acesso em: 16 ago. 2021.
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), permeando, com reflexões mais críticas acerca de questões que envolvem a comunicação, a informação e as novas mídias, buscando também em Marteleto e Saldanha ( 2016Marteleto, R.; Saldanha, G. Informação: qual estatuto epistemológico. In: Morigi, V.; Jacks, N.; Golin, C. (org.). Epistemologias, comunicação e informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 69-90.), Gomes ( 2016Gomes, H. F. Comunicação e Informação: relações dúbias, complexas e intrínsecas. In: Morigi, V.; et al. (org.). Epistemologias, Comunicação e Informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 91-107.), Mattelart ( MATTELART, 2005aMattelart, A. História das teorias da comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2005a.), Morin MORIN ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.) e Soulages ( 2017Soulages, J. C. Informação online e seu metarreceptor. Revista Uninter de Comunicação, v. 5, n. 8, 2017. Disponível em: https://www.revistasuninter.com/revistacomunicacao/index.php/revista/article/view/685. Acesso em: 27 nov. 2018.
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), entre outros, sustentação para afirmar que os desafios propostos para se alcançar o que se denomina de competência global como meio de diminuir as assimetrias regionais numa ordem planetária ainda estão longe do alcance face, especialmente, aos modelos de desenvolvimento fincados na ordem neoliberal.

Dessa feita, acredita-se que o artigo abre portas para reflexões que ajudam a compreender os diálogos e tensões que se estabelecem entre os grandes centros e a periferia mediante ao conflituoso processo de globalização em curso no mundo. A argumentação reforça, no âmbito mais amplo, o papel da implexa Ciência da Informação e a sua preocupação com temas ligados à complexidade, provocando-se a pensar as Competências InfoCom não descolada de possibilidades lógicas presentes no cotidiano da realidade.

Procedimentos Metodológicos

Do ponto de vista metodológico, trilhou-se um caminho teórico-reflexivo, tendo a dialógica como método principal de análise por essa permitir um aprofundamento conceitual nas diferentes concepções teóricas sem eliminar suas contradições, conforme sugere Morin ( 1996Morin, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.). Ressalta-se que o processo de escolha dos autores não teve um caráter simétrico, o que denota alguma fragilidade no percurso metodológico, implícita em processos de produção de artigos, ao mesmo tempo em que manifesta uma preocupação com o rigor científico, justamente pela admissão de que há uma incompletude discursiva no seu próprio âmbito.

O problema da competência

O primeiro aspecto para sustentar a premissa de escolha referente ao uso da expressão “competência” foi encontrado em Ardoino ( 2001Ardoino, J. A complexidade. In: Morin, E. (org.). A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Tradução e notas de Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 548-558.), que procura mostrar que as inflexões que remetem à visão dela apenas enquanto uma concepção de domínio em âmbito maniqueísta - como o competente vs. o incompetente -, pode também ser compreendida a partir de experiências e fazeres dos indivíduos. Para isso, Ardoino ( 2001Ardoino, J. A complexidade. In: Morin, E. (org.). A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Tradução e notas de Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 548-558.) cita como exemplo o processo que se estabelece entre o artista e sua obra, assim como os moldes das relações alteritárias que buscam, mesmo que utopicamente, de acordo com a interpretação dos autores deste artigo, superar noções de diferença entre as pessoas.

Destaca-se também o apoio buscado em Martín-Barbero ( 2008Martín-Barbero, J. Saberes de hoje: disseminações, competências e transversalidade. In: Martín- Barbero, J. M. Comunicação e história interfaces e novas abordagens. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. p. 237-252.) na procura pela exclusão da centralidade da palavra “competência” enquanto um estigma de dominação. O autor, ao recorrer a Boudieu ( 1972Bourdieu, P. Esquisse d’une théorie de la pratique. Ginebra: Droz,1972.) e a Certeau ( 1980Certeau, M. L’invention du quotidien 2: arts de vivre. París: U.G.E-10/18, 1980.), sugere uma recuperação cognitiva de seu significado, associando-a, respectivamente, aos conceitos de habitus e de prática. O habitus situa-se como uma competência cultural, capaz de gerar o que ele denomina de capital cultural, um valor simbólico que vai se impregnando ao longo da vida das pessoas. A associação da competência à prática, por sua vez, é definida por Martín-Barbero ( 2008Martín-Barbero, J. Saberes de hoje: disseminações, competências e transversalidade. In: Martín- Barbero, J. M. Comunicação e história interfaces e novas abordagens. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. p. 237-252.) como um meio de se perceber a realidade, na condição de que os saberes são capazes de gerar novos fazeres.

Essas premissas permitiram destrinchar o emaranhado de alguns discursos que envolvem a palavra “competência” no contexto da dupla complexidade. Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.), ao aceitar que a lógica nunca será suficiente para fazer com que as pessoas compreendam sua realidade nem a realidade dela mesma, propõe o caminho da dupla complexidade, sobre a qual busca-se ampliar as reflexões.

Segundo Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.), no âmbito da realidade, coexistem a complexidade real da lógica e a complexidade lógica do real, sendo a primeira manipulatória, especialmente porque, ao tentar excluir as ambiguidades, “[...] expulsa a incerteza e a contradição”, apresentando-se, portanto, insuficiente para dar respostas acerca da própria realidade. Já a complexidade lógica do real, na contramão da primeira lógica, aponta caminhos na direção de uma compreensão de mundo que “[...] evidencia incertezas, ambiguidades, paradoxos ou mesmo contradições (relações ao mesmo tempo logicamente complementares e antagônicas entre termos e enunciado)” (Morin, -MORIN ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.), p. 238).

Ao se sustentar nesses princípios, busca-se compreender mais profundamente os estigmas gerados pela palavra “competência”. A ênfase dada aqui é que, a partir da complexidade real da lógica, a manipulatória, entende-se que, num percurso que vem desde a Antiguidade (Gomes; Dumont, 2015Gomes, M. A.; Dumont, L. M. M. Possíveis relações entre o uso de fontes de informação e a competência em informação. TransInformação, v. 27, n. 2, p. 133-143, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tinf/v27n2/0103-3786-tinf-27-02-00133.pdf. Acesso em: 10 fev. 2019.
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), passando pela Idade Média (Farias; Belluzzo, 2015Farias, G. B.; Belluzzo, R. C. B. Como desenvolver a competência em informação mediadora por modelagem conceitual teórico-prática. Londrina: ABECIN Editora, 2015.) e consolidando-se doravante ao capitalismo pós-fordista (Chauí, 2014Chauí, M. A ideologia da competência. In: Rocha, A. (org.). Escritos de Marilena Chaui. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. v. 3, p. 55-61.), o discurso da ideologia dominante busca “naturalizar” desde os primórdios aspectos de segregação e dominação social quando se fala sobre competência.

Ainda sob a perspectiva da lógica manipulatória, pode-se observar que essa ideologia ganha nova dimensão a partir do capitalismo cognitivo (Albagli, 2013Albagli, S. Informação, saber vivo e trabalho imaterial. In: Albagli, S. (org.). Fronteiras da ciência da informação. Brasília, DF: IBICT, 2013. p. 107-126.), pós-fordista, com a exacerbação do trabalho imaterial na constituição do capital e seus processos superavitários, separando, à luz desse discurso de competência, grupos ou classes de pessoas a partir do paradigma do conhecimento, do domínio de técnicas e tecnologias e no desenvolvimento de sistemas de informação, entre outros atributos.

Essa lógica reducionista, portanto, está intimamente ligada ao exacerbado processo de concentração de renda, aviltando ainda mais a condição do erroneamente chamado “trabalhador sem competência” e a deterioração das relações sociais, com o crescimento da intolerância em diversos aspectos das sociedades humanas. Destarte, na perspectiva da complexidade real da lógica, o estigma da exclusão está contido na expressão “competência”, tendendo a crescer no capitalismo em curso, com resultados ainda não previsíveis.

A imprevisibilidade pode decorrer, entre outros fatores, do crescimento das desigualdades sociais, com o exacerbado aumento da miséria, em um mundo cada vez mais automatizado. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (Organização das Nações Unidas, 2000 , p. 140Organização das Nações Unidas. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Informe sobre Desarrollo Humano 2020 – La próxima frontera: el desarrollo humano y el Antropoceno. Disponível em: https://hdr.undp.org/system/files/documents/global-report-document/hdr2020spinformesobredesarrollohumano2020pdf.pdf. Acesso em: 12 abr. 2021.
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, tradução nossa), a “[...] desigualdade global atinge hoje níveis sem precedentes: 40% da riqueza mundial está concentrada nas mãos dos multimilionários e quase metade da humanidade vive com menos de US$5,50 por dia” 3 3 No original: “[…] desigualdad mundial alcanza hoy en día niveles nunca vistos: el 40% de la riqueza mundial se concentra en manos de multimillonarios, y cerca de la mitad de la humanidad vive con menos de 5,50 dólares de los Estados Unidos al día”. . Essa lógica, numa escala crescente, vem afetando os processos de distribuição de renda, especialmente no universo daquele trabalhador considerado menos qualificado.

Os setores primários e secundários da economia, altamente mecanizados, e o terciário, com demandas por especialistas para vender produtos e serviços cada vez mais sofisticados em termos de tecnologia embarcada, fazem crescer o desemprego em sociedades tecnologicamente mais “avançadas” para aqueles ditos “sem competência”, promovendo a concentração de renda em uma camada cada vez menor da população e, por que não dizer, uma espécie de “canibalismo social”. Como consequência, em nome da sobrevivência, cresce a intolerância entre vizinhos, sobretudo se o que mora ao lado é negro, pobre, homoafetivo, mulher ou imigrante.

Recorrendo a Santos ( 2018Santos, B. S. S. O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. Coimbra, Portugal: Edições Almedina, 2018.) para ilustrar o cenário da intolerância, na África do Sul, a população negra e pobre luta contra imigrantes negros, também pobres, de países vizinhos, enquanto uma população branca, que corresponde a 8% dos habitantes do país, detém 87% de toda a riqueza. O fenômeno se repete em praticamente todo o mundo - pobres americanos lutando contra os mais empobrecidos do próprio país e trabalhadores latinos; no Brasil, acrescenta-se, pobres do Sul e Sudeste lutando contra trabalhadores nordestinos e imigrantes venezuelanos, bolivianos e haitianos, especialmente; na Europa, o mesmo canibalismo, em escalas diversas -, compondo um mosaico de desigualdade global que pode ser representada em dados de um relatório da Oxfam Brasil ( 2020, p. 5Oxfam Brasil. Tempo de Cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade, 20 jan. 2020. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/publicacao/tempo-de-cuidar-o-trabalho-de-cuidado-nao-remunerado-e-mal-pago-e-a-crise-global-da-desigualdade/. Acesso em: 20 out. 2020.
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) que informa que “Em 2019, os bilionários do mundo, que somam apenas 2.153 indivíduos, detinham mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas”.

Nessa direção, poderá ser chamado de equivocado o discurso da meritocracia como meio para atenuar as críticas e contradições decorrentes das desigualdades, corroborando autores como Marcuse ( 1973Marcuse, H. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.), Benjamin ( 1991Benjamin, W. Gesammelte Schriften I. Germany: CIP-Titelaufnahme der Deutschen Bibliothek, 1991.) e Mattelart ( 2005bMattelart, A. Sociedade do conhecimento e controle da informação. In: Encontro Latino de Economia, Política da Informação, Comunicação, 5., 2005, Salvador. Anais [...] Salvador: UFBA, 2005b. Disponível em: http://www.gepicc.ufba.br/enlepicc/ArmandMattelartPortugues.pdf. Acesso em: 6 jun. 2018.
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) de que essas são decorrentes de uma ideologia - ainda que utilizando expressões distintas -, que remete o desenvolvimento da sociedade a uma escala infinita. No caso, podem ser lembradas as considerações de Fischer ( 2007Fischer, L. Meritocracia. In: Bobbio, N.; Matteucci, N.; Pasquino, G. (org.). Dicionário de Política. 13. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2007. v. 2, p. 747-748.) sobre a meritocracia - que destaca o conceito como advindo de uma possibilidade de ascensão dos menos favorecidos a partir de suas inteligências e processos formativos, fazendo frente aos privilegiados que já nasceram ricos -, para reafirmar que os mais bem posicionados social e economicamente continuam levando vantagens nas corridas que perpetuam esses conceitos desenvolvimentistas.

Dessa feita, interpreta-se que, a permanecer a lógica que separa o chamado “competente” do “incompetente” consoante aos modelos de desenvolvimento em curso, tornam-se ainda mais curtos os espaços temporais para se viabilizar uma competência global em informação na perspectiva dos apontamentos da American Library Association AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION ( 1998American Library Association. A progress report on information literacy: an update on the American Library Association Presidential Committee on Information Literacy: Final Report. Mar. 1998. Disponível em: http://www.ala.org/acrl/publications/whitepapers/progressreport. Acesso em: 20 de jun. 2019.
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), da Association of College and Research Libraries ( 2015Association of College and Research Libraries. Information literacy framework for higher education. 2015. Disponível em: https://view.officeapps.live.com/op/view.aspx?src=https%3A%2F%2Fconnect.ala.org%2FHigherLogic%2FSystem%2FDownloadDocumentFile.ashx%3FDocumentFileKey%3D804d3267-5144-494e-bf20-3766443b507e%26forceDialog%3D0&wdOrigin=BROWSELINK. Acesso em: 30 ago. 2021.
https://view.officeapps.live.com/op/view...
), da International Federation of Library Associations and Institutions ( 2005International Federation of Library Associations and Institutions. Faróis da sociedade da informação: Declaração de Alexandria sobre literacia da informação e aprendizagem ao longo da vida. Alexandria, Egito, nov. de 2005. Disponível em: https://www.ifla.org/wp-content/uploads/2019/05/assets/wsis/Documents/beaconinfsoc-pt.pdf. Acesso em: 15 jun. 2019.
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) e da Unesco UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION ( 2014United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Paris declaration on media and information literacy in the digital era. Paris: Unesco, 2014. Disponível em: https://www.unesco.org/en/articles/paris-declaration-media-and-information-literacy-adopted#:~:text=The%20Declaration%20reaffirms%20. Acesso em: 16 ago. 2021.
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) como meio para diminuir as assimetrias regionais. Isso em razão de os discursos das referidas entidades evidenciarem também alinhamentos aos processos dominantes de progresso social e fomento para o incremento de bens e serviços.

As interseções entre a complexidade real da lógica e a complexidade lógica do real, porém, se fazem presentes nos discursos das entidades referenciadas anteriormente. É possível perceber que, pela primeira condição, tem-se as competências em informação e em comunicação alinhadas a processos funcionais. Isso se dá, por exemplo, a partir do fortalecimento de valores como liberdade de escolhas para o consumo, sem se questionar os processos produtivos que impulsionam o mercado, assim como a associação de conceitos referentes à aprendizagem ao longo da vida como condição para se inserir nesse mercado como força de trabalho, sabendo de antemão que fala-se de um espaço onde nem todos serão inseridos, mesmo hipoteticamente se tornando “competentes”, dada a lógica do sistema.

Por outro lado, na mesma perspectiva da complexidade real da lógica, sobre a qual a competência se configura em conformidade com a lógica do mercado vigente, é possível perceber uma diversidade discursiva, indicativa de brechas para que essa lógica possa ser ultrapassada, ainda hegemônica, que a coloca numa condição ideologizante para que sejam perpetuados os processos de consumo em curso. Importante brecha a ser destacada está na própria gênese da criação da Association of College and Research Libraries (ALA), em 1876, nos Estados Unidos, ao relevar seus propósitos educacionais no contexto das bibliotecas.

Essa possibilidade, interpreta-se, pode ter ficado adormecida dada a força da concepção anglófona acerca das competências, impactada pelo desenvolvimento tecnológico que se sucedera doravante a primeira Revolução Industrial, acentuando-se na segunda, sobretudo entre a Segunda Guerra Mundial e os primeiros anos da Guerra Fria. Fala-se de um período de 200 anos, gerador de um fluxo informacional como nenhum outro até então registrado na história, mas ainda sem um embrião organizacional que olhasse para suas interconexões, como alertou Bush ( 1945Bush, V. As We May Think. The Atlantic Monthly, 1945.) ao propor a constituição da vertente anglófona da CI, em 1948.

Importante refletir, porém, que no auge do esforço de guerra, quando a informação se consolida como um artefato de poder, conforme resgatado em Dudziak ( 2016Dudziak, E. A. Políticas de Competência em Informação: leitura sobre os primórdios e a visão dos pioneiros da information Literacy. In: Alves, F. M. M.; Corrêa, E. C. D.; Lucas, E. R. O. (org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p. 19-50.), o aspecto educacional volta a emergir no âmbito das bibliotecas, especialmente nos Estados Unidos, como espaços alternativos para a formação de adultos e de debates públicos sobre temas sociais, conforme ocorreu especialmente a partir de 1960. As pessoas não queriam apenas ser informadas, mas, sobretudo, compreender a informação, o que mostra que, independentemente dos discursos, atributos como educação, tecnologia e poder sempre estiveram conectados aos processos informacionais e comunicacionais.

A dupla complexidade mostra, dessa forma, que a lógica manipulatória sempre será incomodada por uma possibilidade de transgressão, razão pela qual se evidencia a contra-hegemonia como uma possibilidade real de contestação ao status quo. Dessa feita, as pontes e brechas podem ser detectadas na emergência de temas que surgem das diversas crises geradas pelo próprio capitalismo, como assimetrias regionais, inserção social, direito à informação e ao acesso às tecnologias, entre outros, evidenciados nos próprios discursos hegemônicos da American Library Association AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION ( 1998American Library Association. A progress report on information literacy: an update on the American Library Association Presidential Committee on Information Literacy: Final Report. Mar. 1998. Disponível em: http://www.ala.org/acrl/publications/whitepapers/progressreport. Acesso em: 20 de jun. 2019.
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), da Association of College and Research Libraries ( 2015Association of College and Research Libraries. Information literacy framework for higher education. 2015. Disponível em: https://view.officeapps.live.com/op/view.aspx?src=https%3A%2F%2Fconnect.ala.org%2FHigherLogic%2FSystem%2FDownloadDocumentFile.ashx%3FDocumentFileKey%3D804d3267-5144-494e-bf20-3766443b507e%26forceDialog%3D0&wdOrigin=BROWSELINK. Acesso em: 30 ago. 2021.
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), da International Federation of Library Associations and Institutions ( 2005International Federation of Library Associations and Institutions. Faróis da sociedade da informação: Declaração de Alexandria sobre literacia da informação e aprendizagem ao longo da vida. Alexandria, Egito, nov. de 2005. Disponível em: https://www.ifla.org/wp-content/uploads/2019/05/assets/wsis/Documents/beaconinfsoc-pt.pdf. Acesso em: 15 jun. 2019.
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) e da Unesco UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION ( 2014United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Paris declaration on media and information literacy in the digital era. Paris: Unesco, 2014. Disponível em: https://www.unesco.org/en/articles/paris-declaration-media-and-information-literacy-adopted#:~:text=The%20Declaration%20reaffirms%20. Acesso em: 16 ago. 2021.
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).

Defende-se, portanto, que as Competências InfoCom podem estar na sustentação dessas pontes transgressoras, como será visto a seguir.

Competências InfoCom: caminhos para uma transgressão da lógica

Parte-se do princípio de que as Competências InfoCom apresentam bases para que possam ser ampliadas as brechas e pontes em discussão por, entre outras razões, trazer em seu escopo teórico a comunicação, assim como possibilidades para se abordar questões referentes às tecnologias que escapem às vertentes epifenomenais. O ponto chave desse processo rumo à subversão da ordem conceitual hegemônica em torno da “competência” ocorre porque as Competências InfoCom são capazes de promover condições que remetem ao que se denomina de práxis reflexiva, uma vez que a ação faz parte de sua constituição primeira.

Adverte-se, porém, que sem a busca de um aprofundamento teórico nas discussões em curso, o estigma da exclusão contida na expressão “competência” não desaparece do escopo infocomunicacional se esse estiver fincado na lógica manipulatória, uma vez que essa precisa reforçar a antítese da “incompetência” para manter-se dominante. Além de outras razões de ordem instrumental contidas na complexidade real da lógica, chama-se a atenção para a insuficiência do argumento de que as Competências InfoCom, sob a ótica apenas da cognição, seriam capazes de promover a meta-alfabetização como meio de se poder alcançar o conhecimento ao longo da vida.

A sustentação sobre essa impossibilidade de caminho restrito para se chegar ao conhecimento é fundamentada nas críticas que Habermas ( 1989Habermas, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.) faz a Kant ( 1979Kant, I. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Os Pensadores).), que desenvolveu sua teoria do conhecimento amparada em condição cognitiva, apriorística e transcendental. Como bem lembra Habermas ( 1989Habermas, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.), o princípio kantiano pode remeter ao erro de se fiar numa metaciência autônoma capaz de se sobrepor aos demais discursos epistêmicos, impondo-se, portanto, como fundamentalista.

Destarte, percebe-se que a simplificação teórica dos elementos que constituem a gênese das Competências InfoCom - competências em informação, em comunicação e o desenvolvimento de habilidades operacionais -, mesmo que agregue conceitos da meta-alfabetização, corre o risco de apresentar-se como insuficiente, especialmente se esse arcabouço teórico estiver desvinculado da experiência e dos saberes, inclusive aqueles oriundos do senso-comum. Ao contrário, propõe-se que esses aspectos cotidianos, aliados ao conhecimento científico, sejam potencialmente capazes de levar as Competências InfoCom a experimentar a práxis reflexiva, como ressaltado anteriormente, promovendo a inovação social e processos protagonistas coletivos.

A meta-alfabetização, no entanto, se levada à condição da metalógica proposta por Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.), ao contrário do que propunha Kant ( 1979Kant, I. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Os Pensadores).) com sua concepção de uma metaciência apriorística e cognitiva, pode abrir caminhos para um melhor entendimento da questão por sua capacidade de questionar a própria expressão “meta”. Nessa condição, tem-se a preservação das lógicas e de suas contradições contidas em seus conceitos, abrindo as portas para a dialógica, sem querer se firmar enquanto verdade universalizante, na contramão do fundamentalismo, seja ele de qualquer natureza, que se sustenta também a partir da pretensão de ser o guardião e a referência do que viria a ser verdade.

Dois aspectos importantes são colocados por Morin ( 2011, p. 252Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.) como advindos da metalógica. O primeiro diz respeito à existência de um metaponto de vista complexo, com capacidade para desnudar uma concepção teórica, trazendo à luz a sua estrutura organizacional interna, numa concepção mais cartesiana. Esse mesmo metaponto de vista, por sua vez, “[...] englobante e construtivo, integra e ultrapassa a teoria pela reflexividade que elabora conceitos de segunda ordem (aplicáveis a conceitos) e conhecimento de segunda ordem (que se aplicam ao conhecimento)”. Essa reflexão exemplifica, ainda, como os princípios da dupla complexidade estão imiscuídos no pensamento humano.

A partir dessa concepção teórica de Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.), procura-se demostrar também que a metalógica faz com que seja percebida a proposição funcional-positivista das Competências InfoCom na mesma medida em que aponta seus desdobramentos para teorias racionalistas, relativistas, hibridistas e culturais. Baseando-se no próprio Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.), assim, as criações teóricas seriam “translógicas”.

Esse princípio reflexivo leva à sustentação também de que as Competências InfoCom se apresentam como uma competência da própria CI em função de sua capacidade de transcender o processo clássico de verificação e demonstração, a partir de conceitos de Borko ( 1968Borko, H. Information Science: What is it? American Documentation, v. 19, n. 1, p. 3-5, 1968.), Capurro e Hjorland ( 2007Capurro, R.; Hjorland, B. O conceito de informação. Perspectivas Em Ciência Da Informação, v. 12, n. 1, 2007. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/22360. Acesso: 10 mar. 2021.
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), que já apresentavam, segundo Daher Junior e Borges ( 2021, p. 55Daher Junior, F. J.; Borges, J. Ciência da Informação e Competências Infocomunicacionais: possíveis diálogos epistêmicos. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 26, n. 4, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/37612. Acesso em: 5 jan. 2022.
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), “[...] indicadores relativos a essa competência quando refletem sobre a capacidade que temos para lidar com a informação, criticando, questionando, compreendendo, interagindo, argumentando, comunicando e manipulando ferramentas de busca”.

O aprofundamento teórico sobre o composto infocomunicacional para cacifar as Competências InfoCom a se colocar como transgressora da concepção da lógica clássica exige reflexões acerca dos estatutos da informação e da comunicação, assim como das novas mídias turbinadas por tecnologias digitais sempre de última ordem. A lógica cartesiana, no entanto, não deve ser refutada totalmente, conforme justificado nas discussões acerca da metalógica.

Recorreu-se a autores como Marteleto e Saldanha ( 2016Marteleto, R.; Saldanha, G. Informação: qual estatuto epistemológico. In: Morigi, V.; Jacks, N.; Golin, C. (org.). Epistemologias, comunicação e informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 69-90.), Gomes ( 2016Gomes, H. F. Comunicação e Informação: relações dúbias, complexas e intrínsecas. In: Morigi, V.; et al. (org.). Epistemologias, Comunicação e Informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 91-107.), Mattelart ( 2005aMattelart, A. História das teorias da comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2005a.), Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.) e Soulages ( 2017Soulages, J. C. Informação online e seu metarreceptor. Revista Uninter de Comunicação, v. 5, n. 8, 2017. Disponível em: https://www.revistasuninter.com/revistacomunicacao/index.php/revista/article/view/685. Acesso em: 27 nov. 2018.
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) para buscar analisar os discursos que pudessem remeter a algumas dimensões da competência em informação e em comunicação, assim como às novas configurações midiáticas e às habilidades necessárias para operá-las, formando o composto basilar das Competências InfoCom. A principal conclusão nesse quesito, na busca do salto lógico proposto anteriormente, é que a indissociabilidade que se estabelece entre os referidos atributos rompe com as barreiras epistêmicas que se levantam em análises segmentadas - portanto, reducionistas.

A referida indissociabilidade aponta caminhos para a construção de um discurso mais robusto sobre as Competências InfoCom e corrobora o fortalecimento da identidade transdisciplinar da CI, além de aproximá-la de forma mais contundente da Comunicação. Entender a informação como um processo teórico e social (Marteleto; Saldanha, 2016Marteleto, R.; Saldanha, G. Informação: qual estatuto epistemológico. In: Morigi, V.; Jacks, N.; Golin, C. (org.). Epistemologias, comunicação e informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 69-90.) que, juntamente e indivisível da comunicação, apresenta-se como fenômenos humanos construtores de saberes, conhecimentos e culturas (Gomes, 2016Gomes, H. F. Comunicação e Informação: relações dúbias, complexas e intrínsecas. In: Morigi, V.; et al. (org.). Epistemologias, Comunicação e Informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 91-107.), e que a própria CI, ao incluir em seus estudos elementos sociocognitivos já impregnados no contexto de suas ações e estruturas simbólicas informacionais e tecnológicas (Berrío-Zapata et al., 2016Berrío-Zapata, C. et al. El paradigma de Comportamiento Informacional como alternativa para comprender los fenómenos informacionales en América Latina. Revista Interamericana de Bibliotecología, v. 39, n. 2, p. 133-147, 2016. Disponível em: https://revistas.udea.edu.co/index.php/RIB/article/view/26646/20780066. Acesso em: 19 fev. 2019.
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), dá a dimensão necessária para justificarmos as Competências InfoCom como um caminho abarcado pela complexidade lógica do real. Isso abre portas, como sugerido nesta seção, para transgressões possíveis que ultrapassem o discurso utilitarista da competência.

Pela complexidade lógica do real, portanto, tem-se uma melhor compreensão dessas proposições, na direção de que a incorporação de uma gama de teorias críticas poderia levar à concepção, se apoiando em Marteleto e Saldanha ( 2016, p. 75Marteleto, R.; Saldanha, G. Informação: qual estatuto epistemológico. In: Morigi, V.; Jacks, N.; Golin, C. (org.). Epistemologias, comunicação e informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 69-90.), de “[...] ‘uma hermenêutica pragmática’, sem fronteiras epistemológicas, para a compreensão do objeto informacional inserido em diversos saberes e culturas”. Trata-se de um contexto, inclusive, que pode mudar o olhar para o chamado comportamento informacional, que, numa dimensão socioepistêmica, acaba tirando a centralidade que o conceito tem no pensamento funcional positivista, mesmo a sua origem estando naquele lugar, nas primeiras definições do que viria a ser CI, concomitante às discussões iniciais sobre competência em informação, como visto, no âmbito das bibliotecas.

Por esse olhar, compreende-se que conceitos relativos ao comportamento e à práxis informacional - essenciais para se entender as Competências InfoCom -, não estão tão separados quanto o pensamento racionalista por vezes leva a crer, sustentado, talvez, na própria etimologia da primeira expressão, por essa remeter à ciência behaviorista. Se percebido como “[...] viés crítico horizontal sobre a verticalização do ponto de vista epistemológico tradicional”, como propõe Marteleto e Saldanha ( 2016, p. 80Marteleto, R.; Saldanha, G. Informação: qual estatuto epistemológico. In: Morigi, V.; Jacks, N.; Golin, C. (org.). Epistemologias, comunicação e informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 69-90.), ou até mesmo conforme Daher Junior e Borges ( 2021, p. 47Daher Junior, F. J.; Borges, J. Ciência da Informação e Competências Infocomunicacionais: possíveis diálogos epistêmicos. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 26, n. 4, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/37612. Acesso em: 5 jan. 2022.
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), que, ao associá-lo à competência InfoCom, coloca-o como resultado de processos de empoderamento do sujeito, ligado ao desenvolvimento de “[...] conhecimentos, habilidades e atitudes para fazer escolhas conscientes e aderentes às suas necessidades e contexto sociotécnico”, tem-se melhor clareza dessa aproximação conceitual - isso se práxis for entendida “[...] como interesse (pelo uso técnico do ambiente natural ou pela emancipação do domínio) reconhecível ao processo cognoscitivo”, conforme Gozzi ( 2007, p. 991Gozzi, G. Praxi. In: Bobbio, N.; Matteucci, N.; Pasquino, G. (org.). Dicionário de Política. 13. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2007. v. 2, p. 987-992.), ao interpretar a concepção de Habermas ( 1969Habermas, J. Teoria e prassi nella societá tecnologica. Bari: Universale Laterza, 1969.) sobre o tema.

Retomando as discussões sobre as habilidades operacionais, que as colocam invariavelmente indivisíveis à comunicação e à informação, destaca-se também que o domínio técnico não pode ser pensado separadamente do domínio político. Um interregno tende a se formar nesse lugar face às tendências e disputas sobre esse espaço midiático, com duas fortes correntes: a possibilidade de se tornarem espaços para a constituição de poderes individuais e coletivos no que tange ao conhecimento ou ao incremento de poderes administrativos e mercadológicos para controlar o indivíduo, conforme preconizado por Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.) nas altercações sobre as redes neurais artificiais, ou pelo estudo de Zuboff ( 2021Zuboff, S. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021.) acerca do que ela denomina de capitalismo de vigilância.

Nas indefinições que se estabelecem entre as duas tendências citadas no parágrafo anterior, as Competências InfoCom são colocadas numa posição mais agregadora, recorrendo novamente a Morin ( 2011Morin, E. O método 4: as ideias: habitat, vida, costumes, organização. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.) na sua concepção sobre a capacidade de o ser humano operar sistemas na mesma linha horizontal dos poderes lógicos e heurísticos. Isso leva a aceitar que as Competências InfoCom teriam a capacidade de agregar e ampliar diálogos entre as pessoas, estando, assim, inseridas no pensamento complexo lógico de sua própria realidade, transcendendo o utilitarismo e a funcionalidade abarcados pela complexidade real da lógica.

Nesse aparente hiato que se estabelece entre as destacadas tendências de poder é que o “sujeito infocomunicacional híbrido” é conceituado, aquele dotado de competências para editar o seu próprio mundo. Adverte-se, porém, que, nessa condição de editor, esse sujeito poderia tanto reeditar e reforçar os valores neoliberais do capitalismo de vigilância - sistema que, segundo Zuboff ( 2021Zuboff, S. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021.), obtém seu superávit comercial a partir da mineração dos dados extraídos das pessoas sem o seu devido consentimento -, ou, ao contrário, dar voz às chamadas sociedades invisíveis, utilizando-se, para isso, também das próprias plataformas dominantes de comunicação. Isso porque, independentemente de sua condição e intenção, ele teria a dimensão da complexa indissociabilidade entre a comunicação, a informação e as habilidades operacionais necessárias para navegar em ambientes digitais de tecnologias de informação e comunicação.

O hibridismo - decorrente de distintos saberes, visões de mundo e linguagens, conforme Martín-Barbero ( 2008Martín-Barbero, J. Saberes de hoje: disseminações, competências e transversalidade. In: Martín- Barbero, J. M. Comunicação e história interfaces e novas abordagens. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. p. 237-252.) -, pode ser interpretado como um facilitador para que o sujeito infocomunicacional ocupasse o lugar do chamado “usuário” da informação. Do mesmo modo, ao perceber o outro sujeito infocomunicacional como dominador, editor de valores de uma classe dominante, por uma escolha epistemológica aposta-se em um processo que fortalece o sujeito dotado de uma consciência crítica de sua própria condição, capaz, assim, de atuar no sistema com reedições contrapontísticas que interfiram e transformem o seu próprio território e realidade.

Dessa forma, é possível identificar vários movimentos sociais que trazem a questão da informação e da comunicação para plataformas comunitárias - rádios e tvs, piratas ou não à luz da legislação vigente -, plataformas de streaming, grupos que desenvolvem softwares com o código fonte aberto ( software livre) e bibliotecas virtuais abertas, entre outros. A existência e persistência dessas organizações, que trazem à tona vozes de uma sociedade invisível, ocupando espaços, inclusive, em plataformas dominantes, decorrem, entre outros fatores, da ação do sujeito infocomunicacional híbrido, conforme discutido anteriormente.

As habilidades operacionais reclamadas como necessárias para compor o conjunto das Competências InfoCom, portanto, precisam ser pensadas e constituídas para além da destreza do ligar ou desligar um equipamento, de se ter o conhecimento de programas para editar um filme, de compor stories para determinadas redes sociais ou de dominar ferramentas de impulsionamento das produções efetivadas em grupo ou individualmente. Isso porque, assim como a tecnologia, essas não devem ser vistas como epifenômenos, pois as mãos, o cérebro e o corpo do sujeito infocomunicacional híbrido que as operam carregam consigo suas heranças individuais, sociais e culturais. Esse sujeito, inclusive, deve saber avaliar o nível de liberdade que ele tem nesse universo, até mesmo para ampliá-la, considerando as políticas públicas regulatórias de uso das redes, assim como as condições estabelecidas pelos proprietários delas; portanto, entender que a habilidade de adentrar, editar e modificar - enfim, de transgredir, está sujeita a uma série de restrições, por mais anárquico que possa parecer o ambiente de navegação.

O entendimento sobre as configurações e arranjos que envolvem as tecnologias digitais de informação e comunicação, portanto, faz-se necessário para que se perceba com mais profundidade a problemática das habilidades operacionais no universo das novas mídias. Para Soulages ( 2017, p. 12Soulages, J. C. Informação online e seu metarreceptor. Revista Uninter de Comunicação, v. 5, n. 8, 2017. Disponível em: https://www.revistasuninter.com/revistacomunicacao/index.php/revista/article/view/685. Acesso em: 27 nov. 2018.
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), as atuais configurações midiáticas retiram a figura do “[...] sujeito jurídico da primeira modernidade”, substituindo-o pela “[...] dinâmica das subjetividades individuais”, mas tentam manter seus “usuários” - e aqui, acrescenta-se, cabe o conceito “usuário” por estar associado a algum tipo de dependência - sob vigilância a todo o momento, por meio das tecnologias de rastreamento e localização.

Ter a habilidade operacional, assim, sem o conhecimento dessas conexões, não é condição suficiente para constituir o sujeito infocomunicacional híbrido, ainda que sejamos todos, pela vocação transdisciplinar, sujeitos infocomunicacionais por carregarmos uma capacidade de compor e reagir a situações diversas.

O sujeito infocomunicacional híbrido, portanto, transpõe a sua condição básica infocomunicacional de transcender a processos mercadológicos unidimensionais. Isso porque, a partir da consciência que tem sobre o poder da conjunção da indivisibilidade entre informação, comunicação e habilidades operacionais, ele pode até tentar ampliar o seu domínio sobre os demais, mas terá, de igual maneira, um contraponto que busca a construção de uma cidadania capaz de promover avanços na desconstrução de um mundo que já lhes chega editado ou, até mesmo, para fazer frente à vigilância de um capitalismo que tem o ser humano como seu principal produto, mesmo, como visto anteriormente, que esse seja findável a partir das projeções de crescimento da pobreza e da escassez das reservas naturais do seu habitat.

Conclusão

“Alfabetização”, “conhecimento” ou até mesmo “saber” poderiam substituir a palavra competência como meio para se atenuar a dureza que essa carrega em sua essência por provocar uma antítese exacerbada à incompetência, reveladora de um sentimento de desqualificação e submissão. As demais, no entanto, se utilizadas apenas para abrandar a dureza das assimetrias crescentes no mundo, decorrentes da ideologia do desenvolvimento sem fim, concomitante aos avanços tecnológicos - processos intimamente ligados à problematização das Competências InfoCom -, não passariam de sofismas.

A palavra “competência”, provocativa, por sua vez, tem uma vantagem, porque, ao expor quase que de forma imediata suas contradições, obriga à reflexão sobre outras possibilidades, sem necessariamente empurrar para uma simples troca etimológica. Isso porque contradições também presentes nas demais expressões se apresentam de forma mais velada, o que dificulta o entendimento de processos de leituras da sociedade, especialmente por reforçar um idealismo que potencializa a essência metafísica do ser humano de projetar um mundo perfeito, constituído a partir de suas próprias quimeras.

A competência, portanto, pensada no campo de domínio sobre um ambiente, uma cultura, como visto em Ardoino ( 2001Ardoino, J. A complexidade. In: Morin, E. (org.). A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Tradução e notas de Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 548-558.) e Martín-Barbero ( 2008Martín-Barbero, J. Saberes de hoje: disseminações, competências e transversalidade. In: Martín- Barbero, J. M. Comunicação e história interfaces e novas abordagens. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. p. 237-252.), entendendo também que uma dupla complexidade lógica se estabelece em seu significado e entorno, pode levar a aceitá-la, especialmente no campo infocomunicacional, cerne desta reflexão, que o coloca como uma competência da própria CI. A dureza da palavra, portanto, ao desnudar idealismos pessoais, permite fazer projeções implexas, com fortes possibilidades transdisciplinares.

Isso porque - diante das aberturas lógicas propiciadas pelas tensões elencadas nesse trabalho -, a construção de um discurso epistêmico nesse lugar tende a se estabelecer num emaranhado complexo, de razões polilógicas. Um processo, portanto, suscetível a uma diversidade capaz de promover uma realidade trans-subjetiva; ou seja, aquela que compreende e ultrapassa a própria construção social.

Isso posto, conclui-se que as Competências InfoCom - reitera-se, como uma competência da própria CI -, sob o olhar da dupla complexidade, conseguem traduzir a indissociabilidade entre a comunicação, a informação e as habilidades operacionais diante das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), dando uma oportunidade real de escolhas sobre os caminhos a serem percorridos pelos sujeitos infocomunicacionais híbridos. Ao reconhecer suas características egocêntricas e etnocêntricas, assim como a sua capacidade de trabalhar em grupo, com metas que incorporem, mas transcendam seus predicados individuais, os sujeitos conseguem desnudar o potencial de uma linguagem que transita no ciberespaço, esfacelada na aparência, mas que a todo instante tenta reinventar um mundo a partir de idealizações de processos de reconstruções e reconfigurações mercadológicas.

A força dessa linguagem, ao mesmo tempo em que dá luz a conceitos, preconceitos e intolerância das pessoas, especialmente por meio das redes sociais, expondo de forma exacerbada as suas diferenças, quando invade o mundo face a face, tende leva-las a crer na existência de um campo plasmático simbiótico, portanto de inteligência própria, que mina a essência transformadora e questionadora delas, dando vozes às distopias, à desinformação e às fake news, entre outras anomalias que habitam o campo infocomunicacional. Essas vozes são potencialmente avassaladoras, uma vez que os processos de inteligência e conexões neurais artificiais as constroem também a partir dos medos e desejos dos sujeitos, especialmente, mostrando, assim, a pujança comportamental funcional-positivista que invade suas vidas de forma quase que silenciosa. Diante desse contexto, conclui-se que as Competências InfoCom, a partir da metalógica, configuram-se também como processos potencialmente transformadores que ajudam a desconstruir essa linguagem e, consequentemente, o reducionismo implícito em seu discurso, que tende a fazer crer em um determinismo social e igualmente potencializa a vida solipsista.

Por essas razões, se o próprio sujeito infocomunicacional híbrido pode trabalhar na direção dessa inteligência dominadora, ele saberá que outros, em situação semelhante, irão lhe fazer oposição, proporcionando, talvez, um equilíbrio que venha superar a polarização crescente que invade o mundo contemporâneo. Estabelecendo-se esse equilíbrio, é possível almejar um avanço civilizatório na direção de uma cidadania pragmática, mediadora e, por que não, revolucionária, por colocar a sociedade na vanguarda de sua própria existência. Isso não implica, porém, a constituição de uma sociedade utópica, sem crises religiosas, sociais e de costumes, entre outras, mas a construção de interseções possíveis para se chegar a ela.

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Editado por

Editor

César Antonio Pereira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    09 Dez 2022
  • Aceito
    28 Fev 2023
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