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O novo Museu de Arqueologia e Etnografia

INSTITUTOS ESPECIALIZADOS E MUSEUS

O novo Museu de Arqueologia e Etnografia

José Jobson de Andrade Arruda

O Museu de Arqueologia e Etnografia (MAE/USP) é uma das mais recentes unidades criadas no âmbito da Universidade de São Paulo, por iniciativa do Reitor José Goidemberg, através da resolução n° 3560, de 11 de agosto de 1989. De fato, trata-se de um novo Museu com velha história, pois resultou da fusão dos acervos arqueológicos e etnográficos do antigo Museu de Arqueologia e Etnografia do Instituto de Pré-História, do Acervo Plínio Ayrosa do Departamento de Antropologia da FFLCH e da maior parte do acervo do Museu Paulista, num expressivo conjunto que soma mais de 100 mil artefatos de indiscutível valor científico e cultural.

E extremamente abrangente o leque de culturas representadas neste conjunto: mediterrânicas e médio-orientais, africanas e afro-brasileiras, além de americanas. No que concerne ao Brasil, destacam-se as coleções etnográficas representativas de agrupamentos indígenas contemporâneos. Concretamente, o acervo constitui um repositório essencial à preservação da memória arqueológica, sustentando importantes trabalhos de pesquisa, alimentando a docência e transmutando-se em símbolos culturais preciosos à comunicação museológica. Define-se como um patrimônio cultural que, além de servir ao papel integrador dentro da Universidade, desborda esta função ao interagir com a sociedade da qual é expressão e a quem deve propiciar elevação cultural.

A política relacionada com o acervo é fundamental para definir a vocação da instituição. O MAE não é apenas um Museu. É um Museu na Universidade e, portanto, deve cumprir a sua finalidade precípua como órgão de integração. Talvez seja a Universidade brasileira que mais longe caminhou no sentido de transformar os Museus em núcleos vivos dentro de seu organograma funcional. Nessa perspectiva, cabe ao MAE realizar o ciclo completo de atividades inerentes à vida acadêmica: pesquisa, ensino e extensão. Cabe-lhe ainda enfatizar o seu papel principal na extensão, o lado mais visível da interação com a comunidade, que não poderá se cumprir sem as pesquisas sustentadas pelo acervo e indispensáveis à sua própria ampliação, alem das pesquisas museológicas vitais à comunicação com o público que se deseja atingir, passando pelo ensino em variados níveis, que prepara a nova geração de pesquisadores e docentes.

Quase uma centena de pessoas desincumbem-se das tarefas que lhes são designadas. O MAE tem em seus quadros uma vintena de pesquisadores titulados nas áreas de Arqueologia, Etnologia e Museologia. Um número equivalente de técnicos especializados em documentação, conservação e restauro, serviço educativo, museografia e especialistas em atividades de campo e de laboratório, além de amplo quadro de funcionários. Este universo de servidores públicos pôde reunir-se em um único prédio a partir de maio de 1993, local anteriormente pertencente ao BID-Fundusp e que, por determinação do então Reitor Roberto Lobo, foi reformado e ampliado para receber o novo MAE, numa área de aproximadamente 4.000 m2, que reúne pessoal e acervo outrora disperso no campus e fora dele.

O processo de concentração propiciou também a reunião dos acervos das várias bibliotecas especializadas em arqueologia, etnologia e museologia, formando a maior biblioteca do gênero no país, com cerca de 6.500 volumes, além de 1.700 títulos de periódicos. Para veicular a produção científica de seus pesquisadores e divulgar trabalhos de inegável mérito científico de pesquisadores nacionais e estrangeiros, o MAE edita a Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, que sucedeu as antigas publicações Dédalo, Revista de Pré-História e Anais do Museu Paulista (série arqueológica e etnológica).

Os pesquisadores do MAE estão envolvidos com as atividades docentes em seus vários níveis, organizando cursos de graduação, extensão universitária e pós-graduação. Além da formação de mestres e doutores na pós-graduação, orientam estagiários, iniciação científica, especialização, sem contar os estagiários juntos às seções técnico-científicas dos serviços de Museologia, Curadoria e Educação. Os Serviços Educativo e de Museologia desenvolvem vários projetos, individuais ou integrados, de atendimento a estudantes, de orientação aos professores, ministrando cursos sobre o aproveitamento didático de coleções museográficas. Realizam exposições itinerantes, que são excelentes oportunidades para levar o Museu às escolas e ao público em geral.

Em função das amplas atividades desenvolvidas, formularam-se convênios com instituições dentro e fora do Brasil, fundações, prefeituras e empresas, visando a ampliar o espectro de atuação do Museu na área de sua especialidade. Sendo o país um vasto laboratório arqueólogico, são freqüentes as solicitações para assessorias e consultorias que envolvem problemas de preservação ambiental e conservação da memória histórica.

A unificação dos acervos acarretou, portanto, um efeito multiplicador. Criou uma massa crítica, em termos de acervo, em termos de pesquisadores, capaz de transformar pequenas unidades isoladas e frágeis no Museu mais importante de sua categoria no país, com uma insigne tarefa sobre seus ombros: a missão de subsidiar a compreensão do processo de formação cultural do Brasil, em suma a busca da definição de uma dupla identidade: do país e do próprio MAE.

José Jobson de Andrade Arruda foi diretor do Instituto de Pré-História de 1986 a 1989 e diretor do Museu Paulista de Arqueologia e Etnografia de 1989 a 1994.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Nov 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 1994
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