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Instituto de Estudos Avançados

INSTITUTOS ESPECIALIZADOS E MUSEUS

Instituto de Estudos Avançados

Mauro Bellesa

Apesar de ser a mais jovem das unidades acadêmicas da USP — com oito anos de existência —, o Instituto de Estudos Avançados (IEA) tem-se destacado desde sua criação pelas peculiaridades que o diferenciam das rotinas acadêmicas tradicionais. Definido como instituto especializado e órgão de integração, suas características básicas são a multi e a interdisciplinaridade, a ênfase nas relações Universidade/sociedade e a vocação para a análise dos problemas nacionais, traduzida na elaboração de projetos de políticas públicas que contribuam para o desenvolvimento econômico e social do país.

Também são características marcantes do IEA: a preocupação em incentivar o intercâmbio científico e cultural entre a USP e outras instituições acadêmicas do Brasil e do exterior, através da presença freqüente de eminentes cientistas e humanistas convidados; a inexistência de corpo permanente de pesquisadores, mas sim professores visitantes que permanecem no Instituto por um ou dois anos, tempo necessário para a conclusão de seus projetos de pesquisa; o fato de não ministrar cursos de graduação ou pós-graduação; e a preocupação com a disseminação do conhecimento produzido, seja por meio de eventos públicos, seja com a publicação dos trabalhos realizados na revista Estudos Avançados — publicação interdisciplinar quadrimestral que já conta com 22 números — ou nos cadernos de working papers da Coleção Documentos, além do esforço empreendido para tornar acessível ao grande público informações sobre as atividades desenvolvidas, o que é feito através do informativo Estudos Avançados, do programa radiofônico Uma Janela Para o Mundo, na USP FM, ou através da imprensa interna da USP e dos grandes veículos de comunicação de massa.

Para se entender o papel que o IEA desempenha na USP e a forma como são encaminhados os seus trabalhos, é preciso conhecer um pouco da curta mas já intensa história do Instituto, inclusive das motivações e propostas que culminaram na sua criação, em 1986.

Em 1979, a Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp) passou a defender a existência de um Instituto de Estudos Avançados na USP. Durante sete anos, essa idéia esteve presente em vários fóruns de debate — como a SBPC e o II Congresso da USP, realizado em 1984 — e na discussão programática da escolha do reitor em 1985. Apenas em fevereiro de 1986, entretanto, foi adotada uma medida concreta visando a instalação do Instituto, quando o então reitor José Goldemberg instituiu um Grupo de Estudos incumbido de definir o que seria essa nova unidade acadêmica. Participaram do grupo os professores Alberto Carvalho da Silva, Alberto Luiz da Rocha Barros, Roberto Leal Lobo da Silva Filho e Carlos Guilherme Mota. Em julho daquele ano, incorporou-se ao grupo o professor Gerhard Malnic, no lugar de Roberto Leal Lobo e Silva Filho, que assumiu a vice-reitoria da USP. Durante o primeiro semestre daquele ano, esse grupo de professores estabeleceu as diretrizes iniciais de funcionamento do IEA, utilizando como parâmetros instituições congêneres do exterior e consultando cientistas e intelectuais brasileiros e estrangeiros.

Segundo Rocha Barros, o modelo inicial para a formulação do IEA era o Institute for Advanced Study de Princeton, nos Estados Unidos, criado, sobretudo, para abrigar Albert Einstein e outros cientistas europeus vítimas das perseguições nazistas: "Afinal, vários professores da USP haviam sido aposentados compulsoriamente pelos Atos Institucionais n°s l e 5, como Alberto Carvalho da Silva, Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso, entre outros. Através do Instituto seria possível reintegrá-los à vida acadêmica de maneira adequada. Depois, dada a preocupação de que o IEA fosse um canal de comunicação entre a Universidade e a sociedade, surgiu a idéia de conjugar o modelo de Princeton com o do Collège de France, famoso por suas conferências e seminários públicos". Também foram considerados os modelos do Wissenschaftskolleg zu Berlin, do Colégio de México, da École Pratique des Hautes Études de Paris e de instituições norte-americanas como o National Humanities Center, da Carolina do Norte, o Humanities Center da Universidade de Stanford e o Woodrow Wilson Center, de Washington.

As atividades do IEA tiveram início no dia 25 de agosto de 1986 com a conferência do jurista, Historiador e ensaísta Raymundo Faoro, que falou sobre o tema Existe um pensamento político brasileiro? A oficialização do Instituto ocorreu em 29 de outubro, através de resolução do reitor José Goldemberg. Nos dois primeiros anos, o IEA teve como diretor o professor Carlos Guilherme Mota; de 1988 a 1993, ocupou o cargo o professor Jacques Marcovitch; e agora cabe ao professor Umberto Cordani dirigir as atividades do Instituto.

Nos nove anos que separam sua criação e a aprovação de seu regimento definitivo — baixado em julho de 1994 por meio da Resolução 4.095 do reitor Flávio Fava de Moraes —, o IEA propiciou à comunidade acadêmica e ao público externo à USP um contato direto com inúmeras personalidades da cultura, da ciência e das artes. Entre elas figuram John Kenneth Gaibraith, Jürgen Habermas, Christopher Hill, Bernard Feld, Kenneth Maxwell, Michel Vovelle, Paulo Autran, Alain Touraine e Hans-Joaquim Koellreutter.

Todas essas personalidades participaram das atividades do Instituto como conferencistas ou professores visitantes. Uma das características fundamentais do IEA é o fato de não exigir de seus convidados — conferencistas ou pesquisadores —, titulação acadêmica. Sem essa postura, não teria sido possível que o poeta, ensaísta e tradutor José Paulo Paes fosse professor visitante e pudesse traduzir uma coletânea de poemas de William Carlos Williams, ou que o compositor e maestro Hans-Joaquim Koellreutter ministrasse, em duas ocasiões, um curso livre sobre estética contemporânea, ou ainda que Paulo Autran, José Mindlin ou Aristides Junqueira fossem conferencistas convidados.

Foram inúmeras as atividades já realizadas pelos programas, áreas, projetos, grupos de estudo e cátedras do IEA. Apenas uma relação dos temas desses agrupamentos de pesquisa é suficiente para demonstrar a abrangência dos trabalhos realizados: política científica e tecnológica, assuntos internacionais, biologia molecular, psicanálise e conexões, o psíquico nos territórios do social, estudos urbanos, lógica e teoria da ciência, história das ideologias e mentalidades, história cultural, estudos sobre o tempo, ciência cognitiva, ciências ambientais, política e economia e teoria política.

Os programas mobilizadores merecem um destaque à parte em função da importância para o país dos seus objetos de estudo: relações capital-trabalho, educação para a cidadania, revisão constitucional e segurança alimentar. O mesmo ocorre quanto ao Projeto Floram — ainda em andamento e que estabelece normas para o florestamento de 2,3% do território nacional — e o Projeto Mercosul — desenvolvido em conjunto com o Itamaraty e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Nos últimos anos, o IEA tem procurado criar novas fórmulas que propiciem ainda maior apoio à pesquisa interdisciplinar e ao intercâmbio de idéias. Com esse objetivo foram implantadas as Cátedras Jaime Cortesão — dedicada ao estudo das relações entre Brasil e Portugal e fruto de convênio entre a USP e o governo português — e Simón Bolívar — voltada ao estudo dos processos de integração latino-americana e amparada por convênio entre a Universidade e a Fundação Memorial da América Latina.

A importância do IEA para o desenvolvimento cientifico e cultural do país tem sido reconhecida por diversas instituições de apoio à pesquisa e agências internacionais, que ao longo desses oito anos subsidiaram projetos, seminários, publicações e programas de pós-doutorado. Entre esses patrocinadores estão a Fundação Rockfeller, o Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (Pnud), Fapesp, CNPq e a Fundação Vitae.

Diante da importância de que se reveste a formulação de políticas públicas para o desenvolvimento do país e perante a necessidade hoje inquestionável de superação das tênues barreiras entre as disciplinas, se se almeja um progresso científico palpável, cabe ao IEA continuar desempenhando seu papel de pólo gerador de idéias interdisciplinares e de propostas em benefício da sociedade brasileira.

Mauro Bellesa é assessor de imprensa do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Nov 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 1994
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