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Um país dinâmico, um pensamento claudicante

BRASIL: DILEMAS E DESAFIOS III

Um país dinâmico, um pensamento claudicante

Luiz Alberto Gómez de Souza

PERTENÇO a uma geração que, sendo universitária nos anos 50, pensava com muita esperança em novos projetos para o Brasil. Tínhamos um amplo horizonte de futuro pela frente. Duas palavras-chave: desenvolvimento e nacionalismo. O suicídio de Getúlio com a denúncia da carta testamento numa ponta, a inauguração de Brasília na outra. Planos, metas, tempos juscelínicos. Vivíamos num país que começava a acreditar nele mesmo. A Juventude Universitária Católica de 1959, seguindo uma sugestão do filósofo Jacques Maritain, buscava um ideal histórico concreto. Logo depois, no começo da década seguinte, queríamos nos deixar penetrar pelas aspirações de uma nova consciência histórica e apostávamos, com Emmanuel Mounier, num socialismo personalista e comunitário. Denunciavam-se o sistema capitalista desigual e o subdesenvolvimento, dependente e associado como se diria um pouco mais adiante. Reformas de base, pediam dirigentes estudantis e sindicais. E começava a descoberta da cultura popular: Paulo Freire, conscientização, MEB, MCP de Recife, CPC da UNE. Valorizavam-se o saber do povo e seu processo pedagógico, da consciência mágica à consciência crítica. Talvez, para empregar com uma pitada de ironia um termo de Malraux, nos deixássemos levar um pouco por uma certa ilusão lírica.

Logo depois, o corte fulminante: 20 anos de autoritarismo, com exílios, prisões, renúncias e abandonos, estratégias suicidas, voluntarismos, acomodações. Mas nesse tempo corria, nos subterrâneos da sociedade, uma resistência popular, cuidadosa e criativa, menos diretamente política, mais participativa e expressando demandas da sociedade. Os anos 70, no Brasil e na América Latina, viram crescer os movimentos sociais no campo e na cidade e os movimentos pastorais nas igrejas: posseiros no Norte, bóia-frias no Centro, pastoral da terra, pastoral operária, conselho indigenista... Pensando em termos da Igreja Católica na região, corriam os tempos entre o encontro episcopal de Medellín, em 1968 e o de Puebla, em 1979, com a opção preferencial pelos pobres e as novas comunidades eclesiais de base. Não se entendem as mobilizações do final da década e dos anos seguintes, sem esse trabalho nem sempre visível mas extremamente vigoroso e concreto. Os militares estavam obcecados pelos surtos de guerrilhas e de insurreições, duramente reprimidas, sem perceber que o dinamismo mais profundo e real corria por dentro de tantas experiências de base espalhadas pelo país. Nesse sentido, a abertura política não foi apenas um ato outorgado do alto, ou uma estratégia manhosa de sobrevivência, mas se conquistou também nas franjas vitais da sociedade. Setores da Igreja Católica e lideranças da oposição sindical tiveram então um papel decisivo. A esquerda das vanguardas tratou de correr atrás e, se possível, instrumentalizar, a partir de suas várias e conflitantes teses ideológicas (em contradição com o anti-idealismo de Marx, elas escorregavam do concreto da realidade para o abstrato dos princípios e das "posições corretas"). A abertura democrática encontrou um país socialmente mobilizado, mas nem sempre suficientemente consciente de suas virtualidades.

Foi então que as velhas e matreiras elites políticas, várias delas até às vésperas coniventes com a ditadura, tentaram deter ou cooptar todos esses dinamismos. Um pacto neoconservador, que perdura até hoje, tratou de isolar a sociedade política - que se redemocratizava ao velho estilo - da sociedade civil em ameaçadora efervescência. Também a esquerda tradicional, procurando o "que fazer" em textos do começo do século, apostou no partido de quadros como o instrumento adequado e desconfiou dos novos movimentos indisciplinados. O interessante é que pouco antes, numa data significativa, em 1968, a rebelião dos jovens pelo mundo afora tinha aberto novos rumos de ação e de pensamento, sinalizando que não era mais tempo de revoluções políticas clássicas, mas de grandes mutações sociais (1 1 No momento da tomada da Bastilha, em 1789, em resposta a um rei perplexo, seu ministro lhe indicara: "Majestade, não se trata de uma revolta, mas de uma revolução". Essa sentença passou na França para os manuais de história. Em maio de 1968, os estudantes a modificaram nos muros da Sorbonne: "Majestade, não se trata de uma revolução, mas de uma mutação". ). As transformações mais definitivas não viriam da tomada do poder e da imposição autoritária de um novo regime socioeconômico, mas de processos sociais complexos, profundos e relativamente lentos. Esse movimento antecipador, porém, parecia ter perdido fôlego logo adiante e as práticas políticas, nos anos seguintes, não o levaram devidamente em conta. Só lá por 1989, com a crise do socialismo real, é que foi ficando mais evidente a nova perspectiva histórica. Alain Touraine, que desde bem atrás vinha apostando nos movimentos sociais, indicou que 1968 não teve um dia seguinte (lendemain), mas certamente teria futuro (avenir) (2 2 Ver Alain Touraine, Le communisme utopique. Le mouvement de mai 1968. Paris, Ed. du Seuil, 1768, p. 53. ).

Enquanto isso a sociedade, sem perder o fôlego, seguiu experimentando práticas alternativas, com o surgimento logo adiante de outros movimentos sociais: das mulheres, étnicos, ecológicos... Eles ampliaram os horizontes das reivindicações e das lutas e introduziram novas dimensões sociais e culturais, sinalizando velhas estruturas de dominação e denunciando hábitos tradicionais. A própria esquerda política permanecia conservadora em vários espaços da realidade. Habituada a uma visão unidimensional economicista, reagiria, considerando estas dimensões como elementos secundários que desviariam a atenção de uma contradição de classe principal. E entretanto era por ali que se abriam novas perspectivas. Nesse sentido as questões de gênero seriam determinantes.

A modernidade apostava no "desencantamento do mundo" e num inelutável processo de secularização. Eis que, no momento de seu possível esgotamento, fim de um período de longa duração e início de uma crise secular, para empregar termos de Fernand Braudel, a dimensão do sagrado mostraria toda sua vitalidade e relevância. Os movimentos e as práticas religiosas teriam papel protagônico na renovação e o espaço das igrejas seria um vasto laboratório de experimentações, onde setores tradicionais e conservadores teriam de conviver com novas práticas libertadoras (3 3 L.A. Gómez de Souza, Secularização em declínio e potencialidade transformadora do sagrado. Religião e movimentos sociais na emergência do mundo planetário, trabalho apresentado no XVI Congresso Latino-americano de Sociologia de 1986, rev. Religião e Sociedade, Rio, ISER, v. 13, n. 2, julho 1986. ).

É interessante notar como muitas vezes uma teoria, atrasada e tradicional, pode bloquear e cegar o pensamento, a análise, e as pesquisas que procuram entender a nova realidade. De um lado tínhamos o marxismo que, há de convir, procurava se renovar, seja na vertente estruturalista de Althusser, seja na redescoberta dos processos históricos e das superestruturas com Gramsci; de outro, os funcionalismos tautológicos, com suas análises e pesquisas irrelevantes e, logo adiante, um pensamento pós-moderno fracionador e destruidor de sentidos. A própria filosofia, fechando-se nos formalismos da lógica abstrata, escapou do real e se enredou na desconstrução de discursos crípticos. A dissolução inglória do socialismo real autoritário na década dos 90 deixou vários setores de esquerda órfãos de propostas e chegou-se à aparente hegemonia de um pensamento único imprecisamente chamado de neoliberal, anunciando o fim da história e das utopias. Por outros caminhos, ele se juntaria ao impasse dos pós-modernos, ambos pretendendo congelar processos sociais, não percebendo dinamismos latentes e negando o fluir da história.

Curiosamente, tudo isso se dava em violenta contradição com os processos concretos, que continuavam em ebulição pelo mundo afora, gerando movimentos e novas práticas, assim como produzindo enormes transformações das forças produtivas, em nível da informática, da robótica e da engenharia genética. Abriam-se enormes e fecundas perspectivas para a inovação e a mudança. Dinamismo social intensíssimo, em todos os níveis da realidade, num clima semelhante ao do renascimento e das grandes invenções dos séculos XV e XVI, que foi também um tempo de transformações no pensamento e nos hábitos mentais. Em contraposição, em nossa época, sobrevive em muitos espaços um clima teórico cético ou imerso em pessimismo infecundo, que não pressente a notável revolução tecnológica e nega as evidências dos processos sociais mais significativos. Como se um desgastado pensamento que envelhece, temesse se lançar em nova aventura histórica, preso a antigos medos miúdos (la petite peur des bien pensants), que Mounier denunciara décadas atrás (4 4 Emmanuel Mounier, La petite peur du XXe siècle (1949), Oeuvres de Mounier, v. 3, Paris, 1962, p. 341-425. ). Descobrimos então uma defasagem entre processos sociais concretos vitais e uma certa dificuldade analítica para pesquisá-los e entendê-los.

As leituras da realidade se fazem freqüentemente ideológicas, no que elas têm de falsa consciência, de inversão do real, de abstração e de apressadas generalizações. As análises ficam em nível das categorias gerais: classes e movimentos são apresentados como totalidades unívocas com traços muito vagos e logo se lhes pespegam adjetivos definitivos, sem o cuidado de conhecer os processos específicos. Nisso os sociólogos têm parte de culpa, muitas vezes construindo, numa tradição weberiana mal digerida, tipos-ideais ou modelos que não passam de categorias simplificadas, caricaturas do que ocorre na realidade. Talvez o antropólogo tenha sido às vezes mais cuidadoso com as situações particulares, tratando de conhecê-las em suas complexidades e em suas contradições inevitáveis, com o cuidado que há de se ter com tudo o que é vivo. As generalizações simplificadoras, ao coisificar, mitificam os fatos ou os desclassificam em juízos definitivos. E se as olharmos mais de perto, elas estão muitas vezes condicionadas por má vontade, por preconceitos ou pela irritação de quem não consegue ser "intelectual orgânico" para orientar ou patrulhar processos que gostaria de manter sob seu controle vigilante.

Além disso, muitas análises se ressentem de outro tipo de reducionismo: idealizam e tornam sem arestas o passado; em contraposição, diante de um presente complexo e incerto, não conseguem entender suas contradições inevitáveis. As leituras do tempo pretérito são muitas vezes seletivas, guardando os aspectos mais significativos e esquecendo as indecisões, os fracassos e as tensões. Experiências daqueles momentos ficam engessadas em fórmulas definitivas e relativamente simples. Por outro lado, diante das imprecisões e dos titubeios do presente, é mais fácil anunciar crises de crescimento, refluxos ou esgotamentos. Tenho criticado as análises que idealizaram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) dos anos 70 e que afirmam sua tendência agora ao desaparecimento, quando uma leitura atenta da realidade aponta em direção contrária, contra aparentes evidências de um enganoso sentido comum (5 5 L.A. Gómez de Souza, As CEBs vão bem, obrigado. Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, Vozes, fasc. 237, p. 93-110, março 2000. ). O mesmo se pode dizer de diagnósticos sobre os movimentos sociais. Aliás, já nos anos 70 se falava, na Europa, de seu aparente refluxo, depois da vitalidade de 1968. Década após década, volta essa idéia de refluxo e de esvaziamento, em relação a um momento imediatamente anterior idealizado, que teria sido mais vigoroso (6 6 Um dos capítulos de um livro de Alain Touraine traz esta pergunta, para contestá-la: "Refluxo dos movimentos sociais?", referindo-se à década de 70. Ver do autor, Le retour de l'acteur, Paris, Fayard, 1984. ). Como se um processo inexorável de entropia corroesse linearmente os processos históricos. E logo vem a conclusão inapelável: os movimentos estão perdendo fôlego, ficaram erráticos e sem rumo. Gostaria aqui de indicar em direção oposta que, apesar dos tropeços do pensamento e de suas crises, a realidade dos processos sociais continuou trazendo novidades vitais e profundas, certamente em fluxos complexos e contraditórios, não-lineares ou unívocos, o que é perfeitamente normal. Para entender esse dinamismo da sociedade há que deixar de lado grades interpretativas aprisionadoras e aprioristas e, seguindo a lição de um Marx perspicaz e cuidadoso, subir do abstrato para o concreto.

Insisto neste tema, porque isto se faz urgentemente necessário, para entender os desafios e os dilemas do Brasil atual. O caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, é um bom exemplo para esclarecer esse ponto. Hoje este movimento, por suas iniciativas e audácias, ganhou tal visibilidade, que já não dá para duvidar de sua importância; com isso conquistou legitimidade na opinião pública. Influi pesadamente na agenda política do país e obriga um governo arrogante, míope diante da realidade, temeroso e irritado, a revisar a contragosto suas políticas públicas. É fácil lembrar como, há alguns anos atrás, o MST ainda despertava receios em amplos setores considerados progressistas, que desconfiavam de suas declarações contundentes ou temiam suas iniciativas imprevisíveis. Seu discurso vinha alicerçado num marxismo bastante ortodoxo e, por essa razão, para quem avalia movimentos principalmente a partir de seu ideário, tem dado ocasião a juízos drásticos e negativos. Porém, se soubermos ir mais além das declarações, para tentar conhecer as experiências concretas, chegaremos a conclusões bem mais matizadas e precisas. Assim, por exemplo, os acampamentos do movimento são espaços de um quotidiano extremamente criativo, onde se gesta uma ética de convivialidade e de companheirismo, lugares de participação e de responsabilidades compartidas e de inovadora produção de bens. Podemos descobrir também uma circulação e uma renovação de lideranças, com a presença significativa de mulheres e de jovens. Tudo isso convivendo, é verdade, com um núcleo de dirigentes históricos relativamente estável, centralizador e com um discurso ainda tradicional. Arriscaria dizer que, neste caso, a prática vivida vai mais além da teoria proclamada. Certamente esses dois elementos não são separados e um não deixa de contaminar o outro, para bem ou para mal. Mas no meio prazo, esta situação contraditória poderá trazer conseqüências e mudanças no comportamento e na própria reflexão. Penso mesmo que a prática tende a levar, paulatinamente, a uma modificação das próprias idéias e ao seu desbloqueio e abertura, assim como a um clima crescentemente participativo e democrático. Isso não se dará automaticamente, mas há fortes possibilidades que aconteça, desde que as virtualidades sejam bem aproveitadas e contem com colaboração e apoios.

No caso do MST, a situação é ainda mais interessante na passagem do acampamento precário para o assentamento estável. Encontramos, então, duas experiências extremamente significativas. Por um lado, desenvolveu-se uma prática educativa em suas escolas, premiada em várias ocasiões, notável por sua criatividade e renovação metodológica, que retoma e reformula antigas experiências da educação popular. Num momento em que esta última, no período pós Paulo Freire, corria o risco de escorregar na repetição e nos lugares comuns, nos assentamentos foram se testando outros processos pedagógicos. Por outro lado, surgiram novas formas de unidades produtivas, cooperativas ou outras, demonstrando excelente nível de eficiência e de competência. Com isso se descobre que os sem-terra, agora assentados, estão inovando na área de uma economia solidária ou popular, alcançando índices de alta produtividade e criando novos circuitos de circulação de bens. Caem assim por terra predições apressadas que só percebiam no MST uma ação agressiva nos momentos de ocupação e o consideravam pouco eficaz nas etapas seguintes. Dois filmes de Tetê Moraes, Terra para Rose e, 10 anos depois, O sonho de Rose, mostraram um itinerário certamente não-linear, com contradições, tropeços inevitáveis, mas também avanços bastante significativos. O movimento já tem duas décadas de experiências acumuladas. Um exame cuidadoso e concreto permite estabelecer um saldo positivo, para além das contradições e a partir delas mesmas e de sua possível superação.

Com isso é difícil, atualmente, negar a relevância do MST. Mas se continua a ignorar outras experiências, como se apenas aquele movimento tivesse importância. E entretanto elas aí estão pelo país afora, nas bases, em associações, cooperativas, movimentos de mulheres e de jovens etc. Detive-me nos impasses da teoria e do pensamento para tentar entender um pouco o clima de pessimismo de muitas análises, diante de uma sociedade em ebulição. Dá a impressão de estarmos nas antípodas daquele clima esperançoso dos anos 50 antes aludido. Tudo indica, porém, que a história real, vivida e nem sempre percebida, é muito mais dinâmica do que certos juízos céticos ou desconfiados.

Aliás, as leituras da realidade podem ser também reducionistas. A modernidade privilegiou dois espaços: a política-o poder e a economia-o mercado, com a produção de bens materiais. Deixou freqüentemente escapar outras práticas, na produção de bens simbólicos, no mundo das artes e da cultura, da subjetividade, das emoções e do prazer. Olhando em torno a nós, a vitalidade cultural é ampla e fecunda nos artesanatos, na literatura de cordel, na música, no teatro, no cinema etc. Por toda a parte se manifesta, na base da sociedade, uma capacidade inovadora. Ao lado disso, há uma gigantesca produção de conhecimentos, de informações e de dados sobre a realidade, que brinda o mundo da informática, com esse novo capital social ainda não suficientemente valorizado. Temos dois setores aparentemente distantes, a criatividade popular e a informação que jorra aos borbotões. Essas duas pontas podem se encontrar e se retroalimentar, a comunicação fazendo visível o dinamismo societal. Aliás, essa foi a intuição de Herbert José de Souza (Betinho) ao criar no IBASE o Alternex, antes mesmo das modas seguintes da internet, pondo a informática, através desse servidor, à disposição dos movimentos sociais e das iniciativas populares (7 7 Herbert José de Souza (Betinho) e Carlos Alberto Afonso, ao voltarem ao Brasil depois de anos de exílio, em 1979, criaram o IBASE, com outros companheiros, pensando pôr em contato a riqueza de uma realidade de iniciativas populares que descobriram, com os modernos meios de comunicação, antecipando-se em muitos anos às modas atuais dos internautas. ). Queremos então insistir na enorme vitalidade de uma sociedade viva e que experimenta, com contradições normais, êxitos e fracassos, inseguranças e ambigüidades, como todo processo histórico vivo. Aqueles que se entusiasmaram com a notável Mostra do Redescobrimento em São Paulo, que deixou evidente a capacidade criadora do país nos 500 anos passados, deveriam saber que esse dinamismo não se esgotou e pode continuar, se possível, em "outros 500 anos". Com isso não quero cair num triunfalismo ingênuo, pois tenho consciência das enormes dificuldades, dos obstáculos e dos dilemas. Por outro lado, não deveria haver lugar para derrotismos, incapazes de descobrir potencialidades que vêm de mais atrás e se projetam para o futuro.

Gostaria de indicar outro tipo de dificuldade para compreender essa realidade, às vezes bloqueada analiticamente por categorias nem sempre bem definidas. Surge um ator de rosto pouco preciso, ou melhor, de muitos rostos embaçados num vago perfil. Trata-se do pobre, nos últimos tempos substituído por outro, tanto ou mais ambíguo, o excluído (8 8 Neste ponto me aproximo de algumas observações de José de Souza Martins, em As mudanças nas relações entre a sociedade e o Estado e a tendência à anomia nos movimentos sociais e nas organizações populares - ESTUDOS AVANÇADOS, São Paulo, USP, n. 38, p. 268-278, janeiro/abril 2000 -, embora me distancie bastante de suas conclusões. ). Há que chamar a atenção para possíveis equívocos com o uso indeterminado desses termos. Em primeiro lugar, são gerais e vagos e ocultam uma heterogeneidade de situações. Os pobres vão dos miseráveis totalmente despossuídos e sem reação, até setores já organizados e ativos. Não se trata apenas de seres passivos e inertes, à espera da caridade e da ajuda. Muitos deles são extremamente dinâmicos, na resistência e nas iniciativas. Há alguns anos Gustavo Gutierrez, teólogo peruano, pioneiro da Teologia da Libertação, escreveu um livro com o título A força histórica dos pobres. O mundo dos pobres é um espaço socialmente fervilhante, se soubermos lê-lo a partir de los de abajo, desde el reverso de la historia (9 9 Gustavo Gutiérrez, La fuerza histórica de los pobres, desde el reverso de la historia, Lima, Peru, CEP, 1979. O documento dos bispos latino-americanos no Encontro de Puebla, em 1979, inspirado no próprio Gutiérrez, em seu n. 1147, vai falar "do potencial evangelizador dos pobres". ). Com os excluídos pode passar alguma coisa semelhante ou até pior. A palavra poderia dar a impressão de que esses setores estariam totalmente fora da sociedade. Eles são excluídos dos benefícios do sistema hegemônico, mas certamente produzem bens materiais numa economia paralela, criam bens simbólicos no mundo da cultura, reproduzem e dão vida. A celebração do "grito dos excluídos", realizada a cada ano no dia 7 de setembro, quer aliás indicar seu dinamismo e sua presença inquietante. Em texto de alguns anos atrás, me referi ao "potencial transformador dos excluídos" (10 10 O dinamismo transformador dos excluídos, revista Tempo e Presença, Rio, n. 268, 1993. Ver também, Reaprender a pensar um mundo plural e diferente, Tempo e Presença, Rio, n. 276, julho/agosto 1994. ). Certamente não me entusiasma o uso indiscriminado dessa categoria, em voga nos nossos meios de pastoral social, a não ser que seja bem explicada. Algo semelhante ocorreu no passado com um debate na América Latina sobre a marginalidade, ela também ambígua. Os marginais eram e são parte necessária de um sistema que os utiliza e até certo ponto depende deles. Uma coisa são os mecanismos da exclusão e da marginalidade, num sistema que perpetua privilégios; outra, a resistência e a tenacidade dos que não se deixam pôr para fora da sociedade e a desafiam subversivamente. O sistema sempre desejou empurrar o estranho - o outro - para além de suas fronteiras, ainda que, contraditoriamente, precisasse dele para explorá-lo. Os bárbaros, povos geograficamente externos ao império romano ou na sua periferia, eram considerados não-cidadãos, não-civilizados. Com o recuo do tempo se vê como, no momento da decadência e dissolução daquele mundo, eles foram o novo sujeito propulsor que veio para substituir os que desapareciam na impotência histórica. O sofisticado mundo de Adriano e de Trajano, só aparentemente sólido, mas já minado em seus alicerces, logo adiante teve como substitutos aqueles supostamente excluídos.

Aliás, nenhum dos que fazem parte do chamado mundo dos pobres se reconhece como tal. São pobres para os outros, para os que querem exercer sua caridade e proteção. Entretanto, constróem sua identidade a partir dos valores positivos de sua vida e de seu cotidiano. É evidente, claro está, que o importante não é a discussão semântica e apenas substituir termos, porém descobrir como esse mundo de los de abajo é complexo e diferenciado. Ali há franjas de desvalidos realmente despossuídos até mesmo de identidade e de capacidade reativa, mas também muitos outros setores resistentes e criativos, certamente ameaçadores para o sistema, que tenta ignorá-los, passando a temê-los logo adiante. E podemos então descobrir as potencialidades dos setores populares, com suas organizações e espaços de produção, de festa, de cultura, de religiosidade e de celebração.

Uma comparação com os Estados Unidos do século passado poderia ajudar. Imaginemos um sociólogo ou um cientista político de nosso tempo, chegando ali, na segunda metade do século XIX, para tentar estudar aquela sociedade. Numa pesquisa com os figurinos acadêmicos rotineiros, ele se contentaria com entrevistar atores considerados decisivos na arena política em Washington, na esfera econômica em Nova Iorque, na vida cultural em Boston. Possivelmente não daria atenção às vagas desconcertantes dos imigrantes que desciam dos navios, não se interessaria pelo que brotava incipiente no meio-oeste e, menos ainda, pelo caótico e violento far-west. E, entretanto, para entender o dinamismo das décadas seguintes, haveria que levar em conta vários desses atores pouco tradicionais, responsáveis pela vitalidade da sociedade norte-americana em gestação.

Da mesma maneira no Brasil, os que circulam prioritariamente na esplanada dos ministérios em Brasília, nas áreas bancárias do Rio e de São Paulo, ou nos campi universitários mais notórios, provavelmente não pressentirão tudo o que brota no dinamismo societal do país profundo. Neste último não encontrarão uma racionalidade muito definida, nem atores com comportamentos previsíveis ou bem comportados, mas espaços de busca, de resistência e de experimentação, muitas vezes surpreendentes e não necessariamente coerentes ou precisos. Além disso, é impressionante constatar como os meios de comunicação se concentram na descrição de fatos políticos menores, abrindo espaço para personagens insignificantes, circulando em ambientes palacianos e cortesãos e ignorando as grandes mobilizações, marchas e iniciativas capazes de subverter as rotinas e os privilégios. É inquietador quando isso passa para o ambiente acadêmico, ainda que possa ser explicado pela circulação cúmplice de alguns de seus setores com o espaço das elites dirigentes políticas e econômicas.

No que se refere às Universidades, elas podem ter uma tarefa fundamental e insubstituível, mediante suas pesquisas, seus temas de teses e de dissertações, no sentido de tornar visível o Brasil emergente, detectando suas virtualidades e impasses. Para isso, seria necessário antes de tudo superar uma certa estratificação que se criou, a partir dos centros considerados de excelência, sem perceber o que se faz de inovador fora dos eixos de mais prestígio. Deixa-se de levar em conta iniciativas que abrem caminhos pioneiros em tantos institutos de ensino superior espalhados pelo país. Há um potencial enorme nas novas gerações que chegam à pós-graduação; o fundamental seria que mergulhassem na realidade brasileira inquieta e desafiadora.

As ONGs (organizações não-governamentais) ali estão, no acompanhamento e nas assessorias, tentando pressentir uma gestação histórica alternativa e colaborar para seu êxito. Não quero idealizar seu papel, que pode também ser ambíguo, ingênuo ou interesseiro. Mas elas têm tratado, tenazmente, de descobrir viabilidades que passam despercebidas a olhares rotineiros. Muitas das experiências brotam na imprecisão e não poderão ser catalogadas de maneira apressada, a partir de suas declarações ou intencionalidades, mas cuidadosamente analisadas por suas práticas e ações. Entretanto, só consegue tal intento quem segue de perto, com atenção e empatia.

Talvez o mundo da arte saiba pressentir melhor certas virtualidades latentes. Filmes como Central do Brasil ou Eu tu eles fazem emergir um país sofrido mas vital. Mário de Andrade, em 1922, descobriu uma modernidade ambígua antes dos processos econômicos e sociais das décadas seguintes e das análises posteriores. Guimarães Rosa e Graciliano Ramos trouxeram à tona uma vida desafiadora de um interior desconcertante. Vale acompanhar o itinerário de Euclides da Cunha, partindo de preconceitos e desconfianças, expressados nos primeiros artigos sobre Canudos, para chegar aos poucos a um diagnóstico bem mais receptivo e arguto em Os Sertões (11 11 Ver Walnice Nogueira Galvão (org.), Diário de uma expedição, S. Paulo, Companhia das Letras, Coleção Retratos do Brasil, 2000, onde podemos ler os artigos de Euclides da Cunha e as mudanças paulatinas que o levariam a escrever Os Sertões. ).

Encontramos também a função profética e reveladora dos críticos. Basta lembrar dois deles, vindos de horizontes bem diversos. Alceu Amoroso Lima - Tristão de Ataíde - em mais de 50 anos de análise literária, esteve sempre atento ao surgimento de um novo romancista no Nordeste, de um novo poeta no Rio ou em Porto Alegre. E, à diferença de tantos companheiros de sua geração, soube apostar nas Comunidades Eclesiais de Base que nasciam e na Teologia de Libertação, ficando isolado dos que não entendiam aquele Alceu sempre em busca de uma idade nova e que para eles pecava por ingenuidade (12 12 Em carta que dele recebi, em março de 1964, dias antes do golpe, indicava a dor de perder amigos, que não sabiam entender suas sempre renovadas e indispensáveis mudanças de atitude e juízos. Ver L.A. Gómez de Souza, Amoroso Lima na preparação da Idade Nova. Reflexões a partir de uma carta sua de 1964, Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, Vozes, n. 172, p. 707-713, 1988. Dois de seus livros traziam no título a idéia, que lhe era tão cara, de idade nova. ).

Do lado da pintura, encontramos Mário Pedrosa - de quem festejamos o centenário - militante infatigável, preocupado com a relação entre o artista e a sociedade, com a articulação entre o local e o universal. Ele soube, nos anos 30, adivinhar o traço firme de Portinari, para logo adiante, com o escândalo de muitos, descobrir o sentido da arte abstrata, chegando depois às várias correntes do pop e do post-pop, até Oiticica e Lygia Clark. Sempre inquieto, num de seus exílios, ele que esteve na origem da Bienal de São Paulo, criou no Chile o fantástico Museu da Solidariedade, acolhendo artistas do mundo inteiro e, logo depois da derrota política, o Museu da Resistência Salvador Allende. Incansavelmente curioso e comprometido com o emergente, voltando ao Brasil, ao final da vida, tendo denunciado já nos anos 30 a nomenclatura do socialismo real, sentiu então o dinamismo operário que brotava no ABC e conclamou seu líder a preparar um novo partido que surgisse das bases (13 13 Mário Pedrosa, arte, revolução, reflexão, Rio, Centro Cultural Banco do Brasil, 1991; Otília Beatriz Fiori Arantes, Atualidade de Mário Pedrosa, Folha de S. Paulo, caderno Mais!, 16 abril 2000. Pude acompanhar de perto, em Santiago, o interesse de Mário pelo processo chileno e sua fina sensibilidade diante do que se criava na área das artes plásticas pelo mundo, assim como no grande processo histórico global. Uniu essas duas últimas dimensões em notável alocução, infelizmente perdida, com a qual entregou a Allende o Museu da Solidariedade. ). Ambos, Alceu, chegando aos 90 anos, Mário aos 80, guardavam o olhar jovem, perspicaz e o entusiasmo juvenil. Ensinaram a esperança e a não cair nas neurastenias azedas dos que perdem a confiança no futuro.

Claro que temos um futuro em aberto, com possibilidades mas também com grandes riscos. No caso brasileiro atual, os obstáculos são fortíssimos. A disparidade econômica é grave e crescente, parte da população apenas luta pela sobrevivência. Por outro lado, elites retrógradas teimam em desconhecer o país e se encasulam em seus privilégios. Uma classe política em amplos setores liliputiana, arrogante e sem nenhum compromisso com a nação, participa de seu desmonte (14 14 Ivo Lesbaupin (org.), O desmonte da nação, Petrópolis, Vozes, 1999. ). Proclamando o fim da era Vargas e enfraquecendo o Estado, em nome de receitas ditadas de fora, quer apenas cancelar esperanças e negar o processo histórico a que me referi no princípio.

A situação da Argentina pode ser um sinal de alerta. A partir do enorme vigor que lhe trouxeram as imigrações massivas do final do século XIX, chegou à segunda década do século seguinte com a possibilidade de transformar-se na primeira nação moderna e desenvolvida da América Latina. Uma "década infame" depois de 1930 e um populismo peronista que fez o país submergir no mito e nas convulsões cíclicas, quebraram um ritmo histórico e fizeram envelhecer a nação e seu projeto. País culturalmente denso, parece ter perdido um certo fôlego para tentar caminhos novos. Não podemos esquecer, pois, que qualquer dinamismo histórico corre o risco de abortar. Nada está assegurado de antemão. Mas isso só pode levar a apostar nos dinamismos latentes, ajudando-os a se desenvolverem.

No caso brasileiro, há uma forte vitalidade nas bases locais. É verdade que, pelas enormes dimensões do país, as experiências freqüentemente estão isoladas umas das outras. Daí a importância da intercomunicação. Articuladas em redes, em conexões horizontais, elas podem se fortalecer mutuamente, trocar conhecimentos e apoiar-se uma às outras. E para isso a informática oferece meios materiais que fazem possível este intercâmbio. Aliás, a idéia de rede é central hoje nas articulações da sociedade. O contato entre realidades locais pode ser instantâneo e intenso. As organizações populares estão cada vez mais informatizadas e há um fluxo de informações que cresce sem cessar.

Esse tipo de articulação é um fator de democratização, já que a comunicação se pode fazer entre as experiências, sem necessidade de ser canalizada por organizações centrais com tendência a controlar e a dirigir. E permite aflorar a diversidade e as diferenças. Estas categorias do diferente e do plural são aliás centrais para uma sociedade que respeite identidades e saiba fazer circular práticas diversas e heterogêneas. Nossos hábitos mentais estão mais acostumados aos modelos estereotipados e às semelhanças e nem sempre percebem a riqueza da diversidade. Muitas vezes se comparam antigas organizações uniformes e centralizadas com as novas redes plurais, dando preferência às primeiras que, à primeira vista, pareceriam mais eficientes e disciplinadas, quando as outras são as que trazem maiores possibilidades de criatividade e de impacto, por sua capacidade inventiva e renovadora. Acostumados às rotinas e à repetição, nem sempre estamos atentos ao novo e ao diferente que podem ser muito mais fecundos e desafiantes.

No Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS), onde trabalho, acompanhamos e assessoramos projetos populares e outras ONGs, assim como financiamos pequenas iniciativas. É enorme a virtualidade latente que podemos pressentir (15 15 O CERIS assessora atualmente cerca de 60 organizações espalhadas pelo país, pastorais sociais em 24 dioceses da Igreja Católica e financia 180 pequenos projetos populares a cada ano. Desde 1979, deu contribuições financeiras e apoio a cerca de 2.700 dessas experiências. Temos assim a oportunidade de conhecer de perto um enorme número de iniciativas sociais nas diversas regiões e de acompanhar seu desenvolvimento. ). Assim, por exemplo, se desenvolvem cada vez mais experiências de uma economia solidária alternativa, como mostram pesquisas e análises recentes e como indicava Paulo Singer em texto de número anterior desta revista (16 16 Paul Singer, O Brasil no limiar do terceiro milênio, ESTUDOS AVANÇADOS, op. cit., p. 247-258. Ver, entre muita literatura publicada na América Latina, um estudo a partir de práticas concretas; Luiz Inácio Gaiger e outros, A economia solidária no RS: viabilidade e perspectivas, Cadernos CEDOPE n. 15, Série Movimentos Sociais e Cultura, São Leopoldo, Unisinos, 1999. ). Theodore Roszak falou da "desintegração criadora da sociedade industrial" (17 17 Theodore Roszak, Person-planet. The creative disintegration of industrial society, Londres, Granada Publishing, 1981. ). Uma estrutura social entra em crise mas, dentro dela, brotam práticas alternativas. Muitas fracassam, outras vingarão. Olhando a sociedade brasileira, suas dimensões e seu fôlego, seu dinamismo cultural, criatividade social e produtiva, podemos apostar - e colaborar - nesse movimento que vem das bases.

Parece evidente que, num certo momento, esse processo deva ser assumido politicamente em nível nacional. Mas ele já está começando em experimentações em nível de poder local, em parcerias de prefeituras com organizações da sociedade civil. Os meios de comunicação social não dão muita importância a esses processos, os políticos tradicionais seguem enredados em seus jogos miúdos de sobrevivência, setores da academia permanecem céticos. Há que ter o olhar atento para pressentir virtualidades e movimentos sociais profundos, que se preparam pacientemente antes de irromper na visibilidade inquestionável. O Papa João XXIII falou uma vez, referindo-se ao Concílio que convocara, de uma "flor de inesperada primavera". O inesperado se prepara lentamente desde bem atrás e se esgueira oculto antes de chegar à luz do dia. Se soubermos entender esse processo e colaborar para seu êxito, será possível, neste começo de milênio, retomar as esperanças que nossa geração pressentia meio século atrás.

Notas

Luiz Alberto Gómez de Souza, doutor em sociologia pela Universidade de Paris, ex-funcionário das Nações Unidas (CEPAL e FAO), foi professor em universidades do Rio de Janeiro, assessor da Conferência Nacional dos Bispos e de movimentos sociais, atualmente Secretário Executivo do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS) no Rio de Janeiro.

  • 1
    No momento da tomada da Bastilha, em 1789, em resposta a um rei perplexo, seu ministro lhe indicara: "Majestade, não se trata de uma revolta, mas de uma revolução". Essa sentença passou na França para os manuais de história. Em maio de 1968, os estudantes a modificaram nos muros da Sorbonne: "Majestade, não se trata de uma revolução, mas de uma mutação".
  • 2
    Ver Alain Touraine,
    Le communisme utopique.
    Le mouvement de mai 1968. Paris, Ed. du Seuil, 1768, p. 53.
  • 3
    L.A. Gómez de Souza, Secularização em declínio e potencialidade transformadora do sagrado. Religião e movimentos sociais na emergência do mundo planetário, trabalho apresentado no XVI Congresso Latino-americano de Sociologia de 1986, rev.
    Religião e Sociedade, Rio, ISER, v. 13, n. 2, julho 1986.
  • 4
    Emmanuel Mounier,
    La petite peur du XXe siècle (1949),
    Oeuvres de
    Mounier, v. 3, Paris, 1962, p. 341-425.
  • 5
    L.A. Gómez de Souza, As CEBs vão bem, obrigado.
    Revista Eclesiástica
    Brasileira, Petrópolis, Vozes, fasc. 237, p. 93-110, março 2000.
  • 6
    Um dos capítulos de um livro de Alain Touraine traz esta pergunta, para contestá-la: "Refluxo dos movimentos sociais?", referindo-se à década de 70. Ver do autor,
    Le retour de l'acteur, Paris, Fayard, 1984.
  • 7
    Herbert José de Souza (Betinho) e Carlos Alberto Afonso, ao voltarem ao Brasil depois de anos de exílio, em 1979, criaram o IBASE, com outros companheiros, pensando pôr em contato a riqueza de uma realidade de iniciativas populares que descobriram, com os modernos meios de comunicação, antecipando-se em muitos anos às modas atuais dos internautas.
  • 8
    Neste ponto me aproximo de algumas observações de José de Souza Martins, em As mudanças nas relações entre a sociedade e o Estado e a tendência à anomia nos movimentos sociais e nas organizações populares - ESTUDOS AVANÇADOS, São Paulo, USP, n. 38, p. 268-278, janeiro/abril 2000 -, embora me distancie bastante de suas conclusões.
  • 9
    Gustavo Gutiérrez,
    La fuerza histórica de los pobres, desde el reverso de la historia, Lima, Peru, CEP, 1979. O documento dos bispos latino-americanos no Encontro de Puebla, em 1979, inspirado no próprio Gutiérrez, em seu n. 1147, vai falar "do potencial evangelizador dos pobres".
  • 10
    O dinamismo transformador dos excluídos, revista
    Tempo e Presença, Rio, n. 268, 1993. Ver também, Reaprender a pensar um mundo plural e diferente,
    Tempo e Presença, Rio, n. 276, julho/agosto 1994.
  • 11
    Ver Walnice Nogueira Galvão (org.),
    Diário de uma expedição, S. Paulo, Companhia das Letras, Coleção Retratos do Brasil, 2000, onde podemos ler os artigos de Euclides da Cunha e as mudanças paulatinas que o levariam a escrever
    Os Sertões.
  • 12
    Em carta que dele recebi, em março de 1964, dias antes do golpe, indicava a dor de perder amigos, que não sabiam entender suas sempre renovadas e indispensáveis mudanças de atitude e juízos. Ver L.A. Gómez de Souza, Amoroso Lima na preparação da Idade Nova. Reflexões a partir de uma carta sua de 1964,
    Revista
    Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, Vozes, n. 172, p. 707-713, 1988. Dois de seus livros traziam no título a idéia, que lhe era tão cara, de
    idade nova.
  • 13
    Mário Pedrosa, arte, revolução, reflexão, Rio, Centro Cultural Banco do Brasil, 1991; Otília Beatriz Fiori Arantes, Atualidade de Mário Pedrosa,
    Folha de S. Paulo, caderno Mais!, 16 abril 2000. Pude acompanhar de perto, em Santiago, o interesse de Mário pelo processo chileno e sua fina sensibilidade diante do que se criava na área das artes plásticas pelo mundo, assim como no grande processo histórico global. Uniu essas duas últimas dimensões em notável alocução, infelizmente perdida, com a qual entregou a Allende o Museu da Solidariedade.
  • 14
    Ivo Lesbaupin (org.),
    O desmonte da nação, Petrópolis, Vozes, 1999.
  • 15
    O CERIS assessora atualmente cerca de 60 organizações espalhadas pelo país, pastorais sociais em 24 dioceses da Igreja Católica e financia 180 pequenos projetos populares a cada ano. Desde 1979, deu contribuições financeiras e apoio a cerca de 2.700 dessas experiências. Temos assim a oportunidade de conhecer de perto um enorme número de iniciativas sociais nas diversas regiões e de acompanhar seu desenvolvimento.
  • 16
    Paul Singer, O Brasil no limiar do terceiro milênio, ESTUDOS AVANÇADOS,
    op. cit., p. 247-258. Ver, entre muita literatura publicada na América Latina, um estudo a partir de práticas concretas; Luiz Inácio Gaiger e outros, A economia solidária no RS: viabilidade e perspectivas,
    Cadernos CEDOPE n. 15, Série Movimentos Sociais e Cultura, São Leopoldo, Unisinos, 1999.
  • 17
    Theodore Roszak,
    Person-planet. The creative disintegration of industrial
    society, Londres, Granada Publishing, 1981.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Abr 2005
    • Data do Fascículo
      Dez 2000
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