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Quem nunca andou de bonde

CRIAÇÃO / PINTURA E POESIA

Quem nunca andou de bonde

Renata Pallottini

Quem nunca andou de bonde

não sabe essa alegria elétrica do passeio

não virou a rua Direita em frente à Amarante

nem nunca tentou descer com o bonde andando

mesmo sendo menina

Também não andou nunca

equilibrando-se nos trilhos

sonhando que eles levavam a algum lugar

misterioso

e que tudo seria diferente

quando se chegasse ao fim (que não havia)

dos trilhos do bonde

Quem nunca andou de bonde

não sabe que descer do lado errado

é perigo de vida

e que descer do lado certo não garante nada

Quem nunca andou de bonde é jovem

e bonito

Mas não ouviu cantar o bonde

quando o seu motorneiro

batia o pé com força atrás do bloco de Aristéia

oh Carnavais, oh suco

dos canaviais...

No bonde o vento atravessava

as pernas

todas

Mamãe pedia para eu ir no colo

Eram tempos difíceis

Vivê-los era fácil

(era infância)

O meu bonde cantava quando descia a Glória

Parecia uma avó quando pensa na gente

Era como ter pai

como não ser (ou ser) pingente

Era a glória

Mesmo quando ia pela Liberdade

Ou

talvez

por isso.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Fev 2004
  • Data do Fascículo
    Dez 2003
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