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1917 - 2017 e depois

Seja qual for a leitura que se faça dele, é forçoso reconhecer que o processo revolucionário russo ditou o ritmo do nosso tempo. Ao longo dos últimos cem anos, não houve região ou indivíduo que não tivesse a vida atingida pela nuvem de sonho e pólvora formada naquele nordeste europeu (ou no noroeste eurasiano?), em uma Rússia que vivia então sua Era de Prata fervilhante de propostas de metamorfose estética e política. Ao reunir um conjunto de reflexões de pesquisadores da América Latina e da Europa que vêm trabalhando sobre o tema a partir de bibliografia atualizada, este dossiê da revista Estudos Avançados espera contribuir para um debate sofisticado sobre o centenário de 1917 e seus desdobramentos infinitos.

O texto inicial, de Galin Tihanov, trabalha com temas da história intelectual russo-soviética pouco frequentados pelos estudiosos brasileiros (teorias da linguagem, o eurasianismo) e propõe uma redefinição do lugar de certas correntes intelectuais russas no decorrer do período soviético (tais como o marxismo e o eslavofilismo). Em seguida, Evgeny Dobrenko comenta as vicissitudes da história das instituições artísticas e culturais soviéticas, com destaque para a sua leitura crítica da implantação e do significado do realismo socialista, termo que tem sido objeto de algumas das pesquisas recentes mais interessantes. Ainda no âmbito da história cultural, Andrea Gullotta traça um panorama circunstanciado da história da literatura do gulag. Embora referida em quase todas as interpretações da vida politica e cultural soviética, ela ainda oferece muitas possibilidades para estudos mais aprofundados que incorporem os métodos oferecidos pelas ciências sociais e pela teoria literária contemporâneas.

Após esse bloco de textos mais voltados para a esfera da cultura, das ideias e das artes, o dossiê passa para três artigos que versam sobre a história política e social da Revolução Russa. Inicialmente, temos o balanço de Martín Baña sobre as principais correntes historiográficas que lidaram com o assunto, tais como a sovietologia política da guerra fria, a contribuição fundamental oferecida pela vertente revisionista da história social dos anos 1970 em diante e a "virada cultural" que constitui uma veia forte dos estudos recentes. Daniel Aarão Reis e Lincoln Secco encerram o dossiê revistando alguns dos momentos-chave dos ciclos revolucionários de 1905 a 1921, passando em revista os aspectos democráticos e autoritários da nova Rússia soviética e avaliando como e se eles podem dialogar com as questões políticas contemporâneas.

Do conjunto do material, resulta a forte impressão de que tanto a pesquisa universitária quanto a atividade política ainda podem encontrar campo fértil para estudo e inspiração no legado da Revolução Russa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    07 Out 2017
  • Aceito
    10 Out 2017
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