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Goethe e sua “rede brasileira”: o Brasil visto de Weimar

resumo

No início do século XIX, o ducado de Sachsen-Weimar era um centro da recepção dos novos conhecimentos sobre o Brasil. O grande interesse do duque Carl August e as redes do seu homem de estado Goethe tiveram parte nisso. O grande editor Friedrich Justin Bertuch foi um dos que contribuíram desde Weimar para a divulgação desses novos conhecimentos.

palavras-chave:
Goethe; Schreibers; Pohl

abstract

In the early 19 19 Op. cit., v.35, p.246ss. th century, the Sachsen-Weimar duchy was a reception hub for new knowledge about Brazil. The great interest of duke Karl August and the “network” of the new member of his privy council, Goethe, played an important part in this. The great editor Friedrich Justin Bertuch was one of those who contributed from Weimar to the dissemination of this new knowledge.

keywords:
Goethe; Schreibers; Pohl

Introdução

À primeira vista, “Goethe e o Brasil” parece ser um tema pouco produtivo. Contudo, praticamente não existe outro país não europeu com o qual Goethe tenha se relacionado tão intensamente quanto com o Brasil. O que originou seu interesse pela América do Sul foi a amizade com Alexander von Humboldt. No Ano Humboldt de 2019, quando a Alemanha e a América do Sul celebram os 250 anos de nascimento desse “segundo descobridor da América”, não podemos enfatizar suficientemente o quão importante Alexander von Humbodt foi para o grande interesse - não apenas de Goethe - pela América do Sul e pelas novas disciplinas científicas.

Contudo, Humboldt não pôde viajar ao Brasil. A abertura do maior país da América do Sul depois da fuga da casa real portuguesa é um fato que despertou a curiosidade dos cientistas e estudiosos e também os sonhos dos pobres que sofriam com as Guerras Napoleônicas. Quando o casamento da princesa Leopoldina com o príncipe português, que vivia no Brasil, possibilitou que cientistas fossem enviados ao Brasil, Sachsen-Weimar também quis enviar alguns. Essa empreitada acabou não dando certo, mas desde então Goethe dedicou um interesse cada vez maior a esse enorme país, não apenas a encargo do seu príncipe. Para obter novas informações, ele aproveitou uma enorme rede de relações pessoais. Acresce-se a isso o fato de ele ter preferido, como personalidade famosa que era, atrair para si visitantes que pudessem lhe contar coisas sobre o Brasil. A Editora Nave de Florianópolis planeja neste ano publicar uma edição aumentada do meu livro A viagem de Goethe ao Brasil.1 1 Cf. Schneider (2008). O formato da edição brasileira do meu livro Goethes Reise nach Brasilien, publicado originalmente em 2008, será duas vezes maior que a edição alemã. As maravilhosas gravuras em cobre sobre o Brasil da biblioteca de Goethe serão mais valorizadas na edição brasileira. O livro documenta os estudos do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) sobre a botânica, a geologia e a cultura do Brasil, conforme os registros nos seus diários, de 1802 a 1831. Revista e ampliada, a edição brasileira é um “livro de arte” e inclui 90 reproduções inéditas de gravuras do século XIX do acervo da Klassik Stiftung Weimar (KSW), além de inéditos da correspondência de Goethe com os brasilianistas. Um “hot site” acompanha todo o projeto. Para acessibilidade às pessoas com deficiência visual, a edição integral do livro nos formatos audiolivro e PDF acessível estará disponível no “hot site”. Neste texto, gostaria de antecipar, utilizando as publicações de Weimar sobre o Brasil, a importância dessa pequena cidade para a recepção do Brasil no espaço de língua alemã no início do século XIX. Além disso, partindo do exemplo dos dois primeiros pesquisadores da Alemanha e da Áustria que viajaram ao Brasil e com os quais Goethe manteve contato, demonstro aqui o quão profundo e amplo era o interesse de Goethe pelo Brasil.

Um deles é Wilhelm Ludwig von Eschwege, o “pai da geologia brasileira”, que publicou a segunda parte do seu livro Journal von Brasil em 1819, ou seja, duzentos anos atrás, justamente em Weimar. O outro é Johann Emanuel Pohl.

Em 2011/2012, o Instituto Martius Staden publicou uma bibliografia da literatura em língua alemã sobre o Brasil com as publicações que vieram a lume até o ano de 1900. No total são 905 títulos. O Gráfico 1 mostra todos os locais nos quais foram publicados mais de 10 títulos sobre o Brasil até o ano 1900.

Gráfico 1
Locais nos quais foram publicados mais de 10 títulos sobre o Brasil até o ano 1900.

Obviamente evidencia-se aqui o desenvolvimento do mercado livreiro. Enquanto nos dois primeiros séculos após o descobrimento do Brasil (ou seja, antes de 1700) surgiram apenas 97 publicações em língua alemã sobre o Brasil, no século seguinte - de 1700 a 1799 - foram publicadas 132 e, até 1900, um total de 676 obras sobre o Brasil.

Se dividirmos o século XIX, salta aos olhos imediatamente a posição especial de Weimar entre os anos 1800 e 1832: 21 publicações sobre o Brasil; e se considerarmos também Iena - fala-se frequentemente da “dupla cidade” de Weimar-Iena -, chega-se a um total de 24 publicações, contra Viena com 19 e Hamburgo e Berlim com 18 publicações cada até 1832.

Como é possível que uma cidade tão pequena quanto Weimar2 2 Weimar, que tinha cerca de seis mil habitantes quando Goethe chegou a ela, mal ultrapassa nessa época a marca de dez mil habitantes. Em 1800 ela ainda tinha menos de dez mil habitantes, enquanto a população de Viena cresceu de quase 250 mil para mais de 400 mil habitantes em 1832; a de Berlim, de 170 mil para cerca de 270 mil; e a de Frankfurt, de 40 mil para mais de 50 mil habitantes. Como comparação, em 1799 o Rio de Janeiro tinha cerca de 43 mil habitantes, e cresceu para 130 mil em 1832. publicasse mais livros sobre o Brasil do que as grandes “cidades do livro” de Leipzig, Berlim, Hamburgo, Viena e Frankfurt?

Em Weimar publicavam-se nessa época sobretudo obras científicas com conteúdo botânico e geográfico, bem como relatos de viagens. Além dessas obras de Weimar elencadas na bibliografia do Instituto Martius Staden, a editora cartográfica Landes-Industrie-Comptoir publicou uma variedade de revistas e cadernos que não apareceram na estatística. Assim, é possível encontrar cerca de 100 fontes sobre o Brasil nas revistas Allgemeine Geographische Ephemeriden e Neue Allgemeine Geographische Ephemeriden. Em outras publicações da casa editorial de Bertuch também se encontram fontes sobre o Brasil, como no Bilderbuch für Kinder [Livro de figuras para crianças], na revista Allgemeines Deutsches Gartenmagazin [Revista Alemã Geral de Jardinagem] e mesmo no Journal des Luxus und der Moden [Jornal do luxo e das modas]. Em 1800, o Instituto Geográfico de Weimar era o principal produtor de mapas do Brasil.

Biblioteca dos relatos de viagem

Em 1806 vem a lume a primeira publicação maior sobre o Brasil na casa editorial de Friedrich Justin Bertuch: Reise nach Brasilien und Aufenthalt daselbst in den Jahren 1802 und 1803 [Viagem ao Brasil e estada ali nos anos de 1802 e 1803] de Thomas Lindley, traduzida em partes e publicada por Theophil Friedrich Ehrmann - o escritor e geógrafo falecido em Weimar em 23 de abril de 1811.

Em seu relato preliminar, Theophil F. Ehrmann descreve de maneira muito acertada a dificuldade em obter novas notícias sobre o Brasil:

Ainda temos muito poucas notícias novas e satisfatórias sobre esse país tão peculiar em tantas maneiras que é o Brasil, de modo que qualquer contribuição para ampliação do conhecimento sobre esse país deve ser bem-vindo, por pouco útil que possa parecer. De fato, temos diversos relatos mais recentes de viajantes que em suas viagens visitaram um ou outro porto brasileiro, nos quais especialmente navios ingleses atracavam para trazer suprimentos a bordo […].

Dos portugueses, os donos dessa terra, cuja política mesquinha é bastante contrária aos progressos do planeta, há muito não recebemos novas notícias sobre o estado atual do rico Brasil, e tampouco podemos esperar receber alguma logo, pois o governo português procura ocultar cuidadosa e temerosamente na maior obscuridade as fontes principais da sua riqueza, e por isso provavelmente nenhum estrangeiro conseguiu pesquisar mais a fundo esse país desconhecido, o que por conseguinte faz com que nos faltem relatos a respeito dele.3 3 Citado em Schneider (2011, p.63).

Essa situação só se alterou com a fuga da casa real portuguesa para o Brasil em 1807/1808, para escapar às tropas de Napoleão. A sede de governo do Império Português já não era mais Lisboa, mas sim o Rio de Janeiro. O imperador português permitiu então a abertura dos portos, a imprensa, o comércio do Brasil com outros Estados além de Portugal, a fundação de universidades e academias. Foi também nessa época que se permitiu pouco a pouco que visitantes estrangeiros viajassem pelo país.

A Grã-Bretanha teve papel crucial na fuga da casa real portuguesa: ela fez que isso se pagasse por um tratamento preferencial no comércio. Assim, os ingleses foram os primeiros estrangeiros que puderam pisar os pés no interior do Brasil. Esses relatos de viagem foram publicados logo na Inglaterra, e em seguida foram traduzidos para o alemão e publicados sobretudo em Weimar.

Karl S. Gothke, em sua obra Goethes Weimar und die Grosse Öffnung in die weite Welt, demonstra de maneira bastante convincente a influência que as notícias do agente literário Johann Christian Hüttner de Londres tinham sobre as encomendas da Biblioteca do grão-ducado. Londres, a potência marítima, certamente possuía os maiores conhecimentos sobre os continentes ultramarinos. O grão-duque Carl August se interessava muito por esses relatos de além-mar, e solicitou que Goethe os encomendasse e também os fizesse traduzir.

Numa carta de Carl August a Goethe, de 6 de dezembro de 1819, é possível perceber muito bem os motivos do duque para apoiar as traduções (aqui não de Bertuch, mas a revista Ethnographisches Archiv de Bran em Iena):

[…] principalmente aprendi a valorizar esses A[rquivistas] E[tnográficos] ao comparar o trabalho deles com o de Bertuch no Journal der Reisen e na Völkerkunde. Por esse motivo estou adquirindo livros ingleses, como demonstrado p. ex. pelos seguintes, e com isso adquiro para mim o conforto pessoal de conseguir ler em excertos dos A[rquivistas] E[tnográficos] rapidamente aquilo que eu desejava saber, enquanto eu ainda não tiver condições de estudar eu mesmo os livros escritos numa língua que eu ainda não domine bem o suficiente para lê-los fluentemente sem dicionário. Ofereça aos A[rquivistas] E[tnográficos] que editem à sua maneira e publiquem rapidamente os livros que lhes forneci e ainda lhes fornecerei. […] Se eu pudesse manter o A[rquivo] E[tnográfico] em pleno funcionamento ao encomendar esses livros ingleses recentes, então isso me seria não apenas agradável, mas também muito interessante no tocante ao conforto e à sede por novidades, gentes, povos e geografia regional. Naturalmente os originais devem ser incorporados à biblioteca daqui ou de Iena. Cuide disso pra mim, sim? C.A.4 4 Carta retirada de Guthke (2005, p.34); por sua vez Guthke retirou-a do Goethe - Schiller Archiv, assinatura A 310.

O interesse do duque é determinante para as encomendas. Até hoje só foi possível comprovar indiretamente se houve um acordo semelhante com Bertuch, pois muitos dos originais mencionados nos relatos de Hüttner reaparecem em tradução na biblioteca de relatos de viagens.

Devido a esse grande interesse, a Biblioteca Anna Amalia possui um dos maiores tesouros de literatura de viagem histórica (no original e em tradução alemã) entre os anos 1819 e 1828, o ano de morte de Carl August, incluindo também muitos livros sobre a América do Sul e o Brasil.

O príncipe Maximilian Wied zu Neuwied e o Landes-Industrie-Comptoir

Provavelmente a maior publicação sobre o Brasil na casa editorial de Bertuch é da pena de Maximilian Wied zu Neuwied.

Desde muito cedo o público de Weimar acompanhou com grande interesse a viagem de Maximilian Wied zu Neuwied ao Brasil entre 1815 e 1817. Já em 1816, Goethe se informou com Isaak Gerning em Frankfurt a respeito de novidades da viagem do príncipe.

Já em 1818, Bertuch publicara no volume 3 das Neuen Geographischen Ephemeriden (p.79-91), sob a rubrica “Notícias mistas” as “Breves notícias sobre o andamento da minha viagem ao Brasil entre os 13 e 23 graus de latitude sul. (Enviadas a pedidos do sr. professor Oken de Iena, por Maximilian, príncipe de Wied-Neuwied)”.

Na carta de 21 de abril de 1818, Bertuch escreveu sobre isso ao príncipe:

O esboço escrito por Vossa Senhoria a respeito da Vossa tão interessante viagem ao Brasil […] eu incorporei nas minhas A. Geographischen Ephemiriden a partir da Isis […], pois desde o começo tomei como um mandamento colecionar ali todas as notícias sobre viagens científicas.5 5 Brasilien-Bibliothek der Robert Bosch GmbH: Katalog Band II Teil 2, Stuttgart 1991, p.31.

A publicação do relato de viagem do príncipe ainda foi feita por Brönner. Contudo, o príncipe Maximilian parece ter se decepcionado com ele e na sequência encomenda a Bertuch e Froriep a edição das suas Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens in 15 Lieferungen zu je 6 kolorierten Tafeln und den dazugehörigen Textblättern [Ilustrações da história natural do Brasil em 15 lotes com 6 tabuletas coloridas e as folhas de texto correspondentes] de 1822 a 1831 em Weimar. Acrescem-se a isso os trabalhos sobre a história natural do Brasil com um total de 3.258 páginas, divididas em quatro volumes. Assim, esta é a maior obra publicada por Maximilian Wied zu Neuwied.6 6 No gráfico acima a obra de Wied é apenas uma das 21 publicações.

No diário de Goethe aparece em 20 de julho de 1820 a entrada “Reise des Prinzen Neuwied” (Viagem do príncipe Neuwied); em 20 de março de 1821, “Die Zeichnungen vom Prinzen von Neuwied auf ein Billet von Froriep an Serenissimum gesendet” [Os desenhos do príncipe de Neuwied enviados a Serenissimum num bilhete de Froriep];7 7 Cf. Goethe-WA, parte III, v.8, p.30. em 22 de março, lê-se “Die Vögel und Thiere des Prinzen von Neuwied angesehen” [Vistos os pássaros e animais do príncipe de Neuwied].8 8 Op. cit., p.31.

Ele parece ter gostado dos livros, pois em 30 de junho de 1821 manda vir o livreiro Hoffmann: “Buchhändler Hoffmann mit Prinz von Neuwied und Kotzebue’s Reisen” [Livreiro Hoffmann com as viagens do príncipe von Neuwied e de Kozebue].9 9 Op. cit., p.73. Podemos ver o entusiasmo dele nos seguintes anais: “In ferne Regionen versetzen uns die Zeichnungen zu des Prinzen von Neuwied Durchlaucht brasilianischer Reise: das Wundersame der Gegenstände schien mit der künstlerischen Darstellung zu wetteifern” [Os desenhos de Sua Alteza o príncipe von Neuwied referentes à sua viagem ao Brasil nos transportam a regiões longínquas: o curioso dos objetos parecia competir com a representação artística].10 10 Cf. Goethe-WA, parte I, v.36, p.199.

Goethe e Wilhelm Ludwig von Eschwege

O relato de viagem de Eschwege intitulado Journal von Brasilien foi publicado em dois volumes na editora de Bertuch em 1818 e 1819. Provavelmente ele foi o primeiro em Weimar a fornecer relatos sobre o Brasil por experiência própria, tanto ao príncipe quanto a Goethe.

Wilhelm Ludwig von Eschwege nasceu em 15 de novembro de 1777 na casa senhorial do solar Aue. Cresceu ali juntamente com Wilhelm Rehbein, cujo pai era administrador do solar de origem de Eschwege. Posteriormente Wilhelm Rehbein seria uma pessoa importante na relação entre Goethe e Eschwege. Desde 1816 foi médico da corte de Weimar, e desde 1819 médico da casa de Goe the.

De 1776 a 1799, Eschwege estudou primeiro direito, depois medicina e, por fim, mineração e metalurgia em Göttingen. Ali também fez contato com o círculo de Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840), o anatomista e naturalista que desde 1776 fora catedrático de medicina em Göttingen. Baumbach foi mentor de vários naturalistas posteriores11 11 Cf. sobre isso Plischke (1937). que viajaram pelo mundo, entre eles também von Langsdorff, que posteriormente participou da circunavegação sob o comando de Krusenstern e foi embaixador russo no Brasil. Ali ele reencontraria também Eschwege.

Blumenbach manteve intensa correspondência com Goethe, na qual também tratou frequentemente de assuntos relativos ao Brasil, mesmo muito antes do verdadeiro segundo redescobrimento do Brasil.12 12 Cf. a carta datada de 8 de dezembro de 1802: “Na sua última estada aqui, V. Exª me deu uma folhinha, que retorno a seguir. Nela V. Exª deseja dois livros, o primeiro dos quais ainda não pode ser encontrada na biblioteca de Büttner. Não consta de nenhum catálogo. Se nos depararmos com ele na revisão vindoura, então eu o enviarei no devido tempo. O outro se encontra em Weimar, mas em latim. Os acréscimos manuscritos se referem principalmente ao Brasil e, conforme pude deduzir de um rápido olhar, sobretudo à pronúncia e à ortografia de nomes estrangeiros. V. Exª mesma vai poder avaliar melhor o valor disto. Entreguei o livro, bem empacotado, ao Industrie Comptoir, que espero que também tenha despachado a grande rocha com o fóssil de xisto [Kräuterschiefer]. Aqui segue uma carta de Augusto, que como sempre continua a pensar em si com paixão. As melhores recomendações ao vosso círculo. Weimar, 8 de dezembro de 1802. Goethe” (Goethe-WA, parte IV, v.16, p.153ss).

Mesmo tendo sido entusiasmado por Blumenbach e recebido desse e de muitos outros estímulos para empreender uma viagem científica, Eschwege mudou-se em 1799 para Marbach, concluindo ali em 1800 seus estudos de mineração e metalurgia. Em 1801, por intermédio de um amigo de seu pai, obteve uma vaga sem salário como assessor de mineradores em Richelshausen. Estabeleceu-se em Nentershausen, e fazia refeições com seu parente e antigo preceptor, o sr. von Baumbach.13 13 Cf. sobre isso, Beck (1956). Ali apaixonou-se perdidamente pela filha mais velha da casa, Sophie. Quando Sophie também se entusiasmou por Wilhelm Ludwig von Eschwege, os pais tiveram que intervir. Eram da opinião de que sua filha merecia algo melhor do que um assessor sem salário, mesmo vindo de uma boa família.

Em 1803, surgiu para Eschwege a oportunidade de trabalhar como minerador em Portugal. Posteriormente Eschwege comentaria que seu amor infeliz por Sophie teria dado o impulso decisivo para que tentasse sua sorte no exterior. Como diretor da siderúrgica em Foz d’Alge, foi o primeiro a conseguir fundir ferro em Portugal com sucesso.

Em 1807 os franceses marcharam para Portugal e tornaram impossível continuar o trabalho. Eschwege alistou-se como capitão no exército português. Em 1810 acompanhou a casa real para o Brasil, onde tornou-se catedrático de mineralogia, tenente-coronel imperial português do Corpo de Engenheiros, diretor-geral de todas as minas de ouro, inspetor de várias mineradoras e metalúrgicas na capitania de Minas Gerais e diretor do Gabinete Imperial de Minerais no Rio de Janeiro. Ele foi o primeiro a percorrer, pesquisar e cartografar grandes regiões de Minas Gerais. Até hoje a precisão e exatidão das suas anotações causam espanto no Brasil. Ele é tido geralmente como pai da geologia brasileira.14 14 Sobre Eschwege, recomendo a bibliografia de Friedrich Sommer (1928). Ainda muito reverenciado no Brasil, na Alemanha Eschwege infelizmente caiu no esquecimento. As publicações sobre o seu sesquicentenário de nascimento, em 2005, foram extremamente escassas, para dizer o mínimo.

Foi apenas em 1821 que retornou à Europa. Em Lisboa foi recebido com festa como membro da Academia Portuguesa de Ciências. Do imperador Dom João VI recebeu férias de dois anos para voltar à sua terra natal.


Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777-1855).


Johann Baptist Emanuel Pohl (1782-1834).

Passando por Londres e Paris (onde se encontrou com Alexander von Humboldt), retornou à sua terra natal. Em janeiro já estava em Nentershausen, para fazer as pazes com a família Baumbach. Apenas depois de ter feito carreira é que pôde pedir a mão de sua Sophie.

Nesse meio tempo, Sophie von Baumbach tinha se tornado dama da corte da princesa Luise em Weimar. Goethe também mantinha contato com ela. Lemos no diário dele, na data de 14 de novembro de 1808: “In der camera obscura mit Fräulein von Baumbach und Pauline Götter” [Na camera obscura com a senhorita von Baumbach e Pauline Götter]15 15 Cf. Goethe-WA, parte III, v.3, p.399.

Em outra entrada de diário, de 9 de setembro de 1817, lemos: “Intuitiver Verstand (Kants) auf Metamorphose der Pflanze bezüglich. Zur Ankunft der Fürstinnen das Gartenhaus und sonstiges vorbereitet. Um 11 Uhr J. J. K. K. H. H. die Groß- und Erbgroßherzogin mit Gräfin Henkel und Fräulein von Baumbach. Blieben bis halb Eins” [Razão intuitiva (de Kant) referente à Metamorfose das Plantas. Preparativos da casa do jardim e outros para a chegada das princesas. Às 11h J.J.K.K.H.H. a grã-duquesa e herdeira com a condessa Henkel e a senhorita von Baumbach. Ficaram até meio dia e meia].16 16 Op. cit., v.6, p.10 (grifo nosso).

Eschwege foi para Weimar juntamente com sua Sophie. Fez contato com o grão-duque Carl August e lhe ofereceu diamantes brasileiros para comprar. Carl August encarregou Goethe da seleção. Já estava marcado para 16 de janeiro o primeiro encontro com Goethe: “Herr von Eschwege aus Brasilien” [Sr. von Eschwege do Brasil]. Em 17 de janeiro Eschwege e seu amigo Rehbein visitam Goethe para negociar diamantes:

Hofmedicus Rehbein, welchem die Krystallformen für Serenissimum übergab. Zur Naturwissenschaft. Hofmedicus Rehbein, von Eschwege. Diamanten für Serenissimum gehandelt, worüber der Morgen hinging.

[Médico da corte Rehbein, a quem entreguei as formas de cristal para Serenissimum. Conversa sobre ciências naturais. Médico da corte Rehbein, von Eschwege. Negociamos diamantes para Serenissimum, o que fez passar a manhã toda.]17 17 Op. cit., v.8, p.158.

No mesmo dia Goethe, orgulhoso, passa ao seu príncipe informações sobre a negociação, e indica indiretamente o bom preço:

Ew. Königl. Hoheit

vermelde schuldigst das Resultat des Diamanten Handels:

Die flache doppelt dreyseitige Pyramide

4 1/2 Karat Conv. G. rh. 200

Drey mittlere, Louisd’or 15 St.

Drey kleinere, Louisd’or 8 St.

Louisd’or 23.

Alle durchaus deutlich krystallisirt und in der Form verschieden, auch sonst von einander abweichend. Von Höchstderoselben Entschluß wird die Entscheidung abhängen. Soviel kann ich sagen daß die von Prof. Weiß für das Berliner Cabinet in der Blochischen Auction erstandene Diamant Krystalle, verhältnißmäßig theuer waren.

Befehlen Sie vor dem Entschluß die Waare nochmals zu sehen so sende sie. Doch thue ich es lieber gleich, mit bitte das Kästchen behutsam zu eröffnen.

W. d. 17. Jan. 1822. unterthänigst

J. W. v. Goethe.

[Vossa Alteza Real,

humildemente informo o resultado da negociação de diamantes:

A pirâmide plana dupla com três lados

4 1/2 quilates Conv. G. rh. 200

três médias, 15 peças de luíses

três menores, 8 peças de luíses

23 luíses.

Todas totalmente bastante cristalizadas e diferentes na forma, chegando a ser mesmo discrepantes entre si. A decisão depende da vontade de Vossa Majestade. Sobre isso, posso dizer apenas que os cristais de diamante adquiridos pelo Prof. Weiß para o Gabinete de Berlim no leilão de Bloch estavam relativamente mais caros.

Ordene Vossa Excelência ver novamente os produtos, e os enviarei. Incluo, contudo, o pedido de abrir a caixinha com bastante cuidado.

W[eimar], 17 jan. 1822 mui humildemente,

J. W. v. Goethe.]18 18 Op. cit., v.35, p.243ss.

A decisão de Carl August foi tomada rapidamente, e já no dia 18 de janeiro de 1822 Goethe felicita ao seu príncipe pela aquisição realmente interessante, muito estimulante e emocionante:

Ew. Königliche Hoheit

zu der wirklich interessanten, manches an- und aufregende Aquisition Glück wünschend, vermelde, daß mit v. Eschwegen verarbeitet worden, er werde seine Zahlung bey Director v. Schreibers in Wien erheben; weshalb mir nur einige Worte von Höchst Denenselben ausbitte, welche mit einem Briefe begleitet sogleich absenden werde.

Wegen der Aufbewahrung der Kostbarkeiten in privatissimo bin vollkommen einverstanden und danke verpflichtet für das anzuvertrauende Juwelen-Schränkchen, daß in meiner klösterlichen Zelle mir die angenehmste Gesellschaft und Unterhaltung seyn wird; ich darf hoffen, die Ordnung wieder herzustellen. Der Catalog wird wohl in dem Schränkchen selbst liegen.

Weimar den 18. Januar 1822.

[Vossa Majestade,

sobre a aquisição realmente interessante, muito estimulante e emocionante, informo que foi acordado com v. Eschwege que este receberá seu pagamento junto ao diretor v. Schreibers em Viena; por isso, solicito apenas algumas poucas palavras da pena de Vossa Majestade, que tão logo enviarei acompanhada de uma carta.

Estou totalmente de acordo com o armazenamento das preciosidades in privatissimo, e fico infinitamente agradecido pelo armarinho de joias confiado a mim, que proporcionará companhia e divertimento mais agradáveis na minha cela de monge; posso esperar conseguir restaurar a ordem. O catálogo deverá ficar no próprio armarinho.

Weimar, 18 de janeiro de 1822.]19 19 Op. cit., v.35, p.246ss.

A entrega do dinheiro por intermédio de Anton von Schreibers para Viena foi solicitada por Eschwege, pois tinha que realizar uma tarefa importante naquela cidade: entregar uma carta confidencial da princesa real brasileira Leopoldina ao seu pai, o imperador Francisco I da Áustria.20 20 Mais sobre isso no capítulo sobre Leopoldina e os naturalistas austríacos (Schneider, 2008, p.89ss). Entregar essa carta mostrou-se mais difícil do que se pensava, pois o príncipe von Metternich isolava sistematicamente o rei Francisco I. Eschwege aproveitou o tempo para visitar conhecidos, como o austríaco Pohl, que viajou para o Brasil.

Em março Eschwege está novamente em Weimar. Lemos no diário de Goethe, no dia 30 de março de 1822_______. Geognostisches Gemälde von Brasilien und wahrscheinliches Muttergestein der Diamanten. Weimar: Landes-Industrie-Comptoir, 1822.: “Herr Obrist von Eschwege besuchte mich und erzählte von seiner Reise” [Sr. coronel von Eschwege me visitou e contou da sua viagem].21 21 Cf. Goethe-WA, parte III, v.8, p.180.

Durante a estada de Eschwege, houve uma nova negociação de diamantes. O duque Carl August comprou outras 42 pedras por 715 táleres. Em 29 de dezembro de 1822 Goethe autorizou a quitação.22 22 Fica claro o quão alto é esse valor se pensarmos que o salário de um ano de 200 táleres já era visto como muito bom.

A seguinte carta de 29 de novembro de 1822, endereçada ao grão-duque Carl August, é muito elucidativa para entendermos os conhecimentos de Goethe e sua paixão de colecionador, admitida por ele mesmo:

Ew. Königliche Hoheit

erlauben einen abermaligen unterthänigsten Vortrag.

Der Obrist von Eschwege zeigte bey seinem ersten Hierseyn unter andern Schätzen vier längliche Gläser, worin eine Anzahl chrystallisirter Diamanten befindlich, wovon einige besonders in die Augen fielen, so daß der Ankauf derselben wünschenswerth gewesen wäre; allein der Besitzer erklärte, daß dieses eine vorzügliche Sammlung sey, die er für sich selbst erlesen und davon also nichts einzeln ablassen könne.

…. Hierüber ist nun das beyliegende ausführliche Protokoll geführt, woraus hervorgeht, daß siebenundzwanzig Stücke wegen der Gestalt, die übrigen wegen der Farbe bedeutend sind und daß also das Zusammenbleiben dieser Gebilde höchst wünschenswerth und der Ankauf des Schatzes zu so vielen andern nicht unräthlich sey.

Es kommt nun hauptsächlish darauf an, welchen Werth Ew. Königliche Hoheit selbst auf diese Acquisition zu legen geruhen, indem bey wiederholter Rücksprache der Besitzer von dem Preise der hundertunddreyßig Louisdor abzugehen nicht vermocht werden konnte.

Würden aber die in Höchst Ihro Besitz schon befindlichen crystallisirten und farbigen Diamanten hinzugefügt, so wäre freylich ein nicht leicht gesehener Schatz zusammengebracht.

Unterzeichneter, der mit sich selbst in Zweifel ist, ob nicht Liebhaberey zu diesem Fache ihn die vorliegenden Gegenstände zu überschätzen veranlasse, übergibt das Ganze höchster Beurtheilung und gnädigster Entscheidung.

unterthänigst

Weimar den 29. November 1822. J. W. v. Goethe.

V. Majestade,

permita-me novamente fazer uma humilde apresentação.

Quando esteve aqui pela primeira vez, o coronel von Eschwege mostrou, entre outros tesouros, quatro copos compridos nos quais se encontrava uma quantidade de diamantes cristalizados, alguns dos quais muito chamativos, de modo que a aquisição dos mesmos teria sido desejável; o proprietário dela, porém, declarou que essa era uma maravilhosa coleção que escolhera para si e portanto não poderia se desfazer de nenhum item em separado.

[…] Sobre isso foi redigido o protocolo detalhado em anexo, do qual se depreende que vinte e sete peças são importantes devido à forma enquanto os restantes devido à cor, e que portanto manter juntos essas figuras é altamente desejável e aquisição desse tesouro entre tantos outros não seria desaconselhável.

Trata-se na verdade do valor que Vossa Majestade atribui a essa aquisição, pois após repetidas conversas o proprietário não pôde ser demovido do preço dos cento e trinta luíses.

Contudo, se eles fossem acrescidos aos diamantes cristalizados e coloridos que já se encontram de posse de Vossa Majestade, certamente ter-se-á juntado um tesouro difícil de se ver alhures.

O abaixo assinado, que se encontra em dúvida consigo mesmo se não seria o entusiasmo nessa área que o faz superestimar os referidos objetos, entrega o todo à melhor avaliação e decisão de Vossa Majestade.

Weimar, 29 de novembro de 1822. Humildemente,

J. W. v. Goethe.23 23 Cf. Goethe-WA, parte IV, v.36, p.216ss.

Agora a relação entre Goethe, Eschwege e Carl August não estava mais restrita apenas ao comércio.

Quinze visitas de Eschwege a Goethe estão registradas nos diários de 1822_______. Geognostisches Gemälde von Brasilien und wahrscheinliches Muttergestein der Diamanten. Weimar: Landes-Industrie-Comptoir, 1822. e 1823. Na maioria delas Rehbein esteve presente; todos se admiravam da coleção de joias do grão-duque, e Goethe pedia para que lhe contassem sobre o Brasil. Goethe estudou dias a fio os diários de viagem de Eschwege já em março de 1818 logo após a publicação (volume 1), e também em fevereiro e novembro (provavelmente o volume 2). Ainda hoje esses volumes se encontram na sua biblioteca.24 24 Em Ruppert os dois livros estão anotados sob o nº 4102: Eschwege, Wilhelm Ludwig von, Journal von Brasilien.

Em 18 de março de 1823, Wilhelm Ludwig von Eschwege se casou com sua Sophia em cerimônia íntima. Em novembro viajaram a Portugal, passando por Londres. Enquanto esteve em Weimar, Eschwege publicou com Bertuch a obra Geognostisches Gemälde von Brasilien [Pintura geognóstica do Brasil], que deu de presente a Goethe.

Sobre isso, Goethe anota no seu diário em 18 de maio de 1822: “Herr Obrist von Eschwege kam selbst Abschied zu nehmen und mir sein geognostisches Gemälde von Brasilien zu überreichen” [O sr. coronel von Eschwege veio pessoalmente se despedir e me entregar sua Pintura Geognóstica do Brasil].25 25 Cf. WA, parte III, v.8, p.195. Goe- the destaca aqui especialmente o itacolomito.

Eschwege viajou então novamente para Portugal, onde trabalhou como mestre de obras em Sintra. De Portugal Eschwege também fez chegar moedas brasileiras a Goethe, por intermédio de Rehbein. No diário de Goethe, lemos uma entrada datada de 25 de setembro de 1825: “Kam Hofrath Rehbein. Brachte brasilianische Münzen von Herrn von Eschwege” [Visita do conselheiro Rehbein. Trouxe moedas brasileiras do sr. von Eschwege].26 26 Op. cit., v.10, p.106.

Johann Emanuel Pohl e Goethe: “Dificuldades da viagem ao Brasil”

A relação de Goethe com o cavaleiro [Ritter] von Martius, o “pai da botânica brasileira”, já foi frequentemente enaltecida,27 27 Em agosto de 2008 teve lugar em São Paulo, sob o ensejo dos 200 anos da publicação do Fausto I, o Simpósio Internacional “Fausto e a América Latina”. Das 30 palestras apresentadas (Alfredo Bosi, Oskar Negt, Ernst Osterkamp etc.), duas foram dedicadas às relações de Goethe com naturalistas que percorreram o Brasil no século XIX (mas estabelecendo relações com o “Fausto”): “[...] inteiramente presentes e como em casa numa parte do mundo tão remota”, de Marcus Mazzari (são palavras de Goethe, referentes ao estudo de Martius sobre palmeiras brasileiras) e, do professor Jochen Golz, “O contato de Goethe com a América do Sul à luz de seu espólio”. Esta palestra - publicada, como as demais contribuições, em versão revisada no volume “Fausto e a América Latina” - trabalhou com textos ainda hoje inéditos depositados no Arquivo Goethe-Schiller de Weimar. sobretudo no livro editado em 1932 por Alexander von Martius intitulado Goethe e Martius.28 28 Alexander von Martius era o neto do brasilianista Martius. Mesmo no Brasil essa relação também foi suficientemente enaltecida. Um desses viajantes austríacos ao Brasil, de quem até hoje não se publicou nem mesmo uma biografia detalhada em alemão, é Johann Emanuel Pohl. Sua Viagem no interior do Brasil foi publicada em 1951 em português. José Honório Rodrigues escreveu no capítulo “Notícia sobre Johann Emmanuel Pohl”: “As contribuições objetivas, como as descrições de primeira mão das condições e costumes da sua época tornam seu Diário29 29 Ou seja, a obra de Pohl em dois volumes intitulada Viagem no interior do Brasil. uma fonte primordial para a história social e econômica do Brasil...”.30 30 Pohl (1951, p.X).

E apesar de esse relato de viagem de Johann Emanuel Pohl ter sido publicado só em 1832 e 1837 - portanto, após a morte de Goethe e até mesmo do próprio Pohl -, a expressão “uma fonte primordial para a história social e econômica do Brasil” também se aplicava para Goethe.

Johann Emanuel Pohl teve presença marcante em vários aspectos para a formação da imagem que Goethe tinha do Brasil, pois suas primeiras descrições pessoais sobre o Brasil (segundo o geólogo barão von Eschwege) vêm de Johann Emanuel Pohl. Goethe escreve em 5 de setembro de 1822_______. Geognostisches Gemälde von Brasilien und wahrscheinliches Muttergestein der Diamanten. Weimar: Landes-Industrie-Comptoir, 1822. de Weimar para Christoph Ludwig Friedrich Schultz a seguinte carta:

Mit Grafen Kaspar Sternberg nun hab ich vierzehn Tage in Marienbad zugebracht, alsdann sah ich ihn in Eger mit Berzelius, dem Schweden, und Pohl, dem brasilianischen Reisenden; der erste spielte uns die auffallendsten mikrochemischen versuche mit bewundernswürdiger Geschicklichkeit, ganz eigentlich aus der Tasche vor; Pohl ist ein sehr verständiger, unterrichteter, thätiger Mann. der auf seinen Reisen mehr als billig ausgestanden hat. Inzwischen wird uns jener immense Welttheil doch immer klärer; dazu hat auch v. Eschwege beygetragen, der sich einige Wochen bey uns aufhielt.

[Passei quatorze dias em Marienbad com o conde Kaspar Stenberg, depois do que também me encontrei em Eger com Berzelius, o sueco, e Pohl, o viajante do Brasil; o primeiro nos apresentou os mais fascinantes experimentos microquímicos com admirável habilidade, praticamente tirando tudo do bolso; Pohl é um homem bastante compreensível, educado e ativo que em suas viagens passou por muitas coisas. Entrementes, essa imensa parte do mundo tem se tornado cada vez mais clara para nós, e também tem contribuído para isso v. Eschwege, que passou algumas semanas conosco.]31 31 Cf. Goethe-WA, parte IV, v.36, p.141ss.

O encontro pessoal com Pohl ocorreu em 30 de julho. E essa foi uma das poucas vezes nas quais o próprio Goethe e não um escriba escreveu suas palavras sobre o Brasil. No dia 30 de julho de 1822 Goethe anotou de próprio punho: “Beschwerlichkeiten der brasil.(ianischen) Reise” [“Dificuldades durante a viagem ao Brasil”], quando Pohl lhe contava das dificuldades que teve durante sua viagem ao Brasil.

Já em 1º de agosto Goethe escreve (ou dita ao seu secretário) ao seu príncipe e sua princesa a respeito da conversa:

Ao grão-duque Carl August

e à grã-duquesa Louise

Königliche Hoheiten!

Wenn die ersten vierzehn Tage in Marienbad ohne sonderliches Interesse vorübergegangen, desto reicher an mannichfaltigen Guten waren die drey folgenden Wochen,” […] “ Er eilt mit Professor Pohl, dem brasilianischen Reisenden, nach München, um sich dort im Natursache umzusehen, so wie in andern, da sein Hauptgeschäft gegenwärtig zu seyn scheint, das Museum in Prag zu errichten, wohin er patriotisch seine bedeutende Sammlung zu stiften geneigt ist.

Majestades Reais!

Se os primeiros quatorze dias em Marienbad passaram sem nada de interessante, as três semanas seguintes foram muito mais ricas das mais variadas maneiras” […] [e adiante escreve sobre o conde Sternberg] “Ele está indo às pressas a Munique com o professor Pohl, o viajante do Brasil, para perscrutar o que se faz ali em ciências naturais e outras coisas, pois parece estar para acontecer o seu principal negócio, que é criar o museu em Praga, onde ele está patrioticamente inclinado a guardar sua importante coleção.32 32 Op. cit., p.104.

Em 2 de agosto Goethe escreve ao seu filho: “Graf Sternberg kam den 30ten gegen Mittag, begleitet von Dr. Pohl dem brasilianischen Reisenden und dem berühmten schwedischen Chemiker Dr. Berzelius. Die Unterhaltung war lebhaft und lehrreich” [“O conde Sternberg veio no dia 30 perto do meio-dia, acompanhado do Dr. Pohl, o viajante brasileiro, e o famoso químico sueco Dr. Berzelius. A conversa foi viva e edificante”].33 33 Op. cit., p.105.

Na própria biblioteca de Goethe se encontra também um texto de Emanuel Pohl em uma parte algo incomum da revista Wiener Zeitschrift für Kunst, Literatur, Theater und Mode de 1821, sob o título “Brasilianische Naturmerkwürdigkeiten in Wien” [Curiosidades naturais brasileiras em Viena]. A Revista Vienense para Arte, Literatura, Teatro e Moda era publicada três vezes por semana. Na Biblioteca de Goethe se encontram as páginas 1217-1223, 1225-1229, ou seja o n.145 de 4 de dezembro de 1821, e o n.146 de 6 de dezembro do mesmo ano.

Chama a atenção nessa revista de moda um quadro dobrado que reproduz dois índios botocudos desenhados segundo a natureza e que foram “apresentados” em 1821 em Viena. Esse quadro, “mit einer Abbildung der Botocuden-Indier des Mannes und des Weibes und des Profils von erstem” [“com uma ilustração dos índios botocudos do homem e da mulher e do perfil do primeiro”] já havia sido publicado no n.138 da revista, em 20 de novembro. Contudo, na biblioteca de Goethe só se encontra a ilustração dessa edição da revista. Os botocudos foram trazidos do Brasil por Emanuel Pohl. Sem escrúpulos, os dois índios foram colocados à mostra em uma exposição pública no jardim Burggarten. A mulher faleceu em Viena, já o homem foi devolvido ao Brasil em 1824, passando por Londres.

Como as revistas não se encontram na lista de livros novos de Goethe e como também não foi possível encontrar nenhuma menção a elas nas cartas a Goethe, suponho que Emanuel Pohl lhe entregou as revistas pessoalmente. Posteriormente Goethe mandou encaderná-las cuidadosamente junto com o quadro dos “Índios” e um mapa da viagem de Emanuel Pohl. Esse mapa não apareceu na revista de moda e também não foi possível descobrir nem local nem data de sua publicação.

Lê-se na vinheta do mapa, em português: “Roteiro em Brasil / no 1817 - 1821/ do / Dr. Pohl”.

As distâncias também são indicadas em português. Teria o Dr. Pohl mandado imprimir esse mapa ainda no Brasil? A antiga ordem política, visível por exemplo no tamanho de Pernambuco, permite concluir que um mapa impresso antes de 1757 foi complementado com a inscrição/vinheta. Este é um mistério ainda a ser resolvido!

As dificuldades da viagem foram descritas na revista de moda juntamente com uma orgulhosa listagem:

Am 8.Sept. 1818 verließ Hr.Dr. Pohl Rio de Janeiro, um seine große Reise anzutreten, und sich über Barbarena, S. João del Rey, Formiga, Paracatu do Principe u. s. w. in die nordwestlich von Rio gelegene Provinz Goyaz zu begeben, in deren Hauptstadt, Villa Boa, er am 22. Jänner 1819 glücklich anlangte, nachdem er 138 Tage auf dieser Reise zugebracht und über 250 Meilen zurückgelegt hatte. Auf diesem, von keinem früheren Forscher betretenen Wege wurde er für alle Beschwerlichkeiten und selbst Gefahren durch eine Menge der mannigfaltigsten und anziehendsten Entdeckungen (unter andern der höchst sonderbaren Lagerstätte der herrlichen, lange für Topase gehaltenen Krystalle in der Wüste Serra da Chrystaes und der ausgedehnten Formation des elastischen Sandsteines) überschwenglich belohnt, und, da er nicht unterließ, von jedem größeren Ruhepunkte aus sogleich Sendungen zu machen, so waren schon zwanzig reiche Verschläge nach Rio abgegangen, bevor er jenes Ziel seiner Reise erreicht hatte. Die Regenzeit, unter jenem Breitegrade gewöhnlich zwischen November und April herrschend, nöthigte unsern Reisenden, drei Monathe in Villa Boa zu verweilen, in denen er sein Tagebuch ausarbeitete,

[Em 8 de setembro de 1818, o sr. Dr. Pohl saiu do Rio de Janeiro para iniciar sua grande viagem, passando por Barbarena, S. João del Rey, Formiga, Paracatu do Príncipe etc. em direção à província de Goyaz localizada a noroeste do Rio, em cuja capital, Villa Boa, conseguiu chegar vivo em 22 de janeiro de 1819 depois de ter passado 138 dias em viagem e percorrido mais de 250 milhas. Nesse caminho, nunca dantes percorrido por nenhum outro pesquisador, foi enormemente recompensado por todas as dificuldades e até mesmo perigos que passou, com uma grande quantidade das mais variadas e atraentes descobertas (entre outras, do local bastante curioso de depósito dos maravilhosos cristais do deserto de Serra da Chrystaes, considerados por muito tempo como topázios, e a ampla formação dos arenitos elásticos) e, como ele não deixava de enviar mensagens em cada ponto de descanso maior, logo chegaram vinte ricos baús ao Rio antes que ele tivesse chegado ao destino da sua viagem. A estação chuvosa, dominante e comum naquela latitude entre os meses de novembro e abril, obrigou nosso viajante a passar três meses em Villa Boa, quando trabalhou no seu diário.]34 34 Brasilianische Naturmerkwürdigkeiten in Wien“, In: Wiener Zeitschrift für Kunst, Literatur, Theather und Mode, n.145, p.1218, 1821.


Mapa da viagem de Emanuel Pohl.

Aliás, encontram-se nas coleções de Goethe alguns topázios brasileiros e também algumas peças de itacolomito não atribuíveis a Eschwege. Teriam essas peças vindo das grandes coleções de Pohl, por meio do cavaleiro von Schreibers?

Goethe escreve em 22 de junho de 1823 a Carl Franz Anton von Schreibers:

Ew. Hochwohlgeboren

höchst freundlichen Antheils war versichert,

...

Herr v. Froriep dankt zum schönsten für das übersendete Exemplar der brasilianischen Nachrichten; auch mir waren sie höchst angenehm, sodaß ich sie von Anfang bis zum Ende fleißig durchgelesen. Darf ich wohl bitten, mich bey diesem Anlasse Herrn Doctor Pohl bestens zu empfehlen? Ich hatte das Glück, bey seiner Durchreise durch Eger, obgleich nur auf wenige Stunden, ihn zu begrüßen und höchlich zu schätzen.

Die Seite 111 und 112 der brasilianischen Nachrichten verzeichneten Mineralien wünschte freylich in vollständiger Reihe zu sehen und mich Ew. Hochwohlgeboren belehrender Erklärung dabey zu erfreuen; einiges ist mir durch Herrn v. Eschwege bekannt geworden, vielleicht daß, wie schon früher durch Ihre Güte geschehen, irgend eine Einzelnheit auch zu uns gelangen könnte.

Worum ich aber förmlich zu bitten wagen, ist um einige Musterstücke des Seite 113 gemeldeten Sandsteins, welchen Herr v. Eschwege Itakolumit benannt hat, worin sich denn auch der biegsame Sandstein, lagerweise, findet. Von dieser letzten Abänderung besitzen wir einige hübsche Stücke; allein mein Wunsch wäre, von dem Sandstein, der noch nicht biegsam ist, besonders da, wo er grobkörnig wird, ja sogar größere, pistazienähnliche, spindelförmige Quarzkörner in sich schließt, einige Stücke zu erhalten. Ich bin auf der Spur, ein gleiches oder ähnliches Gestein in Deutschland zu entdecken, und würde später nicht verfehlen, wenn es gelingt, Musterstücke zu übersenden.

Mit aufmerksamer Erwartung sehe ich allem dem entgegen, was Sie uns von jenen großen Unternehmungen als Ausbeute versprachen. Wie ich denn schließlich die Erhaltung Ihrer höchst schätzbaren Gewogenheit mir angelegentlichst erbitte, auch den Wunsch hinzufüge, daß es mir nur einigermaßen gelingen könne, irgend etwas Gefälliges gegen so vieles Freundliche leisten zu können.

Weimar den 22. Juni 1823.

[Vossa graça bem-nascido,

garantiu-se a mais amigável participação, […]

O sr. v. Froriep agradeceu efusivamente pelo envio do exemplar das notícias brasileiras; a mim também me agradaram muito, de modo que as li todas com afinco do início ao fim. Poderia pedir que nessa ocasião me recomendasse ao senhor Doutor Pohl? Tive a sorte de cumprimentá-lo e admirá-lo quando esteve de passagem na cidade de Eger, mesmo que apenas por algumas poucas horas.

Gostaria de ver os minerais indicados nas páginas 111 e 112 das notícias brasileiras na sequência completa e me alegrar com as explicações instrutivas de Vossa Senhoria; tomei conhecimento de algumas coisas por intermédio do sr. v. Eschwege, talvez que, como já ocorrera por intermédio da Vossa Graça, alguma particularidade também tenha podido chegar a nós.

O que eu gostaria de solicitar formalmente seriam algumas amostras do arenito indicado na página 113, que o sr. v. Eschwege chamou de itacolomito, onde também se encontra o arenito flexível em camadas. Possuímos algumas belas peças dessa última modificação; eu desejaria apenas obter algumas peças do arenito que ainda não é flexível, justamente ali onde ele tem um granulado grande, incluindo até mesmo grãos de quartzo maiores, semelhantes a pistaches, em forma de fuso. Estou no rastro de encontrar uma pedra igual ou semelhante na Alemanha, e posteriormente não deixaria de lhe enviar amostras, caso seja possível.

Com atenta expectativa espero por aquilo que Vossa Senhoria nos prometeu como rendimento daqueles grandes empreendimentos. Enquanto solicito muito urgentemente receber os vossos mui estimados favores, gostaria de acrescentar o desejo que me seja permitido, ainda que minimamente, realizar algo que seja de seu agrado em troca de tamanha amizade.

Weimar, 22 de junho de 1823.

As Nachrichten von den Kaiserlich Österreichischen Naturforschern in Brasilien und den Resultaten ihrer Betriebsamkeit [Notícias dos naturalistas imperiais austríacos no Brasil e os resultados das suas atividades]35 35 Ruppert (p.4111). ainda se encontram na biblioteca de Goethe.

Em 1821, foi inaugurado o Museu Brasileiro em Viena, no segundo andar da casa do conte Harrach na rua Johannesgasse (hoje n.7). O cavaleiro von Schreibers era responsável por ser diretor do Gabinete de Naturalismo Imperial e Real, e Pohl foi curador de 1821 a 1834, dedicado exclusivamente às coleções botânicas e mineralógicas do Brasil. Sternberg também contou a Goethe sobre essa exposição. Posteriormente, Goethe escreveu que teria adorado participar do círculo de Viena. Dr. Pohl era quem estava presente para guiar convidados estimados por entre as coleções.36 36 Goethe leu sobre isso em 1823 em De Isis. Devido a doenças e também por muitas outras rivalidades, Emanuel Pohl só conseguiu publicar seu relato de viagem depois de 1832. Antes disso, porém, foi publicada sua grande obra de botânica.

De 6 a 13 de junho de 1827 Goethe emprestou da biblioteca do duque a obra de Pohl intitulada Plantarum Brasiliae Icones Et Descriptiones Hactenus Ineditae Iussu Et Auspiciis Francisci Primi, Imperatoris Et Regis Augustissimi. Uma obra maravilhosa, de encadernação luxuosa e representativa, que foi publicada em várias edições.

Chama a atenção o fato de apenas 12 pessoas estarem destacadas na lista de assinaturas37 37 Carolus Augustus, Magnus Dux Saxo-Vimarensis 11. (fonte dupla e em negrito), todas atribuíveis às casas reais da Áustria, da Baviera e de Portugal-Brasil, com exceção de duas. As exceções são o rei prussiano e Carl August, duque de Sachsen-Weimar. Aqui também se demonstra novamente a posição especial de Weimar com relação à recepção do Brasil na Europa. Essa obra extremamente rara - apenas 97 exemplares foram assinados, e para uma obra tão especial assim dificilmente eram impressos mais exemplares - encontra-se hoje no acervo da Biblioteca Anna-Amalia.38 38 Em Brasilien Alte Bücher Neue Welt, sobre a Biblioteca Brasileira da Robert Bosch GmbH, fala-se de 62 exemplares. No total essa obra foi publicada em 8 edições com 200 litografias.

Numa carta de 9 de dezembro de 1826, Goethe menciona a obra de Pohl e se refere especialmente à Manihot utilissima:

Ew. Königliche Hoheit

genehmigen beykommende Sendung: zuvörderst den ersten Fascikel der brasilianischen Pflanzen, früher schon durch Director v. Schreibers angekündigt.

Das illuminirte Exemplar ist besonders erfreulich, und mir war höchst angenehm das Geschlecht Manihot so gut ausgestattet zu sehen; die Stengelblätter der utilissima haben schon einen bedeutenden habitus, auf sonstige merkwürdige Eigenschaften der Pflanze hindeutend.

Verehrend unterthänigst

Weimar den 9. December 1826. J. W. v. Goethe.

Vossa Majestade

permita que lhe envie este anexo: primeiramente o primeiro fascículo das plantas brasileiras, já anunciado anteriormente pelo diretor v. Schreibers.

O exemplar ilustrado é especialmente agradável, e gostei muito de poder ver o gênero Manihot tão bem representado; as folhas do caule da utilissima já têm um habitus significativo, apontando para as demais características curiosas dessa planta.

Honrando-o, mui humildemente,

Weimar, 9 de dezembro de 1826 J. W. v. Goethe.]39 39 Cf. Goethe-WA, parte IV, v.41, p.250ss.

Em junho de 1828 faleceu Carl August. Ainda em 17 de março Goethe anota em seu diário: “An Serenissimum, mit dem dritten Heft der Flora brasiliensis von Pohl” [A Serenissimum, com o terceiro volume da Flora brasiliensis de Pohl].40 40 Cf. WA, parte III, v.11, p.194.

Com Carl August, Goethe admirou as plantas brasileiras de Pohl. No duque teve um amigo seguro das ciências naturais. Podemos notar o quanto Goethe foi afetado pela morte do seu príncipe a partir das linhas desta sua carta ao cavaleiro von Schreibers:41 41 Cf. Goethe-WA, parte IV, v.45, p.165ss.

Ew. Hochwohlgeboren

vergegenwärtigen sich geneigtest und lebhaft den Zustand, in welchen mich das Abscheiden unseres unvergeßlichen Fürsten setzen muß (...)Seit jenem Augenblick, der uns in die traurige Gewißheit versetzte, fand ich mich, in so hohen Jahren, kaum fähig denen Obliegenheiten genug zu thun, die der Tag gleichgültig von mir forderte, eben als wenn es noch die freudige und behagliche Zeit wäre, wo man unter den Augen des vorzüglichsten Fürsten sich zu beschäftigen das Glück hatte.

[Vossa Excelência

imagine de maneira empática e viva o estado no qual a despedida do meu inesquecível príncipe deve ter me colocado. […] Desde o momento que nos colocou nesta triste consciência, encontrei-me, em idade tão avançada, praticamente incapaz de cumprir suficientemente as obrigações que o dia exigia de mim de maneira indiferente, como se ainda estivéssemos no tempo alegre e confortável no qual tínhamos a sorte de nos ocupar sob o olhar do mais excelente dos príncipes.]42 42 Cf. Goethe-WA, parte IV, v.34, p.139ss.

Goethe adquiriu para Carl August muitos elementos da Brasiliana de Weimar. Era inverno. Um inverno frio em Weimar. E como nos invernos anteriores, dedicou-se novamente às coisas do Brasil.

E assim lemos nesta outra carta:

Nehmen Ew. Hochwohlgeboren daher verpflichteten Dank, daß Sie mir Veranlassung geben, zu versichern: Gesinnungen und Vertrauen voriger Zeit seyen noch immer dieselbigen, auch habe sich wahrhafte Hochachtung und treue Anerkennung keineswegs vermindert. Ich erwarte daher dankbar die nächste Sendung der Flora brasiliensis, welche mir besonders in dem Augenblicke sehr willkommen ist, da ich Veranlassung finde mich wieder für einige Zeit mit Botanik zu beschäftigen.

[Por isso receba Vossa Excelência um grande agradecimento por me ter permitido garantir o seguinte: atitudes e confiança de épocas passadas sejam sempre as mesmas, e que o verdadeiro respeito e o fiel reconhecimento não tenham diminuído de maneira nenhuma. Assim, aguardo agradecido o próximo envio da Flora brasiliensis, que me será muito bem-vinda especialmente nesse momento em que encontro oportunidade para novamente me dedicar à botânica por algum tempo.]43 43 Cf. Goethe-WA, parte IV, v.45, p.165-6.

Podemos apenas especular como eram as relações de Goethe com os brasilianistas barão von Eschwege e Dr. Pohl. Para todos aqueles que se interessarem, remeto à edição brasileira do meu livro Goethes Reise nach Brasilien. Essa edição bastante ampliada aponta, porém, somente para uma pequena parte da rede de contatos brasileiros de Goethe. Hoje em dia é praticamente impossível compreender um gênio como Goethe em apenas em um aspecto que seja, mesmo com toda a fortuna crítica. Os outros volumes das cartas endereçadas a Goethe nos dão esperança de obter novas informações.

Referências

  • „BRASILIANISCHE Naturmerkwürdigkeiten in Wien“, In: Wiener Zeitschrift für Kunst, Literatur, Theather und Mode, n.145, 146, Viena, 1821, p.1217-23 e 1225-29, 2 tabuletas de cobre 8º 1 brochura com cartas coladas.
  • ESCHWEGE, W. L. Journal von Brasilien, oder vermischte Nachrichten aus Brasilien. Weimar: Landes-Industrie-Comptoir, 1818.
  • _______. Geognostisches Gemälde von Brasilien und wahrscheinliches Muttergestein der Diamanten. Weimar: Landes-Industrie-Comptoir, 1822.
  • GOETHE, J. W. von. Briefe. In: ___. Goethes Werke. Edição editada sob os auspícios da grã-duquesa Sophie von Sachsen-Weimar, seções I-IV. Weimar, 1887-1919. v.IV. (WA).
  • _______. Die Schriften zur Naturwissenschaft. Vollständige mit Erläuterungen versehene Ausgabe im Auftrage der Deutschen Akademie der Naturforscher Leopoldina [Leopoldina-Ausgabe]. Ed. Dorothea Kuhn e Wolf von Engelhardt. Weimar, 1947-2019 (LA).
  • _______. Sämtliche Werke. Briefe, Tagebücher und Gespräche. Org. Friedrich Apel, Henrik Birus et al. Frankfurt. a. M., 1985. (FA).
  • GUTHKE, K. S. Goethes Weimar und “Die große Öffnung in die weite Welt”. Wiesbaden: Harrassowitz, 2001.
  • KOSTER, H. Reisen in Brasilien. Weimar: Landes-Industrie-Comptoir, 1817.
  • LINDLEY, T. Thomas Lindley’s Reise nach Brasilien und Aufenthalt daselbst in den Jahren 1802 und 1803. Weimar: Landes-Industrie-Comptoir, 1806.
  • NACHRICHTEN von den Kaiserl. Österreichischen Naturforschern in Brasilien und den Resultaten ihrer Betriebsamkeit. (...) Aus den Berichten und Briefen der Naturforscher (...) an Karl von Schreibers, Viena, 1820-22
  • POHL, J. E. Plantarum Brasiliae Icones Et Descriptiones Hactenus Ineditae Iussu Et Auspiciis Francisci Primi, Imperatoris Et Regis Augustissimi. Viena: Strauß, 1827-1831.
  • SCHNEIDER, S. Goethes Reise nach Brasilien, Gedankenreise eines Genies.Weimar: wtv, 2008.
  • _______. Die Welt aus Weimar: Goethe, Bertuch und Brasilien. In: 9. CONGRESSO ALEMÃO DE LUSITANISTAS, Seção 2. 2011 Viena.
  • _______. Viagem de Goethe ao Brasil. Florianópolis: Editora Nave, 2019.
  • _______. „Weimar druckt Brasilien“. In: CHRISTOPH. A. Die Welt aus Weimar : zur Geschichte des Geographischen Instituts ; Stadtmuseum Weimar 29. Juli - 16. Oktober 201. Jena: Ernst-Haeckel-Haus, 2011. p.59-68.
  • SCHWEIZER, C. Johann Wolfgang von Goethe und Kaspar Maria von Sternberg: Naturforscher und Gleichgesinnte. Münster: 2004.
  • SOMMER, F. Wilhelm Ludwig von Eschwege. Das Lebensbild eines Auslandsdeutschen mit kulturgeschichtlichen Erinnerungen aus Deutschland, Portugal und Brasilien 1777-1855. Stuttgart: 1928.

Notas

  • 1
    Cf. Schneider (2008). O formato da edição brasileira do meu livro Goethes Reise nach Brasilien, publicado originalmente em 2008, será duas vezes maior que a edição alemã. As maravilhosas gravuras em cobre sobre o Brasil da biblioteca de Goethe serão mais valorizadas na edição brasileira. O livro documenta os estudos do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) sobre a botânica, a geologia e a cultura do Brasil, conforme os registros nos seus diários, de 1802 a 1831. Revista e ampliada, a edição brasileira é um “livro de arte” e inclui 90 reproduções inéditas de gravuras do século XIX do acervo da Klassik Stiftung Weimar (KSW), além de inéditos da correspondência de Goethe com os brasilianistas. Um “hot site” acompanha todo o projeto. Para acessibilidade às pessoas com deficiência visual, a edição integral do livro nos formatos audiolivro e PDF acessível estará disponível no “hot site”.
  • 2
    Weimar, que tinha cerca de seis mil habitantes quando Goethe chegou a ela, mal ultrapassa nessa época a marca de dez mil habitantes. Em 1800 ela ainda tinha menos de dez mil habitantes, enquanto a população de Viena cresceu de quase 250 mil para mais de 400 mil habitantes em 1832; a de Berlim, de 170 mil para cerca de 270 mil; e a de Frankfurt, de 40 mil para mais de 50 mil habitantes. Como comparação, em 1799 o Rio de Janeiro tinha cerca de 43 mil habitantes, e cresceu para 130 mil em 1832.
  • 3
    Citado em Schneider (2011, p.63).
  • 4
    Carta retirada de Guthke (2005, p.34); por sua vez Guthke retirou-a do Goethe - Schiller Archiv, assinatura A 310.
  • 5
    Brasilien-Bibliothek der Robert Bosch GmbH: Katalog Band II Teil 2, Stuttgart 1991, p.31.
  • 6
    No gráfico acima a obra de Wied é apenas uma das 21 publicações.
  • 7
    Cf. Goethe-WA, parte III, v.8, p.30.
  • 8
    Op. cit., p.31.
  • 9
    Op. cit., p.73.
  • 10
    Cf. Goethe-WA, parte I, v.36, p.199.
  • 11
    Cf. sobre isso Plischke (1937).
  • 12
    Cf. a carta datada de 8 de dezembro de 1802: “Na sua última estada aqui, V. Exª me deu uma folhinha, que retorno a seguir. Nela V. Exª deseja dois livros, o primeiro dos quais ainda não pode ser encontrada na biblioteca de Büttner. Não consta de nenhum catálogo. Se nos depararmos com ele na revisão vindoura, então eu o enviarei no devido tempo. O outro se encontra em Weimar, mas em latim. Os acréscimos manuscritos se referem principalmente ao Brasil e, conforme pude deduzir de um rápido olhar, sobretudo à pronúncia e à ortografia de nomes estrangeiros. V. Exª mesma vai poder avaliar melhor o valor disto. Entreguei o livro, bem empacotado, ao Industrie Comptoir, que espero que também tenha despachado a grande rocha com o fóssil de xisto [Kräuterschiefer]. Aqui segue uma carta de Augusto, que como sempre continua a pensar em si com paixão. As melhores recomendações ao vosso círculo. Weimar, 8 de dezembro de 1802. Goethe” (Goethe-WA, parte IV, v.16, p.153ss).
  • 13
    Cf. sobre isso, Beck (1956).
  • 14
    Sobre Eschwege, recomendo a bibliografia de Friedrich Sommer (1928). Ainda muito reverenciado no Brasil, na Alemanha Eschwege infelizmente caiu no esquecimento. As publicações sobre o seu sesquicentenário de nascimento, em 2005, foram extremamente escassas, para dizer o mínimo.
  • 15
    Cf. Goethe-WA, parte III, v.3, p.399.
  • 16
    Op. cit., v.6, p.10 (grifo nosso).
  • 17
    Op. cit., v.8, p.158.
  • 18
    Op. cit., v.35, p.243ss.
  • 19
    Op. cit., v.35, p.246ss.
  • 20
    Mais sobre isso no capítulo sobre Leopoldina e os naturalistas austríacos (Schneider, 2008, p.89ss).
  • 21
    Cf. Goethe-WA, parte III, v.8, p.180.
  • 22
    Fica claro o quão alto é esse valor se pensarmos que o salário de um ano de 200 táleres já era visto como muito bom.
  • 23
    Cf. Goethe-WA, parte IV, v.36, p.216ss.
  • 24
    Em Ruppert os dois livros estão anotados sob o nº 4102: Eschwege, Wilhelm Ludwig von, Journal von Brasilien.
  • 25
    Cf. WA, parte III, v.8, p.195.
  • 26
    Op. cit., v.10, p.106.
  • 27
    Em agosto de 2008 teve lugar em São Paulo, sob o ensejo dos 200 anos da publicação do Fausto I, o Simpósio Internacional “Fausto e a América Latina”. Das 30 palestras apresentadas (Alfredo Bosi, Oskar Negt, Ernst Osterkamp etc.), duas foram dedicadas às relações de Goethe com naturalistas que percorreram o Brasil no século XIX (mas estabelecendo relações com o “Fausto”): “[...] inteiramente presentes e como em casa numa parte do mundo tão remota”, de Marcus Mazzari (são palavras de Goethe, referentes ao estudo de Martius sobre palmeiras brasileiras) e, do professor Jochen Golz, “O contato de Goethe com a América do Sul à luz de seu espólio”. Esta palestra - publicada, como as demais contribuições, em versão revisada no volume “Fausto e a América Latina” - trabalhou com textos ainda hoje inéditos depositados no Arquivo Goethe-Schiller de Weimar.
  • 28
    Alexander von Martius era o neto do brasilianista Martius.
  • 29
    Ou seja, a obra de Pohl em dois volumes intitulada Viagem no interior do Brasil.
  • 30
    Pohl (1951, p.X).
  • 31
    Cf. Goethe-WA, parte IV, v.36, p.141ss.
  • 32
    Op. cit., p.104.
  • 33
    Op. cit., p.105.
  • 34
    Brasilianische Naturmerkwürdigkeiten in Wien“, In: Wiener Zeitschrift für Kunst, Literatur, Theather und Mode, n.145, p.1218, 1821.
  • 35
    Ruppert (p.4111).
  • 36
    Goethe leu sobre isso em 1823 em De Isis.
  • 37
    Carolus Augustus, Magnus Dux Saxo-Vimarensis 11.
  • 38
    Em Brasilien Alte Bücher Neue Welt, sobre a Biblioteca Brasileira da Robert Bosch GmbH, fala-se de 62 exemplares. No total essa obra foi publicada em 8 edições com 200 litografias.
  • 39
    Cf. Goethe-WA, parte IV, v.41, p.250ss.
  • 40
    Cf. WA, parte III, v.11, p.194.
  • 41
    Cf. Goethe-WA, parte IV, v.45, p.165ss.
  • 42
    Cf. Goethe-WA, parte IV, v.34, p.139ss.
  • 43
    Cf. Goethe-WA, parte IV, v.45, p.165-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    05 Fev 2019
  • Aceito
    09 Maio 2019
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