Acessibilidade / Reportar erro

Editorial

EDITORIAL

Ícaro de Sousa Moreira veio ao mundo piauiense e deixou-o cearense, mas foi sempre nordestino, do que muito se orgulhava. Começou na Universidade Federal do Ceará (UFC) como aluno; deixou-a como reitor. Tinha três grandes paixões: o nordeste, a química e a UFC. Este número do Journal of the Brazilian Chemical Society (JBCS) é dedicado, mui justamente, ao professor Ícaro, não somente pelo exemplo de profissional que foi, mas também por ter sido um inspirador para jovens talentos da química como um todo e da inorgânica em particular. Sua obstinação pela competência e eficiência sempre permeou sua vida acadêmica e profissional, o que fez dele um exemplo a ser seguido por todos aqueles que com ele conviveram. Todos os que tiveram o privilégio de estudar química sob sua tutela seguramente têm gratas lembranças de suas aulas e de seus sábios ensinamentos. Era sensível e tinha excelente senso de humor, o que o tornava centro das atenções onde quer que se fizesse presente. Ícaro era um daqueles raros exemplos de pessoas que reúnem várias qualidades, tanto de honestidade quanto de competência acadêmica e administrativa. Assim, realizava experimentos químicos com a mesma facilidade com que exercia tarefas burocráticas ou de gestão: com habilidade e determinação.

Qualquer comunidade que tenha tido o Ícaro como pesquisador, professor, colega ou amigo teve sorte, pois não existem muitas dessas espécies atualmente. Ícaro realizou sua graduação na UFC (1976), onde obteve também seu título de mestre em Química Inorgânica (1982). Seu doutorado em Físico-Química foi obtido no IQSC/USP/São Carlos. Realizou estágio de pós-doutorado em Química Bio-inorgânica na Rutgers University, New Jersey-USA (1991-1992). Entretanto foi sempre e, acima de tudo, um autodidata, que, com grande dose de energia e muita criatividade, elaborava e enfrentava desafios com a mesma elegância e destreza com que resolvia problemas administrativos. Tinha o dom da palavra e do convencimento.

Apregoava e exercia a autoridade, mas jamais o autoritarismo. Tratava estudantes, funcionários e colegas professores com respeito e humildade. A grandeza de seu espírito perspicaz e de colaboração o conduziu ao Conselho Gestor do Fundo de Inovação Tecnológica do Estado do Ceará, representando as Instituições Públicas de Ensino Superior daquele Estado, à vice-reitoria e, posteriormente, à reitoria da UFC. Sua contribuição como membro da Sociedade Brasileira de Química foi notória, participando de mesas-redondas, palestras científicas ou eventos. Organizou o XIII Brazilian Meeting on Inorganic Chemistry em Fortaleza, em 2006, o qual foi reputado, por quantos lá estiveram, como um dos melhores eventos já organizados pela Divisão de Química Inorgânica da SBQ. Nesse encontro, o nível científico foi excelente e o social regado a cajarana, siriguela, acerola, tapioca, mugunzá e paçoca, acepipes da rica culinária local.

O ator deixou o palco antes do final do espetáculo. Deixou um vazio. A platéia ficou atônita. Foi-se o mestre; foi-se o administrador; foi-se o homem; foi-se o amigo, mas ficou o exemplo a ser seguido.

Alzir Azevedo Batista

Professor Titular do Departamento de Química da

Universidade Federal de São Carlos

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Ago 2010
  • Data do Fascículo
    2010
Sociedade Brasileira de Química Instituto de Química - UNICAMP, Caixa Postal 6154, 13083-970 Campinas SP - Brazil, Tel./FAX.: +55 19 3521-3151 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: office@jbcs.sbq.org.br