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1º Forum do Grupo de Estudos do Fim da Vida do Cone Sul: proposta para atendimento do paciente portador de doença terminal internado em UTI

Resumos

As condutas de limitação de tratamento oferecidas a pacientes portadores de doenças terminais, internados em Unidades de Terapia Intensiva, tem aumentado a sua freqüência nos últimos anos em todo o mundo. Apesar disto, ainda existe uma grande dificuldade dos intensivistas brasileiros em oferecer o melhor tratamento àqueles pacientes que não se beneficiariam com terapêuticas curativas. O objetivo deste comentário é apresentar uma sugestão de fluxograma para atendimento de pacientes com doenças terminais que foi elaborado, baseado na literatura e experiência de experts, pelos membros do comitê de ética e de terminalidade da AMIB.

Doente terminal; Estado terminal; Cuidados paliativos; Morte; Unidades de terapia intensiva


Withholding of treatment in patients with terminal disease is increasingly common in intensive care units, throughout the world. Notwithstanding, Brazilian intensivists still have a great difficulty to offer the best treatment to patients that have not benefited from curative care. The objective of this comment is to suggest an algorithm for the care of terminally ill patients. It was formulated based upon literature and the experience of experts, by members of the ethics committee and end-of-life of AMIB - Brazilian Association of Intensive Care.

Terminally ill; Critical illness; Palliative care; Death; Intensive care units


ARTIGO ESPECIAL

1º Forum do Grupo de Estudos do Fim da Vida do Cone Sul: proposta para atendimento do paciente portador de doença terminal internado em UTI

Rachel Duarte MoritzI; Patrícia Miranda do LagoI; Alberto DeicasII; Cristine NilsonI; Fernando Osni MachadoI; Jairo OtheroI; Jefferson Pedro PivaI; Juan Pablo RossiniIII; Karla RovattiI; Nara AzeredoI; Nilton Brandão da SilvaI; Raquel PuschI

IAssociação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB - Brasil

IISociedad Uruguaya de Medicina Intensiva – SUMI - Uruguai

IIISociedad Argentina de Terapia Intensiva - SATI - Argentina

Autor para correspondência Autor para correspondência: Patricia Miranda Lago Rua Furriel Luis Vargas 238/238 CEP: 90470-130 - Porto Alegre (RS), Brasil E-mail: lagopatricia@terra.com.br

RESUMO

As condutas de limitação de tratamento oferecidas a pacientes portadores de doenças terminais, internados em Unidades de Terapia Intensiva, tem aumentado a sua freqüência nos últimos anos em todo o mundo. Apesar disto, ainda existe uma grande dificuldade dos intensivistas brasileiros em oferecer o melhor tratamento àqueles pacientes que não se beneficiariam com terapêuticas curativas. O objetivo deste comentário é apresentar uma sugestão de fluxograma para atendimento de pacientes com doenças terminais que foi elaborado, baseado na literatura e experiência de experts, pelos membros do comitê de ética e de terminalidade da AMIB.

Descritores: Doente terminal; Estado terminal; Cuidados paliativos; Morte; Unidades de terapia intensiva

A terapia intensiva tem apresentado uma grande evolução nos últimos 20 anos, em todo mundo e também no Brasil. Atualmente, pacientes portadores de doenças críticas que evoluiriam para a morte podem ser mantidos vivos através de métodos artificiais. Embora a medicina intensiva se destine a diagnosticar, tratar e manter doentes em iminente risco de vida, mas potencialmente reversíveis, alguns doentes críticos podem evoluir com falência de múltiplos órgãos e sistemas e se tornarem vítimas de doenças terminais, fora de possibilidades terapêuticas curativas. Esse fato cria um dilema para os médicos intensivistas, colocados comumente diante da necessidade de decisões sobre a recusa ou suspensão de tratamentos considerados fúteis.(1-4)

Diversos estudos realizados mundialmente demonstraram a freqüência cada vez maior de limitações terapêuticas precedendo os óbitos nas UTIs.(5-10) No Brasil, estudos realizados em várias regiões demonstraram que as práticas de limitação de terapêutica têm aumentado nos últimos anos, porém elas diferem das condutas adotadas em países do hemisfério norte onde condutas pró ativas como retirada de ventilação mecânica são frequentes. A análise desses trabalhos permite a observação que existe uma variação importante da adesão às medidas de limitação terapêutica por médicos intensivistas e que diversidades culturais, religiosas, sociais, econômicas e legais, certamente justificam as diferenças encontradas.(11-16)

É crescente o reconhecimento da necessidade da criação de diretrizes e protocolos para que o médico decida por suspender ou limitar terapias fúteis.(17-21) Pellegrino ao abordar esse tema avaliou que qualquer decisão ética deve considerar como pré-requisito fundamental a valorização da vida humana e deve levar em consideração os embasamentos teóricos que justificam as decisões do ponto de vista ético.(21) É importante relembrar que, embora seja apontado que os médicos mais facilmente decidem por recusar novas terapias ao invés de suspender um tratamento considerado fútil, essas opções são iguais do ponto de vista ético-legal.(18,19)

Apesar do debate, de âmbito mundial, visando à definição do melhor atendimento ao paciente com doença terminal, esse questionamento ainda permanece sem resposta definitiva. Porém não há dúvidas que as práticas de final de vida devem priorizar o melhor interesse do paciente, respeitando seus sentimentos e desejos de seus familiares e a adequada comunicação entre todos os envolvidos no processo.(4,13)

Visando o adequado tratamento durante o morrer nas UTIs do Brasil, membros das Sociedades Brasileira (AMIB), Uruguaia (SUMI) e Argentina (SATI) de Medicina Intensiva participaram, no dia 23 de maio de 2009 na cidade de Porto Alegre, do Iº Forum do Grupo de Estudos do Fim da Vida do Cone Sul. O objetivo deste fórum foi a elaboração de recomendações pertinentes ao diagnóstico e tratamento do paciente crítico terminal.

Como resultado, os participantes sugeriram os passos a serem tomados para o diagnóstico da terminalidade do paciente crítico e para a tomada de decisão no que concernem as condutas a serem tomadas com esse paciente (Quadro 1, Figura 1).



AGRADECIMENTOS

Participaram do Fórum os seguintes profissionais:

Alberto Deicas (médico/SUMI), Cristine Nilson (enfermeira/AMIB), Fernando Osni Machado (médico/AMIB), Jairo Othero (médico/AMIB), Jefferson Piva (médico/AMIB), Juan Pablo Rossini (médico/SATI), Karla Rovatti (psicóloga/AMIB), Nara Azeredo (enfermeira/AMIB), Newton Brandão (médico/AMIB), Patrícia Lago (médica/AMIB), Rachel Duarte Moritz (médica/AMIB) e Raquel Pusch (psicóloga/AMIB).

Submetido em 23 de Junho de 2009

Aceito em 23 de Junho de 2009

  • 1. Moritz RD, Beduschi G, Machado FO. Avaliação dos óbitos ocorridos no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (HU/UFSC). Rev Assoc Med Bras (1992). 2008;54(5):390-5.
  • 2. Middlewood S, Gardner G, Gardner A. Dying in hospital: medical failure or natural outcome? J Pain Symptom Manage. 2001;22(6):1035-41.
  • 3. Moritz RD, Lago PM, Souza RP, Silva NB, Meneses FA, Othero JCB, et al. Terminalidade e cuidados paliativos na unidade de terapia intensiva: [revisão]. Rev Bras Ter Intensiva. 2008;20(4):422-8
  • 4. Callahan D. Living and dying with medical technology. Critical Care Med. 2003;31(5 Suppl):S344-6.
  • 5. Devictor DJ, Tissieres P, Gillis J, Troug R; WFPICCS Task Force on Ethics. Intercontinental differences in end-of-life attitudes in the pediatric intensive care unit: results of a worldwide survey. Pediatr Crit Care Med. 2006;9(6):560-6.
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  • 7. Sprung CL, Cohen SL, Sjovist P, Baras M, Bulow HH, Hovilehto S, Ledoux D, Lippert A, Maia P, Phelan D, Schobersberger W, Wennberg E, Woodcock T; Ethicus Study Group. End-of-life practices in European intensive care units: the Ethicus Study. JAMA. 2003;290(6):790-7.
  • 8. Devictor DJ, Nguyen DT; Groupe Francophone de Réanimation et d'Urgences Pédiatriques. Forgoing life-sustaining treatments: how the decision is made in French pediatric intensive care units. Crit Care Med. 2001;29(7):1356-9.
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  • 17. Carlet J, Thijs LG, Antonelli M, Cassel J, Cox P, Hill N, et al. Challenges in end-of-life care in ICU. Statement of the 5th International Consensus Conference in Critical Care: Brussels, Belgium, April 2003. Intensive Care Med. 2004;30(5):770-84.
  • 18. Truog RD, Campbell ML, Curtis JR, Haas C, Luce JM, Rubenfeld GD, Rushton CH, Kaufman DC; American Academy of Critical Care Medicine. Recommendations for end-of-life care in intensive care unit: a consensus statement by the American College [corrected] of Critical Care Medicine. Crit Care Med. 2008;36(3):953-63. Erratum in: Crit Care Med. 2008;36(5):1699.
  • 19. Truog RD, Meyer EC, Burns JP. Toward interventions to improve end-of-life care in the pediatric intensive care unit. Crit Care Med. 2006;34(11 Suppl):S373-9.
  • 20. Pellegrino ED. Decisions to withdraw life-sustaining treatment: a moral algorithm. JAMA. 2000;283(8):1065-7.
  • Autor para correspondência:

    Patricia Miranda Lago
    Rua Furriel Luis Vargas 238/238
    CEP: 90470-130 - Porto Alegre (RS), Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Out 2009
    • Data do Fascículo
      Ago 2009

    Histórico

    • Aceito
      23 Jun 2009
    • Recebido
      23 Jun 2009
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