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Incidência de delirium durante a internação em unidade de terapia intensiva em pacientes pré-tratados com estatinas no pós-operatório de cirurgia cardíaca

CARTA AO EDITOR

Incidência de delirium durante a internação em unidade de terapia intensiva em pacientes pré-tratados com estatinas no pós-operatório de cirurgia cardíaca

Hélcio Giffhorn

Clínica Cardiológica Giffhorn - Curitiba (PR), Brasil

Autor correspondente Autor correspondente: Hélcio Giffhorn Av. Pres. Kennedy, 3.561, sala 2 CEP: 80610-010 - Curitiba (PR), Brasil E-mail: hgiffhorn@uol.com.br

"Uma coisa só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário".

Albert Einstein

Prezado Editor,

Li com muito interesse o artigo "Incidência de delirium durante a internação em unidade de terapia intensiva em pacientes pré-tratados com estatinas no pós-operatório de cirurgia cardíaca" publicado por Cruz et al. na Revista Brasileira de Terapia Intensiva, volume 24, número 1, nas páginas 52 a 57.(1) O assunto em si é muito pertinente.

Os inibidores da hidroximethilglutaril-coenzima A (HMG Coa) redutase (estatinas) foram sintetizados por Akira Endo, em 1970, a partir de metabólitos de fungos que inibiam a síntese do colesterol para evitar parasitas. O composto foi chamado de compactina.

Modelos animais (exceto ratos) foram eficazes em diminuir em aproximadamente 30% o colesterol total. Após a redução dos níveis de medicação pela ocorrência de linfomas, agora com a lovastatina, pôde-se iniciar o uso mais amplo em humanos, em 1987.(2,3)

As estatinas foram desenvolvidas e demonstraram efeitos poderosos na redução do colesterol total (por inibição hepática da síntese do colesterol) e com subsequente maior número de receptores do LDL hepático. A hipercolesterolemia causa disfunção endotelial e as estatinas podem até mesmo remover o colesterol da parede arterial.(4)

Efeitos pleiotróficos são assim chamados por englobarem os efeitos não relacionados ao LDL produzidos pela terapia com estatinas (talvez relacionados à ação na parede vascular).

Podemos enumerar atuação na sepse, trombose venosa profunda, endometriose, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e efeito neuroprotetor. São efeitos não totalmente explicados e ainda muito discutidos. Incluem-se aqui os estudos relacionados ao delirium no pós-operatório imediato (POI) de cirurgia cardíaca.

Gostaria de perguntar ao autor sobre aqueles pacientes que faziam uso de álcool, drogas psiquiátricas ou idosos (acima de 65 anos) no pré-operatório. Houve maior presença de delirium no POI? Mariscalco et al. observaram que esses grupos apresentavam maior risco.(5) Outra questão seria sobre aqueles pacientes submetidos à correção de aneurisma ou à dissecção da aorta: eles apresentaram maior número de casos de delirium?

À luz dos conhecimentos atuais, apesar dos efeitos anti-inflamatórios, imunomoduladores e anti-trombóticos das estatinas, o "Santo Graal" (as estatinas) ainda não está descoberto ou desvendado.Também, porque, "a alegria, a saúde e a juventude eternas" estão frente a efeitos colaterais a serem considerados no tratamento.(6)

Atenciosamente

Hélcio Giffhorn

Incidência de delirium durante a internação em unidade de terapia intensiva em pacientes pré-tratados com estatinas no pós-operatório de cirurgia cardíaca

RESPOSTA DOS AUTORES

Prezado Dr. Giffhorn,

Agradecemos seu interesse e sua leitura atenta de nosso manuscrito. Seus questionamentos são extremamente pertinentes. Infelizmente, a relação entre uso de álcool, medicamentos psiquiátricos e cirurgia de correção de aneurisma não pode ser adequadamente avaliada em nosso banco de dados pelo pequeno tamanho de amostra. Entretanto, como bem citado em seu comentário, a literatura aponta maior incidência de delirium nessa população. Para a idade, a literatura aponta que, de modo geral, existe elevação da incidência de delirium com aumento da idade. Em nossos pacientes, quando dicotomizados pela idade (>65 anos versus <65 anos), percebemos que a idade é fator de risco para desenvolvimento de delirium no pós-operatório (OR=1,17 [1,03-1,33]).

Esperamos que, em um futuro próximo, possamos entender melhor os mecanismos associados ao delirium bem como os efeitos das estatinas sobre a disfunção do sistema nervoso central, na tentativa de melhorar o cuidado com esses pacientes.

Atenciosamente,

Felipe Dal-Pizzol e Cristiane Ritter

Em nome dos autores

Laboratório de Fisiopatologia Experimental e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia

Translacional em Medicina, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Unidade Acadêmica de Ciências da Saúde, Universidade do Extremo Sul Catarinense - Unesc - Criciúma (SC), Brasil.

  • 1. Cruz JN, Tomasi CD, Alves SC, Macedo RC, Giombelli V, Cruz JG, et al. Incidência de delirium durante a internação em unidade de terapia intensiva em pacientes pré-tratados com estatinas no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Rev Bras Ter Intensiva. 2012;24(1):52-7.
  • 2. Lyons KS, Harbinson M. Statins: in the beginning. J R Coll Physicians Edinb. 2009;39(4):362-4.
  • 3. Fonseca FAH. A guerra do colesterol. In: A história dos lípides. São Paulo: Planmark Editora; 2011.
  • 4. Adam O, Laufs U. Antioxidative effects of statins. Arch Toxicol. 2008;82(12):885-92.
  • 5. Mariscalco G, Cottini M, Zanobini M, Salis S, Dominici C, Banach M, et al. Preoperative statin therapy is not associated with a decrease in the incidence of delirium after cardiac operations. Ann Thorac Surg. 2012;93(5):1439-47.
  • 6. Jeger R, Dieterle T. Statins: have we found the Holy Grail? Swiss Med Wkly. 2012;142:w13515. Review.
  • Autor correspondente:

    Hélcio Giffhorn
    Av. Pres. Kennedy, 3.561, sala 2
    CEP: 80610-010 - Curitiba (PR), Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Nov 2012
    • Data do Fascículo
      Set 2012
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