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Proporção entre pressão venosa central menos arterial de dióxido de carbono e conteúdo arterial menos venoso central de oxigênio como indicador de oxigenação tissular: uma revisão narrativa

RESUMO

A proporção entre pressão venosa central menos arterial de dióxido de carbono e conteúdo de oxigênio arterial menos venoso central (Pcv-aCO2/Ca-cvO2) foi proposta como marcador substituto para quociente respiratório e indicador de oxigenação tissular. Alguns pequenos estudos observacionais identificaram que Pcv-aCO2/Ca-cvO2 acima de 1,4 se associa com hiperlactatemia, dependência de suprimento de oxigênio e maior mortalidade. Mais ainda, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 foi incorporada a algoritmos para avaliação da oxigenação tissular e ressuscitação. Contudo, a evidência para estas recomendações é bastante limitada e de baixa qualidade. O objetivo desta revisão narrativa foi analisar as bases metodológicas, os fundamentos fisiopatológicos e a evidência experimental e clínica para dar suporte à utilização da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 como marcador substituto para quociente respiratório. De um ponto de vista fisiopatológico, o aumento do quociente respiratório secundariamente a reduções críticas no transporte de oxigênio é um evento dramático e com risco à vida. Entretanto, este evento é facilmente observável e provavelmente não demandaria maiores monitoramentos. Visto que o início do metabolismo anaeróbico é indicado pelo aumento súbito do quociente respiratório e que a faixa normal do quociente respiratório é ampla, o uso do ponto de corte definido como 1,4 para Pcv-aCO2/Ca-cvO2 não faz sentido. Estudos experimentais demonstraram que a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 é mais dependente de fatores que modificam a dissociação do dióxido de carbono da hemoglobina do que do quociente respiratório, e o quociente respiratório e Pcv-aCO2/Ca-cvO2 podem ter comportamentos distintos. Estudos conduzidos em pacientes críticos demonstraram resultados controvertidos com relação à capacidade da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 para predizer o desfecho, hiperlactatemia, anomalias microvasculares e dependência de suprimento de oxigênio. Um estudo randomizado controlado também demonstrou que a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 é inútil como alvo para ressuscitação. A Pcv-aCO2/Ca-cvO2 deve ser interpretada com cautela em pacientes críticos.

Descritores:
Anaerobiose; Respiração; Oxigenação; Dióxido de carbono; Quociente respiratório; Estado terminal

ABSTRACT

The central venous minus arterial carbon dioxide pressure to arterial minus central venous oxygen content ratio (Pcv-aCO2/Ca-cvO2) has been proposed as a surrogate for respiratory quotient and an indicator of tissue oxygenation. Some small observational studies have found that a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 > 1.4 was associated with hyperlactatemia, oxygen supply dependency, and increased mortality. Moreover, Pcv-aCO2/Ca-cvO2 has been incorporated into algorithms for tissue oxygenation evaluation and resuscitation. However, the evidence for these recommendations is quite limited and of low quality. The goal of this narrative review was to analyze the methodological bases, the pathophysiologic foundations, and the experimental and clinical evidence supporting the use of Pcv-aCO2/Ca-cvO2 as a surrogate for respiratory quotient. Physiologically, the increase in respiratory quotient secondary to critical reductions in oxygen transport is a life-threatening and dramatic event. Nevertheless, this event is easily noticeable and probably does not require further monitoring. Since the beginning of anaerobic metabolism is indicated by the sudden increase in respiratory quotient and the normal range of respiratory quotient is wide, the use of a defined cutoff of 1.4 for Pcv-aCO2/Ca-cvO2 is meaningless. Experimental studies have shown that Pcv-aCO2/Ca-cvO2 is more dependent on factors that modify the dissociation of carbon dioxide from hemoglobin than on respiratory quotient and that respiratory quotient and Pcv-aCO2/Ca-cvO2 may have distinct behaviors. Studies performed in critically ill patients have shown controversial results regarding the ability of Pcv-aCO2/Ca-cvO2 to predict outcome, hyperlactatemia, microvascular abnormalities, and oxygen supply dependency. A randomized controlled trial also showed that Pcv-aCO2/Ca-cvO2 is useless as a goal of resuscitation. Pcv-aCO2/Ca-cvO2 should be carefully interpreted in critically ill patients.

Keywords:
Anaerobiosis; Respiration; Oxygenation; Carbon dioxide; Respiratory quotient; Critical illness

INTRODUÇÃO

Em pacientes críticos, a hipóxia tissular é um importante mecanismo de falência de múltiplos órgãos e morte. Assim, a detecção e a correção do metabolismo anaeróbico são tarefas cruciais. Infelizmente, faltam referências que sejam padrão-ouro para a avaliação da oxigenação tissular. Algumas variáveis, comumente utilizadas no monitoramento de pacientes críticos, podem ser indicadores enganosos do metabolismo anaeróbico. O lactato é um excelente preditor de desfechos,(11 Vincent JL, Quintairos E, Silva A, Couto L Jr, Taccone FS. The value of blood lactate kinetics in critically ill patients: a systematic review. Crit Care. 2016;20(1):257.,22 Zhang Z, Xu X. Lactate clearance is a useful biomarker for the prediction of all-cause mortality in critically ill patients: a systematic review and meta-analysis. Crit Care Med. 2014;42(9):2118-25.) porém não é um marcador confiável para hipóxia tissular.(33 Kushimoto S, Akaishi S, Sato T, Nomura R, Fujita M, Kudo D, et al. Lactate, a useful marker for disease mortality and severity but an unreliable marker of tissue hypoxia/hypoperfusion in critically ill patients. Acute Med Surg. 2016;3(4):293-7.) O monitoramento clínico da perfusão periférica é uma abordagem atraente e viável, porém também tem limitações.(44 Hernández G, Ospina-Tascón GA, Damiani LP, Estenssoro E, Dubin A, Hurtado J, et al. Effect of a resuscitation strategy targeting peripheral perfusion status vs serum lactate levels on 28-day mortality among patients with septic shock: The ANDROMEDA-SHOCK randomized clinical trial. JAMA. 2019;321(7):654-64.) Embora a saturação venosa central de oxigênio (ScvO2) e a diferença entre a pressão parcial de dióxido de carbono (PCO2) venosa central menos a arterial (Pcv-aCO2) possam rastrear modificações no débito cardíaco, seu papel na avaliação da adequação da oxigenação tissular é controvertido.(55 PRISM Investigators, Rowan KM, Angus DC, Bailey M, Barnato AE, Bellomo R, Canter RR, et al. Early, goal-directed therapy for septic shock - a patient-level meta-analysis. N Engl J Med. 2017;376(23):2223-34.,66 Diaztagle Fernández JJ, Rodríguez Murcia JC, Sprockel Díaz JJ. Venous-to-arterial carbon dioxide difference in the resuscitation of patients with severe sepsis and septic shock: A systematic review. Med Intensiva. 2017;41(7):401-10.) Lamentavelmente, a avaliação da PCO2 tissular não está mais disponível, e o monitoramento da microcirculação ainda é restrita ao campo da pesquisa.(77 Dubin A, Henriquez E, Hernández G. Monitoring peripheral perfusion and microcirculation. Curr Opin Crit Care. 2018;24(3):173-80.) Assim, é necessária a busca de novas abordagens.

Na fisiologia do exercício, a análise dos gases expirados permite a identificação de metabolismo anaeróbico. O aumento da carga de trabalho se associa com elevações paralelas na produção de dióxido de carbono (VCO2) e consumo de oxigênio (VO2). A inclinação da curva deste relacionamento é o quociente respiratório (QR = VCO2/VO2). O QR permanece inicialmente constante em condições anaeróbicas. Em algum momento, entretanto, os aumentos no VCO2 excedem os do VO2, e o QR aumenta. Este ponto de inflexão corresponde ao desenvolvimento de hiperlactatemia e é conhecido como limiar anaeróbico.(88 Wasserman K, Beaver WL, Whipp BJ. Gas exchange theory and the lactic acidosis (anaerobic) threshold. Circulation. 1990;81(1 Suppl):II14-30.) No contexto do outro extremo fisiológico, durante a dependência de suprimento de oxigênio, as reduções no VO2 são mais altas do que as no VCO2. Consequentemente, seguem-se bruscas elevações no QR(99 Cohen IL, Sheikh FM, Perkins RJ, Feustel PJ, Foster ED. Effect of hemorrhagic shock and reperfusion on the respiratory quotient in swine. Crit Care Med. 1995;23(3):545-52.

10 Dubin A, Murias G, Estenssoro E, Canales H, Sottile P, Badie J, et al. End-tidal CO2 pressure determinants during hemorrhagic shock. Intensive Care Med. 2000;26(11):1619-23.
-1111 Ferrara G, Kanoore Edul VS, Martins E, Canales HS, Canullán C, Murias G, et al. Intestinal and sublingual microcirculation are more severely compromised in hemodilution than in hemorrhage. J Appl Physiol (1985). 2016;120(10):1132-40.) (Figura 1). Em ambas as situações, exercício anaeróbico e diminuições críticas no transporte de oxigênio, o fenômeno de base é o surgimento de VCO2 anaeróbico secundário ao tamponamento por bicarbonato dos prótons gerados anaerobicamente. Assim, o aumento do QR indica metabolismo anaeróbico em curso.

Figura 1
Consumo de oxigênio, produção de dióxido de carbono e quociente respiratório em função do transporte de oxigênio. (A) Relacionamento entre consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono com transporte de oxigênio. (B) Relacionamento do quociente respiratório com o transporte de oxigênio. Reduções críticas no transporte de oxigênio se associam com diminuições progressivas no consumo de oxigênio e na produção de dióxido de carbono. As reduções na produção de dióxido de carbono são menores do que as no consumo de oxigênio em razão do início da produção de dióxido de carbono anaeróbica secundária ao tamponamento com bicarbonato dos prótons gerados anaerobicamente. Consequentemente seguem-se aumentos abruptos no quociente respiratório. O2 - oxigênio; CO2 - dióxido de carbono.

Consequentemente, a mensuração do QR surge como abordagem atraente para a identificação de hipóxia tissular global. Entretanto, nem sempre estão disponíveis equipamentos de avaliação metabólica nas condições de uma unidade de terapia intensiva. Além disto, o uso de uma elevada fração inspirada de oxigênio pode interferir nas mensurações.(1212 Ultman JS, Bursztein S. Analysis of error in the determination of respiratory gas exchange at varying FIO2. J Appl Physiol Respir Environ Exerc Physiol. 1981;50(1):210-6.) Para solucionar este problema, alguns pesquisadores propuseram uma simplificação da equação de Fick, adaptada para o dióxido de carbono, a Pcv-aCO2 para o conteúdo arterial menos venoso central de oxigênio (Pcv-aCO2/Ca-cvO2) como substituto para o QR. Alguns pequenos estudos observacionais identificaram que Pcv-aCO2/Ca-cvO2 acima de 1,4 se associou com hiperlactatemia,(1313 Mekontso-Dessap A, Castelain V, Anguel N, Bahloul M, Schauvliege F, Richard C, et al. Combination of venoarterial PCO2 difference with arteriovenous O2 content difference to detect anaerobic metabolism in patients. Intensive Care Med. 2002;28(3):272-7.) dependência de suprimento de oxigênio,(1414 Monnet X, Julien F, Ait-Hamou N, Lequoy M, Gosset C, Jozwiak M, et al. Lactate and venoarterial carbon dioxide difference/arterial-venous oxygen difference ratio, but not central venous oxygen saturation, predict increase in oxygen consumption in fluid responders. Crit Care Med. 2013;41(6):1412-20.,1515 Mallat J, Lemyze M, Meddour M, Pepy F, Gasan G, Barrailler S, et al. Ratios of central venous-to-arterial carbon dioxide content or tension to arteriovenous oxygen content are better markers of global anaerobic metabolism than lactate in septic shock patients. Ann Intensive Care. 2016;6(1):10.) e desfechos desfavoráveis.(1313 Mekontso-Dessap A, Castelain V, Anguel N, Bahloul M, Schauvliege F, Richard C, et al. Combination of venoarterial PCO2 difference with arteriovenous O2 content difference to detect anaerobic metabolism in patients. Intensive Care Med. 2002;28(3):272-7.) Mais ainda, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 foi incorporada a algoritmos para avaliação da oxigenação tissular e ressuscitação.(1616 Ospina-Tascón GA, Hernández G, Cecconi M. Understanding the venous-arterial CO2 to arterial-venous O2 content difference ratio. Intensive Care Med. 2016;42(11):1801-4.

17 Perner A, Gordon AC, De Backer D, Dimopoulos G, Russell JA, Lipman J, et al. Sepsis: frontiers in diagnosis, resuscitation and antibiotic therapy. Intensive Care Med. 2016;42(12):1958-69.
-1818 Hernandez G, Bellomo R, Bakker J. The ten pitfalls of lactate clearance in sepsis. Intensive Care Med. 2019;45(1):82-5.) Contudo, a evidência para estas recomendações é bastante limitada e de baixa qualidade.

O objetivo desta revisão narrativa foi analisar as bases metodológicas, os fundamentos fisiopatológicos, e a evidência experimental e clínica que dão suporte ao uso de Pcv-aCO2/Ca-cvO2 como marcador substituto do QR. Avaliamos, de forma abrangente, a evidência existente para a associação entre Pcv-aCO2/Ca-cvO2 e desfechos em pacientes críticos. Tivemos como alvo determinar se, em pacientes críticos, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 se associa com mortalidade mais elevada e é um preditor melhor do desfecho do que o lactato arterial. Revisamos também o papel da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 para predizer dependência de suprimento de oxigênio, assim como seu uso como alvo na ressuscitação.

QUESTÕES METODOLÓGICAS

O uso da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 como marcador substituto para o QR e oxigenação tissular se apoia em alguns pressupostos. Primeiramente, o QR é a proporção entre VCO2 e VO2:

QR = VCO2/VO2 (Equação 1)

(Equação 1) QR = VCO 2 / VO 2

Segundo a equação de Fick, este cálculo pode ser reorganizado assim:

QR = Q x Cmv-aCO2/Q x Ca-mvO2 (Equação 2)

(Equação 2) QR = Q x C mv a CO 2 / Q x C a mv O 2

onde Q é débito cardíaco, Cmv-aCO2 é diferença entre conteúdo de dióxido de carbono venoso misto menos arterial, e Ca-mvO2 é diferença entre o conteúdo arterial menos venoso de oxigênio.

A seguir calcula-se uma equivalência entre amostras mistas e centrais:

QR = Q x Ccv-aCO2/Q x Ca-cvO2 (Equação 3)

(Equação 3) QR = Q x C cv a CO 2 / Q x C a cv O 2

onde Ccv-aCO2 é diferença entre o conteúdo de dióxido de carbono venosos menos arterial e Ca-cvO2 é diferença entre o conteúdo de oxigênio arterial menos central.

Então, o fator comum (Q) é simplificado no numerador e no denominador:

QR = Ccv-aCO2/Ca-cvO2 (Equação 4)

(Equação 4) QR = C cv a CO 2 / C a cv O 2

Finalmente, visto que o cálculo do conteúdo de dióxido de carbono não é direto, substitui-se, na equação, o conteúdo de dióxido de carbono pela pressão de dióxido de carbono. Este pressuposto se baseia no fato de que conteúdo e pressão de dióxido de carbono têm correlação linear na faixa fisiológica do conteúdo de dióxido de carbono:

QR = Pcv-aCO2/Ca-cvO2 (Equação 5)

(Equação 5) QR = P cv a CO 2 / C a cv O 2

Infelizmente, alguns destes pressupostos são problemáticos, como o uso da pressão em vez do conteúdo de dióxido de carbono(1919 Dubin A, Ferrara G, Kanoore Edul VS, Martins E, Canales HS, Canullán C, et al. Venoarterial PCO2-to-arteriovenous oxygen content difference ratio is a poor surrogate for anaerobic metabolism in hemodilution: an experimental study. Ann Intensive Care. 2017;7(1):65.,2020 Ferrara G, Edul VS, Canales HS, Martins E, Canullán C, Murias G, et al. Systemic and microcirculatory effects of blood transfusion in experimental hemorrhagic shock. Intensive Care Med Exp. 2017;5(1):24.) e a falta de intercambialidade entre amostras de sangue central e misto.(2121 Dubin A, Pozo MO, Kanoore Edul VS, Risso Vazquez A, Enrico C. Poor agreement in the calculation of venoarterial PCO2 to arteriovenous O2 content difference ratio using central and mixed venous blood samples in septic patients. J Crit Care 2018;48:445-50.) Além disto, o uso de um ponto de corte definido para Pcv-aCO2/Ca-cvO2 na identificação de hipóxia tissular também é questionável.(99 Cohen IL, Sheikh FM, Perkins RJ, Feustel PJ, Foster ED. Effect of hemorrhagic shock and reperfusion on the respiratory quotient in swine. Crit Care Med. 1995;23(3):545-52.

10 Dubin A, Murias G, Estenssoro E, Canales H, Sottile P, Badie J, et al. End-tidal CO2 pressure determinants during hemorrhagic shock. Intensive Care Med. 2000;26(11):1619-23.
-1111 Ferrara G, Kanoore Edul VS, Martins E, Canales HS, Canullán C, Murias G, et al. Intestinal and sublingual microcirculation are more severely compromised in hemodilution than in hemorrhage. J Appl Physiol (1985). 2016;120(10):1132-40.) Nos próximos parágrafos revisaremos estas e outras questões metodológicas.

Uso da pressão em vez do conteúdo de dióxido de carbono para cálculo da proporção

O relacionamento entre conteúdo e pressão de dióxido de carbono é complexo. Em termos gerais, é um relacionamento curvilíneo. Isto implica que, para a faixa mais elevada de conteúdo de dióxido de carbono, o relacionamento se torna aplanado. Dessa forma, novos aumentos no conteúdo de dióxido de carbono induzem maior aumento da PCO2. A curva de dissociação de dióxido de carbono pode ser modificada por alterações no excesso de base, níveis de hemoglobina e saturação de oxigênio (efeito de Haldane) (Figura 2). Estes fatores modificam significantemente a Pcv-aCO2/Ca-cvO2, mesmo na ausência de alterações do QR e da oxigenação tissular.(1919 Dubin A, Ferrara G, Kanoore Edul VS, Martins E, Canales HS, Canullán C, et al. Venoarterial PCO2-to-arteriovenous oxygen content difference ratio is a poor surrogate for anaerobic metabolism in hemodilution: an experimental study. Ann Intensive Care. 2017;7(1):65.)

Figura 2
Relacionamento entre o conteúdo e a pressão de dióxido de carbono (curva de dissociação de dióxido de carbono). Para a mesma pressão parcial de dióxido de carbono, anemia, acidose metabólica e elevada saturação de oxigênio (efeito de Haldane) se associam com diminuição do conteúdo de dióxido de carbono. CO2 - dióxido de carbono; O2 - oxigênio; PCO2 - pressão parcial de dióxido de carbono.

Teoricamente, estes problemas relacionados à Pcv-aCO2/Ca-cvO2 podem ser superados com a utilização da equação 3. Entretanto, qualquer algoritmo para cálculo do conteúdo de dióxido de carbono pode ser enganoso. Por exemplo, o método mais comumente utilizado resulta em limites de concordância de 95% de 4,66mL/100mL para comparação entre conteúdo de dióxido de carbono calculado e medido com manômetro.(2222 Douglas AR, Jones NL, Reed JW. Calculation of whole blood CO2 content. J Appl Physiol (1985). 1988;65(1):473-7.) Este valor é inaceitavelmente elevado, especialmente quando se considera a propagação do erro relacionado ao cálculo adicional da diferença entre o conteúdo de dióxido de carbono venoso menos arterial. Consequentemente, o método frequentemente produz valores negativos não confiáveis de Cmv-aCO2.(2323 Ospina-Tascón GA, Umaña M, Bermúdez WF, Bautista-Rincón DF, Valencia JD, Madriñán HJ, et al. Can venous-to-arterial carbon dioxide differences reflect microcirculatory alterations in patients with septic shock? Intensive Care Med. 2016;42(2):211-21.)

Um ensaio experimental tratou das armadilhas metodológicas associadas ao uso da Pmv-aCO2/Ca-mvO2 como marcador substituto para o QR.(1919 Dubin A, Ferrara G, Kanoore Edul VS, Martins E, Canales HS, Canullán C, et al. Venoarterial PCO2-to-arteriovenous oxygen content difference ratio is a poor surrogate for anaerobic metabolism in hemodilution: an experimental study. Ann Intensive Care. 2017;7(1):65.) Nesse estudo, mediram-se a Pmv-aCO2/Ca-mvO2, o QR e seus determinantes durante reduções graduais do transporte de oxigênio (DO2) induzidas por hemorragia ou hemodiluição. A correlação entre a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 e o QR foi significante, mas fraca. Mais ainda, no contexto de hemodiluição, a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 aumentou mesmo depois de diminuição do VO2 e aumento do QR (Figura 3). Este achado foi relacionado a efeitos opostos da redução da hemoglobina na Pmv-aCO2 e Ca-mvO2. A Pmv-aCO2 aumentou como consequência dos efeitos da anemia na curva de dissociação de dióxido de carbono, enquanto a Ca-mvO2 diminuiu em função do aumento da taxa de extração de oxigênio (Figura 4). Além disto, na última fase de redução de DO2 e a despeito de graus similares de hipóxia tissular e elevações do QR, a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 aumentou de forma desproporcional no contexto de hemodiluição em comparação na condição de hemorragia, em razão dos fatores já mencionados. Mais ainda, um modelo de regressão linear múltipla identificou hemoglobina, acidose metabólica e efeito de Haldane, a posição na parte achatada da curva de dissociação de dióxido de carbono e o QR como determinantes independentes da Pmv-aCO2/Ca-mvO2. Embora se tenha identificado que a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 é dependente do QR, foi um determinante fraco.

Figura 3
Consumo de oxigênio, quociente respiratório e pressão parcial venoarterial da diferença de dióxido de carbono com a razão de diferença de conteúdo de oxigênio arteriovenoso em função do transporte de oxigênio. Relacionamento do transporte de oxigênio com o consumo de oxigênio (A), quociente respiratório (B) e proporção entre a diferença venoarterial da pressão parcial de dióxido de carbono pela diferença do conteúdo arteriovenoso de oxigênio (Pv-aCO2/Ca-vO2). O consumo de oxigênio diminuiu e o quociente respiratório aumentou apenas na última fase de hemodiluição e de hemorragia. No contexto de hemodiluição, o aumento na Pv-aCO2/Ca-vO2 foi maior do que na condição de hemorragia e surgiu antes do desenvolvimento de dependência do suprimento de oxigênio.

Figura 4
Consumo de oxigênio, quociente respiratório e pressão parcial venoarterial da diferença de dióxido de carbono com a razão de diferença de conteúdo de oxigênio arteriovenoso em função do transporte de oxigênio. Relacionamento do transporte de oxigênio com a diferença venoarterial da pressão parcial de dióxido de carbono (Pv-aCO2) (A), diferença venoarterial de conteúdo de dióxido de carbono (Cv-aCO2) (B), e diferença do conteúdo arteriovenoso de oxigênio (Ca-vO2). A hemodiluição produziu efeitos opostos em Pv-aCO2 e Cv-aCO2. Cv-aCO2 diminuiu no contexto de hemodiluição e aumentou em condições de hemorragia. Estas alterações são a explicação por trás do comportamento distinto da Pv-aCO2/Ca-vO2 em ambos os grupos. CO2 - dióxido de carbono. Fonte: reproduzido com permissão de Dubin et al.(19)

Dado que a acidose metabólica é um determinante fundamental para a Pmv-aCO2/Ca-mvO2, o relacionamento entre esta variável e o lactato é complicado. Ambas as variáveis podem estar aumentadas como expressão de metabolismo anaeróbico. Por outro lado, a hiperlactatemia resultante da ativação da glicólise aeróbica pode aumentar a Pmv-aCO2/Ca-mvO2, mesmo na ausência de hipóxia tissular. Por exemplo, após retransfusão sanguínea em choque hemorrágico experimental, o VO2 e o QR se normalizam, porém a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 continua elevada, como provável consequência da hiperlactatemia persistente.(2020 Ferrara G, Edul VS, Canales HS, Martins E, Canullán C, Murias G, et al. Systemic and microcirculatory effects of blood transfusion in experimental hemorrhagic shock. Intensive Care Med Exp. 2017;5(1):24.) Embora se tenha sugerido que a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 seria uma ferramenta para identificar a origem do lactato,(1818 Hernandez G, Bellomo R, Bakker J. The ten pitfalls of lactate clearance in sepsis. Intensive Care Med. 2019;45(1):82-5.) os resultados deste estudo experimental sugerem que esta abordagem pode ser enganosa.

Baixa concordância entre as amostras de sangue venoso central e misto

Outra questão metodológica é a falta de intercambialidade entre amostras de sangue central e misto para diferentes cálculos. A questão da concordância entre a saturação de mista e venosa foi avaliada de forma extensa. Embora a concordância seja baixa, um pequeno estudo defendeu que ambas as variáveis têm comportamento semelhante.(2424 Reinhart K, Kuhn HJ, Hartog C, Bredle DL. Continuous central venous and pulmonary artery oxygen saturation monitoring in the critically ill. Intensive Care Med. 2004;30(8):1572-8.) Em contraste, um estudo multicêntrico demonstrou de forma abrangente que as duas variáveis não apenas têm uma baixa concordância, mas também podem diferir em termos da direção de suas modificações.(2525 Gutierrez G, Comignani P, Huespe L, Hurtado FJ, Dubin A, Jha V, et al. Central venous to mixed venous blood oxygen and lactate gradients are associated with outcome in critically ill patients. Intensive Care Med. 2008;34(9):1662-8.) Mais ainda, recente estudo demonstrou que o problema é ainda maior para variáveis derivadas de dióxido de carbono: limites de concordância de 95% para PCO2 venosa-arterial e sua proporção para o conteúdo de oxigênio arterial menos venoso foram, respectivamente, de 8 mmHg e 1,48, o que é inaceitavelmente elevado.(2121 Dubin A, Pozo MO, Kanoore Edul VS, Risso Vazquez A, Enrico C. Poor agreement in the calculation of venoarterial PCO2 to arteriovenous O2 content difference ratio using central and mixed venous blood samples in septic patients. J Crit Care 2018;48:445-50.)

Uso de um ponto de corte particular de Pcv-a CO2/Ca-cv O2 para o diagnóstico de metabolismo anaeróbico

Além disto, a identificação de metabolismo anaeróbico com base em um valor de corte da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 é discutível. Uma vez que o início do metabolismo anaeróbico é indicado por aumentos abruptos no QR e não por um limiar particular,(99 Cohen IL, Sheikh FM, Perkins RJ, Feustel PJ, Foster ED. Effect of hemorrhagic shock and reperfusion on the respiratory quotient in swine. Crit Care Med. 1995;23(3):545-52.

10 Dubin A, Murias G, Estenssoro E, Canales H, Sottile P, Badie J, et al. End-tidal CO2 pressure determinants during hemorrhagic shock. Intensive Care Med. 2000;26(11):1619-23.
-1111 Ferrara G, Kanoore Edul VS, Martins E, Canales HS, Canullán C, Murias G, et al. Intestinal and sublingual microcirculation are more severely compromised in hemodilution than in hemorrhage. J Appl Physiol (1985). 2016;120(10):1132-40.) critérios similares deveriam ser considerados para Pcv-aCO2/Ca-cvO2. Isto é especialmente relevante quando se leva em consideração o fato de que o QR normal varia de 0,67 a 1,30.(2626 McClave SA, Lowen CC, Kleber MJ, McConnell JW, Jung LY, Goldsmith LJ. Clinical use of the respiratory quotient obtained from indirect calorimetry. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2003;27(1):21-6.) Os amplos limites normais do QR são dependentes principalmente de gordura energética. Dietas com base exclusiva em carboidratos e superalimentação aumentam de forma consistente o QR, enquanto dietas com base em gorduras e jejum diminuem o QR.

Coerentemente, um estudo clínico demonstrou que a capacidade do valor absoluto de QR para predizer óbito ou síndrome de baixo débito cardíaco foi menor que a do lactato em pacientes de cirurgia cardíaca.(2727 Piot J, Hébrard A, Durand M, Payen JF, Albaladejo P. An elevated respiratory quotient predicts complications after cardiac surgery under extracorporeal circulation: an observational pilot study. J Clin Monit Comput. 2019;33(1):145-53.) Embora o QR fosse mais alto nos não sobreviventes (0,83 ± 0,08 versus 0,75 ± 0,08; p = 0,02), os valores se encontravam dentro da faixa normal. Assim, pontos de corte definidos de Pcv-aCO2/Ca-cvO2 ou QR não devem ser utilizados para detecção de metabolismo anaeróbico, mas sim aumentos abruptos destes parâmetros.

Uso da saturação de oxigênio calculada em vez de medida para Pcv-a CO2/Ca-cv O2

Outra limitação relevante de alguns estudos foi que a computação da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 se baseou em valores de saturação de oxigênio calculados a partir de gases sanguíneos e curvas de dissociação de oxi-hemoglobina, em vez de mensurações realizadas por co-oximetria.(2323 Ospina-Tascón GA, Umaña M, Bermúdez WF, Bautista-Rincón DF, Valencia JD, Madriñán HJ, et al. Can venous-to-arterial carbon dioxide differences reflect microcirculatory alterations in patients with septic shock? Intensive Care Med. 2016;42(2):211-21.,2828 Ospina-Tascón GA, Umaña M, Bermúdez W, Bautista-Rincón DF, Hernandez G, Bruhn A, et al. Combination of arterial lactate levels and venous-arterial CO2 to arterial-venous O2 content difference ratio as markers of resuscitation in patients with septic shock. Intensive Care Med. 2015;41(5):796-805.

29 Shaban M, Salahuddin N, Kolko MR, Sharshir M, AbuRageila M, AlHussain A. The Predictive Ability of PV-ACO2 Gap and PV-ACO2/CA-VO2 Ratio in Shock: A Prospective, Cohort Study. Shock. 2017;47(4):395-401.
-3030 Zhou J, Song J, Gong S, Li L, Zhang H, Wang M. Persistent hyperlactatemia-high central venous-arterial carbon dioxide to arterial-venous oxygen content ratio is associated with poor outcomes in early resuscitation of septic shock. Am J Emerg Med. 2017;35(8):1136-41.) A saturação de oxigênio calculada não concorda com os valores medidos. Além disso, o erro de mensuração é propagado no cálculo da Pcv-aCO2/Ca-cvO2. Ainda, mensurações pareadas de Pcv-aCO2/Ca-cvO2 com o mesmo analisador têm baixa reprodutividade, com limite de concordância de 95% de 1,22.(3131 Mallat J, Lazkani A, Lemyze M, Pepy F, Meddour M, Gasan G, et al. Repeatability of blood gas parameters, PCO2 gap, and PCO2 gap to arterial-to-venous oxygen content difference in critically ill adult patients. Medicine (Baltimore). 2015;94(3):e415.)

A viabilidade fisiológica de aumento da Pcv-a CO2/Ca-cv O2 ser um reflexo da hipóxia tissular em pacientes críticos

Em modelos experimentais, o aumento do QR é um evento dramático, associado à morte iminente. Por exemplo, durante a hemodiluição progressiva, o QR só aumenta quando a hemoglobina atinge 1,2g%. Igualmente, durante sangramento progressivo, o QR aumenta quando a pressão arterial média chega abaixo dos 30mmHg.(1111 Ferrara G, Kanoore Edul VS, Martins E, Canales HS, Canullán C, Murias G, et al. Intestinal and sublingual microcirculation are more severely compromised in hemodilution than in hemorrhage. J Appl Physiol (1985). 2016;120(10):1132-40.) Estas são condições extremas e óbvias, que não necessitam de monitoramento adicional ou de uma avaliação sensível da oxigenação tissular para sua identificação. Coerentemente, valores altos de Pcv-aCO2/Ca-cvO2 em pacientes com condições estáveis poderiam raramente refletir um metabolismo anaeróbico global, mas antes a presença de fatores que modificam a dissociação de dióxido de carbono da hemoglobina. Isto foi demonstrado em modelos experimentais, nos quais o QR e a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 tiveram fraca correlação. Nesses casos, anemia, acidose metabólica ou efeito de Haldane explicaram os achados de aumento da Pmv-aCO2/Ca-mvO2, mesmo quando o VO2 e o QR eram normais.(1919 Dubin A, Ferrara G, Kanoore Edul VS, Martins E, Canales HS, Canullán C, et al. Venoarterial PCO2-to-arteriovenous oxygen content difference ratio is a poor surrogate for anaerobic metabolism in hemodilution: an experimental study. Ann Intensive Care. 2017;7(1):65.) Além disto, em níveis mais altos de conteúdo de dióxido de carbono, o relacionamento linear entre o conteúdo e a pressão de dióxido de carbono é progressivamente perdido, e mínimas modificações no conteúdo de dióxido de carbono podem se associar com alterações maiores na PCO2. Em pacientes, ainda não se realizou comparação direta entre Pmv-aCO2/Ca-mvO2 ou Pcv-aCO2/Ca-cvO2 e o QR. Assim, os valores de Pcv-aCO2/Ca-cvO2 devem ser interpretados com cautela em pacientes clinicamente estáveis.

A utilidade clínica da Pcv-a CO2/Ca-cv O2

Embora a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 possa não ser capaz de refletir o real valor do QR, esta proporção ainda pode refletir a severidade da doença crítica, por ser uma variável composta que é parcialmente dependente da hemoglobina e do excesso de base. Consequentemente, anemia e acidose metabólica podem, por si mesmos, produzirem elevada Pcv-aCO2/Ca-cvO2 e ser indicadores de uma condição grave ou preditores de desfecho desfavorável. Assim, presença de anemia e acidose metabólica podem ser responsáveis pela capacidade preditiva da Pcv-aCO2/Ca-cvO2. A seguir, discutiremos as controvérsias relativas à Pcv-aCO2/Ca-cvO2 para predição de desfecho, dependência de suprimento de oxigênio e alterações microcirculatórias, e como alvo para ressuscitação.

Pcv-a CO2/Ca-cv O2 para predição de desfechos e hiperlactatemia

Há vários anos, um estudo retrospectivo com 89 pacientes monitorados com cateter pulmonar identificou que a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 se mostrou preditor sensível de hiperlactatemia, com área sob a curva (ASC) Característica de Operação do Receptor (COR) de 0,85.(1313 Mekontso-Dessap A, Castelain V, Anguel N, Bahloul M, Schauvliege F, Richard C, et al. Combination of venoarterial PCO2 difference with arteriovenous O2 content difference to detect anaerobic metabolism in patients. Intensive Care Med. 2002;28(3):272-7.) A Pmv-aCO2/Ca-mvO2 também foi mais elevada em pacientes com hiperlactatemia do que naqueles com lactato normal (2,0 ± 0,9 versus 1,1 ± 0,6). Além disto, a sobrevivência aos 30 dias foi mais alta nos pacientes com Pmv-aCO2/Ca-mvO2 inferior a 1,4 do que nos que tinham proporção ≥ 1,4 (38% versus 20%). Apesar destes achados, a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 não foi significantemente diferente entre não sobreviventes e sobreviventes (1,7 ± 1,0 versus 1,3 ± 0,5). Por outro lado, o lactato era mais baixo nos sobreviventes (2,0 ± 1,5mmol/L versus 5,4 ± 6,1mmol/L). Embora o lactato e a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 tenham se correlacionado, e a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 tenha mostrado alguma associação com desfecho, o lactato foi melhor preditor de desfecho neste estudo.(1313 Mekontso-Dessap A, Castelain V, Anguel N, Bahloul M, Schauvliege F, Richard C, et al. Combination of venoarterial PCO2 difference with arteriovenous O2 content difference to detect anaerobic metabolism in patients. Intensive Care Med. 2002;28(3):272-7.) Semelhantemente, em 135 pacientes com choque séptico, a Pmv-aCO2/Ca-mvO2 e o lactato tiveram evolução temporal distinta em sobreviventes e não sobreviventes, porém apenas Cmv-aCO2/Ca-mvO2 e lactato, e não a Pmv-aCO2/Ca-mvO2, apresentaram correlação com desfecho.(2828 Ospina-Tascón GA, Umaña M, Bermúdez W, Bautista-Rincón DF, Hernandez G, Bruhn A, et al. Combination of arterial lactate levels and venous-arterial CO2 to arterial-venous O2 content difference ratio as markers of resuscitation in patients with septic shock. Intensive Care Med. 2015;41(5):796-805.)

Em outro estudo, realizado com 50 pacientes em choque, Pcv-aCO2/Ca-cvO2 e lactato no início do estudo foram mais baixos nos sobreviventes do que nos que não sobreviveram. O lactato, contudo, revelou melhor capacidade prognóstica (ASC COR de 0,73 e 0,81).(2929 Shaban M, Salahuddin N, Kolko MR, Sharshir M, AbuRageila M, AlHussain A. The Predictive Ability of PV-ACO2 Gap and PV-ACO2/CA-VO2 Ratio in Shock: A Prospective, Cohort Study. Shock. 2017;47(4):395-401.) Uma série retrospectiva de 144 pacientes com choque séptico identificou que Pcv-aCO2/Ca-cvO2 e lactato mostraram capacidade similar para predizer a mortalidade e a falência de órgãos, porém sua combinação foi superior.(3030 Zhou J, Song J, Gong S, Li L, Zhang H, Wang M. Persistent hyperlactatemia-high central venous-arterial carbon dioxide to arterial-venous oxygen content ratio is associated with poor outcomes in early resuscitation of septic shock. Am J Emerg Med. 2017;35(8):1136-41.) Em outro estudo observacional com 35 pacientes em choque séptico, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 foi forte preditor do comportamento do lactato, e ambas as variáveis se associaram com o desfecho.(3232 Mesquida J, Saludes P, Gruartmoner G, Espinal C, Torrents E, Baigorri F, et al. Central venous-to-arterial carbon dioxide difference combined with arterial-to-venous oxygen content difference is associated with lactate evolution in the hemodynamic resuscitation process in early septic shock. Crit Care. 2015;19:126.)

Em contraste, outros estudos mostraram que a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 tem baixa associação, quer com lactato quer com mortalidade. Em estudo multicêntrico de coorte prospectiva, que recrutou 363 pacientes em choque séptico, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 não conseguiu distinguir os pacientes com altos níveis de lactato ou com baixa depuração de lactato dos pacientes com níveis baixos de lactato e depuração adequada desta substância.(3333 Muller G, Mercier E, Vignon P, Henry-Lagarrigue M, Kamel T, Desachy A, Botoc V, Plantefève G, Frat JP, Bellec F, Quenot JP, Dequin PF, Boulain T; Clinical Research in Intensive Care and Sepsis (CRICS) Group. Prognostic significance of central venous-to-arterial carbon dioxide difference during the first 24 hours of septic shock in patients with and without impaired cardiac function. Br J Anaesth. 2017;119(2):239-48.) Em outro estudo observacional de 23 pacientes sépticos, nem Pcv-aCO2/Ca-cvO2 nem Pmv-aCO2/Ca-mvO2 distinguiram sobreviventes de não sobreviventes.(2121 Dubin A, Pozo MO, Kanoore Edul VS, Risso Vazquez A, Enrico C. Poor agreement in the calculation of venoarterial PCO2 to arteriovenous O2 content difference ratio using central and mixed venous blood samples in septic patients. J Crit Care 2018;48:445-50.)

Em resumo, os resultados são conflitantes no que se refere ao relacionamento entre Pcv-aCO2/Ca-cvO2 e mortalidade. Parece que Pcv-aCO2/Ca-cvO2 alta tem algumas implicações prognósticas aparentemente similares às do lactato. Há também relatos conflitantes quanto ao relacionamento entre Pcv-aCO2/Ca-cvO2 e lactato. Entretanto, há grande heterogeneidade entre os estudos.

Pcv-a CO2/Ca-cv O2 como preditor de dependência de suprimento de oxigênio

O aumento no VO2 em resposta ao DO2 elevado se caracteriza como dependência de suprimento de oxigênio. Embora a dependência de suprimento de oxigênio possa revelar a presença de um déficit de oxigênio, seu real significado é controvertido. Como tanto VO2 quanto DO2 são, em geral, calculados a partir de uma variável compartilhada (débito cardíaco), e a magnitude das alterações nas variáveis calculadas também é pequena, há um risco considerável de acoplamento matemático dos dados. Assim, a dependência de suprimento de oxigênio às vezes não é um real, mas um artefato. Contudo, diferentes estudos tiveram como objetivo demonstrar que a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 é um preditor da dependência de suprimento de oxigênio.

Em 25 pacientes com choque, nos quais o débito cardíaco aumentou em resposta à infusão de 500mL de solução salina, o VO2 aumentou em 14 pacientes e permaneceu inalterado em 11 pacientes.(1414 Monnet X, Julien F, Ait-Hamou N, Lequoy M, Gosset C, Jozwiak M, et al. Lactate and venoarterial carbon dioxide difference/arterial-venous oxygen difference ratio, but not central venous oxygen saturation, predict increase in oxygen consumption in fluid responders. Crit Care Med. 2013;41(6):1412-20.) O lactato (5,5 ± 4,0mmol/L versus 2,3 ± 1,1mmol/L) e a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 (2,3 ± 0,8 versus 1,3 ± 0,5) foram mais altos nos pacientes com dependência de suprimento de oxigênio. Ambas as variáveis, lactato e Pcv-aCO2/Ca-cvO2, mostraram grandes valores de ASC COR para predição de aumento do VO2 (0,94 ± 0,05 e 0,91 ± 0,06, respectivamente). Outro estudo, conduzido com 51 pacientes em choque séptico e responsivos a fluidos, também mostrou elevados níveis de lactato e Pcv-aCO2/Ca-cvO2 em pacientes com dependência de suprimento de oxigênio, porém lactato teve ASC COR menor (0,745 versus 0,965).(1515 Mallat J, Lemyze M, Meddour M, Pepy F, Gasan G, Barrailler S, et al. Ratios of central venous-to-arterial carbon dioxide content or tension to arteriovenous oxygen content are better markers of global anaerobic metabolism than lactate in septic shock patients. Ann Intensive Care. 2016;6(1):10.) Em contraste, em 92 pacientes que responderam a fluidos admitidos à UTI cardiotorácica, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 não foi capaz de predizer aumento no VO2 (ASC COR = 0,52).(3434 Abou-Arab O, Braik R, Huette P, Bouhemad B, Lorne E, Guinot PG. The ratios of central venous to arterial carbon dioxide content and tension to arteriovenous oxygen content are not associated with overall anaerobic metabolism in postoperative cardiac surgery patients. PLoS One. 2018;13(10):e0205950.) Em outro pequeno estudo em 17 pacientes de cirurgia cardíaca, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 foi novamente incapaz de predizer dependência de suprimento de oxigênio (ASC COR = 0,64).(3535 Fischer MO, Bonnet V, Lorne E, Lefrant JY, Rebet O, Courteille B, Lemétayer C, Parienti JJ, Gérard JL, Fellahi JL, Hanouz JL; French Hemodynamic Team. Assessment of macro- and micro-oxygenation parameters during fractional fluid infusion: A pilot study. J Crit Care. 2017;40:91-8.)

Assim, os resultados são inconclusivos. Mais ainda, nesses estudos, o VO2 foi calculado a partir de amostras de sangue venoso central e não misto, o que gera ainda mais incertezas metodológicas a respeito da interpretação dos resultados.

P cv-a CO 2 /C a-cv O 2 como preditor de alterações microcirculatórias

Um estudo observacional descreveu correlação entre Cmv-aCO2/Ca-mvO2 e a proporção de vasos sublinguais perfundidos em pacientes com choque séptico.(2323 Ospina-Tascón GA, Umaña M, Bermúdez WF, Bautista-Rincón DF, Valencia JD, Madriñán HJ, et al. Can venous-to-arterial carbon dioxide differences reflect microcirculatory alterations in patients with septic shock? Intensive Care Med. 2016;42(2):211-21.) Outro estudo clínico, contudo, não encontrou qualquer correlação de Pcv-aCO2/Ca-cvO2 ou Pmv-aCO2/Ca-mvO2 com a circulação sublingual.(2121 Dubin A, Pozo MO, Kanoore Edul VS, Risso Vazquez A, Enrico C. Poor agreement in the calculation of venoarterial PCO2 to arteriovenous O2 content difference ratio using central and mixed venous blood samples in septic patients. J Crit Care 2018;48:445-50.)

Pcv-a CO2/Ca-cv O2 como alvo para ressuscitação

Apenas um estudo avaliou a utilidade da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 como alvo para ressuscitação.(3636 Su L, Tang B, Liu Y, Zhou G, Guo Q, He W, et al. P(v-a)CO2/C(a-v)O2-directed resuscitation does not improve prognosis compared with SvO2 in severe sepsis and septic shock: A prospective multicenter randomized controlled clinical study. J Crit Care. 2018;48:314-20.) Em um ensaio randomizado controlado, 228 pacientes foram designados para ressuscitação com alvo baseado em Pcv-aCO2/Ca-cvO2 ou ScvO2. Não se observaram diferenças em termos de mortalidade, falência de órgãos, tempo de permanência ou outros desfechos secundários.

CONCLUSÕES

O uso clínico da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 como marcador substituto do quociente respiratório é controvertido. Primeiramente, o aumento do quociente respiratório secundário a reduções críticas do transporte de oxigênio é um evento dramático e com risco à vida, que porém é facilmente observável e provavelmente não demandaria monitoramento adicional. Visto que o início do metabolismo anaeróbico é indicado pelo súbito aumento no quociente respiratório e que a faixa de quociente respiratório normal é ampla, a utilização de um ponto de corte definido de 1,4 para Pcv-aCO2/Ca-cvO2 não faz sentido. A Pcv-aCO2/Ca-cvO2 é mais dependente de fatores que modificam a dissociação de dióxido de carbono da hemoglobina do que do quociente respiratório. Alguns estudos experimentais demonstraram que o quociente respiratório e a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 podem apresentar comportamentos distintos em diferentes modelos. Estudos clínicos realizados com pacientes críticos demonstraram resultados controvertidos com relação à capacidade da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 para prever desfechos, hiperlactatemia, anomalias microvasculares e dependência de suprimento de oxigênio. Um ensaio randomizado controlado também demonstrou que a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 é inútil como alvo para ressuscitação. Consequentemente, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 deve ser interpretada com cautela em pacientes críticos.

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Editado por

Editor responsável: Luciano César Pontes de Azevedo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2020

Histórico

  • Recebido
    28 Abr 2019
  • Aceito
    09 Jun 2019
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