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Editorial

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Afinal, de qual tecnologia estamos falando?

Ao receber o convite para escrever o Editorial deste número da Revista Fisioterapia em Movimento, que nos brinda com artigos relacionados às tecnologias em saúde, deparei-me com a necessidade de trazer aos leitores uma reflexão sobre o conceito de tecnologia aplicado a essa área.

Como a palavra tecnologia é aplicada em diversos campos do conhecimento, existe uma preocupação de que seu significado se distancie daquele que lhe é tradicionalmente atribuído. Essa tradição, por vezes, resulta na criação de paradigmas e, consequentemente, não supera limitações que o termo pode conter ao ser utilizado em diferentes práticas. Ao buscar no dicionário1 1 Houaiss A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2009. p. 1821. , encontrei três acepções para o vocábulo tecnologia e, dentre elas, divido aqui a que me parece mais adequada a nosso contexto: "Teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana".

Com o uso do conceito em suas práticas, a área da saúde contribui ao reelaborar e construir um novo entendimento para a palavra, fazendo sua correlação com os elementos do processo de trabalho. Nesse domínio, as tecnologias são classificadas em três grandes grupos2 2 Merhy EE. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: Merhy EE, Onocko R, organizador. Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec; 1997. p. 71-112. : a dura, a leve-dura e a leve. A dura abrange os equipamentos tecnológicos; a leve-dura, os saberes estruturados; e a leve, as relações, o vínculo e a gestão.

Posso afirmar que as pesquisas, de maneira geral, privilegiam as tecnologias duras, pelo fato de nelas existirem certo glamour relacionado à inovação tecnológica, serem mais estruturadas e responderem à necessária objetividade em relação à avaliação de equipamentos. Esse espaço de pesquisa é necessário ao desenvolvimento de um país e é apoiado de forma significativa por órgão de fomento, tendo entrada efetiva em periódicos qualificados. Faz parte de um rol de conhecimentos institucionalizados.

Não obstante, as tecnologias leve-duras possuem seu espaço nas linhas de pesquisa e nas produções científicas decorrentes delas, pois também são consideradas estruturadas e passíveis de serem avaliadas por métodos e técnicas institucionalizados e apoiados por órgão de fomento.

Verifica-se, então, que grande parte da contribuição científica relacionada à tecnologia está destinada a essas duas formas de classificação do termo. Este número da Fisioterapia em Movimento reflete e exemplifica esse cenário. A edição possui textos que: estudam técnicas, testes, instrumentos e formas de atendimento; descrevem protocolos; discutem desafios para desenvolvimento de novos métodos; apontam métodos aplicados à fisioterapia; além de revisarem efeitos de uma técnica e a relação entre lesão e movimento.

Então... onde se encontra nosso desafio? Na capacidade de produzir ciência na área da tecnologia leve, que parte da premissa de um trabalho eminentemente multidisciplinar, envolvendo saberes que vão além da produção de equipamentos, da organização de processos e da avaliação de ambos. Esse trabalho sai da zona de conforto ao incorporar saberes das ciências sociais, abrangendo subjetividade e, principalmente, incluindo a percepção das necessidades sob a ótica do ser cuidado.

Profa. Dra. Marcia Regina Cubas

Coordenadora do programa de Pós-Graduação em Tecnologia em

Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

  • 1 Houaiss A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2009. p. 1821.
  • 2  Merhy EE. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: Merhy EE, Onocko R, organizador. Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec; 1997. p. 71-112.
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    Houaiss A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2009. p. 1821.
  • 2
    Merhy EE. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: Merhy EE, Onocko R, organizador. Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec; 1997. p. 71-112.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Out 2012
    • Data do Fascículo
      Set 2012
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