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Incapacidade funcional, sintomas depressivos e dor lombar em idosos

Functional disability, depressive symptoms and low back pain in elderly

Resumos

INTRODUÇÃO: A dor lombar modifica e limita aspectos tanto físicos quanto psicossociais da vida do idoso, impondo muitas vezes mudanças que causam transtornos pessoais, familiares e redução da capacidade funcional. OBJETIVO: Verificar a prevalência de dor lombar (DL) não específica em uma amostra de idosos da comunidade e determinar a correlação existente entre as variáveis: sexo, índice de massa corpórea (IMC), incapacidade funcional e sintomas depressivos. MATERIAIS E MÉTODOS: Participaram deste estudo 54 idosos da comunidade (72 ± 5,2 anos). As características clínicas e sociodemográficas foram avaliadas por meio de questionário semiestruturado e a DL, por meio do Questionário de McGill. Para a medida de incapacidade em indivíduos com disfunções na coluna foi usado o Questionário de Roland Morris - Brasil (RM-BR). Sintomas depressivos e o nível geral de atividade física foram avaliados, respectivamente, por meio da versão reduzida da Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15) e pelo Perfil de Atividade Humana. RESULTADOS: Evidenciou-se correlação alta e positiva entre a presença de DL, incapacidade funcional (RM-BR) (rs = 0,774; p = 0,00) e presença de sintomas depressivos (GDS-15) (rs = 0,271; p = 0,048). Nenhuma correlação foi evidenciada entre IMC (rs = 0,178; p = 0,197), sexo (rs = -0,073; p = 0,599) e DL. CONCLUSÃO: Observou-se prevalência alta de DL não específica na amostra de idosos estudada. Incapacidade funcional e depressão são condições fortemente associadas com DL em idosos da comunidade; cabe, portanto, desenvolver outras abordagens a fim de alcançar melhor efetividade das propostas terapêuticas.

Idosos; Dor lombar; Depressão


INTRODUCTION: Low back pain modifies and limits both physical and psychosocial aspects of elderly life and often requires changes that cause disorders personal, family, reduced functional capacity. OBJECTIVE: To verify the prevalence of non-specific low back pain (LBP) in a sample of community-dwelling elderly and to determine the existing correlation between the variables: sex, body mass index, functional disability and depressive symptoms. MATERIALS AND METHODS: Fifty-four healthy community-dwelling elderly joined this study (72 ± 5.2 years). The clinical, social and demographic characteristics were assessed through a semi-structured questionnaire and the LBP, through the McGill Pain Questionnaire. The Rolland Morris Questionnaire (RM-BR) was used to measure the disability of the subjects with spine dysfunctions. Depressive symptoms and the general level of physical activity were assessed, respectively, by using the reduced version of the Geriatric Depression Scale (GDS¬¬-15) and the Human Activity Profile. RESULTS: A high positive correlation was found between the presence of DL, functional disability (RM-BR) (rs = 0.774, p = 0.00) and depressive symptoms (GDS-15) (rs = 0.271, p = 0.048). No correlation was evidenced between BMI (rs = 0.178; p = 0.197), sex (rs = -0.073; p = 0.599) and LBP. CONCLUSION: High prevalence of non-specific LBP in the sample elderly studied was observed. Functional disability and depression were shown to be strongly associated with DL conditions in elderly community need to be addressed for greater effectiveness of the proposed therapeutic.

Elderly; Low back pain; Depression


ARTIGOS ORIGINAIS

Incapacidade funcional, sintomas depressivos e dor lombar em idosos

Functional disability, depressive symptoms and low back pain in elderly

Vânia Ferreira de FigueiredoI; Leani Souza Máximo PereiraII; Paulo Henrique FerreiraIII; Aline de Morais PereiraIV; Juleimar Soares Coelho de AmorimV

IFisioterapeuta, mestre em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professora do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Belo Horizonte, MG - Brasil, e-mail: vaniaffigueiredo@yahoo.com.br

IIFisioterapeuta, doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pós-doutorado no The George Institute for Global Health, Sydney University (Austrália), professora associada do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG - Brasil, e-mail: leanismp.bh@terra.com.br

IIIFisioterapeuta, professor da School of Physiotherapy, Faculty of Health Sciences, University of Sydney, Sydney, NSW - Australia, e-mail: paulo.ferreira@sydney.edu.au

IVFisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG - Brasil, e-mail: alinedemorais@yahoo.com.br

VFisioterapeuta, especialista em Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG - Brasil, e-mail: juleimar@yahoo.com.br

RESUMO

INTRODUÇÃO: A dor lombar modifica e limita aspectos tanto físicos quanto psicossociais da vida do idoso, impondo muitas vezes mudanças que causam transtornos pessoais, familiares e redução da capacidade funcional.

OBJETIVO: Verificar a prevalência de dor lombar (DL) não específica em uma amostra de idosos da comunidade e determinar a correlação existente entre as variáveis: sexo, índice de massa corpórea (IMC), incapacidade funcional e sintomas depressivos.

MATERIAIS E MÉTODOS: Participaram deste estudo 54 idosos da comunidade (72 ± 5,2 anos). As características clínicas e sociodemográficas foram avaliadas por meio de questionário semiestruturado e a DL, por meio do Questionário de McGill. Para a medida de incapacidade em indivíduos com disfunções na coluna foi usado o Questionário de Roland Morris - Brasil (RM-BR). Sintomas depressivos e o nível geral de atividade física foram avaliados, respectivamente, por meio da versão reduzida da Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15) e pelo Perfil de Atividade Humana.

RESULTADOS: Evidenciou-se correlação alta e positiva entre a presença de DL, incapacidade funcional (RM-BR) (rs = 0,774; p = 0,00) e presença de sintomas depressivos (GDS-15) (rs = 0,271; p = 0,048). Nenhuma correlação foi evidenciada entre IMC (rs = 0,178; p = 0,197), sexo (rs = -0,073; p = 0,599) e DL.

CONCLUSÃO: Observou-se prevalência alta de DL não específica na amostra de idosos estudada. Incapacidade funcional e depressão são condições fortemente associadas com DL em idosos da comunidade; cabe, portanto, desenvolver outras abordagens a fim de alcançar melhor efetividade das propostas terapêuticas.

Palavras-chave: Idosos. Dor lombar. Depressão.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Low back pain modifies and limits both physical and psychosocial aspects of elderly life and often requires changes that cause disorders personal, family, reduced functional capacity.

OBJECTIVE: To verify the prevalence of non-specific low back pain (LBP) in a sample of community-dwelling elderly and to determine the existing correlation between the variables: sex, body mass index, functional disability and depressive symptoms.

MATERIALS AND METHODS: Fifty-four healthy community-dwelling elderly joined this study (72 ± 5.2 years). The clinical, social and demographic characteristics were assessed through a semi-structured questionnaire and the LBP, through the McGill Pain Questionnaire. The Rolland Morris Questionnaire (RM-BR) was used to measure the disability of the subjects with spine dysfunctions. Depressive symptoms and the general level of physical activity were assessed, respectively, by using the reduced version of the Geriatric Depression Scale (GDS¬¬-15) and the Human Activity Profile.

RESULTS: A high positive correlation was found between the presence of DL, functional disability (RM-BR) (rs = 0.774, p = 0.00) and depressive symptoms (GDS-15) (rs = 0.271, p = 0.048). No correlation was evidenced between BMI (rs = 0.178; p = 0.197), sex (rs = -0.073; p = 0.599) and LBP.

CONCLUSION: High prevalence of non-specific LBP in the sample elderly studied was observed. Functional disability and depression were shown to be strongly associated with DL conditions in elderly community need to be addressed for greater effectiveness of the proposed therapeutic.

Keywords: Elderly. Low back pain. Depression.

Introdução

O perfil de saúde da sociedade é modificado pelo crescente contingente de idosos no Brasil e no mundo, uma vez que condições agudas são substituídas por condições crônicas, múltiplas, não transmissíveis e problemas associados, próprios do envelhecimento, o que aumenta a procura por serviços de saúde (1- 3).

A Dor Lombar (DL) é um dos sintomas mais frequentemente relatados pelos idosos (4 - 7), entretanto, mesmo sendo identificada como um importante problema de saúde, sua prevalência é pouco conhecida na população idosa (7 - 11).

A DL é usualmente definida como uma dor, tensão ou rigidez localizada na região compreendida entre as últimas costelas e a linha glútea. Pode ser classificada como específica, quando os sintomas são causados por condições clínicas definidas, ou como não específica, quando o mecanismo da dor não é claramente definido (12). Grande parcela da população geral, entre 50 e 80%, é acometida por pelo menos um episódio de DL em algum momento da vida (5, 12). Estudos de prevalência internacional apontam um percentual que varia de 12% a 33% (13); no Brasil, a DL manifesta-se em 63% da população e em 57,7% da população de idosos (5).

O desenvolvimento dessa disfunção é benigno em 90% dos pacientes e suas causas possíveis são doenças inflamatórias, degenerativas, neoplásicas, defeitos congênitos, instabilidade muscular, predisposição reumática, sinais de degeneração da coluna ou dos discos intervertebrais e outras (14). A maioria dos episódios de DL ocorre espontaneamente nas atividades cotidianas (15), mas sua etiologia é multifatorial com frequente interação dos fatores intrínsecos ao indivíduo e fatores sociodemográficos e comportamentais (6, 8, 12).

No idoso, devido a uma maior suscetibilidade a condições que reduzem sua capacidade funcional, é frequente a sua associação com prejuízos nas funções do corpo, dificuldades no desempenho das atividades cotidianas e restrição na participação social do indivíduo (15).

Vários estudos têm mostrado que 30-60% dos indivíduos com DL apresentam sintomas depressivos (16 -21). Além disso, sentimentos de depressão podem ser considerados preditores do tempo para recuperação da dor, incapacidade e trabalho (22, 23).

Nesse contexto, os objetivos deste estudo foram verificar a prevalência de DL não específica em uma amostra de idosos da comunidade e determinar a correlação existente entre as variáveis sexo, índice de massa corpórea (IMC), incapacidade funcional e sintomas depressivos.

Materiais e métodos

Realizou-se estudo observacional de corte transversal, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, parecer ETIC 324/07, conforme Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata do Código de Ética da Pesquisa envolvendo seres humanos. Cada participante, após leitura e esclarecimento dos termos do estudo, assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando em participar da pesquisa.

A amostra foi constituída por 54 idosos da comunidade, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 65 anos, sem alterações cognitivas identificadas por meio do Mini Exame do Estado Mental (MEEM) (24). O cálculo amostral, realizado previamente, seguiu os logaritmos propostos por Maxwell (25). Foram adotados como critérios de exclusão: presença de dores agudas de coluna; sinais evidentes de radiculopatias (alterações de reflexos, dermátomos e/ou miótomos, teste de elevação da perna estendida positivos); histórico positivo para doenças neurológicas, cirurgia toracoabdominal e da coluna, fraturas vertebrais e câncer; presença de bandeiras vermelhas (25); deformidades graves observáveis na coluna (escoliose, hipercifose); realização de tratamento fisioterapêutico para problemas de coluna nos últimos seis meses; prática de exercícios para musculatura estabilizadora da coluna lombar e/ou do assoalho pélvico.

Para caracterização da amostra foi utilizado um questionário contendo dados clínicos sociodemográficos e funcionais apresentados na Tabela 1.

A presença ou não de DL foi determinada a partir da resposta para a seguinte pergunta: "nos últimos doze meses, o(a) Sr.(a) sentiu dores em suas costas?"(18, 26, 27, 28). A localização da DL foi apontada pelo voluntário em uma figura do corpo humano em posição ereta, supina e dorsal (7, 29). Caso a resposta fosse afirmativa, o participante respondia às demais questões do Questionário de dor de McGill (BR-MPQ) (30-32). O BR-MPQ é um instrumento adequado para avaliar a dor crônica em idosos (33); índices de confiabilidade intra e interexaminador do instrumento para a versão brasileira foram de 0,86 e 0,89 para doenças ortopédicas e 0,71 e 0,68 para doenças neurológicas, respectivamente (33). Para a medida de incapacidade funcional foi usado o Questionário de Roland Morris - Brasil (RM-BR) (34-37), traduzido e adaptado culturalmente para a população brasileira (34), apresentou coeficientes de confiabilidade teste-reteste de 0,86 e interexaminador de 0,95 (34, 37).

A presença de sintomas depressivos e o nível geral de atividade física foram avaliados, respectivamente, por meio da Escala de Depressão Geriátrica, versão reduzida com 15 itens (GDS-15) (38) e pelo Perfil de Atividade Humana (PAH) (39). Almeida e Almeida (38) relataram índices de confiabilidade, sensibilidade e especificidade para a versão brasileira da GDS-15 de 0,81%, 85,4% e 73,9% respectivamente, considerando o ponto de corte de cinco. Já a versão brasileira do PAH obteve um coeficiente global de consistência interna de 0,91 para sua aplicação em idosos (39).

A análise descritiva das variáveis quantitativas foi realizada empregando-se o cálculo da média, a medida de tendência central, o desvio padrão e a medida de variabilidade (dispersão) dos dados amostrais. Já as variáveis qualitativas foram obtidas a partir do cálculo de frequências das categorias utilizadas para cada uma.

Para verificar a relação entre a variável dor lombar e as variáveis relacionadas a incapacidade (RM-BR), sintomas depressivos (GDS), IMC e sexo foi realizado índice de correlação de Spearman. Foram considerados para essas análises somente aqueles idosos que afirmaram sentir dor lombar (n = 34; 61,8%). Para confirmar a normalidade dos dados, foi utilizado o teste estatístico de Anderson-Darling.

Toda a análise estatística foi realizada por meio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS) para Windows (versão 13.0, SPSS Inc.©, Chicago, Illinois), com exceção do teste de normalidade, para o qual foi utilizado o MiniTAB 14 Statistical Software. Em todos os testes usados foi considerado como significativo α < 0,05.

Resultados

Participaram deste estudo 54 idosos, com idade média de 72 (± 5,2) anos e variação de 65 a 84 anos; o sexo feminino representou 76% da amostra. A maioria era casada ou vivia com companheiro(a) (48,1%); também se observou grande parcela de viúvos(as) (31,5%). Cerca de 35% dos idosos relataram renda mensal familiar de 3 a 5 salários mínimos. Sobre o nível de escolaridade dos idosos, aproximadamente metade (48,1%) informou ter de 1 a 4 anos de estudo. Os dados sociodemográficos são apresentados na Tabela 1.

Após o cálculo do IMC dos participantes, 46,3% da amostra apresentou o padrão eutrófico (22 a 27 kg/m2), de acordo com os pontos de corte para idosos, propostos por Lipschitz (40). Com relação ao nível de atividade física, avaliado pelo PAH, os idosos foram classificados como ativos e moderadamente ativos (66,7% e 33,3%, respectivamente). Os idosos foram questionados quanto a problemas de saúde diagnosticados pelo médico e relataram comorbidades, com média de 4,78 (± 2,35), sendo a hipertensão (64,8%) a mais frequente.

Para aqueles idosos com positividade para dor lombar (n = 34), notou-se que mais da metade (52,9%) referiu dor lombar de intensidade moderada (2,24 ± 0,78) e 44,1% classificaram-na como breve/momentânea/transitória, de acordo com o questionário de BR-MPQ. Quanto à funcionalidade avaliada pelo questionário de RM-BR, o desempenho dos idosos avaliados apresentou média de 6,8 ± 6,4 e mediana de 3,5 pontos. A Tabela 2 fornece uma síntese das informações dos dados relacionados aos indivíduos com dor lombar.

A interpretação dos resultados do coeficiente de correlação de Spearman pode ser evidenciada na Tabela 3. Uma correlação alta e positiva com a presença de dor lombar foi indicada tanto para a incapacidade funcional (RM - Br) (rs = 0,774; p = 0,00) quanto para presença de sintomas depressivos (GDS - 15) (rs = 0,271; p = 0,048). Nenhuma correlação foi evidenciada entre IMC (rs = 0,178; p = 0,197), sexo (rs = -0,073; p = 0,599) e DL.

Discussão

O presente estudo investigou em uma amostra de idosos com DL não específica, moradores da comunidade, a possível correlação entre características físicas (IMC), psicossociais (sintomas depressivos), sexo e função (incapacidade/RM-BR). Alguns estudos internacionais prévios, envolvendo a população idosa, reportam associação entre essas variáveis (35, 36, 41, 42), mas entre a população brasileira esses dados ainda não estão bem estabelecidos.

A amostra avaliada apresentou características clínicas e demográficas semelhantes a outros estudos populacionais que descrevem o perfil do idoso brasileiro (43, 44), exceto com relação à renda familiar média, que foi mais elevada, e pelo nível de atividade física (ativo e moderadamente ativo). A amostra apresentou uma prevalência maior de mulheres, casadas ou viúvas; com baixa escolaridade e alta morbidade, indicada pelo número de condições clínicas de saúde associadas, sendo que a condição de saúde mais relatada foi a hipertensão. Esses achados confirmam que as mulheres vivem mais que os homens, ficando mais tempo expostas aos fatores de risco, convivem com mais comorbidades e vivenciam a cronicidade das condições clínicas - fenômeno chamado de "feminização" da velhice (44).

Sintomas depressivos e incapacidade física têm sido temas comumente associados com dor lombar em idosos da comunidade em diversos debates (10, 18, 19, 21, 41).

Correlação forte e positiva entre dor lombar e incapacidade física foi evidenciada corroborando com os achados de outros estudos, que relatam limitações em atividades diárias como realizar o autocuidado e tarefas domésticas, ir às compras, caminhar, levantar objetos etc. Também as atividades ligadas à participação social como visitar amigos e frequentar igreja se tormam mais difíceis.

A relação entre DL e sintomas depressivos parece ser uma condição bidirecional (41-48). Alguns estudos relatam que sintomas depressivos são fatores de risco para o desenvolvimento futuro de DL em pessoas que previamente não apresentavam DL (15, 21) enquanto outros (17, 48) acreditam que a depressão seja consequência. No entanto, embora não haja um consenso entre a ordem dos fatos, a relação entre essas duas condições clinicas é confirmada (16).

Na presença de depressão, devem ser considerados a cronicidade e os sintomas predominantes. Os pacientes com depressão crônica e sem relação específica com a dor e as limitações da patologia de base apresentam piores resultados em tratamento, se comparados àqueles cuja depressão está diretamente relacionada à dor. Alguns sintomas depressivos, como distúrbio do sono, problemas com concentração e modificações no peso, podem ser consequência direta da dor ou das limitações físicas. A superestimação do quadro clínico pode sofrer influências de distúrbios cognitivo-comportamentais, como ansiedade e depressão (16, 20, 49, 50).

Edmond e Felson (42) evidenciaram em seu estudo que idosos da comunidade com DL relataram dificuldade de permanecer em ortostatismo por um tempo prolongado, puxar ou empurrar um objeto e caminhar uma distância aproximada de 800 m. Leveille (45) relata que mulheres idosas com DL apresentavam maior dificuldade em realizar as atividades básicas e instrumentais de vida diária quando comparadas com mulheres assintomaticas.

Apesar de a intensidade média de dor relatada ser moderada, o nível de incapacidade física gerada foi relativamente baixo. Alguns estudos reforçam esses resultados, relatando que há uma fraca correlação entre incapacidade e intensidade da dor lombar (46). Isso ocorre porque a dor é uma condição subjetiva e pessoal, sendo influenciada por fatores sociais, mentais, culturais e espirituais (5, 46); no caso do idoso, há maior resiliência em relação à ocorrência da dor (47).

O PAH é um questionário de autorrelato que avalia o nível funcional e de atividade física, tanto para indivíduos saudáveis, em qualquer faixa etária, quanto para aqueles com algum grau de disfunção do nível de atividade física (39). Cabe salientar que a amostra foi de conveniência e constituída de idosos da comunidade e um dos critérios de inclusão foi a capacidade de locomoção independente; nesse contexto, possivelmente esse perfil dos participantes influenciou no bom desempenho dos idosos no PAH, considerando que o questionário inclui muitas atividades de baixo nível de dificuldade para sua execução, como "ouvir rádio", "levantar de uma cadeira sem ajuda", "ler livros ou revistas", "ficar de pé por um minuto", entre outras. Por outro lado, culturalmente e diferentemente dos homens, as mulheres desenvolvem, no seu dia a dia, mais atividades consideradas como domésticas, que na maioria das vezes são de moderada a alta dificuldade.

Alguns estudos indicam o IMC elevado como fator de risco para DL (7, 14) e sugerem uma prevalência dessa disfunção no sexo feminino (4, 7, 47). Entretanto, nenhuma correlação foi evidenciada no presente estudo entre IMC, sexo e DL não especifica. Quanto a essas evidências, Shiri et al. (51), em uma recente revisão sistemática para investigar a relação entre o peso corporal e DL, afirmam que o sobrepeso e a obesidade são fatores de risco potencialmente modificáveis para prevenir dor lombar; e Silva et al. (7) e Wadell (52, 53) atribuem a prevalência do sexo feminino com dor lombar tanto um achado de viés de informação, pois as mulheres apresentam melhor percepção da dor e maior procura por serviços de saúde, quanto a características biomecânicas, como menor massa óssea e muscular, menor adaptação articular durante elevação de peso e a gravidez.

Um dado importante a considerar é em relação ao uso de medicamentos para dor. Todos os participantes com sintomas dolorosos relataram utilizar medicamento analgésico apenas quando sentiam dor forte, nenhum estava em uso contínuo da medicação. Apenas três pacientes (8,8%) relataram uso de antidepressivos, um número baixo para considerar interferência nos resultados encontrados.

O baixo índice de incapacidade física, causada pela DL observado na amostra, provavelmente ocorreu porque foram excluídos idosos com DL em decorrência de condições clínicas prévias, como fraturas osteoporóticas, degeneração discal, compressão radicular e alterações posturais graves. Foram incluídos apenas idosos com DL não específica.

O estudo realizado foi transversal com uma amostra de idosos da comunidade, o que limita sua validade externa.

Conclusão

Os resultados deste estudo corroboram com outras evidências de que os escores mais altos de incapacidade funcional e sintomas depressivos podem ser encontrados em pacientes idosos com lombalgia. Uma vez que o nível de incapacidade funcional não se correlaciona com a intensidade da dor, sintomas depressivos podem ser tanto fatores de risco quanto consequência da dor lombar, e a prevalência da DL no sexo feminino pode ser explicada pelas suas características biomecânicas ou vista como uma informação. No entanto, é importante apontar que os profissionais envolvidos na assistência aos idosos devem estar atentos para avaliar, interpretar as correlações entre as condições clínicas e desenvolver estratégias multifocais para prevenir impactos negativos sobre a função física, mental, comportamental e social.

Em relação aos constructos dos instrumentos e medidas utilizados, o resultado do autorrelato no Perfil de Atividade Humana (PAH) foi influenciado pela capacidade de locomoção independente. Este estudo parece ser o primeiro que estabeleceu correlação clínica entre a dor lombar, os sintomas depressivos e a incapacidade funcional em idosos brasileiros, mostrando que o diagnóstico de sintomas depressivos em pacientes com dor lombar e uma análise dos fatores relacionados são essenciais para elaborar programas específicos de intervenção e eliminar esses fatores de risco, bem como promover ações de saúde.

Recebido: 27/05/2012

Received: 05/27/2012

Aprovado: 06/02/2013

Approved: 02/06/2013

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Set 2013

Histórico

  • Recebido
    27 Maio 2012
  • Aceito
    02 Jun 2013
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