Cartilha de orientação sobre o uso de equipamentos de proteção individual durante a pandemia de COVID-19: prevenindo lesões cutâneas faciais

Resumo

Introdução:

No ano de 2020, a saúde pública brasileira e mundial passou por dificuldades com a chegada da COVID-19, pandemia altamente transmissível por gotículas e contato, principalmente em locais fechados e ambientes hospitalares.

Objetivo:

Construir uma cartilha para informar os profissionais de saúde sobre o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e medidas preventivas para lesões cutâneas faciais durante a pandemia da SARS-CoV-2.

Métodos:

A pesquisa foi desenvolvida entre os meses de junho e setembro de 2020, seguindo as etapas: diagnóstico situacional, revisão da literatura junto às principais bases de dados de ciências da saúde, seleção e fichamento do conteúdo, elaboração dos textos, criação das ilustrações, diagramação da cartilha.

Resultados:

Após revisão da literatura, 26 artigos foram selecionados para a construção cartilha. O material foi elaborado pelos autores do presente artigo e revisado por profissional da área de biomedicina, com atuação em padronização de procedimentos e inovações em lesões teciduais. A versão final da cartilha contém quatro capítulos e três algoritmos, sendo um com orientações passo a passo sobre paramentação, um sobre desparamentação e um contendo as medidas preventivas para lesões causadas pelo uso de EPIs.

Conclusão:

Após revisão interativa da literatura foi possível construir uma cartilha que oferece fundamentação teórica e prática aos profissionais de saúde quanto ao emprego de técnicas de paramentação e desparamentação, possibilitando a prevenção de lesões faciais e de infecção por COVID-19.

Palavras-chave:
Infecções por coronavírus; Promoção da saúde; Equipamento de proteção individual; Lesão por pressão

Abstract

Introduction:

In the year 2020, Brazilian and global public health systems were overwhelemend by COVID-19, a pandemic highly transmissible by droplets and contact, mainly in enclosed areas and hospital environments.

Objective:

Create a booklet to instruct health professionals on the use of personal protective equipment (PPE) and preventive measures for facial skin injuries during the SARS-CoV-2 pandemic.

Methods:

The study was conducted from June to September 2020, adopting the following steps: situational diagnosis; literature review of the main health science databases; content selection and survey; drafting texts; creating illustrations; and diagramming the manual.

Results:

After the literature review, 26 articles were selected for the booklet. The material was prepared by the authors of this article and reviewed by a professional in the biomedical field, with expertise in standardizing procedures and tissue injury innovations. The final version contains four chapters and three algorithms, one with step-by-step instructions on donning PPE, one on removal and one containing preventive measures for PPE-related injuries.

Conclusion:

After an interactive review of the literature, a booklet was created that provides theoretical and practical foundations for health professionals on PPE donning and removal techniques, with a view to preventing facial injuries and COVID-19 infection.

Keywords:
Coronavirus infections; Health promotion; Personal protective equipment; Pressure ulcer

Introdução

Em 2020, a saúde pública brasileira e mundial passou por dificuldades com a chegada da pandemia de COVID-19. No mês de janeiro do mesmo ano, a Organização Mundial da Saúde declarou a situação como emergência em saúde pública de interesse internacional.^1,2 A COVID-19 é altamente transmissível por gotículas e contato, principalmente em locais fechados e ambientes hospitalares.^2,3O uso de equipamento de proteção individual (EPI) é necessário para evitar que profissionais da saúde sejam contaminados e disseminem a doença a outros indivíduos,⁴ porém é preciso também atentar-se para lesões causadas pelo uso destes equipamentos.

EPIs são todos os dispositivos que os profissionais da saúde devem utilizar durante a assistência aos pacientes com doenças infectocontagiosas, incluindo luvas, protetores oculares ou faciais, máscara, aventais e touca. De uso individual, são destinados a proteger a integridade física do profissional.

Com frequência a mídia anuncia que profissionais da saúde foram infectados pela COVID-19 e desenvolveram lesões por pressão devido ao uso inadequado e continuado de EPIs.⁵ Alguns cooperadores da saúde relatam que a instituição onde trabalham oferece EPIs, porém não oferece reciclagem relacionada à técnica da paramentação e desparamentação e protocolos de como estes profissionais devem prestar assistência aos pacientes com COVID-19.⁵

No Brasil, segundo recomendação do Ministério do Trabalho e Emprego, os empregadores são obrigados a fornecer EPIs adequados à minimização dos riscos aos quais os profissionais estão expostos, bem como realizar, no momento da admissão e periodicamente, programas de treinamento quanto à correta utilização desses equipamentos.^6-9 O investimento pelas institui-ções hospitalares na capacitação e treinamento dos profissionais da saúde quanto à utilização adequada dos EPIs e assistência aos indivíduos com COVID-19 torna-se eficaz para evitar contaminação e prevenir a lesão por pressão causada pelo uso de EPIs.⁹

No mês de abril de 2016, o Nacional Pressure Ulcer Advisory Panel anunciou uma mudança na terminologia de úlcera por pressão para lesão por pressão, e também incluiu lesão por pressão relacionada a dispositivo médico (LPRDM). Esta lesão resulta do uso de dispositivos concebidos e aplicados para fins de diagnóstico ou terapêutico e surge quando o profissional utiliza os EPIs e sofre lesão durante o uso.^10-13

O uso prolongado ou incorreto de máscaras, óculos e protetores faciais é responsável pelas forças de fricção e pressão constantes nos tecidos, levando os profissio-nais a sofrerem lesões.^11,12

A prestação da assistência de enfermagem para a prevenção de LPRDM deve ser realizada por meio de exame físico diário da pele, retirada e colocação dos dispositivos de modo a reduzir as forças físicas (fricção, cisalhamento) sem alterar a capacidade de segurança dos EPIs. Pode-se, assim, reduzir o impacto nos tecidos e melhorar a capacidade de resposta da pele às agressões,^10,13 sendo necessário que as instituições desenvolvam protocolos, manuais, cartilhas e folhetos e treinem seus profissionais quanto à técnica correta de paramentação e desparamentação de EPIs.

Estudos relatam que materiais didáticos fazem com que profissionais, pacientes e cuidadores melhorem seus conhecimentos, tenham satisfação, aceitação e adesão ao tratamento e a ações preventivas, proporcionando o processo de ensino-aprendizagem por meio de interações entre o profissional e o paciente.^14-16Nesse sentido, são importantes a construção e a validação de ferramentas educativas, incluindo manuais, cartilhas e protocolos, que ofereçam aos profissionais informações apropriadas sobre as técnicas do uso da EPIs e das ações preventivas e condutas terapêuticas para LPRDM.

Acredita-se que a utilização da cartilha desenvolvida neste estudo contribui com a educação em saúde dos que estão na linha de frente da COVID-19, oferecendo informações sobre o uso de EPIs e sobre as medidas preventivas para lesões causadas pelo uso desses equipamentos. Desta forma, o profissional estará prestando uma assistência com maior segurança para o paciente e para si mesmo.

Métodos

Trata-se de um estudo descritivo, que teve como objetivo construir uma cartilha para orientar os profissio- nais de saúde no uso da técnica de paramentação e desparamentação de EPIs e quanto às medidas preventivas para lesões cutâneas durante a pandemia da SARS-CoV-2. O processo de construção da cartilha educativa foi desenvolvido conforme as seguintes fases: diagnóstico situacional, levantamento do conteúdo, formulação e montagem da cartilha educativa (Figura 1).^14-16

Figura 1
Processo de construção da cartilha "Equipamentos de proteção individual, durante a pandemia pela COVID-19: prevenindo as lesões de pele". Pouso Alegre, MG, Brasil, 2020.

Primeira etapa: Diagnóstico situacional

A ideia de escrever esta cartilha sugiu a partir de observações feitas na prática clínica, pois alguns profissionais trabalhando na linha de frente contra a pandemia de COVID-19 têm dificuldade na utilização correta de EPIs. Se tais procedimentos não forem executados corretamente, o profissional estará em risco, com possibilidade de contaminar-se e desenvolver LPRDM.

Segunda etapa: Levantamento do conteúdo

Para a construção da cartilha, realizou-se uma revisão integrativa da literatura nas bases de dados das ciências da saúde, incluindo PubMed, SciELO e LILACS, publicada entre 2015 e 2020.¹⁷ Foram utilizados os descritores COVID-19, lesão por pressão relacionada a dispositivo médico, equipamentos e provisões, e os termos correspondentes em português, inglês e espanhol. A estratégia de busca para cada idioma foi determinada pela combinação dos descritores selecionados e o operador booleano "AND", conforme os exemplos: COVID-19 AND pandemias, lesão por pressão relacionada a dispositivo médico AND equipamentos e provisões.

Identificaram-se, inicialmente, 12.535 artigos; destes, 4.523 foram excluídos por estarem duplicados nas bases de dados. Desta forma, foram selecionados 8.012 artigos para leitura do título e 163 para a leitura do resumo, que resultou em uma amostra de 112 artigos para a leitura do texto completo. Destes, 51 foram excluídos por não responderem à questão orientadora, o que culminou em 26 artigos eleitos¹⁷para construir a cartilha.

A partir desse levantamento,¹⁷ elaborou-se a cartilha educativa, que compreende uma sequência descrita em três fases. Na primeira fase foi elaborada a definição (pandemia, SARS-CoV-2, COVID-10), etiqueta respiratória, sinais e sintomas do SARS-CoV-2. Na segunda, fez-se a descrição da definição de EPIs, tipos utilizados pelos profissionais de saúde, técnica de uso e recomendações sobre o uso na abordagem do paciente com COVID-19 conforme o tipo de atendimento pelo profissional de saúde. Na terceira fase, construíram-se a definição de lesão por pressão por dispositivo médico, a descrição das medidas para prevenir lesão causada pelo uso dos EPIs e os cuidados com a pele antes e depois do uso de tais equipamentos.

Terceira etapa: Formulação/montagem da cartilha

As ilustrações e o conteúdo preliminar foram desenvolvidos e submetidos ao processo de edição e diagramação, obedecendo a critérios relativos ao conteúdo, estrutura/organização, linguagem, layout e design, sensibilidade cultural e adequação ao público idoso. Esse processo foi executado por profissional com experiência na área.

As imagens foram selecionadas da internet e, em seguida, convertidas em desenho e trabalhadas no programa Corel Draw®, versão 17, originando a primeira versão da cartilha, a qual foi elaborada no período de agosto a outubro de 2020.

Resultados

O material foi revisado por profissional da área de biomedicina (Fernandes ART), com atuação em padronização de procedimentos e inovações em lesões teciduais. A versão final da cartilha, intitulada “Equipamentos de proteção individual durante a pandemia pela COVID-19: prevenindo as lesões de pele”, contém quatro capítulos e três algoritmos, sendo um com orientações passo a passo sobre paramentação, um sobre desparamentação e um contendo as medidas preventivas para lesões causadas pelo uso de EPIs. Optou-se pela formatação padrão (21 cm de altura por 15 cm de largura), com cada página contendo até cinco ilustrações, totalizando 201 ilustrações e 63 páginas.

No capítulo 2, "Pandemia pela infecção pelo SARS CoV-2", os seguintes temas são abordados: definição (pandemia, SARS-CoV-2, COVID-10), etiqueta respiratória, sinais e sintomas do SARS-CoV-2. No capítulo 3, "Uso de equipamento de proteção individual pelos profissionais de saúde", são descritos os tipos de EPIs utilizados pelos profissionais de saúde (Figura 2), técnicas de paramentação e desparamentação (Figura 3), e recomendações sobre o uso dos EPIs na abordagem de pacientes com COVID-19 conforme o tipo de atendimento. Já no capítulo 4, "Lesões por dispositivos médicos durante a pandemia pelo SARS CoV-2", aborda-se a definição de LPRDM (Figura 4), medidas para prevenir a formação de tais lesões, cuidados com a pele antes e depois do uso dos EPIs, e os dispositivos utilizados para prevenir e tratar as lesões decorrentes do uso destes equipamentos (Figura 5).

Figura 2
Tipos de EPIs utilizados pelos profissionais da saúde, conforme Norma 02/2020.¹⁸

Figura 3
Informações sobre a forma correta de guardar a máscara N-95 e técnica de uso da touca.

Figura 4
Lesões por dispositivos médicos durante a pandemia de COVID 19.

Figura 5
Prevenção de lesão por pressão relacionada a dispositivo médico.

Discussão

A cartilha foi construída após revisão integrativa da literatura e os artigos identificados¹⁷ durante a revisão reportam estudos baseados em evidências. Da análise do material bibliográfico, conclui-se que este instrumento é de grande valia para os profissionais de saúde, uma vez que apresenta subsídios necessários para promover a segurança no ambiente de trabalho.

A cartilha ora tratada fornece orientações para que o profissional que está na linha de frente no atendimento às pessoas com COVID-19 proteja-se da contaminação do vírus, ao mesmo tempo em que evita transmitir a infecção para outros pacientes sob seus cuidados. Outro importante valor desse instrumento é orientar sobre a prevenção de lesões causadas pelo uso de EPIs.

Vários estudos relatam que os manuais, cartilhas e protocolos devem ser construídos após revisão da literatura; assim, o profissional estará desenvolvendo um material educativo baseado em subsídios científicos, facilitando a implementação da prática clínica e a prestação da assistência sistematizada, individualizada e personalizada, com menor risco e danos ao paciente e sem eventos adversos.^12,13,19,20

O material escrito reforça as informações e discussões orais e ajuda nas decisões clínicas. As tecnologias educativas, seja qual for a situação clínica, melhoram o conhecimento e a satisfação dos usuários. O seu conteúdo deve ter vocabulário simples, claro e de fácil compreensão.^21,22

Acredita-se que o material desenvolvido neste estudo traz benefícios ao profissional da saúde, pois foi construído com linguagem clara e objetiva. Também oferece itens que ajudam o profissional a utilizar as técnicas corretas de paramentação e desparamentação dos EPIs, e orienta sobre os cuidados à pele antes e após o uso de tais equipamentos.

Conclusão

Após revisão integrativa da literatura, desenvolveu e construiu-se a cartilha “Equipamentos de proteção individual durante a pandemia pela COVID-19: prevenindo as lesões de pele”, que oferece fundamentação teórica e prática aos profissionais de saúde e contribui para a padronização da técnica de paramentação e desparamentação, possibilitando que os profissionais se previnam contra lesões faciais e evitem serem infectados pela COVID-19, resultando em melhoria da assistência individualizada e personalizada.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Aline Rodrigues Tenório Fernandes pela revisão do material apresentado na cartilha, como também a colaboração dos profissionais Cristiane Reis da Silva Costa, José Dias da Silva Neto, Lucilene Marques e Sergio Aguinaldo de Almeida.

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Editado por

Editora associada:

Janice Luisa Lukrafka Tartari

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  02 Jun 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  18 Fev 2021
• Revisado
  15 Abr 2021
• Aceito
  19 Abr 2021