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Fisioterapia em obstetrícia pelos olhos das gestantes: um estudo qualitativo

Resumo

Introdução:

A fisioterapia em saúde da mulher é uma área que surgiu com o objetivo de promover e manter a saúde física e emocional do início ao final da gestação, exercendo um trabalho preventivo para os possíveis agravos que venham a ocorrer durante a gestação, parto e puerpério. O acesso ao conhecimento das gestantes sobre a atuação do fisioterapeuta na área de obstetrícia vem aumentando a cada dia e isso pode contribuir para uma procura por profissionais capacitados.

Objetivo:

Analisar a percepção das gestantes sobre a atuação da fisioterapia em obstetrícia.

Métodos:

Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, realizado no centro Materno Infantil, em Capanema, PR, configurado na forma de entrevista semiestruturada. Utilizou-se análise do conteúdo por meio do método de Bardin para categorizar os eixos temáticos.

Resultados:

Foram incluídas sete gestantes com idade entre 18 e 24 anos (57%), 23-32 semanas de gestação (42%), multigestas (71%), com ensino médio (42%) e renda de 1 a 3 salários mínimos (86%). Verificou-se que o contato com a fisioterapia é somente imaginável, porque nenhuma das participantes do estudo acessou esse desdobramento das políticas de saúde da mulher gestante. As gestantes afirmaram que o profissional de fisioterapia atua promovendo a diminuição da dor durante o trabalho de parto, porém não possuem conhecimento sobre como o fisioterapeuta atua no puerpério.

Conclusão:

Conclui-se que é necessário ampliar a informação sobre a atuação do fisioterapeuta durante o pré-natal, parto e pós-parto.

Palavras-chave:
Parto; Obstetrícia; Fisioterapia; Período pós-parto; Pré-natal.

Abstract

Introduction:

Physiotherapy in women's health emerged with the aim of promoting and maintaining physical and emotional health from the beginning to the end of pregnancy, through preventive measures against possible injuries that may occur during pregnancy, childbirth and the postpartum. Access to knowledge about obstetric physiotherapy among pregnant women is increasing, which may contribute to a search for trained professionals.

Objective:

To analyze the perception of pregnant women about obstetric physiotherapy.

Methods:

This is a qualitative study carried out at the Materno Infantil Center, in Capanema, Parana state (PR), using a semistructured interview. Content analysis used the Bardin method to categorize the thematic axes.

Results:

Seven pregnant women aged between 18-24 years (57%), 23-32 weeks of gestation (42%), multiparous (71%), with secondary education (42%) and income between 1-3 monthly minimum wages (86 %) were included in the study. It was found that participants’ perception of physiotherapy was inaccurate, because none of the women had accessed this treatment. The women stated that physiotherapists reduce labor pain, but they have no knowledge of how these professionals work in the postpartum.

Conclusion:

It is concluded that it is necessary to increase information on the contribution of physiotherapists during prenatal care, delivery and postpartum.

Keywords:
Childbirth; Obstetrics; Physical therapy; Postpartum period; Prenatal.

Introdução

A fisioterapia em obstetrícia é uma das áreas na saúde da mulher que surgiu com o objetivo de promover e manter a saúde física e emocional do início ao final da gestação, exercendo um trabalho preventivo para os possíveis agravos que podem ocorrer durante a gestação e após o parto.11 Lemos A. Fisioterapia obstétrica baseada em evidências. Rio de Janeiro: MedBook; 2014. 452 p. Essa especialidade foi reconhecida em 2009 e regulamentada pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) em 2011.22 COFFITO. Resolução n°. 401/2011 de 18 de agosto de 2011. Disciplina a Especialidade Profissional de Fisioterapia na Saúde da Mulher e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União; 24 nov 2011. Full text link

O profissional possui conhecimento técnico e científico específicos e aprofundados para o cuidado à saúde da população feminina que vão muito além das questões meramente reprodutivas, buscando incorporar um olhar voltado à integralidade e aos aspectos socioculturais e inserindo-se como um membro da equipe de saúde.33 Baracho E. Fisioterapia aplicada à saúde da mulher. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. 464 p.

Entende-se que para uma boa assistência na preparação da mulher para todas as fases do ciclo gravidíco-puerperal é relevante e necessário o conhecimento e aprofundamento do fisioterapeuta, englobando sua atuação no âmbito científico e na educação em saúde com enfoque na promoção à saúde.44 Logsdon NT. Uma visão diferenciada da fisioterapia obstétrica através da elaboração de um novo plano de ensino [master´s thesis]. Volta Redonda: UniFOA; 2010.

A assistência ao pré-natal, parto e puerpério tem tido um enfoque sob uma nova ótica. A atuação multidisciplinar de preparo para o parto tem sido caracterizada pelas abordagens psicossociais ao casal. Esses procedimentos estão se tornando cada vez mais comuns para as mulheres que buscam uma gestação saudável e, consequentemente, tornando-se muito procurados.55 WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience. Genebra: World Health Organization; 2018. 200 p. Full text link Há importantes evidências científicas disponíveis consubstanciando os efeitos de funções fisioterapêuticas voltadas à prevenção de doenças e desconfortos da gestação, alívio da dor, progressão do trabalho de parto e reabilitação no pós-parto.11 Lemos A. Fisioterapia obstétrica baseada em evidências. Rio de Janeiro: MedBook; 2014. 452 p.,33 Baracho E. Fisioterapia aplicada à saúde da mulher. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. 464 p.,66 Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia. São Paulo: Santos; 1993. 422 p.,77 Lawrence A, Lewis L, Hofmeyr GJ, Styles C. Maternal positions and mobility during first stage labour. Cochrane Database Syst Rev. 2013;(10):CD003934. DOI

Apesar de todas as evidências disponíveis na literatura, poucos estudos nacionais investigaram este tema e o conhecimento das mulheres acerca da atuação da fisioterapia em obstetrícia ainda é limitado. Identificar qual o conhecimento destas mulheres sobre a atuação do fisioterapeuta na gestação, parto e no pós-parto, permitirá organizar novas políticas de saúde e demandas que ajudarão na elaboração de novas condutas, bem como na implantação de mais fisioterapeutas nas maternidades. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi analisar a percepção das gestantes sobre a atuação da fisioterapia em obstetrícia.

Métodos

Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, no qual foi aplicada uma entrevista semiestruturada a respeito do conhecimento da atuação da fisioterapia na área de obstetrícia. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da União de Ensino do Sudoeste do Paraná (CAAE: 2991590618.1.00005230).

A coleta dos dados foi realizada no período com-preendido entre os meses de agosto e setembro de 2018. Os critérios de elegibilidade foram: estar grávida, idade de 18 a 45 anos e ser atendida pelo Centro Materno Infantil (CMI) da cidade de Capanema, PR, o qual é especializado no atendimento de mulheres, gestantes e crianças.

A população foi composta por sete gestantes, número obtido pelo método de saturação de respostas. Segundo Fontanella et al.,88 Fontanella BJB, Ricas J, Turato ER. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad. Saúde Pública. 2008; 24(1):17-27 DOI tal método é utilizado quando as informações fornecidas pelos novos participantes da pesquisa pouco acrescentariam ao material já obtido, não mais contribuindo significativamente para o aperfeiçoamento da reflexão teórica fundamentada nos dados que estão sendo coletados.

Inicialmente, as gestantes presentes no CMI foram convidadas a participar da pesquisa; em seguida, coletou-se a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, no qual estavam descritos todos os procedimentos realizados na pesquisa, assim como seus riscos, desconfortos, benefícios e garantia de confiabilidade dos dados. Todas as mulheres que manifestaram interesse em participar correspondiam aos critérios de elegibilidade. As demais gestantes presentes na sala de espera do CMI não manifestaram interesse em participar da pesquisa. A seguir, aplicou-se o formulário de avaliação contendo os dados socioeconômicos, sociodemográficos, clínicos e as características da gestação.

A entrevista semiestruturada com as gestantes, realizada utilizando gravador, foi norteada pelas seguintes perguntas: “Você tem algum conhecimento sobre a fisioterapia para gestantes? Você sabe o que a fisioterapia faz durante o pré-natal, parto e pós-parto?” O roteiro para esse tipo de entrevista tem como finalidade direcionar a interlocução e deve ser construído de modo que permita flexibilidade nas “conversas” e absorção de novos temas e questões interpostos pelo interlocutor, constitutivos de sua estrutura de relevância. Dessa maneira, deseja-se que a linguagem do roteiro provoque várias narrativas da vivência para que o entrevistador possa analisar e interpretar as falas do entrevistado que emitam sua visão e relações sociais.99 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2009.

Após o término das entrevistas, as gestantes foram beneficiadas com orientações e informações a respeito da atuação da fisioterapia na área de obstetrícia a fim de melhorar a qualidade das informações, ampliando, assim, o conhecimento das mesmas.

A análise e discussão dos dados coletados foram realizadas através do método Bardin.99 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2009. Este método é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, sendo a análise dos resultados decorrente de testes de associação de palavras. Partindo dos depoimentos das gestantes, as falas foram transcritas em forma de texto.

Resultados

A população foi composta por sete gestantes. A fim de facilitar a leitura, construiu-se uma tabela para caracterizar os dados da amostra (Tabela 1).

Tabela 1
Dados pessoais e obstétricos das gestantes (n = 7)

O eixo temático norteador para a composição das entrevistas foi a “fisioterapia pelos olhos das gestantes”, identificado por meio de expressões-chave contidas nas ideias centrais de cada fala. Em seguida, ideias centrais equivalentes, semelhantes ou complementares foram reunidas em uma mesma categoria, organizando o conteúdo de forma sequencial, das ideias mais gerais às mais particulares, utilizando-se de conectivos para conferir coerência entre as partes e eliminar ideias repetidas. Cada entrevista forma um todo único e singular, mas comparável em certa medida, tratando-se de um discurso dinâmico, não estático.

Fisioterapia pelos olhos das gestantes

Todas as gestantes responderam que nunca prati-caram ou foram atendidas por profissional da fisioterapia. Afinidades e angústias foram fracionadas e sintetizadas por eixos secundários ao eixo principal e fragmentadas com base no ciclo gestacional. Instigadas quanto à aproximação com a fisioterapia no pré-natal, as gestantes narraram:

Tipo, fisioterapia, eu acredito que alguns tipos de exercícios estimulam pra hora do parto, acho que é isso. (Gestante 5)

Não sei se tem alguma coisa a ver... pilates, essas coisas assim… (Gestante 7)

Então, acho que na verdade, prepara o corpo, né? (Gestante 1)

Não sei ao certo o que a fisioterapia faz, mas acho que é ensinar pro parto normal, pra incentivar, não sei, pra se ter um parto mais natural… (Gestante 2)

Ah, acho que ajuda né... quem quer ter parto normal… (Gestante 4)

Ah, eu acho que... como posso dizer... ajuda preparar pro parto a posição... desde sentir a dor... de como andar... aliviar essa dor... essas coisas… (Gestante 6)

Para as gestantes entrevistadas, lê-se que em suas experiências o contato com a fisioterapia é somente imaginável, porque nenhumas delas acessou esse desdobramento das políticas de saúde da mulher gestante. Ainda assim, sobressai-se uma vaga ideia de que a fisioterapia acarretaria em alívio de dores, como será explorado adiante.

Sobre o processo de parturição, foram reveladas preocupações em relação ao o que fazer para que o trabalho de parto fosse menos dolorido. A respeito da atuação da fisioterapia, as gestantes acreditam que o fisioterapeuta atua diretamente neste contexto, promovendo a diminuição da dor durante o trabalho de parto.

(...) Vocês devem ajudar, vocês devem saber posições, alguma coisa pra ajudar na hora do parto, porque assim... a gente sabe que a gente vai sentir muita dor, mas não sabemos o que fazer, tu não sabe se tu fica acocada ou o que tu faz ou caminha ou tu corre, tu não tem noção (...) então essa parte é mais preocupante. Isso é minha maior preocupação. Eu sei que vou sentir bastante dor, mas não sei que posição fazer que me ajude ou alivie ou quando tiver bastante contração, que que eu faço? Eu não sei o que que eu faço porque a gente não sabe, entendeu? (Gestante 1)

Acho que poderia ajudar lá, na hora, se for normal né, ajudar tipo, fazer algum tipo de força que estimule o neném a sair mais rápido … (Gestante 5)

Olha, eu nunca vi da fisioterapia... mas eu acho na respiração ali, preparar né... e a posição tudo... acho que tudo isso ajuda... eu imagino que deve ser isso (...) acho que alguns exercícios né, umas dança pra descontrair, né, a gente... umas dançando pra relaxar... exercícios ajudam... a gente vê no Facebook... (Gestante 6)

Ao final, as gestantes foram questionadas sobre o papel da fisioterapia no pós-parto:

(...) Na verdade eu acho que se você preparar antes vai ser mais rápida a recuperação, mas assim, exatamente o que faz, eu não sei. (Gestante 1)

No pós parto... não sei... acho como o parto normal ele é mais assim, sei lá, como posso falar... depois que o nenê saiu, tu já está mais tranquila... não sei... na verdade, não tenho ideia... (Gestante 2)

Ah, daí eu acho que não... não sei, não tenho conhecimento... mas não faço ideia. (Gestante 7)

Discussão

Neste campo, resta distribuir analiticamente as percepções, ressaltando os elementos cognitivos expressos nas narrativas, a começar pela primeira questão: a proximidade com a fisioterapia, com a qual todas as gestantes alegaram nunca terem tido contato. Em relação à atuação obstétrica do fisioterapeuta, preconizam-se ações educativas com enfoque em pro-moção e prevenção em saúde no pré-natal, prescrição e aplicação de técnicas e recursos fisioterapêuticos de analgesia durante o parto, atuação em sala de pré-parto, enfermaria de parturientes, obstétrica e puérpera, realização de orientações e auxílio ao aleitamento materno.22 COFFITO. Resolução n°. 401/2011 de 18 de agosto de 2011. Disciplina a Especialidade Profissional de Fisioterapia na Saúde da Mulher e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União; 24 nov 2011. Full text link

Nota-se, por meio da análise das falas das gestantes, a associação da fisioterapia com exercícios físicos, os quais realmente estão relacionados com a atuação fisioterapêutica. A prática de exercícios físicos durante o período gestacional se faz de extrema importância para promover saúde, prevenir agravos e tratar de possíveis disfunções causadas pelas adaptações gestacionais.1010 ACOG Committee Opinion No. 650: Physical activity and exercise during pregnancy and postpartum period. Obstet Gynecol. 2015;126(6):e135-42. DOI

A fisioterapia em obstetrícia atua por meio do incentivo ao movimento ativo do corpo da mulher, o que traz diversas repercussões positivas para a mãe e o bebê. Alguns dos benefícios da atuação da fisioterapia durante a gestação são: redução da dor lombar, melhora da resistência e flexibilidade muscular, redução do estresse cardiovascular, auxílio no controle de peso, redução do risco de diabetes gestacional, prevenção de distúrbios do assoalho pélvico, diminuição da incidência de incontinência urinária durante a gestação e puerpério, diminuição da percepção das dores do parto e redução do edema e câimbras; para o feto, auxilia na redução da adiposidade, aumenta a tolerância ao estresse e esforço e auxilia na maturação neurocomportamental avançada.77 Lawrence A, Lewis L, Hofmeyr GJ, Styles C. Maternal positions and mobility during first stage labour. Cochrane Database Syst Rev. 2013;(10):CD003934. DOI,1111 Mazzoni A, Althabe F, Liu NH, Bonotti AM, Gibbons L, Sánchez AJ, et al. Women’s preference for caesarean section: a systematic review and meta-analysis of observational studies. BJOG. 2011;118(4):391-9. DOI

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Percebe-se, pela análise dos relatos, que as gestan-tes relacionam a atuação da fisioterapia com o parto vaginal. Realmente, a fisioterapia durante o pré-natal possui como um de seus objetivos preparar o corpo da gestante para o parto.11 Lemos A. Fisioterapia obstétrica baseada em evidências. Rio de Janeiro: MedBook; 2014. 452 p.,33 Baracho E. Fisioterapia aplicada à saúde da mulher. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. 464 p. A preparação ocorre por meio de exercícios físicos específicos para cada período gestacional, exercícios respiratórios e de relaxamento, treinamento dos músculos do assoalho pélvico, além de orientações e posturas para prevenir e tratar as possíveis dores e disfunções causadas pelas adapta-ções musculoequeléticas, biomecânicas, geniturinárias, respiratórias e cardiovasculares. É importante ressaltar que independente da via de nascimento escolhida pela gestante, a fisioterapia possui importante atuação durante o pré-natal.1414 Mørkved S, Bø K, Schei B, Salvesen KA. Pelvic floor muscle training during pregnancy to prevent urinary incontinence: a single-blind randomized controlled trial. Obstet Gynecol. 2003;101(2):313-9. DOI

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A preocupação das gestantes em relação à dor do trabalho de parto e a como lidar com essa situação é bastante relevante. Sabe-se que a dor durante o trabalho de parto é uma resposta fisiológica das contra-ções uterinas, sendo ela complexa e subjetiva; ou seja, cada parturiente a sente de uma determinada forma. É também multifatorial, relacionando-se com fatores biopsicossociais. O fisioterapeuta é um dos profissionais mais capacitados para atuar durante o trabalho de parto, por dominar os movimentos articulares, musculares e biomecânicos e por estudar os métodos não farmacológicos de alívio da dor no parto.77 Lawrence A, Lewis L, Hofmeyr GJ, Styles C. Maternal positions and mobility during first stage labour. Cochrane Database Syst Rev. 2013;(10):CD003934. DOI,1717 Delgado A, Oliveira PDNF, Góes PSA, Lemos A. Development and analysis of measurement properties of the "maternal perception of childbirth fatigue questionnaire" (MCFQ). Braz J Phys Ther. 2019;23(2):125-31. DOI

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É por meio de métodos não farmacológicos para o alívio da dor que a fisioterapia atua. Os métodos que possuem maiores evidências científicas são: massagens, transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS), acupuntura, termoterapia, suporte contínuo durante o trabalho de parto, exercícios respiratórios e cinesioterapia com posturas e movimentos pélvicos que auxiliam na descida do bebê.77 Lawrence A, Lewis L, Hofmeyr GJ, Styles C. Maternal positions and mobility during first stage labour. Cochrane Database Syst Rev. 2013;(10):CD003934. DOI,1313 Delgado A, Maia T, Melo RS, Lemos A. Birth ball use for women in labor: A systematic review and meta-analysis. Complement Ther Clin Pract. 2019;35:92-101. DOI,2020 Canesin KF, Amaral WN. Atuação fisioterapêutica para diminuição da dor do trabalho de parto: revisão de literatura. Femina. 2010;38(8):429-33. Full text link

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A falta de conhecimento sobre quais posturas adotar durante o trabalho de parto reflete a importância do fisioterapeuta durante o pré-natal. Demonstrando e explicando para que serve cada postura e exercício e como eles funcionam, as gestantes poderão escolhê-los conscientemente de acordo com suas necessidades e avaliação da condição obstétrica pelo fisioterapeuta.11 Lemos A. Fisioterapia obstétrica baseada em evidências. Rio de Janeiro: MedBook; 2014. 452 p.,33 Baracho E. Fisioterapia aplicada à saúde da mulher. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. 464 p.

No pós-parto a fisioterapia atua na recuperação, prevenção e tratamento das alterações causadas pela gestação, além de fornecer orientações sobre as posições adequadas para amamentar, reeducar a função respiratória, incentivar alinhamento postural, estimular o sistema circulatório e intestinal, promover analgesia dos desconfortos causados pelo parto, proporcionar reeducação da musculatura do assoalho pélvico, incentivar deambulação precoce, tratar diástase abdominal e outras alterações musculoesqueléticas que a mulher apresentar.11 Lemos A. Fisioterapia obstétrica baseada em evidências. Rio de Janeiro: MedBook; 2014. 452 p.,33 Baracho E. Fisioterapia aplicada à saúde da mulher. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. 464 p.,2323 Beleza ACS, Carvalho GP. Atuação fisioterapêutica no puerpério. Rev Hispeci Lema On-Line. 2016;7(1). Full text link,2424 Silva JB, Doi GE, Silva LC, Feltrin MI, Zotz TGG, Korelo RIG, et al. Satisfação de puérperas após intervenção fisioterapêu-tica em educação em saúde. Saude e Pesqui. 2019;12(1):141-50. DOI

No Brasil, a atuação da fisioterapia na área de obstetrícia aos poucos vem ganhando espaço. A Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher (ABRAFISM) organiza uma campanha nomeada “Por mais Fisioterapeutas nas Maternidades”, a qual tem como objetivo subsidiar fisioterapeutas, conselhos profissionais, associações profissionais e gestores de saúde com informações referentes à campanha, por meio da divulgação do papel do fisioterapeuta nas maternidades, e contribuir para a ampliação e implementação em maternidades de serviços de fisio-terapia de alta qualidade, alinhados com os preceitos de humanização obstétrica e de trabalho em equipe, de modo a proporcionar níveis de excelência na assistência obstétrica durante a gravidez, parto e puerpério. No Piauí foi aprovado o primeiro projeto de lei que dispõe da obrigatoriedade de fisioterapeutas nas maternidades, uma grande conquista para garantir a assistência de qualidade às gestantes, parturientes e puérperas nas maternidades públicas e privadas.2525 Brasil. Lei nº 7.723 de 6 de janeiro de 2022. Dispõe/regulamenta sobre a permanência do profissional Fisioterapeuta nas maternidades públicas e privadas. Teresina: Governo do Estado do Piauí; 2022. Full text link

Por essas razões é provável que as experiências refletidas na pesquisa exerçam o imaginário com a associação da fisioterapia com exercícios físicos, os quais estão realmente relacionados com a atuação fisioterapêutica durante a gestação, parto e pós-parto.

Conclusão

Conclui-se que as respostas das gestantes apontam para a necessidade de ampliação da informação sobre a atuação do fisioterapeuta durante o pré-natal, parto e pós-parto. Entender o conhecimento das gestantes sobre a atuação do fisioterapeuta na área de obstetrícia permite uma reflexão sobre condutas e protocolos fisio-terapêuticos atualmente existentes, além de favorecer o desenvolvimento de políticas públicas por meio de boas evidências científicas, impactando positivamente a saúde pública.

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Editado por

Editora associada: Maria Augusta Heim

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Set 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    02 Mar 2021
  • Revisado
    21 Ago 2022
  • Aceito
    24 Ago 2022
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