Acessibilidade / Reportar erro

EDITORIAL

Na presente edição de Psicologia Clínica - a cargo da Linha de Pesquisa Família e Casal: Estudos Psicossociais e Psicoterapia -, o tema abordado é o da "Conjugalidade, parentalidade e gênero", abrigando estudos e pesquisas relacionados a estes três tópicos, tão relevantes para a constituição das famílias de hoje. Inicialmente, no trabalho intitulado Casais que trabalham e são felizes: mito ou realidade, Giovana Perlin e Gláucia Diniz (UnB) analisam a satisfação no casamento de homens e mulheres que optaram por trabalharem fora de casa (duplo trabalho), com - digamos - boas notícias no quesito satisfação na conjugalidade e perspectivas de investimento e comprometimento, a par das desigualdades de gênero ainda existentes, principalmente no que diz respeito à divisão do trabalho doméstico. Maria Consuêlo Passos (PUC-SP, UNIMARCO) debruça-se sobre a parentalidade entre homossexuais (Homoparentalidade: uma dentre outras formas de ser família), apontando para o fato de que essa modalidade de família apresenta significativas mudanças nas relações conjugais e parentais, "uma vez que nega o paradigma do qual se origina a família: a diferenciação sexual". Questões afins, relativas ao desejo de ter filhos, são igualmente discutidas pela autora.

Maria de Fátima Araújo (UNESP) se propõe - como diz o título Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate - rever os estudos voltados para a questão de gênero. O impacto do feminismo, da crise da masculinidade e a mudança do pano de fundo socioeconômico e cultural são por ela analisados e sinalizam uma perspectiva positiva no que diz respeito a mudanças em direção a relações intergêneros mais democráticas e igualitárias, com o devido respeito ao "direito à igualdade" e "o respeito à diferença" - mais um trabalho que acena para a possibilidade de um "final feliz".

A antropóloga Mirian Goldenberg (IFCS-UFRJ), em Gênero e corpo na cultura brasileira, avança nos debates sobre gênero a partir de dados coletados em pesquisa realizada com mais de 1000 entrevistados de ambos os sexos, de camadas médias, complementada pela análise de jornais e revistas nacionais. A atual obsessão com o corpo é então avaliada em contraponto a outras questões relacionadas às diferentes percepções de homens e mulheres com relação aos papéis de gênero.

Os provérbios constituem-se como o objeto maior de estudos do interessante e original trabalho levado a cabo por Paulo Rogério Meira Menandro, Rafaela Kerckhoff Rölke e Milena Bertollo (UFES), denominado Concepções sobre relações amorosas / conjugais e sobre seus protagonistas: um estudo com provérbios. Segundo os autores, os provérbios, por conterem informações culturalmente relevantes, endossados pelas sociedades que os fazem circular, são ricas fontes de informações, ainda mais quando diante da limitação de registros documentais. No trabalho em questão, mais de 500 provérbios foram analisados dentro de quatro grandes temas - amor, casamento e relações conjugais, homem, mulher - com resultados bastante interessantes.

A presente seção inclui ainda dois artigos voltados para a prática clínica. O primeiro deles - Família e conjugalidade: o sintoma dos filhos frente à imaturidade do casal parental, a cargo de Marina Fibe de Cicco, Maria Lucia S. C. Paiva e Isabel Cristina Gomes (IP-USP) - enfoca um caso clínico no qual a formação do sintoma infantil teria origem na imaturidade do casal parental. Sob um referencial winnicottiano e tendo nossa realidade social e econômica como pano de fundo, uma intervenção terapêutica se dá, segundo as autoras, no sentido de abrir espaço para a construção da parentalidade e também para a constituição de uma conjugalidade de fato, até então incipiente entre os membros do casal parental. O segundo trabalho, Resiliência familiar e conjugal numa perspectiva psicanalítica dos laços, vem da França: trata-se de um artigo enviado por Pierre Benghozi (Universidade de Paris V) que levanta dispositivos que permitam à família trabalhar sua capacidade de resiliência, a partir de uma abordagem psicanalítica.

Na seção livre, publicamos cinco trabalhos que enfocam quatro temas distintos. O primeiro, sobre a adolescência, é tratado em dois artigos. Um - Adolescência: efeitos da ciência no campo do sujeito -, escrito por Fernanda Costa Moura (IP-UFRJ), analisa a influência "da ciência sobre a linguagem como domínio a partir do qual o sujeito se constitui" como premissa para a abordagem de questões relacionadas à clínica psicanalítica com adolescentes; e o outro, de Ilana Andretta e Margareth da Silva Oliveira (PUC-RS), se propõe explorar a técnica da Entrevista Motivacional com adolescentes em situações de risco: uma espécie de tratamento ambulatorial, caracterizado como uma técnica breve realizada em de 1 a 5 sessões e que é empregada, principalmente, no caso de uso de drogas ilícitas, ou mesmo no uso de tabaco e álcool.

Uma outra questão, relacionada à contratransferência, é o tema central do trabalho Contratransferência do psicólogo coordenador de grupos, de Juliano Corrêa e Nedio Seminoti, igualmente docentes da PUC-RS. Aqui, sentimentos dos psicólogos em terapias de grupo de base analítica são analisados a partir de uma pesquisa com entrevistas semi-estruturadas, levadas a cabo com quatro profissionais que atuam como coordenadores de grupos abertos e realizadas em ambiente hospitalar. Os resultados obtidos, segundo os autores, contribuem para o maior entendimento de questões fundamentais para este tipo de prática clínica. O penúltimo estudo desta seção tem o curioso nome de Psicanálise é o nome de um trabalho. Desenvolvido por Luiz Augusto Celes (UnB), o texto volta-se para a busca do sentido originário e fundamental da psicanálise, discutindo basicamente a concepção inicial proposta por Freud acerca dos objetivos maiores de sua criação, entendida como um trabalho, um ato terapêutico.

Encerramos esta seção, publicando a segunda parte do trabalho de Mijolla-Mellor - Terrorismo, barbárie e desordem - sobre a relação entre terrorismo e a barbárie, tomando o fenômeno da crueldade a partir do mecanismo de desidentificação como baseado em uma fantasia primordial de indiferença. Como comentado no editorial de nossa edição 17.1, "o terrorismo não seria, portanto, a tentativa de instauração de uma nova ordem, mas desestabilização daquela que existe".

Completa a presente edição, como de praxe, uma resenha, desta vez da obra Memória corporal e transferência: fundamentos para uma psicanálise do sensível, de Ivanise Fontes, e avaliada por Rebeca Nonato Machado e Monah Winograd, com considerações não só sobre a obra em questão, como também acerca de outros tópicos relativos a experiências traumáticas inscritas na memória corporal e ao modo de lidar com as mesmas.

Finalmente, como igualmente de praxe, publicamos uma lista das dissertações de mestrado e teses de doutorados defendidas em nossa instituição ao longo do segundo semestre de 2005, além, é claro, das normas de publicação da revista, notas sobre os autores, notas sobre o conselho editorial e a relação de pareceristas ad hoc que têm nos brindado com sua valiosa contribuição.

Bernardo Jablonski

Terezinha Féres-Carneiro

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Out 2006
  • Data do Fascículo
    2005
Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Rua Marquês de São Vicente, 225 - Gávea, 22453-900 - Rio de Janeiro - RJ, Tel.: (55 21) 3527-1185 / 3527-1186, Fax: (55 21) 3527-1187 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: psirevista@puc-rio.br