Resumo
Com a mais nova moda administrativa - a "gerência da qualidade total" (GQT) -, vemos reaparecer velhas técnicas de organização do trabalho e da produção, agora retocadas para servirem a esta ideologia gerencial que se pretende "humanista" e "democrática". Dentre as várias técnicas (algumas delas de comprovada utilidade), até mesmo a "padronização" de inspiração taylorista foi recuperada e "maquiada" para poder se adequar aos nobres princípios da qualidade total; no entanto, sem que se desse muita atenção para a contradição inerente a esta técnica de fundo positivista e reducionista, na medida em que ela procura enquadrar a complexa realidade de uma prática viva em normas ou padrões fixos. Neste artigo discute-se a validade e a efetividade da padronização do trabalho, nos moldes da GQT, confrontando-a com análises de situações reais. Após esclarecidos seus princípios essenciais e determinada sua filiação taylorista, é mostrado como o trabalho vivo se presta pouco á padronização, isto é, para ser verdadeiramente efetivo e criativo o trabalho deve necessariamente "transgredir" normas e padrões, instituindo sua própria lógica operativa, na medida em que o permite as relações sociais de produção vigentes. Pode-se, então, a partir deste confronto entre os objetivos da padronização e a realidade do trabalho, concluir pela ineficiência das práticas normativas, cujo caráter burocrático e burocratizante decorre do papel limitado que a atividade administrativa, em geral, desempenha no interior da totalidade social e de sua consciência deturpada sobre a natureza da produção e sobre a sua própria natureza. Ao contrário, ajusta relação entre "padrão" e "criação" não é apenas uma questão teórica mas também prática, que só pode ser resolvida no interior da livre organização dos produtores associados, condição indispensável para a auto-regulação da prática coletiva pelos próprios indivíduos que trabalham
qualidade total; padronização; ergonomia; trabalho vivo
Medida e desmedida: padronização do trabalho ou livre organização do trabalho vivo?
Francisco de Paula Antunes Lima
Departamento de Engenharia de Produção. Universidade Federal de Minas Gerais - Escola de Engenharia. R. Espírito Santo, 35, sala 715 - CEP: 30.160-030 - Belo Horizonte - MG
RESUMO
Com a mais nova moda administrativa - a "gerência da qualidade total" (GQT) -, vemos reaparecer velhas técnicas de organização do trabalho e da produção, agora retocadas para servirem a esta ideologia gerencial que se pretende "humanista" e "democrática". Dentre as várias técnicas (algumas delas de comprovada utilidade), até mesmo a "padronização" de inspiração taylorista foi recuperada e "maquiada" para poder se adequar aos nobres princípios da qualidade total; no entanto, sem que se desse muita atenção para a contradição inerente a esta técnica de fundo positivista e reducionista, na medida em que ela procura enquadrar a complexa realidade de uma prática viva em normas ou padrões fixos. Neste artigo discute-se a validade e a efetividade da padronização do trabalho, nos moldes da GQT, confrontando-a com análises de situações reais. Após esclarecidos seus princípios essenciais e determinada sua filiação taylorista, é mostrado como o trabalho vivo se presta pouco á padronização, isto é, para ser verdadeiramente efetivo e criativo o trabalho deve necessariamente "transgredir" normas e padrões, instituindo sua própria lógica operativa, na medida em que o permite as relações sociais de produção vigentes. Pode-se, então, a partir deste confronto entre os objetivos da padronização e a realidade do trabalho, concluir pela ineficiência das práticas normativas, cujo caráter burocrático e burocratizante decorre do papel limitado que a atividade administrativa, em geral, desempenha no interior da totalidade social e de sua consciência deturpada sobre a natureza da produção e sobre a sua própria natureza. Ao contrário, ajusta relação entre "padrão" e "criação" não é apenas uma questão teórica mas também prática, que só pode ser resolvida no interior da livre organização dos produtores associados, condição indispensável para a auto-regulação da prática coletiva pelos próprios indivíduos que trabalham.
Palavras-chave: qualidade total, padronização, ergonomia, trabalho vivo.
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- CAMPOS, V.F.Padronização de empresas. Belo Horizonte, Fundação Christiano Ottoni, 1992a
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
02 Dez 2010 -
Data do Fascículo
1994