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Modelos de programação estocástica no planejamento da produção de empresas moveleiras

Stochastic programming models in the production planning of furniture companies

Resumos

Esse trabalho aborda um problema de planejamento da produção típico de empresas moveleiras de pequeno porte, em que as demandas e os tempos de preparação dos estágios gargalos são variáveis aleatórias que podem ser aproximadas por um conjunto discreto e finito de cenários ponderados pelas correspondentes probabilidades de ocorrência. O problema com múltiplos cenários é modelado via programação estocástica de dois estágios com recurso. Para controlar a variabilidade dos custos de segundo estágio é proposto um modelo de recurso restrito que gera, progressivamente, um conjunto de soluções menos sensíveis às variações dos cenários, conforme a variabilidade é restringida a uma tolerância dada. Experiências numéricas indicam que, em muitas situações, não é muito dispendioso assegurar soluções aversas ao risco com bons níveis de serviço.

Planejamento da produção; Indústria moveleira; Programação estocástica; Aversão ao risco; Recurso restrito


This paper addresses a production planning problem that arises in small-scale furniture companies, where the demands and setup times of bottleneck operations are random variables that can be approximated by a discrete and finite number of scenarios that are weighted by their corresponding probabilities of occurrence. The problem is modeled under multiple scenarios via two-stage stochastic programming with recourse. To control the variability of the second-stage costs, we propose a restricted recourse model that generates a set of solutions that are less sensitive to the scenario changes because the variability is limited to a given tolerance. Numerical experiences indicate that, in some situations, risk-averse solutions with good service levels are not excessively expensive to obtain.

Production planning; Furniture industry; Stochastic programming; Risk-aversion; Restricted recourse


1. Introdução

O planejamento da produção de muitas empresas é realizado exclusivamente com dados supostamente conhecidos e determinísticos. Entretanto, na realidade, muitas informações futuras e dados importantes para o planejamento da produção estão sujeitos às incertezas por várias razões, dentre as quais se destacam (Ben-Tal & Nemirovski, 2000Ben-Tal, A., & Nemirovski, A. (2000). Robust solutions of linear programming problems contaminated with uncertain data. Mathematical Programming, 88(3): 411-424 http://dx.doi.org/10.1007/PL00011380 .
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; Beyer & Sendhoff, 2007Beyer, H. G., & Sendhoff, B. (2007). Robust optimization: a comprehensive survey . Computers Methods in Applied Mechanics Engineering, 196(33-34): 3190-3218 http://dx.doi.org/10.1016/j.cma.2007.03.003 .
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):

  • Alguns dados (demandas futuras, custos, retornos etc.) podem não existir no momento em que os problemas são resolvidos, fazendo com que seja necessário utilizar métodos de previsão, que estão sujeitos a erros.

  • Alguns dados não podem ser medidos exatamente, como parâmetros físicos e técnicos que são conhecidos apenas dentro de um intervalo de confiança ou dado certo grau de acurácia, como tempos de processamento e de preparação de equipamentos.

Em empresas moveleiras típicas do setor, a realidade não é diferente. O gerente de produção utiliza informações sobre as carteiras de pedidos dos clientes, quantidade de produtos estocados e sua experiência para decidir o tamanho dos lotes de produção semanal. Caso ocorra a chegada de novos pedidos ou algum imprevisto (quebra de algum equipamento, ausência de funcionários etc.), a decisão é reavaliada num espaço de tempo menor. Em geral, a quantidade de produtos a serem produzidos Xi é obtida pela equação Xi = Ii - Di, em que Iié a quantidade de produto i atualmente em estoque e Di é a sua demanda. Embora Ii possa ser facilmente determinado (uma simples verificação no estoque, por exemplo), a quantidade Di é baseada numa expectativa de venda que nem sempre ocorre. Como é comum que empresas típicas de pequeno porte não possuam um histórico organizado dos pedidos dos clientes e nem das ordens de produção efetivadas, utilizar métodos de previsão baseados em séries históricas para estimar as demandas futuras, em geral, não é possível na prática, o que compromete a acurácia da expectativa de venda.

Determinada a quantidade de produtos a serem produzidos pelo planejamento da produção, é necessário verificar se há capacidade disponível para a produção dos lotes, levando-se em consideração tempos de produção e de preparação de máquinas e equipamentos. Comumente, tempos de produção são relativamente fixos e conhecidos, pois a maior carga de trabalho recai sobre máquinas automáticas. Entretanto, operações de preparação de máquinas são, muitas vezes, manuais e, portanto, dependentes da habilidade e da experiência do funcionário, motivo pelo qual os tempos de tais operações são difíceis de serem estimados na prática. Tipicamente, o planejamento da produção leva em consideração tempos médios ou situações de pior caso que podem gerar planos conservadores e pouco eficazes. Por um lado, utilizar somente valores médios e ignorar a variação do tempo de muitas atividades pode superestimar a capacidade de máquinas e de funcionários - acarretando atrasos na linha de produção ou mesmo gerando planos infactíveis na prática. Por outro lado, adotar planos baseados em situações pessimistas ou de pior caso pode subestimar a capacidade de produção, ocasionando uma contratação desnecessária de turnos e/ou funcionários extras.

Particularmente no contexto do planejamento da produção de empresas moveleiras, as incertezas inerentes do processo - principalmente demandas e tempos de preparação - costumam ser "desprezadas", seja pela adoção de uma expectativa de venda sem ou com pouca acurácia, seja pela estimativa equivocada dos tempos de preparação. Analisando essas questões, o presente trabalho propõe estudar problemas de planejamento da produção típicos de empresas moveleiras de pequeno porte inseridas num ambiente incerto, considerando ainda a possibilidade de controlar a variabilidade do custo total esperado via incorporação de uma medida de risco adequada. Do ponto de vista teórico, uma contribuição deste trabalho é o desenvolvimento de modelos de programação estocástica e aversão ao risco para problemas de planejamento da produção em empresas moveleiras, que podem ser estendidos para outros contextos industriais. Do ponto de vista prático, uma contribuição deste estudo é discutir vários resultados que podem auxiliar o tomador de decisões a lidar com as incertezas no seu dia a dia, tornando as suas estratégias de produção mais competitivas no mercado. Alguns estudos anteriores que abordaram aspectos do planejamento da produção na indústria de móveis são, por exemplo, os de Foronda & Carino (1991)Foronda, S., & Carino, H. (1991). A heuristic approach to the lumber allocation and manufacturing in hardwood dimension and furniture manufacturing. European Journal of Operational Research, 54(2): 151-162 http://dx.doi.org/10.1016/0377-2217(91)90294-6 .
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, Carnieri et al. (1994)Carnieri, C., Guillermo, A., & Gavinho, L. (1994). Solution procedures for cutting lumber into furniture parts. European Journal of Operational Research, 73(3): 495-501 http://dx.doi.org/10.1016/0377-2217(94)90244-5 .
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, Morabito & Arenales (2000)Morabito, R., & Arenales, M. (2000). Optimizing the cutting of stock plates in a furniture company. International Journal of Production Research, 38(12): 2725-2742 http://dx.doi.org/10.1080/002075400411457 .
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, Gramani & França (2006)Gramani, M., & França, P. (2006). The combined cutting stock and lot-sizing problem in industrial processes. European Journal of Operational Research, 174(1): 509-521 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2004.12.019 .
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, Rangel & Figueiredo (2008)Rangel, S., & Figueiredo, A. G. (2008). O problema de corte de estoque em indústrias de móveis e pequeno e médio portes. Pesquisa Operacional, 28(3): 451-472 http://dx.doi.org/10.1590/S0101-74382008000300004 .
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, Santos et al. (2011)Santos, S. G., Araujo, S. A., & Rangel, M. S. (2011). Integrated cutting machine programming and lot sizing in furniture industry. Pesquisa Operacional para o Desenvolvimento, 3(1): 249-266. e Alem & Morabito (2013b)Alem, D., & Morabito, R. (2013b). O problema combinado de planejamento da produção e corte de estoque sob incertezas: aplicação em fábricas de móveis de pequeno porte . Gestão & Produção, 20(1): 111-133 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2013000100009 .
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. A maior parte desses estudos teve enfoque determinístico e foco nas operações de corte de placas e suas integrações no planejamento da produção em empresas moveleiras. Em particular, Alem & Morabito (2013b)Alem, D., & Morabito, R. (2013b). O problema combinado de planejamento da produção e corte de estoque sob incertezas: aplicação em fábricas de móveis de pequeno porte . Gestão & Produção, 20(1): 111-133 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2013000100009 .
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estudaram um problema combinado de planejamento da produção e corte de estoque com custos de produção e demandas de produtos incertos. Porém a técnica de otimização robusta utilizada considera os parâmetros incertos como variáveis aleatórias num suporte estabelecido a priori e otimiza-se o problema numa perspectiva de pior caso intervalar, o que é diferente da abordagem por programação estocástica de dois estágios com recurso aqui utilizada. Além disso, o modelo de planejamento da produção proposto em Alem & Morabito (2013b)Alem, D., & Morabito, R. (2013b). O problema combinado de planejamento da produção e corte de estoque sob incertezas: aplicação em fábricas de móveis de pequeno porte . Gestão & Produção, 20(1): 111-133 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2013000100009 .
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e em outros estudos anteriores é diferente do modelo aqui empregado, porque considera que o processo de corte de placas é o gargalo de produção, que os tempos e custos de preparação dos equipamentos de corte e furação podem ser desprezados e que a linha de montagem é limitante. Um dos primeiros trabalhos que se preocupou com questões de robustez em problemas de programação estocástica foi apresentado por Mulvey et al. (1995)Mulvey, J., Vanderbei, R., & Zenios, S. (1995). Robust optimization of large scale systems. Operations Research, 43(2): 264-281 http://dx.doi.org/10.1287/opre.43.2.264 .
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. Nesse artigo, os autores propõem uma metodologia baseada em programação estocástica (abordagem por cenários) e programação por metas, que foi designada pelos autores otimização robusta. A motivação inicial dessa metodologia era desenvolver modelos de programação matemática cujas soluções permanecessem "próximas" da solução ótima e "quase" factíveis para quaisquer realizações das variáveis aleatórias. Soluções desses tipos seriam consideradas robustas em relação à otimalidade e à factibilidade. Posteriormente, Vladimirou & Zenios (1997)Vladimirou, H., & Zenios, S. (1997). Stochastic linear programs with restricted recourse. European Journal of Operational Research, 101(1): 177-192 http://dx.doi.org/10.1016/0377-2217(95)00370-3 .
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propuseram uma metodologia semelhante para incorporar condições de robustez diretamente pela satisfação das restrições em problemas de programação estocástica; tal metodologia ficou conhecida por recurso restrito ou restrições de recurso. A principal diferença entre a metodologia de Mulvey et al. (1995)Mulvey, J., Vanderbei, R., & Zenios, S. (1995). Robust optimization of large scale systems. Operations Research, 43(2): 264-281 http://dx.doi.org/10.1287/opre.43.2.264 .
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e Vladimirou & Zenios (1997)Vladimirou, H., & Zenios, S. (1997). Stochastic linear programs with restricted recourse. European Journal of Operational Research, 101(1): 177-192 http://dx.doi.org/10.1016/0377-2217(95)00370-3 .
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é que o modelo do primeiro trabalho emprega a noção de otimização multiobjetivo para otimizar (indiretamente) o conflitante critério de robustez e custo, enquanto o modelo com recurso restrito do segundo trabalho adota uma medida de risco para reduzir a variabilidade das decisões de segundo estágio. Ainda, ambos os modelos podem ser provados matematicamente equivalentes (Ahmed & Sahinidis, 1998Ahmed, S., & Sahinidis, N. V. (1998). Robust process planning under uncertainty. Industrial & Engineering Chemistry Research, 37(5): 1883-1892 http://dx.doi.org/10.1021/ie970694t .
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).

Embora alguns autores ainda utilizem o termo otimização robusta ou programação estocástica robusta para designar tal metodologia, mais recentemente há uma tendência de se usar o termo programação com aversão ao risco (risk-averse programming), para aludir à adoção de medidas de controle de robustez (ou medidas de risco) em modelos de programação estocástica (Schultz & Tiedemann, 2006Schultz, R., & Tiedemann, S. (2006). Conditional value-at-risk in stochastic programs with mixed-integer recourse. Mathematical Programming, 105(2-3): 365-386 http://dx.doi.org/10.1007/s10107-005-0658-4 .
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; Gollmer et al., 2008Gollmer, R., Neise, F., & Schultz, R. (2008). Stochastic programs with frst-order dominance constraints induced by mixed-integer linear recourse. SIAM Journal on Optimization, 19(2): 552-571 http://dx.doi.org/10.1137/060678051 .
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; Kuhn & Schultz, 2009Kuhn, S., & Schultz, R. (2009). Risk neutral and risk averse power optimization in electricity networks with dispersed generation. Mathematical Methods in Operations Research, 69(2): 353-367 http://dx.doi.org/10.1007/s00186-008-0264-3 .
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; Alonso-Ayuso et al., 2014Alonso-Ayuso, A., Carvallo, F., Escudero, L. F., Guignard, M., Pi, J., Puranmalka, R., & Weintraub, A. (2014). Medium range optimization of copper extraction planning under uncertainty in future copper prices. European Journal of Operational Research, 233(3): 711-726 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2013.08.048 .
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; Pousinho et al., 2011Pousinho, H., Mendes, V., & Catalão, J. (2011). A risk-averse optimization model for trading wind energy in a market environment under uncertainty. Energy, 36(8): 4935-4942 http://dx.doi.org/10.1016/j.energy.2011.05.037 .
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, 2012Pousinho, H., Mendes, V., & Catalão, J. (2012). Scheduling of a hydro producer considering head-dependency, price scenarios and risk-aversion. Energy Conversion and Management, 56, 96-103 http://dx.doi.org/10.1016/j.enconman.2011.11.020 .
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; Guigues & Sagastizábal, 2012Guigues, V., & Sagastizábal, C. (2012). The value of rolling-horizon policies for risk-averse hydro-thermal planning. European Journal of Operational Research, 217(1): 129-140 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2011.08.017 .
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; entre outros).

É importante elaborar medidas de risco apropriadas para reduzir a variabilidade e ainda manter a tratabilidade computacional do modelo matemático. Basicamente, uma medida de risco pode ser vista como uma função que penaliza a variabilidade entre as decisões de segundo estágio, considerando múltiplos cenários distintos. Por exemplo, há vários trabalhos que utilizam o modelo clássico de média-variância de Markowitz (1959)Markowitz, H. (1959). Portfolio selection: efficient diversification of investments. New York: John Wiley & Sons. para balancear expectância e variância (Mulvey et al., 1995Mulvey, J., Vanderbei, R., & Zenios, S. (1995). Robust optimization of large scale systems. Operations Research, 43(2): 264-281 http://dx.doi.org/10.1287/opre.43.2.264 .
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; Yu & Li, 2000Yu, C., & Li, H. (2000). A robust optimization model for stochastic logistic problems. International Journal of Production Economics, 64(1-3): 385-397 http://dx.doi.org/10.1016/S0925-5273(99)00074-2 .
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; Leung & Wu, 2004Leung, S., & Wu, Y. (2004). A robust optimization model for stochastic aggregate production planning. Production Planning & Control, 15(5): 502-514 http://dx.doi.org/10.1080/09537280410001724287 .
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; Leung et al., 2007Leung, S., Tsang, S., Ng, W., & Wu, Y. (2007). A robust optimization model for multi-site production planning problem in an uncertain environment. European Journal of Operational Research, 181(1): 224-238 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2006.06.011 .
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; Khor et al., 2008Khor, C. S., Elkamel, A., Ponnambalamb, K., & Douglas, P. L. (2008). Two-stage stochastic programming with fixed recourse via scenario planning with economic and operational risk management for petroleum refinery planning under uncertainty. Chemical Engineering & Processing, 47(9-10): 1744-1764 http://dx.doi.org/10.1016/j.cep.2007.09.016 .
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), mas o modelo de otimização resultante com função objetivo do tipo média-variância é um problema de programação quadrática não linear convexo, que pode ainda conter variáveis de decisão inteiras ou binárias, o que resultaria num problema computacionalmente intratável, dependendo das dimensões dos dados de entrada. Para evitar formulações não lineares, Konno & Yamazaki (1991)Konno, H., & Yamazaki, H. (1991). Mean-absolute deviation portfolio optimization model and its applications to Tokyo stock market. Management Science, 37(5): 519-531 http://dx.doi.org/10.1287/mnsc.37.5.519 .
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propuseram uma medida de risco alternativa à média-variância de Markowitz, que se popularizou em finanças como MAD (desvio médio-absoluto). Outra opção de linearização foi apresentada no trabalho de Yu & Li (2000)Yu, C., & Li, H. (2000). A robust optimization model for stochastic logistic problems. International Journal of Production Economics, 64(1-3): 385-397 http://dx.doi.org/10.1016/S0925-5273(99)00074-2 .
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. O leitor interessado em mais detalhes sobre medidas de risco pode consultar, por exemplo, Schultz & Tiedemann (2006)Schultz, R., & Tiedemann, S. (2006). Conditional value-at-risk in stochastic programs with mixed-integer recourse. Mathematical Programming, 105(2-3): 365-386 http://dx.doi.org/10.1007/s10107-005-0658-4 .
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, Gollmer et al. (2008)Gollmer, R., Neise, F., & Schultz, R. (2008). Stochastic programs with frst-order dominance constraints induced by mixed-integer linear recourse. SIAM Journal on Optimization, 19(2): 552-571 http://dx.doi.org/10.1137/060678051 .
https://doi.org/10.1137/060678051...
, Kuhn & Schultz (2009)Kuhn, S., & Schultz, R. (2009). Risk neutral and risk averse power optimization in electricity networks with dispersed generation. Mathematical Methods in Operations Research, 69(2): 353-367 http://dx.doi.org/10.1007/s00186-008-0264-3 .
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, Alonso-Ayuso et al. (2014)Alonso-Ayuso, A., Carvallo, F., Escudero, L. F., Guignard, M., Pi, J., Puranmalka, R., & Weintraub, A. (2014). Medium range optimization of copper extraction planning under uncertainty in future copper prices. European Journal of Operational Research, 233(3): 711-726 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2013.08.048 .
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, Alem (2011)Alem, D. (2011). Programação estocástica e otimização robusta no planejamento da produção de empresas moveleiras (Tese de doutorado). Universidade de São Paulo, São Carlos.e Alem & Morabito (2013a)Alem, D., & Morabito, R. (2013a). Risk-averse two-stage stochastic programs in furniture plants. OR Spectrum, 35(4): 773-806 http://dx.doi.org/10.1007/s00291-012-0312-5 .
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.

Modelos de programação estocástica com aversão ao risco têm sido largamente utilizados desde o trabalho pioneiro de Mulvey et al. (1995)Mulvey, J., Vanderbei, R., & Zenios, S. (1995). Robust optimization of large scale systems. Operations Research, 43(2): 264-281 http://dx.doi.org/10.1287/opre.43.2.264 .
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, com aplicações em expansão de capacidade (Laguna, 1998Laguna, M. (1998). Applying robust optimisation to capacity expansion of one location in telecommunications with demand uncertainty. Management Science, 44(11): 101-110 http://dx.doi.org/10.1287/mnsc.44.11.S101 .
https://doi.org/10.1287/mnsc.44.11.S101...
), planejamento agregado (Leung & Wu, 2004Leung, S., & Wu, Y. (2004). A robust optimization model for stochastic aggregate production planning. Production Planning & Control, 15(5): 502-514 http://dx.doi.org/10.1080/09537280410001724287 .
https://doi.org/10.1080/0953728041000172...
; Aghezzaf et al., 2010Aghezzaf, E. H., Sitompula, C., & Najid, N. M. (2010). Models for robust tactical planning in multi-stage production systems with uncertain demands. Computers & Operations Research, 37(5): 880-889 http://dx.doi.org/10.1016/j.cor.2009.03.012 .
https://doi.org/10.1016/j.cor.2009.03.01...
), revenue management (Lai & Ng, 2005Khor, C. S., Elkamel, A., Ponnambalamb, K., & Douglas, P. L. (2008). Two-stage stochastic programming with fixed recourse via scenario planning with economic and operational risk management for petroleum refinery planning under uncertainty. Chemical Engineering & Processing, 47(9-10): 1744-1764 http://dx.doi.org/10.1016/j.cep.2007.09.016 .
https://doi.org/10.1016/j.cep.2007.09.01...
; Lai et al., 2007Lai, K., Wang, M., & Liang, L. (2007). A stochastic approach to professional services firms' revenue optimization. European Journal of Operational Research, 182(3): 971-982 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2006.09.038 .
https://doi.org/10.1016/j.ejor.2006.09.0...
), planejamento da produção em múltiplas plantas (Leung et al., 2007Leung, S., & Wu, Y. (2004). A robust optimization model for stochastic aggregate production planning. Production Planning & Control, 15(5): 502-514 http://dx.doi.org/10.1080/09537280410001724287 .
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), programação de frota de ônibus (Yan & Tang, 2009Yan, S., & Tang, C. H. (2009). Inter-city bus scheduling under variable market share and uncertain market demands. Omega, 37(1): 178-192 http://dx.doi.org/10.1016/j.omega.2006.11.008 .
https://doi.org/10.1016/j.omega.2006.11....
), produção de toras de madeira (Zanjani et al., 2009Zanjani, M. K., Ait-Kadi, D., & Nourelfath, M. (2009). Robust production planning in a manufacturing environment with random yield: a case in sawmill production planning . European Journal of Operational Research , 201(3): 882-891 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2009.03.041 .
https://doi.org/10.1016/j.ejor.2009.03.0...
), cadeia de suprimentos num contexto de manufatura ágil (Pan & Nagi, 2010Pan, F., & Nagi, R. (2010). Robust supply chain design under uncertain demand in agile manufacturing. Computers & Operations Research, 37(4): 668-683 http://dx.doi.org/10.1016/j.cor.2009.06.017 .
https://doi.org/10.1016/j.cor.2009.06.01...
), fornecimento de gás natural (Aouam et al., 2010Aouam, T., Rardin, R., & Abrache, J. (2010). Robust strategies for natural gas procurement. European Journal of Operational Research, 205(1): 151-158 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2009.12.015 .
https://doi.org/10.1016/j.ejor.2009.12.0...
), processamento de sinal (Ukkusuri et al., 2010Ukkusuri, S. V., Ramadurai, G., & Patil, G. (2010). A robust transportation signal control problem accounting for traffic dynamics. Computers & Operations Research, 37(5): 869-879 http://dx.doi.org/10.1016/j.cor.2009.03.017 .
https://doi.org/10.1016/j.cor.2009.03.01...
), planejamento e programação da produção e processos em indústrias químicas e refinarias de petróleo (Suh & Lee, 2001Suh, M. H., & Lee, T. Y. (2001). Robust optimization method for the economic term in chemical process design and planning. Industrial & Engineering Chemistry Research, 40(25): 5950-5959 http://dx.doi.org/10.1021/ie0005147 .
https://doi.org/10.1021/ie0005147...
; Jia & Ierapetritou, 2004Jia, Z., & Ierapetritou, M. G. (2004). Short-term scheduling under uncertainty using MILP sensitivity analysis. Industrial & Engineering Chemistry Research, 43(14): 3782-3791 http://dx.doi.org/10.1021/ie0306731 .
https://doi.org/10.1021/ie0306731...
; Khor et al., 2008Khor, C. S., Elkamel, A., Ponnambalamb, K., & Douglas, P. L. (2008). Two-stage stochastic programming with fixed recourse via scenario planning with economic and operational risk management for petroleum refinery planning under uncertainty. Chemical Engineering & Processing, 47(9-10): 1744-1764 http://dx.doi.org/10.1016/j.cep.2007.09.016 .
https://doi.org/10.1016/j.cep.2007.09.01...
; Li & Ierapetritou, 2008Li, Z., & Ierapetritou, M. G. (2008). Robust optimization for process scheduling under uncertainty. Industrial & Engineering Chemistry Research, 47(12): 4148-4157 http://dx.doi.org/10.1021/ie071431u .
https://doi.org/10.1021/ie071431u...
), dentre outras aplicações.

O restante deste artigo está organizado da seguinte maneira: a seção 2 descreve brevemente o processo de produção de empresas moveleiras de pequeno porte. A seção 3 desenvolve dois modelos baseados em programação estocástica para o problema de planejamento da produção sob incertezas: o primeiro é um programa dito neutro ao risco, enquanto o segundo incorporar uma medida de robustez. A seção 4 discute os resultados numéricos e, finalmente, a seção 5 apresenta as considerações finais e algumas direções para trabalhos futuros.

2. Processo de produção de empresas moveleiras de pequeno porte

O processo de produção de uma empresa moveleira de pequeno porte é composto, basicamente, pelos estágios descritos a seguir.

Setor de corte primário: Esse setor, em geral, é composto por poucos funcionários que operam uma máquina seccionadora, na qual placas de algum tipo de material (madeira, MDF, MDP etc.) são cortadas nas peças que irão compor o móvel. As máquinas seccionadoras mais sofisticadas podem cortar uma quantidade de placas bem maior por unidade de tempo, além de produzirem também cortes mais trabalhados.

Setor de corte secundário: É composto por um conjunto de serras menores, que são utilizadas para o processo de aparo das sobras, corte de peças que foram processadas de forma agrupada e ainda são usadas para cortar peças menores. Nesse setor também são feitos os vincos nas peças que são encaixadas em outras na montagem de um determinado móvel. Esse setor pode também ser usado para processar pedidos inesperados ao longo do horizonte de planejamento, de forma a não comprometer a produção da máquina seccionadora principal, por exemplo.

Setor de furação: Esse setor é composto por furadeiras (manuais e automáticas), sendo que a maior carga de serviço é realizada pelas máquinas automáticas. Nesse setor são feitos os furos nas peças para a posterior montagem do móvel. A maior parte das furadeiras utilizadas pode ser operada por apenas uma pessoa e tem capacidade para furar peças com um tamanho limite de espessura e largura. Além disso, são comuns furadeiras que só podem furar uma peça por vez.

Setor de montagem: Esse setor é formado por diversas máquinas, como lixadora e prensa. Nele, as peças são montadas e preparadas para a pintura. É o setor que agrega o maior número de funcionários.

Setor de pintura: É formado por um conjunto de máquinas que operam interligadas. O conjunto é operado por um número relativamente baixo de funcionários, em geral. O papel deles no processo de produção é preparar o conjunto, efetuando a limpeza das máquinas, a carga das tintas e o monitoramento do processo de pintura das peças do móvel.

Na indústria de móveis, a maneira específica de se cortar as placas é denominada padrão de corte bidimensional, pois existem duas dimensões (comprimento e largura) relevantes para o processo de corte. Na literatura, o planejamento do corte de algum tipo de matéria-prima visando otimizar os efeitos desse processo (como minimizar a perda advinda do corte de placas de madeira) é conhecido como problema de corte de estoque. Há vários fatores que concorrem na elaboração de um padrão de corte, como a facilidade de processamento do padrão e a tecnologia da empresa. Em empresas moveleiras é comum a utilização de padrões de corte guilhotinados, i.e., padrões produzidos por cortes paralelos a um dos lados da matéria-prima retangular que a divide em dois novos retângulos (Morabito & Arenales, 2000Morabito, R., & Arenales, M. (2000). Optimizing the cutting of stock plates in a furniture company. International Journal of Production Research, 38(12): 2725-2742 http://dx.doi.org/10.1080/002075400411457 .
https://doi.org/10.1080/002075400411457...
; Rangel & Figueiredo, 2008Rangel, S., & Figueiredo, A. G. (2008). O problema de corte de estoque em indústrias de móveis e pequeno e médio portes. Pesquisa Operacional, 28(3): 451-472 http://dx.doi.org/10.1590/S0101-74382008000300004 .
https://doi.org/10.1590/S0101-7438200800...
; Santos et al., 2011Santos, S. G., Araujo, S. A., & Rangel, M. S. (2011). Integrated cutting machine programming and lot sizing in furniture industry. Pesquisa Operacional para o Desenvolvimento, 3(1): 249-266.).

Neste trabalho, apenas os processos de corte e furação são considerados no desenvolvimento do modelo de planejamento da produção da empresa moveleira, uma vez que tais processos comumente se alternam como gargalos do sistema produtivo em questão, principalmente porque os tempos de preparação associados a essas atividades são relevantes. No estágio de corte, por exemplo, o ajuste inicial das placas que serão cortadas na seccionadora, a rotação das placas para serem cortadas segundo cortes guilhotinados e a troca das serras desgastadas são exemplos de operações executadas manualmente pelos funcionários. No estágio de furação, é necessário instalarem-se diferentes brocas para furar peças com espessuras distintas e verificar a profundidade dos furos para evitar o rompimento das peças, tarefas que também são realizadas manualmente pelos funcionários da empresa. Como todas essas atividades dependem da habilidade e da experiência do funcionário, os tempos totais de preparação são elevados, daí a importância de contabilizá-los no modelo de planejamento.

3. Planejamento da produção em empresas moveleiras via programação estocástica

3.1. Modelo de dois estágios com recurso

Neste trabalho, os tempos de preparação e as demandas são considerados como variáveis aleatórias com realizações discretas segundo distribuições de probabilidades conhecidas em (Ω, F, Π), em que Ω = {1,2,...,s-1,s,...,S} é o conjunto de possíveis estados da natureza ou cenários equipado com uma s-álgebra de eventos F e com uma medida de probabilidade Π (Shapiro et al., 2009Shapiro, A., Dentcheva, D., & Ruszczynski, A. (2009). Lectures on stochastic programming: modeling and theory. Philadelphia: SIAM http://dx.doi.org/10.1137/1.9780898718751 .). Definidas as variáveis aleatórias, é importante decidir sobre os estágios do modelo de programação estocástica. De acordo com o paradigma dos modelos de dois estágios, as decisões são executadas antes e depois da realização das variáveis aleatórias. Assim, definem-se as decisões anteriores à realização das variáveis aleatórias como here-and-now, em contrapartida às decisões feitas após o conhecimento das variáveis aleatórias, designadas por wait-and-see.

Para o problema proposto neste trabalho, é razoável que os níveis de produção de cada produto em cada período do horizonte de planejamento (Xit) sejam decididos antes da realização das variáveis aleatórias. Consequentemente, a frequência de utilização de cada padrão de corte em cada período (Yjt) e a programação das preparações de cada padrão em cada período (Zjt) também devem ser determinadas antes das variáveis aleatórias tornarem-se conhecidas. Então, tem-se que as variáveis Xit, Yjt e Zjt (ver definições adiante) são as decisões de primeiro estágio do problema. Após o conhecimento das variáveis aleatórias é possível adaptar-se a solução obtida pelas ações de segundo estágio de estocar (I+ it) ou atrasar (I- it) a produção de cada produto em cada período e utilizar horas extras em cada período (Ot), adotando as variáveis I+ it, I- it e Ot (ver definições adiante) como decisões de segundo estágio.

Sejam os conjuntos de produtos, padrões de corte, peças e períodos indexados por i, j, p e t, respectivamente. A menos que se afirme o contrário, admite-se que o índice i é válido para todo o conjunto I, o índice j é válido para todo o conjunto J, e assim por diante para p e t. Seja também o conjunto de possíveis cenários indexado por s ∈ W. Supõe-se que "produto i" quer dizer "produto do tipo i", como um armário de três portas. De forma similar, "padrão de corte j" refere-se a "padrão de corte do tipo j", como um padrão que utiliza uma placa de 20 mm de espessura e tamanho 2,75 × 1,83 m, para produzir determinado conjunto de peças. Da mesma forma, "peça p" significa "peça do tipo p", como uma base de criado de 600 mm de largura por 437 mm de altura. Considere-se também a seguinte notação para os parâmetros e variáveis de decisão do modelo:

3.1.1. Parâmetros determinísticos

  • cit - Custo de produzir uma unidade do produto i no período t.

  • h+ it - Custo de estocar uma unidade do produto i no período t.

  • h- it - Custo de falta/atraso de uma unidade do produto i no período t.

  • cot - Custo de horas extras no período t.

  • wjt - Custo da placa usada no padrão de corte j no período t.

  • apj - Quantidade de peças p no padrão de corte j.

  • rpi - Quantidade de peças p necessárias para compor uma unidade do produto i.

  • vI j - Tempo de preparação da máquina seccionadora para produzir o padrão de corte j no período t.

  • dpj - Função indicadora igual a 1, se apj > 0, e igual a 0, caso contrário.

  • vI p - Tempo de preparação da furadeira para furar a peça p no período t.

  • Ct - Capacidade regular (em unidades de tempo) de ambos os estágios de produção (corte e furação) no período t.

  • CE t - Capacidade extra (em unidades de tempo) de ambos os estágios de produção no período t.

  • Imax it - Nível máximo permitido de estoque do produto i no período t.

  • M - Número suficientemente grande.

3.1.2. Parâmetros estocásticos

  • ps - Probabilidade de ocorrência do cenário s (definido em P).

  • dits - Demanda do produto i no período t no cenário s.

  • jI js - Tempo de preparação da máquina seccionadora para cortar o padrão de corte j no cenário s.

  • jII ps - Tempo de preparação da furadeira para furar a peça p no cenário s.

3.1.3. Variáveis de decisão de primeiro estágio

  • Xit - Quantidade do produto i produzida no período t.

  • Yjt - Frequência com que o padrão de corte j é utilizado no período t (i.e., número de placas cortadas no padrão j no período t).

  • Zjt - Variável binária igual a 1, se a máquina seccionadora está preparada para produzir o padrão de corte j no período t, e igual a 0, caso contrário.

3.1.4. Variáveis de decisão de segundo estágio

  • I+ its - Quantidade do produto i estocada ao final do período t no cenário s.

  • I- its - Quantidade do produto i em atraso ao final do período t no cenário s.

  • Ots - Quantidade de horas extras utilizadas no período t no cenário s.

O problema de planejamento da produção em empresas moveleiras sob incertezas pode ser formulado como um problema de otimização inteira mista em dois estágios. O objetivo do problema do primeiro estágio (1) é minimizar a soma dos custos de produção e aquisição de matéria-prima do primeiro estágio e os custos esperados do problema do segundo estágio levando-se em conta todos os cenários s ∈ W, sujeito às restrições referentes às variáveis de primeiro estágio (2) a (4):

em que ξ = [ξs], ξs = {ditsI jsII ps} é o vetor aleatório associado ao cenário s ∈ Ω e Q(X,Y,Z,ξ) é o valor ótimo do seguinte problema de segundo estágio:

As restrições (2) asseguram que a demanda interna de todos os tipos de peças seja satisfeita. Essas restrições integram os problemas de dimensionamento de lotes e corte de estoque, uma vez que relacionam as variáveis Xit, que definem o tamanho dos lotes do produto i no período t, e as variáveis Yjt, que definem a quantidade de placas cortadas, segundo o padrão de corte j no período t. As restrições (3) garantem que só pode haver produção do padrão de corte j no período t se a máquina seccionadora estiver preparada para cortá-lo. As restrições (4) referem-se ao domínio das variáveis de decisão de primeiro estágio. A função objetivo de segundo estágio (5) visa minimizar a soma dos custos esperados de estoque, atraso e horas extras, levando em conta todos os cenários s ∈ Ω. Note que o custo aleatório de segundo estágio Q(X,Y,Z,ξ) assume um dado nível de produção (X), configuração de padrão de corte (Y) e preparação de máquinas (Z). As restrições (6) fazem o balanceamento da produção de móveis para cada realização s. Sem perda de generalidade, admite-se que os estoques e atrasos iniciais (i.e., em t = 0) são nulos. Os estoques são limitados superiormente, devido a restrições de espaço físico para o armazenamento dos produtos finais, como indicado em (7).

As restrições de capacidade (8) e (9) asseguram que os estágios de corte e furação sã o limitados para cada período t e cada cenário s. Em ambos os estágios são considerados os tempos de produção e de preparação e é possível utilizarem-se horas extras, caso a capacidade regular no período t seja insuficiente. A mesma variável de preparação Zjt foi usada em ambos os estágios para sincronizá-los, i.e., a máquina de furação precisa ser preparada para processar uma peça p somente se o estágio de corte anterior tiver gerado pelo menos uma peça p. Matematicamente, definiu-se uma função indicadora δpj ∈ {0,1} (dado de entrada do problema) para sincronizar a preparação, de tal forma que δpj = 1 se o padrão de corte j contém pelo menos uma peça p, e δpj = 0 caso contrário. Note-se que Zjt = 0 indica que a máquina seccionadora não está preparada para cortar o padrão de corte j no período t e, portanto, a preparação da furadeira é desnecessária. Por outro lado, Zjt = 1 indica que a máquina seccionadora está ativada, então é preciso analisar se o padrão j gera uma peça p para ser furada no próximo estágio ou não. No primeiro caso, δpj= 1, então a preparação é ativada na restrição (9). No segundo caso, i.e., se o padrão j não gera uma peça p para ser furada no próximo estágio, então δpj = 0. Isso significa que a preparação da máquina de furação não será considerada na restrição 9, pois φII ps . δpj . Zjt = 0.

As restrições (10) garantem que a quantidade máxima de horas extras utilizadas na máquina seccionadora e na furadeira seja respeitada em cada período t e cenário s. Finalmente, as restrições (11) referem-se ao domínio das variáveis de decisão de segundo estágio. O modelo (1) a (11) será designado de risco neutro (RN), em contrapartida ao modelo com recurso restrito apresentado na próxima seção.

3.2. Valor esperado de informação perfeita e valor da solução estocástica

Os paradigmas dos modelos determinísticos e estocásticos são distintos e, por essa razão, deve-se ter certo cuidado na comparação entre as respectivas soluções, para não se ignorar as diferenças entre eles. Primeiro, enquanto o valor ótimo do modelo determinístico corresponde a um único custo mínimo, o valor ótimo do modelo estocástico refere-se a uma composição de custos mínimos, um para cada cenário, ponderados pelas probabilidades desses cenários, e que é comumente denominado custo mínimo esperado. Além disso, o modelo determinístico gera um único plano de produção (volume de produção, estoque e atrasos, desperdício de material, número de preparações e horas extras), ao passo que o modelo determinístico de dois estágios gera planos de produção dependentes dos cenários. O fato de uma única decisão do modelo determinístico corresponder a S possíveis decisões no modelo estocástico (variáveis de segundo estágio) faz com que os modelos estocásticos sejam atraentes em muitos contextos. Tradicionalmente, para se avaliar a melhoria que modelos estocásticos produzem em relação a soluções obtidas com aproximações determinísticas, recorre-se a análise do Valor Esperado de Informação Perfeita (Expected Value of Perfect Information - EVPI) e do Valor da Solução Estocástica (Value of Stochastic Solution - VSS).

O EVPI é obtido pela diferença entre o Valor do Problema Estocástico (Recourse Problem - RP) e o valor esperado das soluções wait-and-see (WS), i.e., EVPI = RP - WS. Na literatura de programação estocástica, é usual designar RP como o valor do problema recurso, enquanto WS representa o valor esperado WS = ΣsπsWS* s, em que WS* s é o valor do problema wait-and-see de cada cenário s ∈ Ω, i.e., é o valor ótimo do problema (1) a (11) para cada cenário s ∈ Ω. Segundo Birge & Louveaux (1997)Birge, J R., & Louveaux, F. (1997). Introduction to stochastic programming. New York: Springer., o EVPI mede o quanto o decisor estaria disposto a pagar em troca de informação perfeita e precisa sobre o futuro. Para Kall & Wallace (1994)Kall, P., & Wallace, S. (1994). Stochastic programming. New York: Wiley., o EVPI também representa quanto se esperaria ganhar se fosse possível determinar de antemão o valor das variáveis aleatórias. Para esses mesmos autores, o EVPI é importante porque mostra se é importante considerar a aleatoriedade do problema ou não. Não necessariamente, valores elevados para essa medida indicam a necessidade de se resolver o problema estocástico. Por outro lado, quando o EVPI é baixo, tem-se a indicação de que não é tão importante considerar a aleatoriedade do problema e, portanto, aproximações podem funcionar bem.

O VSS pode ser considerado como o custo de ignorar a aleatoriedade dos parâmetros na escolha de uma decisão (Birge & Louveaux, 1997Birge, J R., & Louveaux, F. (1997). Introduction to stochastic programming. New York: Springer.). Seu cálculo supõe que, em vez de resolver o problema estocástico RN (1) a (11), o decisor prefira resolver um problema de Valor Esperado (Expected Value Problem - EV), que consiste em substituir todas as variáveis aleatórias do problema estocástico pelos respectivos valores esperados. Uma pergunta que advém da possibilidade de se usar a solução do problema EV é: quão boa ou ruim é ela em comparação à solução RP? Para responder a essa pergunta, define-se o resultado esperado com a utilização da solução do problema EV, ou apenas EEV (Expectation of the Expected Value Problem). O EEV é obtido fixando-se as variáveis de primeiro estágio encontradas pelo problema EV no problema estocástico RP. O resultado exprime como as variáveis de decisão de segundo estágio são escolhidas otimamente em função das variáveis de primeiro estágio do problema EV. Finalmente, define-se o valor da solução estocástica como a diferença entre RP e EEV, i.e., VSS = EEV - RP.

Pode-se também definir o problema EV em função do cenário mais provável, ou de pior caso, e o problema EEV é obtido de forma análoga. Em todas as situações, determinar VSS auxilia na comparação entre o problema estocástico e estratégias determinísticas aproximadas. Quanto maior for o valor de VSS, maior é o ganho em considerar o problema estocástico em detrimento da estratégia aproximada adotada. Similarmente, se o valor for muito baixo (menor do que uma tolerância definida pelo decisor), o ganho de se resolver o problema estocástico em vez do problema EV é desprezível e, portanto, pode-se utilizar a estratégia aproximada de valor esperado.

3.3. Um modelo de programação estocástica com recurso restrito

O modelo RN (1) a (11) é neutro em relação ao risco, i.e., o interesse é num desempenho de longo prazo, sem considerar as flutuações específicas de uma variável aleatória. Todavia, quando é importante reduzir a dispersão das variáveis aleatórias para gerar soluções de segundo estágio mais próximas uma das outras, deve-se incorporar uma medida de variabilidade apropriada ao modelo. Neste trabalho, utilizou-se a medida conhecida por UPM (upper partial mean, de acordo com Ahmed & Sahinidis, 1998Ahmed, S., & Sahinidis, N. V. (1998). Robust process planning under uncertainty. Industrial & Engineering Chemistry Research, 37(5): 1883-1892 http://dx.doi.org/10.1021/ie970694t .
https://doi.org/10.1021/ie970694t...
) dentro de um modelo de recurso restrito. Matematicamente, a medida UPM - designada por Δ neste trabalho - é definida da seguinte maneira:

em que[.]+ denota a parte positiva do número real.

O modelo geral de dois estágios com recurso restrito é obtido pela introdução de uma restrição que limita a variabilidade das decisões de segundo estágio, de acordo com uma tolerância Δmax. O modelo estocástico com restrição de recurso (RR) pode ser escrito da seguinte maneira:

Note-se que a primeira restrição de (13) é simplesmente a linearização da medida UPM apresentada em (12). Basicamente, o desvio Δspenaliza a diferença positiva entre o custo de cada cenário e o valor esperado, no intuito de gerar soluções menos sensíveis (ou mais estáveis) às variações dos diferentes cenários. Para gerar tais soluções, basta decrementar progressivamente o parâmetro Δmax. Quanto menor Δmax, mais averso ao risco é o decisor e mais robusta é a solução, no sentido de que o custo dos cenários estará mais próximo do custo total esperado. Se Δmax for um número suficientemente grande, a terceira restrição de (13) não tem efeito sobre a robustez da solução e, nesse caso, RR e RN são equivalentes. Para uma tolerância Δmaxsuficientemente pequena, RR pode ainda gerar soluções infactíveis.

4. Experiências computacionais

Nesta seção, são apresentados os resultados dos experimentos computacionais com os modelos matemáticos estocásticos RN (1) a (11) e RR (13). Os objetivos dos experimentos computacionais são: (1) testar o desempenho dos modelos; e (2) analisar a redução da variabilidade dos custos de segundo estágio do modelo RR. Os modelos foram codificados no Sistema de Modelagem Algébrica GAMS (Rosenthal, 2008Rosenthal, R. (2008). Gams: a user's guide. Washington: GAMS. Recuperado em 20 de junho de 2012, de http://www.gams.com/docs/ document.htm
http://www.gams.com/docs/ document.htm...
) e resolvidos pelo pacote computacional ILOG-CPLEX 11.0 (Ilog, 2008) com parâmetros de resolução default, num notebook Core 2 Duo 4, 4.0 GB de RAM, 2.0 GHz, sob plataforma Windows Vista. Os dados utilizados referem-se a um exemplo real de uma empresa moveleira típica do setor, considerando-se três produtos, oito períodos do horizonte de planejamento, 49 peças e 81 padrões de corte guilhotinados. O leitor interessado nos detalhes dos dados de entrada pode consultar Alem (2011)Alem, D. (2011). Programação estocástica e otimização robusta no planejamento da produção de empresas moveleiras (Tese de doutorado). Universidade de São Paulo, São Carlos.. Vale destacar que todos os exemplares foram resolvidos até a obtenção do certificado de otimalidade.

4.1. Geração dos cenários

Na literatura científica, há diversas maneiras de gerar os cenários associados à realização das variáveis aleatórias [veja, e.g., Dupacová et al. (2000)Dupacová, J., Consigli, G. & Wallace, S. W. (2000). Scenarios for multistage stochastic programs. Annals of Operations Research, 100(1-4): 25-53 http://dx.doi.org/10.1023/A:1019206915174 .
https://doi.org/10.1023/A:1019206915174...
para uma revisão dos métodos de geração de cenários em contextos multiestagiados]. Neste trabalho, foram adotadas duas formas: a primeira é baseada na construção de uma árvore de cenários, a partir da combinação dos parâmetros estocásticos (demandas, tempos de preparação da serra e tempos de preparação da furadeira) como, por exemplo, no trabalho de Ma et al. (2010)Ma, Z., Kwon, R. H., & Lee, C. G. (2010). A stochastic programming winner determination model for truckload procurement under shipment uncertainty. Transportation Research Part E, 46(1): 49-60 http://dx.doi.org/10.1016/j.tre.2009.02.002 .
https://doi.org/10.1016/j.tre.2009.02.00...
. A segunda forma consiste, basicamente, na enumeração de algumas realizações discretas e equiprováveis como, por exemplo, nos trabalhos de Geng et al. (2009)Geng, N., Jiang, Z., & Chen, F. (2009). Stochastic programming based capacity planning for semiconductor wafer fab with uncertain demand and capacity. European Journal of Operational Research, 198(3): 899-908 http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2008.09.029 .
https://doi.org/10.1016/j.ejor.2008.09.0...
e Pan & Nagi (2010)Pan, F., & Nagi, R. (2010). Robust supply chain design under uncertain demand in agile manufacturing. Computers & Operations Research, 37(4): 668-683 http://dx.doi.org/10.1016/j.cor.2009.06.017 .
https://doi.org/10.1016/j.cor.2009.06.01...
.

Para construir a árvore de cenários, associou-se cada variável aleatória a três possíveis realizações, baixa, média ou alta, que foram posteriormente quantificadas com base nos correspondentes valores médios das variáveis aleatórias, como exemplificado a seguir. As realizações associadas às demandas nos cenários baixos (B), médios (M) e altos (A) foram geradas aleatoriamente de acordo com uma distribuição uniforme discreta nos intervalos [0,7dit; 0,95dit], [0,95dit; 1,05dit] e [1,05dit; 1,3dit], respectivamente, em que dit é o valor médio da variável aleatória. As realizações associadas aos tempos de preparação foram geradas de maneira análoga, segundo uma distribuição uniforme contínua, nesses casos. As demandas não inteiras foram arredondadas para o menor inteiro maior que o valor fracionário. Combinando as realizações dos parâmetros estocásticos, tem-se a árvore de cenários apresentada na Figura 1. Como são três variáveis aleatórias e três possíveis realizações para cada um, 33 cenários foram gerados. As probabilidades associadas aos 27 cenários da árvore ilustrada na Figura 1 foram calculadas pela regra do produto, supondo-se independência estatística entre as variáveis aleatórias e considerando-se as probabilidades de todas as variáveis aleatórias nos cenários B, M e A iguais a 25, 50, 25% (situação moderada), respectivamente. A probabilidade do cenário 1 (Baixa-Baixo-Baixo), por exemplo, foi obtida da seguinte maneira: πI B (probabilidade da demanda ser baixa) x πII B (probabilidade do tempo de preparação da serra ser baixo) x πIII B (probabilidade do tempo de preparação da furadeira ser baixo) = πI BπII BπIII B = 0,253 = 0,015625. Cabe ressaltar que outras distribuições de probabilidade poderiam ser usadas para gerar as realizações das variáveis aleatórias, mas a metodologia empregada neste trabalho pode ser validada independentemente da distribuição utilizada.

Figura 1.
Árvore de cenários composta por três realizações referentes a três variáveis aleatórias independentes: demanda, tempo de preparação da seccionadora e tempo de preparação da furadeira. Fonte: Alem (2011)Alem, D. (2011). Programação estocástica e otimização robusta no planejamento da produção de empresas moveleiras (Tese de doutorado). Universidade de São Paulo, São Carlos..

4.2. Resultados do modelo estocástico RN

Nas análises, considerou-se o nível de serviço tipo II (ou taxa de atendimento da demanda) para analisar a demanda não atendida no último período T em cada cenário s: Bs = 1 - I- Ts/ds, em que I- Ts = ΣiI- iTs e ds = Si,tdits. A Tabela 1 resume os resultados obtidos para cada cenário. Os termos apresentados na Tabela 1 referem-se às probabilidades πs; ao custo total de estoque ICs; ao volume total de estoque I+ s; ao custo com demanda perdida BCs; à demanda não atendida no último período T, I- Ts; ao custo total de hora extra COs; às horas extras totais utilizadas Os; e ao nível de serviço Bs. Ao final da tabela têm-se os custos de primeiro estágio: produção (PC) e aquisição de matéria-prima (TC), assim como o volume total de produção (X), a quantidade de placas cortadas (Y) e número de preparações realizadas (Z). O custo total esperado e o tempo de execução do algoritmo branch-and-cut para resolver o exemplar até a otimalidade também são mostrados. Além disso, os valores entre parênteses mostram a quantidade total produzida ao longo do horizonte de planejamento X e a correspondente quantidade de placas que foram utilizadas Y.

Tabela 1.
Resultados de um exemplar real do modelo estocástico RN na situação moderada, na qual as probabilidades das demandas e tempos de preparação nos cenários Baixo, Médio e Alto são 25, 50 e 25%, respectivamente.

Como era de se esperar, nos cenários 1 a 9 de baixa demanda, os níveis de serviço atingem o máximo valor de 100%, uma vez que toda a demanda é atendida até o final do horizonte de planejamento. Nesses casos, os níveis acumulados de estoque atingem os maiores valores também. As horas extras são utilizadas principalmente nos cenários nos quais o tempo de preparação da furadeira é alto. Ainda, o tempo de preparação da serra parece não ter muita influência sobre as outras decisões de segundo estágio, como pode ser analisado nos cenários 3, 6 e 9, que representam o pior caso em relação ao tempo de preparação da serra. Nesses cenários, os estoques são igualmente muito elevados, mas não há evidências de que esses cenários consumam mais capacidade do que os cenários 2, 5 e 8, cujo tempo de preparação de serra é moderado. Já nos cenários de demanda média 10 a 18, os estoques têm uma redução média de 67%, assim como os níveis de serviço, que são deteriorados em média 5%. Além disso, há um aumento na utilização das horas extras, principalmente nos cenários mais pessimistas para o tempo de preparação da furadeira.

Nos cenários de demanda alta 19 a 27, os estoques decrescem ainda mais, cerca de 85% em relação à média estocada nos cenários de demanda média. Como consequência das altas demandas, as perdas de demanda são intensificadas e o nível de serviço tem o pior desempenho, em média, 81,5%. Nesses cenários não são observadas variações significativas nos níveis de horas extras utilizadas. Esses resultados sugerem que a variação da demanda tem maior impacto no problema estocástico e, portanto, os cenários 19 a 27 são os mais pessimistas, independentemente dos tempos de preparação.

Com o objetivo de investigar a sensibilidade do modelo RN em relação aos valores das probabilidades, especialmente porque estimativas precisas são difíceis de serem determinadas, três situações diferentes foram testadas: a) Equiprobabilidade: Nesse caso, as probabilidades dos cenários (B, M e A) foram consideradas 1/3, tornando os 27 cenários equiprováveis; b) Otimista: No caso otimista, as probabilidades de ocorrência das demandas e dos tempos de preparação nos cenários B, M e A são 0,6, 0,3, 0,1 e 0,5, 0,4, 0,1, respectivamente; c) Pessimista: No caso pessimista, as probabilidades de ocorrência das demandas e dos tempos de preparação nos cenários (B, M e A) são 0,1, 0,3, 0,6 e 0,1, 0,4, 0,5, respectivamente.

Os resultados sugerem que ambas as variáveis de primeiro e segundo estágios (e seus respectivos custos) praticamente não se modificaram com as diferentes configurações de probabilidade. Porém, o custo total esperado é alterado significativamente: em relação à situação moderada, os custos totais das situações equiprovável, otimista e pessimista são 10% maior, 30% menor e 54% maior, respectivamente. Esse aparente paradoxo entre solução e valor de solução é devido aos custos de segundo estágio, pois a variação das probabilidades ocasiona uma alteração na contribuição de cada cenário no custo total esperado. Por exemplo, os custos do cenário 27 (cenário mais pessimista) nas situações moderada, equiprovável, otimista e pessimista são iguais a 343691, 343691, 348261 e 343658, respectivamente. Porém, a contribuição real desses custos leva em consideração a probabilidade do cenário 27 nas quatro situações, i.e., 1,56, 3,70, 0,100 e 15,0%, o que resulta nos seguintes custos de segundo estágio do cenário 27: 5361, 12716, 348 e 51549, respectivamente. Esses resultados mostram que, estruturalmente, a solução do modelo RN não é sensível às variações nos valores das probabilidades dos cenários, embora o valor ótimo da função objetivo seja sensível.

4.3. Análise do EVPI e VSS

Para se calcular o EVPI foram resolvidos os 27 problemas wait-and-see. Tais soluções são ilustradas na segunda coluna da Tabela 2 (WS* s), assim como o valor esperado de utilizar tais soluções, i.e., WS = ΣsπsWS* s. As últimas linhas fornecem a solução final (WS), as soluções do modelo estocástico (1) a (11) (RP), o EVPI e o seu respectivo valor relativo dado por EVPI% = (EVPI/RP)×100%. Todas as configurações de probabilidades foram analisadas. Primeiramente, convém ressaltar que as soluções wait-and-see têm um desempenho semelhante às soluções RP, no sentido de que o custo total dos primeiros cenários 1 a 9 é o mais baixo, seguido do custo dos cenários 10 a 18 e, finalmente, do custo dos últimos cenários, 19 a 27, como era de se esperar. Para resolver todos os problemas até a prova de otimalidade, foram necessários 97 segundos (com média de 3,62 e desvio padrão de 2,90).

Tabela 2.
Resultados dos problemas wait-and-see e valor esperado da informação perfeita (EVPI) para o exemplar analisado.

Os valores absolutos do EVPI indicam que as situações mais pessimistas geram os maiores EVPI: EVPI (pessimista = 526712) > EVPI (equiprovável = 332917) > EVPI (moderada = 284318) > EVPI (otimista = 154862). Isso ocorre porque, nas situações mais pessimistas, os cenários cujos parâmetros estocásticos possuem os maiores desvios em relação aos valores nominais têm probabilidades mais elevadas. Assim, a aleatoriedade dos cenários mais desfavoráveis ganha mais importância do que a aleatoriedade dos cenários mais favoráveis, o que se reflete no EVPI. Além disso, esses resultados também confirmam o efeito que as probabilidades têm sobre o EVPI: a diferença entre o EVPI obtido no cenário otimista e aquele obtido no cenário pessimista representa mais de 240% do menor valor obtido (154862). Esses resultados indicam que seria possível poupar uma quantia considerável de dinheiro - em todas as situações - se a informação perfeita sobre as variáveis aleatórias pudesse ser disponibilizada. Além disso, os valores elevados para o EVPI também indicam que a aleatoriedade desempenha um papel importante no problema.

O problema EV foi determinado de acordo com os valores médios. Fixando as variáveis de primeiro estágio no problema EEV, obteve-se uma solução infactível. Portanto, o problema EV não pode ser usado para aproximar o problema estocástico e VSS → ∞. Para investigar a causa da infactibilidade, foram inseridos dois conjuntos de variáveis de erro para contabilizar o excesso de estoque e de capacidade, respectivamente, nas restrições de estocagem e horas extras. Tais variáveis foram adicionadas à função objetivo com pesos suficientemente grandes (i.e., iguais a 10000). Os resultados mostraram que apenas as restrições de estoque (7) foram violadas. Diferentemente do problema estocástico, que visa balancear produção, estoques e atrasos devidos à variação dos níveis de demanda em cada cenário, os problemas EV tendem a produzir o máximo possível da demanda determinística e evitar atrasos. Dessa maneira, quando a demanda determinística é mais elevada, os níveis de produção Xit também são maiores, o que ocasiona uma elevação dos níveis de estoque no problema EEV. Por essa razão, os maiores níveis de infactibilidade foram atingidos nas situações mais pessimistas.

4.4. Resultados dos modelos com aversão ao risco

Um conjunto de soluções foi gerado para cada situação de designação de probabilidade, reduzindo-se a tolerância Δmax de Δ0 (desvio esperado do problema RN) até zero, com passo 2,5% de Δ0 (isso significa que Δ1 = 0,975×Δ0, Δ2 = 0,95×Δ0, ..., Δ39 = 0,025×Δ0, Δ40 = 0). Note-se que há uma tolerância inicial diferente em cada situação (moderada, equiprovável, pessimista e otimista). No total, foram resolvidos 160 exemplares RR. Os sumários dos resultados estão apresentados nas Tabelas 3 a 6, a saber: o custo total esperado (Custo), aumento relativo no valor da função objetivo em relação ao custo total do problema RN (Var%), tempo de execução do algoritmo em segundos até a obtenção do certificado de otimalidade (t), estoque acumulado (I+), atraso total (I-), horas extras utilizadas (O), desvio esperado (D), redução relativa do desvio esperado em relação ao desvio do problema RN (Red%) e nível de serviço (B%).

Tabela 3.
Sumário dos resultados do modelo RR na situação moderada.

Tabela 4.
Sumário dos resultados do modelo RR na situação otimista.

Tabela 5.
Sumário dos resultados do modelo RR na situação pessimista.

Tabela 6.
Sumário dos resultados do modelo RR na situação equiprovável.

Em todos os problemas, o custo total esperado aumentou conforme a solução tornou-se mais robusta. Diminuindo-se progressivamente a tolerância Dmax, o risco é sensivelmente reduzido à custa de grandes aumentos no custo total esperado. As decisões e custos de segundo estágio apresentaram comportamentos específicos para diferentes valores do fator de risco, mas as variáveis de decisão de primeiro estágio praticamente não se alteraram. As reduções máximas obtidas foram 75, 67,5, 70 e 82,5%, nas situações moderada, equiprovável, otimista e pessimista, com acréscimos nos custos esperados de 85, 65, 135 e 35%, respectivamente. Nos casos equiprovável e pessimista, as reduções foram maiores do que os acréscimos nos custos totais esperados para todos os níveis de reduções, sugerindo que o "preço da robustez" não é tão dispendioso nesses casos. Em contrapartida, nas outras situações, é mais "caro" obter soluções mais aversas ao risco, principalmente na situação otimista. Nessa situação, 22,5% de redução no desvio ocasiona um acréscimo menor do que 22% no custo total esperado; além de 22,5%, a diferença torna-se negativa. Esses resultados podem ser visualizados na Figura 2.

Figura 2.
Diferença entre redução do desvio e aumento no valor do custo total esperado (em %) em todas as situações.

O volume de estoque também aumentou com a robustez da solução em todas as situações até atingir um máximo, a partir do qual teve uma leve diminuição. Como nos testes anteriores, o maior volume de estoque foi obtido na situação otimista, seguida por equiprovável, moderada e pessimista. As horas extras utilizadas não tiveram um comportamento muito bem definido. Aparentemente, para uma redução maior do que 2,5%, a situação pessimista utiliza menos horas extras do que todas as outras situações, atingindo um máximo de 21 horas quando o desvio é mínimo. Nas outras situações, as horas extras também apresentaram picos de crescimento próximos aos desvios mínimos, chegando a 75 horas na situação otimista, quando o desvio reduz 67,5% do valor inicial. Os níveis de serviço tiveram um desempenho bastante similar àqueles obtidos nos testes anteriores. Claramente, o nível de serviço da situação otimista domina todos os outros, enquanto o nível de serviço da situação pessimista é dominado pelos demais. Por outro lado, na situação otimista é obtida a maior deterioração dessa medida de desempenho quando o desvio mínimo é atingido: 5,3%, contra uma média de 3,7% nas outras situações.

Para ilustrar como o modelo de recurso restrito gera soluções progressivamente mais próximas umas das outras (ou mais robustas), a Figura 3 exibe os valores do desvio Δs de um exemplar com apenas 20 cenários, considerando níveis de redução entre 0 e 100%. Inicialmente, há cinco desvios positivos: Δ5, Δ15, Δ16, Δ18 e Δ19, sendo o máximo desvio Δ18 ≈ 53000. Os outros 15 cenários apresentam desvios nulos, i.e., o custo esperado é maior do que os custos individuais desses cenários. Quando a redução atinge 35%, Δ16 = 0 e o máximo desvio passa a ser Δ18 ≈ 43000. Prosseguindo com a observação da figura, note-se que Δ18 é o último desvio positivo quando a redução está em 95% e vale, aproximadamente, 7500. Finalmente, todos os desvios anulam-se. Entretanto, isso nem sempre é alcançado, como foi mostrado nos testes anteriores.

Figura 3.
Exemplo de redução progressiva do desvio Ds de 0 até 100%, considerando um exemplar estocástico robusto de recurso restrito com 20 cenários.

Para se analisar o impacto do aumento do número de cenários, foram executados testes com exemplares de 20 até 300 cenários equiprováveis. As demandas e os tempos de preparação foram gerados aleatoriamente, conforme uma distribuição uniforme (inteira para a demanda e contínua para os demais parâmetros) entre 70 e 130% do respectivo valor nominal. Testes subsequentes utilizaram os cenários de testes anteriores, de modo que, em cada teste, apenas 20 cenários foram gerados. Por exemplo, para S = 40, os 20 primeiros cenários foram exatamente os 20 cenários do teste com S = 20, e assim por diante. A motivação para se construir os cenários dessa maneira foi que assim permite-se a comparação entre diferentes configurações de cenários. Para cada configuração de cenário, o desvio D foi progressivamente reduzido de zero (problema RN) até 100%. O problema cujo desvio foi 100% reduzido é designado problema totalmente robusto.

4.4.1. Análise de robustez

A Figura 4 ilustra as curvas de tradeoff entre a robustez do modelo (redução do desvio esperado D) e o incremento no valor da função objetivo (em %), considerando S = 20, ..., 100 (gráfico de cima, esquerda); S = 100, ..., 120 (gráfico de cima, direita); e S = 220, ..., 300 (gráfico de baixo). Em vários casos, não é dispendioso assegurar soluções mais robustas: sacrificando-se o valor ótimo em apenas 1% é possível reduzir Δ em 40, 25, 10 e 10%, para S = 40, 60, 100 e 180, respectivamente. Ainda, para todas as configurações de cenário, é preciso sacrificar em torno de 25% do custo total esperado para se alcançar uma redução do desvio de 50%. Forçando ainda mais a robustez da solução, a deterioração no valor da função objetivo eleva-se consideravelmente, principalmente quando S = 120, ..., 300. Note-se, por exemplo, que a taxa de variação do custo total aumenta mais quando a redução está mais próxima de zero: reduzir Δ em apenas 5% - de 95 para 100 - implica em aumentar o custo total em mais de 30% para S = 220, 260, 280, 300, e em mais de 40% para S = 180, 240, o que inviabiliza a adoção desses planos de produção. O melhor compromisso entre robustez e custo foi obtido para S = 20; nesse caso, o desvio foi totalmente reduzido com apenas 28% de aumento no valor ótimo. No pior desempenho (S = 180), a redução de 100% ocasionou um aumento drástico de quase 150% no custo total esperado.

Figura 4.
Curvas de tradeoff entre aumento do custo total esperado e redução do risco para S = 20, ..., 300, considerando um exemplar estocástico robusto de recurso restrito.

4.4.2. Efeito da robustez na solução ótima

Para assegurar a robustez da solução, o custo total é elevado como consequência do aumento nos custos individuais, proporcionado pelo aumento ou redução nos níveis das variáveis de decisão. O efeito da robustez na solução ótima foi analisado em todos os casos, mas é discutido em detalhes apenas para S = 20, 100, 200 e 300 (nos outros casos, a análise é similar). Como já mencionado anteriormente, as variáveis de primeiro estágio não variaram significativamente, porém observou-se uma suave tendência de redução nos níveis de produção e quantidade de placas utilizadas conforme a solução tornou-se mais robusta. Ao passo que os volumes de estoque não tiveram um comportamento óbvio, os atrasos aumentaram consideravelmente, principalmente quando as reduções aproximaram-se de zero, fazendo com que os respectivos custos fossem responsáveis pela maior parte da deterioração nos valores ótimos. Entretanto, os níveis de serviço não foram muito deteriorados, pois a maior parte da demanda atrasada é produzida até o final do horizonte de planejamento. Em média, 65, 57, 78 e 73% da demanda total atrasada não foi perdida, para S = 20, 100, 200 e 300, respectivamente. Foram observados alguns picos na utilização de horas extras à medida que o desvio aproximou-se de zero, magnitude que pareceu aumentar quando mais cenários foram incorporados ao problema.

4.4.3. Efeito do número de cenários na solução ótima

Fixando-se o nível de redução do desvio, foi possível analisar o efeito do número de cenários na solução ótima do modelo RR. As Tabelas 7, 8 e 9 exibem o desempenho dos problemas RN e RR quando a redução do desvio foi fixada em 0, 50 e 100%, respectivamente, para S = 20, ..., 300. Os valores ótimos elevaram-se com o aumento do número de cenários para os três níveis de redução. Para o problema RN, houve uma suave tendência na estabilização do valor ótimo entre 170000 e 180000, como sugerem os valores na Tabela 7. Nos problemas RR com reduções de 50 e 100%, os valores ótimos tiveram um comportamento semelhante ao caso anterior. Porém, são, aproximadamente, 16 e 95% mais elevados (em média), apresentaram picos maiores e a tendência de estabilização não está bem definida (veja Tabelas 8 e 9). Analisar a estabilização do valor ótimo em relação ao número de cenários pode ser importante porque permite ao decisor operar com um conjunto bem definido (fixo) de cenários e garantir precisão à solução do problema.

Tabela 7.
Efeito do número de cenários na solução ótima do problema estocástico neutro ao risco (redução zero).

Tabela 8.
Efeito do número de cenários na solução ótima do problema estocástico robusto (redução 50%).

Tabela 9.
Efeito do número de cenários na solução ótima do problema totalmente robusto (redução 100%).

É possível inferir que o comportamento das soluções para 0, 50 e 100% de redução é bastante similar quando o número de cenários aumenta, ressaltando que, no problema totalmente robusto, algumas tendências de redução e/ou crescimento são amplificadas. Note-se que a variação (desvio padrão relativo) do volume de produção, quantidade de placas utilizadas e número de preparações é cerca de 3% no problema totalmente robusto (veja última linha da Tabela 7). Com exceção do número de preparações, que não apresenta nenhuma tendência, os volumes de produção e estoque decrescem lentamente quando S aumenta. Tal comportamento pode ser confirmado nas Tabelas 7 a 9 (o comportamento da quantidade de placas utilizadas é muito similar ao comportamento do volume de produção, razão pela qual seu gráfico foi omitido). As decisões de segundo estágio, por sua vez, tiveram uma variação alta. O volume de estoque variou cerca de 16% no problema totalmente robusto e o atraso total variou mais de 48% no problema robusto com redução de 50%. Entretanto, a variação do nível de serviço foi, no máximo, 8,4% no problema totalmente robusto, confirmando que grande parte da demanda é produzida até o final do horizonte de planejamento (veja-se também que o maior pico de atraso em S = 180 não corresponde ao pior nível de serviço em S = 220). A utilização de horas extras ocorreu em picos em apenas alguns cenários, principalmente no problema totalmente robusto, como pode ser observado na Tabela 9.

4.4.4. Tempo computacional

A Figura 5 exibe os tempos médios de resolução necessários para obter o certificado de otimalidade dos problemas RR para S = 20, ..., 300 e os respectivos desvios padrão, considerando todos os níveis de redução do desvio. Como era de se esperar, conforme o número de cenários aumentou, o tempo computacional elevou-se drasticamente. A variação entre os tempos de resolução para um mesmo número de cenários S deve-se ao fato de que níveis de redução diferentes requerem esforços computacionais distintos. Para muitos valores de S, à medida que a solução tornou-se mais robusta, o tempo de resolução elevou-se gradualmente. Um resultado que chamou atenção ocorreu nos problemas com redução de 100%. O tempo de resolução requerido para esses problemas foi, em geral, muito mais baixo do que para os outros níveis de redução do desvio, incluindo-se os problemas com redução zero - isso é particularmente visível a partir de S = 220. Para prever o tempo computacional requerido para resolver exemplares com mais cenários, três curvas foram ajustadas aos pontos da Figura 5, uma linear, outra polinomial de ordem 2 e outra exponencial. Os ajustes R2das curvas foram 0,54857, 0,9198 e 0,94054, respectivamente. Utilizando-se o ajuste exponencial (que explica 94% da variância nos tempos de solução), estimou-se que seriam necessários 20.000 s para resolver na otimalidade exemplares com 400 cenários. Testes adicionais com exemplares de 400 cenários mostraram que em 3.600 s de execução do algoritmo nenhuma solução factível foi encontrada para todos os níveis de redução do desvio.

Figura 5.
a) Acima: Tempos de resolução dos problemas robustos para todos os cenários e níveis de redução; b) Abaixo: Tempos computacionais médios dos problemas robustos, respectivos desvios padrão e curva ajustada.

5. Considerações finais

Neste trabalho foram desenvolvidos e analisados modelos de programação estocástica para o problema de planejamento da produção em empresas moveleiras na presença de demandas e tempos de preparação incertos. Os modelos foram testados em situações que refletem diferentes probabilidades da árvore de cenários. Em cada situação, moderada, equiprovável, otimista e pessimista, as probabilidades dos cenários favoráveis e desfavoráveis foram devidamente ajustadas. Os resultados mostraram que as variáveis de decisão de primeiro e segundo estágios dos modelos não são sensíveis à variação das probabilidades, mas que os valores ótimos são, e, por esse motivo, deve-se atribuí-las com cautela. Os testes com o modelo com recurso restrito ilustraram o desempenho dos problemas à medida que a solução foi progressivamente tornando-se robusta, ou mais aversa ao risco, muitas vezes à custa de deteriorações significativas nos valores ótimos da função objetivo. Entretanto, em algumas situações, o "preço da robustez" não é elevado e é possível assegurar soluções aversas ao risco sacrificando pouco o custo total esperado. Em geral, tais soluções aversas ao risco ainda ocasionam maiores volumes de estoque e horas extras, ao passo que o nível de serviço é ligeiramente deteriorado. Vale a pena ressaltar que o modelo de recurso restrito fornece várias soluções baseadas no compromisso entre o custo total esperado e a redução da variabilidade das variáveis de recurso. Tais soluções alternativas não são identificadas pelos programas estocásticos neutros ao risco. Pesquisas futuras interessantes incluem o desenvolvimento de modelos robustos com aversão ao risco baseados em medidas de risco populares em otimização de portfólio, como value-at-risk (VaR) e conditional value-at-risk (CVaR).

Agradecimentos

Os autores agradecem os dois revisores anônimos pelos úteis comentários e sugestões. Esta pesquisa contou com apoio do CNPq e da Fapesp.

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  • *
    UFSCar, Sorocaba, SP, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Ago 2015
  • Data do Fascículo
    July-Sep 2015

Histórico

  • Recebido
    20 Jun 2012
  • Aceito
    13 Mar 2014
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