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Uma abordagem sistêmica do processo de produção em engenharia web, na fase de concepção

A systemic approach of the web engineering production process, in the conception phase

Resumo

A produção de aplicações Web apresenta problemas de baixa qualidade nas aplicações desenvolvidas, não cumprimento de prazo e orçamento, e desenvolvimento ad hoc, caótico e desestruturado. Acrescente-se que diferentes disciplinas e áreas do conhecimento, com abordagens e metodologias próprias, estão envolvidas com esse tipo de produção. Uma área do conhecimento denominada Engenharia Web foi criada para enfocar estas questões; entretanto, ainda não está consolidada. O presente trabalho tem como objetivo apresentar diretrizes para a definição do processo de produção de aplicações Web, a partir de uma abordagem sistêmica, na qual as diferentes disciplinas, os papéis e as atividades são correlacionados na fase de concepção do projeto. Como método de pesquisa, são utilizados três estudos de caso e duas pesquisas-ação, nos quais diferentes situações particulares são analisadas para a formação de um modelo teórico. O trabalho identifica um espaço de projeto formado pelas dimensões Forma, Função, Informação e Tecnologia, relacionadas às principais disciplinas envolvidas na produção de aplicações Web: Design, Engenharia de Software, Comunicação e Mídia. Conclui-se que, em função do padrão de projeto utilizado, existe um enfoque mais adequado para o processo de produção, orientado por uma ou mais dimensões do espaço de projeto, que permite ao projeto evoluir mais rapidamente a um nível esperado de qualidade.

Palavras-chave:
Engenharia Web; Processo; Produção; Aplicações Web; Design; Engenharia de software

Abstract

Web applications production presents problems like

low quality; non-compliance with deadline and budget, ad-hoc, chaotic and unstructured process. Moreover, different disciplines and knowledge areas, with particular approaches and methodologies, contribute with this type of production. A particular knowledge area named Web Engineering was developed to focus on these questions; however, it is not consolidated yet. This work aims to present guidelines to the definition of the Web applications production process, from a systemic approach, where the different disciplines, roles and activities are correlated, in the conception phase. The research method utilizes tree cases studies and two action-researches to create a theoretical model through analysis of particular situations. The work identifies a design space formed by the dimensions Form, Function, Information and Technology, related to the main disciplines involved in Web applications production: Design, Software Engineering and Communication & Media. According to the design standard used, it is concluded that there is a best fit for the production process, oriented by one or more dimensions of the design space, allowing a quick evolution of the project to the expected quality level.

Keywords:
Web engineering; Process; Production; Web applications; Design; Software engineering

1 Introdução

O impacto gerado pela difusão da Web na sociedade contemporânea é de inegável proporção. Sistemas Web incluem um esquema de formatação de texto conhecido como Hyper Text Markup Language (HTML), um protocolo de comunicação conhecido como Hyper Text Transference Protocol (HTTP) e um esquema de identificação de recursos acessáveis através deste protocolo, conhecido como Uniform Resource Identifier(URI). Estes componentes utilizam-se dos navegadores (browsers), para exibição e captura de informações, e da Internet, para a transmissão das informações. Criada por Tim Berners-Lee em 1989 e regulamentada comercialmente em 1995, a partir do ano 2000 a Web desponta como um fenômeno de massa de proporções significativas, originando uma ciência própria, a Ciência da Web (Web Science) (Berners-Lee et al., 2006Berners-Lee, T., Hall, W., Hendler, J. A., Shadbolt, N., & Weitzner, D. J. (2006). Creating a science of the Web. Science, 313(5788), 269-271. PMid:16902115.).

Por integrar empresas, clientes, mídias digitais e sistemas computacionais avançados em aplicativos únicos, a produção de aplicações Web (WebAp) demanda profissionais originários de áreas diversas, tais como design gráfico, ciências da computação, análise de sistemas, publicidade e comunicação, entre outras. Pesquisa recente aponta que o número de categorias profissionais atuando no desenvolvimento deste tipo de aplicação totaliza mais de 74 profissões (Associação Brasileira de Profissionais da Internet, 2007Associação Brasileira de Profissionais da Internet – ABRAWEB. (2007). 1º Censo Oficial de Profissionais de Internet. Recuperado em 10 de Fevereiro de 2009, de http://www.abraweb.com.br/
http://www.abraweb.com.br/...
).

Consequência desta multidisciplinaridade, pesquisas sobre o desenvolvimento de aplicações Web evidenciam problemas de baixa qualidade, não cumprimento de prazos e orçamentos, desenvolvimento ad-hoc, caótico e desestruturado (Ginige & Murugesan, 2008Ginige, A., & Murugesan, S. (2008). Web engineering: introduction and perspective. In D. M.Brandom, Software engineering for modern web applications (pp. 01-30). Hershey: IGI Global.). Neste sentido, os autores apontam semelhanças com os problemas que, no passado, deram origem à Engenharia de Software (SwE). Entretanto, os autores destacam que o desenvolvimento de aplicações Web é diferente do desenvolvimento de software tradicional, enfatizando as suas características multidisciplinares e reforçando a necessidade de que os processos de desenvolvimento de sistemas Web sejam estruturados de acordo com novas abordagens, a partir de abordagens holísticas.

O presente trabalho tem como questão de pesquisa identificar a maneira mais apropriada para aplicar uma abordagem de engenharia à Web. Para isto, posiciona-se no contexto de uma das questões básicas apresentadas por Berners-Lee et al. (2006)Berners-Lee, T., Hall, W., Hendler, J. A., Shadbolt, N., & Weitzner, D. J. (2006). Creating a science of the Web. Science, 313(5788), 269-271. PMid:16902115.: Como aplicar uma abordagem de engenharia à Web? Pelo fato de este ser um problema de grande abrangência, o mesmo será limitado, de acordo com as questões apresentadas a seguir:

  • Q1 - Por que os processos da SwE não são satisfatórios? Como deve ser o processo de desenvolvimento para a Web?

  • Q2 - Como estabelecer um processo estruturado, a partir de uma abordagem holística e abarcando as diferentes disciplinas?

Os objetivos do trabalho são:

  1. i

    Desenvolver um método para planejamento do processo de produção de aplicações Web, na fase de concepção do projeto;

  2. ii

    Apresentar um modelo de referência para decisão em relação à melhor abordagem técnica do processo de desenvolvimento, em função de diferentes padrões e categorias de aplicações Web.

O escopo deste trabalho é o Projeto Web, no qual uma equipe de desenvolvimento multidisciplinar tem a missão de desenvolver uma aplicação Web para um determinado negócio. Presume-se que exista, para o Projeto Web, uma expectativa de sucesso relacionada à qualidade do produto gerado, ao escopo definido, bem como restrições de prazo e custos. Especificamente, o foco desta pesquisa é a fase de concepção. Na visão da Engenharia de Sistemas, apresentada pela norma ISO 15288, nesta fase são definidas as necessidades das partes interessadas, os requisitos do sistema e o ciclo de vida (processo) (International Organization for Standardization, 2002International Organization for Standardization – ISO. (2002). FDIS 15288: information technology - life cycle management: system life cycle processes. Geneva: ISO.). Na visão da Engenharia de Software apresentada no SWEBOK (IEEE Computer Society, 2004IEEE Computer Society. (2004). Guide to the software engineering body of knowledge. Los Alamitos: SWEBOK.), encontra-se nesta fase a determinação e a negociação de requisitos, e o planejamento do processo. Assim, o escopo do trabalho fica delimitado a esta fase e é limitado, ainda, ao processo de produção e ao contexto das disciplinas envolvidas.

Este trabalho está organizado da seguinte forma: a revisão bibliográfica traça um cenário do processo de produção de aplicações Web e das diferentes concepções deste, sob a ótica de suas disciplinas constituintes, mostrada na seção 2. Na seção 3, é realizada a revisão bibliográfica dos fundamentos teóricos e princípios básicos das macrodisciplinas relacionadas à produção de aplicações Web (WebAp). A partir da revisão bibliográfica, são traçadas considerações numeradas, que servem de apoio para a definição dos elementos do modelo a ser desenvolvido na pesquisa de campo, mostradas na seção 5. A pesquisa de campo faz uso de estudos de caso e pesquisa-ação, com o propósito de construção de teoria (Voss et al., 2002Voss, C., Tsikriktsis, N., & Frohlich, M. (2002). Case research in operations management. International Journal of Operations & Production Management, 22(2), 195-219. http://dx.doi.org/10.1108/01443570210414329.
http://dx.doi.org/10.1108/01443570210414...
; Thiollent, 1997Thiollent, M. (1997). Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez.). O modelo final, mostrado na seção 6, é gerado a partir das considerações da revisão bibliográfica e dos resultados dos estudos de campo.

São realizados três estudos de caso e duas pesquisas-ação, envolvendo a produção de aplicações Web, exceto no estudo de caso 2 (EC2). Este faz uso do princípio de isomorfismo (Bertalanffy, 1973Bertalanffy, L. (1973). Teoria geral de sistemas. Petrópolis: Vozes.) entre diferentes campos do conhecimento, a fim de encontrar elementos para o processo de produção de aplicações Web, considerando-se a semelhança sistêmica deste com o processo de projeto de edifícios.

Para os estudos de campo, foram escolhidas situações particulares bastante distintas, a fim de identificar variáveis e relações em comum para diferentes domínios de aplicação, evitando possíveis vieses de domínios específicos (por exemplo: somente aplicações de portais ou comércio eletrônico). Entretanto, uma vez que o modelo é gerado partindo-se de situações particulares para uma abstração geral, este é limitado pelo princípio de falseabilidade (Popper, 1975Popper, K. (1975). A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, Edusp.), não sendo possível a validação externa, no sentido da generalização.

2 Produção de aplicações Web

Nesta seção, são apresentados os conceitos fundamentais que compõem a revisão da literatura referente à produção de aplicações Web.

2.1 Aplicações Web

Neste trabalho, o termo aplicação Web (WebAp) é utilizado para descrever sistemas em ambiente Web. Para Pressman (2006)Pressman, R. S. (2006). Engenharia de Software (6. ed). São Paulo: McGraw Hill., uma aplicação Web pode ser de uma simples página a um Web site completo. Esta é a definição mais geral encontrada e é a definição utilizada neste trabalho. Esta definição abrange os seguintes termos, também empregados na literatura: sistemas baseados em Web (Web-based systems), sistemas Web (Web systems).

2.2 Design e projeto

Neste trabalho, o termo design é entendido como uma disciplina, praticada por um designer, que busca conciliar os aspectos técnicos e artísticos na concepção de um produto (Brasil, 2004Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação (2004, Março 15). Resolução CNE/CES 5 (2004). Aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Design e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil.). O termo projeto (grafado com p minúsculo) é relacionado à atividade de projetar. Já o termo Projeto (grafado com P maiúsculo) é entendido não como a atividade de projetar, mas como uma atividade temporária para atingir um objetivo (Project Management Institute, 2004Project Management Institute – PMI. (2004). A Guide to project management body of knowledge. Pennsylvania: PMI.).

2.3 Engenharia de Software

A Engenharia de Software (SwE) é definida como a aplicação de princípios de Engenharia ao desenvolvimento de software (Pressman, 2006Pressman, R. S. (2006). Engenharia de Software (6. ed). São Paulo: McGraw Hill.).

De acordo com o SWEBOK, a Área de Conhecimento de Gestão da Engenharia de Software inclui a subárea Planejamento do Projeto de Software e esta, por sua vez, contém a prática de Planejamento do Processo, que envolve a seleção do modelo de ciclo de vida mais adequado e a adaptação dos processos de ciclo de vida à luz do escopo e dos requisitos particulares do Projeto em questão (IEEE Computer Society, 2004IEEE Computer Society. (2004). Guide to the software engineering body of knowledge. Los Alamitos: SWEBOK.). O escopo do presente trabalho enfoca as práticas de determinação de requisitos e planejamento do processo.

De forma geral, requisitos de software são classificados como requisitos funcionais e não funcionais IEEE Computer Society, 2004IEEE Computer Society. (2004). Guide to the software engineering body of knowledge. Los Alamitos: SWEBOK.; Sommerville, 2008Sommerville, I. (2008). Engenharia de Software. São Paulo: Pearson Addison-Wesley.). Segundo o SWEBOK, “os requisitos funcionais descrevem as funções que o software deve executar” (IEEE Computer Society, 2004, p. 35).

2.4 Engenharia Web

A Engenharia Web (WebE) é definida como “a aplicação de princípios científicos, de engenharia, gestão e abordagem sistemática para o desenvolvimento, a implantação e a manutenção de sistemas e aplicações Web de alta qualidade” (Ginige & Murugesan, 2001Ginige, A., & Murugesan, S. (2001). Web Engineering: an introduction. IEEE MultiMedia, 8(1), 14-18. http://dx.doi.org/10.1109/93.923949.
http://dx.doi.org/10.1109/93.923949...
, p. 16). Segundo estes autores, ao contrário da percepção de alguns desenvolvedores e engenheiros de software, a Engenharia Web não é um clone da Engenharia de Software, embora ambas envolvam programação e desenvolvimento de software: “[...] a WebE adota e abrange muitos dos princípios da Engenharia de Software (SwE), e incorpora vários novas abordagens, metodologias, técnicas e diretrizes para alcançar os requisitos únicos dos sistemas baseados em Web” (Ginige & Murugesan, 2001Ginige, A., & Murugesan, S. (2001). Web Engineering: an introduction. IEEE MultiMedia, 8(1), 14-18. http://dx.doi.org/10.1109/93.923949.
http://dx.doi.org/10.1109/93.923949...
, p. 16).

Ahmad et al. (2005)Ahmad, R., Li, Z., &Azam, F. (2005). Web engineering: a new emerging discipline. In Proceedings of the 10th IEEE International Conference on Emerging Technologies,Islamabad, Paquistão. fazem um trabalho de revisão bibliográfica e apontam a WebE como uma nova disciplina, “irmã” da Engenharia de Software (SwE), porém não um “clone” desta. Pressman (2000)Pressman, R. S. (2000). What a tangled Web We Weave. IEEE Software, 17(1), 18-21. destaca as diferenças intrínsecas entre aplicações Web e aplicações convencionais de software, além de diferenças de ordem sociotécnica, relacionadas tanto ao público-alvo como aos envolvidos na sua produção.

De forma geral, a Engenharia Web visa ao estabelecimento de uma nova disciplina que, embora usando muitos dos fundamentos da Engenharia de Software (SwE), apresenta novos paradigmas, como a multidisciplinaridade no desenvolvimento, tratada imparcialmente, e a abordagem sistêmica de aspectos estéticos, funcionais, de usabilidade e informativos (Ginige & Murugesan, 2001Ginige, A., & Murugesan, S. (2001). Web Engineering: an introduction. IEEE MultiMedia, 8(1), 14-18. http://dx.doi.org/10.1109/93.923949.
http://dx.doi.org/10.1109/93.923949...
; Kappel et al., 2004Kappel, G., Michlmayr, E., Pröll, B., Reich, S., & Retschitzegger, W. (2004). Web Engineering: old wine in new bottles? 4th International Conference on Web Engineering – ICWE (pp. 6-12), Munich, German.; Deshpande, 2004Deshpande, Y. (2004). Web engineering curriculum: a case study of an evolving framework. In Proceedings of the 4th International Conference on Web Engineering – ICWE, Munich, Germany.).

2.5 Enfoques da produção de aplicações Web

Os estudos iniciais enfocando a produção de aplicações Web (ou hipermídia) buscaram diferenciá-la do processo de desenvolvimento de software convencional e caracterizar atividades específicas no processo de desenvolvimento, como:

  1. a

    Construção de diagramas de navegação e hipertexto, também denominados mapas de navegação (Schwabe et al., 1999Schwabe, D., Pontes, R., & Moura, I. (1999). OOHDM-Web: an environment for implementation of hypermedia applications in the WWW. ACM SigWEB Newsletter, 8(2), 18-34.; Ceri et al., 2000Ceri, S., Fraternali, P., &Bongio, A. (2000). Web Modeling Language (WebML): a modeling language for designing Web sites. Computer Networks, 33(1), 137-157.; Pressman, 2006Pressman, R. S. (2006). Engenharia de Software (6. ed). São Paulo: McGraw Hill.);

  2. b

    Construção do modelo de Arquitetura da Informação (Schwabe et al., 1999Schwabe, D., Pontes, R., & Moura, I. (1999). OOHDM-Web: an environment for implementation of hypermedia applications in the WWW. ACM SigWEB Newsletter, 8(2), 18-34.; Ceri et al., 2000Ceri, S., Fraternali, P., &Bongio, A. (2000). Web Modeling Language (WebML): a modeling language for designing Web sites. Computer Networks, 33(1), 137-157.; Pressman, 2006Pressman, R. S. (2006). Engenharia de Software (6. ed). São Paulo: McGraw Hill.);

  3. c

    Projeto (design) das interfaces, com leiaute de páginas e elementos característicos de HTML (Schwabe et al., 1999Schwabe, D., Pontes, R., & Moura, I. (1999). OOHDM-Web: an environment for implementation of hypermedia applications in the WWW. ACM SigWEB Newsletter, 8(2), 18-34.; Ceri et al., 2000Ceri, S., Fraternali, P., &Bongio, A. (2000). Web Modeling Language (WebML): a modeling language for designing Web sites. Computer Networks, 33(1), 137-157.; Pressman, 2006Pressman, R. S. (2006). Engenharia de Software (6. ed). São Paulo: McGraw Hill.).

Estas abordagens consideram a produção de aplicações Web pela ótica da Informática ou das Ciências da Computação. A literatura apresenta, entretanto, outras concepções da produção de WebAp a partir da ótica de Comunicação e Design, Arquitetura da Informação e Usabilidade, e da concepção puramente artística.

Na concepção de Comunicação e Design, a produção de WebAp é vista como um canal de comunicação (Donati et al., 1997Donati, L. P., Carvalho, H., & Prado, G. (1997). Sites na Web: considerações sobre o Gráfico e a estrutura de navegação. DesignRevista da Pós-Graduação, Instituto de Artes. UNICAMP, Campinas, 1(1), 27-39.), no qual o conteúdo e a forma da mensagem devem ser projetados considerando-se aspectos culturais, cognitivos, artísticos e técnicos (Faiola & Matei, 2006Faiola, A., & Matei, S. A. (2006). Cultural cognitive style and Web design: beyond a behavioral inquiry into computer-mediated communication. Journal of Computer-Mediated Communication, 11(1), 375-394. http://dx.doi.org/10.1111/j.1083-6101.2006.tb00318.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1083-6101.20...
), além de fundamentos de Ergonomia e psicologia Gestalt (Todeschini, 2002Todeschini, R. T. (2002). Um modelo para o desenvolvimento de ferramentas que disponibilizam informação ao planejamento e produção de sites com ênfase na percepção visual (Tese de doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina.).

A concepção da Arquitetura da Informação vê uma WebAp como um espaço informacional a ser projetado, formando uma “paisagem digital” à qual são aplicados os conceitos de Arquitetura e Design (Rosenfeld & Morville, 2002Rosenfeld, L., & Morville, P. (2002). Information Architecture for the World Wide Web. Sebastopol: O’Reilly.).

Uma corrente significativa de autores discute a produção de aplicações Web sob o enfoque da Usabilidade. A Usabilidade é considerada uma subárea de aplicação da Ergonomia (Nielsen, 1993Nielsen, J. (1993). Usability Engineering. New York: Academic Press.; Aragão, 2001Aragão, C. R. V. (2001). A percepção do usuário sobre o fator usabilidade das páginas da web voltadas para o comércio eletrônico (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina.). Usabilidade pode ser definida como a efetividade, a eficiência e a satisfação com que determinados usuários conseguem atingir objetivos específicos em circunstâncias particulares (ISO DIS 9241-11, 1994 apudKulczynskyj, 2002Kulczynskyj, M. (2002). Usabilidade de interfaces em websites envolvendo animações, propagandas e formas de auxílio (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina.).

2.6 Padrões de projeto de aplicações Web

O conceito de padrões de projeto (design patterns) surgiu com o trabalho de Christopher Alexander, na área de Arquitetura e Urbanismo. Para Alexander, “cada padrão descreve um problema que ocorre repetidas vezes em nosso ambiente e depois descreve o núcleo da solução para este problema, de modo que você possa usar esta solução um milhão de vezes, sem fazê-la da mesma maneira duas vezes” (Alexander, 1979Alexander, C. (1979). The timeless way of building. New York: Oxford University Press.; Pressman & Lowe, 2009Pressman, R. S., & Lowe, D. (2009). Engenharia Web. Rio de Janeiro: LTC.).

Padrões de projeto para sistemas hipermídia são apresentados por Garrido et al. (1997)Garrido, A., Rossi, G., & Schwabe, D. (1997). Pattern systems for hypermedia. In Proceedings of the 4th Pattern Languages of Programming Conference. Seattle, USA., que identificam três categorias de padrões: padrões de sistemas hipermídia, padrões de navegação em aplicações hipermídia e padrões de interface com o usuário. Rossi et al. (1997)Rossi, G., Schwabe, D., & Garrido, A. (1997). Design reuse in hypermedia applications development. Proceedings of the eighth ACM conference on hypertext, hypertext design (pp. 57-66), Southampton, U.K. detalham padrões de projeto de navegação para aplicações Web. Pressman & Lowe (2009)Pressman, R. S., & Lowe, D. (2009). Engenharia Web. Rio de Janeiro: LTC. ampliam para cinco categorias de padrões de projeto para WebAp: de arquitetura de informação; de navegação; de interação; de apresentação, e funcionais.

Bolchini (2000)Bolchini, D. (2000). Web design patterns: improving quality and performance in Web Application design (Dissertação de mestrado). Universit della Svizzera Italiana, Lugano. propõe alguns padrões de projeto para aplicações Web tomando como base os elementos definidos na metodologia OOHDM (Schwabe et al., 1999Schwabe, D., Pontes, R., & Moura, I. (1999). OOHDM-Web: an environment for implementation of hypermedia applications in the WWW. ACM SigWEB Newsletter, 8(2), 18-34.), bem como padrões de projeto para hipermídia. A Tabela 1 mostra os padrões apresentados por Bolchini (2000)Bolchini, D. (2000). Web design patterns: improving quality and performance in Web Application design (Dissertação de mestrado). Universit della Svizzera Italiana, Lugano..

Tabela 1
Padrões de projeto para Web e elementos relacionados no domínio de modelagem. Adaptado de Gonçalves et al. (2005)Gonçalves, R. F., Gava, V. L., Pessôa, M. S. P., & Spinola, M. M. (2005). Uma proposta de processo de produção de aplicações Web. Revista Produção, 15(3), 376-389..

Bolchini (2000)Bolchini, D. (2000). Web design patterns: improving quality and performance in Web Application design (Dissertação de mestrado). Universit della Svizzera Italiana, Lugano. parte dos aspectos de projeto de hipermídia e de aplicações Web em particular, identificando quatro aspectos de projeto: projeto de navegação; projeto de informação; projeto funcional, e projeto de interface. Estes quatro aspectos de projeto estão relacionados a um espaço de projeto de três dimensões, características de aplicações hipermídia em geral e de WebAp, em particular: estrutura, leiaute e dinâmica. Destaca-se que os aspectos de projeto identificados correspondem ao revisto na literatura de produção de aplicações Web.

As considerações derivadas da revisão bibliográfica desta seção são resumidas na Tabela 2. Em particular, os termos Interdisciplinaridade e Multidisciplinaridade são utilizados indistintamente na literatura sobre produção de aplicações Web. Entretanto, Interdisciplinaridade refere-se à utilização de métodos, conceitos e/ou técnicas de uma disciplina por outras, enquanto Multidisciplinaridade refere-se somente a um conjunto de disciplinas presentes em um contexto, porém não inter-relacionadas (Carlos, 2007Carlos, J. G. (2007). Interdisciplinaridade no Ensino Médio: desafios e potencialidades (Dissertação de mestrado). Universidade de Brasília, Brasília.).

Tabela 2
Resumo das considerações finais da seção.

No contexto interdisciplinar, o espaço de projeto identificado por Bolchini (2000)Bolchini, D. (2000). Web design patterns: improving quality and performance in Web Application design (Dissertação de mestrado). Universit della Svizzera Italiana, Lugano. pode ser relacionado, através dos artefatos produzidos e utilizados, às disciplinas Arquitetura da Informação, Design e Engenharia de Software (Figura 1).

Figura 1
Relação entre as atividades de projeto, os artefatos resultantes das atividades e as principais disciplinas, partindo do espaço de projeto proposto por Bolchini (2000)Bolchini, D. (2000). Web design patterns: improving quality and performance in Web Application design (Dissertação de mestrado). Universit della Svizzera Italiana, Lugano.. Fonte: elaborado pelos autores.

3 Macrodisciplinas relacionadas

Partindo das atividades técnicas e bases de disciplinas aplicadas da produção de WebAp, chega-se às macrodisciplinas das quais estas são derivadas. Esta seção apresenta uma visão das bases conceituais das macrodisciplinas envolvidas na produção de aplicações Web.

3.1 Engenharia de sistemas

Segundo Shenhar (1994)Shenhar, A. (1994). System engineering management: a framework for development of a multidisciplinary discipline.IEEE Transactions on Systems, Man and Cybernetics, 24(2), 327-332., a Engenharia de Sistemas (SysE) é um ramo da gestão de tecnologia e engenharia dedicado a controlar o Projeto de sistemas complexos feitos pelo homem. Para Shenhar (1994)Shenhar, A. (1994). System engineering management: a framework for development of a multidisciplinary discipline.IEEE Transactions on Systems, Man and Cybernetics, 24(2), 327-332., o engenheiro de sistemas deve desempenhar os seguintes papéis:

  • Arquiteto de solução e chefe do projeto conceitual: ser o líder na concepção do sistema e estabelecer o vínculo entre os requisitos do sistema e sua configuração.

  • Integrador: ter a visão do todo e da contribuição de cada parte. Deve coordenar os esforços de cada profissional e disciplina de forma a obter o melhor resultado final.

  • Solucionador de problemas e tomador de decisão: o processo de engenharia de sistemas envolve muitas decisões de trade-off e resolução de conflitos nos pontos de interface. Os conflitos são de ordem profissional e resultam dos diferentes pontos de vista, interesses e vieses dos vários participantes do Projeto.

3.2 Design

Gomes Filho (2006)Gomes Filho, J. (2006). Design do objeto: bases conceituais. São Paulo: Escrituras. apresenta as bases conceituais do design, identificando três aspectos básicos para os produtos industriais: o aspecto prático, o aspecto estético e o aspecto simbólico. Identifica, ainda, outras bases conceituais sobre as quais o design se apoia, como: Semiótica, Gestalt e Ergonomia.

Historicamente, o design envolve a questão FORMA-FUNÇÃO, que tem suas origens na filosofia grega (Cipiniuk, 2008Cipiniuk, A. (2008). Forma. In L. A. L. Coelho, Conceitos-chave em Design. Rio de Janeiro: Novas Ideias.), tendo se caracterizado no design a partir da Revolução Industrial.

Niemeyer (1980)Niemeyer, O. (1980). Forma e função na arquitetura. Arte em Revista, 2(4), 57-60. discute a relação FORMA-FUNÇÃO como essência do projeto em Arquitetura, discursando em favor da liberdade criativa ‒ formadora do aspecto artístico da arquitetura ‒ que não pode ser alcançada por uma abordagem puramente funcionalista. O autor não renega o funcionalismo e sim defende uma adoção equilibrada da abordagem funcional com a formal-estética.

Munari (1997)Munari, B. (1997). Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes. acrescenta que, na concepção de um Projeto, é feita a identificação dos aspectos e das funções. O problema é analisado nos dois componentes principais: físico e psicológico. O primeiro diz respeito à forma do objeto que deve ser projetado; requer um estudo técnico e econômico para identificar possíveis soluções, totais ou parciais, já encontradas em outros casos. O segundo diz respeito à relação entre o objeto e seu usuário.

Percebe-se, em suma, que a disciplina de design trata, em essência, da relação intrínseca entre forma e função durante a atividade de projeto. Esta relação aparece também no projeto em Arquitetura. Projetar, na disciplina de design, envolve fundamentos e bases conceituais, como ergonomia, gestalt, semiótica, entre outras. Percebe-se, em particular, que algumas destas bases são compartilhadas no contexto de IHC e prototipação.

3.3 Comunicação e mídia

Shannon (1948)Shannon, C. E. (1948). A mathematical theory of communication. The Bell System Technical Journal, 27, 379-423. considera a comunicação como uma função de transferência da informação, isto é, mensagem dotada de significação, ao longo do tempo e do espaço. Para ser transferida, a informação é codificada conforme as características do meio de comunicação. Contudo, Shannon declara que a discussão da semântica da informação é irrelevante do ponto de vista da engenharia.

Pignatari (1981Pignatari, D. (1981). Informação Linguagem Comunicação. São Paulo: Cultrix., p. 18) acrescenta que o código é “um sistema de símbolos que, por convenção pré-estabelecida, se destina a representar e transmitir uma mensagem”. Portanto, a discussão do código, na condição de sistema de símbolos, está na área de compreensão da Semiótica.

Partindo desta visão, alguns teóricos de comunicação extrapolam as ideias de Shannon (1948)Shannon, C. E. (1948). A mathematical theory of communication. The Bell System Technical Journal, 27, 379-423., dentro do campo da subjetividade da comunicação humana em geral (Pignatari, 1981Pignatari, D. (1981). Informação Linguagem Comunicação. São Paulo: Cultrix.). Neste contexto, os diferentes meios de comunicação ‒ medium em latim, no singular, e media, no plural ‒ são genericamente denominados como mídia, em português (Pignatari, 1981Pignatari, D. (1981). Informação Linguagem Comunicação. São Paulo: Cultrix.; Coelho Neto, 1999Coelho Neto, J. T. (1999). Semiótica informação e comunicação. São Paulo: Perspectiva.).

Em um trabalho clássico, McLuhan (1970)McLuhan, M. (1970). Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Cultrix. defende a indistinção entre o meio e a mensagem nas mídias de massas, incluindo as mídias eletrônicas, afirmando que o “meio é a mensagem” (McLUHAN, 1970McLuhan, M. (1970). Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Cultrix.; Coelho Neto, 1999Coelho Neto, J. T. (1999). Semiótica informação e comunicação. São Paulo: Perspectiva.; Pignatari, 1981Pignatari, D. (1981). Informação Linguagem Comunicação. São Paulo: Cultrix.).

Para Coelho Neto (1999)Coelho Neto, J. T. (1999). Semiótica informação e comunicação. São Paulo: Perspectiva., a comunicação consiste em colocar a informação em um determinado formato, adequando o repertório da mensagem ao repertório da audiência em questão. A partir desta visão, o autor discute a relação entre FORMA e INFORMAÇÃO, concluindo que a mensagem também está associada à FORMA (por exemplo: um quadro ou um cartaz publicitário).

Vê-se assim que a disciplina de comunicação e mídia foca a relação entre FORMA e INFORMAÇÃO nos diferentes meios de comunicação.

3.4 Outras disciplinas e contribuições adicionais

Nesta seção, são discutidas visões de disciplinas relacionadas direta ou indiretamente ao contexto do presente trabalho, bem como as contribuições teóricas adicionais que estas visões podem fornecer para o cumprimento dos objetivos propostos. São discutidas as contribuições das disciplinas Ergonomia, Engenharia Simultânea e Gestão de Projetos.

A Associação Brasileira de Ergonomia (2006)Associação Brasileira de Ergonomia. (2006). O que é ergonomia. Rio de Janeiro: ABERGO. Recuperado em 18 de Setembro de 2008, de http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_que_e_ergonomia
http://www.abergo.org.br/internas.php?pg...
caracteriza a Ergonomia em três domínios de especialização: Ergonomia Física, Cognitiva e Organizacional. No presente trabalho, a Ergonomia Física e a Cognitiva têm relevância no contexto da Usabilidade das Aplicações Web. A Ergonomia Organizacional reflete-se na otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos. Inclui o estudo do trabalho em grupo e, em particular, do trabalho cooperativo.

Silvino & Abrahão (2003)Silvino, A. M. D., & Abrahão, J. I. (2003). Navegabilidade e inclusão digital. RAE. Revista de Administração de Empresas, 2(2), 00-17. derivam dos fundamentos de Ergonomia Cognitiva os fundamentos de Usabilidade para Web sites e, em particular, de navegabilidade, identificando elementos como Arquitetura de Conteúdo e Estética Funcional.

Da Ergonomia Organizacional, percebe-se a necessidade de formação de um modelo mental compartilhado por todos os projetistas para a realização do trabalho cooperativo (Norman, 2002Norman, D. A. O. (2002). Design do dia-a-dia. Rio de Janeiro: Editora Rocco.).

Para Gava et al. (2007)Gava, V. L., Gonçalves, R. F., & Spinola, M. M. (2007). O Uso de técnicas de ergonomia e JAD para a definição do trabalho coletivo em sistema de informação In Anais do 4º CONTECSI – International Conference on Information Systems and Technology Management. São Paulo, Brasil., a formação de um modelo mental compartilhado que envolva tanto a equipe de Projeto quanto os usuários participantes do Projeto é fundamental para a produção eficaz de sistemas de informação e, em particular, dos aspectos de usabilidade destes.

Gonçalves et al. (2008)Gonçalves, R. F., Gava, V. L., Ferreira, R. C., & Pessôa, M. S. P. (2008). Ergonomic challenges in system information implantation for building design support: a Brazilian experience. In Human Factors in Organizational Design and Management – IX (Vol. 1., pp. 353-359). Santa Monica: IEA Press. identificam a formação do modelo mental compartilhado na indústria de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC), analisando o processo de projeto de edifícios residenciais, que envolve tipicamente equipes multidisciplinares, como engenheiros de diferentes especialidades, arquitetos, paisagistas, decoradores e gerentes de Projeto.

Em um contexto mais amplo, Estorilio (2003)Estorilio, C. C. A. (2003). O trabalho dos engenheiros em situações de projeto de produto: uma análise de processo baseada na ergonomia (Tese de doutorado). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo. aborda as características do trabalho de engenheiros no desenvolvimento de produtos complexos, identificando que os métodos da engenharia tradicional não são suficientes para abordar esta questão e propõe a aplicação de métodos de Engenharia Simultânea (SimE).

A Engenharia Simultânea (SimE), também chamada de Engenharia Concorrente, “é geralmente reconhecida como a prática de incorporar vários valores de ciclos de vida nos estágios iniciais de projeto. Estes valores incluem não apenas as funções primárias do produto, mas também a estética, manufaturabilidade, montagem, adequação ao uso e descarte” (Ishii, 1990Ishii, K. (1990). The role of computers in simultaneous engineering. In Proceedings of the 1990 ASME International Computers in Engineering Conference, Boston, USA., p. 2).

Neste trabalho, consideram-se quatro fundamentos básicos da SimE (Smith, 1997Smith, R. P. (1997). The historical roots of concurrent engineering fundamentals. IEEE Transactions on Engineering Management, 44(1), 67-78.; Ishii, 1990Ishii, K. (1990). The role of computers in simultaneous engineering. In Proceedings of the 1990 ASME International Computers in Engineering Conference, Boston, USA.): i) desenvolvimento simultâneo do produto e do processo de produção; ii) desenvolvimento por equipes multidisciplinares; iii) inclusão da voz dos usuários (e stakeholders, em geral) no processo; iv) concentração do enfoque multidisciplinar na fase inicial do processo.

Da Gestão de Projetos, destaca-se, no contexto do presente trabalho, o balanceamento entre as variáveis de Projeto qualidade, escopo, tempo e custo (Prieto et al., 2005Prieto, V. C., Prieto, E., & Carvalho, M. M. (2005). Implementação de sistemas da qualidade: uma visão por projetos. In Anais da XII SIMPEP. Bauru, Brasil.). Uma vez que o presente trabalho considera a existência de um Projeto Web para o qual estão pré-definidos o escopo e as restrições de prazo e custo, bem como uma expectativa de qualidade, torna-se, então, necessário definir o que se entende por expectativa de qualidade. Esta é entendida em termos da Adequação ao Uso (Juran & Gryna, 1991Juran, J. M., & Gryna, F. M. (1991). Controle da Qualidade: conceitos, políticas e filosofia da qualidade. São Paulo: Makron, McGraw-Hill.; Paladini, 1996Paladini, E. P. (1996). Gestão da Qualidade: a nova dimensão da gerência da produção (Tese de Livre-docência). Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina.). Considera-se que um Projeto Web evolua gradativamente em direção a um nível ideal de adequação ao uso.

As considerações derivadas da revisão bibliográfica realizada na seção 3 são resumidas na Tabela 3, numeradas em sequência em relação às considerações da Tabela 2. A Figura 2 representa as macrodisciplinas relacionadas.

Tabela 3
Resumo das considerações finais da seção, dando sequência às da seção anterior.
Figura 2
Quadro interdisciplinar, relacionando as disciplinas diretamente afetas à produção de aplicações Web e às macrodisciplinas discutidas nesta seção. Fonte: elaborado pelos autores.

4 Pesquisa de campo

Nesta seção, são apresentadas as pesquisas de campo realizadas para a construção da teoria, por indução, a partir dos resultados particulares obtidos. A ordem em que as pesquisas são apresentadas não corresponde exatamente à ordem cronológica, uma vez que houve alguma sobreposição. A interpretação dos resultados das pesquisas realizadas nesta seção, juntamente com as considerações das seções anteriores, é apresentada na seção 5.

4.1 Estudo de caso 1 (EC1): desenvolvimento de intranets

O estudo de caso foi realizado em um departamento responsável pelo desenvolvimento de aplicações Web em uma instituição de pesquisa em tecnologia de grande porte. As aplicações desenvolvidas nesse local visam à automação de processos internos, em ambiente Web e sobre rede corporativa privada (intranet). Os clientes são os responsáveis de cada departamento e os usuários são os funcionários desses departamentos.

Este estudo de caso teve como objetivo avaliar empiricamente aspectos referentes ao trabalho interdisciplinar relatados na literatura que não estão suficientemente claros. A questão norteadora fundamental para este estudo de caso é: Como é feito o desenvolvimento interdisciplinar de uma aplicação Web? Especificamente, são analisados os papéis e atividades desempenhados pelos profissionais no processo.

O caso foi selecionado por oferecer condições de trabalho interdisciplinar, com os perfis profissionais bem definidos e um processo estabilizado, embora não formalizado. Também oferecia ampla liberdade de acesso aos participantes e à documentação.

Foram entrevistados coletivamente os três funcionários do departamento que trabalham diretamente no desenvolvimento das aplicações. A entrevista foi orientada visando a identificar: (i) as características gerais das aplicações desenvolvidas; (ii) os papéis envolvidos; (iii) o processo (as atividades, a ordem na qual foram feitas, como foram feitas e as ferramentas e artefatos utilizados); (iv) quais os pontos de dificuldades e o que pode melhorar em termos de processo de desenvolvimento.

Posteriormente, o texto gerado a partir da entrevista foi validado pelo responsável do departamento e algumas lacunas foram preenchidas.

Os resultados obtidos neste estudo (EC1) estão resumidos na Tabela 4. Contudo, este estudo enfocou um padrão bastante específico de aplicações Web, o padrão funcional, e não permite que as conclusões obtidas possam ser generalizadas para outros padrões. A discussão dos resultados obtidos neste trabalho para outros padrões de aplicações Web ficou como sugestão para futuros estudos.

Tabela 4
Resumo dos resultados das pesquisas de campo

4.2 Pesquisa-ação 1 (PA1): construção de portal

O Projeto Web em questão, realizado através da metodologia de pesquisa-ação, consiste na construção do website institucional (portal) de um departamento de uma escola de engenharia, pertencente a uma universidade pública. A adoção desta metodologia é justificada pela possibilidade de os pesquisadores aplicarem as conclusões obtidas no estudo de caso para outro padrão de aplicação Web e, desta forma, interagir com os participantes do projeto e realizar intervenções diretas no objeto de estudo, o que caracteriza a pesquisa-ação (Thiollent, 1997Thiollent, M. (1997). Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez.).

Foi adotado um ciclo de pesquisa-ação no qual a intervenção inicial levou em consideração que os padrões de projeto predominantes relacionados à aplicação em questão eram Índice de Navegação e Interface-Layout. Assim, assumiu-se a ação interventiva de não usar a abordagem de levantamento de requisitos baseada em funcionalidades, conforme prega a SwE, e sim uma abordagem focada em modelagem de conteúdo e navegação. Descartou-se o uso de processo prescritivo de desenvolvimento de software, no caso o RUP, cogitado inicialmente. Através desta abordagem, foi criada uma notação para facilitar a comunicação com os usuários e tornou-se constante a participação de representantes destes no processo.

A principal diferença na abordagem utilizada no desenvolvimento em relação à abordagem da SwE foi o desenvolvimento do processo em paralelo com o desenvolvimento do produto. Os trabalhos de desenvolvimento ocorreram em caráter tipicamente multidisciplinar, com equipe envolvendo profissionais de engenharia de software, gestão de projeto, designers, especialistas em infraestrutura de Web (hospedagem), programadores e de comunicação e marketing.

No segundo ciclo de pesquisa-ação, foram implementadas funcionalidades para o gerenciamento colaborativo de conteúdo dinâmico; assim, a aplicação passou a incorporar também aspectos de padrões de projeto Funcional ‒ Foco no usuário e Funcional ‒ Foco no sistema. Neste segundo ciclo, o desenvolvimento passou a ser feito em um único local, com equipe reduzida e formada por programadores e engenheiros de software. Adotou-se um processo de desenvolvimento típico da SwE.

Os resultados obtidos nesta pesquisa-ação (PA1) estão resumidos na Tabela 4.

4.3 Pesquisa-ação 2 (PA2): desenvolvimento de sistema cooperativo

A pesquisa-ação ocorreu durante a construção de um sistema de informação em ambiente Web para suporte ao trabalho cooperativo de projeto de edifícios, em condição de engenharia simultânea. O projeto era de responsabilidade de uma empresa privada de arquitetura, porém com financiamento público para fins de inovação tecnológica. A pessoa responsável pela empresa assumiu tanto o papel de cliente como de coordenador geral do projeto. Por se tratar de verba pública, projeto era crítico em relação aos aspectos de prazo, orçamento e de cotação e contratação de serviços de terceiros. O pesquisador foi responsável pelas atividades técnicas, relacionadas à engenharia de software e de Web, além da análise de processos de negócio e da gestão do processo de desenvolvimento.

Esta pesquisa-ação foi planejada e escolhida pela possibilidade de aplicar empiricamente elementos do presente estudo, tratados nas seções 3 e 4, bem como resultados empíricos já obtidos no EC1 e na PA1.

Os resultados obtidos nesta pesquisa-ação (PA2) estão resumidos na Tabela 4.

4.4 Estudo de caso 2 (EC2): projeto de edifícios

O estudo de caso foi realizado em uma empresa de projetos para AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção), cuja especialidade é a realização de projeto detalhado de produção usando CAD 3D. O estudo ocorreu durante a realização de um projeto de inovação tecnológica, aqui denominado PIT, voltado para a implementação de fundamentos de engenharia simultânea no projeto de produção de edifícios. O objetivo do projeto de inovação tecnológica era a realização de atividades simultâneas de projeto, envolvendo diferentes disciplinas e participantes, em ambiente distribuído, com o suporte de um sistema de informação.

O estudo de caso teve como objetivo analisar como é realizado o projeto de edifícios, considerando-se o caráter interdisciplinar envolvido. Especificamente, pretendeu-se analisar o trabalho cooperativo de projeto e as necessidades informacionais e de organização do trabalho para o estabelecimento de um ambiente de projeto simultâneo.

Para os fins de pesquisa do presente trabalho, adotou-se como proposição preliminar haver uma similaridade sistêmica entre o processo de projeto de edifícios e o processo de projeto de aplicações Web. Esta proposição inicial é apoiada na literatura revisada, conforme segue:

  • De forma geral, a arquitetura da informação, uma das abordagens para o desenvolvimento de aplicações Web, não deixa de ser uma visão de projeto do “espaço informacional”, tal como a arquitetura em relação ao espaço físico.

  • Existe uma similitude entre o enfoque da disciplina de design e da arquitetura, relacionada à questão FORMA-FUNÇÃO.

  • O projeto em AEC é intrinsecamente interdisciplinar, relacionando disciplinas de cunho mais técnico, como engenharia de estrutura e fundação, com disciplinas de cunho mais artístico, como paisagismo e decoração. Evidencia uma analogia entre as disciplinas de projeto de aplicações Web.

O método de estudo de caso foi adotado visando ao entendimento em profundidade da questão como é feito o projeto de edifícios em condições de projeto simultâneo. Visa à identificação das principais variáveis e relações existentes para, primeiro, avaliar a proposição inicial e, segundo, se validada, realizar o transporte de modelo, por isomorfismo, para o desenvolvimento do modelo de processo de produção de aplicações Web.

Os resultados obtidos neste estudo (EC2) estão resumidos na Tabela 4.

4.5 Estudo de caso 3 (EC3): adequação ao uso

O estudo de caso teve como objetivo avaliar em maior profundidade os conceitos discutidos na seção 3, referentes a gestão de Projetos e qualidade em Projetos, juntamente com os aspectos ergonômicos do trabalho cooperativo e multidisciplinar.

Especificamente, este estudo teve os seguintes objetivos:

  1. 1

    Avaliar o conceito de Adequação ao Uso como indicador de qualidade para Projetos Web, conforme enunciado na consideração C12 da seção 4.

  2. 2

    Avaliar a participação efetiva dos usuários no processo de produção de aplicações Web e sua contribuição para a adequação ao uso.

  3. 3

    Avaliar a interdependência entre as variáveis de Projeto escopo, custo e prazo em relação à variável qualidade, entendida como adequação ao uso

  4. 4

    Avaliar a percepção por parte de usuários e desenvolvedores dos conceitos forma, função e informação, conforme enunciado na consideração C7 da seção 4.

Cronologicamente, a realização deste estudo de caso deu-se concomitantemente com a realização da avaliação do modelo, havendo, portanto, alguma influência do modelo criado, de forma que, metodologicamente, este estudo não pode ser classificado estritamente como de “construção de teoria”, cumprindo também a função de “validação de hipótese”.

O estudo foi planejado de forma a traçar um contraponto entre a percepção dos usuários em relação à adequação ao uso de uma aplicação Web e a percepção que os desenvolvedores têm da adequação ao uso auferida por eles próprios ao Projeto. Buscou-se também traçar um contraponto entre a participação dos usuários no processo de desenvolvimento conforme o relato da equipe de desenvolvimento e o relato dos próprios usuários. Todos os usuários entrevistados foram tratados como usuários-chave no processo de desenvolvimento, tendo participado deste. De forma indireta, procurou-se avaliar o entendimento subjetivo dos elementos Forma, Função e Informação segundo a percepção de usuários e desenvolvedores durante o Projeto.

Para tal, foram selecionados dois casos já explorados anteriormente pelo autor, aqui chamados de Caso A e Caso B, relacionados, respectivamente, ao EC1 e PA1 apresentados nesta seção. A seleção destes casos para estudo deu-se pelos seguintes motivos:

  1. 1

    Os resultados obtidos em termos de processo de produção já eram conhecidos;

  2. 2

    Os resultados obtidos em termos da qualidade percebida pelos usuários, ou seja, adequação ao uso, não eram conhecidos;

  3. 3

    A participação efetiva dos usuários no processo de produção era conhecida apenas pela ótica da equipe de desenvolvimento.

  4. 4

    Em ambos os casos, era possível o acesso à documentação gerencial de Projeto bem como realizar entrevistas em separado com usuários e desenvolvedores.

  5. 5

    Os casos eram semelhantes, em termos de tamanho, complexidade, pessoas envolvidas e nível de experiência dos participantes entrevistados.

Estas razões permitem que um contraponto seja estabelecido e que os resultados efetivos obtidos em EC1 e PA1 em termos de adequação ao uso possam ser avaliados. Em ambos os casos, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, tendo por base um questionário pré-estabelecido, bem como análise documental.

Os resultados obtidos neste estudo (EC3) estão resumidos na Tabela 4.

5 Modelo

O modelo é construído tendo como base os seguintes fundamentos:

  • Inclusão do enfoque das diferentes disciplinas de projeto na fase de concepção, conforme apontam a C7 “Enfoque Disciplinar” e C9 “Contribuição da Engenharia Simultânea”.

  • Necessidade de um papel coordenador e integrador das atividades de projeto, conforme apontam C8 “Papel do Engenheiro de Sistemas” e os resultados de EC1 e EC2.

  • Sequenciamento das atividades de projeto de forma a gerar artefatos que garantam a representação comum a todos os projetistas dos elementos do projeto, conforme apontam C10 “Contribuição da Ergonomia” e os resultados de EC1 e EC2.

O modelo é desenvolvido pela síntese dos aspectos disciplinares pertinentes à produção de WebAp, a fim de caracterizar o contexto interdisciplinar do desenvolvimento.

Primeiramente, busca-se uma representação do “espaço de projeto”, semelhante à apresentada na consideração C4 “Espaço de projeto”, considerando, porém, um maior nível de abstração em relação aos aspectos fundamentais das macrodisciplinas (C6 “Macrodisciplinas”). Estabelece-se, assim, a similaridade sistêmica em relação ao resultado do EC2, que identifica “sistemas principais em um nível abstrato, aos quais se relacionam as macrodisciplinas”.

Desta forma, obtém-se o “espaço de projeto” para aplicações Web, apresentado na Figura 3, relacionando as macrodisciplinas a partir de suas dimensões comuns, conforme C7 “Enfoque das Disciplinas”:

Figura 3
Espaço de projeto das aplicações Web. Fonte: elaborado pelos autores.
  • Enfoque das disciplinas:

    • Engenharia de Software → Função

    • DesignForma e Função

    • Comunicação e mídia → Informação e Forma

O posicionamento de uma atividade de projeto nos eixos indica a relevância da dimensão associada ao eixo para esta atividade. Por exemplo: a dimensão Forma é altamente relevante para a realização de um leiaute de interface gráfica, o que posicionaria esta atividade de projeto no extremo do eixo Forma, com pequeno índice nas demais dimensões. Destaca-se que e os quadrantes formados não devem ser tomados em sentido estrito ou exclusivo, havendo uma “permeabilidade” em maior ou menor grau entre eles.

Em particular, a disciplina de Arquitetura da Informação trata, a princípio, do projeto da estrutura e da organização da informação; porém, trata também de alguns aspectos funcionais, relacionados a navegação e busca, pois estas pressupõem interação.

Utilizando-se os resultados das pesquisas de campo, é possível relacionar o enfoque principal da abordagem utilizada no processo, na fase de concepção, com os padrões de projeto predominantes, conforme a classificação de Bolchini (2000)Bolchini, D. (2000). Web design patterns: improving quality and performance in Web Application design (Dissertação de mestrado). Universit della Svizzera Italiana, Lugano., juntamente com a dimensão do espaço de projeto relacionada: Forma, Função e/ou Informação. Estabelece-se uma notação para representar o enfoque adotado, conforme mostra a Tabela 5.

Tabela 5
Enfoque adotado na fase de concepção das pesquisas de campo em relação às dimensões do espaço de projeto enfatizadas.

A partir deste modelo de “espaço de projeto” e dos aspectos enfatizados na Tabela 5, pode-se representar o projeto de uma aplicação Web genérica (Pweb) como um vetor neste espaço, tendo maior ou menor intensidade de participação em cada uma de suas componentes de projeto, de acordo com os padrões de projeto predominantes. Assim, um Projeto Web pode ser representado como um espaço vetorial nas dimensões Forma, Função e Informação:

Pweb = (Fo, Fu, Inf)(1)

Entretanto, um resultado da PA1 evidencia a importância de se considerar, ainda na fase de concepção, a solução tecnológica pretendida, o que inclui os elementos do ambiente de software, hardware e rede, como servidores, navegadores, bancos de dados, plataforma (framework), linguagens de programação e recursos de mídia interativa. Tal necessidade é também identificada em um dos resultados obtidos no EC2, segundo o qual “O aspecto Tecnologia deve ser abordado na fase de concepção”. Assim, inclui-se no modelo uma dimensão referente à tecnologia, designada por T:

Pweb = (Fo, Fu, Inf, T)(2)

Evidentemente, um Projeto Web apresenta também um aspecto temporal, que representa sua evolução ao longo do tempo, conforme identificado em C12, “Adequação ao Uso”. Assim, verifica-se que as atividades de projeto sobre cada uma das dimensões são funções temporais.

Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 6. A Figura 4 representa o desenvolvimento temporal de um Projeto Web.

Tabela 6
Estrutura argumentativa utilizada nos resultados e conclusões.
Figura 4
Evolução temporal de dois Projetos Web em direção ao nível ideal de adequação ao uso Uf. Fonte: elaborado pelos autores.

6 Conclusão

Em relação aos objetivos iniciais pretendidos, a saber: i) Desenvolver um método para planejamento do processo de produção de aplicações Web, na fase de concepção do projeto; ii) apresentar um modelo de referência para decisão em relação à melhor abordagem técnica do processo de desenvolvimento, em função de diferentes padrões e categorias de aplicações Web, verifica-se que tanto o método como o modelo de referência foram caracterizados e apresentados na seção 6.

Em relação às questões de pesquisa, a resposta à Q1 pode ser derivada da revisão bibliográfica, mais especificamente das considerações C2 e C3, as quais dizem, respectivamente, que a WebE envolve disciplinas e atividades específicas, não presentes na SwE e que existem diferentes concepções da produção de aplicações Web, conforme o enfoque disciplinar: desenvolvimento de software, design, comunicação e produção de mídia, arquitetura da informação, artes, usabilidade, etc. Acrescenta-se que os resultados das pesquisas de campo corroboram esta resposta.

Ainda em relação à Q1, conclui-se que os processos da SwE enfocam, predominantemente, a dimensão funcional, embora possam ter componentes nas outras dimensões. Projetos Web, por outro lado, podem ser um Projeto de software como também um Projeto de mídia e comunicação. Assim, o processo para Web deve permitir diferentes enfoques, acomodando em um mesmo contexto as diferentes disciplinas de projeto, como Engenharia de Software, Design, Comunicação e Mídia.

A resposta à Q2 deriva do modelo proposto. Verifica-se que o processo deve ser estruturado alinhando-se o enfoque principal do projeto, identificado a partir do(s) padrão(ões) de projeto predominante(s), com o eixo condutor do processo, correspondente a uma disciplina de projeto.

A principal contribuição deste trabalho é a identificação do espaço de projeto, representado nas dimensões Forma, Função, Informação e Tecnologia, dentro do qual podem ser representados os fundamentos teórico-conceituais e técnicos das disciplinas de projeto.

Neste contexto, concluiu-se que a cada Projeto Web estão associados padrões de projeto predominantes. Em função destes, é dada a melhor abordagem para o processo, ou seja, em qual(is) dimensão(ões) (Fo, Fu, Inf, T) deve ser dado enfoque no processo. Considera-se como melhor abordagem aquela que tende mais rapidamente a um nível esperado de qualidade, representado em termos da adequação ao uso.

Destaca-se, ainda, a semelhança sistêmica identificada entre a produção de WebAp e o Projeto em AEC, nos quais diferentes disciplinas são correlacionadas no trabalho cooperativo, envolvendo aspectos estéticos, técnicos, ergonômicos, etc.

Como conclusão adicional derivada da revisão bibliográfica e dos resultados particulares das pesquisas de campo, verifica-se que o papel centralizador (Integrador) em um dado Projeto Web é mais bem desempenhado pelo profissional cujo perfil está alinhado à(s) disciplina(s) relacionada(s) à(s) dimensão(ões) (Fo, Fu, Inf, T) enfatizada(s) dentro do espaço de projeto.

Ressalta-se que todas as conclusões fundamentadas nas pesquisas de campo foram obtidas a partir de situações particulares; portanto, devem ser salvaguardadas as limitações de ordem epistemológica em relação à generalização.

Como continuidade para o presente estudo, pode ser feito o desdobramento do processo para as fases seguintes à concepção. Outra possibilidade diz respeito à extensão do modelo para projetos de interfaces tecnológicas em geral, como celulares, jogos eletrônicos, máquinas de autoatendimento. Ou seja, Projetos que necessitam um contexto interdisciplinar de desenvolvimento, no qual pode ser possível a identificação das dimensões (Fo, Fu, Inf, T).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Abr 2016
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2016

Histórico

  • Recebido
    20 Nov 2010
  • Aceito
    30 Ago 2012
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