EDITORIAL
Alguns temas da Psicologia são um convite permanente para a troca com outras disciplinas. Essa troca é necessária se quisermos desdobrar nossos limites e enriquecer a percepção do especificamente humano. Mais ainda, como disciplina submetida às transformações impostas pelo tempo - como aliás o são todas as ciências -, revisitar noções e conceitos há muito estabelecidos, estudar os rearranjos do social nas suas conseqüências para a subjetividade e oferecer novas leituras dos fundamentos de algumas práticas é um imperativo para não nos afastarmos muito dos limites temporais do conhecimento. Conhecer, pensar, agir são atributos da condição humana e não pertencem ao homem isolado. São mediados desde o nascimento por elementos oriundos da vida social. O cientista e o profissional pertencem ao seu tempo, ao seu lugar e a Psicologia não permanece isolada nas universidades. Ela gerou, desde o início, práticas de intervenção que agem sobre sujeitos sociais, coletiva ou individualmente.
Parte dos trabalhos deste número da revista Psicologia USP está voltada para a compreensão do lugar da Psicologia no universo das práticas sociais, em especial o papel dos instrumentos, sobretudo as medidas da inteligência, destinados a categorizar, organizar e distribuir os sujeitos em um universo que, paradoxalmente, quer ser pensado como igual ao universo dos objetos. Como outros produtos da Razão, que julgam encontrar em si mesmos sua justificativa, o que classificam, ordenam, incluem ou excluem não são, no entanto, números ou objetos. A instrumentalização no domínio das práticas sociais tem como conseqüência a perda do significado e do valor, a degradação do humano ao estatuto de coisa e a impossibilidade de estabelecer com clareza a diferença entre meios e fins. Tratar como pertencentes a campos distintos a ciência e a técnica implica separar Ética e conhecimento, cisão trágica cujas conseqüências ainda não conhecemos de todo.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
25 Nov 1998 -
Data do Fascículo
1997