Inovações: Análise Experimental do Comportamento no Brasil
Um convite meio surpreendente de uma ex-aluna (que não foi levado muito a sério inicialmente), o endosso posterior do diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Prof. Paulo Sawaya, a disponibilidade para passar algum tempo em algum país tropical quase desconhecido: poder-se-ia pensar que foi um conjunto de acasos que trouxe ao Brasil, em 1961, o Prof. Fred S. Keller e sua esposa, Dona Frances. Um acaso a mais: Rodolpho Azzi, então professor em São José do Rio Preto, tinha lido com entusiasmo um livro de Keller, The Definition of Psychology, e Carolina, com sua atenção permanente e viva, sabia do fato e soube avaliar suas potencialidades. No aeroporto, no dia da chegada do Prof. Keller, lá estava ela, a convite do Prof. Sawaya, com ele e seu sucessor, o Prof. Mário Guimarães Ferri, para receber o professor visitante, que a partir daí seria seu mentor e parceiro, - juntamente com Rodolpho Azzi e um grupo de alunos, - em uma das empreitadas mais importantes da história da psicologia brasileira: a implantação da Análise Experimental do Comportamento no Brasil.
A dimensão desse trabalho não se restringe ao Brasil. Também nos EEUU, seu berço, a Análise Experimental do Comportamento estava em processo de expansão e consolidação. Na verdade, segundo o relato divertido, emocionado e emocionante do Prof. Keller em várias ocasiões (Keller, 1974, 1977)1 1 Ver também uma memorável entrevista gravada em video por Mário A. A. Guidi. , a criação da Universidade de Brasília foi a primeira oportunidade para a implantação de um método de ensino inteiramente inspirado na teoria do reforço (e que mais tarde, frustrada a experiência pioneira de Brasília pelas imposições do regime militar brasileiro, ele próprio viria a testar no Arizona, EEUU). Carolina e Rodolpho foram co-criadores do PSI (Personalized System of Instruction), também conhecido como Método Keller e, posteriormente desenvolvido, com as contribuições pessoais de Carolina, como Programação de Ensino.
Os depoimentos de Maria Amelia Matos, de Mariza Borges e de Rachel Kerbauy falam vivamente dessa época de pioneirismo. Como aponta R. Kerbauy, Carolina parecia ser movida pelo seu apego ao rigor do método científico. Parece-nos, entretanto, que também deve ter sido particularmente sensibilizada pelo potencial educacional das inovações teóricas trazidas por Keller. Ao longo dos anos seguintes, apesar da frustração de Brasília, Carolina continuou a trabalhar de todas as formas pela consolidação de uma abordagem inovadora em Psicologia, que somava o rigor científico ao potencial de aplicação, especialmente em educação: trazendo-a para a Universidade de São Paulo, inicialmente na graduação e depois na pós-graduação; formando, nesta, alunos que levariam essa abordagem para outras universidades em todo o Brasil, como depõem Mercêdes Cunha e Eduardo Saback, Gizelda Moraes, João Bosco Jardim e Deisy G. Souza; ela própria levando seus conhecimentos para outros futuros centros de pesquisa; criando condições materiais, em termos de equipamentos e bibliografia, para a divulgação da Análise Experimental do Comportamento; fundando e dirigindo associações e publicações que veiculassem o conhecimento produzido; adequando a proposta do PSI a realidades educacionais diversas, do primeiro grau ao aperfeiçoamento de professores. Esta contribuição de Carolina é representada, nesta publicação, não só através de inúmeros depoimentos neste e nos itens seguintes, mas também em artigos técnicos que demonstram os resultados de seu trabalho.
- KELLER, F.S. The definition of psychology: an introduction to psychological systems. New York, NY, D. Appleton-Century, 1937.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
25 Nov 1998 -
Data do Fascículo
1998
