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Inconsciente e percepção na psicanálise freudiana

Unconscious and perception in freudian psychoanalysis

Resumos

Geralmente lembrada em sua associação com a consciência (como no Sistema Percepção- Consciência, por exemplo), a percepção encontra nas investigações de Freud vários outros destinos. Principalmente nos textos da chamada segunda tópica, mas também no artigo da Metapsicologia de 1915, "O Inconsciente", Freud nos propõe instigantes afirmações que nos aproximam de uma relação entre percepção e inconsciente. Assim, através de um percurso pelas sucessivas formulações freudianas da percepção, este artigo procura favorecer uma melhor compreensão das relações entre percepção e inconsciente.

Inconsciente; Percepção; Consciência; Psicanálise


Perception is usually remembered in association with consciousness (as for example in the perceptual-conscious system), but also has other destinies in Freud's investigations. Throughout Freud's succesive formulations of perception, this paper tries to offer a better understanding of the relations between perception and unconscious.

Unconscious; Perception; Consciousness; Psychoanalysis


INCONSCIENTE E PERCEPÇÃO NA PSICANÁLISE FREUDIANA

Nelson Ernesto Coelho Junior

Instituto de Psicologia - USP

Geralmente lembrada em sua associação com a consciência (como no Sistema Percepção- Consciência, por exemplo), a percepção encontra nas investigações de Freud vários outros destinos. Principalmente nos textos da chamada segunda tópica, mas também no artigo da Metapsicologia de 1915, "O Inconsciente", Freud nos propõe instigantes afirmações que nos aproximam de uma relação entre percepção e inconsciente. Assim, através de um percurso pelas sucessivas formulações freudianas da percepção, este artigo procura favorecer uma melhor compreensão das relações entre percepção e inconsciente.

Descritores: Inconsciente. Percepção. Consciência. Psicanálise.

Existem percepções inconscientes? Existem percepções do e no inconsciente? De que maneira inconsciente e percepção se relacionam? Qual o papel representado pela percepção na formação do inconsciente? Estas são algumas das questões que a relação entre inconsciente e percepção poderia suscitar. As respostas a estas questões não são diretas nem enfáticas na obra freudiana. Tampouco ganharam maior elucidação nos primeiros grandes herdeiros de Freud.

Entre inconsciente e percepção é preciso reconhecer que a história da psicanálise fez da percepção o pólo a ser esquecido. Mas os movimentos do pensamento psicanalítico contemporâneo fizeram com que fosse necessário aceitar o trabalho exigido pelo retorno do recalcado. Praticamente excluída da reflexão dos psicanalistas durante várias décadas, abandonada ao lado da consciência como objeto de uma psicologia colocada nas antípodas da psicanálise, a percepção passa a ocupar lugar de destaque no trabalho de vários analistas contemporâneos. Este movimento aparece com maior evidência nas investigações dos psicanalistas franceses, bastante bem representadas nos números da Revue Française de Psychanalyse (n.1, 1992) e (n.2, 1995) dedicados respectivamente aos temas "Irrepresentável ou irrepresentado?" e "Percepção", além dos livros de Bernat (1996), Janin (1996) e Nicolaïdis (1993, 1989). Mas está presente também entre os autores de língua inglesa, em trabalhos como os de Bollas (1992; 1993) onde, além de um inovador uso da concepção freudiana de percepções endopsíquicas, merece destaque o desenvolvimento de noções como a de percepção intuitiva na análise dos usos expressivos da contratransferência. Aparece também nos trabalhos de Ogden (1996) com sua ênfase em uma compreensão intersubjetiva do processo analítico, ou de Steiner (1997), analisando mecanismos perversos como o que ele denomina de "fingir que não vê" e também a forma como retoma as idéias de Freud sobre o fetichismo, enfatizando a simultaneidade do reconhecimento e da negação de algo percebido. E há, ainda, na Argentina, a interessante investigação de Mazzuca (1996), que a partir de um enfoque lacaniano reexamina o valor clínico dos fenômenos perceptivos. Estas referências iniciais, longe de serem exaustivas, fornecem um panorama mínimo que permite contextualizar as análises propostas neste trabalho.

As contradições presentes no conjunto da teoria freudiana caracterizam também suas formulações sobre a percepção. Ao mesmo tempo orgulhoso herdeiro do legado associacionista-fisiologista e desbravador de uma forma mais complexa de conceber o psiquismo, seus atos e processos, Freud constrói vias de acesso ao ato perceptivo demarcadas por estas contradições.

Em geral preso a um empirismo censurador, Freud resiste inicialmente ao movimento criativo de suas próprias descobertas clínicas que, no tocante à percepção, levariam-no para bem longe do modelo vigente na psicologia e na filosofia.

As primeiras concepções de Freud sobre a percepção, nos anos 1891-1899, refletem a influência das teorias empiristas, marca principal de seu trabalho como neurologista. Elas revelam tanto as características sensorialistas como associacionistas de suas primeiras conceituações da percepção.

Estas concepções estão presentes na formulação freudiana de um aparelho de linguagem (Sobre a Concepção das Afasias, 1891) e na formulação inicial de um aparelho psíquico, no Projeto de uma Psicologia de 1895 e na Carta 52 a Fliess de 1896, estes últimos, caracterizados, entre outros aspectos, pela oposição determinante entre memória e percepção e por uma preocupação em descrever diferentes níveis de registro do conteúdo perceptivo no aparelho psíquico. Embora desde o texto sobre as afasias Freud anunciasse uma concepção relativamente complexa e inovadora da relação entre percepção e representação psíquica do objeto percebido, estes textos iniciais mostram também sua preocupação com uma representação verdadeira da realidade. Em muitas passagens a percepção surge como um registro passivo da realidade. Assim, ao lado de sua busca por uma possível correspondência entre a função perceptiva e sua localização neurológica, há a tentativa de garantir uma correspondência verdadeira entre o objeto externo da percepção e a representação psíquica deste objeto. Há pouco lugar para as construções próprias daquilo que Freud chamará a seguir de realidade psíquica. O abandono da Teoria da Sedução, a partir de 1897, com o reconhecimento de Freud de que as cenas de sedução não teriam ocorrido mas eram fantasias imaginadas por seus pacientes, tem portanto importância decisiva na transformação de uma teoria da constituição do aparelho psíquico e também grande importância na escolha da referência teórica que deveria balizar suas concepções sobre a percepção.

Em A Interpretação dos Sonhos, Freud (1900) já inclui uma nova concepção sobre o processo perceptivo a partir do reconhecimento da função do desejo na construção das representações psíquicas (Cf. Perron, 1995). Portanto, as representações não poderiam mais ser consideradas apenas como conseqüência de percepções da realidade externa. Se a representação traz a marca do desejo ela já não pode mais ser o reflexo fiel das percepções e a própria concepção de uma representação verdadeira da realidade precisa ser revista. O desejo articula-se a uma alucinação. Aquilo que Freud descrevia como sendo o reaparecimento da percepção, neste caso, constitui-se na própria realização do desejo e o investimento total da percepção a partir da excitação da necessidade é o caminho mais curto em direção à realização do desejo. A fidelidade a uma suposta realidade externa sofre inevitáveis abalos. Um percurso pelos textos posteriores de Freud, sugere, cada vez mais, que as percepções são regidas pela dinâmica psíquica e não podem ser simples reflexo da realidade externa.

Um aspecto interessante a ressaltar quanto a este percurso da noção de percepção na obra freudiana é que o vocábulo alemão Wahrnehmung, equivalente a percepção, utilizado por Freud em seus textos, revela ao mesmo tempo uma significação específica e a expectativa de realização de que seriam capazes os atos perceptivos. Wahrnehmung, literalmente apreensão do verdadeiro (Wahr- verdade, nehmen- tomar, pegar, apreender) implica a crença em uma possibilidade de apreensão de uma imagem exata, verdadeira, do mundo exterior. Seria possível argumentar a favor de uma certa relativização do conceito de verdade, abrindo espaço para outra definição do que seria uma apreensão verdadeira, em termos subjetivos. Mas acho que não seria por demais restritivo reconhecer neste vocábulo alemão as fortes ressonâncias de um uso objetivista da percepção. Este parece ser o horizonte fundamental que rege as preocupações de Freud em seus trabalhos iniciais.

Outro ponto a destacar e que vai em direção oposta é a preocupação freudiana em apresentar, ao lado das percepções externas, o que ele denomina de percepções endopsíquicas. As relações entre as percepções internas e externas são múltiplas, revelando a complexidade própria das concepções de Freud sobre a constituição e o funcionamento do aparelho psíquico, mas revelam a marca própria de um pensador que reconhece a importância do que ele mesmo chamou de realidade psíquica.

Estes diversos conceitos e usos da noção de percepção no texto freudiano apontam para uma série de articulações no interior da teoria, que exigem análises nos diferentes planos da obra. Para o que nos interessa aqui basta registrar que percepção não é apenas uma noção descritiva para Freud, descritiva de uma função corporal ou de uma função da consciência. É, isto sim, mais uma das noções constituintes de sua complexa teoria sobre o funcionamento psíquico, em que a noção de inconsciente ocupa, indiscutivelmente, o lugar central. A seguir, desenvolverei a análise das relações entre percepção e inconsciente a partir de três eixos temáticos.

1 - Percepção, inconsciente e representação

Que as primeiras representações, representações-coisa, sejam corporais, ninguém contesta. Freud, que nunca perdeu de vista que a fonte original das manifestações psíquicas estava no corpo, vê a "alucinação primitiva" como equivalente do objeto percebido e investido na sua ausência. (Isto é, um investimento alucinatório da lembrança da satisfação). (Nicolaïdis, 1989, p.63).

Percepção: objeto presente. Representação: objeto ausente. Corpo: fonte original das manifestações psíquicas. Esta é uma forma condensada e talvez por demais simplificada de apresentar as relações e as diferenças entre percepção e representação, e o lugar do corpo nos textos de Freud. Mas pode ser útil manter esta distinção presente neste percurso pela obra freudiana. Retomando a definição de Lalande em Seu Vocabulário Técnico e Crítico de Filosofia, Laplanche e Pontalis (1986) apontam para concepções semelhantes de representação e percepção ao definirem representação como "o que forma o conteúdo concreto de um ato de pensamento e em especial a reprodução de uma percepção anterior." (p.582). A complexidade da noção de representação exige, no entanto, uma verificação mais cuidadosa das preocupações e intenções de Freud (Cf. Garcia-Roza, 1995; Hanns, 1996; Nicolaïdis, 1989).

Toda a questão que se coloca, e para mim ela é fundamental para se pensar a teoria freudiana, é se a percepção pode ou não fornecer uma representação verdadeira da realidade. E, também, se esta é a função principal da percepção no aparelho psíquico. A percepção, vinculada às funções do ego é o que sustenta, para Freud, a possibilidade do princípio e da prova de realidade. Deste ponto de vista ela nos possibilitaria a distinção entre realidade e fantasia, entre mundo externo e mundo interno. Mas como nos lembram Botella e Botella (1995), a percepção é uma "noção situada nos limites da teoria analítica: aqueles do psíquico-somático, aqueles do psíquico-mundo exterior." (p.29). Assim, talvez mais do que algo que garanta uma distinção precisa entre o que é externo e o que é interno, ou que garanta uma representação psíquica que seja fiel ao real externo, a percepção é o que desafia a teoria psicanalítica, aquilo que faz com que a teoria precise se confrontar com seus próprios limites e busque ser bem mais do que uma teoria das representações psíquicas. Neste sentido, a percepção seria uma das formas de aproximação do enigmático campo dos aspectos não representáveis de nossa experiência psíquica. As articulações teóricas realizadas por Freud entre o inconsciente e a percepção permitem novas investigações sobre a presença no psiquismo das marcas afetivas e traumáticas "resistentes" à representação. Voltarei a esta questão mais à frente.

O primeiro modelo do aparelho psíquico de fato publicado por Freud (1900) é o do Capítulo VII de A Interpretação dos Sonhos. Este modelo caracteriza o que ficou conhecido como a primeira tópica. O aparelho apresenta uma seqüência que vai da extremidade perceptiva à extremidade motora.

Toda a nossa atividade psíquica inicia-se a partir de estímulos (internos ou externos) e termina em enervações. (...). Na extremidade sensória [sensiblen Ende], fica um sistema que recebe percepções; na extremidade motora fica outro, que abre o portão de acesso à atividade motora. Os processos psíquicos, em geral, avançam da extremidade perceptual [Wahrnehmungsende] para a extremidade motora. (1900, p.513-4).

Verifica-se aqui que a extremidade perceptiva caracteriza-se por sua permeabilidade e que percepção e memória são funções que não podem ser realizadas pelo mesmo sistema. Há então uma extremidade responsável pela captação sensorial e a seguir, um sistema onde encontram-se os traços mnêmicos (Erinnerungsspur). A novidade deste modelo e também sua complicação, fica por conta da posição em que Freud coloca a consciência: na extremidade oposta à da percepção. Entre o sistema mnêmico e a consciência encontram-se os sistemas inconsciente, pré-consciente e por fim a extremidade motora que é onde Freud situa a consciência.

Se é verdade que na primeira tópica o papel da percepção está vinculado ao registro das excitações internas e externas e à constituição tanto das representações de pulsões, como de traços mnêmicos de objetos reais, é também verdadeiro que Freud, já em A Interpretação dos Sonhos, inclui neste modelo que podemos considerar clássico da relação percepção – representação, um novo elemento, que é o desejo [Wunsch]. Freud afirma que:

... a imagem mnésica de uma certa percepção se conserva associada ao traço mnésico da excitação resultante da necessidade. Logo que esta necessidade aparece de novo, produzir-se-á, graças à ligação que foi estabelecida uma moção psíquica que procurará reinvestir a imagem mnésica desta percepção e mesmo invocar esta percepção, isto é, restabelecer a situação da primeira satisfação: a essa moção é que chamaremos de desejo [Wunsch]; o reaparecimento da percepção é a realização de desejo [Wunscherfüllung]. (1900, p.539).

Esta e outras passagens permitem que um comentador como Perron (1995) afirme que, "de 1895 - Projeto a 1938 – Esboço, um percurso considerável irá conduzí-lo [Freud] a colocar que toda percepção, longe de ser uma imagem exata do objeto, é construída pela atividade psíquica." (p.500).

Freud retornará à discussão sobre as representações em seus textos metapsicológicos de 1915, mas sem introduzir nenhuma grande novidade no que diz respeito à relação entre as representações e as percepções. É interessante notar, no entanto, que no texto O Inconsciente Freud (1915) se refere a destinos de representações que se originaram de percepções e não mais de percepções em si.

No capítulo 4 de Além do Princípio de Prazer, em que abre deixando claro que o que se segue é especulação, Freud (1920) se propõe a traçar um perfil evolutivo da nossa capacidade de apreensão dos estímulos externos. Ele retoma idéias contidas em seus primeiros textos, principalmente aquelas do Projeto de 1895. Afirma que nos organismos altamente desenvolvidos a camada cortical da antiga vesícula, que recebia impactos incessantes de estímulos, encontra-se agora nas camadas mais profundas do cérebro e especializadas em órgãos para a recepção selecionada de certas quantidades de estimulações, internas ou externas. A percepção é compreendida como resultando da recepção de estímulos pelos órgãos sensoriais, possuindo característica ativa:

Nos organismos altamente desenvolvidos, a camada cortical receptiva da antiga vesícula há muito tempo já se retirou para as profundezas do corpo. (...) Essas partes são os órgãos dos sentidos, que consistem essencialmente em aparelhos para a recepção de certos efeitos específicos de estimulação, mas que também incluem disposições especiais para maior proteção contra quantidades excessivas de estimulação e para a exclusão de tipos inapropriados de estímulos. (1920, p.237).

A percepção é, assim, caracterizada como a possibilidade de reconhecimento (no sentido de apreensão pelos órgãos dos sentidos) de algum estímulo que atinge o organismo, sendo que a "interpretação" dessa percepção é feita pelo aparelho psíquico:

A maior parte do desprazer que experimentamos é um desprazer perceptivo [Wahrnehmungsunlust]. Esse desprazer pode ser a percepção de uma pressão por parte das pulsões [Triebe] insatisfeitas, ou ser a percepção externa [äussere Wahrnehmung] do que é aflitivo em si mesmo ou que excita expectativas desprazerosas no aparelho psíquico [ou anímico], portanto, o que é por ele reconhecido como um perigo. (1920, p.221).

Em passagens como esta fica sempre marcada uma certa ambigüidade com relação ao que é a percepção. Seria a percepção fundamentalmente o processo determinado pelos órgãos dos sentidos, situando-se como externa ao aparelho psíquico ou ela é constituinte do aparelho? No aparelho está a própria percepção ou apenas os traços e as diferentes formas de representação psíquica dos estímulos percebidos? Isto nos remete para as três acepções de percepção: função, ato que exerce esta função e o resultado deste ato. Função e ato seriam externos ao aparelho psíquico e só o resultado seria propriamente psíquico? E o resultado, as representações, seriam reproduções fiéis do objeto ou do fenômeno que gerou os estímulos?

Vários outros textos da segunda tópica retomam questões anunciadas em Além do Princípio de Prazer. Em um texto fundamental do período da segunda tópica, A Negação, Freud (1925b) aborda estas questões por um ângulo diferente:

Não se trata mais de uma questão de saber se aquilo que foi percebido (uma coisa) será ou não integrado ao ego, mas uma questão de saber se algo que está no ego como representação pode ser redescoberto também na percepção (realidade) É, como se pode notar, novamente uma questão sobre o externo e o interno. O que é irreal, meramente uma representação e subjetivo é apenas interno; o que é real está também lá fora. (p.375).

E pouco mais à frente:

... todas as representações se originam de percepções e são repetições dessas. Assim, originalmente a mera existência de uma representação constituía uma garantia de realidade daquilo que era representado. A antítese entre subjetivo e objetivo não existe desde o início. Surge apenas o fato de que o pensar tem a capacidade de trazer diante da mente, mais uma vez, algo que já tinha sido percebido, reproduzindo-o como representação sem que o objeto externo ainda tenha de estar lá. Desta forma, o objetivo primeiro e imediato do teste de realidade [Realitätsprüfung] não é encontrar na percepção real [realen Wahrnehmung] um objeto que corresponda ao representado, mas reencontrar tal objeto, convencer-se de que ele está lá ... A reprodução de uma percepção como representação nem sempre é uma repetição fiel [ getrue Wiederholung]; pode ser modificada por omissões ou alterada pela fusão de diferentes elementos. (p.375).

Freud não pode ser mais claro: a reprodução de uma representação nem sempre é uma repetição fiel. A representação é irreal, subjetiva e interna. O real é o que é externo e pode ser apreendido pela percepção. Mas quais seriam os diferentes elementos que por fusão modificariam a representação e impediriam que ela fosse uma repetição fiel? Por que, muitas vezes, ocorrem omissões? Freud não dá respostas a estas perguntas neste texto. Resta saber se Freud acredita que o trabalho terapêutico da análise teria condições de transformar os processos psíquicos a ponto de ser possível uma representação que seja uma repetição fiel. Será que ele postula um psiquismo e uma apreensão da realidade que em sua constituição traga já em si a impossibilidade de que as representações sejam repetições fiéis, e aí as "distorções" perceptivas seriam inevitáveis, ou ao contrário, as distorções não seriam uma condição inerente à percepção e ao psiquismo e seriam portanto, de fato, distorções ? Talvez nos casos de patologias mais severas as chamadas distorções perceptivas possam ser distinguidas de uma representação consensual da realidade de forma mais clara, mas o que dizer dos processos perceptivos da grande gama dos ditos "normais"?

Freud, ainda neste texto, não parecia ter muitas dúvidas quando afirma que "originalmente a existência da representação já é a garantia da realidade do representado." (1925b, p.375). Conhecemos a ambigüidade de Freud com relação a este tema, mesmo porque não é de todo incoerente com a teoria supor representações de objetos irreais ou de processos puramente fantasiados. Mas vale lembrar que é o mesmo Freud que afirma que toda fantasia se apoia sobre um grão de realidade. Estas oposições entre interno e externo, entre real e fantasiado estão no centro de toda discussão metapsicológica. Em muitos momentos Freud parece ver- se obrigado a tomar um partido, em outros ele parece aceitar mais tranqüilamente a ambigüidade imposta pelos fatos.

Um outro ponto que merece destaque no texto, A Negação, é o fato de Freud afirmar a qualidade ativa das percepções, possivelmente mobilizadas a partir de representações. Esta inversão é de grande importância. Assim, não teríamos apenas percepções que geram representações, mas também representações que "forçariam" a necessidade de percepções:

... em nossa hipótese, a percepção não é meramente um processo passivo, ao contrário, o ego envia periodicamente pequenas quantidades de investimento para o sistema perceptivo [Wahrnehmungssystem], com o que este sistema recolhe o estímulo externo ... (1925b, p.376).

Aspecto semelhante já tinha sido apontado por Freud (1925a) em outro texto publicado no mesmo ano, mas escrito um ano antes, Nota Sobre "O Bloco Mágico." Aqui, referindo-se à qualidade ativa da percepção, Freud sugere que "é como se o inconsciente estendesse sensores ao mundo externo através do sistema P-Cs. [W-Bw] e os retirasse rapidamente assim que eles de lá tivessem recolhido as excitações." (1925a, p.369). Representações inconscientes impulsionam o processo perceptivo? É claro que neste texto Freud está mais preocupado em descrever o funcionamento do que ele chama de "aparelho perceptivo de nosso psiquismo ou de nossa alma" [unsere seelischen Wahrnehmungsapparat] e para isso ele estabelece as comparações com o "bloco mágico". Mas é possível supor que Freud reconheça aqui, também, a possibilidade determinante da ativação perceptiva através de processos inconscientes. E esta é uma posição fundamental em sua concepção da relação que estabelecemos com a realidade.

Muitas questões ainda podem ser derivadas da relação entre percepção e representação. Mas a partir do que já foi apresentado, acredito que seja possível afirmar que para Freud percepção e representação podem ser concebidas, em alguns momentos, de forma sintônica com a tradição da filosofia e da psicologia de sua época. Também é possível, entretanto, reconhecer que há contribuições inovadoras apresentadas por Freud. Como lembra Green (1964), com razão, é "impossível julgar suas [Freud] opiniões sobre as 'representações' inconscientes como aquelas de uma psicologia da percepção qualquer." (p.1045). Freud possui uma teoria própria sobre as Vorstellungen, que de fato exige com que se as conceba sem a referência determinante quer seja da filosofia clássica, quer seja das teorias psicológicas de sua época.

O tema da percepção está diretamente ligado à totalidade da investigação freudiana, não só no viés mais especulativo da teoria, no questionamento dos traços originais que constituiriam o psiquismo, mas fundamentalmente na própria trajetória da teoria com relação às noções de realidade externa e realidade psíquica. Mesmo que se pressuponha uma autonomia quase absoluta das representações psíquicas com relação à realidade exterior (situação que faria a psicanálise se aproximar perigosamente de uma posição solipcista) não há como recusar à percepção seu lugar constante no próprio cotidiano da prática psicanalítica, ou seja, no trabalho clínico. A situação clínica só se torna possível porque há percepções de parte a parte. Poderíamos dizer, basicamente percepções auditivas, mas sabemos que também estão presentes as visuais, as olfativas e as enigmáticas "percepções internas" ou endopsíquicas.

2 - As percepções endopsíquicas e o inconsciente

Sem dúvida, um dos aspectos mais originais da psicanálise com relação a uma teoria da percepção refere-se às investigações do que Freud chamou de percepções endopsíquicas ou percepções internas. Embora em algumas passagens de sua obra esta noção apareça confundida com a de projeção, em muitas outras passagens ela revela a preocupação de Freud com a percepção dos afetos e sentimentos, às vezes adjetivados como inconscientes. Estas percepções em geral se ligam a percepções e sensações originárias do mundo externo, o que torna todo o processo ainda mais complexo. Desde o texto A Psicopatologia da Vida Cotidiana, Freud (1901) se referia a percepções endopsíquicas. Assim o tema das percepções internas e sua relação com as representações assume importância fundamental tanto no plano clínico como no plano metapsicológico. Como ter acesso, ou seja, perceber o que sinto e penso?

Em A Psicopatologia da Vida Cotidiana Freud (1901) postula uma espécie de relação entre os fatores psíquicos e a realidade. Nelas pode-se reconhecer que as ações sobre o meio são influenciadas e mediadas por um tipo de compreensão ou possibilidade de relação determinada pelo que chama de "reconhecimento obscuro", no qual o indivíduo, inconscientemente, identificaria algo seu no ambiente.

Creio, de fato, que grande parte daquela concepção mitológica do mundo que ainda perdura nas entranhas das religiões mais modernas não é outra coisa que psicologia projetada no mundo externo. A obscura percepção (poderíamos dizer a percepção endopsíquica) de fatores psíquicos e relações no inconsciente se espelham (...) na construção de uma realidade sobrenatural... (1901, p.918).

Os processos que separam os conteúdos inconscientes dos conscientes ganham aqui uma variação importante. Na percepção endopsíquica, o que foi reprimido1 1 Adoto como tradução para o vocábulo alemão Verdrängung repressão e não recalque. atua não como material transformado, e sim do modo como está presente no inconsciente. O reprimido está presente e é com sua configuração primária que determina o significado daquilo que é percebido.

Em Delírios e Sonhos na Gradiva de Jensen, Freud (1907) utiliza-se dos delírios de um personagem para entender como algo que estava reprimido pôde causar influência sobre seu comportamento. Aqui, a percepção é determinada por fatores internos dos quais muitas vezes não se tem consciência, e é apenas por eles que a realidade ganha sentido. Pode-se afirmar que há consciência a respeito da forma como se entende o mundo, mas não a respeito do processo, do conteúdo ou das associações que foram sendo configuradas ao longo da vida através das experiências adquiridas, que por sua vez acabam configurando essa forma particular de percepção do mundo.

Freud fornece inúmeros exemplos deste tipo particular de presença dos conteúdos inconscientes em nossa forma de perceber o mundo. Ainda em Delírios e Sonhos na Gradiva de Jensen ele escreve:

Após ter feito sua própria infância coincidir com o passado clássico, o que para ele era muito fácil, houve uma perfeita analogia entre o soterramento de Pompéia, que fez desaparecer mas ao mesmo tempo preservou o passado, e a repressão, da qual tinha conhecimento através do que poderíamos chamar de percepção "endopsíquica" ["endopsychische" Wahrnehmung]. (1907, p.49).

A percepção endopsíquica é uma espécie de percepção inconsciente do que está no psiquismo, são representações que aparecem como uma projeção no mundo externo. A percepção endopsíquica é uma espécie de projeção dos processos que ocorrem internamente. É como uma percepção interna inconsciente que é tida como uma percepção externa consciente. A separação entre o que é externo e interno fica, assim, comprometida. Freud, em uma passagem de sua apresentação do caso do "homem dos ratos", retoma o tema:

... a repressão não se efetua por meio da amnésia, mas sim através da ruptura de conexões causais devidas a uma retirada de afeto [Affektenziehung]. Essas conexões reprimidas parecem persistir em algum tipo de configuração muito vaga (que eu, em outro lugar, comparei a uma percepção endopsíquica) sendo, por um processo de projeção, assim transferidas para o mundo externo, onde dão testemunho daquilo que foi apagado da consciência. (1909, p.90).

Na percepção endopsíquica, atribui-se ao exterior aquilo que na realidade provém do interior. É a percepção, através dos órgãos do sentido, daquilo que insiste no inconsciente; é a percepção de algo que está reprimido. O resultado dos processos de pensamento é consciente, assim como o resultado da percepção endopsíquica também é consciente; a própria percepção endopsíquica é um processo de pensamento, mas a possibilidade de existência da percepção desse pensamento é creditada ao exterior e não ao resultado de uma elaboração interna.

Freud avança no desenvolvimento destas idéias em Totem e Tabu:

A projeção de percepções internas [innerer Wahrnehmungen] para fora é um mecanismo primitivo, a que estão sujeitas, por exemplo, nossas percepções sensoriais [Sinneswahrnehmungen], e que assim, normalmente desempenha um papel muito grande na determinação da forma que toma nosso mundo exterior. Sob condições cuja natureza não foi ainda suficientemente estabelecida, as percepções internas de processos emocionais e de pensamento [Gefühls und Denkvorgängen] podem ser projetadas para o exterior da mesma maneira que as percepções sensoriais. (...) Foi apenas após a linguagem de pensamento [Denksprache] abstrato ter sido desenvolvida, ou seja, apenas após os resíduos sensoriais das representações- palavra. [Wortvorstellungen] terem sido ligados aos processos internos, que os últimos pouco a pouco foram se tornando capazes de ser percebidos [wahrnehmungsfähig]. Antes disso, em virtude da projeção das percepções internas para fora, os homens primitivos chegaram a uma imagem [Bild] do mundo externo que nós, com nossa percepção consciente [Bewusstseinwahenehmung] intensificada, temos hoje de traduzir novamente para a psicologia. (1912-1913, p.354-5).

No texto metapsicológico O Inconsciente, Freud (1915), apoiado em Kant, reafirma o fato da percepção possuir determinações subjetivas:

Não nos resta na psicanálise outra alternativa se não sustentar que os processos anímicos [seelischen Vorgänge] são em si inconscientes, e comparar a percepção deles por meio da consciência à percepção do mundo externo por meio dos órgãos sensoriais. (...) Assim como Kant nos advertiu para não desprezarmos o fato de que as nossas percepções estão subjetivamente condicionadas [subjektive Bedingheit], não devendo ser consideradas como idênticas ao que, embora incognoscível [unerkennbaren], é percebido, assim também a psicanálise nos adverte para não estabelecermos uma equivalência entre as percepções conscientes [Bewusstseinswahrnehmung] e os processos mentais inconscientes que constituem seu objeto. (1915, p.129-30).

Freud apresenta, assim, o reconhecimento da complexidade presente nos processos perceptivos. Percebemos simultaneamente mundo interno e mundo externo. Ocorre aqui, ao que parece, um processo de mútua constituição entre percepção do que é externo e percepção do que é interno. Talvez, a própria concepção de interno e externo precisa ser revista.

É possível argumentar que na formulação de sua segunda tópica há uma mudança na obra de Freud quanto à forma de tematizar a percepção. Com a introdução de uma nova concepção do aparelho psíquico, de uma nova teoria da angústia e das pulsões, Freud passa a considerar a percepção sob um novo enfoque. Botella e Botella (1995) sugerem que

... a segunda tópica é o produto da necessidade de poder pensar o psiquismo enquanto conjunto de fenômenos submetidos a mudanças; em suma, em termos de processo e não unicamente de conteúdos representacionais e de sistemas. (p.354).

Ao retomar em seu texto de 1923, O Ego e o Id, a noção de percepções endopsíquicas (endopsychischen Wahrnehmungen ou innere Wahrnehmungen), Freud afirma:

Enquanto a relação existente entre as percepções externas (äusseren Wahrnehmungen) e o ego é bastante evidente, aquela que liga as percepções internas (inneren Wahrnehmungen) ao ego exige um exame especial. Ela nos faz questionar se temos realmente o direito de relacionar toda consciência ao superficial sistema Percepção-Consciência. (1923, p. 290).

Freud considera a seguir, neste texto, que as percepções endopsíquicas emergem de camadas mais profundas do aparelho psíquico. São mais primitivas e mais elementares que aquelas provenientes do exterior. Assim, uma concepção ampliada da percepção começa a se delinear. Um pouco mais a frente, ainda em O Ego e o Id, fazendo corresponder às percepções endopsíquicas as sensações inconscientes, Freud escreve:

Abreviando, e de uma maneira que não é de toda correta, falamos de sensações inconscientes e insistimos em sua analogia com as representações inconscientes, o que não é de todo justificável. A diferença é basicamente que para as representações inconscientes chegarem à consciência, elas precisam primeiro criar uma série de elementos de ligação, enquanto que as sensações se propagam diretamente. Em outras palavras: a distinção entre consciência e pré-consciente não se coloca para as sensações, uma sensação ou é consciente ou é inconsciente, mas jamais pré-consciente. Mesmo que uma sensação esteja associada a representações-palavra, ela se torna consciente não em função desta representação, mas diretamente. (1923, p.291).

Desta forma, aparece claramente a discussão sobre o estatuto das representações na segunda tópica, abrindo alternativas à simetria percepção-representação, e fazendo com que seja possível uma articulação mais nítida entre os processos perceptivos e o inconsciente. Seria necessário aprofundar a compreensão daquilo que Freud chama de sensações inconscientes. Que tipo de relação é possível estabelecer entre sensação e percepção? Será que percepções também podem ser inconscientes? Será que é possível pensar em percepções sem articulá-las diretamente com representações? Será que existem "registros" de aspectos inconscientes que não se tornaram representações? É por este caminho que boa parte dos autores que retomaram a investigação dos fenômenos traumáticos procuram justificar metapsicologicamente o estatuto psíquico do traumatismo. Mas isto já seria tema para um outro artigo.

3 - Percepção, consciência e inconsciente

As relações entre percepção, consciência e inconsciente ganham em complexidade na medida em que se avança cronologicamente pela obra de Freud. Nos textos iniciais que compõem a chamada primeira tópica proposta por Freud, o aparelho psíquico, como se sabe, é dividido em três sistemas: o sistema inconsciente, o sistema pré-consciente e o sistema percepção-consciência. Do ponto de vista tópico este último sistema encontra-se na extremidade externa do aparelho psíquico, recebendo simultaneamente estímulos do mundo externo e do mundo interno. Em várias passagens de seus textos, Freud estabelece uma ligação entre este sistema e o pré-consciente, constituindo, assim, o que ele denomina de sistema pré-consciente-consciente.

Consciência e percepção são, neste caso, praticamente sinônimos, já que a consciência é entendida como a fase subjetiva de uma parte dos processos físicos que se produzem nos atos perceptivos, inicialmente apenas de ordem neurológica. No Projeto, Freud aproxima a percepção e a consciência em um mesmo sistema (o sistema de neurônios w). Na Carta 52, no entanto, apresentando a construção esquemática linear do aparelho psíquico, Freud coloca em posições opostas W (percepção) e a consciência (Bws). A consciência, neste esquema, surgiria depois dos registros perceptivos se ligarem às representações-palavra do pré- consciente. Consciência e percepção aparecem vinculadas mas esquematicamente separadas. Como se sabe, no "Capítulo VII" de A Interpretação dos Sonhos, esta separação é mantida (até Freud acrescentar, em 1919, que a consciência estaria também na extremidade perceptiva do aparelho, formando assim a famosa equivalência P=Cs [W=Bw]) (Freud, 1900, p.517). Esta equivalência coloca como questão se percepção e consciência estão em um mesmo lugar, ou se ocupam dois lugares. O curioso é que Freud tenha insistido, com a nota de 1919, em igualar percepção e consciência depois de tê-las separado. Assim, de acordo com a direção linear, o estímulo que chega do exterior ao psiquismo pelo sistema percepção, segue seu curso passando pelos registros mnemônicos e pelo pré-consciente até o sistema consciência. Mas se a sensação consciente implica uma percepção, o sistema percepção e a consciência deveriam ser igualados. Isto fica claro na explicação do processo onírico, em que haveria a inversão dessa ordem linear do estado de vigília. A possibilidade do sonho é dada pela conseqüente regressão do material onírico originado no interior do aparelho, em direção à extremidade perceptiva. Freud sugere que:

A única maneira pela qual podemos descrever o que acontece nos sonhos alucinatórios é dizendo que a excitação se movimenta numa direção para trás [ rückläufigen]. Em vez de ser transmitida na direção da extremidade motora do aparelho, ela se movimenta no sentido da extremidade sensória e atinge finalmente o sistema das percepções. [System der Wahrnehmungen]. (1900, p.518).

Para que o sonho possa ser percebido pela consciência onírica, é necessário que nesta extremidade também esteja presente o sistema consciência. Assim P=Cs. Freud formula aqui uma consciência "direta", aberta, e uma outra que surge depois de satisfeitas certas condições.

Em um trecho posterior do "Cap. VII" Freud procura tornar mais clara esta dualidade da consciência: "Através das qualidades deste sistema, a consciência, que antes era apenas um órgão sensorial para a percepção, torna-se também um órgão sensorial para a porção de nossos processos de pensamento." (1900, p.547). Em outra passagem ele procura evidenciar que uma percepção pode vir a ser algo consciente: "Uma vez que um sonho tenha se tornado uma percepção, ele se acha em condições de excitar a consciência, através das qualidades agora adquiridas." (1900, p.547).

Assim, haveria uma percepção ligada aos eventos internos ou externos que atingem os órgãos sensoriais, como a consciência, sem que tenham que passar por uma elaboração dos processos psíquicos; e há a percepção de eventos que ocupam a consciência depois de passarem por uma elaboração. P=C nos dois sentidos.

No que diz respeito à relação entre percepção e inconsciente, Freud (1915), em seu texto O Inconsciente, apresenta uma nova alternativa, ao afirmar que o inconsciente estaria aberto à recepção de estímulos externos, sem que exista, necessariamente, a mediação do sistema Cs.:

Voltemos à comunicação entre o Ics.[Ubw] e os outros sistemas, menos para estabelecer algo novo do que para evitar a omissão do que é mais proeminente. Nas raízes [Wurzeln] da atividade pulsional [Triebtätigkeit] os sistemas se comunicam entre si de forma extensiva. Uma parte do processo do que é aí excitado passa através do Ics. , como que por um estágio preparatório e atinge seu mais alto desenvolvimento psíquico no Cs. e uma outra parte é retida como Ics. Mas o Ics. é também afetado por experiências que se originam de percepções externas [äusseren Wahrnehmung]. Normalmente, todos os caminhos da percepção ao Ics. permanecem abertos e só os que partem do Ics. sofrem um bloqueio pela repressão.

Chama muito a atenção que o Ics. de um ser humano possa reagir ao de outro, sem passar através do Cs. (1915, p.152-3).

Esta passagem é de fundamental importância para se pensar as possibilidades de relação entre a percepção da realidade externa e o inconsciente, sem a mediação da consciência. Posso afirmar que neste momento Freud sugere a possibilidade de duas modalidades de percepção em função da relação com os sistemas do aparelho psíquico: as percepções sensoriais que se tornam conscientes e as percepções inconscientes. Também o interessante campo das formas de comunicação entre inconscientes abre-se a partir desta passagem de 1915. Alguns dos psicanalistas contemporâneos que concebem os processos psíquicos a partir de uma atenta análise da relação transferencial-contratransferencial têm como ponto de partida, embora raramente o mencionem, estas aberturas sugeridas por Freud na construção de sua metapsicologia.

Outros aspectos presentes nos artigos da metapsicologia de 1915 merecem uma análise cuidadosa. Freud sugere que um ato psíquico que passa pelo teste da censura e vem a ocupar o sistema Cs, não é necessariamente uma sensação consciente. Na divisão do aparelho psíquico em sistemas, caberia uma questão: onde estaria aquilo que faz parte de Cs, mas ainda não existe conscientemente? A resposta seria, que se for uma representação, pela estrutura dada, estaria em estado de latência no pré-consciente. Em O Inconsciente, Freud discute as possibilidades de uma representação permanecer reprimida (Ics.) ou poder vir a ser consciente, o que depende da intensidade de investimento sobre os sistemas. A consciência dos processos de pensamento, depende da quantidade de investimento sobre as representações-palavra do pré-consciente e das representações-coisa

... o sistema Ics. contém os investimentos da coisa dos objetos [Sachbesetzungen der Objekte ], os primeiros e verdadeiros investimentos objetais; o sistema Pcs. ocorre quando essa representação- coisa é hiperinvestida através da ligação com as representações-palavra que lhe correspondem. (1915, p.160).

Assim, os atos psíquicos não hiperinvestidos, permanecem nos sistemas abaixo de Cs.

Freud reconhece que a própria possibilidade do pensar é dada pela percepção, já que é por meio desta que podem existir no psiquismo representações-coisa ou representações-palavra a partir dos traços de imagens sensoriais. Os resíduos perceptivos originais, entretanto, não podem se tornar conscientes por conta própria. Por estarem distantes das regiões de processamento dos pensamentos, os traços sensoriais já não retêm as qualidades desses resíduos, e para que retenham as primeiras qualidades, precisam do reforço de novas qualidades. Neste sentido, é como se a percepção de algo fosse reinventada a cada momento durante o seu processamento psíquico, e o que aparece na consciência possui, ao mesmo tempo, uma qualidade própria, diferente do que foi originalmente marcado, e também algo da origem. Vale lembrar que os traços de memória não se modificam, são presentes do modo como foram marcados; o que se transforma é a qualidade da representação resultante.

No Complemento Metapsicológico à Teoria dos Sonhos, encontra-se uma passagem em que Freud afirma que:

... o fato de uma coisa se tornar consciente ainda não coincide inteiramente com o fato dela pertencer a um sistema, pois aprendemos que é possível estarmos conscientes de imagens sensoriais mnêmicas às quais de forma alguma podemos permitir uma localização psíquica nos sistemas Cs. ou P [System Bw oder W ]. (1917, p.188).

É desta forma que Freud propõe que o investimento adequado sobre algo que está no Ics. ou Pcs., torna-o consciente, mas não faz com que pertença imediatamente ao sistema Cs. Isto coincide com as primeiras considerações teóricas de Freud quanto ao fato do sistema P e Cs não poder armazenar informação. Mas e quanto à consciência das informações que nos chegam diretamente do mundo? Necessariamente são percepções, e assim passam pelo sistema Cs. Se para os elementos presentes internamente existe a possibilidade de consciência, o mesmo deve ocorrer também com os elementos externos. Quais seriam essas condições, ou melhor, como ocorre o controle sobre elas?

No Projeto de 1895, Freud sugere que para um processo de pensamento ser consciente, ele deveria se comportar como uma percepção externa e assim ser uma percepção. O afeto, por sua vez, é consciente ou inconsciente. Em termos metapsicológicos, se um afeto é inconsciente e não está ligado a uma representação, ele não poderia existir no Pcs e, portanto, também não poderia estar no Cs; resta, assim, o Ics. Neste caso, o afeto está reprimido ou impedido de se desenvolver. Mas e quando o afeto é transformado e mesmo assim permanece em estado latente? Neste caso, poderíamos pensar que ele não pode ser identificado como um afeto reprimido, pois a transformação já implicaria em algum grau de liberdade. É importante lembrar que os afetos ligados às representações podem existir no Pcs. Muitas dessas questões serão respondidas com os artigos da chamada segunda tópica.

O Ego e o Id, de 1923, é um dos principais textos que prossegue esta investigação. Freud trata praticamente de todas as questões levantadas acima, amarrando ou revendo as concepções teóricas e propondo novas hipóteses sobre o funcionamento do aparelho psíquico.

O que já fora anunciado em alguns artigos anteriores é agora reiterado, e ganha maior consistência. Os órgãos de percepção são a mediação com o meio e formam o núcleo de origem do ego. O próprio ego vincula-se ao inconsciente e possui, em parte, características inconscientes. A divisão em sistemas está ligada às posições topográficas que as instâncias ocupariam no aparelho, em função da proximidade ou distância do mundo externo, além de sua função, característica e modo de funcionamento. Freud percebe que estas diferenciações traziam complicações; o estado de consciência ou inconsciência não encontra implicação direta no fato de pertencer aos respectivos sistemas. O inconsciente como termo descritivo inclui também o que está temporariamente latente, desta forma não deve ser confundido com o reprimido. A própria repressão implica uma visão dinâmica do processo psíquico, estabelecendo a necessidade de uma divisão em sistemas. O que foi chamado de ego no Projeto, e que ao longo dos textos da metapsicologia foi identificado ao Cs.(Pcs), passa, em O Ego e o Id, a abranger características até então atribuídas a outros sistemas.

Com estes novos recursos, Freud já pode responder à questão sobre a possibilidade de consciência dos estímulos externos.

Desde os artigos da metapsicologia de 1915, Freud propunha que para um fenômeno mental possa ser uma sensação consciente, ele deve necessariamente ocupar o P/Cs, e que mesmo estando neste sistema não há garantia de consciência. Para que haja consciência, algo deve, antes de tudo, ser captado pela percepção. No caso de ser um estímulo interno (uma representação, não um afeto), deve se comportar como uma percepção externa, e aí sim poderá ser consciente. Freud procura ser bem claro:

somente algo que já foi uma percepção Cs. [bw Wahrnehmung] pode tornar-se consciente, e qualquer coisa, que não os sentimentos, proveniente de dentro que procure tornar-se consciente, deve tentar transformar-se em percepções externas. Isto se torna possível mediante os traços mnêmicos. (1923, p.289).

E com relação ao afeto:

Assim como as tensões que surgem de necessidades físicas podem permanecer inconscientes, também o pode o sofrimento - algo intermediário entre a percepção externa e interna, que se comporta como uma percepção interna, mesmo quando sua fonte se encontra no mundo externo. (...) Também as sensações e os sentimentos só se tornam conscientes atingindo o sistema P.; se o caminho para frente é barrado, elas não chegam a existir como sensações, embora o que lhes corresponde no curso da excitação seja o mesmo que se elas chegassem a existir. (1923, p.291).

Chegamos, desta forma, ao que Freud chama de "sentimentos inconscientes", que não precisam encontrar vínculos intermediários de ligação, como é o caso das representações Ics. (apesar de haver afetos que emergem com a linguagem), para ser percebidos.

A discussão sobre as possibilidades de algo chegar à consciência, no texto de 1923, de certa forma retoma o que Freud já havia considerado em 1915 no artigo O Inconsciente, com relação aos investimentos. No O Ego e o Id temos que:

quando uma lembrança é revivida, o investimento permanece no sistema mnêmico, enquanto que uma alucinação, que não é distinguível de uma percepção, pode surgir quando o investimento não se estende simplesmente do traço mnêmico para o elemento P., mas se transfere inteiramente para ele.(...) Os resíduos verbais derivam primariamente das percepções auditivas, de maneira que o sistema Pcs. possui, por assim dizer, uma fonte sensória especial. (1923, p.290).

As percepções sensoriais (externas) e os sentimentos e sensações (internos) são tidos como Cs. desde o início, a não ser pelos processos de pensamento, que seriam parte de regiões mais profundas do psiquismo. Cs vai ser vinculado ao ego, que é a via de acesso ao mundo interno e externo, com seu sistema perceptivo. Tudo o que for percepção é parte de Cs. Mas então como diferenciar P. de Cs.? Não é evidente nem certo o limite que separa os sistemas. Em um trecho de O Ego e o Id, Freud diz que os afetos podem ser percebidos, ou mais precisamente, sentidos, "mesmo que a consciência se ache enevoada." (1923, p.291). O estado de consciência como sensação resultante depende da captação de P., que por sua vez vincula-se a Cs. Neste caso, a consciência enevoada seria uma falta de atenção, avaliação ou reflexão sobre os estímulos do meio externo ou de representações. Entretanto, temos consciência das sensações, do afeto que emerge; há assim, além de uma consciência enevoada, outros possíveis estados de consciência. O que faz parte do organismo, não precisa necessariamente ter uma origem a partir de P./Cs., mas para surgir como consciência deve necessariamente passar por esse sistema. A percepção interna dos processos de pensamento tem vínculos com as percepções externas, mas há elementos gerados que não fazem parte de algo que foi originalmente marcado como memória de um acontecimento, como o que se entende por representação.

Este é certamente um ponto delicado de discussão, pois por "consciência enevoada" pode-se entender uma sensação perceptiva que surge para o indivíduo, sem necessitar de Cs, ou sem haver uma consciência entendida como possibilidade de significação da sensação, já que não haveria uma representação que a representasse.

Green (1982), em sua rigorosa análise desta questão, sugere que:

Bem diferentes são as percepções internas; estas, diz Freud, são 'mais primárias, mais elementares' do que as percepções externas. Uma consciência aguda ou lúcida não lhes é necessária para serem sentidas. Essas percepções se manifestam como uma força condutora, sem que o ego seja capaz de notar sua ação. Elas vão chegar à consciência relegando o pré-consciente. Seu vínculo com a linguagem, quando existe, é, no limite, contingente. (p.61).

Assim, será que é possível afirmar também que há uma percepção separada da consciência? Com certeza isto depende do que se entende por consciência, e neste caso, se é possível aceitar a hipótese de que há diversos estados, graus ou qualidades de consciência.

As posições de Freud sobre o ego em O Ego e o Id ampliam a possibilidade de compreensão sobre as determinações da percepção. Funções inconscientes do ego são responsáveis pela percepção interna dos processos de pensamento ou dos afetos. Não temos consciência das determinações, mas apenas dos seus efeitos. Assim, o que é chamado de percepção endopsíquica, aproxima-se muito desta nova concepção. Ela foi descrita como uma espécie de percepção inconsciente dos processos internos, que influencia as possibilidades de interpretação sobre o mundo, assim como a possibilidade de percepção interna. Além disso, as origens do próprio ego remontam a épocas ou estados em que não só o psiquismo, mas todo o corpo está implicado.

Um outro fator, além da influência do sistema P., parece ter desempenhado algum papel em ocasionar a formação do ego e sua diferenciação a partir do id. O próprio corpo de uma pessoa e, acima de tudo, a sua superfície, constitui um lugar de onde podem originar-se percepções tanto externas quanto internas [äussere und innere Wahrnehmungen]. Ele é visto como outro objeto, mas, ao tato, produz duas espécies de sensações [Empfindungen], uma das quais pode ser equivalente a uma percepção interna. (...) O ego é, acima de tudo, um ego corporal; não é simplesmente um ser de superfície [Oberflächenwesen ], mas é, ele próprio, a projeção de uma superfície. (1923, p.294).

Esta passagem, sempre citada, permite diferentes níveis de interpretação. A vinculação do ego ao corpo abre inúmeras possibilidades para se pensar a constituição da subjetividade a partir de um modelo que não se reduza ao do binômio percepção-representação. Mas o desenvolvimento deste tema ultrapassa os limites do presente artigo.

As relações entre consciência e percepção sofrem ainda novas alterações até o fim da obra de Freud. Segundo Botella e Botella (1995), Freud avança do modelo em que o sistema consciência-percepção é "comandado" pela consciência, ficando a percepção submetida à consciência, para um modelo que autonomizará cada vez mais a percepção, inicialmente através da inversão simples da denominação do sistema. Primeiro em O Ego e o Id, com a nova fórmula percepção-consciência, e depois através de um sistema autônomo:

os artigos que se seguem [a O Ego e o Id ] (...) testemunham um interesse crescente pela percepção. Uma evolução que se confirma e se conclui: nas Novas Conferências Introdutórias (1932), onde Freud, estudando uma última vez este tema, concede abertamente à Percepção sua autonomia, o direito de ser, por ela mesma, um sistema, o sistema Percepção ( Wahrnehmung) e sustenta que é "durante seu funcionamento que se produz o fenômeno da consciência"; ou seja, que a consciência torna-se uma qualidade do sistema P. (p.351).

Para Freud, na conferência 31 das novas conferências, a consciência é, portanto, função da percepção e não o inverso. Ele é claro: "Este sistema [P./Cs] está voltado para o mundo externo, é o meio para que as percepções sejam recebidas e nele, durante seu funcionamento, surge a consciência." (1933, p.512). A este sistema, agora só sistema percepção, Freud ainda atribui a introdução no psiquismo das relações com o tempo: "A relação com o tempo, tão difícil de descrever, também é introduzida no ego pelo sistema percepção [Wahrnehmungssystem]; dificilmente pode-se duvidar que o modo de atuação desse sistema é o que dá origem à representação do tempo. [Zeitvorstellung]." (1933, p.513). Freud não oferece maiores esclarecimentos de como se daria exatamente a origem psíquica da representação do tempo. A introdução no ego se dá pelo sistema percepção, mas como se efetiva esta noção ou representação do tempo? Outro ponto que fica em aberto nesta complexa rede de relações construídas por Freud entre a percepção e o aparelho psíquico.

Concluindo este eixo, cabe ainda mencionar um último aspecto das relações sugeridas por Freud entre a percepção e o aparelho psíquico. De uma forma um pouco enigmática, Freud afirma no Esboço de Psicanálise (1938[1940]), que o Id possui um sistema de percepção próprio e diferente daquele formado pelas percepções conscientes:

Os processos que são possíveis em e entre os supostos elementos psíquicos do id (o processo primário) diferem amplamente daqueles que a percepção consciente nos mostra, em nossa vida intelectual e afetiva... O id, isolado do mundo externo, possui um mundo próprio de percepções. Percebe com extraordinária agudeza certas alterações em seu interior, especialmente oscilações na tensão de suas necessidades pulsionais, oscilações que tornam-se conscientes como sensação na série prazer - desprazer. É difícil dizer, com efeito, por que meios e com a ajuda de que órgãos sensoriais periféricos essas percepções ocorrem. Mas é fato estabelecido que as autopercepções - sensações cinestésicas e sensação de prazer-desprazer – governam com despótica tirania os processos do id. (1938 [1940], p.3413).

É possível aproximar esta concepção daquela das percepções endopsíquicas? Existiriam de fato, assim, percepções inconscientes legitimamente estabelecidas a partir do Id? Qualquer afirmação é arriscada já que não possuímos textos posteriores ou sugestões do próprio Freud que avancem para além desta sumária descrição realizada em 1938. Seja como for, a complexidade das relações entre a percepção e os diferentes sistemas e depois instâncias que compõem o aparelho psíquico não parece diminuir nestas proposições finais de Freud.

A obra de Freud continua exigindo um intenso trabalho de análise e reflexão. A história da psicanálise nos fornece novos elementos, os inúmeros comentadores dos textos freudianos nos sugerem novas interpretações, mas, acima de tudo, elementos de nosso próprio trabalho cotidiano recolocam questões que provocam novas leituras e, às vezes, novas compreensões. A intenção deste artigo não era fornecer respostas definitivas às questões iniciais. Espero, no entanto, ter apresentado um panorama abrangente das contribuições de Freud para o tema da percepção e sua relação com o inconsciente e, ao mesmo tempo, ter aberto alguns caminhos que permitam o desenvolvimento de novas investigações no âmbito da psicanálise contemporânea.

COELHO JUNIOR, N.E. Unconscious and Perception in Freudian Psychoanalysis. Psicologia USP, São Paulo, v.10, n.1, p.25-54, 1999.

Abstract: Perception is usually remembered in association with consciousness (as for example in the perceptual-conscious system), but also has other destinies in Freud's investigations. Throughout Freud's succesive formulations of perception, this paper tries to offer a better understanding of the relations between perception and unconscious.

Index terms: Unconscious. Perception. Consciousness. Psychoanalysis.

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  • 1
    Adoto como tradução para o vocábulo alemão
    Verdrängung repressão e não recalque.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Set 1999
    • Data do Fascículo
      1999
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