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EDITORIAL

EDITORIAL

Trabalhar nas fronteiras entre a Psicanálise e a Psicologia Social é o projeto promissor no qual se insere o dossiê que abre este número de Psicologia USP.Ao recortar aspectos da vida social e da cultura, a partir do convívio de perspectivas conceituais vinculadas a essas disciplinas, o campo complexo do mal-estar contemporâneo é problematizado por meio de uma variedade de ângulos de acesso. São analisadas as repercussões das novas configurações sociais e familiares na constituição da identidade, as conseqüências de traços traumáticos e feridas narcísicas veiculados pela transmissão psíquica entre as gerações, o trabalho psíquico da intersubjetividade nos grupos, as dimensões do sofrimento social, tais como humilhação e vergonha e seus efeitos nos vários contextos sociais e o papel fundamental da Arquitetura no processo de humanização das cidades. Em seu conjunto, os artigos que compõem esse dossiê fertilizam a compreensão das formas contemporâneas de sofrimento psíquico e discutem as múltiplas alternativas de intervenção.

Mais cinco artigos compõem o volume. Inicialmente, são discutidas questões pertinentes ao trajeto da implantação da Psicanálise no Brasil, sendo traçadas as especificidades desse processo nos âmbitos da Universidade e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Também dentro do campo de interesses da Psicanálise, o próximo ensaio se instrumentaliza do referencial lacaniano para analisar as peculiaridades da pesquisa nessa área, que a distinguem como uma disciplina singular. O estudo subseqüente focaliza aspectos da formação de educadores infantis, do ponto de vista de sua capacitação para a utilização de atividades lúdicas, como recursos mediadores na interação com as crianças. O próximo trabalho incide sobre os efeitos da institucionalização na produção da subjetividade, embasando-se na teorização de Goffman sobre as instituições totais e ilustrando-a por meio da análise de um texto literário. O último artigo trata da analítica corpóreo-anímica desenvolvida por Foulcault, que é proposta como instrumento metodológico para a Psicologia operar com os mecanismos de poder e saber que a atravessam como ciência humana.

Finalmente, Ponto de vista, à luz da teoria literária, nos leva para a intimidade da confecção do suspense, ao transitar pelas opções que constroem a trama das narrativas de mistério, buscando esclarecer o lugar ocupado pelo gênero policial na atualidade.

Como se vê, a composição do volume expressa o fio condutor da proposta editorial de Psicologia USP: o compromisso com o debate de idéias no trato de temáticas relevantes para o campo da Psicologia e a disposição constante para colocá-la em interlocução com as demais áreas de conhecimento.

Essa perspectiva permitiu um passo a mais. Inauguramos a seção Em Debate, na qual a Comissão Executiva traz para discussão um assunto que tem provocado turbulências na comunidade acadêmica: os processos de avaliação de periódicos da área de Psicologia que tem sido conduzidos pelas comissões CAPES/ANPEPP. O tema é abordado por meio do material que enviamos à Comissão Conjunta, por ocasião da última avaliação, realizada em abril de 2004, cuja elaboração foi estimulada por nossa perplexidade com a classificação dada à Psicologia USP, que não faz juz à sua qualidade editorial. Ao publicarmos esse texto, não só pretendemos esclarecer a comunidade acadêmica, os autores e leitores da revista com relação à sua classificação, como esperamos dar uma contribuição concreta à discussão do tema.

Não por acaso Em Debate fecha este número da revista. Ao abrir a palavra ao leitor, explicita a convicção - eixo fundamental subjacente ao dossiê que inicia o volume - de que é fundamental estimular o trabalho nas fronteiras entre concepções, espaço de tensão inevitável onde se concretiza o necessário convívio com a diversidade. A aposta nesta possibilidade inspira a inclusão dessa nova seção.

Ana Maria Loffredo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Maio 2005
  • Data do Fascículo
    2003
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