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Editorial

EDITORIAL

Este número reúne artigos que versam sobre educação e saúde. É importante esclarecer que se trata de uma compreensão mais ampla a respeito destes campos.

Não se refere, assim, à educação institucional, escolar, mas à educação para a vida social, levada a efeito na informalidade. Remete a sujeitos sociais costumeiramente deixados de lado, a exemplo de jovens habitantes dos bairros mais distantes do centro que a ele se deslocam para deixar sua marca identitária na forma de pichações; afirmam e lembram a todos sua existência social e expressam uma forma de recusa do anonimato ou do esquecimento. Colocam assim desafios para propostas de uma “cidade limpa”.

Na mesma direção está o artigo sobre a apropriação do espaço urbano por crianças que moram nos chamados arrabaldes. Estes cidadãos em formação mostraram identificar-se com o bairro, estabelecendo formas de apropriação, mas revelaram também limites de suas possibilidades de apreensão quanto a se sentirem partícipes de um conjunto maior, denotando certa estratificação em guetos.

Estreitamente ligado a estas questões, e mediando os temas centrais que regem esta edição, está o trabalho que focaliza sujeitos sociais portadores de soropositividade. Mostra como a interiorização do sofrimento pela condição somática destas pessoas se amplifica quando passam a ser socialmente associados com a doença, delineando as feições cruéis do estigma.

Se a visibilidade atinge em cheio a estes últimos, o mesmo não se pode dizer das crianças que sofrem do chamado déficit de atenção e hiperatividade, para as quais pouca atenção tem sido reservada. Procura-se mostrar aqui caminhos para que este transtorno possa ser diagnosticado e tratado.

A edição traz também um trabalho particularmente desafiador para os psicanalistas, qual seja o final da análise. Como receber e preparar-se para a finalização da mesma? Se o objetivo de todos os envolvidos parece convergir para a necessidade de levar o processo a um termo final, como lidar com a passagem de analisandos a analistas?

Uma analogia talvez seja possível entre esta questão e a ambivalência dentro de nós de um corpo que, ao mesmo tempo, é seduzido pelas formas e pelas técnicas expressivas consagradas, e, de outro, instigado a ousar, deixando-se levar pelo imprevisto. A dança simboliza bem este embate de tendências conflitantes, aqui focalizado.

Nos dois últimos trabalhos deste número, são examinadas as questões emocionais implicadas na doença asmática e no funcionamento da memória.Inicialmente, a partir dos modelos cognitivo-comportamentais é formulada a hipótese segundo a qual não só as cognições disfuncionais associadas à asma prescrevem comportamentos e emoções presentes nas crises, como se articulam a uma maior produção de sintomas de pânico/medo e de atitudes negativas frente à doença e seu tratamento.

O último estudo aborda a relação das emoções com a produção de falsas memórias, entendidas como um tipo de produção mnemônica em que são recuperados eventos que nunca ocorreram, tendo como objetivo apresentar uma discussão metodológica das pesquisas voltadas a esse tema, que tem ocupado pouco destaque na literatura especializada.

Paulo de Salles Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Set 2010
  • Data do Fascículo
    Set 2008
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