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A construção narrativa da família em crianças com familiares alcoólicos: contributos de um estudo qualitativo

La construction narratif de la famille par les enfants qui ont des gens alcooliques dans leurs familles: conclusion d’une étude qualitative

Narrative constructions of family in children with alcoholic family members: contributes of a qualitative investigation

La construcción narrativa de la familia en niños con familiares alcohólicos: conclusiones de un estudio cualitativo

Resumos

No presente artigo descreve-se um estudo cujo objetivo se centra na identificação e compreensão dos significados e sentidos, narrativamente construídos e organizados por crianças com e sem familiares alcoólicos, relativamente à sua família. Esta investigação enquadra-se na necessidade atual de aprofundar o estudo do consumo de álcool e do seu impacto a nível familiar, principalmente no desenvolvimento das crianças. Foi utilizada uma metodologia qualitativa, recorrendo-se à realização de entrevistas analisadas de acordo com a Grounded Analysis. As entrevistas decorreram com 11 crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 10 anos de idade, inseridas nas atividades lúdico-pedagógicas de um projeto social. Seis destas crianças possuem familiares que sofrem de alcoolismo e cinco não. Os resultados apontam para a existência de diferenças entre os discursos dos dois grupos de crianças que constituíram a amostra, sendo que as crianças com familiares alcoólicos manifestaram uma concepção diferente da família, que envolve relações conflituosas e problemas de vários tipos.

Família; Alcoolismo; Infância; Grounded Analysis


Dans cet article nous décrivons une étude qui a comme sujet l’identification et la compréhension des sens et des significations sur la famille, par des enfants qui avaient et qui n’avaient pas des gens alcooliques dans la famille. Cette investigation a une raison d’être, le besoin actuel d’approfondir l’étude sur la consommation d’alcool, son impact au niveau familial et son influence sur le développement des enfants. On a utilisé une méthode qualitative en se servant de la réalisation de certaines entrevues qui ont été analysées selon la Grounded Analysis. Les entrevues ont été faites à 11 enfants à l’âge entre 4 et 10 ans, qui faisaient partie des activités d’un projet social, 6 d’entre eux avaient des gens alcooliques dans leur famille, les autres 5 n’en avaient pas. Les deux groupes d’enfants démontrèrent une différence au niveau du discours, ceux qui en avaient dans leurs familles des gens alcooliques montrèrent, d’une certaine manière, une conception plus négative de la famille, qui montre plusieurs problèmes et des conflits familiers.

Famille; Alcoolisme; Enfance; Grounded Analysis


With this article we aim to analyse narrative meanings about family, by children with and without alcoholic family members. This investigation underlines the lack of studies about alcohol consumption and its impact to familial environment, mostly on children development. A qualitative design was used, oriented by Grounded Analysis. Data were collected through a semi-structured interview. 11 participants, with ages between 4 and 10 years old that take part of a portuguese social project, were interviewed, six of them have an alcoholic family member and five don’t. The results demonstrate the existence of differences between the discourses of the two groups of children that constitute the sample. In fact, family concept of children with alcoholic family members is negative, and reflects various problems and conflicts.

Family; Alcoholism; Childhood; Grounded Analysis


En el presente artículo, describe se un estudio cuyo objetivo se centra en la identificación y comprensión de los significados y sentidos, narrativamente construidos y organizados, por niños con y sin familiares alcohólicos, relativamente à su familia. Esta investigación encuadrase en la necesidad actual de profundar el estudio del consumo del alcohol y de su impacto a nivel familiar, principalmente a nivel del desarrollo de los niños. Fue utilizada una metodología cualitativa, recorriéndose à la realización de entrevistas analizadas de acuerdo con el Grounded Analysis. Las entrevistas descorrieran con 11 niños con edades comprendidas entre los 4 y los 10 años de edad, insertadas en las actividades lúdico-pedagógicas de un proyecto social. Seis de estos niños posean familiares que sufren de alcoholismo y cinco no. Los resultados apuntan para la existencia de diferencias entre los discursos de los grupos de niños que constituyeron la muestra, siendo que los niños con familiares alcohólicos manifestaron una concepción diferente de la familia, que envuelve relaciones conflictivas y problemas de varios tipos.

Familia; Alcoholismo; Niñez; Grounded Analysis


ARTIGOS ORIGINAIS

A construção narrativa da família em crianças com familiares alcoólicos: contributos de um estudo qualitativo1 1 Trabalho apresentado como requisito para obtenção do grau de licenciatura e, também, apresentado sob a forma de poster no I Congresso Saúde, Família e Doença, Braga, Portugal (2005). e na 20th Annual Conference of the European Health Psychology Society, Warsaw, Polónia (2006)

Narrative constructions of family in children with alcoholic family members: contributes of a qualitative investigation

La construction narratif de la famille par les enfants qui ont des gens alcooliques dans leurs familles: conclusion d’une étude qualitative

La construcción narrativa de la familia en niños con familiares alcohólicos: conclusiones de un estudio cualitativo

Cláudia Manuela Soares Cavadas; Carla Alexandra Martins Fonte

Universidade do Minho, Braga, Portugal

RESUMO

No presente artigo descreve-se um estudo cujo objetivo se centra na identificação e compreensão dos significados e sentidos, narrativamente construídos e organizados por crianças com e sem familiares alcoólicos, relativamente à sua família. Esta investigação enquadra-se na necessidade atual de aprofundar o estudo do consumo de álcool e do seu impacto a nível familiar, principalmente no desenvolvimento das crianças. Foi utilizada uma metodologia qualitativa, recorrendo-se à realização de entrevistas analisadas de acordo com a Grounded Analysis. As entrevistas decorreram com 11 crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 10 anos de idade, inseridas nas atividades lúdico-pedagógicas de um projeto social. Seis destas crianças possuem familiares que sofrem de alcoolismo e cinco não. Os resultados apontam para a existência de diferenças entre os discursos dos dois grupos de crianças que constituíram a amostra, sendo que as crianças com familiares alcoólicos manifestaram uma concepção diferente da família, que envolve relações conflituosas e problemas de vários tipos.

Palavras-chave: Família. Alcoolismo. Infância. Grounded Analysis.

ABSTRACT

With this article we aim to analyse narrative meanings about family, by children with and without alcoholic family members. This investigation underlines the lack of studies about alcohol consumption and its impact to familial environment, mostly on children development. A qualitative design was used, oriented by Grounded Analysis. Data were collected through a semi-structured interview. 11 participants, with ages between 4 and 10 years old that take part of a portuguese social project, were interviewed, six of them have an alcoholic family member and five don’t. The results demonstrate the existence of differences between the discourses of the two groups of children that constitute the sample. In fact, family concept of children with alcoholic family members is negative, and reflects various problems and conflicts.

Keywords: Family. Alcoholism. Childhood. Grounded Analysis.

RÉSUMÉ

Dans cet article nous décrivons une étude qui a comme sujet l’identification et la compréhension des sens et des significations sur la famille, par des enfants qui avaient et qui n’avaient pas des gens alcooliques dans la famille. Cette investigation a une raison d’être, le besoin actuel d’approfondir l’étude sur la consommation d’alcool, son impact au niveau familial et son influence sur le développement des enfants. On a utilisé une méthode qualitative en se servant de la réalisation de certaines entrevues qui ont été analysées selon la Grounded Analysis. Les entrevues ont été faites à 11 enfants à l’âge entre 4 et 10 ans, qui faisaient partie des activités d’un projet social, 6 d’entre eux avaient des gens alcooliques dans leur famille, les autres 5 n’en avaient pas. Les deux groupes d’enfants démontrèrent une différence au niveau du discours, ceux qui en avaient dans leurs familles des gens alcooliques montrèrent, d’une certaine manière, une conception plus négative de la famille, qui montre plusieurs problèmes et des conflits familiers.

Mots-clés: Famille. Alcoolisme. Enfance. Grounded Analysis.

RESUMEN

En el presente artículo, describe se un estudio cuyo objetivo se centra en la identificación y comprensión de los significados y sentidos, narrativamente construidos y organizados, por niños con y sin familiares alcohólicos, relativamente à su familia. Esta investigación encuadrase en la necesidad actual de profundar el estudio del consumo del alcohol y de su impacto a nivel familiar, principalmente a nivel del desarrollo de los niños. Fue utilizada una metodología cualitativa, recorriéndose à la realización de entrevistas analizadas de acuerdo con el Grounded Analysis. Las entrevistas descorrieran con 11 niños con edades comprendidas entre los 4 y los 10 años de edad, insertadas en las actividades lúdico-pedagógicas de un proyecto social. Seis de estos niños posean familiares que sufren de alcoholismo y cinco no. Los resultados apuntan para la existencia de diferencias entre los discursos de los grupos de niños que constituyeron la muestra, siendo que los niños con familiares alcohólicos manifestaron una concepción diferente de la familia, que envuelve relaciones conflictivas y problemas de varios tipos.

Palabras-clave: Familia. Alcoholismo. Niñez. Grounded Analysis.

Introdução2 2 Todos os cuidados éticos necessários á realização desta investigação foram tomados. Esclarecemos que, em Portugal, não há a exigência de avaliação de pesquisas por parte de uma comissão de ética.

Cada indivíduo nasce no seio de uma família que tem tanto de comum, como de diferente, em relação a todas as outras famílias. Apesar de não ser o único, inicialmente a família é o mundo a que temos acesso. Por isso, irá afetar o nosso desenvolvimento e, consequentemente, a forma como interpretamos o que nos rodeia.

Por serem as que demonstram maior vulnerabilidade, as crianças são os elementos da família que necessitam de maiores cuidados e atenção, mas também os que suscitam maiores expectativas nos outros. Talvez devido a esta característica, o comportamento e o processo de desenvolvimento das crianças são influenciados pelo ambiente que as envolve (Maia, 1997).

É a partir da relação dinâmica que estabelecem com o meio ambiente que as crianças vão construindo e definindo a sua auto-imagem (Maia, 1997). Ora como, inicialmente, o meio ambiente da criança é o seio familiar, daí se perceber melhor a sua importância.

Ao estudarmos as concepções que as crianças têm da sua família não podemos esquecer a complexidade que as caracteriza. Para enfrentar a vida em família as crianças necessitam conhecer o seu funcionamento, para saberem como agir no seio familiar. Esta construção inicia-se com o processo de desenvolvimento e exige que o indivíduo se adapte às relações interpessoais. Neste contexto relacional, as crianças precisam conhecer as formas de atuar dos indivíduos, aprender a se comunicar, a prever as suas crenças, metas e desejos, para trocar pontos de vista e criar expectativas sobre a reação dos outros perante certo tipo de situações. Todo este processo ocorre, num período inicial, no seio da família. Ao ser colocado, progressivamente, noutros contextos sociais, a criança vai alargando esse conhecimento e aprendendo a lidar com diferentes realidades (Simón, Triana, & González, 2001).

Encontram-se na literatura vários estudos que se debruçam: a) sobre os conceitos das crianças acerca da família – Maia (1997), Piaget (1928), Triana e Simón (1994); b) sobre as concepções das crianças acerca dos seus familiares – Dolto (1999), Pederson e Gilby (1986); c) sobre as funções da família – Simón e Triana (1994, citados por Simón, Triana, & Gonzáles, 2001); entre outros. No decorrer destes estudos foram referidas algumas conclusões acerca do impacto que as experiências familiares têm na percepção das crianças acerca da sua família.

Assim, em 1928, Piaget desenvolveu um estudo em que pedia a crianças entre os 7 e os 13 anos para definirem a palavra “família”. Com esta investigação, o autor distinguiu três estágios de desenvolvimento: as crianças de 7 e 8 anos incluíam na família todas as pessoas que habitavam com elas; entre os 9 e os 10 anos, apesar de usarem o critério de existência de uma relação biológica entre os membros de uma família, continuavam a demonstrar como relevante o fato de viverem juntos e davam maior importância à família nuclear; nas crianças dos 11 aos 13 anos, a família era definida abrangendo todos os parentes com os quais possuíam um laço biológico (Piaget, 1928). Anos mais tarde, Gilby e Pederson (1982) realizaram estudos que corroboram as conclusões de Piaget: as crianças com menos de 7 anos têm uma concepção de família limitada às pessoas que vivem com elas.

No mesmo âmbito encontram-se as conclusões do estudo realizado por Triana e Simón (1994), acerca dos conceitos de família, indicando que as crianças de idade pré-escolar e escolar, quando lhes era pedido para definirem família, enumeravam os membros da família nuclear e da família alargada, referindo-se também à habitação comum e aos laços biológicos.

Esta tendência para a enumeração dos membros da família foi também encontrada no estudo realizado por Maia, em 1997, no âmbito do Ano Internacional da Família, cuja amostra era constituída por 600 crianças entre os 7 e os 12 anos, de várias regiões de Portugal. Este estudo baseava-se, principalmente, na perspectiva das crianças em relação à sua família. De acordo com os dados recolhidos, e no que diz respeito à constituição da família, o pai e a mãe foram os elementos mais referidos seguidos dos irmãos e avós. Porém, apenas 21% das crianças indicaram outros elementos da família, tais como tios, primos, padrinhos (Maia, 1997).

Outro aspecto referido como importante para o conceito de família das crianças é a sua percepção acerca dos atributos dos elementos da família (Pederson & Gilby, 1981). De acordo com estudos realizados com crianças de várias faixas etárias e diferentes situações familiares, até aos 3 anos, a criança forma pré-conceitos acerca dos pais: por um lado, o progenitor é percebido como a figura que exerce mais poder e punições, provocando, por isso, medo, e como sendo mais dominador e competente (Harris & Howard, 1981); por outro lado, a figura materna é percebida como cuidadora, facilitadora, aceitadora e simpática (Annentrout & Burger, 1972).

Esta tendência para a enumeração dos membros da família foi também encontrada no estudo realizado por Maia, em 1997, no âmbito do Ano Internacional da Família, cuja amostra era constituída por 600 crianças entre os 7 e os 12 anos, de várias regiões de Portugal. Este estudo baseava-se, principalmente, na perspectiva das crianças em relação à sua família. De acordo com os dados recolhidos, e no que diz respeito à constituição da família, o pai e a mãe foram os elementos mais referidos seguidos dos irmãos e avós. Porém, apenas 21% das crianças indicaram outros elementos da família, tais como tios, primos, padrinhos (Maia, 1997).

Outro aspecto referido como importante para o conceito de família das crianças é a sua percepção acerca dos atributos dos elementos da família (Pederson & Gilby, 1981). De acordo com estudos realizados com crianças de várias faixas etárias e diferentes situações familiares, até aos 3 anos, a criança forma pré-conceitos acerca dos pais: por um lado, o progenitor é percebido como a figura que exerce mais poder e punições, provocando, por isso, medo, e como sendo mais dominador e competente (Harris & Howard, 1981); por outro lado, a figura materna é percebida como cuidadora, facilitadora, aceitadora e simpática (Annentrout & Burger, 1972).

Os resultados destes estudos, quanto à percepção das crianças acerca dos seus pais, vão de encontro à perspectiva psicanalítica de Dolto (1999). Segundo esta autora, para a criança o pai representa o elemento que estabelece regras, tanto de caráter social, como relativas ao poder; é igualmente aquele que dá o sobrenome à criança, e que por isso a marca. Já a mãe, é quem alimenta e cuida; no fundo é o ser que satisfaz as necessidades da criança e que consegue sempre fazê-la sentir conforto (Dolto, 1999).

No que diz respeito às funções da família, foi realizado um estudo no sentido de se perceber quais funções as crianças atribuem aos pais (Triana & Simón, 1994). As conclusões apontam para o fato de as crianças atribuírem às mães os cuidados com os filhos e os trabalhos domésticos, e aos pais as funções de sustentar economicamente a família, consertar coisas em casa e realizar atividades lúdicas com os filhos. Neste sentido, verifica-se que as crianças utilizam aspectos concretos quando falam do que as rodeia e que estão relacionados com atividades observáveis (Simón et al., 2001).

Estes aspectos concretos, relacionados com atividades observáveis não estão presentes nas conclusões do estudo de Gilby (1979, citado por Pederson & Gilby, 1986), realizado com crianças entre os 5 e os 11 anos e jovens universitários, no qual se verificou que a maioria dos sujeitos atribuía à família a função de satisfazer necessidades vitais e de proporcionar experiências emocionais positivas. Além disso, nesse mesmo estudo, também se concluiu que as crianças, mais do que os estudantes universitários, mencionavam como função da família o companheirismo e o fato de os membros da família fazerem coisas uns pelos outros.

O progressivo desenvolvimento que acontece na percepção que as crianças têm das funções dos familiares também se verificou no estudo realizado por Simón e Triana (1994, citado por Simón et al., 2001), no qual as crianças descreveram melhor as funções realizadas pelos outros membros da família, do que as suas, fazendo referência apenas às suas atividades quotidianas, e tornando-se à medida que vão crescendo mais sensíveis a funções relacionadas com o ajudar os outros membros da família.

De um modo geral, Maia (1997) concluiu que muitas crianças iniciam a descrição dos familiares pela sua profissão, principalmente os pais, sendo também frequente fazerem uma descrição física dos familiares ou até delas próprias. Além disso, ao falarem sobre a família, também se referiam, essencialmente, ao quotidiano, sublinhando aspectos de agrado e desagrado. Curiosamente, no seu estudo, Maia (1997) detectou algum grau de incoerência e contradição nos discursos dos menores.

Pederson e Gilby (1986) concluíram que não existe uma forte relação entre a percepção que as crianças têm acerca da sua família e as experiências vividas no meio familiar. No entanto, afirmam que a qualidade da vida familiar e o funcionamento afetivo da família são, presumivelmente, um fator determinante no que diz respeito ao impacto da família no desenvolvimento da criança. Por seu lado, Simón et al. (2001) parecem opor-se a esta visão, uma vez que afirmam que as experiências concretas que as crianças têm influenciam o seu conceito acerca da família.

Em 1996, Sixsmith e Knowles realizaram um estudo sobre as perspectivas acerca da família de crianças pertencentes a famílias tradicionais. De acordo com a pesquisa realizada e também fruto do estudo desenvolvido, as autoras concluíram que as regras e rituais que visavam o comportamento das crianças eram entendidas e contribuíam para o sentimento de pertença à família (Sixsmith & Knowles, 1996).

Em um estudo realizado por Niemi (1988) demonstrou-se que as famílias que promovem a comunicação e o afeto entre os seus membros geram, nas crianças, percepções mais positivas sobre a família, e proporcionam- lhes um melhor desenvolvimento e adaptação social.

Na relação das crianças com a família, Maia (1997) identificou duas dimensões, a do afeto e a do conflito. No que respeita à afetividade, foram identificados como elementos mais valorizados pela criança o “brincar”, o “dar” e “receber” carinhos e o “estarem todos juntos” (Maia, 1997). O estabelecimento de regras e acordos entre a criança e os familiares é geralmente aceito como fazendo parte da sua educação, não havendo por isso reações negativas a estas situações.

Em relação à conflitualidade, um dos elementos mais referidos pelas crianças foram as atitudes severas do educador, tais como o “ralhar”, o “bater” e o “pôr de castigo”. A par deste, o conflito, propriamente dito, foi destacado como outro elemento que afeta a relação da criança com a família, sendo distinguidas três situações em que este acontece: as discussões (referidas como o “ralhar” e o “brigar”); as agressões físicas (apontadas como “bater”); e por último, uma referência importante, que origina este tipo de situações, os problemas com o álcool e as drogas (Maia, 1997).

Neste sentido, também Fischer e Johnson (1990) analisaram a interpretação que crianças e adolescentes fazem das causas dos conflitos familiares. Nesta investigação verificaram que os menores atribuíam a existência de conflitos ao fato dos familiares não fazerem companhia uns aos outros, não satisfazerem as necessidades básicas e não obedecerem a regras familiares e/ou sociais (Fischer & Johnson, 1990).

Quando o assunto trata das atividades e interações realizadas em família, verificou-se que grande parte das crianças referia-se, sobretudo, às atividades diárias em família, descrevendo largamente as que desenvolviam com os outros elementos: por um lado, apontavam as tarefas domésticas, quer as realizadas pelos pais, avós, ou por elas próprias; por outro, referiam-se a atividades lúdicas, de convívio e interação, tais como o jogar, o brincar, ou o estarem todos juntos, conversar ou ver televisão (Maia, 1997). As tarefas domésticas revelaram-se como sendo aquelas que os sujeitos encaravam com desagrado, sendo o contato com a família e o fato de estarem todos juntos, aquilo que mais gostam e a que dão mais valor (Maia, 1997).

Os fatores que perturbam as crianças foram distinguidos neste estudo como externos ou internos à família, sendo que, dos internos os mais referidos foram os conflitos, a doença (quer de familiares, quer da própria criança), a morte, e a ausência dos familiares (Maia, 1997). Esta ausência dos familiares provoca, muitas vezes, nas crianças um sentimento de solidão, o que demonstrou ser de extrema importância para o seu bem-estar (Maia, 1997).

Apesar dos problemas referidos, as crianças manifestam, geralmente alegria por terem uma família que as apoia e dá carinho, esperando, no fundo, que a família lhes dê tudo o que elas precisam (Maia, 1997).

Dada a “permeabilidade” ao meio que a rodeia, a criança é afetada por todo e qualquer problema ao nível familiar, deparando-se, muitas das vezes, com um ambiente prejudicial para o seu desenvolvimento saudável. Esta é a realidade das crianças em cujas famílias existem membros com problemas de alcoolismo. Na maioria das vezes, não é propriamente o alcoolismo, mas antes os conflitos que este origina que influenciam negativamente a criança (Faoro-Kreit & Hers, 2002). Assim, a situação torna-se ainda mais grave, pois são as pessoas responsáveis pelo bem-estar da criança – os familiares – que a fazem sentir infeliz (Faoro-Kreit & Hers, 2002).

De fato, as crianças em cujas famílias existem problemas de álcool ou drogas, sofrem alterações na forma como avaliam o contexto familiar, ao fazerem uma avaliação mais negativa do lar (Tudor, Petersen, & Elifson, 1980), e ao manifestarem sentimentos negativos em relação a figuras de autoridade (Madden, 1984, citado por Triana & Rodrigo, 2001).

Ao depararmo-nos com a escassez de estudos que caracterizem as concepções e significados acerca da família, em crianças com familiares alcoólicos, pareceu-nos importante contribuir neste sentido, dando voz a algumas destas crianças. Assim, este estudo teve como objeto as concepções e significados de crianças com familiares alcoólicos acerca da sua família em comparação com as concepções e significados de crianças sem familiares alcoólicos.

Tendo em conta o objetivo geral da investigação, esta foi orientada por meio de uma metodologia qualitativa, sendo a Grounded Analysis escolhida como referência para a sua realização, por nos permitir captar e reconstruir significados (Olabuénaga, 1996) a partir do discurso do sujeito.

Desta forma os objetivos específicos são:

  1. Identificar as concepções e os significados de crianças com fami1. liares alcoólicos acerca da família;

  2. Identificar as concepções e os significados de crianças sem fami2. liares alcoólicos acerca da família;

  3. Comparar as concepções e os significados de crianças com fami3. liares alcoólicos e sem familiares alcoólicos acerca da família;

  4. Analisar as concepções e os significados destas crianças.

No que diz respeito aos participantes, este tipo de estudos possui características muito particulares, como é o caso da seleção da amostra. Isto porque, nesta investigação a população constituiu uma “amostragem teórica” (Glaser & Strauss, 1967) ou “amostra intencional teórica” (Olabuénaga, 1996). Este gênero de amostras é utilizado em investigações qualitativas, e permite ao investigador encontrar e escolher os sujeitos que trarão a informação mais relevante para a área em estudo (Olabuénaga, 1996). Ou seja, os sujeitos são selecionados de forma a maximizar a oportunidade de conhecimento na área pesquisada (Strauss & Corbin, 1998), tendo em conta, portanto, critérios internos ao estudo (Morse, 1994, citado por Fonte, 2005).

Assim, e numa primeira etapa, focalizando a área investigada (o discurso das crianças acerca da família) e as variáveis sócio-demográficas, foi constituído um grupo de 11 crianças, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 4 e os 10 anos.

Tendo em conta as características e o tema em estudo, optou-se por escolher crianças de famílias com a problemática do alcoolismo. No grupo constituído, havia seis dessas crianças. Em quatro delas era o pai o membro da família com problemas com o álcool, numa delas era o avô materno, e na outra, além dos avós maternos, o padrasto também apresentava este problema. A identificação destas características familiares foi feita pelos técnicos da Instituição Particular de Solidariedade Social3, em cujas atividades estas crianças estão inseridas. Com este grupo pretendíamos aproximar- nos do tema em estudo – o discurso sobre a família em crianças com familiares alcoólicos.

A procura de grupos contrastantes pode, de acordo com Rennie, Phillips e Quartaro (1988), constituir uma estratégia numa segunda etapa da “amostragem teórica”. Com este segundo passo pretende-se aumentar a complexidade do processo de análise dos dados (Fonte, 2005). Desta forma, foi constituído um grupo de comparação, com cinco crianças, sem problemas de alcoolismo na família.

Todos os participantes foram entrevistados de acordo com as questões que constituíram um roteiro construído pelas autoras desta investigação.

A Entrevista Qualitativa, também designada como Entrevista em Profundidade, é, por excelência, um método utilizado tanto em investigação, como na prática clínica, e permite obter informação (Olabuénaga, 1996) acerca de um indivíduo e do seu mundo. A entrevista é considerada por Fontana e Frey (2000) como um dos métodos mais comuns e eficazes que podemos utilizar para compreender os sujeitos. Assim, a condução da entrevista e o tipo de perguntas elaboradas pelo entrevistador têm como função facilitar o conhecimento das experiências pessoais do entrevistado (Olabuénaga, 1996).

Assim, a Entrevista Qualitativa foi o método escolhido para o recolhimento de dados nesta investigação. Esta escolha considerou não só as particularidades da área de investigação, mas também as características dos sujeitos. Assim, foi construído um roteiro de entrevista, como forma de orientar o discurso das crianças. Este roteiro tinha como tema central a família, e era constituído por questões como: Quem é a tua família?; Fala-me um pouco da tua família.; Como é a relação com cada um dos membros da tua família?; O que gostas mais em cada um deles?; O que gostas menos que cada um faça?; O que é que cada um te ensina?; Quem é a pessoa da tua família que achas mais simpática?; E quem é a mais contente?; O que gostarias de mudar em cada um deles?; O que gostas mais de fazer com a tua família?; Quem está em casa quando chegas da escola/atividades?; Costumas brincar com alguém da tua família?; O que faz a tua família quando fazes asneiras?; Quem o faz? (se alguém ralha, bate ou castiga); Como se sente quando isso acontece?; Como gostarias que fosse a tua família?; O que faz cada membro da família (trabalho)?; O que fazem todos juntos?; Como é o dia a dia?; Com quem dorme e onde?

Cada uma destas questões poderia ser ou não aprofundada, de acordo com o discurso da criança, sendo o objetivo aceder à forma como a criança vê e interpreta o seu ambiente familiar.

Com relação aos procedimentos, inicialmente foi requerida a aprovação e autorização por parte da Direção da Instituição Particular de Solidariedade Social, em cujas atividades as crianças se encontravam inseridas.

Após a obtenção dessa aprovação, foi pedida uma sala isolada dentro da Instituição, para a realização das entrevistas. No início das entrevistas foi explicado a cada criança, de forma simples e direta, o que lhe era pedido e se estaria disposta a participar.

Todas as entrevistas foram realizadas obedecendo aos princípios da Competência, da Responsabilidade, do Respeito pelos outros, da Confidencialidade e da Investigação (nomeadamente, ao nível do Planejamento e do Consentimento informado), (Associação dos Psicólogos Portugueses [APPORT], 1995).

Após a realização de todas as entrevistas, que foram gravadas em áudio, procedeu-se à sua transcrição integral. No entanto, dado que não eram relevantes, determinados aspectos do discurso das crianças, nomeadamente, as pausas ou outras interrupções, não foram registrados.

Ao falarmos acerca da coleta e análise de dados podemos fazer uma distinção entre tradição linguística e tradição sociológica (Ryan & Bernard, 2000). No primeiro caso, o texto é o próprio objeto de análise, mas no que diz respeito à tradição sociológica, o texto é tratado como uma oportunidade de aceder à experiência humana (Ryan & Bernard, 2000). Assim, foi com o intuito de aceder à experiência dos sujeitos acerca do fenômeno em estudo que se deu início à análise dos dados, procurando as sugestões de vários autores para o desenvolvimento de uma estratégia de codificação (Fonte, 2003, 2005; Huberman & Miles, 1994; Strauss & Corbin, 1994; Taylor & Bogdan, 1949, 1984).

De acordo com Taylor e Bogdan (1949, 1984), inicialmente o investigador segue pistas, consulta os dados e desenvolve conceitos para começar a dar sentido à informação recolhida. Assim, as categorias iniciais são descritivas, muito próximas do discurso do sujeito (Rennie, Phillips & Quartaro, 1988), tornando-se, progressivamente, mais conceituais (Strauss & Corbin, 1994).

Ao longo da análise dos dados, podem criar-se novas categorias, ou então, desenvolver, ajustar ou eliminar as já existentes, sendo o objetivo fazer com que as categorias se adaptem aos dados, e não o contrário (Taylor & Bogdan, 1949, 1984).

O processo de análise de dados é uma forma sistemática de desenvolver e refinar interpretações acerca da informação coletada, transformando-se, assim, num processo dinâmico e criativo, que permite ao investigador criar a sua própria forma de analisar e interpretar os dados (Taylor & Bogdan, 1949, 1984). Ou seja, vai permitir-lhe “personalizar” as suas estratégias.

Apresentamos então, resumidamente, as fases da estratégia de codificação desenvolvida para a análise dos dados que recolhemos: 1. Ler e reler todas as entrevistas; 2. Identificar categorias descritivas (mais próximas do discurso do sujeito); 3. Anotar temas, interpretações e ideias (Taylor & Bogdan, 1949, 1984); 4. Identificar categorias conceituais (Fonte, 2005); 5. Identificar categorias centrais (de caráter mais geral); 6. Clarificação estrutural (Fonte, 2003); 7. Constituir temas (de acordo com as categorias centrais construídas); 8. Construção do discurso do grupo e dos subgrupos.

Todo o processo, incluindo a análise das entrevistas, foi realizado pelo mesmo investigador. A análise não foi sustentada pelo uso de qualquer suporte informático para o tratamento dos dados, sendo realizada manualmente.

Considerações finais

Viver no seio de uma família coloca a criança perante situações e experiências que ela vai interpretar de uma forma muito própria. Aos seus olhos o mundo torna-se diferente (Simón et al, 2001), apesar de poderem ver a mesma realidade. Assim, elas constroem significados e concepções acerca dessa realidade e, consequentemente, acerca da família. É então possível dizer que as crianças são influenciadas pelo que as rodeia (Maia, 1997), e isso inclui tanto os aspectos bons e favoráveis para o seu desenvolvimento, como os outros, os negativos.

Sendo assim, como parte integrante da família, as crianças deparam-se, muitas vezes, com um ambiente prejudicial para um desenvolvimento saudável. Isto acontece quando, por exemplo, existem familiares que têm problemas com o álcool (Triana & Rodrigo, 2001).

Foi no sentido de “procurar” as concepções e significados tão próprios das crianças que foi desenvolvida uma análise do seu discurso acerca da família. Como já foi referido, esta análise foi baseada numa metodologia específica, a Grounded Analysis. Neste tipo de metodologia, o produto final não pretende englobar todas as perspectivas de todos os sujeitos da investigação, nem tal seria possível. Ao desenvolver-se esta análise parte-se do princípio que existem regularidades, no mundo físico e social, que podem ser encontradas (Huberman & Miles, 1994) no discurso dos vários sujeitos. E são essas regularidades que vão sobressair na análise dos dados.

Este tipo de análise reflete, ainda, a forma como o investigador pensa e a forma como recolhe e “molda” os dados (Charmaz, 2000). Assim, deve referir-se que, os temas, categorias centrais, categorias e subcategorias abaixo descritos dizem respeito à interpretação realizada pelas autoras do estudo, não se pretendendo que esta seja a única análise possível dos dados recolhidos.

Grupo de crianças com familiares alcoólicos

No grupo de crianças com familiares alcoólicos foram identificados quatro temas: I. Caracterização da família; II. Relacionamento; III. Educação; IV. Hábitos e atividades. Dentro de cada um destes temas foram identificadas várias categorias centrais, que vão de encontro ao discurso que estas crianças têm acerca das suas famílias.

Na caracterização da família foram identificadas três categorias centrais, uma delas, a constituição da família, deu origem a várias categorias, como: quem é a família, o agregado familiar, passando também pela dimensão da família. A definição de família caracteriza-se pela enumeração dos membros e pela referência a características da família. E a terceira categoria central, as características dos familiares, engloba o trabalho dos familiares e a descrição de alguns problemas familiares. Estas categorias permitiram conhecer melhor o meio familiar em que a criança está inserida, mas também a forma como ela o vive e interpreta.

Compreender as concepções destas crianças acerca das suas famílias passou, entre outros aspectos, pela exploração do relacionamento com a família, pois estes são fatores que, sem dúvida afetam as suas experiências. Assim, neste tema foram distinguidas cinco categorias centrais. No que diz respeito às relações na família, as categorias identificadas foram a relação com a família, a relação da criança com os familiares, a relação entre os familiares e a referência à família alargada. No seu discurso, estas crianças referiram também o menos agradável, apontando aspectos como o que não gostam na família e o que mudariam na família. Outra referência foi a escolha do familiar mais simpático e do mais contente. A quarta categoria central inserida neste tema foi a opinião sobre os familiares, na qual se distinguiram duas categorias: má opinião e boa opinião. A última categoria central identificada neste tema foram as brincadeiras, que incluiu com quem brincam as crianças e o tipo de brincadeiras que fazem com os familiares.

Durante o seu discurso as crianças referiram vários aspectos relativos à educação dada pela família. Tudo isto porque a família é um meio fundamental para a educação e desenvolvimento de qualquer criança. A primeira categoria central distinguida, as aprendizagens em família, incluiu duas categorias, nomeadamente, o que a criança ensina e o que os familiares lhe ensinam. Já na descrição das punições foram identificadas quatro categorias: as punições, as causas das punições, quem aplica as punições e a forma de encarar as punições.

Fundamental para o discurso destas crianças acerca das suas famílias pareceu-nos também os hábitos e atividades que desenvolvem no meio familiar. No que diz respeito às atividades em família, foram referidas as atividades lúdicas e passeios, as atividades específicas com algum membro da família, e as atividades em casa. Ao analisar o discurso acerca da rotina da criança, foram surgindo categorias como acordar de manhã, o que fazem depois de acordar, com quem fica depois, e com quem dormem. Todos estes aspectos referem-se a hábitos adquiridos pela família e que vão igualmente influenciar o desenvolvimento das crianças.

Grupo de crianças sem familiares alcoólicos

A análise ao discurso do grupo de crianças sem familiares alcoólicos foi orientada da mesma forma e permitiu-nos distinguir quatro temas: I. Caracterização da família; II. Relacionamento; III. Educação; IV. Área profissional.

Quanto à caracterização da família, durante as entrevistas estas crianças foram indicando elementos, que permitiram desenvolver uma categoria central, relacionada com a definição de família, que incluiu duas categorias: ideias subjacentes ao conceito e características mais gerais. A constituição da família apenas incluiu como categoria a enumeração dos membros da família. E, por fim, na categoria central do que mudariam na família foram identificadas categorias como nada ou o fato de quererem ter um irmão/irmã. Tendo em conta que cada família é única, diferente de todas as outras, isto permitiu-nos conhecer um pouco melhor as famílias destes menores.

O relacionamento com os familiares é um aspecto muito importante na vida das crianças. É por isso natural que elas se refiram a vários pontos que nos levam a pensar acerca dessas relações e de que forma elas influenciam a vida da criança. Assim, neste tema as categorias centrais desenvolvidas foram a caracterização das relações familiares e as atividades em família. Dentro destas categorias centrais outras categorias foram distinguidas, o que permitiu caracterizar determinados aspectos relativos às relações familiares. Assim, no que diz respeito à caracterização das relações familiares, esta abrangeu categorias como as boas relações, as relações com a família alargada, o familiar mais simpático e o mais contente, o que gostam mais na família e o que gostam menos. Na segunda categoria central, as atividades em família, as quatro categorias identificadas foram: as atividades que mais gostam, as atividades com os pais, com os irmãos e os primos e aquelas que realizam todos juntos.

Vários aspectos ao longo do discurso destas crianças indiciaram pontos acerca da educação que têm no seio da família. Pareceu importante referir estes aspectos, uma vez que a forma como a criança os entende como fazendo parte, ou não, da sua educação também afeta as suas concepções de família. Assim, dentro deste tema encontra-se uma categoria central relacionada com os castigos, onde se identificaram categorias como, quem aplica, os tipos de castigos, como se sentem e como veem o castigo. Isto também nos permite perceber se o menor estabelece uma relação direta entre as causas e as consequências dos castigos. Neste tema também pareceu importante distinguir uma categoria central relacionada com o aprender com a família, onde se inclui o que aprendem com os familiares. Os hábitos diários também fazem parte da educação da criança, uma vez que por meio deles ela vai interiorizar regras que influenciarão sua educação. Nesta categoria central foram definidas categorias como quem as chama pela manhã, o que fazem depois de acordar, o que fazem ao longo do dia, com quem ficam depois das atividades diárias, o que fazem quando chegam a casa, com quem jantam e com quem dormem.

Curiosamente estas crianças fazem referência à área profissional em que gostariam de trabalhar dividindo as mesmas entre dois mundos: o do ensino e o do desporto. De fato, alguns destes menores, rapazes e raparigas, manifestaram o desejo de serem professores primários e outros optaram por ser jogadores de futebol.

Sendo assim, relativamente ao discurso do grupo total, foram encontrados aspectos comuns relacionados à caracterização da família, tanto no que concerne à sua constituição, como ao relacionamento entre os membros da família. Outros aspectos referentes à educação das crianças também foram mencionados por todo o grupo, nomeadamente fatos relativos às aprendizagens, às punições e à existência de uma rotina. Por último, a descrição de algumas atividades realizadas com os familiares também foi comum.

Apesar de ainda muito jovens estas crianças revelaram ter já uma concepção de família muito particular, constatando-se a existência de ideias comuns, subjacentes ao conceito de família propriamente dito. Assim, perante a dificuldade de transmitir uma definição de família, a maioria do grupo optou por indicar características associadas ao conceito, tais como a união, a intimidade, a partilha, a estabilidade e/ou a utilidade/importância da família. Estas são ideias também presentes na definição de Palacios e Rodrigo (2001), que afirmam ser a família uma união de pessoas, que partilham um projeto vital, e onde existe um compromisso pessoal e relações íntimas, recíprocas e de dependência entre os seus membros. Estas características parecem não estar tão relacionadas com aspectos concretos da vida familiar, relacionados com atividades observáveis, como afirmam Simón et al. (2001), sendo que as crianças referiram particularidades mais abstratas.

Como se verificou no estudo de Triana e Simón (1994), quando foram questionadas acerca de quem é a sua família, também estas crianças optaram por enumerar os seus elementos, não fazendo distinção entre a família nuclear e a família alargada. Assim, elas referiram indiferenciadamente pais, avós, tios, irmãos, primos e padrinhos, o que não se verificou no estudo de Maia (1997), onde os pais foram as figuras mais citadas, seguidos pelos avós e irmãos.

Ao falarem acerca do relacionamento, algumas crianças revelaram ter uma boa relação com a família em geral, enquanto outras crianças optaram por especificar a relação com algum dos membros da família. No entanto, das duas dimensões relacionais identificadas no estudo de Maia (1997), o afeto e o conflito, as crianças com familiares alcoólicos referiram-se muito mais ao segundo aspecto, descrevendo largamente situações conflituosas.

O conflito é assim uma característica comum nas famílias de alcoólicos, uma vez que também Johnson e Leff (1999) verificaram que nestas famílias o ambiente caracteriza-se por falhas das funções parentais, deficiências na gestão doméstica e na comunicação entre os seus membros.

Apesar de parecer não afetar o conceito que as crianças têm de família, uma vez que neste ponto se verificaram aspectos comuns aos dois grupos, o fator alcoolismo influencia a qualidade de vida e o funcionamento afetivo destas famílias. Isto porque no seu discurso, as crianças com familiares alcoólicos, refletem além dos conflitos, outros problemas familiares (por exemplo, econômicos), e uma rotina mais confusa. Esta conclusão reflete a posição de Pederson e Gilby (1986), segundo os quais as experiências vividas no meio familiar não têm uma forte relação com as percepções da criança acerca da família, podendo, no entanto, afetar o seu desenvolvimento, por prejudicarem o funcionamento familiar.

De fato, aquilo que se verifica é que as características familiares refletidas pelas crianças com familiares alcoólicos apontam para uma desorganização e desestruturação familiar, que não se encontra presente nas famílias das crianças sem o problema do alcoolismo. Assim, no discurso das crianças com familiares alcoólicos, os problemas espelham-se não só nas dificuldades econômicas, mas também noutras complicações (como os conflitos), que podem ter origem na falta de atenção do alcoólico para com a família (Chick & Chick, 1998). Aquilo que se verifica é que o alcoolismo acaba por perturbar a dinâmica familiar (Adés & Lejoyeux, 1997, 2004).

Ainda no sentido desta desorganização familiar, podemos constatar que, nas famílias das crianças com elementos alcoólicos, grande parte dos progenitores não trabalha, aumentando assim os problemas econômicos.

A família é, por excelência, um meio onde a criança vai interiorizar hábitos, regras e valores que apoiarão o seu processo de desenvolvimento. Assim, ao longo do seu discurso as crianças falaram sobre o que aprendem com a família, sobre aspectos relacionados com as punições e descreveram um pouco sua rotina.

De um modo geral, todos os menores se dividiram entre dois tipos de coisas que aprendem com os familiares. Por um lado, a família educa e estabelece regras que orientam o seu dia a dia, por outro, cabe aos elementos da família ajudar as crianças a realizar os trabalhos da escola.

Quanto aos aspectos educativos, é muitas vezes difícil para os menores adaptarem-se às regras impostas pelos adultos, acabando, muitas vezes, por lhes desobedecer, ou fazer algo com o qual os adultos não concordam, o que implica algum tipo de repreensão ou punição. Assim, relativamente a punições e castigos, tal como no estudo de Maia (1997), também estas crianças citaram o “ralhar”, o “bater” e o “pôr de castigo”. No entanto, apenas as crianças com familiares alcoólicos fizeram referência a punições físicas quando são castigadas, orientando mais uma vez o seu discurso para o tema da conflitualidade, sendo estas punições físicas aquilo que gostariam de mudar na família. Este fato poderá ser uma consequência dos estilos educativos característicos das famílias com pessoas alcoólicas. O que se verifica é que as suas práticas educativas oscilam entre a excessiva rigidez (e daí as punições) e a negligência (Triana & Rodrigo, 2001).

A maior coerência nas práticas educativas exercidas sobre as crianças sem familiares alcoólicos reflete-se no seu discurso, uma vez que apontaram como castigo que normalmente lhes era aplicado a retirada de algo que gostavam de ver na televisão ou de fazer, ou então lhes destinando atividades que não gostavam.

Geralmente, as pessoas que aplicam os castigos ou punições são os progenitores, porém, dado que alguns dos menores passam algum tempo com os avós, estes também foram mencionados como elementos educadores, que intervêm neste tipo de situações.

Para além deste lado da educação, relacionado com as punições, verificou-se que as crianças sem familiares alcoólicos aceitam com mais facilidade as regras de educação impostas, e parecem assumir com maior responsabilidade as tarefas domésticas que lhes são atribuídas. Isto apesar de serem estas as que menos lhes agradam desempenhar. Neste aspecto parece que para este grupo de crianças, estas tarefas assumem as características mencionadas por Sixsmith e Knowles (1996), sendo entendidas por elas como fazendo parte da sua educação, e contribuindo para um sentimento de pertença à família.

A menor aceitação por parte das crianças com familiares alcoólicos das regras de educação que lhes são impostas pode estar relacionada com a dificuldade que, geralmente, estes menores têm em lidar com figuras de autoridade (Madden, 1984, citado por Triana & Rodrigo, 2001).

Como já foi referido, o estudo de Maia (1997) apontou duas dimensões, e apesar das crianças com familiares alcoólicos refletirem muito mais episódios de conflitos, o afeto também se encontra, de certo modo, presente. Isto acontece quando relatam as atividades realizadas com a família, como as atividades lúdicas e os passeios, sendo estas as preferidas das crianças. Isto vai de encontro a alguns dos elementos de afetividade mencionados no estudo de Maia (1997), como o “brincar” e o “estarem todos juntos”.

Neste contexto, as crianças sem familiares alcoólicos apontaram também a mãe e o pai, para além dos irmãos e primos, quando falaram em “brincadeiras”, o que não aconteceu com o outro grupo de crianças, que na sua maioria referiu apenas as mães, os primos ou os tios, não mencionando os progenitores neste tipo de atividades. De certa forma, este aspecto pode estar relacionado com o fato de o pai poder ser percebido como a figura que exerce mais poder e punições (Pederson & Gilby, 1986). Porém, não podemos desprezar a coincidência de ser realmente, na maioria destas famílias, o pai o elemento que tem problemas com o álcool, o que o leva a estar menos disponível para a família (Chick & Chick, 1998).

Sendo assim, os dados relativos às atividades preferidas (atividades lúdicas e passeios) e aquelas que menos gostam de fazer vão igualmente no sentido dos resultados do estudo realizado por Maia (1997).

As crianças sem familiares alcoólicos dão uma maior importância à escola e refletem uma maior responsabilidade e interesse pelo futuro. Este fator pode ser resultado tanto da sua educação, como pelo fato de pertencerem a famílias mais estruturadas, onde se sentem seguras, apoiadas e acarinhadas, e nas quais não existe a ambivalência e desorganização presente nas famílias de alcoólicos. Apesar desta diferença, os dois grupos fizeram referência ao papel dos familiares na ajuda para a realização dos trabalhos de casa.

Nas famílias das crianças sem familiares alcoólicos existe também maior cuidado para manter contato com a família alargada, através de convívios familiares. Além disso, os membros da família alargada, nomeadamente, os avós, são referidos como figuras de apoio, pois é com eles que a maioria destas crianças fica quando sai da escola.

O que acontece nas famílias das crianças com elementos alcoólicos, é que as fronteiras entre a família nuclear e a família alargada não existem, sendo que em muitas delas é comum co-habitarem pais, filhos, avós e tios. Este fator pode também afetar a criança, uma vez que ela acaba por ser submetida a estilos educativos distintos (pelos vários membros da família), o que pode influenciar o seu desenvolvimento saudável.

As diferenças ao nível familiar, em relação aos dois grupos, foram sublinhadas ainda por outro fator. Quando as crianças foram questionadas acerca do que gostariam de mudar na família, quase todas as crianças sem familiares alcoólicos referiram que não mudavam nada, ou apenas que gostariam de ter um irmão. No entanto, as crianças cujas famílias têm membros alcoólicos apontaram o “acabar com as punições”. Mais uma vez este dado aponta para a dificuldade que estas crianças têm em lidar com a excessiva conflitualidade existente no ambiente familiar, comum nestas famílias, e que pode também justificar o fato de serem os membros da família que geram conflitos aqueles sobre quem as crianças têm pior opinião.

Curiosamente, não existiu no discurso das crianças com familiares alcoólicos qualquer referência direta ao alcoolismo. Este dado pode indicar, por um lado, uma negação do problema, sendo este um mecanismo de defesa utilizado pela criança (Faoro-Kreit & Hers, 2000, 2002). Por outro lado, pode estar relacionado com a vergonha que estas crianças possam sentir pela situação em que se encontram (Faoro-Kreit & Hers, 2000, 2002).

Concluindo, após a análise dos resultados verificou-se que, com relação à definição de família, o alcoolismo não influencia tanto as concepções e significados que as crianças constroem, tendo em conta um conceito mais abstrato de família. No entanto, constatou-se que as crianças com familiares alcoólicos refletiram a existência de conflitos e problemas familiares, o que não aconteceu com as crianças sem familiares alcoólicos. São estes então os significados que parecem derivar do fator alcoolismo na família.

Desta forma, constata-se que as ideias subjacentes ao conceito de família são comuns a todas as crianças: união, intimidade, partilha, estabilidade, utilidade.

De modo geral, as crianças revelaram ter uma boa relação com a família. No entanto, das duas dimensões relacionais identificadas no estudo de Maia (1997), o afeto e o conflito, as crianças com familiares alcoólicos referiram muito mais o segundo aspecto, descrevendo largamente situações conflituosas.

Apenas as crianças com familiares alcoólicos fizeram referência a punições físicas quando são castigadas, orientando mais uma vez o seu discurso para o tema da conflitualidade. São estas punições físicas aquilo que gostariam de mudar na família.

As crianças sem familiares alcoólicos dão uma maior importância à escola e refletem uma maior responsabilidade e interesse pelo futuro.

Todas as crianças parecem dar importância às atividades realizadas em família, descrevendo essencialmente, o tipo de brincadeiras. Porém as crianças sem familiares alcoólicos deram maior relevo à sua participação nas tarefas domésticas.

Após a análise e discussão destes resultados, conclui-se que, apesar de parecer não afetar o conceito mais abstrato que as crianças têm de família, o fator alcoolismo interfere na qualidade de vida e no funcionamento afetivo destas famílias, e são estes os fatores que podem afetar o seu desenvolvimento. Desta forma, pode-se dizer que algumas das concepções que as crianças com familiares alcoólicos têm acerca da família, nomeadamente ao nível das práticas educativas, dos conflitos e da coesão familiar, podem ser afetadas pelo fator alcoolismo, ou pelo menos podem ser resultado das dificuldades que este problema origina no meio familiar, e que afetam todos os seus membros.

Recebido em: 10/01/2009

Aceito em: 10/07/2009

Cláudia Manuela Soares Cavadas, Universidade do Minho, Braga, Portugal, Instituto de Educação e Psicologia. Praça 9 de Abril, nº349, CEP 4249-004, Porto, Portugal. Endereço eletrônico: claudiacavadas@sapo.pt

Carla Alexandra Martins Fonte, Praça 9 de Abril, nº349, CEP 4249-004, Porto – Portugal. Endereço eletrônico: cfonte@ufp.edu.pt

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    Trabalho apresentado como requisito para obtenção do grau de licenciatura e, também, apresentado sob a forma de poster no
    I Congresso Saúde, Família e Doença, Braga, Portugal (2005). e na
    20th Annual Conference of the European Health Psychology Society, Warsaw, Polónia (2006)
  • 2
    Todos os cuidados éticos necessários á realização desta investigação foram tomados. Esclarecemos que, em Portugal, não há a exigência de avaliação de pesquisas por parte de uma comissão de ética.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Set 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009

    Histórico

    • Aceito
      10 Jul 2009
    • Recebido
      10 Jan 2009
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