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EDITORIAL

Encerramos este ano com a grata satisfação de termos alcançado uma meta que julgamos prioritária no sentido de possibilitar maior visibilidade e circulação de Psicologia USP no plano internacional: a disponibilização na Coleção SciELO da versão em inglês dos artigos cujos autores assim o desejarem. Dessa forma, mantemos o princípio da publicação em português e espanhol em papel impresso, e tornamo-nos uma publicação eletrônica bilíngue, pois todos os artigos estarão sempre disponíveis nessa coleção em português e, opcionalmente, também em inglês. É uma novidade que envolve expansão de nossas responsabilidades do ponto de vista técnico e a evidente colaboração dos autores no processo de internacionalização de seus próprios trabalhos.

Também pudemos fortalecer a concretização do Projeto "Iniciação de editores", que já está em seu terceiro ano de atividades e que tem por objetivo articular o processo de produção editorial à formação dos alunos, ampliando o campo de experiências fornecidas pela graduação.

Este número de Psicologia USP bem ilustra a pluralidade de perspectivas que atravessa o campo das pesquisas em psicologia, diversidade para a qual justamente se dirige a proposta editorial da revista e que se expressa nas variadas abordagens teóricas e recortes específicos de leitura aqui presentes, que tem como horizonte comum tematizar questões relativas ao espaço multifacetado em que se inserem os "processos de subjetivação".

O primeiro trabalho, inserido na área da psicologia da aprendizagem, trata das relações entre cognição, cultura e afeto e seus desdobramentos no processo de constituição das especificidades humanas, no qual se destaca o papel da linguagem no âmbito dos fatores culturais que são condição de sua possibilidade. No estudo subsequente, o lugar fundamental ocupado pelos afetos nos processos de subjetivação é tratado em função das teses formuladas pelo etólogo e psicanalista Daniel Stern, em que ocupam posição privilegiada as conceituações de afeto de vitalidade e sintonia afetiva e as noções de interação afetiva, empatia e comunicação emocional.

Em seguida, o processo de constituição psíquica em sua relação intrínseca com a alteridade é investigado no contexto da teorização freudiana relativa ao desamparo, de modo a demonstrar o estatuto de dupla face subjacente à alteridade, em sua condição primordial de elemento estruturante da subjetividade. O próximo trabalho se ocupa do papel da relação fraterna na constituição do sujeito e do laço social, enfatizando os aspectos da solidariedade e do companheirismo nesse processo, na contramão da maioria das pesquisas sobre esse tema inspiradas pelo referencial psicanalítico, que priorizam a dinâmica da competição e da rivalidade.

O momento inaugural das relações entre a educação e a psicanálise é retomado pelo próximo ensaio, no qual é discutida a questão do ideal segundo as concepções de Arthur Ramos, que convergem para a definição de "criança problema", analisando-as à luz das teorizações freudiana e lacaniana. O artigo seguinte examina o conceito de debilidade mental no contexto de sua inserção na psicanálise e analisa sua pertinência no pensamento lacaniano tanto em sua dimensão estrutural como patológica, nessa última devendo ser diferenciada da psicose, da psicossomática e da inibição intelectual. O autismo é abordado pelo próximo trabalho, segundo a proposta de uma revisão da literatura, em função da relação entre a imitação precoce e o estabelecimento das relações sociais, a partir da hipótese de que déficits de imitação possam se relacionar às dificuldades de interação e comunicação características desse quadro.

O próximo ensaio se insere no campo da epistemologia da psicanálise e recorta a teoria da representação subjacente à metapsicologia freudiana como objeto de investigação, demonstrando os limites dessa perspectiva teórica com a introdução dos conceitos de narcisismo e de identificação e com a importância conferida à compulsão à repetição. Também vinculado ao pensamento freudiano, o próximo artigo se detém no espaço inicial da produção teórica de Freud, compreendido entre 1886 e 1898, com o objetivo de acompanhar o percurso de suas investigações sobre a histeria, de modo a explicitar os eixos fundamentais que sustentaram suas descobertas nesse período.

O pensamento de Sartre é convocado pelo penúltimo trabalho, que se detém nas propostas desenvolvidas pelo filósofo em sua teoria do imaginário, no sentido de demonstrar como sua elucidação do psíquico por essa via pode representar uma contribuição à discussão relativa às especificidades do objeto da psicologia.

O último artigo se reporta a uma pesquisa realizada com mães cujas filhas apresentavam transtornos alimentares e formula a hipótese segundo a qual as experiências emocionais relativas à alimentação e a seu significado na construção dos vínculos com suas próprias mães tenderam a se repetir na relação com as filhas, apontando para algo no âmbito de uma transmissão transgeracional.

Ana Maria Loffredo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
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