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Desamparo e alteridade: o sujeito e a dupla face do outro

Helplessness and alterity: the self and the double face of the other

Desamparo y alteridad: el sujeto y la doble faz del otro

Détresse et altérité: le sujet et la double face de l´autre

Resumos

Abordaremos, neste artigo, a noção de alteridade, que se encontra intrinsecamente articulada na obra freudiana ao estado de desamparo do ser humano. O recém-nascido, por causa de sua imaturidade motora e psíquica, é incapaz de satisfazer por si só suas necessidades vitais de sobrevivência, o que tem como contrapartida a dependência do outro, condição estruturante do próprio sujeito. Analisa-se a alteridade como um complexo com dupla face, tecido em uma relação que remete ao mesmo tempo ao semelhante e ao estranho, o que engendra um risco para o sujeito: não há qualquer garantia quanto ao que se pode esperar do outro. Debruçar-nos-emos sobre esse estado característico do início da vida, que lança o homem ao campo do outro, da linguagem e da cultura, para mostrar como se dá o processo de constituição psíquica. Propomos que o estado de desamparo está associado à incerteza e à ausência de garantias provindas do outro.

Desamparo; Constituição psíquica; Alteridade; Semelhante; Estranho


This article deals with the notion of alterity (otherness), which is inextricably coupled, in Freudian works, to the state of helplessness of the human being. The newborn, due to its motor and psychic underdevelopment, is unable to satisfy on its own the vital needs for survival, therefore entailing a dependence on the other, a condition that shapes one’s self. Alterity is analysed as a complex with double face, woven into a relationship that refers both to the familiar and the strange, which creates a risk for the self: there is no guarantee about what to expect from the other. We will delve into this defining state of early life, which throws one’s being into the field of the other, and of language and culture, to show how the process of psychic constitution takes place. We propose that helplessness is associated to the uncertainty and lack of assurances given by the other.

Helplessness; Psychic constitution; Alterity; Otherness; Familiar; Strange


En el presente artículo nos proponemos a trabajar el concepto de alteridad, que se encuentra intrínsecamente articulado en la obra freudiana con el estado de desamparo del ser humano. El recién-nacido, a causa de su imaturidad motora y psíquica, es incapaz de satisfacer por si sólo sus necesidades vitales de sobrevivencia, lo que tiene como contrapartida la dependencia del otro, condición estructurante del sujeto. Se analiza la alteridad como un complejo con doble faz, tramado en una relación que remite a la vez al semejante y al extraño, lo que engendra un riesgo para el sujeto: no hay ninguna garantía cuanto a aquello que se puede esperar del otro. Abordaremos ese estado característico del inicio de la vida, que lanza el hombre en el campo del Otro, del lenguaje y de la cultura, para así mostrar cómo se da el proceso de la constitución psíquica. Proponemos que el estado de desamparo está asociado a la inseguridad y a la ausencia de garantías provenidas del otro.

Desamparo; Constitución psíquica; Alteridad; Semejante; Extraño


Dans cet article nous nous proposons d´étudier la notion d´altérité, qui se trouve intrinséquement articulée dans l´oeuvre freudienne à la détresse de l´être humain. Le nouveau-né, à cause de son immaturité motrice et psychique, est incapable de satisfaire lui-même ses nécessités vitales de survie, ce qui entraîne la dépendance de l´autre, condition structurante du sujet lui-même. On analyse l´altérité comme un complexe à double face, tissé dans une relation qui renvoit à la fois au similaire et à l´étrange, ce qui engendre um risque pour le sujet: il n´y a aucune garantie de ce qu´on peut attendre de l´autre. Nous nous concentrerons sur cet état caractéristique du début de la vie, qui jette l´homme au champ de l´Autre , du langage et de la culture, pour montrer comment se passe le procès de la constitution psychique. Nous présentons le détresse étant associé à l´incertitude et à l´absence de garanties provenues de l´Autre.

Détresse; Constitution psychique; Altérité; Similaire; Étrange


Desamparo e alteridade: o sujeito e a dupla face do outro

Helplessness and alterity: the self and the double face of the other

Détresse et altérité: le sujet et la double face de l´autre

Desamparo y alteridad: el sujeto y la doble faz del otro

Natália De Toni Guimarães dos Santos; Isabel Fortes

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

RESUMO

Abordaremos, neste artigo, a noção de alteridade, que se encontra intrinsecamente articulada na obra freudiana ao estado de desamparo do ser humano. O recém-nascido, por causa de sua imaturidade motora e psíquica, é incapaz de satisfazer por si só suas necessidades vitais de sobrevivência, o que tem como contrapartida a dependência do outro, condição estruturante do próprio sujeito. Analisa-se a alteridade como um complexo com dupla face, tecido em uma relação que remete ao mesmo tempo ao semelhante e ao estranho, o que engendra um risco para o sujeito: não há qualquer garantia quanto ao que se pode esperar do outro. Debruçar-nos-emos sobre esse estado característico do início da vida, que lança o homem ao campo do outro, da linguagem e da cultura, para mostrar como se dá o processo de constituição psíquica. Propomos que o estado de desamparo está associado à incerteza e à ausência de garantias provindas do outro.

Palavras-chave: Desamparo. Constituição psíquica. Alteridade. Semelhante. Estranho.

ABSTRACT

This article deals with the notion of alterity (otherness), which is inextricably coupled, in Freudian works, to the state of helplessness of the human being. The newborn, due to its motor and psychic underdevelopment, is unable to satisfy on its own the vital needs for survival, therefore entailing a dependence on the other, a condition that shapes one’s self. Alterity is analysed as a complex with double face, woven into a relationship that refers both to the familiar and the strange, which creates a risk for the self: there is no guarantee about what to expect from the other. We will delve into this defining state of early life, which throws one’s being into the field of the other, and of language and culture, to show how the process of psychic constitution takes place. We propose that helplessness is associated to the uncertainty and lack of assurances given by the other.

Keywords: Helplessness. Psychic constitution. Alterity. Otherness. Familiar. Strange.

RÉSUMÉ

Dans cet article nous nous proposons d´étudier la notion d´altérité, qui se trouve intrinséquement articulée dans l´oeuvre freudienne à la détresse de l´être humain. Le nouveau-né, à cause de son immaturité motrice et psychique, est incapable de satisfaire lui-même ses nécessités vitales de survie, ce qui entraîne la dépendance de l´autre, condition structurante du sujet lui-même. On analyse l´altérité comme un complexe à double face, tissé dans une relation qui renvoit à la fois au similaire et à l´étrange, ce qui engendre um risque pour le sujet: il n´y a aucune garantie de ce qu´on peut attendre de l´autre. Nous nous concentrerons sur cet état caractéristique du début de la vie, qui jette l´homme au champ de l´Autre , du langage et de la culture, pour montrer comment se passe le procès de la constitution psychique. Nous présentons le détresse étant associé à l´incertitude et à l´absence de garanties provenues de l´Autre.

Mots-clés: Détresse. Constitution psychique. Altérité. Similaire. Étrange.

RESUMEN

En el presente artículo nos proponemos a trabajar el concepto de alteridad, que se encuentra intrínsecamente articulado en la obra freudiana con el estado de desamparo del ser humano. El recién-nacido, a causa de su imaturidad motora y psíquica, es incapaz de satisfacer por si sólo sus necesidades vitales de sobrevivencia, lo que tiene como contrapartida la dependencia del otro, condición estructurante del sujeto. Se analiza la alteridad como un complejo con doble faz, tramado en una relación que remite a la vez al semejante y al extraño, lo que engendra un riesgo para el sujeto: no hay ninguna garantía cuanto a aquello que se puede esperar del otro. Abordaremos ese estado característico del inicio de la vida, que lanza el hombre en el campo del Otro, del lenguaje y de la cultura, para así mostrar cómo se da el proceso de la constitución psíquica. Proponemos que el estado de desamparo está asociado a la inseguridad y a la ausencia de garantías provenidas del otro.

Palabras clave: Desamparo. Constitución psíquica. Alteridad, Semejante. Extraño.

Introdução

O ser humano é marcado por uma precariedade constitucional diante da tarefa de manutenção da sua própria vida. No "Projeto para uma Psicologia Científica", Freud (1895/1977) afirma que no início da vida o humano é um soma que precisa descarregar suas excitações endógenas e ter suas necessidades satisfeitas. Ocorre um acréscimo da tensão proveniente da necessidade, mas que não pode ser dominada pelo aparelho psíquico do infans, ainda em vias de estruturar-se.

Devido à imaturidade inerente ao recém-nascido, ele não pode sozinho realizar a descarga para a qual é convocado, não consegue sem a ajuda do outro dar destino às excitações que o acometem. Nesse sentido, a contrapartida do estado de desamparo é a dependência do outro, pois um indivíduo não dá conta, por si só, de sua sobrevivência, nem a nível orgânico nem psíquico. Ele precisará do outro para realizar essa tarefa primordial. A relação primária com o outro é, assim, estruturante do aparelho psíquico, imprimindo na subjetividade as marcas fundamentais do desamparo e da alienação. Abordaremos, neste trabalho, a noção de alteridade na teoria freudiana referida ao estado de desamparo do ser humano. Primeiramente, debruçar-nos-emos sobre esse estado característico do início da vida, entendendo-o não como uma fase transitória ou superável, mas como sendo estruturante da subjetividade. A seguir, pretendemos articular o desamparo, na medida em que ele lança o homem ao campo do Outro, da linguagem, da cultura, sendo o grande aliado do processo de constituição psíquica. Por fim, investigaremos o estatuto da alteridade na teoria psicanalítica, ressaltando que se trata de um complexo com dupla face, o que engendra um risco, uma incerteza: não há qualquer garantia para o sujeito quanto ao que se pode esperar do outro.

A resposta do outro diante do desamparo do recém-nascido não é determinada apenas por uma função de amparo ou de continência. A dupla face do outro está sempre operando na relação com o infans: por um lado, amparando, provendo, contendo, mas por outro, desamparando, faltando, violentando. A constituição psíquica encontra-se, dessa forma, atrelada a uma dimensão de insegurança, de falta de garantias e de vulnerabilidade frente ao desejo do outro. Mostraremos, assim, como no contexto das relações primordiais o desamparo, que marca o ser humano desde o início, eleva a alteridade à condição de onipotência sobre o sujeito. Portanto, nossa proposta é apresentar os dois aspectos inerentes à alteridade, mostrando como a maior vulnerabilidade do sujeito decorre do fato de o outro ser incompleto, faltante, estranho.

O excesso originário

Sloterdijk (2000), em Regras para o Parque Humano, propõe que a “aventura da hominização” fez do homem um animal aberto e capaz para o mundo. Ele defende que entre o homem e o animal não há uma diferença de gênero ou espécie, mas uma diferença ontológica. O modo de ser homem distingue-se de todos os outros seres, pois ele está no mundo e tem um mundo (Welt), enquanto os outros seres estão apenas em seus ambientes (Unwelten). Se o homem está no mundo, é porque toma parte de um movimento que o traz ao mundo e o abandona ao mundo.

O fato de o ser humano ter podido se tornar o ser que está no mundo tem raízes na história da espécie. Nos longos períodos da história pré-humana primitiva, surgiu do mamífero vivíparo humano um gênero de criaturas de nascimento prematuro que saíram para seus ambientes ainda imaturas, com um “excesso crescente de inacabamento animal” (Sloterdijk, 2000, p. 33). Aqui se consuma, na espécie, o que ele chama de revolução antropogenética: a ruptura do nascimento, uma vez que não se nasce mais como animal, propriamente, devido à precariedade do aparato biológico, dando lugar ao vir-ao-mundo. “O homem é o produto de um hiper-nascimento que faz do lactente (Säugling) um habitante do mundo (Weltling)” (Sloterdijk, 2000, p. 34). Mas, como dissemos, esse mundo não constitui um meio ambiente como no caso do animal, obrigando o ser humano a conviver com uma desadaptação radical. Nascer no mundo e não no ambiente nos trouxe como herança o desamparo. Desse modo, o autor nos apresenta a prematuridade biológica do ser humano que, como veremos mais adiante, tem como contrapartida o desamparo psíquico.

Segundo Laplanche (1987), o lactente ao nascer já é munido de montagens fisiológicas e psicofisiológicas. Elas são imperfeitas e só se estabilizam progressivamente, fazendo com que ele possa, por exemplo, morrer por um forte calor ou desidratar sem que se perceba. Por outro lado, essas montagens conferem-lhe esquemas perceptivo-motores que permitem uma abertura para o mundo. Ele permanece, contudo, profundamente desamparado no confronto com tarefas de nível demasiadamente alto relativamente ao seu grau de maturação psicofisiológica.

Quando debruçamo-nos sobre o tema do desamparo, é importante termos em mente que tal noção adquiriu diferentes estatutos ao longo da obra freudiana. Em 1895, no ensaio "Projeto para uma Psicologia Científica", o desamparo inicial do bebê articula-se à sua insuficiência motora e inscreve-se no processo do desejo. Em 1926, no artigo sobre a angústia, o desamparo é fundamental para a concepção da segunda teoria da angústia, sendo analisado como uma espécie de reação frente às situações de perigo que geram angústia. A partir dos artigos "Futuro de uma ilusão" (1927/1977) e "Mal-estar na Civilização" (1930/1977), a noção é então formulada como condição fundamental da existência humana, como ausência de garantias definitivas para o sujeito. Trata-se, aqui, de olhar o desamparo não como um acidente ou uma situação, mas como condição estruturante do próprio sujeito (Pereira, 1999; Rocha, 1999).

Vejamos então a formulação da noção de desamparo em Projeto para uma psicologia científica. Freud (1895/1977) afirma que há, no infans, desde o início da vida, uma energia em ebulição que o pressiona constantemente no sentido do escoamento, da descarga, da redução de tensão para restabelecimento da homeostase de seu organismo. A excitação proveniente do interior do corpo do bebê, justamente por sua incapacidade de pôr em ação os mecanismos que levam ao restabelecimento do equilíbrio, é sempre excessiva e atesta o estado de desamparo, de desajuda, a que o ser humano está entregue, necessitando de ajuda alheia. Esse estado originário, portanto, inscreve a alteridade no registro da dependência, como condição para o surgimento do sujeito psíquico. Nas palavras de Freud (1895/1977):

Ela [a ação específica]; se efetua por ajuda alheia, quando a atenção de uma pessoa experiente é voltada para um estado infantil por descarga através da via da alteração interna [por exemplo, pelo grito da criança]. Essa via de descarga adquire, assim, a importantíssima função secundária da comunicação, e o desamparo inicial dos seres humanos é a fonte primordial de todos os motivos morais. (Freud, 1895/1977, p. 431, grifos nossos).

Vemos, dessa forma, como o desamparo torna-se a própria fonte da moral, pois se trata de um estado que remete diretamente ao campo do outro. Quando a pessoa que auxilia o infans realiza essa ação específica, ele fica então em condição de executar sozinho, desde o interior de seu corpo, a remoção do estímulo endógeno. Efetua-se, assim, uma descarga que suspende provisoriamente a urgência que causou o desprazer: eis a experiência de satisfação. Como efeito, ocorre uma facilitação entre as catexias dos neurônios que correspondem à percepção do objeto e os neurônios que realizaram a descarga pelo movimento reflexo liberado que se segue à ação específica, configurando os primeiros registros psíquicos. Assim, sempre que o organismo for novamente acometido por um estado de tensão, lançará mão dos traços mnêmicos para reinvestir o objeto de forma alucinatória, buscando reproduzir a experiência de satisfação.

O movimento de reevocar a experiência de satisfação constitui o desejo. No entanto, devido à descontinuidade da satisfação pela via do processo alucinatório, já que não há objeto real, a excitação não diminui, gerando desprazer. Assim, o aparelho psíquico precisa suportar um adiamento da satisfação até que possa formar uma concepção a respeito das circunstâncias reais do mundo externo e efetuar nelas uma alteração, introduzindo o princípio de realidade (Freud, 1911/1977). Desse modo, a transformação do princípio de prazer em princípio de realidade está relacionada com a falta, com o desencontro existente entre o estado de desejo, que faz o bebê gritar, chorar, alucinar, e a satisfação efetiva. Esse hiato se refere tanto ao tempo para que o objeto adequado seja provido quanto à qualidade mesma do objeto, que não será nunca igual ao objeto originário da primeira experiência de satisfação, objeto que traria a completude, a verdadeira satisfação. É nesse descompasso, nessa diferença constitutiva onde entra a alteridade, que se dão os laços sociais e a entrada na cultura (Garcia-Roza, 1988). Assim, o aparelho psíquico constitui-se em um sistema desejante na medida em que se organiza em torno de um objeto que promove a falta, dando origem à alucinação e ao processo primário. A primeira experiência de satisfação, portanto, funcionará doravante como uma espécie de bússola na busca do prazer, que é irredutível à adaptação natural de um organismo. Justamente por não possuir leis naturais de funcionamento, o modelo de aparelho elaborado por Freud é um modelo de subjetividade que, em virtude do desamparo, estrutura-se como uma subjetividade aberta à alteridade, embora inicialmente esse aparelho tenha sido tratado fazendo referência a neurônios e quantidade de energia. Dessa forma, podemos dizer que o aparelho psíquico está condenado a uma desadaptação radical, pois o sistema não garante a satisfação da necessidade, o que torna imperativa a instauração do princípio de realidade. No entanto, mesmo com o princípio de realidade em vigor, a satisfação orgânica não traz apaziguamento ao aparelho psíquico. Embora a tendência de buscar o prazer e evitar o desprazer – mesmo que através do princípio de realidade – seja formulada por Freud como um princípio regulatório, homeostático (Schneider, 1977), há sempre um resto que não pode ser capturado pelo aparelho psíquico, nem descarregado, e retorna incessantemente sob a forma do desejo. A partir daí inaugura-se a esfera sexual, em que o sujeito se implicará, por toda a sua vida, na busca do objeto perdido que lhe proporcionaria a satisfação plena, sem jamais poder encontrá-lo – está para sempre perdido.

Freud encontra nessa relação primária com a alteridade o paradigma da situação originária do desamparo e a designa como uma experiência de Hilflosigkeit, uma experiência na qual o sujeito encontra-se sem ajuda – hilflos – sem recursos, sem proteção, sem amparo. O recém-nascido, por causa de sua imaturidade motora e psíquica, é alguém totalmente incapaz de satisfazer sozinho às suas necessidades vitais. A dependência do outro que se instaura a partir daí faz da estruturação subjetiva um processo que se dá necessariamente pela via da alienação à alteridade. É, portanto, nessa relação primária com o Outro que o Inconsciente se constitui enquanto o outro, na e pela mediação de um Outro, pelo desejo do Outro (Rocha, 1999).

Segundo Rocha (1999), nosso enigmático modo de ser, que é ser-não-sendo e não-ser-sendo, constitui-se no limite do não-ser. O não-ser está no cerne de nosso ser. Assim, a angústia que todo ser finito sente diante da morte e do nada define a condição essencial da existência humana. Em 1926, em Inibição, Sintoma e Angústia, Freud coloca o desamparo primordial do nascimento como a angústia em sua forma originária, que se repete nas diversas formas de angústia de separação que nos acompanham do nascimento à morte. Na vivência dessa angústia “o homem penetra o mais íntimo de sua singularidade e faz, na mais nua e completa solidão, a descoberta da contingência e da finitude de sua existência” (Rocha, 1999, p. 342).

Nesse sentido, podemos correlacionar o desamparo à solidão e ao sentimento de vulnerabilidade, constituídos pela impossibilidade, para o sujeito, de encontrar sozinho uma saída para a situação em que se encontra. É por isso que o desamparo leva o sujeito a se abrir para a alteridade, consistindo em um pedido desesperado de ajuda lançado na direção do outro. Diante dessa extrema vulnerabilidade, a sobrevivência e a subjetivação do sujeito estão, portanto, à mercê do desejo do Outro.

Do caos do excesso à ordem psíquica: o outro como polo de ligação

Freud (1915a/1977), em "A pulsão e os destinos da pulsão", define a pulsão como uma força constante que pressiona, exigência de trabalho imposta ao psíquico em consequência de sua ligação com o corporal. A impossibilidade da satisfação pulsional ser completa, já que o objeto de satisfação originário está perdido, coloca o sujeito em permanente estado de desejo, sempre confrontado com sua falta constitucional, o que faz com que a pressão pulsional seja permanente. Assim, se a satisfação é sempre parcial e provisória e, em contrapartida, as exigências pulsionais são insaciáveis, o desamparo é a condição do próprio sujeito, o efeito da condição pulsional do psiquismo. Como a pulsão visa primordialmente à descarga, o que é inviável para a constituição da ordem psíquica, que advém justamente do domínio da força pulsional, é necessário que esta última seja submetida a um trabalho de ligação e de simbolização para que possa inscrever-se no psíquico. Por meio desse trabalho, que possibilita a inscrição psíquica da pulsão, inaugura-se o registro representacional e a ordem da linguagem, na medida em que as representações são ligadas umas às outras por elos associativos, dando origem à rede de representações e à capacidade de simbolização. Nesse sentido, a exigência de trabalho descrita por Freud nesse ensaio como uma pressão exercida sobre o psiquismo pode ser entendida como uma exigência de ligação e de simbolização, resultado da captura do excesso pulsional pelo aparelho psíquico.

Esse fator de fragilidade e desassistência do vivente estabelece as primeiras situações de perigo, na medida em que ele se encontra desprotegido frente a seu próprio excesso. Tal estado conduz ao engendramento das primeiras formas de comunicação e, ao mesmo tempo, instaura a necessidade de ser amado como equivalente a ser protegido das situações de perigo. A alteridade, então, adquire uma condição de onipotência, influenciando de forma decisiva a estruturação do psiquismo, destinado a se constituir a partir da relação com outrem.

Dessa forma, a alteridade, em sua onipotência, funciona como uma forma de contenção do processo de descarga, um solo a partir do qual poderá constituir-se o sujeito. Frente ao excesso pulsional, o sujeito surge quando há a ligação desse excesso oriundo do caos pulsional. Pensar o sujeito como efeito da ligação do caos pulsional faculta indicá-lo como algo que não é dado desde o início, sendo efeito da presença da alteridade no circuito pulsional, do laço indissociável entre pulsão e outro. Nesse sentido, “o indeterminismo [do sujeito] seria o correlato do caos pulsional de onde adviria, num segundo momento lógico e histórico, a ordem do psiquismo” (Birman, 1995, p. 47). Ordem essa, frisamos, articulada aos registros do objeto, da representação e também – o tema do presente artigo – da alteridade.

Assim, é preciso que se realize um trabalho de ligação que evite o imediatismo da descarga pulsional mobilizada pelos processos primários. Esse trabalho é agenciado pelo outro, que oferece possibilidades de satisfação para a pulsão, de forma que essa não precise descarregar imediatamente e, então, se articule num campo de objetos através dos quais se realize a satisfação e inscrição no campo das representações, construindo um circuito pulsional, um circuito de prazer que dá uma configuração ao excesso do processo primário (Davi-Ménard, 2001). O Outro, aqui, possibilita a amarração dessa energia livre em núcleos de sentido, formando, assim, uma cadeia simbólica a partir da qual a vida psíquica se desenvolve. Configuram-se, dessa maneira, nessas vivências mais primárias, as marcas primordiais que estruturam a subjetividade.

Vemos, então, que a relação entre o desamparo e sua contrapartida, a dependência do outro, inscreve o sujeito no registro do sentido e da linguagem, na medida em que a falta fundamental inerente ao psiquismo humano, herdeira do desamparo, abre infinitas possibilidades de destinação da força pulsional, já que esta se dá a partir da interpretação que lhe confere o Outro, revestindo-lhe de sentido e transpondo essa energia para o plano da representação. No bebê, quando a tensão interna aumenta, a “única maneira de pedir ajuda não é justamente um pedido, uma mensagem, mas um simples índice objetivo” (Laplanche, 1987, p. 104), como um grito, por exemplo, a que a mãe ou seu substituto interpreta e, dessa forma, antecipa o desejo do sujeito. O grito, portanto, coincide com o momento fundante do desamparo, momento da constituição do sujeito. Ao atribuir sentido ao mal-estar da criança, que por ela mesma não poderia ser significado ou articulado, a alteridade promove sua inserção na lógica simbólica, ao lhe dar um banho de palavras. Assim, o índice de modificação interna, a descarga motora da criança diante do desprazer, mesmo de início desprovido de valor de chamamento, media a troca com o outro, pois será decifrado por este último como expressão de uma necessidade: alimento ou companhia. “Quer queira, quer não, o fenômeno da descarga emocional se acha anexado ao circuito da comunicação conferindo, inicialmente, uma finalidade significante a uma conduta que no começo era apenas involuntariamente expressiva.” (Schneider, 1993, p. 47).

Essa via de descarga adquire uma função secundária de extrema importância: a da compreensão mútua. O bebê sente e faz sentir, “arranca” do outro um movimento de sensibilidade. Assim, o espectador dessa descarga não é só testemunha, mas se insere no registro da excitação e de sua exteriorização ab-reativa. O Outro confere um sentido, exercendo uma ação decisiva sobre o desenvolvimento qualitativo da vida afetiva. “A criança se verá infeliz, comediante, irresistivelmente engraçada, antes de ter tido a calma de procurar ser o quer que seja.” (Schneider, 1993, p. 47).

A criança não sabe quem é, pois ser sujeito é uma ocorrência que se produz pela mediação do Outro, que atribui sentido ao grito da criança e, a partir do seu dito, torna o sujeito portador de uma representação que não se dirige a ele mesmo, mas ao Outro. O seu dito lhe escapa. O sujeito se faz, dessa forma, como efeito da linguagem: ao se dizer, constitui-se. A mensagem enunciada pelo sujeito retorna sobre ele que, nesse momento, já não é mais o mesmo. Seu ato de enunciação o diz, mas dado que este vem do Outro e se dirige ao Outro, ele permanece suspenso, perdido. O sujeito é o sujeito do ato e, paradoxalmente, com esse ato, desaparece. Antes do ato, ele não era, depois do ato, não é mais. Nesse sentido, na medida em que o sujeito erige-se ao se identificar com seu dito que retorna sobre ele, tornando possível a constituição de um “si mesmo”, de uma instância egoica, ele não está em parte alguma, pois as representações que se dirigem a ele se sucedem umas às outras. Assim, como sujeito, ele estrutura-se a partir da ilusão de ser sempre um só para todo o mundo, em todos os atos, mas tem mil possibilidades de ser, já que está sempre suspenso ao significante de seu ato de dizer, que porta à sua revelia.

O ser humano – conforme já citamos acima a partir da obra de Sloterdijk (2000) –, por ser marcado por um “excesso de falta” – prematuridade, inacabamento – ou, justamente porque falta acabamento, ganha em sentido, tudo podendo ser interpretado. Não há uma chave fixa de codificação para o homem. Há desejo, essa força que o impulsiona a ir para o mundo, a buscar conhecê-lo e a si mesmo. A precariedade biológica da espécie é um dado inquestionável, uma predeterminação, e marca a condição humana, desde o início, com o selo do desamparo, mas sua contrapartida, a entrada na linguagem, possibilita viver o êxtase de estar-no-mundo, que pode ser vivenciado ao mesmo tempo como estar-consigo-mesmo (Heidegger, 1967, citado por Sloterdijk, 2000).

O desamparo é constituinte da inserção do sujeito no mundo da linguagem e deixa transparecer essencialmente uma falta fundamental, ou seja, uma falta-a-ser, que cuidado algum pode suprir, já que “nenhuma linguagem pode dizer a última palavra sobre a verdade do ser” (Pereira, 1997, citado por Rocha, 1999, p. 336). Para Lacan, é nesse contexto que a Hilflosigkeit freudiana alcança sua dimensão verdadeiramente metapsicológica. O desamparo articula os elementos que estão na gênese e na estrutura do Inconsciente, definido por Freud como alteridade e que é constituído pelo desejo do Outro. Por isso mesmo, podemos afirmar que esse conceito tem lugar central na metapsicologia freudiana.

No artigo "Uma dificuldade no caminho da psicanálise", Freud (1917/1977) articula o desamparo ao inconsciente, apresentando a descoberta do inconsciente como a terceira humilhação que a ciência infligiu ao narcisismo da humanidade. Com isso, ele desconstrói a ilusão de que a consciência se identifica com o psiquismo, como queria a filosofia da racionalidade moderna, a partir de Descartes. Descentrado, o sujeito humano perdeu a suposta autonomia de que se acreditava revestido. Para Freud, o descentramento subjetivo é inerente à própria noção de Inconsciente: não apenas o que está latente, escondido ou inominável, mas o excluído e – cabe ressaltar –, o Outro. Conforme o artigo metapsicológico de 1915 "O Inconsciente" (Freud, 1977/1915b), não se trata apenas de um sistema diferente da Consciência, do outro lado da Consciência, mas de um sistema qualitativamente outro: o Outro da Consciência, que é atemporal e funciona no registro dos processos psíquicos primários. A linguagem do inconsciente, que é a linguagem do Outro, funda o sujeito.

A dependência da criança não é, portanto, conforme dissemos mais acima, somente biológica, mas consiste, sobretudo, em uma dependência de amor e de desejo. Para Laplanche (1987) verificar data a linguagem do adulto, onde a criança preexiste, onde ela se constitui enquanto sujeito do desejo, é traumatizante porque veicula um sentido em si ignorado pela criança e por ele mesmo. Ela manifesta a presença do inconsciente parental, que é mais rico e mais elaborado, mas que ao mesmo tempo sofre o retorno do recalcado. Trata-se aqui de unidades perceptivas e significantes não ligados que acossam a criança, passiva e despreparada, sem capacidade de representar. Os elementos das mensagens enigmáticas do Outro, que a criança não consegue traduzir, permanecem como enclaves não articulados no psiquismo, que se constituem como os objetos-fonte da pulsão, pressionam no sentido da ligação e da descarga e, desse modo, dão origem ao inconsciente individual de cada um de nós. O Inconsciente, portanto, se estrutura como uma linguagem antes da linguagem, é o Outro, o outro psíquico.

Laplanche (1987) chama de situação originária esse confronto do recém-nascido, do infans – aquele que ainda não fala – com o mundo adulto. Essa relação adulto-criança radicada nos planos biológico e pulsional é universal, inegável, está fora das contingências, posto que é efetiva, essencial e criadora. Essa situação é originária do psiquismo porque ocorre a sedução da criança pelo adulto: em posição assimétrica, passiva diante do adulto e de seu Inconsciente, ela entra em confronto com os enigmas da sexualidade que lhe impõem trabalho psíquico, instaurando a pulsão e instigando, assim, a produção de seu psiquismo (Laplanche, 1987). Esse mundo adulto não é algo objetivo que a criança tem que apreender, mas se caracteriza por mensagens que a interrogam, impelindo-a a procurar compreendê-las, dando-lhe ao mesmo tempo um sentido e uma resposta.

Segundo Rocha (1999) a experiência originária é uma experiência interminável para o sujeito. É uma vivência primordial, estruturante, e, enquanto tal, ela se repete nas vivências ou em situações posteriores. Somente ao se repetir e revelar seu significado, a posteriori, encontra seu verdadeiro sentido de experiência originária de desamparo. Na posterioridade de um eu constituído, as situações primárias adquirem seu verdadeiro sentido, pois, se antes, por causa da imaturidade biológica e psíquica do sujeito, sua vivência não podia ser integrada como uma verdadeira experiência, na vivência primitiva do desamparo, foram inscritos traços que podem funcionar como um “apelo de sentido” e que “só depois” se convertem em verdadeira experiência de vida. (Rocha, 1999).

Os cuidados corporais dispensados ao filho pela mãe ou o substituto desta provocam pela primeira vez a erogeneidade do corpo, proporcionando-lhe uma fonte infindável de excitação e satisfação das zonas erógenas, sensações prazerosas, veiculando fantasias do desejo inconsciente do adulto e introduzindo a criança no campo do sexual. A mãe olha a criança com sentimentos provenientes de sua própria vida sexual. Ela a acaricia, beija-a, embala-a e muito claramente a trata como um substitutivo de um objeto sexual completo (Freud, 1895, citado por Garcia-Roza, 1988). Segundo Davi-Ménard (2001), por esse encontro com o outro, o aparelho psíquico é essencialmente um aparelho de prazer, desprazer e angústia, pois o outro traz consigo o prazer, mas também a indeterminação, a contingência, a estranheza. Para Lacan (1996, citado por Rocha, 1999), trata-se de uma situação de desamparo diante do desejo do Outro. O sujeito fica sem recursos diante do enigma do desejo do Outro, que é opaco e obscuro para o sujeito.

Por isso, não se pode falar em um estágio puramente corporal no autoerotismo. Não há um prazer asséptico que esteja estritamente na ordem somática ou instintual, pois a atividade e o prazer do próprio corpo são sempre inseridos nas relações simbólicas com o outro (Davi-Ménard, 2000). A relação pulsional com o próprio corpo só é possível, como dissemos, pelo investimento libidinal do Outro na criança. São os cuidados dispensados à criança que formam, a partir das experiências erógenas, o corpo da criança, que lhe dão contorno, pois “elas permitem uma troca de amor, a descarga da excitação pelos testemunhos de ternura ao contato com outros seres humanos” (Davi-Ménard, 2000, p. 108). Vemos assim que enquanto a necessidade envolve o interior do corpo e pode ser apaziguada, sossegando ocasionalmente, a pulsão envolve as zonas de superfície, que se tornam erógenas no contato com o outro e, em seu constante forçamento do prazer, é geradora de desassossego. Nesse sentido, a pulsão sexual não se relaciona com objetos reais, mas fundamentalmente com a fantasia, com objetos fantasmáticos, com formações imaginárias. Pode-se dizer, então, que ao mesmo tempo em que a criança se alimenta de comida, nutre-se também da fantasia, ao incorporar o objeto sexual, com toda a dimensão fantasmástica aí envolvida (Laplanche & Pontalis, 1970).

De acordo com a teoria do apoio, apresentada em "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" (1905/1977), ao mesmo tempo em que há satisfação das necessidades, a serviço da manutenção da vida e da autoconservação, ocorre também a satisfação sexual decorrente da erogeneização da zona ou do órgão em contato com o objeto, gerando um prazer para além da satisfação da necessidade. A partir daí, as pulsões sexuais tornam-se independentes das necessidades, impondo constantemente uma busca pela repetição da satisfação sexual primeira. Esse movimento incessante da força pulsional é a expressão do desejo, que encontra sua realização na reprodução alucinatória das percepções tornadas sinais de satisfação, evocando aí os traços desse outro.

O termo apoio ou anáclise designa a relação que as pulsões sexuais originalmente mantêm com as funções vitais que lhes fornecem uma fonte orgânica, uma direção e um objeto específicos, apoiando-se, portanto, no próprio instinto. Na primeira mamada do bebê o objeto específico não é o seio, mas o leite que sacia a fome. A função de sucção tem, assim, a finalidade de obter o alimento que satisfaz o estado de necessidade orgânica, mas ao mesmo tempo em que isso ocorre, se dá também, paralelamente, um processo de natureza sexual: a excitação dos lábios e da língua pelo seio produzindo uma satisfação que não se reduz à saciedade alimentar, uma satisfação sexual que ganha autonomia sobre aquela. O apoio designa a relação primitiva da sexualidade com a conservação da vida, mas ao mesmo tempo assinala a distância entre essa função conservadora e a pulsão sexual. A noção de apoio é, portanto, a chave para a compreensão da pulsão.

A pulsão é o efeito marginal desse apoio-desvio, que rompe com a ordem do natural. O apoio é a constituição de uma diferença, um momento de ruptura. “Dessa forma, o apoio marca não a continuidade entre o instinto e a pulsão mas a descontinuidade entre ambos.” (Garcia-Roza, 1988, p. 120). Assim, quando o objeto seio é abandonado, o objetivo e o objeto da pulsão sexual tornam-se independentes da alimentação e a necessidade de repetir a satisfação sexual desliga-se da necessidade de nutrição. Constitui-se dessa forma o desejo e a atividade de chupar o dedo é tida como o protótipo da sexualidade oral, dando início ao autoerotismo.

A noção de apoio surge nesse contexto, indicando que a pulsão sexual se constitui a partir da satisfação da necessidade vital. Essa concepção permite integrar o autoerotismo e a constituição psíquica na historicidade da relação com o Outro, mas conduz a que qualquer experiência psíquica derive do fisiológico. No entanto, observações de bebês com patologias alimentares radicais nos ensinam que, se as necessidades vitais são apaziguadas, eles podem empregar suas competências na busca de um outro objeto diferente daquele da satisfação da necessidade, de um objeto de amor, de forma desvinculada da satisfação orgânica (Laznik, 2000).

É importante observar que, em relação à teoria do apoio, Lacan assume uma perspectiva diferente e, de certo modo, não conciliável com a de Freud. Enquanto este último associa o surgimento da pulsão sexual a uma fonte orgânica análoga à da necessidade vital, Lacan (1985) indica a referência orgânica relacionada ao estado de urgência da vida, que impõe necessariamente a parcialidade das pulsões, uma vez que o campo pulsional não constitui uma totalidade biológica, apontando para uma não adaptação radical do ser humano. Se na teoria freudiana a satisfação pulsional deriva da ligação simultânea da zona labial com a alimentação, em Lacan a importância do biológico não se dá por meio de um objeto específico. Por isso a crítica de Lacan à ideia de apoio, uma vez que, para ele, a sexualidade está desde sempre apartada do biológico por sua própria constituição, marcada pela impossibilidade radical de uma satisfação plena, justamente por causa da urgência da vida, da premência da satisfação das funções somáticas vitais, que exigem uma satisfação sexual sempre parcial. O Not des Lebens é, assim, o fato da premência de satisfação, da necessidade vital em geral, e não a simultaneidade da pulsão a um objeto. Como salienta Lacan (1985), não é pelo alimento que a boca se satisfaz, mas pelo prazer da boca, que não se reduz, portanto, a uma adaptação.

No artigo "A voz como primeiro objeto da pulsão oral", ao qual estamos nos referindo, Laznik (2000) cita o caso de uma criança que mesmo não tendo sido jamais alimentada por via oral, por conta de uma má formação digestiva grave, não apresenta nenhum atraso na organização simbólica ou da linguagem, já que pôde incorporar as “palavras alimentadoras” de seus pais que se mantiveram em intensa relação com a filha desde o nascimento. “Desde a origem, a criança se alimenta tanto de palavras quanto de pão, e perece por palavras.” (Lacan, 1995, p. 192). Não é, portanto, necessariamente, no ato mesmo de satisfação de uma necessidade que se inaugura o desejo, que se desperta a pulsão sexual, por apoio no fisiológico. Isso pode se dar independentemente do campo das necessidades.

Assim, ao fornecer os objetos que satisfazem necessidades orgânicas do bebê, o Outro convoca a pulsão, dando-lhe um destino, proporcionando a descarga através de uma experiência erógena e significante, que promove a inscrição psíquica da pulsão e funda o sujeito. Na medida em que essas representações da pulsão são ligadas, organizadas em circuitos, constitui-se uma primeira formação egoica, marcada pela incorporação do desejo do Outro, onde o sujeito é antecipado. Há, desse modo, uma total vulnerabilidade diante do outro, de quem se é inteiramente dependente para a obtenção dos objetos de satisfação necessários à dominação da força pulsional. Objetos esses que a alteridade pode ou não prover. Quanto maior o grau de desamparo, maior a influência do outro. Nesse sentido, toda relação que se estabelece com a criança produz efeitos na sua subjetivação.

O psiquismo e o sujeito do inconsciente seriam, portanto, destinos das pulsões (Birman, 1995), pois a singularidade do sujeito evidencia-se no destino dado ao excesso pulsional através dos laços com os primeiros objetos de satisfação, configurando assim o movimento do desejo. Ao longo da vida, os impactos e acasos dos acontecimentos históricos, marcados na sua experiência pulsional, indicam porque a satisfação se dá num certo campo de objetos e não em outro. A alteridade primeira, o modo de relação primária que se estabeleceu a partir do desejo do Outro, está para sempre presente e atualizada nas relações com os outros com quem fazemos laço ao longo da vida.

O outro como excesso: a estranha face do próximo

Assim, constatamos a importância fundamental do outro para a existência do eu, pois será sempre em relação à dimensão alteritária enquanto marca da diferença que o sujeito se estruturará, uma vez que ela demanda e ao mesmo tempo possibilita o trabalho psíquico. No entanto, a função de continente não será a única forma de apresentação da figura do outro na cena psíquica do sujeito.

Para além dessa função continente do outro que dá destino à pulsão e oferece um contorno psíquico ao sujeito, possibilitando sua estruturação psíquica, há uma outra face da alteridade experimentada pelo sujeito como excessiva, estranha e irrepresentável. No Projeto para uma psicologia científica, Freud (1895/1977) aborda a questão da alteridade frente ao desamparo do infans a partir da ideia do complexo de Nebenmensch, aquele que realiza a ação específica para ele. Trata-se de um objeto – um outro ser humano – que, nesse aspecto, se parece com o sujeito. No entanto, além de ser sua única força auxiliar, esse objeto semelhante foi o primeiro objeto de satisfação e mais tarde será também seu primeiro objeto hostil. O mesmo objeto é, desse modo, semelhante e estranho.

A partir dos estímulos endógenos, que só podem ser descarregados por meio da ação do outro, percebe-se essas duas faces que o compõem. Há o “outro elemento”: nossa imagem e semelhança, meu outro com quem posso partilhar, compreendê-lo tal como suponho que ele me compreende, sendo o bem do outro e o meu bem uma coisa só. E o “além do semelhante”, o próximo, propriamente dito, o Outro inominável, estranho e imprevisível, que está ao lado, que não posso circunscrever, que é incompreensível (Julien, 1996).

O Outro, “a Coisa” (das Ding) ou “o próximo” constitui a realidade com que o infans tem que lidar. Segundo Freud (1895/1977), é em relação a seus semelhantes que o ser humano aprende a conhecer o mundo. Os complexos perceptivos emanados desse semelhante – seus traços, seus movimentos – serão, para ele, novos e incomparáveis. Assim, no início da função judicativa, as percepções despertam interesse devido a sua possível conexão com o objeto desejado, e seus complexos são, então, decompostos: um componente não assimilável, que produz uma impressão por uma estrutura constante e permanece unido como coisa; e um componente variável, conhecido pelo ego através de sua própria experiência (atributos, atividade), que pode ser compreendido por meio de uma atividade da memória, rastreado até as informações sobre o próprio corpo do sujeito – o que Freud chama de compreensão.

Ou seja, a parte do complexo de Nebenmensch que se apresenta como das Ding é algo que permanece como inassimilável, estrangeiro, resíduo do qual só se pode conhecer seus predicados. A Coisa inassimilável marca um primeiro exterior, um estranho, situando-se fora do aparelho de memória. É um objeto perdido que não pode ser reencontrado, apenas seus traços – é o resto que escapa ao juízo. Mas por outro lado, o outro pode ser compreendido pela memória, representado pela Vorstellung. A apreensão da realidade (do próximo) está, portanto, marcada desde sua origem por uma divisão entre o primeiro exterior, estranho, fora da memória e as qualidades e propriedades que se inscrevem como traços mnêmicos, representações.

Lacan define das Ding como termo central, vazio, “éxtimo” (exterior e íntimo) em torno do qual gira a cadeia de representações psíquicas. A perda e o caráter irrecuperável do objeto perdido do desejo conformam a própria estrutura do aparelho psíquico, engendrando o sujeito a partir de sua relação com o objeto de desejo, que perde para sempre o caráter de natural com sua inclusão na rede do Nebenmensch.

Existem, assim, objetos – ou percepções de objetos – que não promovem a satisfação, mas provocam dor. A teorização freudiana acerca da dor é importante para compreendermos o aspecto de excesso que envolve o desamparo psíquico. A associação de um som (que também desperta imagens motoras da própria pessoa) com uma imagem perceptiva, que em si já é complexa, dirige a atenção para tal imagem e ressalta o caráter hostil daquele objeto. A informação sobre o grito do próprio sujeito serve para caracterizar o objeto como tal: um objeto não dominado pelo sujeito, que lhe imprime excitação, provoca, aumenta o nível de tensão, em vez de possibilitar sua diminuição. A dor infligida por ele acarreta a elevação abrupta da energia no aparelho psíquico do infans, despreparado para tal, causando uma ruptura nas telas protetoras e configurando, assim, o trauma, a devastação. O sujeito é impactado sem poder explicar por quê.

Quando o organismo começa a sentir dor, é tomado por um transbordamento energético não compatível com suas capacidades de ligação e simbolização. A dimensão da dor é definida pelo grito da criança, que é pura intensidade, está fora do campo representacional, remete a das Ding. No entanto, a experiência de dor aciona uma defesa primária, estruturando um primeiro eu como um grupo de neurônios fortemente ligados entre si por investimento colateral, que altera a circulação de energia no aparelho, inibindo os processos primários.

Assim, há, por um lado, a dimensão dos traços que representam o objeto hostil e, por outro, um aspecto que é da ordem do inassimilável. Assim, a experiência de dor é inscrita no psíquico por meio dos traços mnêmicos, mas mantém-se ao mesmo tempo como a expressão da dor em si mesma (o que permanece inarticulado na fala). O grito é o ponto limite entre intensidade e representação.

Segundo Laplanche (1987), os enigmas da sexualidade veiculados pelo adulto de forma inevitável, conforme discorremos acima, nos cuidados corporais dispensados à criança, manifestam o aspecto incognoscível do Outro. “Essa situação é instável e ameaçada pela desproporção em relação ao Outro incognoscível ao qual a criança deve um gozo, além do mais tão solipsista” (Davi-Ménard, 2000, p. 108). Da ordem de um inominável absoluto ou de uma excitação gerada unicamente por via endógena, o excesso pressiona, submetendo o sujeito à força da pulsão de morte, à compulsão a repetição, a uma região psíquica onde não há possibilidade de ligação.

O estado de vulnerabilidade da criança, que a possibilita experimentar esse excesso proveniente do outro, causa-lhe uma impressão de estranheza. Em "O estranho", Freud (1919/1977) afirma que “o estranho é aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido, de velho, e há muito familiar” (p. 277). O estranho, embora absolutamente familiar, provoca medo, horror, repulsa e aflição. Freud analisa que “heimlich”, a palavra alemã para “doméstico”, é ambígua: por um lado significa o que é familiar e agradável e por outro o que está oculto e se mantém fora da vista, chegando a ter um significado que é idêntico ao seu oposto “unheimlich”: tudo o que deveria ter permanecido oculto e secreto, mas veio a luz. “Esse estranho não é nada novo ou alheio, porém algo que é familiar e há muito estabelecido na mente, e que somente se alienou desta através do processo de repressão [recalcamento]” (Freud, 1919/1977, p. 301).

Vemos, dessa forma, que esses dois aspectos – semelhante e estranho – estão invariavelmente presentes no objeto. Num estado psíquico muito primitivo, quando ainda não há distinção entre mundo interno e externo, pode-se observar o fenômeno do duplo, conforme denomina Freud (1919/1977), que consiste em dois personagens que deveriam ser considerados idênticos, iguais. A criança identifica-se com o Outro de forma a perder-se nele. No entanto, como explicitamos no início desse tópico, esse mesmo objeto que tinha antes aspecto amistoso pode converter-se em objeto de horror. A criança, então, defende-se desse próximo assustador projetando para fora de si as marcas do encontro com a face horripilante do outro como algo estranho a si mesma. Afasta de si isso que não pôde ser elaborado, mas que permanece nela, inacessível e oculto, como algo perigoso que pode um dia retornar.

Em "O Estranho", o outro só é de fato estranho quando é familiar; há uma familiaridade inerente à estranheza desse outro próximo e íntimo. O estranho não é o não familiar, é o que era para ficar encoberto, mas veio à luz. O estranho é o diferente, o que há de indeterminado e excessivo no outro. Assim, na medida em que esse estranho é ao mesmo tempo próximo e íntimo, essa noção permite pensar também uma alteridade interna. O “humano ao lado”, como denomina o outro Davi-Ménard, não é nem só de dentro nem só de fora, é um fora que se inclui, é um dentro pulsional que quer sempre descarregar o excesso. Em "Pulsão e os destinos da pulsão" (1915a/1977) a alteridade interna se presentifica na força pulsional, é o corpo como lugar de excesso que faz pressão, que faz uma exigência de trabalho ao psíquico.

Portanto, o outro é peste, é combate e, por isso mesmo, o que permite uma expansão, um alargamento dos horizontes afetivos, um abalo das fronteiras do eu ao entrar em contato com esse estranho semelhante. A mãe que cuida, que protege, que é provedora e meio para apaziguamento das tensões constitui-se também, por outro lado, como ameaçadora, hostil e causadora de estranheza. O outro traz consigo essa ambiguidade e esse paradoxo: é como se precisássemos do outro para nos proteger do outro. Aqui se localiza o desamparo: se o outro é aquele que proporciona a satisfação, há sempre o risco de que não o proporcione. Em "Mal-estar na civilização" (1930/1977) Freud coloca esse lado ameaçador do outro em destaque afirmando que dentre as três grandes fontes de sofrimento – o próprio corpo, o mundo externo e as relações humanas – o sofrimento advindo da última é o mais penoso. Nesse ensaio, o lado assustador do outro é descrito de maneira eloquente, quando Freud retoma Hobbes para mostrar como “o homem é o lobo do homem”, e quando ilustra – como o exemplo que destacamos acima – que, mais do que temer as catástrofes naturais ou as doenças do corpo, nosso inimigo mais ameaçador acaba sendo aquele de quem mais dependemos, aquele de quem mais queremos a proximidade: o outro.

É nesse sentido que propomos pensar a dupla face do outro em relação ao tema do desamparo. Se este último é o resultado da condição da nossa dependência do outro, ele ora é atenuado pelo fato de o outro poder se colocar como continente das nossas angústias e provedor de satisfações, ora é acirrado quando esse mesmo outro nos apresenta sua estranheza, podendo tornar-se a fonte maior de nosso desassossego.

Considerações finais

Como vimos, é pelo corpo e a partir do corpo que um sujeito se constitui, na medida em que os registros da corporalidade são marcados fundamentalmente pelo investimento do Outro e pelos símbolos ordenados pela linguagem. O Outro, portador da palavra, da ordem do sexual, marca o corpo do infans sobre um fundo de desamparo, sendo determinante para sua constituição psíquica, na medida em que constrói um laço libidinal com o infans, dando contenção e destino ao excesso pulsional originário que o acomete. Assim, na medida em que a satisfação das necessidades vitais passa pelo apelo dirigido ao Outro, surge o desejo que, de imediato, altera a satisfação, transformando-a em demanda de amor (Lacan, 1995). O desejo instaura os primeiros registros psíquicos como memória da primeira experiência de satisfação e, ao reativá-la, segundo as leis do processo primário, busca o escoamento total da tensão numa tentativa frustrada de obter a satisfação, o que levaria à morte. No entanto, para que uma primeira formação egoica se estruture é necessário uma intervenção que iniba a alucinação do desejo.

Vimos que a alucinação proveniente dessa busca desejante pelo objeto não provê a continuidade da experiência de satisfação, já que ela está inteiramente suspensa à alteridade. Nos termos da segunda teoria pulsional de Freud (1920/1977), sem a presença de um outro investindo no infans, fornecendo-lhe pulsão de vida, este último ficaria totalmente à mercê das pulsões de morte, que buscam restabelecer o sossego profundo, pelo princípio do nirvana, gerando a descarga energética completa, ou seja, a morte.

É nesta perspectiva que propusemos, neste artigo, pensar uma metapsicologia da alteridade, a partir da teoria pulsional e do excesso, na medida em que o campo do outro provoca aumento da tensão ao se manifestar como sendo da ordem do estranho e do inquietante, aquilo que não pode ser totalmente capturável pelo psiquismo, permanecendo inapreensível, como um resto não trabalhado. Paradoxalmente, é este resto a própria causa dos processos de ligação e de simbolização. Por outro lado, é através dos laços estabelecidos com os primeiros objetos de satisfação que é possível dar destino ao excesso pulsional do sujeito, configurando seu psiquismo e sua singularidade. Nesse sentido, a psicanálise é atravessada por uma ética do desamparo, pela afirmação da finitude, da pequeneza e da contingência do objeto, pois o desamparo afirma a estreita ligação entre o outro e o funcionamento psíquico, gerando a dependência original da criança dos cuidados de um adulto que possa prover os objetos que vão saciar suas necessidades e interpretar suas demandas.

Desse modo, o sujeito freudiano não pode ser concebido como sozinho consigo mesmo: a presença do outro se inscreve necessariamente no modelo freudiano de psiquismo. Não há psiquismo solipsista porque o sujeito depende exclusivamente do outro para sua constituição. Com o cuidado provido pela alteridade, as marcas do prazer vão fazer daquele ser, daquele corpo, uma subjetividade, aquilo a partir do qual um ser humano vai dizer EU, um eu que não se forma a partir de si mesmo nem de um si mesmo. O eu é uma produção, é o resultado de uma nova ação psíquica que marca a entrada no narcisismo. Assim sendo, em contraposição ao modelo fechado do tipo identitário, que enclausura narcisicamente o sujeito dentro de sua autossuficiência, como se ele fosse o seu próprio fundamento, o desamparo estrutura um modelo de subjetividade aberta. Isso marca nossa condição humana com a modalidade de existir na insegurança, pois se trata de uma existência aberta ao que é inesperado e imprevisível. Nessa inexorável marcha do tempo, a única certeza é a da morte, a mais incerta de todas as nossas certezas e a mais certa de todas as nossas incertezas. Ela nos condena a ser “um ser para a morte”, como diria Heidegger (Rocha, 1999).

Mas essa condenação, ao invés de retirar o sentido da vida, convida-nos a viver intensamente cada um dos instantes, como se cada um deles pudesse ser o último ou o derradeiro. Ninguém pode fugir da condição fundamental de desamparo. Mas daí não se segue que devamos nos submeter servilmente a essa condição humana. Pela força criativa da inteligência e da imaginação, e pela capacidade de luta que nos é inata, o homem projeta seus sonhos e seus anseios para conseguir, não superar ou transcender a condição humana, mas escapar à sua servidão. Ou seja, aceitando a condição fundamental do desamparo, o homem luta a fim de encontrar saídas para as situações que se apresentam sem o concurso de sua vontade, e também para dar conta de eventualidades criadas pela sua incapacidade de resolver os problemas diante dos quais ele tem que se posicionar no decurso de sua existência. Assumir essa luta é o desafio de todos nós, seres humanos, que, juntamente com a tarefa da existência, recebemos também a responsabilidade de lhe dar um sentido.

Recebido em: 22/01/2011

Aceito em: 10/08/2011

Natália De Toni Guimarães dos Santos, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Endereço para correspondência: Rua Amaury Filho, 180 / casa 01, Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro, RJ. Brasil. CEP: 22790-320. Endereço eletrônico: natonigui@yahoo.com.br

Isabel Fortes, Professora visitante do Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos. Endereço para correspondência: Av. Nossa Sra. Copacabana 195 / sala 612, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Brasil. CEP. 22020-000. Endereço eletrônico: mariaisabelfortes@gmail.com

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Nov 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 2011

Histórico

  • Aceito
    10 Ago 2011
  • Recebido
    22 Jan 2011
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