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“Tu não vais me faltar”: tessituras entre fantasma e (de)negação nas psicoses

“Tu vas pas me manquer” : tissage entre fantôme et (dé)négation dans les psychoses

“No me has de faltar”: contexturas entre fantasma y (de)negación en las psicosis

Resumo

O conceito de denegação foi estabelecido por Freud a partir da noção de recalcamento e da clínica das neuroses - trata-se de um mecanismo específico de enlace entre negação e afirmação. Este artigo busca calcar sua originalidade, primeiramente propondo que diferentes costuras entre negação e afirmação são igualmente reincidentes nas psicoses. Nesse sentido, ressalta-se que estudos teórico-clínicos que articulam a denegação fenomenológica e estruturalmente às psicoses ainda são escassos. Tais costuras singulares, distintas da denegação estritamente freudiana, recebem aqui a grafia (de)negação. Em segundo lugar, este trabalho se pretende original por propor a (de)negação não apenas como fenômeno clínico, mas como operador em si no tratamento das psicoses, e, para tanto, sustenta essa hipótese a partir do caso clínico do adolescente aqui nomeado Luizel. Por fim, busca evidenciar a intrínseca relação entre (de)negação e esboço fantasmático no apaziguamento dos sintomas psicóticos em transferência.

Palavras-chave:
psicoses; denegação; fantasma; tessitura; suplência

Résumé

Le concept de dénégation a été établi par Freud à partir de la notion de refoulement et de la clinique des névroses - il s’agit d’un mécanisme spécifique d’attache entre négation et affirmation. L’article soutien son originalité, d’abord par la proposition que différentes coutures entre négation et affirmation sont également observées dans les psychoses. Dans ce sens, il indique que les études théoriques-cliniques qui articulent la dénégation, phonologiquement et structuralement, aux psychoses sont encore rares. Ces coutures singulières, distinctes de la dénégation strictement freudienne, reçoivent ici la graphie (dé)négation. Deuxièmement, le travail se prétend original pour soutenir que la (dé)négation n’est pas simplement un phénomène clinique, mais un opérateur en soi dans le traitement des psychoses. Pour ce faire, le texte soutient cette hypothèse à partir du cas clinique de l’adolescent ici nommé Luizel. Enfin, troisièmement, l’article cherche à mettre en évidence l’intrinsèque relation entre la (dé)négation et l’esquisse fantasmatique dans l’apaisement des symptômes psychotiques sous l’effet du transfert.

Mots-clés:
psychoses; dénégation; fantôme; tissage; suppléance

Resumen

El concepto de denegación ha sido establecido por Freud con base en la noción de represión y de la clínica de las neurosis, se trata de un mecanismo específico de enlace entre la negación y la afirmación. En un primer momento, el trabajo pretende calcar su originalidad proponiendo que diferentes vínculos entre negación y afirmación también se repiten en las psicosis. En ese sentido, se resalta que los estudios teórico-clínicos que articulan fenomenológica y estructuralmente la denegación a las psicosis todavía son escasos. Tales vínculos singulares, distintas de la denegación estrictamente freudiana, reciben aquí la grafía (de)negación. En segundo lugar, este aspira a ser original por proponer la (de)negación no solo como fenómeno clínico, sino también como operador en sí mismo en el tratamiento de las psicosis. Para eso, sostiene esa hipótesis partiendo del caso clínico del adolescente aquí nombrado Luizel. Finalmente, trata de evidenciar el intrínseco vínculo entre la (de)negación y el esbozo de relación fantasmática en la estabilización de los síntomas psicóticos en transferencia.

Palabras-clave:
psicosis; denegación; fantasma; contextura; formación sustitutiva

Abstract

The concept of (de)negation was set by Freud and was based on the sense of repression and the treatment of neuroses. It is a specific mechanism that connects negation and affirmation. This article aims to establish its originality by first proposing that the different tessituras of negation and affirmation are equally recurrent in psychoses. It is worth emphasizing that theoretical-clinical studies which phenomenologically and structurally articulate denegation and psychoses are still scarce. Such singular tessituras, which are different from the Freudian negation, are herein denominated (de)negation. Secondly, the originality of the current study lies on the aspect that it does not view (de)negation as merely a clinical phenomenon, but also as an operator itself in the treatment of psychoses. Thus, this hypothesis is supported by the clinical case of an adolescent herein named Luizel. Finally, the article aims to evince the intrinsic relationship between (de)negation and fantasy in appeasing the psychotic symptoms in transference.

Keywords:
psychoses; negation; fantasy; tessitura; substitution

Abertura

Em seu célebre e denso texto A negação (Die Verneinung), Freud sustenta que “a afirmação [Bejahung] - como substituto da união - pertence ao Eros, a negação [Ausstossung] - sucessora da expulsão - ao instinto de destruição” (1925/2010, p. 281). A Verneinung (traduzida como denegação), estando em condição de desvendar em pequenos recortes clínicos a estrutura do recalcamento (Verdrängung), situará o curto escrito freudiano no cerne de uma intrincada reflexão sobre diferentes variantes de operações de afirmação e negação, tendo como pano de fundo a constituição de distintas estruturações psíquicas. Logo que Lacan (1955/1998Lacan, J. (1998). Resposta ao comentário de Jean Hyppolite sobre a Verneinung de Freud. In Escritos (pp. 389-401). Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1955), p. 388) assinala que a “Verwerfung corta pela raiz qualquer manifestação da ordem simbólica, isto é, da Bejahung que Freud enuncia como o processo primário em que o juízo atributivo se enraíza”, abre um campo fértil para que o mecanismo fundamental e diferencial das psicoses seja tencionado à operação de afirmação-expulsão primordial das neuroses. De fato, a denegação freudiana pressupõe um recalcamento que a preceda, de modo que seria incoerente propor uma denegação psicótica. Assim, empregamos a escrita (de)negação para as psicoses, grafia que justificaremos com mais demora ao longo do texto.

Esse grupo de noções originariamente freudianas engendrou trabalhos de natureza prioritariamente filosófica, mas de interesse inegável à clínica psicanalítica. Ressaltamos o texto de François Balmès (1999Balmès, F. (1999). Ce que Lacan dit de l’être. Paris: PUF.), que retoma de modo exaustivo o conhecido diálogo entre Lacan e Hyppolite, bem como o de Vladmir Safatle (2006Safatle, V. (2006). A paixão do negativo: Lacan e a dialética. São Paulo: Unesp.) que propõe, por exemplo, que a Verwerfung também pode ser pensada “fora do quadro estrutural da psicose” (p. 51). Entendemos a proposição de Safatle como indicativa da possibilidade de forclusão nas neuroses como operação de não inscrição, sem que se trate especificamente da forclusão do nome do pai.

Por seu turno, se os psicanalistas se interessarão outrossim pela diversidade das formas de negação-afirmação, deixando explícitas as referências às psicoses (Costa, 2008Costa, A. (2008). A negação primordial na constituição psíquica: o problema da afirmação-expulsão (Bejahung-Ausstossung) segundo Freud e Lacan. Intuitio, 1(2), 33-48. Recuperado de https://goo.gl/6n1Qg1
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; Furtado, 2011Furtado, D. (2011). Do sim e do não: comentários sobre a denegação. Reverso, 33(61), 29-38. Recuperado de https://goo.gl/j7jYeM
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; França Neto, 2006França Neto, O. (2006). A Bejahung nas conexões da psicanálise. Psicologia Clínica, 18(1), 153-163. Recuperado de https://goo.gl/b1JfQU
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), os estudos preponderantemente clínicos que articulam a denegação, fenomenológica e estruturalmente, às psicoses ainda são escassos. Nesse sentido, fazemos menção ao artigo de Marie-France Bonnet (2003Bonnet, M-F. (2003). “Ce n’est pas moi qui. . .”: un mode d’énonciation paranoïaque. Cliniques Méditerranéennes, 2(68), 99-108. Recuperado de https://goo.gl/XarjbS
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) que tem o mérito de relacionar o “modo de enunciação paranoico não sou eu que…” (p. 98) às frases interrompidas de Schreber. O trabalho, no entanto, além de se restringir a um único trecho do testemunho schrebiano, aborda a questão da denegação apenas de passagem, diferenciando-a da Verwerfung ou forclusão de maneira meramente ilustrativa pelo “colapso da relação imaginária aa’ do esquema L de Lacan” (2003Lacan, J. (2003). Discurso de Roma. In Outros escritos (pp. 139-172). Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1953), pp. 105-106, tradução nossa).

Há dez anos, temos pensado as diferentes emergências da negação no trabalho com psicóticos, notadamente, nos casos Bethânia (Madeira & Rickes, 2007Madeira, M., & Rickes, S. (2007). Pedrital hospinstante. In: Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Psicose (pp. 190-204). Porto Alegre: Libretos.), Maria (Rickes & Gleich, 2009Rickes, S., & Gleich, P. (2009). Letras em oficina: a afirmação retumbante do “não”. Psicologia e Sociedade, 21, 112-122.) e Raimundo (Madeira, 2015aMadeira, M. (2015a). Mundi-o: considerações sobre um caso de psicose. Revista Ágora, 18(2), 241-256.). Ademais, propusemos recentemente que a (de)negação pode ser pensada como operação distintiva entre esquizofrenia e paranoia (Madeira, Lepoutre, & Vanier, 2016Madeira, M., Lepoutre T., & Vanier A. (2016). La (dé)négation dans la clinique des psychoses: entre la schizophrénie et la paranoïa. Recherches en psychanalyse, 22, 167a-179a.). Se a (de)negação propriamente dita surge nos textos arrolados como traço suplementar dos casos clínicos, a experiência com Luizel nos permite, enfim, abordar a questão a partir de uma trama pormenorizada, situando o percurso das suas operações de afirmação/negação, cujo conteúdo se enlaça à (de)negação “tu vas pas me manquer” (“tu não vais me faltar”), que parece suturar a tessitura de Luizel em relação à falta do Outro - tessitura que produz efeito de apaziguamento sintomático duradouro ao longo dos anos.

Luizel, um adolescente de doze anos quando do início do tratamento, foi atendido por Manoel Madeira entre uma a duas vezes por semana durante quatro anos em um Centre Médico-psycho-pédagogique (CMPP), na França. Assim, se justifica que façamos aqui uso da primeira pessoa no que concerne às cenas clínicas, e da terceira no restante do texto. Ressalta-se que o emprego da noção de tessitura, que acompanha nosso escrito, foi desenvolvido longamente por Madeira (2015bMadeira, M. (2015b). Tissages psychotiques en transfert. Tese de doutorado, Centre de Recherches Psychanalyse, Médecine et Société, Université Paris-Diderot Sorbonne, Paris Cité, Paris.) em sua tese doutoral, buscando introduzi-la como nomenclatura diferencial da estabilização das psicoses.

Neste contexto, se as noções de “estabilização, compensação e suplência” são empregadas “na mais completa confusão e indistinção” (Askofaré & Combres, 2012Askofaré, S., & Combres, L. (2012). Symptômes et suppléances: un essai de problématisation. Recherches en Psychanalyse, 13(1), 22-30. Recuperado de https://goo.gl/dpgZv9
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, p. 26, tradução nossa), propomos aqui algumas precisões terminológicas, seguindo as concepções atribuídas por Lacan (1955-1956/2002Lacan, J. (2002). O seminário, livro III: as psicoses. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1955-1956), p. 103), que entende o termo estabilização como efeito de uma mudança estrutural, sendo, portanto, consequência fenomenológica. Podemos, deste modo, segundo Askofaré e Combres (2012Askofaré, S., & Combres, L. (2012). Symptômes et suppléances: un essai de problématisation. Recherches en Psychanalyse, 13(1), 22-30. Recuperado de https://goo.gl/dpgZv9
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, p. 27, tradução nossa), “falar de estabilização da psicose pela metáfora delirante, sendo a metáfora, mesmo delirante, uma capitonagem”.

Já à noção de compensação, Lacan atribui dimensão prioritariamente imaginária. A acepção é palpável, primeiramente, na leitura do seminário As psicoses, em que aponta as “muletas imaginárias que permitem ao sujeito de compensar a ausência do significante” (Lacan, 1955-1956/2002Lacan, J. (2002). O seminário, livro III: as psicoses. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1955-1956), p. 233, itálicos nossos). Vinte anos mais tarde, no seminário O sinthoma, o imaginário surge novamente como preponderante logo que Lacan situa, em relação a Joyce, “a compensação da demissão paterna, dessa Verwerfung de fato” (Lacan, 1975-1976/2007Lacan, J. (2007). O seminário, livro XXIII: o sinthoma. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1975-1976), p. 86). Lacan afirma: “seu desejo de ser um artista que fosse assunto de todo o mundo, do máximo de gente possível . . . não é exatamente uma compensação do fato de que seu pai nunca foi um pai pra ele?” (1975-1976/2007, p. 89). Segundo Pellion (2009Pellion, F. (2009). Quelques réflexions sur la pertinence clinique et psychopathologique de la notion de suppléance. Recherches en Psychanalyse, 7(1), 92-101. Recuperado de https://goo.gl/PJvNnq
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), sempre que parece inadequado a Lacan empregar a referência ao simbólico, à metáfora, na constituição do sinthome joyciano, o autor faz uso do termo compensação como “encarregado de dar conta da influência da identificação de Joyce ao the artist” (p. 94, tradução nossa). Deste modo, Combres e Askofaré (2012Askofaré, S., & Combres, L. (2012). Symptômes et suppléances: un essai de problématisation. Recherches en Psychanalyse, 13(1), 22-30. Recuperado de https://goo.gl/dpgZv9
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, p. 27) propõem que a compensação se caracteriza por uma substituição em que “o imaginário vem preencher a falha significante ou os efeitos dessa falha”. Ressalta-se nesse sentido que as identificações imaginárias são conhecido mecanismo compensatório que Lacan pôs em relevo desde sua análise das personalidades “como se” destacadas por Hélène Deutsch (ver Lacan, 1955-1956/2002Lacan, J. (2007). O seminário, livro XXIII: o sinthoma. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1975-1976); Deutsch, 1934/2007Deutsch, H. (2007). Un type de pseudo-affectivité. In H. Deutsch, M-C. Hamon, Le “comme si” et autres textes (pp. 53-72). Paris, Seuil. (Trabalho original publicado em 1934)).

Por seu turno, a noção de suplência atravessa todo o ensino de Lacan, adquirindo diferentes concepções até o seminário Le sinthome, em que se atrela (também) às psicoses. Lacan a emprega em referência ao nó Borromeu, como nodagem (em francês, nouage) constituída na ausência do nome-do-pai, permitindo à amarração “se conservar em uma posição tal que ela tenha o aspecto de constituir nó de três” (1975-1976/2007, p. 91, itálicos do autor), estabelecendo no seio da estrutura um enlace que a articula. Empregado apenas duas vezes naquele ano, o termo suplência, em relação às psicoses, parece elevar-se a conceito no campo psicanalítico a partir de comentários sobre esse seminário, que propõem, por exemplo, a noção de “psicose ordinária” (Battista & Laia, 2012Battista, M., & Laia, S. (2012). A psicose ordinária. Belo Horizonte: Scriptum.), ou a distinção de três formas gerais e díspares de suplência pela predominância de um dos três registros, Real, Simbólico ou Imaginário (Hoffmann, 2004Hoffmann, C. (2004). Quelques réflexions à propos du déclenchement de la psychose et de ses suppléances dans le monde de l’adolescent contemporain. Figures de la Psychanalyse, 9(1), 49-61. https://goo.gl/SyRr1s
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).

Não satisfeitos com nenhum desses três termos cunhados pela literatura psicanalítica, propusemos a noção de tessitura, que seria caracterizada pela composição de articulações significantes. Dito de maneira resumida, a tessitura agenciaria tais articulações essenciais ao funcionamento estrutural fora de crise - articulações próprias à estrutura sincrônica do ponto de estofo, a metáfora (Lacan, 1960/1999Lacan, J. (1999). Subversion du sujet et dialectique du désir dans l’inconscient freudien. In Écrits (pp. 793-828). Paris: Seuil. (Trabalho original publicado em 1960)). Como afirma Lacan (2002Lacan, J. (2002). O seminário, livro III: as psicoses. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1955-1956), p. 304, tradução e itálicos nossos)1 1 Propomos aqui ligeiras alterações da tradução brasileira marcadas entre colchetes. :

Eu não sei o total, mas não é impossível que se chegue a determinar o número mínimo de pontos de amarração [points d’attache] fundamentais entre o significante e o significado necessários para que um ser humano seja dito normal, e que, quando eles não estão estabelecidos, ou soltam [lâchent], produzem um psicótico.

A tessitura se estabeleceria, pois, pela (re)costura desses “pontos de amarração” (pontos de estofo), estabelecendo malhas significantes e produzindo efeitos clínicos substanciais. Na pista dos diferentes desencadeamentos psicóticos e de casos clínicos exaustivamente apresentados, indicamos algumas dessas malhas fundamentais e intrinsicamente tecidas entre si: a morte, o sexo, o corpo, a alteridade, a procriação (ver Madeira, 2015Madeira, M. (2015b). Tissages psychotiques en transfert. Tese de doutorado, Centre de Recherches Psychanalyse, Médecine et Société, Université Paris-Diderot Sorbonne, Paris Cité, Paris.b). Cabe ressaltar que o desencadeamento psicótico implica o rasgo da tessitura do(s) ponto(s) de estofo. Como sugere Lacan, o desencadeamento psicótico nos exige “reconhecer, nos diferentes estágios do fenômeno, em que pontos o estofo se desfez” (1955-1956/1981, p. 305, tradução e itálicos nossos)2 2 A tradução brasileira deste trecho, equivalendo literalmente a expressão “est sauté” a “é saltado”, nos parece pouco compreensível. .

Propõe-se sobremaneira, a partir da clínica, operações que tramariam em transferência tais malhas, notadamente, a nominação, a letra, o delírio, o fantasma e a (de)negação - a articulação das duas últimas constitui o objeto deste artigo. Trata-se, pois, de teorizar diferentes soluções possíveis nas psicoses, para além do delírio e das produções artísticas, que seriam tramadas em transferência e sob ação de tais operadores. Vale ressaltar que se nominação, letra, fantasma e denegação são conceitos erigidos em referência às neuroses, este estudo se propõe a pensar a singularidade de tais operadores nas psicoses. Por fim, conceber o inconsciente estruturado como uma linguagem e tal qual um tecido, nos permite nomear como tessitura tanto pequenos esboços fantasmáticos, quanto a trama de soluções que produzem estabilização dos sintomas psicóticos, pois em ambos os casos se trata de uma costura, de maior ou menor extensão, da malha significante.

Estabelecidas tais distinções, exploremos doravante as tessituras do caso Luizel, tendo como norteador as articulações que o adolescente produz entre enredos de cunho fantasmático e suas surpreendentes sentenças de afirmação/negação até o surgimento da (de)negação propriamente dita - “tu vas pas me manquer”. Nosso trabalho tem como objetivo geral sustentar a pertinência da clínica psicanalítica das psicoses, expondo uma trama do caso de modo sequencial e manifestando suas consequências fenomenológicas.

Entrevista inicial

Na primeira consulta, recebo Luizel3 3 Para garantir a confidencialidade do paciente e da sua família, todos os nomes próprios e de lugares foram alterados. acompanhado de sua mãe, chamada Luiza Zambèze, que relata que o nome de seu filho é fruto do amálgama entre Luiza e Raphael, nome do pai. Juntos, tiveram quatro rebentos: Magnifique, dezessete anos, Richard, catorze, Luizel, doze e Gaël, oito. Quando pergunto o motivo da procura do CMPP, Sra. Zambèze afirma que o filho “sempre foi diferente dos outros”. Ela situa um “acidente” que sofreu logo após o nascimento de Gaël como origem das dificuldades de Luizel, que contava quatro anos à época. Não há registro no discurso da mãe do evento que justifique o emprego da palavra acidente: afirma que foi acometida de uma “paralisia nas pernas” que a deixou acamada por dois anos, período durante o qual não se ocupou de seus filhos. “Eu abandonei Luizel e acho que isso o marcou”. O adolescente a escuta com empertigada atenção, e murmura repetidamente “c’est ça” após a mãe lançar sua hipótese.

Em segundo momento da consulta, converso somente com Sra. Zambèze, que declara que Luizel ficou “transtornado” [bouleversé] após a morte do avô paterno. O adolescente perguntava sem cessar “porque ele morreu?”, “como ele morreu?”, “ele pode voltar?”, “pode-se vê-lo?”, questões que os pais se mostravam incapazes de responder. Luizel as fazia sobremaneira na escola, o que preocupava seus professores. Sra. Zambèze sublinha que não há na família crenças religiosas particulares, e que ela tem a impressão que o filho vê o avô.

Perguntada sobre os avós maternos, ela conta que aos quatro anos fugiu de Moçambique por causa da guerra civil, a pé pela estrada, acompanhada de uma tia de catorze anos. Ao retornar, dezesseis anos mais tarde, descobre que seus pais haviam morrido durante o conflito. Ela nunca contara essa história aos filhos, e simulava ligações telefônicas para lhes fazer acreditar que os avós ainda estavam vivos.

As conversas com o pai, em sessões posteriores, revelam que sua trajetória é muito semelhante à da mãe, salvo o fato do avô paterno haver sobrevivido à guerra. Ambos relatam a impossibilidade de permanecer em Moçambique, mesmo após o armistício. Viveram no país durante alguns meses, quando se conheceram, e decidiram migrar para a França. Sr. Zambèze se mostrava, entretanto, assaz apegado ao pai, com quem conversava “todos os dias pela Webcam”: “a primeira coisa que eu fazia quando chegava do trabalho era ligar para o meu pai”, afirma.

“Não, teu avô não pode voltar”

“Eu vim pra que a gente vá melhor na escola”, diz Luizel em seu primeiro encontro individual. De fato, suas notas eram muito baixas, ele se isolara dos colegas, e sua escola havia aberto um processo para transferi-lo a uma turma dita de “inclusão social”, em que seria alijado do percurso ordinário de ensino.4 4 Trata-se da CLIS, sigla que significa “Classe pour l’inclusion sociale” O adolescente empregava frequentemente a expressão “a gente” [on], fazendo referência a ele e ao avô falecido. Ele afirma que vê o avô em ritornelo - na escola, em casa, e até mesmo no CMPP. “O meu avô pode voltar?”, questiona Luizel cedo em nosso diálogo. “Não, teu avô não pode voltar”, respondo.

Curto silêncio. “Quando dizemos que alguém faleceu, isso quer dizer que ele não pode voltar”, completo. “Oh là là”, retruca Luizel, “por que o senhor diz ‘faleceu’? Meus pais dizem ‘morreu’, depois dizem ‘desapareceu’ [disparu]. Eu perguntei para eles [o que isso quer dizer] e eles me mostraram um vídeo do enterro. O senhor me diga: era o meu avô no caixão?” “Se era o enterro dele, sim”, respondo. Segue-se uma conversa sobre o destino do corpo nos funerais, sobre as crenças religiosas de seus colegas de escola, e Luizel interroga, “mas se meu avô está no caixão, como pode seu retrato estar na parede da minha casa? Ele está lá! Eu sei que é ele, pois eu o vi pela Webcam.” “Sim, mas é a imagem dele. Eu imagino que na parede haja também uma foto do teu pai…”, digo. “Sim”, responde. “Então, o teu pai aparece na foto, mas ele não é a foto. Seu corpo está em outro lugar, no trabalho, na sala de espera. A foto é apenas uma imagem dele”, afirmo. Essa primeira conversa produz em Luizel um alívio notório. A tomada de posições peremptórias, em que respondi objetivamente às interrogações do menino se estabeleceu unicamente ao longo nesse primeiro encontro.

O pas possible e o abandono materno

Nas sessões seguintes, Luizel fala da vontade de visitar Nova Iorque e conhecer o World Trade Center (WTC). As “Torres Gêmeas”, segundo ele, seriam enormes, mais altas que si, que seu pai e, quiçá, que o teto do consultório. A queda do WTC seria um marco de seu nascimento, mesmo que cronologicamente separados: “quando eu nasci, houve o WTC”, repetia. A frase era seguidamente completada com outra observação que lhe identificava ao irmão mais velho: “e quando Richard nasceu, a França ganhou do Brasil na Copa do Mundo”.

O que interessava o adolescente era ver a reconstrução das torres. Porém, dizia ele invariavelmente, “elas não podem cair de novo, se não, é pas possible”. A expressão pas possible torna-se refrão do discurso de Luizel, sendo empregada notadamente em histórias que inventava, cujas estruturas se assemelham a das torres gêmeas. Ou seja, um corpo determinado sofre avaria e é reconstruído. Esse corpo, no entanto, não pode ser novamente atingido, se não é pas possible. Destaca-se o significado singular que Luizel atribui a essas palavras, cuja tradução ordinária ao português seria “elas não podem cair de novo, se não seria inacreditável”, ou “seria o fim da picada”. Porém, Luizel utiliza aqui o pas possible como impossibilidade - o que ficava evidente em nossas trocas. Se eu mesmo retomasse sua fala dizendo, “se cair de novo”, ele me interrompia imediatamente: “Não! Eu disse, é pas possible!” Nesse caso, o significado da expressão é impossível. A consequência é que a sentença construída findava por estabelecer articulação particular entre afirmação e negação - se cair de novo, é impossível.

A trama do WTC parece permitir a Luizel o esboço de uma tessitura fantasmática essencial que retoma claramente as palavras de sua mãe na abertura do tratamento, quando afirma o haver abandonado. Isso porque o menino criará em transferência um cenário que historia o abandono. Segundo ele, sua mãe “ficou grávida de gêmeos”, “caiu das escadas”, sofreu uma “paralisia nas pernas” e perdeu seus dois filhos. Nota-se que, em francês, usa-se a expressão tomber enceinte, literalmente, cair grávida. O enredo tramado por Luizel parece se valer da concepção literal do significante, amalgamando a expressão cair grávida de gêmeos ao ato físico de cair. Luizel emenda: “minha mãe não pode cair de novo, se não é pas possible”. Ou seja, a estrutura da história sobre o WTC é muito semelhante ao rascunho fantasmático que Luizel costura sobre sua infância, o qual é cunhado pela mesma frase de fechamento, híbrida em sua afirmação/negação - se cair de novo, é impossível. Pensamos, assim, que a tessitura do primeiro enredo fantasmático sobre as torres gêmeas torna possível a elaboração do segundo, sobre a ausência subjetiva da mãe. Ambos se articulam intrinsicamente à operação de afirmação-negação marcada pelo estribilho pas possible.

Nota-se que a trama de Luizel se situa precisamente no buraco discursivo exposto por sua mãe, já que esta se vê impossibilitada de historiar seu “acidente”. O adolescente tece, deste modo, uma pequena ficção que simboliza não apenas o abandono materno, mas, de modo mais amplo, a falta do Outro - o que a morte deflagra de maneira radical. O pas possible parece buscar estabelecer um selo que certifique a presença da mãe, e que introduz no mesmo gesto a possibilidade da sua ausência: se minha mãe me abandonar de novo, é impossível.

O pas créé e os nomes familiares

Na sequência das consultas, Luizel se mostrará instigado pelos nomes próprios, afirmando que, em algum momento desconhecido, “mudaram tudo”. Ele contava da impressão de que todas as pessoas haviam alterado o nome, notadamente os membros da sua família. Segundo ele, Magnifique, por exemplo, se chamava Samanta, Richard era chamado Dylan. Luizel e o caçula haviam invertido alcunhas: “Eu devia me chamar Gaël”, dizia sem cessar e inconformado. Em uma sessão com o adolescente e seus pais, Luizel os interrompe e interpela: “Por que mudaram meu nome? Eu devia me chamar Gaël!”

Os pais explicam que, efetivamente, haviam decidido nomeá-lo Gaël e isso até o seu nascimento. Porém, quando o pai registrou o filho, impulsivamente, decidiu chamá-lo Luizel, sem consultar a mãe. Quando então o quarto filho nasceu, lhe deram o nome de Gaël. “Voilà! Eu devia me chamar Gaël!”, insistia Luizel para espanto dos pais que ignoravam que o filho tivesse algum registro da história dessa modificação. Vê-se assim que às dificuldades do adolescente de articulação entre corpo e linguagem se sobrepõe uma história familiar que o assalta sem que consiga lhe conferir consistência fantasmática.

Ao alterar o nome, o pai parece elidir da nomeação do filho o desejo da mãe, desejo que se depositará no caçula. Assim, se coloca novamente para Luizel a questão do não investimento da mãe em relação a ele. A escolha do pai é curiosa, pois no mesmo gesto em que quebra o acordo com mãe, confere ao filho um nome que representa a união do casal. Porém, tal inscrição do laço conjugal no nome - talvez à guisa de reparação inconsciente - não impede que a subjetivação do desejo da mãe se torne problemática para seu filho.

Ainda habitado por essas questões, o adolescente se interessará pelos objetos da sala, notadamente, pelas palavras made in neles gravadas. Ele abre uma grande enciclopédia e estuda longamente os países. Encontra Moçambique no mapa e traça uma linha que dali parte até chegar à França para significar a viagem dos pais. Em seguida, encontra a China: “é lá que fazem os brinquedos!”, diz surpreso, e põe-se a procurar o “traço” [la trace] de todos os objetos do consultório, a imensa maioria deles, made in China.

Na sessão seguinte, Luizel chega aflito para continuar suas verificações, quando uma descoberta inesperada se produz logo que encontra um objeto sem traço algum: “pas créé!”, exclama surpreso, literalmente, “não criado”. “Pas créé?”, interrogo. “Pas créé, esse objeto não tem o traço. Quer dizer que ele não existe”, diz. Observa-se aqui a repetição de uma sentença que enlaça afirmação e negação de maneira particular: esse objeto que te mostro, para o qual convoco o teu olhar, não existe.

A partir dessa constatação, sua busca pelos objetos mudará de objetivo: não se tratará mais de distinguir a origem, mas de diferenciar, segundo ele, os objetos “com traço” dos objetos “sem traço”, os “criados”, que existem, dos “não criados”, que não existem. Durante duas sessões densas, Luizel insiste sobre a não existência dos objetos não criados, calcado na ausência do traço. Ele se serve de um sulco da mesa para separar os brinquedos criados dos não criados. Ao final da primeira sessão, Luizel solicita uma foto da sua classificação, imagem a partir da qual continua e encerra sua verificação no encontro seguinte. Neste segundo encontro, pergunto a Luizel se os objetos seriam “criados” se escrevêssemos sobre eles “made in China”: “Não, responde, tem que ser desde o início”. Ao final dessa consulta, Luizel assinala: “eu vi uma foto de quando Richard era bebê, e havia uma etiqueta em seu braço escrito Richard. Na verdade, ele sempre se chamou assim.” Ou seja, desde o início.

Na sessão seguinte, o adolescente recria, à sua maneira, a história de seu nome. Diz que, quando sua mãe engravidara pela terceira vez, seus pais estavam esperando Gaël. Porém, quando do nascimento, ao verem o bebê, se deram conta que Luizel havia nascido no lugar de Gaël: “Eu nasci fora da ordem!”, diz. O pai, então, reconhecendo Luizel, registrou o filho pelo nome escolhido com a mãe, preservando, deste modo, o desejo materno na sua nominação.

A tessitura do novo esboço fantasmático pelo qual Luizel encontra uma solução - terminologia utilizada por Pommier (2000Pommier, G. (2000). L’écriture comme solution dans la psychose (Thèse de Doctorat). Département de Psychologie Clinique, Université Aix Marseille, Marseille, France.) e Popova (2014Popova, Y. (2014). Du dis-corps de la langue vers une origine à-rimer (Thèse de Doctorat). Centre de Recherches Psychanalyse, Médecine et Société, Université Paris-Diderot Sorbonne, Paris Cité, Paris, France.) em relação à clínica das psicoses - à sua nominação só é possível pela estranha supressão da dimensão do enigma que toda a criança é para os adultos, bem como do enlace gradativo do corpo à linguagem. Acreditando que os pais pudessem reconhecê-lo e nomeá-lo pela sua imagem logo do parto, o adolescente elide a subjetivação do pequeno humano, aquilo que a ele se atribui paulatinamente para que seu nome adquira consistência. Se podemos dizer que “José é José”, é porque há uma passagem do nome à uma singularidade identificatória. Assim, o que caracteriza o nome próprio na sua origem “é que o acento, em seu emprego, é posto, não no sentido, mas no som enquanto distintivo” (Lacan, 1961-1962/2008Lacan, J. (2008). Le séminaire, livre IX: L’identification. Paris: Association Lacanienne Internationale. (Trabalho original publicado em 1961-1962), p. 79, tradução nossa), o que faz Lacan supor que no nome próprio encontramos “a função do significante em estado puro” (1961-1962/2008, p. 87).

O trabalho de Luizel sobre os objetos créés/pas créés, ao qual podemos atribuir estatuto de brincar, se costura intrinsicamente à tal trama das nomeações familiares, à concepção de que há um nome (ou traço) que deva fiar a existência de algo ou alguém desde o início. Deste modo, tanto os bebês como os objetos, para existir, necessitam ter desde o início uma marca de origem indelével - o nome próprio seria, nesse paralelo, certo equivalente do made in China. Ademais, Luizel se interessará em seguida pelos traços que gravam os nomes das pessoas - carteiras de identidade, álbuns de fotos, documentos hospitalares. Assim, vemos aqui, novamente, uma operação de afirmação-negação - operação que lhe permite afirmar em transferência que objetos específicos que se apresentam à nossa percepção não existem - diretamente articulada ao esboço fantasmático tecido por Luizel, esboço fundamental no percurso do tratamento. Como nas conversas sobre o WTC, o brincar do pas créé nos parece aqui como retalho prévio que possibilita a costura fantasmática que se precede.

“Tu vas pas me manquer”

Há de se ressaltar que, poucas semanas após o início do tratamento, as inquietudes de Luizel em relação à morte se depositaram em Gaël. O adolescente pergunta permanentemente onde seu irmão está, angustiando-se com as separações. Na mesma época, Luizel estabelece uma relação “como se” (Deutsch, 1934/2007Deutsch, H. (2007). Un type de pseudo-affectivité. In H. Deutsch, M-C. Hamon, Le “comme si” et autres textes (pp. 53-72). Paris, Seuil. (Trabalho original publicado em 1934)) com seu irmão mais velho, Richard - os dois utilizavam as mesmas roupas, mantinham o mesmo corte de cabelo, faziam as mesmas atividades extraescolares. Luizel e Richard andavam sempre juntos - o primeiro não podendo sair de casa sem o segundo. Richard acompanhava invariavelmente seu irmão às sessões do CMPP, aguardando-o na sala de espera. Tal união preocupava Sra. Zambèze: “Eu acho muito estranho… Eles não brigam nunca!”, dizia.

O adolescente conta em sessão que Gaël viajaria dois dias mais tarde com sua turma da escola durante uma semana, expressando sua ansiedade com a separação. Conversando, Luizel afirma: “de qualquer modo, vou lhe dizer: Gaël, tu vas pas me manquer”, ou seja, tu não vais me faltar.5 5 Nota-se que, em rigor, a frase seria “tu ne vas pas me manquer”, sendo a fórmula sem o “ne” que duplica a negação, a mais empregada no registro oral. A frase tu vas pas me manquer torna-se, após o pas possible e o pas créé, o novo refrão discursivo de Luizel - refrão por ele repetido durante anos ao longo de seu tratamento. Ele a endereçará à sua mãe, quando parte ao colégio, a Richard quando este se vê impedido de acompanhá-lo ao CMPP, a mim quando entramos em férias. Luizel o dirá igualmente em referência aos objetos da sala e até aos lugares que deixa. Saindo de um parque que muito lhe agradara, declara em alta voz: “parque, tu vas pas me manquer”. Em uma manhã de inverno particularmente difícil a privar-se do sono, Luizel bate uma foto de sua cama e publica-a em uma rede social: “cama, tu vas pas me manquer”. Nota-se que a frase indica claramente ao seu interlocutor uma afirmação - tu vais me faltar - revelando o afeto ressentido por aqueles de quem o menino se separa. Ademais, o adolescente a dizia sempre em tom jocoso, o que tornava ainda mais clara sua intenção.

Deste modo, não se trata aqui de uma Verneinung no sentido que lhe atribui Freud (1925/2010Freud, S. (2010). A negação. In Obras completas (Vol. 16, pp. 275-282). São Paulo, Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1925)), em que o sujeito vela a emergência de representação inconsciente pela negação, mas de uma construção (de)negativa que contém uma afirmação flagrante e que só emerge sendo marcada pela negação. Porém, é fundamental ressaltar que a possibilidade de produzir tal formulação pela negativa se articula à observação clínica da diminuição da angústia face à ausência do Outro - Outro com maiúscula, no sentido que se trata aqui do esboço da inscrição de uma referência abstrata à alteridade. Luizel não reproduzirá mais a aparência ou os comportamentos de Richard, começará a vir sozinho ao CMPP, ganhará as chaves de casa, as quais expunha com orgulho, podendo sair sem depender do irmão. Ademais, a angústia em relação à eventual morte de Gaël cessa. O Outro poderá doravante lhe faltar.

Uma (de)negação psicótica?

Em A negação, Freud (1925/2010Freud, S. (2010). A negação. In Obras completas (Vol. 16, pp. 275-282). São Paulo, Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1925)) introduz na teoria psicanalítica o caro conceito de Verneinung (denegação), sustentando que

o conteúdo reprimido de uma ideia ou imagem pode abrir caminho até a consciência sob condição de ser negado. A negação é uma forma de tomar conhecimento do que foi reprimido, já é mesmo um levantamento da repressão, mas não é certamente uma aceitação do reprimido. (p. 277)

O advento da denegação implica, assim, um recalcamento (Verdrängung) que lhe seja anterior, referindo-se estritamente às neuroses. A virada que aqui sustentamos, buscando aportar uma reflexão teórico-clínica original, é de pensar o esboço da denegação como tessitura psicótica. Trata-se de fazer operar uma articulação entre afirmação e negação, produzindo uma barreira e, ao mesmo tempo, conferindo consistência simbólica a um conteúdo inconsciente.

Se seu mecanismo é, portanto, distinto ao da Verneinung, propomos indicar um correlato da denegação freudiana frequentemente observável na clínica das psicoses. Seu estatuto de correlato justifica a grafia (de)negação ou a proposição de um esboço de denegação. Fenomenologicamente, a (de)negação nas psicoses se diferenciaria por formas variadas de expor ao invés de velar a representação inconsciente, o que observamos invariavelmente como efeito transferencial nos casos acima arrolados (ver abertura). Assim, Bethânia nos dizia que “apanhava de vassoura não” (Madeira & Rickes, 2007Madeira, M., & Rickes, S. (2007). Pedrital hospinstante. In: Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Psicose (pp. 190-204). Porto Alegre: Libretos., p. 201), Raimundo, que “nunca com homem não” havia confundido as pernas (Madeira, 2015bMadeira, M. (2015b). Tissages psychotiques en transfert. Tese de doutorado, Centre de Recherches Psychanalyse, Médecine et Société, Université Paris-Diderot Sorbonne, Paris Cité, Paris., p. 313), Gustave, de nove anos, brincava de “não ter medo” (Madeira, 2015bMadeira, M. (2015b). Tissages psychotiques en transfert. Tese de doutorado, Centre de Recherches Psychanalyse, Médecine et Société, Université Paris-Diderot Sorbonne, Paris Cité, Paris., p. 222). Como vemos, não é pelo caráter formal da sentença que se dá a singularidade da (de)negação psicótica, mas somente na relação transferencial em que se opera seu duplo efeito negativo-afirmativo. Ou seja, tal particularidade (de)negativa se estabelece no endereçamento ao outro de uma representação primordial a ser, ao mesmo tempo, suportada em sua existência e, de certo modo, negada - a agressão, a fragilidade, a homossexualidade, o medo, a ausência.

Sublinhamos, sem a pretensão de estabelecer diagnósticos, que é também como produção de sentido que podemos ressaltar curiosas (de)negações literárias. Assim, James Joyce (1922/2012Joyce, J. (2012). Ulysses. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1922)) descreve a senhora que serve o leite do café da manhã sob o olhar atento de Stephen: “ele a observou que vertia na medida e dali para jarra gordo leite branco, não seu. Peitos velhos mirrados” (p. 111, itálicos nossos). Não seu, “not hers” (Joyce, 1922/2000Joyce, J. (2000). Ulysses. London: Penguin. (Trabalho original publicado em 1922), p. 15), ressalva Joyce, fazendo existir pela negação a representação de que o leite entornado - que, alegoricamente, se associa em seguida ao materno - pudesse vir dos seios daquela senhora “secreta e velha”. Ou seja, a negação aqui produz como efeito direto a afirmação, o desvendamento da representação.

A introdução da (de)negação no cerne da estrutura do delírio

Em conhecida passagem do Caso Schreber (1911/2010), Freud distingue variantes das negações possíveis à frase “Eu (um homem) amo ele (um homem)” (p. 83), estabelecendo a partir delas diferentes composições delirantes: “O delírio de ciúmes contradiz o sujeito, o de perseguição contradiz o verbo, a erotomania, o objeto” (p. 86), escreve. Assim, Lacan afirma no Discurso de Roma que, na dialética do “desdobramento das estruturas delirantes”, Freud “não somente encontrou um atalho, mas lhe deu seu eixo traçando seu caminho no nível das formas gramaticais” (1953/2001, p. 157, tradução nossa)6 6 Ver no original « Car l’analyse dialectique que nous venons de tenter du déploiement des structures délirantes, Freud n’y a pas seulement trouvé un raccourci, il lui a donné son axe à y tracer son chemin au ras des formes grammaticales », ( .

Já nesse texto de 1953, Lacan (1953/2003Lacan, J. (2003). Discurso de Roma. In Outros escritos (pp. 139-172). Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1953)) indica que, no delírio persecutório, a passagem do “eu o amo” para “eu o odeio” supõe uma “denegação latente” (p. 163). O argumento é retomado no seminário As psicoses, em que Lacan (1955-1956/2002Lacan, J. (2002). O seminário, livro III: as psicoses. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1955-1956)) sustenta primeiro que, nessa estrutura delirante, “lidamos com alguma coisa muito mais próxima da denegação. É uma alienação convertida no sentido que o amor se tornou ódio” (p. 54). Mais tarde, no último encontro do seminário, Lacan (1955-1956/2002Lacan, J. (2002). O seminário, livro III: as psicoses. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1955-1956)) estende de maneira mais direta a faceta denegatória como sendo comum às três formas de delírio:

Vocês sabem como Freud reparte as diversas denegações da tendência homossexual. Ele parte de uma frase que simboliza a situação - eu o amo a ele, um homem. Há mais de uma maneira de introduzir a denegação nessa frase. Pode-se dizer, por exemplo, não sou eu que o amo ou não é ele que eu amo, ou ainda, não é de amar que se trata para mim, eu o odeio. (p. 349)

Se tal passagem nos interessa particularmente, é muito menos pelas considerações sobre a representação da homossexualidade no seio do delírio, e mais pelo fato de que Lacan, na esteira de Freud, situa a (de)negação como constituidora da engrenagem delirante. Ou seja, a (de)negação viria aportar uma solução possível a uma representação insuportável, operando no cerne da malha que organiza o delírio. A (de)negação, deste modo, não seria simples efeito do restabelecimento da relação imaginária nas psicoses (Esquema L), mas, ela própria, um operador da tessitura do delírio, e, assim, do apaziguamento sintomático. Buscamos aqui, deste modo, não apenas ressaltar tais argumentos, mas expandi-los, situando o que denominamos de (de)negação não apenas como engenho das construções delirantes, mas também dos esboços fantasmáticos nas psicoses que não necessariamente configuram a tessitura de uma trama delirante propriamente dita.

Lacan (1955-1956/2002Lacan, J. (2002). O seminário, livro III: as psicoses. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1955-1956)) aponta em repisada passagem do seminário As psicoses que, logo do desencadeamento, “o sujeito se vê absolutamente desarmado incapaz de fazer dar certo a Verneinung com relação ao acontecimento” (p. 104), reação que se daria na “contradiagonal do nosso quadradinho mágico”, ou seja, a relação imaginária do Esquema L. A tessitura da (de)negação em transferência nas psicoses parece, pois, produzir um remendo face à impossibilidade denegativa do desencadeamento. Sendo a morte ausência radical de um outro, evento que enseja no caso Luizel a emergência de sintomas psicóticos, a (de)negação “tu vas pas me manquer” aparenta se estabelecer como resposta que tece algum estofo simbólico à tal ausência dilacerante.

Desdobramentos sintomáticos

Destacamos ainda alguns movimentos sintomáticos apresentados por Luizel ao longo do tratamento, movimentos para nós preciosos, pois atestam, de maneira geral, as possibilidades da clínica psicanalítica e, de maneira específica, os possíveis efeitos da constituição da (de)negação enlaçada a tramas fantasmáticas. Sublinhamos, de início, que as alucinações do menino cessam após as primeiras sessões. Ademais, as desorientações oriundas das perdas das funções do estádio do espelho também se apaziguam. A melhora do desempenho escolar de Luizel se constitui em efeito surpreendente: seu encaminhamento a uma classe especial foi reavaliado e suspenso; o adolescente foi aprovado sucessivamente durante os quatro anos de tratamento, alcançando o ensino secundário. Acreditamos que a evocação de tais considerações sobre os efeitos escolares, pouco frequentes na literatura psicanalítica - efeitos, no entanto, há muito conhecidos (Mannoni, 1964Mannoni, M. (1964). L’enfant arriéré et sa mère. Paris: Seuil.) -, poderia contribuir à sustentação do lugar social da prática psicanalítica.

Outros movimentos clínicos relevantes do caso se referem às flexibilizações do significante. Nota-se, em nosso primeiro encontro, sua dificuldade em relação aos sinônimos da morte. Certa feita, por exemplo, Luizel afirma que seu dedo estava “bloqueado”. No curso da conversa, entendo que o botão do joystick de seu vídeo game estava estragado e comento: “o botão do joystick está bloqueado”. Ao que Luizel responde, “de qualquer modo, o joystick é você” [la manette c’est vous]. “O joystick é você” era o slogan assaz difundido à época de um vídeo game em que não era necessário o uso do joystick. Luizel concebe, assim, correspondência literal entre corpo e joystick: se um está bloqueado, o outro também deveria estar - afinal, o joystick é você.

A vinheta clínica corresponde ao que Freud denominou “linguagem do órgão” (1915/2010, p. 145) a partir de um caso de Viktor Tausk (1933/2010Tausk, V. (2010). “L’appareil à influencer” des schizophrènes. Paris: Payot. (Trabalho original publicado em 1933).), em que uma paciente queixa-se que seus “olhos estão virados” após uma briga com o namorado; este último seria um hipócrita, literalmente, “um virador de olhos” [Augenverdreher]. “A fala esquizofrênica tem aí um traço hipocondríaco, torna-se linguagem do órgão”, diz Freud (1915/2010Freud, S. (2010). O inconsciente. In Obras completas (Vol. 12, pp. 99-150). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1915)), diferenciando-a, em seguida, da conversão histérica que implicaria consequências tangíveis sobre o corpo e o recalcamento da representação, obstaculizando o acesso à palavra.

O alargamento da primazia significante sobre o funcionamento sígnico, embora limitado, desvendou-se ao longo do tratamento pela possibilidade de produzir deslizamentos linguísticos, de fazer uso do humor e, notadamente, pelas brincadeiras que inventava. Luizel consumiu meses de encontros a embeber pincéis em alguma tinta e mergulhá-los na água da pia da sala. A tinta, então, se descolava do pincel, produzindo uma mancha em metamorfose, e o interessava colocar em tensão as diferentes nomeações que nós dois podíamos lhe dar: “é um trem!”, eu dizia. “Não, é um cigarro”, retrucava. A brincadeira durava o tempo em que a tinta colorisse todo o volume d’água. Luizel, então, esvaziava-a e preparava novos embates até que o cansaço o vencesse.

Sutura

O que provoca a angústia . . . não é o ritmo, nem a alternância da presença-ausência da mãe. A prova disso é que a criança se compraz em renovar esse jogo de presença-ausência. A possibilidade da ausência, eis a segurança da presença.

(Lacan, 1962-1963/2005Lacan, J. (2005). O seminário, livro X: a angústia. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1962-1963), p. 64)

O caso Luizel expõe, em suma, a costura de duas operações de afirmação/negação, o“pas possible” e o “pas créé”, que se tramam a malhas fantasmáticas que historiam respectivamente o dito “acidente” sofrido por sua mãe e sua nomeação. A primeira tem como cerne a ausência subjetiva da mãe, sua incapacidade momentânea de investimento libidinal, que ela própria situa como suposta origem dos sintomas de Luizel. O “pas possible” tecido ao esboço fantasmático parece constituir uma barreira à repetição da falência materna. Em seguida, o brincar do “pas créé” se entrelaça ao rascunho mitológico das nomeações; este estabelece amarração significante, delineando certa continuidade e consistência ao emaranhado entre corpo linguagem.

É, por fim, fundamental ressaltar que tais costuras fantasmáticas que situam o Outro - seu desejo, seu nome, sua presença - precedem e dão estofo ao que chamamos propriamente (de)negação, formulação que advém como sutura às tessituras de Luizel: “tu vas pas me manquer”. A anterioridade do esboço fantasmático e das tramas entre afirmação/negação nos indicam que a (de)negação nas psicoses se constrói em transferência, podendo ser situada como operador em si do apaziguamento sintomático.

A frase, “tu não vais me faltar”, repetida ao infinito, parece se opor diametralmente à morte - evento que transtorna o adolescente, produzindo o rasgo simbólico que faz emergir os sintomas psicóticos. A (de)negação e os esboços fantasmáticos, intrinsicamente tramados entre si, conferem estofo simbólico ao risco sempre existente do desaparecimento, tornando suportável as ausências e sustentando a subjetivação de presenças menos evanescentes.

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  • 1
    Propomos aqui ligeiras alterações da tradução brasileira marcadas entre colchetes.
  • 2
    A tradução brasileira deste trecho, equivalendo literalmente a expressão “est sauté” a “é saltado”, nos parece pouco compreensível.
  • 3
    Para garantir a confidencialidade do paciente e da sua família, todos os nomes próprios e de lugares foram alterados.
  • 4
    Trata-se da CLIS, sigla que significa “Classe pour l’inclusion sociale”
  • 5
    Nota-se que, em rigor, a frase seria “tu ne vas pas me manquer”, sendo a fórmula sem o “ne” que duplica a negação, a mais empregada no registro oral.
  • 6
    Ver no original « Car l’analyse dialectique que nous venons de tenter du déploiement des structures délirantes, Freud n’y a pas seulement trouvé un raccourci, il lui a donné son axe à y tracer son chemin au ras des formes grammaticales », (

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    22 Fev 2017
  • Aceito
    29 Abr 2017
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