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A circunstância em José Ortega y Gasset: aproximações ao inconsciente junguiano

La circonstance chez José Ortega y Gasset : approximations de l’inconscient junguien

La circunstancia en José Ortega y Gasset: aproximaciones al inconsciente junguiano

Resumo

O indivíduo humano, conforme o pensamento de José Ortega y Gasset, revela-se como um eu indissoluvelmente coimplicado com a sua circunstância. A proposta deste artigo é refletir sobre a circunstância orteguiana, sobretudo em seus aspectos inconscientes, de modo a ensaiar uma aproximação dessa circunstância com a perspectiva do inconsciente de Carl Gustav Jung.

Palavras-chave:
circunstância; inconsciente; Ortega y Gasset; Jung

Résumé

L’individu, selon la pensée de José Ortega y Gasset, se révéle d’un « Moi » indissolublement co-impliqué avec sa circonstance. La proposition de cet article est de réfléchir sur la circonstance « Orteguienne », en particulier dans ses aspects inconscients, afin d’essayer une approximation de cette circonstance avec la perspective de l’inconscient de Carl Gustav Jung.

Mots-clés:
circonstance; inconscient; Ortega y Gasset; Jung

Resumen

El individuo humano, según el pensamiento de José Ortega y Gasset, se revela como un yo indisolublemente coimplicado con su circunstancia. La propuesta de este artículo es reflexionar sobre la circunstancia orteguiana, sobre todo en sus aspectos inconscientes, para ensayar una aproximación de esa circunstancia a la perspectiva del inconsciente de Carl Gustav Jung.

Palabras clave:
circunstancia; inconsciente; Ortega y Gasset; Jung

Abstract

The human individual, according to the thought of José Ortega y Gasset, reveals itself as a self inextricably involved with its circumstance. The aim of this article is to reflect on Orteguian circumstance, especially its unconscious aspects, in an attempt to reach an approximation of this circumstance with Carl Gustav Jung’s prospect of unconsciousness.

Keywords:
circumstances; unconsciousness; Ortega y Gasset; Jung

Introdução

O destacado filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955), em seu primeiro livro, de 1914, Meditaciones del Quijote, citou aquela que seria, possivelmente, a sua frase mais conhecida: “Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela não salvo a mim”1 1 No original: “Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo”. (Ortega y Gasset, 1914/1966Ortega y Gasset, J. (1966). Meditaciones del Quijote. In Obras completas de José Ortega y Gasset (7a ed., Vol. 1, pp. 310-400). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1914), p. 322, tradução nossa).

Essa frase de Ortega y Gasset marca seu pensamento a respeito do indivíduo humano. O homem orteguiano, enquanto indivíduo, seria concebido como um todo eu-circunstância, entendendo que o eu e a circunstância estariam indissoluvelmente coimplicados entre si, de modo que o eu seria tocado e, muitas vezes, preenchido por sua circunstância, provocando modificações em si; do mesmo modo que a circunstância seria tocada, influenciada e modificada pelo eu. Mas o que seria circunstância para Ortega y Gasset? Pois bem, a circunstância pode ser entendida como tudo que esteja direta ou indiretamente em contato com o eu; que tanto pode ser proveniente do passado ou do presente, de contexto físico, histórico ou cultural, como também de si mesmo, isto é, de seu próprio corpo e psiquismo (Assumção, 2012Assumção, J. (2012). Homem-massa: a filosofia de Ortega y Gasset e sua crítica à cultura massificada. Porto Alegre, RS: Bestiário.).

Outro ponto a considerar é a flagrante dependência explicitada na citada frase de Ortega y Gasset, quando expressa a imperiosa falta de escolha do eu quanto à sua salvação, pois, se quiser salvar-se, deverá também salvar sua própria circunstância.

Nesse ponto, é importante o esforço por compreender o que significa salvar para Ortega y Gasset, seja salvar a circunstância, seja salvar a si mesmo, tendo em vista que uma situação estaria inevitavelmente coimplicada à outra. Nesse sentido, cabe destacar que, ainda no livro Meditaciones del Quijote, em complemento à citada frase, no mesmo parágrafo, o próprio autor aponta um caminho de entendimento ao dizer “Quer dizer, buscar o sentido do que nos rodeia”2 2 No original: “Es decir, buscar el sentido de lo que nos rodea”. (Ortega y Gasset, 1914/1966Ortega y Gasset, J. (1966). Meditaciones del Quijote. In Obras completas de José Ortega y Gasset (7a ed., Vol. 1, pp. 310-400). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1914), p. 322, tradução nossa).

Buscar o sentido do que nos rodeia, conforme a indicação de Ortega y Gasset, soaria como uma busca pela compreensão, ou melhor, pela apreensão de significado. Nesse caminho, ressalto o entendimento - como o expresso em artigo produzido por V. R. Santos (1998Santos, V. R. (1998) O homem e sua circunstância: introdução à filosofia de Ortega y Gasset. Revista Metanoia, 1, 61-64.) - de que salvar, para Ortega y Gasset, teria um sentido de buscar a compreensão, ou seja, um esforço pessoal por buscar a plenitude de significado, correlacionando, com base na pertinência recíproca, os fatos que compõem sua circunstância, como também correlacionando sua circunstância a si mesmo. Em suma, no pensamento de Ortega y Gasset, salvar caracteriza o esforço pessoal pela busca de significado da coimplicação eu-circunstância em todos os seus aspectos.

Sendo assim, se não salvo a minha circunstância não salvo a mim teria um sentido de se não compreendo a minha circunstância, radicalmente coimplicada comigo, não poderei compreender a mim mesmo.

O indivíduo orteguiano precisa, desse modo, inevitavelmente manter salvas as circunstâncias que agem sobre ele no seu curso de vida e, ainda que sejam incontáveis e, na esmagadora maioria das vezes, sentidas somente inconscientemente, deve adotar uma postura de esforço pessoal, autoral, ao agir no sentido de compreender sua própria história de vida, de modo a estar ciente de que não vive e nunca viveu dissociado de sua circunstância. Tal postura de ação consciente sobre sua própria circunstância gera, inevitavelmente, uma compreensão a respeito de si mesmo, tendo em vista que está indissoluvelmente coimplicado com ela. Ressalto que não se trata aqui, em momento algum, de uma possibilidade de compreensão completa, mas de um processo por compreensão que, na sua ação por abranger sua própria história circunstancial de vida, estritamente pessoal, faz com que não encontre um fim, mas um caminhar consciente, tanto a respeito das inúmeras possibilidades quanto das incontáveis limitações, tendo em vista que sua circunstância é predominantemente inconsciente.

Nessa linha de pensamento, a percepção deste estudo se voltará, em especial, para as circunstâncias normalmente desconhecidas ou, em melhor expressão, que estão na ordem do que podemos chamar de inconsciente. Para tanto, utilizar-se-á a percepção do inconsciente a partir do pensamento de Carl Gustav Jung, tendo em vista que este ampliou a noção de inconsciente para além do âmbito pessoal, dos conteúdos reprimidos, para atingir também o aspecto universal, como substrato comum de âmbito coletivo, que agiria sobre o indivíduo a partir de conteúdos com padrões arquetípicos (Penna, 2013Penna, E. M. D. (2013). Epistemologia e método na obra de C. G. Jung. São Paulo, SP: Educ.). Desse modo, para Jung o indivíduo também é abrangido por um contexto amplo, assim como o é para Ortega y Gasset, tendo em vista que conteúdos abrangentes de características universais estão em atuação constante na psique humana, sendo que ele não seria, em hipótese alguma, somente sua consciência, mesmo que assim se imaginasse.

Do mesmo modo, o eu orteguiano também jamais será somente o eu, uma vez que sempre será abrangido por sua circunstância. Nascerá já com ela, e com ela caminhará por toda a existência, mesmo que se imagine independente dela.

Ortega y Gasset, contudo, apesar de não apresentar propriamente um modelo que abranja o psiquismo do indivíduo humano, estabelece traços que podem delineá-lo ou, pelo menos, atribuir-lhe uma noção própria de funcionamento, tocando em questões características da complexidade do ser humano.

Desse modo, os traços delineadores da noção de indivíduo humano, para Ortega y Gasset, podem ser descritos a partir de quatro constituintes do eu orteguiano. Três deles expressos diretamente em seu livro El Espectador V, de 1926, que são: vitalidade, alma e espírito (Ortega y Gasset, 1926/1963aOrtega y Gasset, J. (1963a). El fondo insobornable. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 83-87). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926)). E um quarto, mais significativo para este estudo e citado em alguns textos - dentre eles El Espectador I, de 1926 -, que deixa transparecer a profunda singularidade do humano: el fondo insobornable3 3 O fundo insubornável (tradução nossa). . Esse quarto constituinte apresenta-se com uma característica de intangibilidade, sendo particularmente decisivo para o destino humano, como será apontado no decorrer deste texto.

Antes, porém, de citar detalhadamente os traços delineadores do indivíduo humano, conforme propostos por Ortega y Gasset, bem como de aproximar a circunstância orteguiana de uma perspectiva do inconsciente junguiano, voltar-me-ei para a descrição de Ortega y Gasset a respeito de dois pontos que considero fundamentais para entendimento do modo como se insere o indivíduo humano no contexto amplo da circunstância que o envolve, que são: a distinção entre o humano e o inumano, e o contexto de coimplicação eu-circunstância, a partir da percepção do eu orteguiano.

Inumano-humano

“O poder que o homem tem, de retirar-se, virtual e provisòriamente, do mundo, e recolher-se dentro de si mesmo, ou dito com esplêndido vocábulo, que só existe em nosso idioma: que o homem pode ensimesmar-se4 4 Referia-se Ortega, naturalmente, ao espanhol, sem se lembrar que no português também existe o verbo (nota do tradutor). ” (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957), p. 57). O homem, conforme o pensamento de Ortega y Gasset, distingue-se de absolutamente tudo que há sobre a Terra, inclusive do animal, do qual seria biologicamente o mais assemelhado, por singularidades que passam necessariamente pelo que ele denominou de ensimesmamento. Por outro lado, em contraponto ao ensimesmamento, impõe-se naturalmente ao homem - como também ao animal - o estado de alteração, que Ortega y Gasset descreve como o estado de atenção voltada unicamente para o que existe fora de si, para o outro e o mundo, de modo que, neste caso, o vocábulo outro estaria representado por seu correspondente latino alter, sendo que dizer que o animal se encontra sempre em estado de alter-ação seria o mesmo que afirmar que ele não pode viver voltado para si mesmo, uma vez que encontra-se em perpétua atenção voltada para o mundo (para o que há fora de si), seja por medo, seja por apetites. De todo modo, os objetos e os acontecimentos do mundo teriam posse completa da atenção e da ação do animal (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957)).

O homem, por sua vez, apesar de também encontrar-se naturalmente em estado de alteração, cercado pelas coisas do mundo, as quais também despertam seus medos e apetites, distingue-se do animal pela possibilidade única de desligar-se do que há em volta e colocar-se por instantes dentro de si mesmo, voltando-se, assim, para sua intimidade, ensimesmando-se. Todavia, apesar de ser uma possibilidade única do homem, o ensimesmar-se, conforme ressalta Ortega y Gasset, não se constitui numa condição pertencente ao homem, tendo em vista que seria sempre necessário um grande esforço pessoal para ativar instantes de concentração em si mesmo, a ponto de manter sua atenção fixa nas ideias que brotam dentro dele e que são suscitadas pelas coisas do mundo. O homem precisou de milhares de anos para educar essa capacidade de concentração, pois lhe é natural voltar-se para as coisas do mundo, dispersar-se, assim como acontece ininterruptamente com o animal (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957)).

Nesse ponto, é importante destacar que, mesmo nos homens mais primitivos, aqueles que estavam praticamente em estado ininterrupto de alteração, tal esforço de ensimesmamento, ainda que minimamente elaborado, foi o responsável por separar radicalmente a vida humana da existência animal, pois o homem primitivo, após incipientes e rudimentares ensimesmamentos, volta-se novamente para o mundo, mas agora estando um pouco mais capacitado para resistir a ele, visto que passa a considerar, cada vez mais, o contexto do momento futuro como seu foco de planejamento para novas ações. A repetição do esforço de ensimesmamento fez com que o homem aos poucos se tornasse capaz de produzir transformações em volta de si que, mesmo que fossem mínimas, acabavam por tornar possíveis outros momentos, um pouco mais duradouros e mais frequentes, do ensimesmar-se. Assim, a vida autenticamente humana foi concebida por Ortega y Gasset como composta de três momentos distintos, que se repetem de modo cíclico: 1) a alteração; 2) o ensimesmamento; e 3) a ação autêntica. Note-se que a ação humana, dita autêntica, se distingue radicalmente da ação animal por conta do esforço do ensimesmamento (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957)).

Para Ortega y Gasset, o destino do homem deve ser entendido como ação. Sendo, contudo, importante ressaltar que a ação humana se distingue fundamentalmente da ação animal, tendo em vista que, enquanto os animais agem por determinação de sua espécie, os homens estão em constante por fazer ou que fazer, o que torna dramática a ação deles. A ação humana é sobretudo dramática justamente pelo fato de que o homem nunca poderá estar absolutamente seguro do que irá acontecer no instante seguinte e, desse modo, permanece sempre em risco, em virtude de que necessita constantemente decidir-se, escolher o que fazer, para a realização de sua própria história. O homem não consegue ter certeza nem mesmo de que está pensando por si, ensimesmando-se, uma vez que pode assumir, como pensamento próprio, a repetição de ideias alheias que, além de não serem próprias, podem até mesmo ser totalmente impraticáveis (ilógicas) ou abstratas (desvinculadas de experiências reais). Desse modo, encontrar-se-ia também sempre em risco de não ser ele mesmo, como ser único e intransferível que é, justamente pelo fato de não se esforçar por ensimesmar-se, a partir de suas experiências únicas e vivencialmente sentidas. Assim, o homem corre sempre o risco, em sua realidade dramática, de desumanizar-se por faltar-lhe o esforço prático necessário do ensimesmamento, como também o risco constante de não assumir sua individualidade pessoal, recusando o que foi sinalizado por Píndaro (filósofo grego do século V a.C.) ao expressar “torna-te o que és”, num chamamento para que cada indivíduo humano assuma o seu drama pessoal, na tentativa de ser ele mesmo, na sua busca misteriosa de realização como homem e como indivíduo (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957)).

Nesse ponto podem surgir perguntas, especialmente no que diz respeito aos motivos que levariam um indivíduo humano a buscar o caminho do ensimesmamento e, consequentemente, de sua realização pessoal. Quanto a isso, Ortega y Gasset sinaliza que a realização da vida humana estaria diretamente associada a um imperativo de autenticidade e, também, ao atendimento da vocação pessoal. Conforme discussão proposta por Gonçalves Júnior (2003Gonçalves Júnior, A. F. (2003). Pressupostos para o agir moral segundo Ortega y Gasset. Revista Reflexão, 28(83-84), 51-65.), o imperativo de autenticidade se manifesta por meio de um chamamento íntimo, radicado em um campo estritamente particular do indivíduo (seu fundo insubornável), funcionando como um sinalizador para o caminho de realização, de modo que cada indivíduo seria impelido a ser o que tem de ser. Surge, então, um aparente paradoxo quanto ao aspecto da liberdade pessoal, tendo em vista que o indivíduo humano teria que cumprir um destino pessoal que, de modo apriorístico, estaria estabelecido como um projeto singular de vocação. Sendo assim, onde está, então, a liberdade humana? A grosso modo, está justamente no fato da realização ou não do seu destino, ou mesmo na escolha do caminho para atendimento ou não do imperativo de autenticidade vocacional. Desse modo, a liberdade humana estaria certamente presente, mesmo que não seja plena, ainda mais que a liberdade plena não passa, simplesmente, de uma antiga utopia humana. Nesse sentido, a condição específica de vocação individual acabaria por ressaltar ainda mais o drama pessoal do indivíduo humano, pois este não estaria somente constantemente obrigado a escolher suas ações para manifestar-se propriamente como humano, a partir do ensimesmamento, mas sobretudo para realizar-se continuamente como indivíduo, a partir de suas sinalizações íntimas de atendimento ou não de sua vocação pessoal, expressas por sentimentos de satisfação ou desgosto (sofrimento íntimo) na realização de suas atividades cotidianas, percebendo-se, consequentemente, mais ou menos distante de sua realização pessoal na vida. Tanto que no primeiro quanto no segundo processo de escolha, o indivíduo humano está constantemente envolvido por suas circunstâncias diversas e, a partir de seu contato pessoal com elas, deve livremente tomar decisões e agir, seja para sua sobrevivência material, seja para sua realização humana ou, ainda, para sua realização individual (vocacional).

Eu-circunstância

Nessa linha de pensamento, ao considerar a perspectiva de drama pessoal, pode-se perceber que o eu orteguiano se encontra inserido em uma realidade determinada (circunstância), onde ele terá inexoravelmente que agir, num processo constante, visando tornar-se. A incerteza e a indeterminação do caminho a ser trilhado são suas companheiras prementes, de modo que o homem deve se sentir, inevitavelmente, perdido antes que possa ansiar por encontrar-se.

é constitutivo do homem, diferentemente de todos os demais sêres, o ser capaz de perder-se, de se perder na selva da existência, dentro de si mesmo, e graças a essa outra sensação de perda, re-operar energicamente para voltar a encontrar-se. A capacidade e o desgôsto de sentir-se perdido são o seu trágico destino e seu ilustre privilégio. (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957), p. 77)

O indivíduo humano, na sua perspectiva de drama pessoal, é impelido a agir na circunstância na qual se encontra. Para tanto, deve perceber como se relaciona com sua circunstância, em suma, como se dá a conexão eu-circunstância.

Nesse sentido, pensemos essa conexão a partir do pensamento de Ortega y Gasset, que, ao tratar a respeito do indivíduo humano, disse eu sou eu e minha circunstância, se não salvo a ela não salvo a mim, sendo claro quanto à coimplicação entre o indivíduo e sua circunstância pessoal e, assim, destacou também a separação entre o eu e a circunstância, como estruturas absolutamente distintas, de modo que cabe ao indivíduo (ao eu) a responsabilidade pela ação autêntica na tentativa de compreender e apreender sua circunstância estritamente pessoal, para que possa encontrar-se e realizar-se enquanto indivíduo. Nesse sentido, considerando Ortega y Gasset, pode-se dizer que o homem vive enquanto tudo o mais existe, ou seja, está aí como circunstância quer queiramos ou não, pois propriamente ex-iste (do latim ex, “para fora”, e sistere, “estar posto”), como realidade radical, em que cada indivíduo está enraizado para perviver (sobreviver longamente) ao re-sitir (do latim resistere, “movimento contrário ao que está posto”) à sua circunstância. Por outro lado, a circunstância como um todo existe porque nós já a encontramos posta e sobre a qual teremos que agir para persistir (do latim persistere, “movimento através do que está posto”) vivendo (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957)).

Ao nascer, o indivíduo já encontra a circunstância posta (existente), o mundo aí está, de modo que a única escolha possível é como vivenciar a circunstância, que, por sua vez, se revela num lugar e tempo específicos, numa cultura e família (num sentido amplo) específicas, como também em tudo o mais que está posto. Cada indivíduo sempre encontra já presente um aqui e, sobretudo, um agora, que não é eterno, mas com tempo contado, finito, que raramente ultrapassa cem anos de vida terrena. Chega a esse mundo sem trazer nada material (a não ser o próprio corpo), totalmente indefeso, e o deixa sem saber para onde irá e sem levar nada material (nem mesmo o próprio corpo). Eis o drama humano que se impõe. Eis a circunstância já posta.

Para ser, isto é, para continuar sendo, tem de estar sempre fazendo algo, mas isso que há-de fazer não lhe é imposto nem pré-fixado; antes: há-de escolhê-lo, há-de decidir, intransferivelmente, por si e diante de si, sob sua exclusiva responsabilidade. Ninguém pode substituí-lo nesse decidir sobre o que vai fazer, pois, inclusive o entregar-se à vontade de outro, é ele quem tem de decidir. Esta imperiosidade de ter de escolher e, portanto, estar condenado, queira ou não, a ser livre, a ser, por sua própria conta e risco, provém de que a circunstância nunca é unilateral, tem sempre vários e, às vezes, muitos lados. Isto é: convida-nos a diferentes possibilidades de fazer, de ser. (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957), p. 83)

A partir de sua circunstância, impõe-se ao indivíduo humano a liberdade para escolher como agir no ambiente em que se encontra, tendo em vista que haverá sempre ações disponíveis para escolha. O indivíduo humano encontra-se, assim, condenado a ser livre, de modo que sua vida assumirá um sentido biográfico, pois cada indivíduo tem que viver a sua própria vida, sendo responsável pessoalmente por ela. A circunstância pessoal impõe, assim, uma verdade radical a cada indivíduo humano, já que cada um tem que viver e sentir a sua própria vida, e somente a sua; tudo o mais que não for sentido diretamente pelo indivíduo específico será para ele uma verdade secundária, mas nunca radical. Como realidade secundária, por exemplo, pode-se perceber a dor do outro, enquanto na realidade radical sentirá em si mesmo a própria dor. Somente o que é sentido em si mesmo poderá radicar-se no indivíduo. A realidade radical faz com que a vida humana seja sempre pessoal, circunstancial, intransferível e responsável, pois para cada ato haverá também suas consequências (Ortega y Gasset, 1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957)).

Ortega y Gasset apresenta, em detalhes, a partir da percepção humana, a estrutura que compõe a circunstância em que todo indivíduo humano tem que viver. Primeiramente, esclarece que, como a circunstância é composta por elementos diversos, a atenção do indivíduo nunca estará em mais de um elemento como foco principal, e mesmo o elemento observado não é visto em todas as suas faces ao mesmo tempo. Se observarmos um objeto qualquer (como um lápis, por exemplo), não poderemos vê-lo por inteiro, em um mesmo instante, de modo que para vê-lo integralmente temos que movimentá-lo, fazendo-o girar, para expor todas as suas faces à visão. Assim, formamos uma imagem completa, mas, mesmo assim, só teremos a visão de uma única face do objeto por vez, enquanto as outras faces, ao serem guardadas na memória, podem somar-se àquela que está sendo vista. Em resumo, pode-se dizer que teremos sempre uma única face visível por vez, dita presente, e as outras faces serão lembradas, denominadas compresentes.

Ortega y Gasset sinaliza outra situação: quando estamos dentro de um ambiente fechado qualquer, temos tão somente a memória do que há fora dele, ou pelo menos a percepção de que há algo fora, pois estamos habituados ao fato de que, estando no interior de um ambiente, haverá habitualmente também um contexto externo (uma paisagem qualquer), de modo que tomaríamos um enorme susto se, ao sairmos do ambiente, não encontrássemos do lado de fora coisa alguma, ou seja, se só houvesse um imenso e perturbador vazio. Então, junto às noções de presente e compresente, Ortega y Gasset acrescenta outras noções: de atualidade (relacionado ao presente, que está sendo visto) e de habitualidade (relacionado ao compresente, que se espera ver ou que se imagina que será visto).

A partir dessas noções (presente, compresente, atualidade e habitualidade), Ortega y Gasset estabelece o que ele chama de as leis estruturais da circunstância, sendo que a primeira delas diz que a circunstância vital, concernente à realidade radical do indivíduo, é composta de poucos elementos visíveis (presentes) e de inúmeros elementos não visíveis (compresentes), que também podem ser entendidos como latentes ou ocultos. A segunda lei estrutural estabelece que nunca está presente uma coisa sozinha, mas, ao contrário, sempre vemos um único elemento como foco principal (figura em destaque) e outros elementos como foco secundário (fundo da imagem em destaque), que são vistas como contorno do elemento em destaque. Fora desse âmbito de visão haverá sempre uma enorme quantidade de elementos latentes, sendo que um horizonte seria a estrutura que se estabelece como linha fronteiriça entre a porção patente da circunstância e a sua porção latente.

É importante ressaltar que a percepção humana é bem mais ampla do que simplesmente o âmbito da visão, sendo que este foi utilizado aqui, para exemplificar, apenas como uma forma de estratégia didática, visando uma melhor compreensão inicial, pois as citadas leis estruturais das circunstâncias, conforme Ortega y Gasset (1957/1960Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957)), abrangem todas as possibilidades de um sentir humano. Assim, o eu orteguiano deve ser entendido como bem mais amplo do que o âmbito da visão ou mesmo da consciência, sendo que ele deve ser delineado a partir dos seus quatro constituintes individuais: vitalidade, alma, espírito e fundo insubornável.

Constituintes do eu orteguiano

Ortega y Gasset sinaliza que os constituintes do eu orteguiano compõem o que ele denomina de estrutura da intimidade humana, sendo que esta deveria ser tomada em conjunto para o entendimento dos fenômenos psíquicos. Para ele, o indivíduo humano deve ser considerado como um todo indivisível e não homogêneo, uma vez que é composto por elementos distintos que só podem ser considerados como elementos de um indivíduo se percebidos em um conjunto integrado, tendo, cada um deles, função e funcionamento próprios (por vezes em choque) que estariam em contato permanente entre eles, numa tentativa constante de integração harmônica para realização humana e individual (Ortega y Gasset, 1926/1963bOrtega y Gasset, J. (1963b). Vitalidad, alma, espíritu. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 451-492). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926)).

Necessitamos não perder nenhum ingrediente: alma e corpo. Vamos, por fim, para um tempo cujo lema não pode ser: “Ou um ou outro” - lema teatral, só aproveitável para gesticulações. O novo tempo avança com letras nas bandeiras: “um e outro”. Integração. Síntese. Sem amputações5 5 No original: “Necesitamos no perder ningún ingrediente: alma y cuerpo. Vamos, por fin, hacia una edad cuyo lema no puede ser: “O lo uno o lo otro” – lema teatral, sólo aprovechable para gesticulaciones. El tiempo nuevo avanza con letras en las banderas: “Lo uno y lo otro”. Integración. Síntesis. No amputaciones”. . (Ortega y Gasset, 1926/1963bOrtega y Gasset, J. (1963b). Vitalidad, alma, espíritu. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 451-492). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926), p. 455, tradução nossa)

Para conhecer o todo da estrutura da intimidade humana deve-se delinear os constituintes do eu orteguiano descritos por Ortega y Gasset (1926/1963bOrtega y Gasset, J. (1963b). Vitalidad, alma, espíritu. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 451-492). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926)) como quatro porções da intimidade humana interligadas. A primeira porção, a vitalidade, estaria intrinsecamente fundida ao corpo, por isso também denominada de alma carnal. Tal porção é identificada como o cimento da estrutura da intimidade humana, pois na vitalidade se fundiriam radicalmente o somático e o psíquico, o corporal e o espiritual, sendo que tanto um quanto outro emanariam desta porção e se nutririam dela. A segunda porção da intimidade humana foi denominada de espírito ou mente, que corresponde ao centro da consciência humana e é apontada, por Ortega y Gasset (1926/1963bOrtega y Gasset, J. (1963b). Vitalidad, alma, espíritu. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 451-492). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926)) como a porção mais pessoal do eu orteguiano. Porém, o mais pessoal não é o mais individual, tendo em vista que o pessoal, nesse caso, teria o sentido de protagonismo, de autoria, já que essa porção representa o centro da vontade humana, da decisão pessoal. A terceira porção é descrita por Ortega y Gasset como um constituinte intermédio que se localiza entre a constituição ampla, duradoura e abrangente da vitalidade, que aglutina e nutre as demais porções, e a constituição particular, instantânea e específica do espírito, que se manifesta na decisão pessoal: trata-se da alma, que pode ser identificada como a região do sentir pessoal (dos impulsos, desejos, sentimentos e emoções) (Ortega y Gasset, 1926-1963bOrtega y Gasset, J. (1963b). Vitalidad, alma, espíritu. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 451-492). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926)). Como quarta porção da estrutura da intimidade humana, Ortega y Gasset identifica o fundo insubornável, que seria a mais individual das porções, tendo em vista que se apresentaria como o centro mais singular do eu orteguiano, a funcionar como o impulsionador específico para a realização do seu destino individual, sentido somente a partir deste que seria o seu constituinte individualíssimo (Ortega y Gasset, 1926/1963bOrtega y Gasset, J. (1963b). Vitalidad, alma, espíritu. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 451-492). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926)).

Falava eu . . . de um certo fundo insubornável que há em nós. Geralmente, esse núcleo último e individualíssimo da personalidade está soterrado sob o aglomerado de julgamentos e formas sentimentais que de fora caíram sobre nós. Apenas alguns homens dotados de uma energia peculiar conseguem vislumbrar, em certos instantes, as atitudes deste que Bergson chamaria o eu profundo. De quando em quando chega à superfície da consciência sua voz recôndita6 6 No original: “Hablaba yo . . . de un cierto fondo insobornable que hay em nosotros. Generalmente, ese núcleo último e individualísimo de la personalidad está soterrado bajo el cúmulo de juicios y maneras sentimentales que de fuera cayeron sobre nosotros. Sólo algunos hombres dotados de una peculiar energía consiguen vislumbrar en ciertos instantes las actitudes de eso que Bergson llamaría el yo profundo. De cuando en cuando llega a la superficie de la consciencia su voz recóndita”. . (Ortega y Gasset, 1926/1963bOrtega y Gasset, J. (1963b). Vitalidad, alma, espíritu. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 451-492). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926), p. 84, tradução nossa, grifos do autor)

A estrutura da intimidade humana para Ortega y Gasset seria composta, desse modo, por quatro constituintes do eu orteguiano, os quais poderiam ser percebidos como quatro centros: a vitalidade, o centro nutridor mais difuso e abrangente (a alma carnal); o espírito, o centro decisório e mais pessoal do eu orteguiano (seu eu consciente); a alma, o centro intermédio entre a vitalidade e o espírito (a região do sentir); e o fundo insubornável, o centro mais singular do eu orteguiano (seu eu profundo).

Ortega y Gasset, ao tratar especificamente do fundo insubornável, entendendo-o como uma espécie de um eu profundo, faz sua contraposição com algo que ele denomina de farsa. Assim, o fundo insubornável corresponderia a uma verdade intrínseca de cada indivíduo humano, de modo que todas as realidades vividas em distanciamento a essa verdade teriam que surgir como farsas, ou realidades fingidas. A missão vocacional do indivíduo humano deve ser manifestada em sua história de vida, de modo premente, caso contrário, ele estaria a vivenciar os dissabores de uma vida de farsa (Gonçalves Júnior, 2003Gonçalves Júnior, A. F. (2003). Pressupostos para o agir moral segundo Ortega y Gasset. Revista Reflexão, 28(83-84), 51-65.).

Consciente-inconsciente-indivíduo

Para adentrar, especificamente, em considerações a respeito da circunstância de Ortega y Gasset, de modo a aproximá-la do inconsciente junguiano, previamente, devo trazer uma percepção do que seja o inconsciente para o pensamento junguiano. Para tanto, ressalto que Ortega y Gasset não se aprofundou propriamente em discussões sobre o tema (inconsciente), mesmo que o deixe transparecer quando trata da percepção humana fora do âmbito da consciência (presente ou patente), ao considerar a existência do compresente, oculto ou latente.

Na perspectiva de Jung, o inconsciente é porção fundamental para a consideração de um indivíduo (in-dividuum) humano, tendo em vista que este indivíduo deve ser percebido como uma unidade ou todo indivisível, considerando-se que os conteúdos e processos inconscientes, flagrantemente perceptíveis, devem logicamente compor também a totalidade do indivíduo, extrapolando seus conteúdos e processos conscientes, seu eu consciente (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976)).

Deste modo, pode-se considerar que o inconsciente se diferencia consideravelmente da consciência, tendo em vista que esta possui claramente um centro regulador, que se confunde com o próprio eu, enquanto para o inconsciente algo análogo não é percebido, uma vez que os fenômenos inconscientes frequentemente manifestam-se, pelo menos na percepção do eu consciente, de modo caótico e não sistemático (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976)).

Tal manifestação pode ser percebida mais claramente no campo da psiquiatria, ou até mesmo em manifestações corriqueiras como os sonhos, de forma que os conteúdos revelados, nesses casos, parecem estar totalmente desordenados e, por isso, passam a ser considerados como desprovidos de um sentido lógico. É como se o indivíduo fosse tomado por uma avalanche de conteúdos que não podem ser compreendidos, por estarem distantes do padrão da consciência. Tal avalanche é, por vezes, tão poderosa que pode causar até a destituição do eu da consciência como regulador e, assim, o inconsciente passaria a assumir uma posição de destaque, que é entendida, normalmente, como a manifestação da “loucura”, da insanidade, da confusão mental. Mas, uma vez que haja essa manifestação, presume-se que tais conteúdos inconscientes já deveriam compor, previamente, a totalidade da psique do indivíduo (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976)).

Note-se que, enquanto os conteúdos inconscientes permanecem ocultos, parecerá, normalmente, que eles nem existem. Até que subitamente surjam de um modo inesperado. Assim, ao invés de entendermos o inconsciente como algo que não existe, devemos entendê-lo como potencialmente já existente e atuante na psique, tanto na condição de algo já pronto (seu mundo instintivo) quanto na de algo possível (seu mundo de potencialidades humanas). Quanto a essa caracterização do inconsciente, Jung distingue-os em dois grupos: o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976)).

O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um inconsciente pessoal pelo fato de que não deve sua existência à experiência pessoal, não sendo portanto uma aquisição pessoal. Enquanto o inconsciente pessoal é constituído essencialmente de conteúdos que já foram conscientes e no entanto desapareceram da consciência por terem sido esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca estiveram na consciência e portanto não foram adquiridos individualmente, mas devem sua existência apenas à hereditariedade. (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976), p. 53)

Tratando especificamente do inconsciente coletivo, podemos entendê-lo como um mundo instintivo e também como um mundo de potencialidades humanas. Com relação ao mundo instintivo, é perceptível que todo indivíduo humano nasce com uma carga biopsicossocial já posta, que compõe sua ancestralidade, seu conteúdo histórico, sendo praticamente coincidente com o que Ortega y Gasset descreve como sendo a circunstância encontrada pelo eu ao nascer. Com relação a esse mundo de potencialidades humanas, é perceptível que todo indivíduo ao nascer traz uma série de potencialidades próprias do humano ou dele especificamente enquanto indivíduo (a vocação orteguiana, por exemplo), que podem ser realizadas ou não. Nesse ponto, é importante destacar que o inconsciente abrange, seja para o passado (ancestralidade), seja para o futuro (potencialidades), um período longo de tempo, desde milênios passados até uma vida terrena inteira (e descendências). Já a consciência pensa o momento mais presente, sendo, por isso, mais imediatista, como também frequentemente injusta com relação ao inconsciente, por não o perceber como seu originador, tendo em vista que ele já vivia e atuava desde o início da vivência humana, enquanto a consciência se alimenta e se estrutura a partir da bagagem presente, em grande parte mantida pelo inconsciente. A partir da imagem do inconsciente originador e mantenedor, ao contrário do que se pensa, pode-se considerar que ele não pode se constituir por um amontoado caótico e não sistemático, pois, para manter tanta coerência e consistência milenar, há de existir um padrão mais amplo, em sua natureza equilibradora, do que é capaz de conceber a consciência. Tanto é que, frequentemente, quando um indivíduo humano se desvia, fundamentalmente, de seu mundo instintivo ou de potencialidades, quando pende para uma situação de unilateralidade, forças inconscientes tendem a colaborar, de modo compensatório, para a reorientação da meta, que visa restaurar o equilíbrio perdido (entre o inconsciente e a consciência) e a realização do indivíduo, mesmo que tais forças venham a agir em oposição à consciência e, por vezes, a tomar posse do indivíduo como medida salutar (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976)).

Desse modo, é possível concebermos o inconsciente como a porção mais abrangente na psique humana, tendo em vista que, por meio do seu eu consciente, enquanto a consciência é sempre limitada a um período de vida - como também a um limitado campo de atuação consciente -, o inconsciente é infinitamente mais antigo e duradouro, abrangendo conteúdos milenares passados e insondáveis possibilidades futuras, além de exercer uma regulação mais ampla por meio da ação compensatória inconsciente (para compensar a unilateralidade da consciência). De todo modo, a psique humana é composta por duas porções opostas, fundamentalmente significativas, e que juntas têm a condição de formar um todo, de compor o indivíduo. Contudo, essas duas porções só poderão compor uma totalidade individual se atuarem de modo equilibrado (cooperação consciente-inconsciente) e, assim, tenderá ao processo denominado de individuação (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976)).

Com referência a esse processo de individuação e sua relação com o eu, a consciência, o inconsciente e o indivíduo, Jung assim discorre:

Uso o termo “individuação” no sentido do processo que gera um “individuum” psicológico, ou seja, uma unidade indivisível, um todo. Presume-se em geral que a consciência representa o todo do indivíduo psicológico. A soma das experiências, explicáveis apenas recorrendo à hipótese de processos psíquicos inconscientes, faz-nos duvidar que o eu e seus conteúdos sejam de fato idênticos ao “todo”. Se existem processos inconscientes, estes certamente pertencem à totalidade do indivíduo, mesmo que não sejam componentes do eu consciente. Se fossem uma parte do eu, seriam necessariamente conscientes, uma vez que tudo aquilo diretamente relacionado com o eu é consciente. A consciência pode até ser igualada à relação entre o eu e os conteúdos psíquicos. Fenômenos ditos inconscientes têm tão pouca relação com o eu, que muitas vezes não se hesita em negar a sua própria existência. Apesar disso os mesmos manifestam-se na conduta humana. Um observador atento pode detectá-los sem dificuldade, ao passo que o indivíduo observado não tem a consciência de revelar seus pensamentos mais secretos, ou coisas nas quais nunca pensara conscientemente. É um preconceito supor que algo nunca pensado possa não ter existência dentro da psique. Há muitas provas de que a consciência está longe de abranger a totalidade da psique. Muitas coisas acontecem num estado de semiconsciência, e outras tantas sucedem inconscientemente. (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976), p. 269)

A circunstância e o inconsciente

Tendo como base os assuntos tratados até aqui, é possível vislumbrar uma atuação ampla do inconsciente na circunstância do indivíduo humano. Tal atuação pode ser percebida tanto no contexto da coimplicação eu-circunstância como também, e mais propriamente, no funcionamento das diferentes porções constituintes do eu orteguiano. Assim, considerando que o eu consciente, na concepção orteguiana, não abrange todos os seus constituintes, pretendo ampliar a concepção de circunstância, para que esta possa incluir também o funcionamento de porções constituintes do próprio eu orteguiano em sua estruturação da intimidade humana, pois tais porções, muitas vezes inconscientemente, também envolvem o eu consciente e sobre ele atuam.

Tomo a liberdade de considerar que a famosa frase de Ortega y Gasset citada inicialmente impõe ainda uma ampla coimplicação psíquica, como a que pretendo considerar aqui, na suposição de que a coimplicação entre os constituintes do eu orteguiano se apresentaria mais intensa do que aquela que envolve a relação entre o eu consciente e a sua circunstância, tendo em vista que, quando envolve os próprios constituintes individuais, haverá certamente uma relação que compreende a própria identidade individual e a estrutura de intimidade do indivíduo. Desse modo, passo a considerar que parte das porções constituintes do eu orteguiano funcionariam também como circunstâncias que atuam sobre a consciência do indivíduo, dado que aspectos inconscientes deste poderiam ser identificados como circunstância em coimplicação com o seu eu consciente.

Ao destrinchar o eu orteguiano em seus constituintes, que por sua vez compõem a estrutura da intimidade humana, posso imaginar que esses seriam caracterizados tanto pela consciência, representada principalmente pela porção denominada espírito ou mente, mas também pela alma, como a região dos sentimentos e emoções, e pelo inconsciente, que estaria presente nas porções: (a) alma, por meio dos impulsos e desejos inconscientes; (b) vitalidade, por sua constituição abrangente, nutridora e mantenedora, fundamentalmente inconsciente; e, ainda, (c) o fundo insubornável, que se constitui como um eu profundo impulsionador e sinalizador do destino vocacional do indivíduo humano.

Vê-se, então, que sobre o centro pessoal consciente orteguiano atuam forças e conteúdos inconscientes, tanto por meio de suas circunstâncias exteriores quanto a partir de suas próprias porções constituintes, devendo-se destacar, dentre elas, a força da vitalidade, os impulsos e os desejos da alma e o profundo sentido do fundo insubornável.

Jung (1971/1987Jung, C. G. (1987). O eu e o inconsciente (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 3a ed., Vol. 7, D. M. R. F. Silva, trad.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1971)), a respeito da atuação do inconsciente, diz:

o inconsciente não é apenas um espelhar reativo, mas atividade produtiva e autônoma, seu campo de experiência constitui uma realidade, um mundo próprio. Deste último podemos dizer que atua sobre nós do mesmo modo que atuamos sobre ele, ou seja, o mesmo que podemos dizer acerca do campo empírico do mundo exterior. Mas enquanto no mundo exterior os objetos são os elementos constitutivos, na interioridade os elementos constitutivos são os fatores psíquicos. (pp. 60-61)

Aproveito especificamente essa citação de Jung, conforme destacado, para conceber de modo exemplificativo uma aproximação entre a circunstância orteguiana e o inconsciente junguiano, tendo em vista que, na citação, Jung considera o inconsciente como uma realidade autônoma e atuante a partir de um mundo próprio que difere substancialmente do mundo da consciência. Tal mundo inconsciente atua sobre nós (eu consciente) e nós atuamos sobre ele, do mesmo modo como agimos sobre o mundo exterior (circunstância exterior). Jung ainda ressalta que no mundo exterior os objetos são os seus elementos constitutivos que se relacionam com a consciência, enquanto no mundo interior (interioridade) os fatores psíquicos são os elementos constitutivos em relação com o eu consciente. Assim, o eu consciente em Ortega y Gasset, identificado como espírito ou mente, se relacionaria com duas circunstâncias substancialmente distintas: a exterior e a interior (circunstância enquanto partes constituintes do eu orteguiano). De todo modo a circunstância em Ortega y Gasset poderia ser percebida como inconsciente tanto no que se identifica como circunstância exterior quanto nas partes constituintes do eu que agem sobre a consciência pessoal. Na circunstância exterior, os aspectos inconscientes estariam presentes naquilo que Ortega y Gasset identifica como compresente, latente ou oculto, sobretudo no que transcende à memória pessoal e coletiva, pois não se sabe mais de sua existência, mas, mesmo assim, continua a agir sobre a consciência pessoal (ancestralidade para Jung). Já na circunstância interior, os aspectos inconscientes estariam relacionados ao que é pessoal, mais especificamente naquilo que Ortega y Gasset identifica como partes constituintes do eu orteguiano, que, apesar de integrarem a sua composição pessoal, não integram, todavia, a sua consciência (eu consciente). Conforme dito anteriormente, partes constituintes do eu orteguiano agem de modo inconsciente, ininterruptamente, sobre seu centro pessoal de consciência (mente ou espírito).

Considerações finais

As considerações apresentadas neste estudo são incipientes e tencionam conceber a abrangência da coimplicação do eu-circunstância de Ortega y Gasset além do campo da consciência. Como o próprio autor esclarece, a atenção do indivíduo não consegue estar voltada para mais de um objeto (conteúdo) ao mesmo tempo, sendo que a maior parte do conteúdo total (conhecido e desconhecido) estará ocupando posições secundárias ou ocultas (fundo de uma figura em destaque ou algum conteúdo que esteja além do horizonte de percepção).

A memória de um indivíduo abrange apenas parte do que é vivenciado por ele, sendo que a maior parte ou foi esquecido ou nunca foi sabido. A consciência do indivíduo é, certamente, diferenciada por ser capaz de realizar grandes feitos, mas é, ao mesmo tempo, incapaz de estabelecer o controle sobre tudo o que se relaciona com o indivíduo, seja a parte inconsciente que está em si, seja o inconsciente que está no mundo. De todo modo, a consciência do eu não consegue abranger nem mesmo conceber os conteúdos inconscientes em atuação constante nas circunstâncias, seja enquanto inconsciente pessoal, seja enquanto inconsciente coletivo.

Considerando o conceito orteguiano do eu-circunstância a partir dessa amplitude abrangente do inconsciente, que está presente na circunstância exterior e também no eu (circunstância interior), é possível supor que, ao buscar sua salvação (compreender o significado de sua vida na coimplicação eu-circunstância), o eu orteguiano depara-se com sua incapacidade limitante, pois nem todos os conteúdos podem ser percebidos e memorizados por seus sentidos conscientes, tendo em vista os inúmeros conteúdos inconscientes que permanecerão inconscientes. Desse modo, o drama do indivíduo mostra-se intensificado pela falta de capacidade para compreensão consciente (racional), pois configura-se abrangido pela incerteza e indeterminação constantes. A presença do inconsciente faz com que o indivíduo se sinta perdido e, por isso, motiva-se a (anseia) buscar sempre o sentido de sua vida, alternando a sua atenção para a circunstância exterior (estado de alteração) e para a circunstância interior (estado de ensimesmamento), se tomarmos como base os três momentos cíclicos da ação autêntica orteguiana. Sua atenção alterna-se e só assim faz com que o indivíduo possa vir a vivenciar sua singularidade radical.

Ao considerar tal quadro, pode-se afirmar que é perceptível o vivenciar paralelo ininterrupto do mundo inconsciente junguiano, que não é inconsciente por conta do esquecimento, mas que é ativo, produtivo e autônomo, e que, por sua vez, é independente da consciência ou mesmo do indivíduo para existir, sendo anterior a ele.

Esse mundo inconsciente é uma realidade indelével que atua sobre o indivíduo e está coimplicada a ele, enquanto circunstância orteguiana. Imagens arquetípicas formariam a base para esse mundo (circunstância do inconsciente coletivo), que impulsionariam o existir e o atuar humanos. O indivíduo, por sua vez, também age sobre esse mundo inconsciente, de modo semelhante ao que atua sobre o mundo sensível das formas concretas (seu mundo empírico).

Os conteúdos pessoais inconscientes advindos da interação indivíduo-circunstância também têm força para atuar sobre o indivíduo e, seguramente, atuam numa espécie de retroalimentação constante. Entretanto, em termos de força e potencialidades, essa circunstância pessoal inconsciente não se compararia ao caráter impulsionador da circunstância arquetípica (inconsciente coletivo e seus arquétipos).

Enfim, considero que a circunstância com a qual o indivíduo humano está indissoluvelmente coimplicado é significativamente abrangente e intrinsecamente relacionada ao inconsciente junguiano (sobretudo o coletivo), de modo que a importância da circunstância inconsciente coimplicada com a consciência do indivíduo pode ser facilmente distinguida nas palavras seguintes de Jung, destacadas a seguir:

O inconsciente coletivo é tudo, menos um sistema pessoal encapsulado. É objetividade ampla como o mundo e aberta ao mundo. Eu sou o objeto de todos os sujeitos, numa total inversão de minha consciência habitual, em que sempre sou sujeito que tem objetos. Lá eu estou na mais direta ligação com o mundo, de forma que facilmente esqueço quem sou na realidade. “Perdido em si mesmo” é uma boa expressão para caracterizar este estado. Este si-mesmo, porém, é o mundo, ou melhor, um mundo, se uma consciência pudesse vê-lo. Por isso, devemos saber quem somos.

Mal o inconsciente nos toca e já o somos, na medida em que nos tornamos inconscientes de nós mesmos. (Jung, 1976/2002Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976), p. 32)

Referências

  • Assumção, J. (2012). Homem-massa: a filosofia de Ortega y Gasset e sua crítica à cultura massificada. Porto Alegre, RS: Bestiário.
  • Gonçalves Júnior, A. F. (2003). Pressupostos para o agir moral segundo Ortega y Gasset. Revista Reflexão, 28(83-84), 51-65.
  • Jung, C. G. (1987). O eu e o inconsciente (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 3a ed., Vol. 7, D. M. R. F. Silva, trad.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1971)
  • Jung, C. G. (2002). Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Coleção Obras completas de C. G. Jung, 2a ed., Vol. 9, M. L. Appy & D. M. R. F. Silva, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1976)
  • Ortega y Gasset, J. (1960). O homem e a gente (J. C. Lisboa, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Livro Ibero-Americano. (Trabalho original publicado em 1957)
  • Ortega y Gasset, J. (1963a). El fondo insobornable. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 83-87). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926)
  • Ortega y Gasset, J. (1963b). Vitalidad, alma, espíritu. In Obras completas de José Ortega y Gasset (6a ed., Vol. 2, pp. 451-492). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1926)
  • Ortega y Gasset, J. (1966). Meditaciones del Quijote. In Obras completas de José Ortega y Gasset (7a ed., Vol. 1, pp. 310-400). Madrid: Revista de Occidente. (Trabalho original publicado em 1914)
  • Penna, E. M. D. (2013). Epistemologia e método na obra de C. G. Jung. São Paulo, SP: Educ.
  • Santos, V. R. (1998) O homem e sua circunstância: introdução à filosofia de Ortega y Gasset. Revista Metanoia, 1, 61-64.
  • 1
    No original: “Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo”.
  • 2
    No original: “Es decir, buscar el sentido de lo que nos rodea”.
  • 3
    O fundo insubornável (tradução nossa).
  • 4
    Referia-se Ortega, naturalmente, ao espanhol, sem se lembrar que no português também existe o verbo (nota do tradutor).
  • 5
    No original: “Necesitamos no perder ningún ingrediente: alma y cuerpo. Vamos, por fin, hacia una edad cuyo lema no puede ser: “O lo uno o lo otro” – lema teatral, sólo aprovechable para gesticulaciones. El tiempo nuevo avanza con letras en las banderas: “Lo uno y lo otro”. Integración. Síntesis. No amputaciones”.
  • 6
    No original: “Hablaba yo . . . de un cierto fondo insobornable que hay em nosotros. Generalmente, ese núcleo último e individualísimo de la personalidad está soterrado bajo el cúmulo de juicios y maneras sentimentales que de fuera cayeron sobre nosotros. Sólo algunos hombres dotados de una peculiar energía consiguen vislumbrar en ciertos instantes las actitudes de eso que Bergson llamaría el yo profundo. De cuando en cuando llega a la superficie de la consciencia su voz recóndita”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2018

Histórico

  • Recebido
    18 Jul 2017
  • Revisado
    17 Set 2017
  • Aceito
    30 Out 2017
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