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O mito de origem em famílias adotivas

Le mythe d’origine dans les familles adoptives

El mito de origen en familias adoptivas

Resumo

O presente estudo é parte de uma ampla investigação sobre a vivência de pais adotivos em relação à parentalidade e à filiação no período da adolescência de seus filhos adotivos. Realizamos uma pesquisa qualitativa, baseada em entrevistas semiestruturadas com 10 sujeitos, de classes média e alta da população do Estado do Rio de Janeiro, utilizando o método análise de conteúdo. Procuramos compreender, especificamente neste trabalho, questões referentes ao mito de origem, às narrativas construídas acerca da origem do vínculo de parentesco por adoção e às reatualizações dessas temáticas. Os dados obtidos mostraram que questões referentes ao mito permearam a curiosidade infantil sobre a origem e o desenvolvimento da sexualidade. A sensibilidade dos pais em reconhecer os questionamentos dos filhos apresentou-se como um fator promotor de saúde emocional familiar. Observamos a necessidade de elaboração da dupla filiação, tanto por pais quanto por filhos adotivos, a qual promove particularidades nos destinos sublimatórios.

Palavras-chave:
parentalidade; mito de origem; família adotiva; psicanálise

Résumé

Cette étude fait partie d’une large recherche plus sur l’expérience des parents adoptifs en matière de parentalité et de filiation dans la période de l’adolescence de leurs fils adoptés. Nous avons mené une étude sur le terrain, basée sur des entretiens semi-structurés avec 10 sujets de classes moyennes et supérieures de la population de l’État de Rio de Janeiro, et ces entretiens ont été analysés par la méthode d’analyse de contenu. Nous avons essayé d’analyser, en particulier dans ce travail, les questions relatives au mythe d’origine, les récits construits sur l’origine du lien familial par l’adoption et le réactualisations de ces thèmes. Les données obtenues ont montré que les questions liées au mythe a imprégné la curiosité des enfants sur l’origine et le développement de la sexualité. La sensibilité des parents à reconnaître les questions des enfants présentées comme un facteur de promotion de la santé émotionnelle de la famille. Nous avons remarqué la nécessité d’élaboration de la double filiation, aussi bien pour les parents que pour les enfants adoptés, ce qui engendre des particularités dans les destins sublimatoires.

Mots-clés:
parentalité; mythe d’origine; famille adoptive; psychanalyse

Resumen

El presente estudio es parte de una amplia investigación sobre la vivencia de padres adoptivos en relación a la parentalidad y a la filiación en el periodo de la adolescencia de sus hijos adoptivos. Realizamos una investigación cualitativa basada en entrevistas semiestructuradas con 10 sujetos, de clases media y alta de la población del Estado de Rio de Janeiro, y las entrevistas fueron analizados mediante el método de análisis de contenido. Buscamos analizar específicamente en este trabajo las cuestiones referentes al mito de origen, a las narrativas construidas acerca del origen del vínculo de parentesco por adopción y también las reactualizaciones de estas temáticas. Los datos obtenidos mostraron que las preguntas relacionadas con el mito impregnaban la curiosidad de los niños sobre el origen y desarrollo de la sexualidad. La sensibilidad de los padres para reconocer las preguntas de los niños se presenta como un factor de promoción de la salud emocional de la familia. Observamos la necesidad de elaboración de la doble filiación, tanto por los hijos como por los padres, con desdoblamientos en los destinos sublimatorios.

Palabras clave:
parentalidad; mito de origen; familia adoptiva; psicoanálisis

Abstract

This study is part of an extensive research on the experience of adoptive parents with regard to parenting and filiation in the adolescence of their adopted children. This qualitative study was conducted based on semi-structured interviews with 10 subjects from the middle and upper classes of the population from the state of Rio de Janeiro, using the method content analysis. This study focuses on issues related to the myth of origin, to the narratives constructed about the origin of adoptive kinship ties, and to the reinterpretation of these subjects. The data acquired showed that questions concerning the myth of origin permeated the children’s curiosity on the origin and development of sexuality. The parents’ sensibility in recognizing their children’s questions was a promoting factor for family emotional health. There is a need to elaborate double filiation, both by parents and adoptive children, which creates some particularities in sublimatory destinations.

Keywords:
parenting; myth of origin; adoptive family; psychoanalysis

Introdução

Observamos que, atualmente, o movimento da família contemporânea vem se fundando pelo viés afetivo. No início do século XX, deu-se a transição da lógica patriarcal hierarquizada para a lógica afetiva, respaldada na formação dos vínculos pelo amor romântico, admitindo-se a reciprocidade afetiva (Pereira & Arpini, 2012Pereira, C.R.R.P., & Arpini, D.M. (2012). Os irmãos nas novas configurações familiares. Psicologia Argumento, 69(30), 275-285.; Sulzer, 2014Sulzer, A. B. (2014). Limite e afeto na relação entre pais e filhos adotivos. In C. Ladvocat & S. Diuana. Guia de adoção: no jurídico, no social, no psicológico e na família (pp. 27-37). São Paulo, SP: Roca .). Acreditamos que essa transformação social, dentre outros fatores, teve influência na mudança do imaginário social acerca do respeito e da valorização dos laços de parentesco por adoção. Consequentemente, a visão de hoje sobre essa modalidade de parentesco diferencia-se de uma visão anterior, na qual a adoção era tida como um desvio à normalidade da filiação biológica (Schettini, Amazonas & Dias, 2006Schettini, S. S. M., Amazonas, M. C. L. A., & Dias, C. M. S. B. (2006). Famílias adotivas: identidade e diferença. Psicologia em Estudo, 11(2), 285-293.).

Na Constituição Brasileira, a partir da Lei nº 12.010/2009Brasil. Lei nº 12.010/2009: Estabelece mudanças importantes no campo da adoção. Recuperado de: Recuperado de: http://bit.ly/2RX7seq . Acesso em: 6 de fevereiro de 2019.
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, define-se família como uma comunidade formada por qualquer um dos pais e seus descendentes. Cardoso e Baiocchi (2014Cardoso, V. L., & Baiocchi, A. (2014). Preparação para adoção: o começo de uma nova família. In C. Ladvocat, & S. Diuana (Eds.). Guia de adoção: no jurídico, no social, no psicológico e na família (pp. 53-64). São Paulo, SP: Roca.) consideram importante destacar que essa lei torna possível a legitimação da complexidade das novas configurações familiares, levando em conta e valorizando os vínculos de afinidade e de afetividade que as compõem. A nossa legislação busca, acima de tudo, preservar e garantir os direitos de crianças e adolescentes, no sentido de oferecer-lhes proteção integral (Bittencourt, 2013Bittencourt, S. (2013). A nova lei de adoção: do abandono à garantia do direito à convivência familiar e comunitária (2a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Lumen Juris.).

Legendre (1985Legendre, P. (1985). Leçons: Tome 4, L’inestimable objet de la transmission: étude sur le principe généalogique en Occident (2a ed.). Paris: Fayard.) pontua que, no contexto da sociedade ocidental, a genealogia deve ser considerada um princípio institucional, considerando-se o risco de introduzir práticas dogmáticas que gerenciam um discurso produtor de uma verdade. Esse discurso é transplantado para a esfera jurídica, que passa a administrar as práticas familiares, estabelecendo um elo tridimensional entre o biológico, o social e o inconsciente, o qual possibilita que se viva em sociedade. Sendo assim, a família é uma instituição juridicamente legitimada e vigiada. No campo da adoção, esse processo de legitimação dos vínculos afetivos pela justiça permite que a filiação adotiva, intermediada pelos processos legais, proteja as relações familiares (Ladvocat, 2014Ladvocat, C. (2014). Campo clínico da prevenção na adoção. In C. Ladvocat & S. Diuana. Guia de adoção: no jurídico, no social, no psicológico e na família (pp. 149-157). São Paulo, SP: Roca .).

No contexto da adoção, desenvolvemos um amplo estudo sobre a parentalidade e a filiação adotivas, tendo como objetivo geral investigar a vivência de pais adotivos em relação à parentalidade e à filiação, no período da adolescência dos filhos. Neste trabalho, especificamente, buscamos discutir questões referentes ao mito de origem, às narrativas construídas acerca da origem do vínculo de parentesco por adoção e às reatualizações dessas temáticas.

Mito de origem

Ao falarmos de mito, referimo-nos a uma crença, uma tradição, mas não necessariamente ao que aconteceu. De acordo com Moretto e Terzis (2010Moretto, C. C., & Terzis, A. (2010). O mito e o grupo: algumas compreensões psicanalíticas. Revista da SPAGESP, 11(2), 24-31. ), os mitos são considerados sinais de ajuda ao ser humano, na procura da verdade sobre si mesmo, ou seja, são a busca por decifrar-se. Green (2007Green, A. (2007). Narcissisme de vie, Narcissisme de mort. Paris: Les Editions de Minuit.) afirma que o interesse pelo mito existe porque ele estabelece um encontro com as profundezas do antigo, atualizando o passado no presente, e mostrando, assim, que as questões antigas não estão mortas. Como uma de suas funções, o mito aborda poeticamente medos, dramas e terrores da humanidade, possibilitando o acesso à conscientização e à elaboração destes. Daí a utilização dos mitos para o entendimento de situações psicológicas (Moretto & Terzis, 2010Moretto, C. C., & Terzis, A. (2010). O mito e o grupo: algumas compreensões psicanalíticas. Revista da SPAGESP, 11(2), 24-31. ).

Desde o início da sua obra, como ressalta Abrão (2014Abrão, M. S. (2014). Construindo vínculo entre pais e filhos adotivos. São Paulo, SP: Primavera Editorial.), Freud (1913/2006Freud, S. (2006). Totem e Tabu. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 13). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1913), 1914/2006Freud, S. (2006). Sobre o narcisismo: uma introdução. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 19). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1914), 1924/2006Freud, S. (2006). A dissolução do complexo de Édipo. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 19). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1924)) reconheceu o valor dos mitos para entender o psiquismo, utilizando-os para pensar as verdades mais profundas do sujeito, as quais expressam aspectos fundamentais para a constituição do funcionamento emocional. Na psicanálise, as fantasias originárias e os mitos têm o caráter de solução de enigmas. É preciso criar, para cada sujeito, uma teoria de sua própria história, e essa origem é representada pela cena primária - o coito dos pais. Abrão (2014Abrão, M. S. (2014). Construindo vínculo entre pais e filhos adotivos. São Paulo, SP: Primavera Editorial.) entende que na adoção essa construção sobre o decifrar a si mesmo, inerente a todo sujeito, é vivida de maneira concreta, já que a cena primária está deslocada do casal parental adotivo.

Fazemos referência ao mito de Édipo da tragédia grega de Sófocles, pois este exemplifica a busca do sujeito pela verdade de sua origem, ou seja, a busca dos enigmas referentes a si mesmo, à própria existência. Em última instância, podemos dizer que o mito de Édipo conduz à constatação de que o sujeito é, inevitavelmente, constituído por uma falta: a castração, que é transmitida de pai para filho (Brunetto, 2008Brunetto, A. (2008). Psicanálise e educação: sobre Hefesto, Édipo e outros desamparados dos dias de hoje. Campo Grande, MS: UFMS.). O homem sente desamparo diante da sua incompletude, que Freud chamará de castração, da qual ele nunca se liberta (Freud,1909[1908]/2006Freud, S. (2006). Romances familiares. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 9). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1909[1908]); 1924/2006Freud, S. (2006). A dissolução do complexo de Édipo. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 19). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1924)). Acima de tudo, Édipo mostrou-se um curioso e, por isso, um decifrador de enigmas. Seu nome significa pés inchados, guardando a marca de sua origem em seu corpo, já que seu pai, rei Laio, mandou lhe furar os pés antes de o matarem. Portanto, seu nome registra sua origem marcada pelo desejo de filicídio. A marca da exclusão fica eternizada, assim, concretamente em seu corpo e simbolicamente em seu nome. O retorno à origem ressurge em uma constância, mesmo após as tentativas de desvios.

Pensamos que, ao investir na reconstrução da própria origem, o sujeito empreende um percurso que o leva a terras estrangeiras, e é engodo acreditar que ele, ao se deparar com a verdade, terá encontrado algo libertador da inquietude diante do enigma da existência. O decifrador de enigmas, Édipo, mesmo tendo buscado a verdade escondida, deformada pelas tramas da linguagem e presa no mal-entendido das gerações, não encontrou a completude. A incompletude parece estar concretizada em sua cegueira, pois, apesar de ter conseguido ver para além dos fatos, ficou privado da visão.

Do começo ao fim, essa tragédia grega envolve perguntas como: “Quem sou eu?” “Sou filho de quem?” “Qual é meu lugar no mundo?” “Sou estrangeiro em que terra?”. Édipo não sabia a verdade, e, mesmo quando a obteve, não pôde se reconhecer nela. Se existe algo que sempre está pela metade, tanto na tragédia de Édipo, como na vida do sujeito, é a verdade (Brunetto, 2008Brunetto, A. (2008). Psicanálise e educação: sobre Hefesto, Édipo e outros desamparados dos dias de hoje. Campo Grande, MS: UFMS.). Consideramos que a verdade em questão ultrapassa a materialidade dos fatos, emergindo, justamente, do entrelaçamento dos fatos ocorridos e dos mitos, a partir de adições e distorções, tratando-se, assim, de uma “verdade histórica”, tal como Freud (1939/2006Freud, S. (2006). Moisés e o monoteísmo. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 23). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1939)) postula em “Moisés e o monoteísmo”.

A angústia por encontrar a verdade da própria existência faz parte da condição da subjetividade. Essa angústia está relacionada à curiosidade sexual das crianças, que desenvolvem o questionamento clássico sobre a origem dos bebês (Freud, 1905b/2006Freud, S. (2006). Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1905b)). O não saber também faz parte do desamparo, pois no âmago da curiosidade infantil em saber a verdade sobre a origem dos bebês, está o desejo de garantir seu lugar no desejo dos pais, já que teme perdê-lo (Santos & Lajonquière, 2010Santos, A. T., & Lajonquière, L. (2010). A sexualidade infantil e o desejo de saber: a origem da atividade intelectual nas crianças (Iniciação Científica). Faculdade de Educação, USP, 6. São Paulo, SP: FEUSP. Recuperado de http://bit.ly/2BvY7os
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).

A vivência genuína dessa curiosidade tem como resultado a descoberta de que só é possível nascer porque alguém desejou. A constatação da alteridade e da autonomia daqueles de quem procedemos e dependemos é laboriosa, porém permite que ocorra o declínio da onipotência, dando entrada à percepção de que a vontade própria não determina o mundo (Dunker, 2005Dunker, C. (2005). A narrativa na construção do saber sexual. Educação e subjetividade: subjetividade e modernidade. (Grupo de Pesquisa do CNPq, Faculdade de Educação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), 1(1), 137-159. São Paulo, SP: EDUC.). A criança produz questionamentos que têm como fonte ansiedades ligadas à origem dos bebês e ao lugar do pai na procriação. Ela busca a verdade do enigma da diferença sexual. Contudo, de certa forma, podemos pensar que a tarefa de querer entender o enigma é estruturante para o psiquismo, pois força o sujeito a encarar o abismo, o mistério e a impossibilidade (Farias & Barros, 2008Farias, F., & Barros, R. M. M. (2008). Da curiosidade infantil ao desejo de saber: a criança e a infância. In Anais do 7º Formação de profissionais e a criança-sujeito. São Paulo, SP: USP. Recuperado de http://bit.ly/2RSy7Jf
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).

Podemos considerar que, no filho adotivo, as questões ligadas ao desamparo, ao mistério e à busca de reasseguramento do desejo dos pais estão atreladas ao processo de filiação. Pensamos que a condição de adoção se impõe ao sujeito e realça o enigma da origem inerente ao ser humano. Esse dado se mantém vivo e visível a todo instante, como uma metáfora da marca dos furos nos pés de Édipo. No contexto da adoção, portanto, a castração se revela claramente, e as possibilidades de elaborá-la vão depender de cada família, de cada sujeito. A história se faz incompleta, na medida em que o saber de cada história comporta, necessariamente, um mistério: um aspecto comparável ao “umbigo do sonho” (Farias & Barros, 2008Farias, F., & Barros, R. M. M. (2008). Da curiosidade infantil ao desejo de saber: a criança e a infância. In Anais do 7º Formação de profissionais e a criança-sujeito. São Paulo, SP: USP. Recuperado de http://bit.ly/2RSy7Jf
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). Cada vez que o saber é produzido, cria-se o paradoxo de se encontrar o vazio.

Origem do vínculo adotivo: a dupla filiação

Para o filho adotivo constituir sua identidade, ele precisa que sua família adotiva legitime seu lugar na cadeia geracional e, para isso, é necessário legitimar sua história (Peiter, 2011Peiter, C. (2011). Adoção: vínculos e rupturas: do abrigo à família adotiva. São Paulo, SP: Zagodoni.; Rotenberg, 2011Rotenberg, E. (2011). Adopción: Construyendo nuestra família. Buenos Aires: Lugar Editorial.; Silva, 2011Silva, C. L. R. (2011). Filhos da esperança: os caminhos da adoção e da família e seus aspectos psicológicos. Rio de Janeiro, RJ: Agbook.; Souza & Casanova, 2011Souza, H. P. de, & Casanova, R. P. de S. (2011). Adoção: o amor faz o mundo girar mais rápido. Curitiba, PR: Juruá.). Um dos recursos utilizados para legitimar a história é por meio de narrativas acerca da origem e do encontro com a nova família.

A narrativa da condição da adoção parece ter uma dupla face, podendo auxiliar tanto os filhos quanto os próprios pais adotivos na superação de lutos e na elaboração de sua experiência emocional. Como mencionamos, o ato de falar sobre a origem, de criar um saber sobre a pré-história é, paradoxalmente, entrar em contato com o não saber inexorável da própria história. Pensamos que a função do ato de conversar sobre a adoção estrutura os laços de parentalidade e de filiação adotivas, além de colocar todos os envolvidos a par da impossibilidade de um saber pleno.

Com relação às vicissitudes da origem do adotivo, existe o fato incontestável de que o filho adotivo vivencia uma dupla fidelidade. Ele tem um elo tanto com a mãe da origem, apesar de rompido, quanto com a mãe adotiva, elo este criado pela cultura e pelo vínculo afetivo (Abrão, 2014Abrão, M. S. (2014). Construindo vínculo entre pais e filhos adotivos. São Paulo, SP: Primavera Editorial.). Sendo assim, o filho adotivo tem como registro que quem o gerou não está perto dele, e o lugar daqueles que lhe oferecem existência e pertencimento é ocupado pelos pais adotivos.

Um dos maiores impasses em torno do mito de origem da criança adotada é a mistura de fantasia e realidade, uma vez que sua história, com vazios de informações, exigirá ainda mais da capacidade dos pais adotivos em recontar e oferecer uma escuta às fantasias dos filhos. É primordial que os pais entendam e se disponibilizem internamente para as demandas dos filhos quanto às próprias origens. Dessa maneira, Ladvocat (2014Ladvocat, C. (2014). Campo clínico da prevenção na adoção. In C. Ladvocat & S. Diuana. Guia de adoção: no jurídico, no social, no psicológico e na família (pp. 149-157). São Paulo, SP: Roca .) constata que é fundamental para o filho adotivo ter acesso às suas origens, a fim de diminuir a ansiedade referente ao desconhecimento dos laços biológicos, que pode interferir na integração da família adotiva.

Revelar a história não consiste, pois, em uma mera revelação de fatos que conferem sentido e continuidade à vida da criança. Trata-se, na verdade, da possibilidade de assimilação psíquica daquilo que a criança viveu e da constituição de quem ela é. Os fatos e ocorrências pelos quais ela passou acabam deixando marcas mnêmicas, ainda que fora do registro da palavra (Souza & Casanova, 2011Souza, H. P. de, & Casanova, R. P. de S. (2011). Adoção: o amor faz o mundo girar mais rápido. Curitiba, PR: Juruá.). Se os pais não puderem entrar em contato com o possível sofrimento que a origem do filho lhes causa, este perceberá que o tema é proibido e fonte de ansiedade. Consequentemente, ele deixará de perguntar, podendo inibir a tendência genuína de buscar o saber (Rotenberg, 2011Rotenberg, E. (2011). Adopción: Construyendo nuestra família. Buenos Aires: Lugar Editorial.; Silva, 2011Silva, C. L. R. (2011). Filhos da esperança: os caminhos da adoção e da família e seus aspectos psicológicos. Rio de Janeiro, RJ: Agbook.).

Constatamos que o contexto familiar adotivo é fértil de vivências ambivalentes em relação à origem do filho. Com certa frequência, o apagamento da filiação biológica ocorre nas narrativas familiares, caracterizando-se como um recurso de afastamento de possíveis ameaças ao parentesco afetivo. Nesse sentido, Abrão (2014Abrão, M. S. (2014). Construindo vínculo entre pais e filhos adotivos. São Paulo, SP: Primavera Editorial.) afirma que a questão do senso de pertencimento para o filho adotivo é mais complexa, porque ele lida com um duplo pertencimento.

Segundo Winnicott (1983Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre, RS: Artmed.), os problemas relacionais não decorrem da adoção propriamente dita, mas sim das fantasias do mundo inconsciente. As idiossincrasias da adoção são coloridas pelas fantasias infantis de pais e de filhos, e por suas representações inconscientes, instaladas antes mesmo do advento da adoção.

Questões primitivas e sua reedição na adolescência

O epicentro das transformações na adolescência ocorre no nível intrassubjetivo, porém, velhas e novas angústias são acionadas no âmbito familiar, provocando fenômenos de transição no funcionamento inconsciente do grupo. Acreditamos que devemos compreender a adolescência como um fenômeno de fronteira, que se estabelece em um “entre”: entre o corpo infantil e o corpo adulto, entre o passado e o futuro, entre o sujeito e o grupo familiar.

Ao chegarem à puberdade, meninos e meninas revivem ansiedades primordiais, assim como defesas muito primitivas para lidar com essas emoções (Winnicott, 1965/2011Winnicott, D. W. (1965/2011). A família e o desenvolvimento individual (4a ed.). São Paulo, SP: Martins Fontes.; Palhares, 2008Palhares, M. C. A. (2008). Adolescência: uma visão psicanalítica. In A. Melgaço, J. Outeiral & N. Armony. (Orgs.). Winnicott: Seminários Cariocas. 24-35. Rio de Janeiro: Revinter.). Dentre essas ansiedades, ressurge a referente à origem, ligada às vivências da sexualidade. Nesse sentido, Winnicott (1983Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre, RS: Artmed.) afirma que há na adolescência uma repetição do vivido infantil, no qual se reedita a repulsa ao não-eu, para que, posteriormente, seja possível conectá-lo. O adolescente, ao mesmo tempo em que vive uma dependência regressiva, deseja estabelecer uma independência desafiadora. Ou seja, o jovem quer liberdade, mas se sente abandonado se a família sucumbe a esse seu desejo (Outeiral, 2008Outeiral, J. (2008). Adolescer (3a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Revinter.). Assim, os adolescentes oscilam entre um vir a ser amparado por suas próprias pernas e um voltar aos padrões de dependência, a ponto de agirem como bebês (Palhares, 2008Palhares, M. C. A. (2008). Adolescência: uma visão psicanalítica. In A. Melgaço, J. Outeiral & N. Armony. (Orgs.). Winnicott: Seminários Cariocas. 24-35. Rio de Janeiro: Revinter.).

Essa dinâmica é decisiva na situação da adoção, já que o adolescente vai se virar contra seus pais adotivos para encontrar o sentimento de continuar a existir, querendo transformar as ansiedades em um sentimento de segurança filiativo. De acordo com Lévy-Soussan (2013Lévy- Soussan, P. (2013). Destins de l’adoption. France: Fayard/Psy.; 2006Lévy- Soussan, P. (2006). La filiation à l’épreuve de l’adolescence. Revue Adolescence, 24(1), p. 101-110. doi: 10.3917/ado.0550101.
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), em muitos adolescentes adotivos a identificação é feita com a criança abandonada pela mãe, fortemente malvada, ou não amável. Em um tipo de abolição temporal próprio ao inconsciente, o adolescente se vê no presente como abandonado. O adolescente deverá fazer um trabalho psíquico importante para compreender que não é ele quem foi abandonado, mas um bebê.

No âmbito dessas considerações, temos como objetivo neste trabalho compreender questões referentes ao mito de origem na família adotiva, buscando analisar as narrativas construídas acerca da origem do vínculo de parentesco por adoção e as reatualizações dessas temáticas na adolescência.

Método

Utilizamos uma metodologia de pesquisa qualitativa. Para atingirmos o objetivo delineado, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dez sujeitos independentes (pertencentes a diferentes famílias, portanto, não havendo laços de parentesco entre eles), sendo especificamente dois pais e oito mães. Para a apresentação dos resultados, os sujeitos receberam a seguinte nomeação: os dois pais (Pai 1 e Pai 2) e as oito mães (Mãe 1; Mãe 2; Mãe 3; Mãe 4; Mãe 5; Mãe 6; Mãe 7 e Mãe 8). Os filhos adotivos desses sujeitos se encontravam no período da adolescência, entre os 13 e 18 anos, conforme postula Emmanuelli (2005Emmanuelli, M. (2005). Que sais-je? L’adolescence. Paris: PUF .). No Quadro 1 a seguir, encontra-se mais detalhadamente os dados biográficos de cada um dos sujeitos.

Quadro 1
Dados biográficos dos participantes

Com relação à configuração familiar, apenas duas mães formavam famílias monoparentais heterossexuais, quando adotaram seus filhos. Ambas tiveram um filho biológico no casamento e, após a separação, desejaram adotar um filho. Os demais participantes pertenciam a famílias heterossexuais com as seguintes configurações: três deles permaneciam casados, dois tinham união estável, três eram separados e um era viúvo. Como critério de delimitação e de aproximação do perfil dos sujeitos, foram entrevistados pais e mães, das classes média e alta da população do Estado do Rio de Janeiro, que adotaram os filhos até os 12 anos de idade, cuja adoção não fosse um segredo na família. Para a análise do material obtido por meio das entrevistas foi utilizado o método de análise de conteúdo (Bardin, 2010Bardin, L. (2010). L’analyse de contenu. Paris: PUF.).

Os dados coletados foram submetidos ao referido método, em sua vertente temático-categorial, com a finalidade de investigar no material discursivo as significações atribuídas aos fenômenos. Por meio da respectiva técnica são destacadas categorias temáticas, as quais são organizadas a partir da semelhança entre os elementos contidos nas narrativas. Para tal, foi realizada uma ‘leitura flutuante’, agrupando-se dados significativos, identificando-os e relacionando-os, até serem estabelecidas as categorias.

Surgiram temas semelhantes e frequentes, os quais foram agrupados em sete categorias de análise: “motivações manifestas e latentes”, “informações sobre a adoção”, “mito de origem”, “identificação e identidade”, “rede de apoio”, “parentalidade na adolescência” e, por fim, “o insondável”. Especificamente, no presente trabalho, analisamos a categoria referente ao mito de origem e sua associação com a vivência de duplo pertencimento na família adotiva. A literatura usada como referência está calcada na psicanálise e na psicoterapia psicanalítica de família.

Em todos os casos descritos, os nomes foram substituídos, assim como alguns detalhes biográficos e da história familiar. Foi necessário fazer determinadas alterações para que as identidades das famílias fossem preservadas e, assim, se mantivesse o compromisso ético da preservação da identidade dos entrevistados. O projeto que deu origem à pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, permitindo a utilização dos dados em pesquisa e publicação.

Resultados e discussão

De onde eu nasci?

A partir da análise das entrevistas, percebemos com muita clareza que o mito de origem está pungente na vida dessas famílias adotivas. Formulamos a ideia de que isso ocorre devido à inquestionável intercorrência que se dá na formação da parentalidade e da filiação, na qual coexistem dois casais parentais que fazem nascer a criança, um par no nível biológico e outro no nível subjetivo da existência.

Eu me emocionava. Olha, na época eu não conseguia identificar, mas, quando o meu filho chegou, a sensação que eu tinha era de um agradecimento, de uma gratidão pela mãe biológica imensa. A minha vontade era de entrar em contato com a mãe e agradecer a postura dela. Depois essa vontade passa! E um dia ainda vou encontrá-la, eu sei que ele ainda vai querer, porque curioso como ele é, ele vai buscar. E aí já vou estar preparada para isso. (Mãe 8)

Então, [a irmã] tava[sic] grávida, com uma barriga imensa, e o filho [adotivo mais novo], às vezes, colocava a mão na minha barriga e falava assim: “Eu também nasci da sua barriga”. Eu dizia assim: “Não, a minha barriga tinha um defeito, e nós precisamos que você nascesse em uma barriga emprestada. Então você nasceu em uma barriga emprestada que se chamava X”. E eu me lembro que um dia ele fez um desenho… ele fez um desenho que era uma bola meio aberta, meio ovalada, e uma outra. Uma dentro da outra. E eu falei assim: “O que é isso?” E ele falou: “É uma barriga e um bebê”. E eu falei: “Quem é o bebê?”, “Sou eu” [responde o filho]. E eu falei [tom de animação]: “Ah! E a barriga sou eu?” “Claro que não, né, mãe! A sua barriga tinha defeito! Essa barriga é a X”. Eu falei: “Ah, legal”. (Mãe 6)

Esses dados vão ao encontro das afirmações de Abrão (2014Abrão, M. S. (2014). Construindo vínculo entre pais e filhos adotivos. São Paulo, SP: Primavera Editorial.), Brunetto (2008Brunetto, A. (2008). Psicanálise e educação: sobre Hefesto, Édipo e outros desamparados dos dias de hoje. Campo Grande, MS: UFMS.) e Ladvocat (2014Ladvocat, C. (2014). Campo clínico da prevenção na adoção. In C. Ladvocat & S. Diuana. Guia de adoção: no jurídico, no social, no psicológico e na família (pp. 149-157). São Paulo, SP: Roca .), que consideram ser a questão da origem e do senso de pertencimento mais complexa para a família adotiva, devido à dupla filiação. Nos trechos que iremos destacar, podemos observar, com clareza, a ambivalência dos pais em relação à questão do duplo na origem. Ao mesmo tempo em que revelam lidar com muita tranquilidade com os lutos, presentes na formação do vínculo adotivo, demonstram que a manifesta tranquilidade não é tão sincera.

A Mãe 8 apresenta uma atitude ambivalente entre querer e não querer conhecer a mãe biológica de seu filho. A Mãe 6, mesmo contando a verdade para o filho, quando este lhe mostra seu desenho sobre a origem, nega a realidade, talvez sendo levada a pensar sob a égide do desejo de ter sido mesmo a “mãe da barriga”. Os relatos dessas situações confirmam a importância, destacada por Abrão (2014Abrão, M. S. (2014). Construindo vínculo entre pais e filhos adotivos. São Paulo, SP: Primavera Editorial.), de elaborar a história de origem, já que ela permeará muitos processos da constituição psíquica e da identidade do filho adotivo.

Ao longo do discurso dos pais, analisamos que a questão da origem está presente em diferentes momentos do ciclo de vida, e relacionada a questões variadas. Encontramos o mito de origem associado à genuína curiosidade infantil sobre a origem dos bebês, como ilustram as falas abaixo. Mesmo após as mães terem contado inúmeras vezes a história da adoção aos filhos, eles vivenciaram a curiosidade infantil.

Com 7 anos foi que realmente ele veio falar no assunto.Aí, ele chorou muito. E a minha filha foi falar com ele: “Mas que bobagem você tá[sic] chorando! Você é muito amado, você é filho do papai e da mamãe. É a mesma coisa. Não tem problema de ser adotado”. Aí ele respondeu: “É, mas você nasceu da barriga da mamãe. Eu queria sair da barriga da mamãe”.… Meu marido falou para ele assim: “Olha, as meninas também não saíram da minha barriga, e elas não são minhas filhas? Então, você também é”. Aí foi uma coisa que deu um alento. (Mãe 1)

Aí depois, mais tarde, ele perguntou: “Foi daqui [barriga] que eu nasci, mamãe?” Eu falei: “Não, meu filho, não foi daqui que você nasceu”. A minha cunhada dizia que foi para a minha sobrinha, por isso ela levou o choque depois. Eu respondia para ele que não: “Você nasceu…de uma moça, nasceu na barriga de outra moça, mas aí a mamãe pegou você. Você não lembra a história que a mamãe contou?” (Mãe 5)

Também, encontramos o mito de origem associado ao despertar da vida sexual na adolescência, como ilustra a fala abaixo.

E um fato da questão do adotado, ano passado ele chegou assim… chegou bem discreto e falou: “Mãe, como se pega Aids?” Aí eu falei: “Olha só: sexual, drogas injetáveis, transfusão de sangue”. Aí ele ficou parado, aquilo não satisfez ele[sic]. Aí, eu lembrei que a mãe pode transmitir para a criança também.Aí eu falei: “Olha, meu filho, não se preocupe, que você fez o teste”. Aí houve um alívio para ele. Percebi uma questão de preocupação para ele. Eu olhei para ele e falei: “Hummm, tá[sic] faltando alguma coisa”. Aí que eu lembrei que ele é adotado, porque às vezes eu esqueço. (Mãe 8)

Alguns pais associaram a condição adotiva a determinados comportamentos, escolhas e conflitos dos filhos. Referente a isso, pensamos sobre como os pais usam o mito de origem para compreender e dar sentidos às idiossincrasias dos filhos. É possível observarmos, em todos os próximos trechos selecionados, uma maneira particular de cada um dos filhos adotivos elaborar sua história e construir o seu mito de origem.

Era mais ou menos assim, a mãe dele vivia… Ele mesmo tinha trauma de bebida. Ele não podia me ver com um copinho de cerveja. “Mãe, você está bebendo!” Entendeu? Porque a mãe bebia e deixava os filhos com fome. Então, ele tinha pavor de bebida. Então, tem toda uma história, que não é à toa. (Mãe 4)

Isso é interessante [as amizades]! Que ela sempre busca o grupo minoritário. Ela se sente protetora desse grupo. Sobretudo na escola dela, que tem muito estrangeiro. O grupo dela é venezuelano, paraguaio, boliviano… São essas minorias, ela está junto com as minorias, e defende. (Pai 2)

Então ele é assim articulado, é maduro. Ele ajuda as pessoas, ele tem esse olhar de ajudar os menos favorecidos.Como a minha secretária, ele tem um carinho muito grande com ela, com as pessoas do prédio, os faxineiros, o zelador, ele conversa de igual para igual, dá bom dia, boa tarde. (Mãe 8)

Talvez caiba a pergunta: será que, em filhos não adotados, esses fatores também estão associados à origem? Acreditamos que sim, no tocante à curiosidade infantil e à descoberta sexual nos adolescentes. Contudo, com relação aos adotados, observamos que a condição de ser estrangeiro na própria história fica latente e, muitas vezes, insondável, como foi ilustrado na narrativa dos pais ao mencionarem os cuidados dos filhos em relação às minorias e aos mais desfavorecidos socialmente. Esses dados corroboram as postulações de Farias e Barros (2008Farias, F., & Barros, R. M. M. (2008). Da curiosidade infantil ao desejo de saber: a criança e a infância. In Anais do 7º Formação de profissionais e a criança-sujeito. São Paulo, SP: USP. Recuperado de http://bit.ly/2RSy7Jf
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), Brunetto (2008Brunetto, A. (2008). Psicanálise e educação: sobre Hefesto, Édipo e outros desamparados dos dias de hoje. Campo Grande, MS: UFMS.) e Green (2007Green, A. (2007). Narcissisme de vie, Narcissisme de mort. Paris: Les Editions de Minuit.), segundo as quais o mito de origem faz do passado algo que se insinua no tempo presente e determina seu curso.

Nos filhos que foram adotados ainda bebês, observamos que, durante a fase da curiosidade infantil sobre as origens, eles perguntavam explicitamente aos pais e falavam frequentemente sobre a adoção. Contudo, na adolescência houve uma mudança. Alguns dos entrevistados apontaram que os filhos, antes abertos a falar sobre a adoção, passaram, na adolescência, a explicitar o desejo de não tratar desse assunto.

Perguntou pequenininha. A gente contou que a pegou no hospital, que a gente não sabe o motivo. A gente que escolheu ela. Ela foi escolhida[sic], né. Para dar esse sentimento. É legal isso. E eu falo com ela, frequentemente, sobre isso, toco nisso! Mas ela [agora na adolescência], não. Não evolui o assunto [tom de estranhamento, indagador]. (Pai 2)

Ele não gosta de falar de adoção, ele não gosta que eu fale. Quer dizer, na medida em que as coisas são colocadas de uma forma natural.Mas ele começou a não querer. Ele não queria mais falar sobre isso, era como se ele tivesse[sic] se incomodando com aquilo. (Mãe 4)

Levantamos a questão de que, talvez, esses adolescentes tenham deixado de falar naturalmente sobre a adoção por haver algum tipo de vivência emocional ligada à vergonha, ao “ser diferente” da família e da maioria dos membros de seu grupo social. Esse dado comprova as ideias de Winnicott (1965/2011Winnicott, D. W. (1965/2011). A família e o desenvolvimento individual (4a ed.). São Paulo, SP: Martins Fontes.) e de Palhares (2008Palhares, M. C. A. (2008). Adolescência: uma visão psicanalítica. In A. Melgaço, J. Outeiral & N. Armony. (Orgs.). Winnicott: Seminários Cariocas. 24-35. Rio de Janeiro: Revinter.) sobre a tendência do adolescente em buscar o homogêneo, o qual funciona simbolicamente como uma fusão.

O silêncio dos filhos adotivos na adolescência, descrito pelos entrevistados, pode significar a dificuldade de lidar com o aspecto de “ser diferente” em seu grupo familiar e, talvez, entre seus amigos, o que ameaça sua propensão ao homogêneo para poder se diferenciar e, ao mesmo tempo, pertencer.

Pudemos ver que, apesar de os filhos já terem ouvido sua história de origem desde cedo, eles não deixam de passar pela genuína fase da curiosidade sexual infantil. Notamos que a questão da origem aparece de forma constante para essas famílias. Evidenciamos a sensibilidade de certos pais em relação ao conflito dos filhos, legitimando-o e buscando alguma tentativa de compreensão.

Ele me perguntava: “Por que eu não saí da sua barriga?” Porque, quando ele ouvia a história, que um bebê saía da barriga, ele perguntava. Eu falei para ele que ele não saiu porque a minha barriga tinha defeito: “A minha barriga tinha defeito, aí papai do céu deu outro jeito de trazer você pra mim”.O gozado era o seguinte: ele perguntava isso de vez em quando, quando era muito pequeno. Depois, nunca mais voltou nesse assunto. Não é que ele tenha esquecido, não. Mas é que os pais deles somos nós e acabou! (Mãe 3)

Percebemos que alguns pais se mostraram inclinados a amenizar a dor do filho adotivo, mas o que se apresenta é uma dor impossível de ser anestesiada, apesar de silenciada com o tempo. Contudo, observamos que, para o fortalecimento do vínculo parental-filial, prevalece a disponibilidade emocional dos pais para escutar as demandas emocionais dos filhos. A elaboração do sofrimento em família parece fortalecer o senso de pertencimento familiar e o laço de parentesco.

Que pai sou eu?

Um assunto que nos chamou a atenção, pela repetição e semelhança na maioria das entrevistas, foi a busca de tratamentos psicológicos ou neurológicos, bem como as divergências de diagnósticos. Identificamos que todos os entrevistados procuraram tratamento psicológico para seus filhos, alegando diferentes razões. Quatro entrevistados mencionaram que tinham sofrido com as discordâncias tanto de diagnósticos quanto de indicações de tratamentos para os filhos. Perguntamo-nos se esse dado estaria relacionado a uma tendência, por parte dos profissionais de saúde, a conferir um caráter patológico à adoção. Como não temos subsídios suficientes para balizarmos a resposta a tal questão, propomos entender esse dado a partir do que defendem Marinopoulos, Sellenet e Vallée (2003Marinopoulos, S.; Sellenet, C., & Vallée, F. (2003). Moïse, Oedipe, Superman… de l’abandon à l’adoption. Paris: Fayard .) acerca do “buraco narcísico” presente nos pais adotivos em decorrência da falta de conhecimento pleno à origem do filho.

Consideramos a hipótese que os pais, em sua ânsia por soluções e entendimento dos sintomas, inconscientemente, possam ter a fantasia de que os profissionais de saúde venham a lhes oferecer respostas para as incógnitas que permeiam a origem de seus filhos. Pode ser que, ao buscarem respostas em diagnósticos e em evidências científicas para situações que lhes parecem inexplicáveis, estejam querendo saber “quem é meu filho?”, “por que ele é assim?” ou “que mãe ou pai sou eu?”.

Pensar dessa maneira seria coerente com o que observamos, nos discursos dos entrevistados, sobre a ambiguidade e a ambivalência presentes na constituição da parentalidade adotiva, desencadeando dúvidas sobre que tipo de pai e mãe eles são. Estariam os profissionais de saúde ocupando o lugar dos oráculos na fantasia dos pais, como no mito de Édipo? Que papel é dado aos profissionais de saúde? Que respostas, inconscientemente, são esperadas? Essas são algumas indagações nossas, que merecem ser futuramente pensadas com mais amplitude.

ela foi para a terapia. Ela já está na terceira. Nós erramos nas escolhas. Uma diagnosticou que ela tinha uma dislexia. Aí depois, a outra dizia que ela tinha DDA. Aí essa [a terceira] não diagnosticou nada. Ela tem uma leve DDA. Eu levei numa neurologista séria. E ela tem uma coisa mínima, que ela tem que conviver. Ela tem um pouco dessa hiperatividade,e se atrapalha quando tem duas ou três tarefas, ela fica meio perdida. (Pai 2)

Como a vida inteira ele fez fono [sic], fez terapia, por conta desses problemas de socialização, dificuldades no aprendizado. Ele tem dislexia. Tem DDA. Então, a gente sempre foi cercando de todos os lados para entender todos os problemas. Então, ele também chegou a perguntar às vezes: “Então eu faço terapia e fono[sic] por que eu sou adotado?”. Às vezes, ele associava as coisas. (Mãe 1)

Com 5, 6 anos ele ficou muito depressivo! Uma agressividade, porque ele era muito levado, arteiro. E ele tomou remédio controlado, inclusive na época o pediatra dele indicou outro neuro[sic].Deu o diagnóstico errado.Na época, ele fez vários exames e deu uma alteração. Então, ele começou a tomar o remédio. E, junto com o médico, ele começou a fazer terapia, com 5, 6 anos. Nisso que acabou a terapia, eu que tinha o meu cunhado médico, pedi que arrumasse outro bom médico para que avaliasse o meu filho. Depois esse médico falou: “Eu rasgo o meu diploma! Esse menino não tem nada”. (Mãe 3)

Ele não é muito acadêmico, acho que não vai ser um médico. Ele tem DEL. DEL é tipo uma dislexia. Ele faz fono[sic]. DEL é um distúrbio específico da linguagem. É da família da dislexia, mas é pior! O problema é na leitura, nos fonemas e na interpretação, tem muita dificuldade de interpretar. Ele tá[sic] bem treinado, porque está bem trabalhado, mas tem muita dificuldade em interpretação, na troca de fonemas, de palavras parecidas. (Mãe 7)

Falamos mais acima sobre a dupla fidelidade do filho adotivo e sobre a dupla origem (uma biológica e outra afetiva, constituinte da família adotiva). Associamos essa ideia aos sintomas mencionados pelos pais, como a dificuldade de realizar a dupla tarefa de interpretar e, concomitantemente, legitimar a dupla fidelidade. Arriscamos pensar que haja alguma relação entre esses sintomas e a história dupla vivida por essas famílias.

Nem todas as dificuldades do filho adotivo podem ser relacionadas ao ato da privação biológica e ao ato da adoção. Contudo, no momento em que os próprios envolvidos, pais ou filhos, fazem associações do que estão vivendo com a adoção, constatamos a premissa de que, para o inconsciente, não há negativa. Por isso, acreditamos que realmente seja preciso utilizar uma lente especial para os sintomas de filhos adotivos, de modo a não cairmos na rotulação de patologia, nem tampouco na banalização.

Considerações finais

A partir da perspectiva psicanalítica, todo homem vive o drama edipiano, o inefável das relações objetais primárias, e o estrangeiro com relação à própria história primária. Conforme pontuamos, o desenvolvimento do senso de pertencimento do filho adotivo é complexo, pelo fato de ele ter que lidar com um duplo pertencimento em sua subjetividade, em seu nascimento de “ser” sujeito.

Desse modo, discutimos como a presença do mito de origem permeou os mais diversos momentos do desenvolvimento humano, como a curiosidade infantil sobre a origem, o desenvolvimento da sexualidade e algumas condutas. Um fator que se mostrou muito produtivo foi a sensibilidade dos pais em reconhecer esse atravessamento da dupla filiação.

A elaboração do senso de pertencimento e da origem diz respeito tanto aos filhos quanto aos pais. Registramos as particularidades dos destinos sublimatórios para lidar com o paradoxo dessa dupla filiação como, por exemplo, os filhos que passaram a ser atentos aos desfavorecidos e aos grupos minoritários, ou se vincularam a pessoas com as quais guardam alguma semelhança. A sublimação pode ser compreendida como uma defesa secundária (McWilliams, 2011McWilliams, N. (2011). Psychoanalytic diagnosis: understanding personality structure in the clinical process. New York: Guilford. (Obra original publicada em 1994)), servindo como um destino que viabiliza uma possibilidade criativa e a aceitação social de variadas forças individuais conflitantes. Em outras palavras, certos movimentos inconscientes assumem especial destaque na vida do sujeito e, pela via da sublimação, podem ser investidos criativamente em atividades favoráveis para a vida dele (Freud, 1905a/2006Freud, S. (2006). Fragmentos de um caso de histeria. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1905a); Freud, 1905b/2006Freud, S. (2006). Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1905b); Freud, 1915/2006Freud, S. (2006). O instinto e suas vicissitudes. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 14). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Obra original publicada em 1915); McWilliams, 2011McWilliams, N. (2011). Psychoanalytic diagnosis: understanding personality structure in the clinical process. New York: Guilford. (Obra original publicada em 1994)). Contudo, apesar de na sublimação haver essa condução das tendências primitivas à expressão criativa, não é um destino que livra o sujeito do sofrimento, pois seu direcionamento não deixa de estar ligado às fontes pulsionais (Mendes, 2011Mendes, E. R. P. (2011). PS - Pulsão e Sublimação: a trajetória do conceito, possibilidades e limites. Reverso, 33(62), 55-67. Recuperado de http://bit.ly/2SLvxsS
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).

Outro tipo de destino referido às questões da dupla filiação que verificamos, foi a criação de sintomas, levando os pais a buscarem os porquês, cujas respostas eram esperadas, em sua maioria, dos profissionais de saúde. Fica a questão: trata-se realmente de quais “porquês”? Parece que essa busca incessante pelos profissionais de saúde acaba sendo, na verdade, uma demanda de saneamento das vicissitudes vividas pelos filhos. Mesmo que a intenção seja benigna, o que consideramos complexo é em que medida esse desejo de saneamento vem carregado de intolerância em relação à existência dos registros anteriores, podendo propiciar uma dissociação da história da criança adotiva.

Destacamos que é bastante trabalhosa para os pais adotivos a tarefa de identificar e dar significado às demandas dos filhos relacionadas ao mito de origem. Devido à exigência de uma fina escuta dos pais, a adoção pode se caracterizar como uma maneira relacional vulnerável, já que muitas vezes os pais têm seus ouvidos obstruídos por fantasias conflituosas e feridas narcísicas. Sustentamos o argumento de que a trama adotiva não é inócua. Negar esse caráter é pouco proveitoso para o desenvolvimento psicoemocional do filho adotivo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Mar 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    14 Jul 2016
  • Aceito
    16 Maio 2017
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