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As hipóteses teóricas de Sabina Spielrein nas suas cartas a Carl Gustav Jung (1917-1918)

Les hypothèses théoriques de Sabina Spielrein dans ses lettres à Carl Gustav Jung (1917-1918)

Las hipótesis teóricas de Sabina Spielrein en sus cartas a Carl Gustav Jung (1917-1918)

Resumo

Tem havido um crescente reconhecimento da originalidade e do caráter pioneiro das propostas teóricas e clínicas da psicanalista russa Sabina Spielrein. No entanto, ainda são poucos os estudos dedicados especificamente à análise de sua teoria. Além de suas publicações, as cartas que Spielrein enviou a Jung entre 1917 e 1918 contêm ricas reflexões teóricas, que contribuem para uma melhor compreensão do seu pensamento e das hipóteses que ela viria a formular nos anos seguintes. Este artigo tem como objetivo analisar os conceitos de subconsciente e de simbolismo que Spielrein apresenta na correspondência com Jung do período mencionado. Procuramos mostrar que, com esses conceitos, a autora dá continuidade à teoria que começara a formular em suas primeiras publicações e tenta integrar suas próprias hipóteses a algumas ideias de Freud e Jung, o que tem como consequência a elaboração de uma teoria original sobre o psiquismo.

Palavras-chave:
história da psicanálise; Sabina Spielrein; funcionamento mental; simbolismo; subconsciente

Résumé

Il y a une reconnaissance croissante de l’originalité et du caractère pionnier des propositions théoriques et cliniques de la psychanalyste russe Sabina Spielrein. Cependant, il y a encore peu d’études consacrées spécifiquement à l’analyse de sa théorie. En plus de ses publications, les lettres de Spielrein à Jung entre les années 1917 et 1918 contiennent des riches réflexions théoriques qui contribuent à une meilleure compréhension de sa pensée et des hypothèses qu’elle formulera dans les années suivantes. Cet article vise à analyser les idées sur le subconscient et le symbolisme que Spielrein présente dans sa correspondance avec Jung dans la période mentionnée. Nous cherchons à monter qu’avec ces concepts, Spielrein poursuit la théorie qu’il avait commencé à formuler dans ses premières publications et essaie d’intégrer ses propres hypothèses à certaines idées de Freud et de Jung, ce qui aboutit à l’élaboration d’une théorie originale de la psyché.

Mots-clés:
histoire de la psychanalyse; Sabina Spielrein; fonctionnement mental; symbolisme; subconscient

Resumen

Recientemente, ha ocurrido un creciente reconocimiento de la originalidad y del carácter pionero de las propuestas teóricas y clínicas de la psicoanalista rusa Sabina Spielrein. Sin embargo, todavía son pocos los estudios dedicados específicamente al análisis de su teoría. Además de sus publicaciones, las cartas que había enviado a Jung entre los años 1917 y 1918 contienen ricas reflexiones teóricas, que contribuyen a una mejor comprensión de su pensamiento y de las hipótesis que iba a formular en los años siguientes. Este artículo tiene como objetivo analizar las ideas sobre el subconsciente y el simbolismo que Spielrein presenta en la correspondencia con Jung en el período mencionado. Se busca demostrar que con estos conceptos la psicoanalista continúa la teoría que había comenzado a formular em sus primeras publicaciones e intenta agregar sus propias hipótesis con algunas ideas de Freud y Jung, lo que resulta en la elaboración de una teoría original de la psique.

Palabras clave:
historia del psicoanálisis; Sabina Spielrein; funcionamiento mental; simbolismo; subconsciente

Abstract

There has been recently an increasing acknowledgement of the originality and pioneering character of the theoretical and clinical views proposed by the Russian psychoanalyst Sabina Spielrein. However, few studies were so far specifically dedicated to the analysis of her theories. Besides her published work, the letters Spielrein exchanged with Jung between 1917 and 1918 contain rich theoretical reflections that allow for a better understanding of her thought and the hypotheses she was about to formulate in the following years. This article aims at analyzing the concepts of symbolism and subconscious that Spielrein presents in her letters to Jung from the period mentioned above. It is argued that, with these concepts, Spielrein further develops the theory she had begun to formulate in her early publications and attempts to integrate her own hypotheses with some ideas of Freud and Jung. This integration, in turn, results in the elaboration of an original theory of the psyche.

Keywords:
history of psychoanalysis; Sabina Spielrein; mental functioning; symbolism; subconscious

Apesar da originalidade das propostas teóricas e clínicas da psiquiatra e psicanalista russa Sabina Nikolaevna Spielrein (1885-1942) e de seu pioneirismo em várias áreas, durante um extenso período ela permaneceu no esquecimento. Com a publicação, em 1974, da correspondência entre Freud e Jung, em que é várias vezes mencionada, ela começou a reemergir para a história da psicanálise (Ovcharenko, 1999Ovcharenko, V. (1999). Love, psychoanalysis and destruction. Journal of Analytical Psychology , 44(3), 355-373.). No entanto, o interesse pela autora se intensificou principalmente após a publicação do livro Diário de uma secreta simetria: Sabina Spielrein entre Jung e Freud (Carotenuto, 1980/1984Carotenuto, A. (1984). Diário de uma secreta simetria: Sabina Spielrein entre Jung e Freud. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra. (Trabalho original publicado em 1980)). O interesse por Spielrein despertado a partir da publicação de Carotenuto se concentrou especialmente, a princípio, em sua biografia, de forma que o seu papel como clínica inovadora e criadora de conceitos inéditos no campo psicanalítico permaneceu em segundo plano, como comenta Cromberg (2012Cromberg, R. U. (2012). A autoria de Sabina Spielrein. Jornal de Psicanálise, 45(8), 83-98.). Embora a situação esteja sendo revertida nos últimos anos com a publicação de trabalhos que enfocam, principalmente, sua produção teórica (Caropreso, 2016Caropreso, F. (2016). O instinto de morte segundo Sabina Spielrein. Psicologia USP, 27(3), 414-419., 2017aCaropreso, F. (2017a). O funcionamento mental e as bases ancestrais do psiquismo segundo Sabina Spielrein. Tempo psicanalítico, 49(2), 126-151., 2017bCaropreso, F. (2016). O instinto de morte segundo Sabina Spielrein. Psicologia USP, 27(3), 414-419.; Cooper-White, 2015Cooper-White, P. (2015). The Power that Beautifies and Destroys: Sabina Spielrein and “destruction as a cause of coming into being”. Pastoral Psychology, 64(2), 259-278.; Covington & Wharton, 2003Covington, C. & Wharton, B. (2003). Sabina Spielrein: Forgotten pioneer of psychoanalysis. New York: Brunner-Routledge.; Cromberg, 2014Cromberg, R. U. (2014). Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise. São Paulo, SP: Livros da Matriz.; Harris, 2015Harris, A. (2015). Language is there to bewilder itself and others: theoretical and clinical contributions of Sabina Spielrein, Journal of the American Psychoanalytic Association, 63(4), 727-767.; Noth, 2015Noth, I. (2015). Beyond Freud and Jung: Sabina Spielrein’s contribution to child psychoanalysis and developmental psychology. Pastoral Psychology , 64(2), 279-286.; Santiago-Delefosse & Delefosse, 2002Santiago-Delefosse, M.; Delefosse, J. M. (2002). Spielrein, Piaget and Vygotsky. Three positions on child thought and language. Theory & Psychology, 12(6) 723-747.; Skea, 2006Skea, B. R. (2006). S. Spielrein: out from the shadow of Freud and Jung. Journal of Analytical Psychology , 51, 527-552.; Vidal, 2001Vidal, F. (2001). Sabina Spielrein, Jean Piaget: going their own ways. Journal of Analytical Psychology , 46(1), 139-153.), ainda são poucos os estudos especificamente dedicados à análise de seu pensamento, que permitam compreender a complexa teoria por ela elaborada e avaliar a sua importância para a história da psicanálise e da psicologia. Esse contexto justifica a realização de estudos voltados à análise de suas propostas teóricas.

Em seu primeiro trabalho publicado, intitulado “Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia”, Spielrein (1911/2014Spielrein, S. (2014). Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 127-216). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1911)) analisa o caso de uma paciente que apresentava um quadro de demência paranoide e, a partir deste, formula algumas hipóteses sobre a esquizofrenia e o funcionamento mental em geral. As ideias aí elaboradas são desenvolvidas em sua segunda publicação, “A destruição como origem do devir” (Spielrein, 1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912)). Nas cartas que Spielrein envia a Carl Gustav Jung entre 1917 e 1918, ela retoma e reformula suas concepções sobre a dinâmica e a estrutura mental elaboradas em seus dois textos iniciais. Encontramos, nas cartas, ricas reflexões teóricas de Spielrein e Jung, as quais contribuem para uma melhor compreensão do pensamento teórico da autora e da teoria que ela viria a formular nos anos seguintes. Este artigo tem como objetivo analisar as ideias sobre o funcionamento mental e o simbolismo que Spielrein formula na correspondência com Jung do período mencionado e discutir de que maneira essas hipóteses se relacionam com aquelas apresentadas em seus textos de 1911 e 1912. Busca-se também apontar alguns pontos de convergência e divergência com as concepções de Freud, que permitem vislumbrar a originalidade das ideias de Spielrein. Iniciamos com uma exposição sucinta de algumas das principais ideias desses seus dois textos e, em seguida, passamos ao comentário das cartas.

As formulações iniciais de Spielrein sobre a vida mental

No texto “Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia”, Spielrein (1911/2014Spielrein, S. (2014). Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 127-216). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1911)) argumenta que o ser humano possui uma vivência consciente e outra inconsciente e que a última é a responsável pela criação da tonalidade afetiva da primeira. Temos a impressão de que os afetos relacionados às nossas vivências conscientes decorrem delas mesmas, no entanto, na verdade, seria a vivência inconsciente, a ela ligada, a responsável pelo tom afetivo experienciado, argumenta a autora.

No texto “Psicanálise e o experimento de associações”, Jung (1906/2011Jung, C. G. (2011). Psicanálise e o experimento de associações. In C. G. Jung Obra completa (L. M. E. Orth, trad., Vol. II, pp. 331-361). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1906)) apresenta a hipótese da mente constituída por “complexos”, que seriam unidades funcionais superiores formadas por várias moléculas, as quais, por sua vez, seriam compostas por agregados de percepções sensoriais, componentes intelectuais e tonalidades afetivas. A integração dessas moléculas nos complexos ocorreria de acordo com determinada tonalidade afetiva, de forma que eles seriam agrupamentos de ideias inconscientes associadas a eventos ou temas carregados afetivamente. Em seus textos de 1911 e 1912, Spielrein adota a hipótese de Jung da mente composta por complexos.

Segundo a autora, os complexos inconscientes constelados é que criariam a tonalidade afetiva de nossas experiências conscientes. No entanto, esse material inconsciente, em última instância, seria proveniente do passado da espécie. Ela mostra como as fantasias de sua paciente esquizofrênica apresentavam um conteúdo mítico e traziam à tona vivências de inúmeras gerações. A autora sustenta, então, que “herdamos também a sedimentação das vivências de nossos ancestrais” (Spielrein, 1911/2014Spielrein, S. (2014). Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 127-216). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1911), p. 213. Dessa forma, o inconsciente diluiria nossas vivências presentes passadas, que ultrapassariam a experiência individual. Esse processo de dissolução estaria na base da produção dos sintomas esquizofrênicos.

Spielrein (1911/2014Spielrein, S. (2014). Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 127-216). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1911)) argumenta que sua contribuição para a compreensão da esquizofrenia é essa “visão filogenética”. Segundo ela, embora Freud e Jung já tivessem demonstrado a existência de um paralelismo especial entre os fenômenos neuróticos e oníricos e as manifestações da esquizofrenia, essa perspectiva filogenética não estaria presente nas hipóteses formuladas pelos autores.

As ideias elaboradas em “Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia” (Spielrein, 1911/2014Spielrein, S. (2014). Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 127-216). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1911)) são desenvolvidas no texto que Spielrein escreve no ano seguinte, como dissemos. Em “A destruição como origem do devir” (Spielrein, 1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912)), a autora sustenta que, embora o processo de dissolução seja evidente e exacerbado nas fantasias esquizofrênicas, ele faz parte do funcionamento mental em geral. A autora retoma a hipótese de que o pensamento consciente é acompanhado pelo mesmo conteúdo inconsciente, transformado de acordo com a linguagem deste último e, para ilustrar tal fenômeno, usa exemplos de fenômenos hipnagógicos, descritos pelo psicanalista vienense Herbert Silberer (1909Silberer, H. (1909). Bericht über eine Methode, gewisse symbolische Halluzinations-Erscheinungen hervorzurufen und zu beobachten. Jahrbuch für psychoanalytische und psychopathologische Forschungen, 1, 513-525.).

Um dos exemplos de Silberer mencionado é o pensamento consciente “eu quero melhorar um trecho tosco”, o qual é acompanhado por um pensamento simbólico no qual o indivíduo se vê “aplainando um pedaço de madeira”. Spielrein (1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912)) comenta que esse exemplo ilustra como a linha de pensamento adequada ao presente é adaptada, no inconsciente, às “vivências” anteriores de inúmeras gerações. A expressão “trecho tosco” do trabalho é extraída, por analogia, de outro conteúdo representacional, o de aplainar madeiras. No consciente, o sentido da expressão é adequado ao presente, sendo, portanto, diferenciada em relação a sua origem. No entanto, o inconsciente volta a emprestar às palavras o seu significado original do pedaço áspero/tosco de madeira que é aplainado. Dessa forma, o ato presente de melhorar o trabalho é transformado no ato já realizado muitas vezes (pelos nossos ancestrais) de aplainar madeira, explica a autora.

Dessa forma, o consciente se diferenciaria do inconsciente, ao passo que este último dissolveria e assimilaria a experiência consciente em vivências anteriores que transcenderiam o âmbito da experiência individual. Nesse processo, uma experiência pessoal seria transformada em uma experiência da espécie, de forma que as características pessoais seriam eliminadas, ou seja, o “eu” seria dissolvido no “nós” (Spielrein, 1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912)).

Em “A destruição como origem do devir”, Spielrein (1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912)) propõe uma diferenciação entre uma “psique da espécie” - que conteria registros de experiências de inúmeras gerações - e uma “psique do eu” - que conteria os registros mnêmicos provenientes da experiência individual. As duas psiques permaneceriam em conflito, uma vez que seriam movidas por tendências opostas. A psique da espécie possuiria uma “tendência à dissolução e assimilação” do conteúdo individual no coletivo, a qual seria expressão psíquica das pulsões de conservação da espécie. Por outro lado, a psique do eu conteria uma “tendência à diferenciação”, que expressaria as pulsões de autoconservação.

A tendência à dissolução e assimilação possuiria componentes positivos (criativos) e negativos (destrutivos) e, por isso, a psique da espécie seria transformadora. Para Spielrein (1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912)), a criação teria como condição a destruição; o componente negativo seria condição para o surgimento de algo, de forma que não haveria criação sem destruição e vice-versa. Nesse sentido, ela descreve a tendência à dissolução e assimilação como dinâmica, em oposição à tendência à diferenciação da psique do eu, que seria estática, pois visaria à inércia, a manutenção do estado atual do eu. Como esta última tendência não possuiria o componente negativo, destrutivo, ela não traria como consequência o novo; não seria criativa. De acordo com as hipóteses da autora, o instinto de morte - um impulso destrutivo inerente ao instinto sexual, ou à pulsão de conservação da espécie - seria o motor da tendência à dissolução da psique da espécie1 1 Para uma compreensão mais pormenorizada do conceito de instinto de morte de Spielrein e das suas diferenças em relação ao conceito freudiano de pulsão de morte, ver Cromberg (2014), Caropreso (2016) e Caropreso (2017b). .

Dessa maneira, Spielrein formula uma concepção sobre a dinâmica mental que coloca na base do psiquismo as memórias provenientes da experiência do passado da espécie e a tendência desta a se sobrepor às vivências atuais.

Em “O interesse pela psicanálise”, Freud (1913/1998aFreud, S. (1998a). El interés por el psicoanálisis. In Sigmund Freud: Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIII, pp. 165-192). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado em 1913)) comenta que, nos últimos anos, psicanalistas como Spielrein, Jung e Abraham haviam percebido que a tese de que a ontogênese é uma repetição da filogênese teria que ser aplicada também à vida anímica. No mesmo ano, em “Totem e tabu”, Freud (1913/1998bFreud, S. (1998b). Tótem y tabú. In Sigmund Freud: Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIII, pp. 1-162). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado em 1913)) aplica essa teoria ao complexo de Édipo, propondo que este seria a recapitulação ontogenética de uma ocorrência real no desenvolvimento da civilização. No entanto, ele só integra essa visão filogenética de forma clara em suas hipóteses metapsicológicas em sua segunda teoria do aparelho psíquico. Em “O Ego e o Id” (Freud, 1923/1998Freud, S. (1998). El yo y el ello. In Sigmund Freud Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIX, pp. 1-66). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado em 1923)), é apresentada a hipótese de que o Id seria composto, em parte, por aquisições filogenéticas (Caropreso, 2017aCaropreso, F. (2017a). O funcionamento mental e as bases ancestrais do psiquismo segundo Sabina Spielrein. Tempo psicanalítico, 49(2), 126-151.).

A proposta metapsicológica de Spielrein nas cartas a Jung

Entre os anos 1908 e 1919, Spielrein e Jung trocaram uma série de correspondências nas quais discutiram questões pessoais e hipóteses teóricas de ambos, assim como algumas das concepções freudianas. Nas últimas cartas, principalmente nas escritas a partir de 1917, é notável o domínio que Spielrein demonstra sobre a teoria freudiana e a tentativa que ela faz de aproximar os pensamentos dos dois autores, mostrando pontos de convergência entre eles e chamando atenção ao valor de ambas as teorias.

Nas cartas do período entre 1917 e 1918, Spielrein propõe algumas concepções sobre a estrutura e a dinâmica da mente, as quais podem ser consideradas como um desenvolvimento de parte das teses que ela elaborara nos textos de 1911 e 1912 comentados. Pode-se dizer que ela faz uma tentativa de integrar suas concepções com as propostas metapsicológicas de Freud sobre o aparelho psíquico, em particular, com a divisão estabelecida por ele entre as instâncias consciente, pré-consciente e inconsciente. A autora propõe que as duas últimas instâncias são partes de um domínio psíquico mais amplo, denominado “subconsciente” e, com isso, formula algumas ideias originais sobre o funcionamento mental.

Tendo em vista as elaborações teóricas de Spielrein que acabamos de mencionar, a carta central é a que ela escreve a Jung em 20 de dezembro de 1917, pois nela está presente a exposição mais detalhada de suas concepções sobre a tópica e dinâmica mental. No entanto, a ideias apresentadas nas cartas imediatamente anteriores e posteriores complementam as hipóteses apresentadas na carta de 20 de dezembro e permitem uma melhor compreensão delas.

As instâncias mentais

Na carta de 20 de dezembro de 1917, Spielrein propõe uma diferenciação na vida mental entre “consciente”, “subconsciente”, “pré-consciente” e “inconsciente”. Mais precisamente, as duas últimas instâncias seriam partes diferenciadas do subconsciente, de forma que poderíamos dizer que haveria um domínio consciente e outro subconsciente e que, neste, seria possível distinguir o subconsciente que corresponderia ao que ela chama de “consciência lateral”, o pré-consciente e o inconsciente. Em carta a Jung escrita dias antes, em 15 de dezembro de 1917, ela dissera:

No meu escrito “Destruição, etc. . . . ” sempre substituí, ou quis substituir, a expressão inconsciente por “subconsciente”, sem que naquele tempo soubesse que Freud, por “inconsciente”, entende algo completamente diferente do que eu queria indicar com o termo “subconsciente”. Como aluna do senhor, estava habituada a conceber o inconsciente no sentido do que não é consciente; e só depois me dei conta de que o senhor e Freud entendem duas coisas inteiramente diferentes. (Spielrein, 1980/1984Spielrein, S. (1984). Cartas de Sabina Spielrein a C.G. Jung. In A. Carotenuto (Org.), Diário de uma secreta simetria: Sabina Spielrein entre Jung e Freud (pp. 109-161). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra . (Trabalho original publicado em 1980), p. 131-132)

Nas cartas que se seguem, ela corrige o equívoco e elabora a hipótese de uma diferenciação entre subconsciente, inconsciente e pré-consciente. Na carta de 20 de dezembro de 1917, Spielrein propõe a designação “inconsciente” para o domínio mental que seria alvo do recalque; que teria sido barrado pela censura. O pré-consciente seria a agência censuradora. Ela o caracteriza como uma força poderosa que separa, em alguma parte do subconsciente, determinados impulsos infantis, impedindo-os de penetrar na consciência. Assim, pela ação da censura (pré-consciente), surgiria, no subconsciente, o inconsciente como uma área diferenciada e inacessível à consciência.

Seguindo as ideias de Freud, Spielrein pressupõe a existência de uma censura que atuaria sobre desejos derivados de pulsões orgânicos intensas, que entrassem em contradição com nosso eu consciente. Tais desejos - a cujo reconhecimento se oporia um fortíssimo instinto de autoconservação e desenvolvimento - seriam principalmente aqueles relacionados à sexualidade infantil e ao complexo de Édipo. A autora argumenta que, nos homens normais, esses desejos seriam sublimados, ou seja, a energia dos desejos seria retirada e transferida para áreas mais elevadas ou para uma atividade amorosa normal. No entanto, existiria sempre um refluxo de energia nessa velha direção, de forma que as marcas da instintualidade infantil em nós não desapareceriam e dariam origem a sentimentos de prazer, cuja origem não poderia penetrar no consciente.

Também de acordo com o pensamento de Freud (1900/1998Freud, S. (1998). La interpretación de los sueños. In Sigmund Freud: obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. V, pp. 345-611). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1900)), na carta de 20 de dezembro, ela defende que o plano visual da consciência seria extremamente restrito, pois abarcaria uma pequena parte dos processos mentais. Na consciência, estaria presente um tipo de pensamento “direcionado”, oposto ao pensamento “não-direcionado”, que caracterizaria o funcionamento subconsciente, o qual é chamado também de “pensamento subliminar”.

Como esclarece Vidal (2001Vidal, F. (2001). Sabina Spielrein, Jean Piaget: going their own ways. Journal of Analytical Psychology , 46(1), 139-153.), a noção de pensamento “direcionado” e “não-direcionado” foi proposta inicialmente por Jung na segunda parte de “Metamorfoses e símbolos da libido”, publicada em 1912. Para Jung, o pensamento direcionado seria consciente, adaptado à realidade, verbal e conteria relações lógicas. Seria governado por uma capacidade representacional superior, o que daria origem ao sentido de direção. Já o pensamento não-direcionado não seria consciente nem adaptado à realidade; seria subjetivo, simbólico, constituído por uma sucessão de imagens e sentimentos. Jung considera que, se tal tipo de pensamento assume uma forma patológica, em especial esquizofrênica, ou se ele se manifesta como sonho, mito, ou criação artística, revela um estado de mente infantil enraizado tanto na história individual como no passado da humanidade (Vidal, 2001Vidal, F. (2001). Sabina Spielrein, Jean Piaget: going their own ways. Journal of Analytical Psychology , 46(1), 139-153.).

Segundo as ideias apresentadas na carta de 20 de dezembro de 1917, o pensamento não direcionado, ou subliminar, emergiria assim que o pensamento direcionado fosse enfraquecido pelo cansaço, narcose ou por outros fatores. Spielrein volta a se referir aos fenômenos hipnagógicos, descritos por Silberer (1909Silberer, H. (1909). Bericht über eine Methode, gewisse symbolische Halluzinations-Erscheinungen hervorzurufen und zu beobachten. Jahrbuch für psychoanalytische und psychopathologische Forschungen, 1, 513-525.), para exemplificar tal forma de pensamento. Tais fenômenos constituiriam o primeiro grau do pensamento subliminar e permitiriam compreender algumas de suas características. Segundo ela:

A observação dos fenômenos hipnagógicos nos ensina que o curso de pensamentos subliminares representa o curso de pensamentos conscientes com símbolos, e não apenas com símbolos visuais, mas também “símbolos de pensamento” acústicos e dinâmicos etc. Os símbolos subliminares são mais gerais e arcaicos que os equivalentes do pensamento consciente. (Spielrein, 2014Spielrein, S. (2014). Carta a Jung de 20 de dezembro de 1917. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 367-375). São Paulo, SP: Livros da Matriz ., p. 369, grifo da autora)

O restante do subconsciente - que não consistisse no recalcado ou no pré-consciente - é denominado “consciente lateral”. Esta parte seria composta por conteúdos relacionados à vida pessoal e por conteúdos pertencentes à espécie. Spielrein (2014Spielrein, S. (2014). Carta a Jung de 20 de dezembro de 1917. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 367-375). São Paulo, SP: Livros da Matriz ., p. 370) argumenta que “precisamos empurrar muitos de nossos ‘complexos’ para o subconsciente, não apenas por falta de tempo, mas também por intolerância, por desconfiança etc. - em resumo, por motivos afetivo pessoais”. Dessa maneira, alguns complexos seriam excluídos do pensamento direcionado por razões afetivas. Eles, no entanto, ao contrário das representações “inconscientes”, permaneceriam “capazes de consciência”, diz ela, uma vez que não teriam sido separados do consciente por meio da censura. Como explica Cromberg (2014Cromberg, R. U. (2014). Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise. São Paulo, SP: Livros da Matriz.), Spielrein faz uma diferenciação entre Uterdrückung (repressão) e Verdrängung (recalque). O primeiro mecanismo operaria entre o consciente e o subconsciente (consciência lateral), enquanto o segundo atuaria entre o subconsciente e o inconsciente.

Tanto a parte subconsciente excluída do pensamento direcionado (alvo da Uterdrückung) como a sua parte composta por derivados de instintos censurados (alvo da Verdrängung) estariam ligadas à experiência individual. Podemos inferir que aí estaria a “psique do eu” descrita por Spielrein em 1912. Todavia, como mencionamos, o subconsciente conteria também um material que transcenderia a vida individual, de forma que podemos inferir que nele também estaria contida a “psique da espécie”.

Na carta de 20 de dezembro de 1917, a autora afirma que a vida psíquica individual se estende para psique coletiva e argumenta que “o subconsciente tem uma elevada cultura moral já que é um depósito de toda a série histórica da evolução.” (Spielrein, 2014Spielrein, S. (2014). Carta a Jung de 20 de dezembro de 1917. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 367-375). São Paulo, SP: Livros da Matriz ., p. 373). Adiante, na mesma carta, ela diferencia claramente um “subconsciente pessoal” e um “subconsciente coletivo”. Em suas palavras:

se estamos em áreas que o consciente tolera, entre coisas mais elevadas, estamos lidando com pensamentos mais elevados ou conflitos afetivos - então nos encontramos no subconsciente pessoal ou coletivo; se, no entanto, surgem coisas arrepiantes que fazem parte das formas pulsionais que sobreviveram, ou algo que, devido a falsas ligações, também pareça arrepiante - então estamos no verdadeiro inconsciente. (Spielrein, 2014Spielrein, S. (2014). Carta a Jung de 20 de dezembro de 1917. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 367-375). São Paulo, SP: Livros da Matriz ., p. 374)

Assim, na parte do subconsciente correspondente à consciência lateral, seria possível diferenciar entre um subconsciente pessoal - constituído pelo conteúdo excluído do pensamento direcionado - e um subconsciente coletivo - constituído pelo “depósito de toda a série histórica da evolução” (Spielrein, 2014Spielrein, S. (2014). Carta a Jung de 20 de dezembro de 1917. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 367-375). São Paulo, SP: Livros da Matriz ., p. 373) e formado, portanto, por hereditariedade, como diz Spielrein na carta de 6 de janeiro de 1918. No entanto, podemos inferir que também o inconsciente seria de origem pessoal, de forma que, se tentamos relacionar a “psique do eu”, descrita em 1912, com a proposta teórica da carta a Jung de 20 de dezembro, somos conduzidos à conclusão de que, tanto a parte pessoal da consciência lateral, quanto o inconsciente (recalcado), corresponderiam à psique do eu.

O caráter prospectivo do subconsciente

Nas cartas trocadas entre Jung e Spielrein, algumas vezes é discutida a hipótese defendida por Jung de que o inconsciente teria um caráter prospectivo. Esse é um dos principais pontos de discordância de Jung em relação à hipótese freudiana do inconsciente. Na carta de 15 de dezembro de 1917, Spielrein argumenta que, seguramente, no nosso subconsciente, conservamos conselhos, sinais e indicações de direções para a nossa vida futura. No entanto, segundo ela, esse caráter prospectivo poderia estar presente no subconsciente, mas não no inconsciente freudiano2 2 A maior parte das vezes em que Spielrein usa a palavra “subconsciente” sem especificação é possível inferir, a partir do contexto, que ela está se referindo à consciência lateral. .

Essa questão volta a ser discutida na carta de Spielrein de 6 de janeiro de 1918. Nela, a autora reconhece a possibilidade de que o subconsciente seja prospectivo, porém, demarca o seu diferencial em relação a Jung, argumentando que, embora provavelmente o subconsciente de toda pessoa seja, até certo ponto, preditivo, não devemos considerá-lo sempre profético. O subconsciente elabora diversas tendências existentes em nós e nos mostra possibilidades e probabilidades que estão suspensas no ar, ou seja, que se acham próximas da realização. No entanto, ele também pode errar; pode ser vítima de sugestão, ou seja, pode ser induzido a buscar a solução de um problema em uma “forma mais elevada” ou “mais baixa”, argumenta a autora. Essa possibilidade de erro e de ser influenciado pela sugestão impediria, portanto, que lhe fosse atribuído sempre um caráter profético, embora pudéssemos considerá-lo, até certo ponto, preditivo.

Nessa mesma carta Spielrein usa sua própria fantasia do Sigfrido - o filho que ela desejava ter com Jung - para exemplificar a possibilidade de erro do pensamento subconsciente. Segundo ela, por um período, seu subconsciente teria intuído a possibilidade de realização “real” dessa fantasia e a aconselhado a não opor resistência a isso. No entanto, tal realização foi impedida pelas circunstâncias da realidade e, então, seu subconsciente posicionou-se contra a solução “real” do problema e a favor de um caminho sublimatório para solucioná-lo. Dessa forma, diz ela: “Se bem que o subconsciente não nos indique uma meta fixa, mas somente resolva os problemas segundo as circunstâncias, indique um caminho, tenha efeito prevenidor ou encorajador, etc. - a observação metódica desses fenômenos é de enorme interesse.” (Spielrein, 1980/1984Spielrein, S. (1984). Cartas de Sabina Spielrein a C.G. Jung. In A. Carotenuto (Org.), Diário de uma secreta simetria: Sabina Spielrein entre Jung e Freud (pp. 109-161). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra . (Trabalho original publicado em 1980), p. 148).

A discussão continua na carta de Spielrein com data provável de 27-28 de janeiro de 1918. Nesta, ela reafirma sua crença no significado prospectivo e profético do subconsciente. No entanto, diz considerar necessário levantar as seguintes questões:

O subconsciente é prospectivo em todo homem? Provavelmente, sim. Mas o é, em cada um, na mesma medida? Ou seja: é, por assim dizer, como uma fórmula divina, que cada um possa ler em si mesmo, contanto que o queira? Ou se trata de uma capacidade, como, por exemplo, a inteligência, a qual está desenvolvida nos homens em diferente medida? (Spielrein, 1980/1984Spielrein, S. (1984). Cartas de Sabina Spielrein a C.G. Jung. In A. Carotenuto (Org.), Diário de uma secreta simetria: Sabina Spielrein entre Jung e Freud (pp. 109-161). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra . (Trabalho original publicado em 1980), p. 157)

Spielrein não formula uma resposta direta a essas indagações. O que podemos perceber é que ela defende que a parte não recalcada do subconsciente poderia ter um caráter prospectivo, o qual, contudo, seria influenciado pelas circunstâncias e seria passível de erro, de forma que apesar de prospectivo, o subconsciente não seria necessariamente profético. Apesar de capaz de formular predições com base nas circunstâncias atuais, o subconsciente não seria necessariamente profético, ou seja, não teria necessariamente a capacidade de antecipar algo que, de fato, viesse a acontecer. Ela sugere também que talvez esse caráter prospectivo e profético não fosse igualmente desenvolvido em todas as pessoas.

A concepção de simbolismo

Na carta de 20 de dezembro de 1917, Spielrein argumenta que o material recalcado, que constitui o inconsciente, também se expressa no subconsciente (consciência lateral) a partir dos símbolos subliminares, os quais representariam formações de compromisso entre os desejos inconscientes recalcados e as tendências mais elevadas. No entanto, como mencionamos anteriormente, eles não expressariam apenas o conteúdo inconsciente, mas também conteúdos arcaicos, pertencentes à psicologia coletiva, representações propriamente subconscientes (pertencentes ao que ela chama de “consciência lateral”), assim como sensações corporais. Nesta passagem, da carta de 6 de janeiro de 1918, ela afirma o seguinte sobre o simbolismo:

Até certo nível, ele tem um caráter individual; depois, indo-se mais a fundo, torna-se sempre mais arcaico, os conteúdos da consciência individual se transformam nos da consciência da espécie, os problemas individuais se transformam em problemas arcaicos, etc., dos quais se cristalizam os novos problemas individuais e as suas soluções; e pode-se seguir o seu curso até a consciência. (Spielrein, 1980/1984Spielrein, S. (1984). Cartas de Sabina Spielrein a C.G. Jung. In A. Carotenuto (Org.), Diário de uma secreta simetria: Sabina Spielrein entre Jung e Freud (pp. 109-161). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra . (Trabalho original publicado em 1980), p. 143, grifos da autora)

Na carta que Jung (2001Jung, C. G. (2001). The letters of C. G. Jung to Sabina Spielrein. Journal of Analytical Psychology, 46(1), 173-199.) escreve em 18 de dezembro de 1917, ele se manifesta a respeito da diferenciação que Spielrein defende entre as instâncias psíquicas. Diz ele: “Sua concepção do inconsciente me parece arbitrária. Não está claro como você pode distinguir, praticamente, entre uma consciência lateral, um pré-consciente, um subconsciente e um inconsciente. De onde vêm os sonhos?” (p. 190, tradução nossa)3 3 Na carta de Sabina para Jung de 15 de dezembro de 1917, ela apresenta de forma sucinta sua hipótese da divisão da vida mental entre consciente, subconsciente, pré-consciente e inconsciente. Na carta que Jung escreve para ela em 18 de dezembro do mesmo ano, ele faz a crítica que acabamos de expor. A carta de Spielrein de 20 de dezembro parece consistir em uma resposta à crítica de Jung; uma tentativa de explicar melhor as suas hipóteses e responder à questão que ele levanta sobre os sonhos. .

Na carta de 20 de dezembro de 1917, Spielrein responde essa questão levantada por Jung e expõe sua concepção sobre a formulação simbólica nos sonhos, a qual não se diferenciaria da formação simbólica subliminar em geral. Ela esclarece que sentimentos corporais também se expressariam na simbólica subliminar e propõe então que, na formação simbólica dos sonhos, colaborariam: conteúdos psíquicos conscientes e subconscientes, sentimentos corporais e desejos recalcados. Uma análise completa do simbolismo, diz ela, deveria revelar, pelo menos, essas quatro instâncias.

Para ilustrar o simbolismo do pensamento subliminar, Spielrein retoma, na carta de 20 de dezembro, um exemplo de Silberer que já havia sido comentado em seu texto sobre a destruição, de 1912. Neste último texto, para exemplificar a hipótese de que cada pensamento consciente possui um curso de pensamento paralelo inconsciente, o qual transforma o primeiro em uma linguagem própria, ela cita o seguinte exemplo de estado hipnagógico descrito por Silberer: “Eu penso no avanço do espírito humano para dentro da complexa e sombria região do problema da mãe (Fausto 2ª parte)” (Spielrein, 1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912), p. 233). Emerge, então, o seguinte pensamento simbólico: “Estou em uma tribuna de pedra solitária colocada bem no centro de um mar sombrio. A água do mar quase se funde no horizonte com o ar também profundamente matizado e misteriosamente negro” (Spielrein, 1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912), p. 233).

Spielrein (1912/2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Org.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (pp. 227-277). São Paulo, SP: Livros da Matriz . (Trabalho original publicado em 1912)) explica que ser levado para dentro do mar sombrio corresponde à penetração no problema sombrio. A fusão do ar com a água, o amálgama da parte superior com a inferior, pode simbolizar que, nas mães (como descreve Mefistófeles), todos os tempos e todos os lugares se fundem. Ela aponta que, neste exemplo, como no pensamento dos povos antigos, o mar é visto como a mãe - a água maternal criadora, da qual tudo surgiu. O mar (a “mãe”) no qual se penetra é o problema sombrio; o estado no qual não existe tempo, lugar, nem opostos (em cima e embaixo), pois ele é ainda o não-diferenciado. A imagem do mar (mãe) é, ao mesmo tempo, a imagem das profundezas do inconsciente, o qual vive concomitantemente no presente, passado e futuro, ou seja, fora do tempo, para o qual todos os lugares se fundem e para o qual os opostos têm o mesmo significado, explica a autora.

Essa análise, apresentada no texto de 1912, ilustra a hipótese de que o pensamento consciente seria acompanhado por um pensamento simbólico que expressaria conteúdos arcaicos, pertencentes ao psiquismo da espécie. Na carta de 20 de dezembro de 1917, ela retoma esse exemplo e acrescenta uma possível significação de tal pensamento simbólico relacionada ao inconsciente e ao corporal. Do ponto de vista dos desejos inconscientes, a imagem seria o símbolo do desejo de regressar ao ventre materno. Do ponto de vista do subconsciente não recalcado (consciência lateral), o mar sombrio seria um símbolo do problema difícil tornado subconsciente e, ao mesmo tempo, símbolo de muitos outros pensamentos ligados a ele. Do ponto de vista das sensações orgânicas, seria possível dizer que a imagem do mar escuro, assim como a dificuldade da tarefa consciente, seria somente uma expressão e um símbolo da atividade respiratória que se tornou mais difícil. Segundo Spielrein, esse exemplo ilustra também como os símbolos são intercambiáveis, isto é, como o subconsciente simboliza o consciente e vice-versa.

Na carta de 20 de dezembro de 1917, após expor essa interpretação dos vários níveis de significação do simbolismo subliminar, Spielrein levanta a questão sobre qual seria a interpretação correta. Ela responde que isso depende de qual capacidade queremos esclarecer por meio da análise do simbolismo, uma vez que as mais variadas capacidades contribuem para a formação e escolha do símbolo. Na carta de Jung de 28 de dezembro de 1917, ele diz que a interpretação correta de um símbolo é a que traz o maior valor para a nossa vida, o que é caracterizado como uma visão pragmática.

Spielrein (1980/1984Spielrein, S. (1984). Cartas de Sabina Spielrein a C.G. Jung. In A. Carotenuto (Org.), Diário de uma secreta simetria: Sabina Spielrein entre Jung e Freud (pp. 109-161). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra . (Trabalho original publicado em 1980)) sintetiza sua concepção de simbolismo na carta de 21 de dezembro de 1917 dizendo: “O símbolo é uma formação de compromisso; é como uma constelação formada por processos que se desenvolvem no subconsciente e no inconsciente, os quais, por sua vez, recebem elementos do resto da vida consciente e das ‘sensações orgânicas’ subconscientes” (p. 139).

Na carta de 27-28 de janeiro de 1918, ela expõe a Jung sua visão sobre a diferença entre as concepções de simbolismo dele e de Freud. Diz ela:

O senhor dedica toda a sua atenção à “finalidade” do indivíduo, tal como é expressa nos símbolos subliminares. (E os chama sinais semióticos; o que quer dizer isso?) Freud não se ocupa disto porque considera suficiente esclarecer ao doente as suas fixações patológicas do instinto, e submetê-las a uma elaboração consciente, a fim de suscitar nele uma reação sadia que lhe permita encontrar, de modo consciente, o objetivo da sua vida. Portanto, para Freud, o simbolismo subliminar tem valor apenas enquanto expressão dos desejos instintivos. . . . (Spielrein, 1980/1984Spielrein, S. (1984). Cartas de Sabina Spielrein a C.G. Jung. In A. Carotenuto (Org.), Diário de uma secreta simetria: Sabina Spielrein entre Jung e Freud (pp. 109-161). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra . (Trabalho original publicado em 1980), p. 156, grifos da autora)

Para Spielrein, o simbolismo subliminar possuiria uma origem composta: orgânica, inconsciente, subconsciente e consciente. Sua ênfase recai na sobredeterminação e na reversibilidade dos símbolos. Com sua concepção, ela parece buscar ressaltar o caráter polivalente dos símbolos subliminares, sem colocar a ênfase em um dos aspectos como o fazem Freud e Jung, segundo sua interpretação. Embora não negue o caráter prospectivo do subconsciente, ela coloca ressalvas à concepção de Jung. Da mesma forma, embora não negue que o simbolismo subliminar seja também expressão do inconsciente recalcado e reconheça a validade de interpretá-lo enquanto tal, ela não coloca esse nível de significação em um nível superior aos demais.

A relação entre a tópica de Spielrein e a de Freud

Nas carta de 20 de dezembro de 1917, Spielrein afirma que o seu diferencial em relação a Freud é a sua concepção de subconsciente, pois ele não considera o subconsciente em si, mas o une ao consciente. Na época, Freud tinha acabado de publicar os “Artigos metapsicológicos” (1915-1917), nos quais ele repensa e sistematiza suas concepções sobre o que foi chamado de primeira teoria do aparelho psíquico.

Em seus artigos metapsicológicos, Freud (1915-1917/1998Freud, S. (1998). Trabajos sobre metapsicologia. In Sigmund Freud: Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIV, pp. 99-255). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado entre 1915 e 1917)) propõe que o aparelho psíquico é composto pelas instâncias “inconsciente”, “pré-consciente” e “consciente”. Assim como defendera em “A interpretação dos sonhos” (Freud, 1900/1998Freud, S. (1998). La interpretación de los sueños. In Sigmund Freud: obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. V, pp. 345-611). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1900)), a primeira dessas instâncias corresponderia ao processo primário e a segunda ao processo secundário. O primário é caracterizado pelo livre fluxo da excitação, o que teria como consequência a ausência de relações lógicas, a atemporalidade e a substituição da realidade externa pela realidade psíquica. O secundário, em contrapartida, seria um processo inibido, temporal, que conteria relações lógicas e seria governado pelo princípio de realidade (Freud, 1915/1998bFreud, S. (1998b). Lo inconsciente. In Sigmund Freud Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIV, pp. 153-213). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado em 1915)). As representações integrantes do inconsciente, ou do processo primário, seriam aquelas que teriam sido alvo de dois tipos de recalque: o “recalque primordial” e o “recalque propriamente dito”.

Segundo as hipóteses apresentadas no artigo metapsicológico “O recalque” (Freud, 1915/1998aFreud, S. (1998a). La représsion. In Sigmund Freud: Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIV, pp. 135-152). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado em 1915)), o recalque primordial consistiria na não inclusão de certas representações no pré-consciente, de forma que elas permaneceriam inconscientes e, portanto, insuscetíveis de consciência, desde sua origem. Essas representações não seriam integradas ao pré-consciente porque não chegariam a ser associadas às representações de palavras. Nessa etapa de sua teoria, Freud considera que apenas as representações ligadas a palavras estariam acessíveis à consciência, no funcionamento de vigília normal, e que o pré-consciente emerge a partir da constituição da linguagem. O recalque propriamente dito, por sua vez, seria um processo que excluiria do pré-consciente - e, portanto, do acesso à consciência - representações que, por entrarem em contradição com os valores morais, tivessem se tornado conflituosas e fontes de desprazer. Tendo isso em vista, pode-se dizer que o inconsciente seria composto pelas representações reprimidas (desde a origem ou a posteriori) e que, portanto, permaneceriam “insuscetíveis de consciência” no funcionamento mental normal de vigília. Já o pré-consciente seria composto por representações ligadas a palavras e que, portanto, estariam acessíveis à consciência, embora tivessem que superar uma censura existente entre a consciência e o pré-consciente para se tornarem efetivamente conscientes (Freud, 1917/1998Freud, S. (1998). Complemento metapsicológico a la doctrina de los sueños. In Sigmund Freud: Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIV, pp. 215-233). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado em 1917)). Assim, pode-se dizer que no pré-consciente haveria dois tipos de representações: aquelas barradas pela última censura e aquelas não barradas, que poderiam alcançar a consciência. O pré-consciente, entre outras funções, seria responsável pela outra censura, que estaria na base do processo do recalque propriamente dito4 4 Uma análise detalhada das concepções freudianas sobre o aparelho psíquico pode ser encontrada em Caropreso (2010). .

As características do pensamento direcionado, que Spielrein atribui à consciência, se aproximam das características do processo secundário descrito por Freud, de forma que a autora confere à consciência uma característica que, para Freud, seria do pré-consciente. Como vimos, para ela, esta última instância se limitaria a exercer a censura, de maneira que sua concepção de pré-consciente é bastante limitada, tendo em vista aquela de Freud. No restante do subconsciente estaria presente o pensamento não direcionado, cujas características se aproximam daquelas do processo primário descrito por Freud. Parte das representações aí presentes teriam sido deslocadas do pensamento direcionado por razões afetivas. Estas, no entanto, permaneceriam suscetíveis de consciência. Podemos relacionar essas representações àquelas que Freud considera como pré-conscientes, mas barradas pela censura entre o consciente e a pré-consciência. No entanto, elas apresentariam características que seriam mais próximas do processo primário freudiano, de forma que a autora parece propor existência de um processo primário suscetível de consciência, ou seja, que não teria sido alvo do recalque. Assim, de certa maneira, ela amplia a concepção freudiana de processo primário.

Para Freud, a suscetibilidade de consciência seria uma característica do pré-consciente, no entanto, tal característica dependeria da ligação com palavras. Assim, Spielrein parece propor a existência de processos suscetíveis de consciência, mas não ligados a palavras, uma vez que o pensamento não direcionado do subconsciente (consciência lateral) não seria verbal, embora fosse suscetível de consciência. Essa é uma hipótese que Freud (1923/1998Freud, S. (1998). El yo y el ello. In Sigmund Freud Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIX, pp. 1-66). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado em 1923)) incorpora em sua teoria alguns anos mais tarde, em “O Ego e o Id”.

Outra parte da consciência lateral integraria o que Spielrein chama de subconsciente coletivo, ou seja, seria composta por memórias provenientes do passado da espécie. Este subconsciente formado por hereditariedade parece ser o principal diferencial de Spielrein em relação a Freud. Na teoria metapsicológica sobre o aparelho psíquico que Freud apresenta, não parece haver nada correspondente a isso, embora, como mencionamos anteriormente, Freud (1923/1998Freud, S. (1998). El yo y el ello. In Sigmund Freud Obras completas (J. L. Etcheverry, trad., Vol. XIX, pp. 1-66). Buenos Aires: Amorrortu . (Trabalho original publicado em 1923)) de certa maneira inclua esse segmento hereditário em sua segunda teoria do aparelho psíquico desenvolvida em “O Ego e o Id”.

O inconsciente descrito por Spielrein é identificado ao recalcado, ao barrado pela censura, devido à oposição exercida pelas pulsões de autoconservação. Ela esclarece que o que chama de inconsciente é o mesmo que Freud designa com tal termo, embora, em nenhum momento mencione a hipótese freudiana de um recalque primordial e se refira ao recalque como um processo semelhante ao que Freud denominou recalque propriamente dito.

A concepção de Spielrein sobre a relação intercambiável entre o consciente e o subconsciente, uma vez que a consciência simbolizaria o subconsciente e vice-versa, não parece ter paralelo na teoria freudiana. De acordo com esta, podemos dizer que o pré-consciente e o consciente simbolizariam o inconsciente, mas não que o inconsciente simbolizaria a consciência e o pré-consciente. Encontramos aí também uma concepção original da autora.

Considerações finais

Nas cartas a Jung que analisamos, Spielrein tenta integrar algumas das ideias elaboradas em seus textos iniciais com as hipóteses que Freud defendia na época sobre o aparelho psíquico, assim como com alguns conceitos de Jung. Entre os últimos, destacam-se os conceitos de pensamento direcionado e não direcionado, da existência de material psíquico que transcende às experiências pessoais e a questão do caráter prospectivo do psiquismo.. A autora dialoga com as teorias desses autores e procura mostrar que, em muitos pontos, elas não são inconciliáveis. Com o conceito de subconsciente, a autora desenvolve as concepções de psique do eu e a psique da espécie, formulados em seu texto sobre a destruição, e, a partir disso, dá continuidade à sua teoria sobre o simbolismo. Apesar da tentativa de integração das hipóteses de Freud e Jung, a teoria elaborada por Spielrein apresenta uma originalidade, que justifica maior destaque na história da psicanálise.

Como comenta Cromberg (2014Cromberg, R. U. (2014). Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise. São Paulo, SP: Livros da Matriz.), a formulação teórica que Spielrein elabora nas cartas, em especial a introdução da concepção de subconsciente e subliminar, marca seu pensamento próprio como psicanalista em relação à tópica e à dinâmica do aparelho psíquico freudiano. Tais hipóteses constituíram a alavanca que lhe permitiu formular, nos anos subsequentes, uma conceitualização pioneira e original sobre o surgimento e a função da linguagem, além de uma teoria própria sobre a formação do símbolo e sobre o pensamento, a qual viria a ser desenvolvida nos anos seguintes, com a colaboração de Jean Piaget.

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  • Vidal, F. (2001). Sabina Spielrein, Jean Piaget: going their own ways. Journal of Analytical Psychology , 46(1), 139-153.
  • 1
    Para uma compreensão mais pormenorizada do conceito de instinto de morte de Spielrein e das suas diferenças em relação ao conceito freudiano de pulsão de morte, ver Cromberg (2014Cromberg, R. U. (2014). Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise. São Paulo, SP: Livros da Matriz.), Caropreso (2016Caropreso, F. (2016). O instinto de morte segundo Sabina Spielrein. Psicologia USP, 27(3), 414-419.) e Caropreso (2017bCaropreso, F. (2017b). The death instinct and the mental dimension beyond the pleasure principle in the works of Spielrein and Freud. International Journal of Psychoanalysis, 98, 1741-1762.).
  • 2
    A maior parte das vezes em que Spielrein usa a palavra “subconsciente” sem especificação é possível inferir, a partir do contexto, que ela está se referindo à consciência lateral.
  • 3
    Na carta de Sabina para Jung de 15 de dezembro de 1917, ela apresenta de forma sucinta sua hipótese da divisão da vida mental entre consciente, subconsciente, pré-consciente e inconsciente. Na carta que Jung escreve para ela em 18 de dezembro do mesmo ano, ele faz a crítica que acabamos de expor. A carta de Spielrein de 20 de dezembro parece consistir em uma resposta à crítica de Jung; uma tentativa de explicar melhor as suas hipóteses e responder à questão que ele levanta sobre os sonhos.
  • 4
    Uma análise detalhada das concepções freudianas sobre o aparelho psíquico pode ser encontrada em Caropreso (2010Caropreso, F. (2010). Freud e a natureza do psíquico. São Paulo, SP: Annablume.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    27 Fev 2018
  • Revisado
    12 Set 2019
  • Aceito
    19 Set 2019
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