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O ensino da psicanálise na graduação em psicologia: cursos e percursos no estado do Acre

Psychoanalysis teaching in Psychology courses: routes and paths in the state of Acre

L’enseignement de la psychanalyse dans les cours de Psychologie : voies et chemins dans l’état d’Acre

La enseñanza del psicoanálisis en el grado en psicología: cursos y trayectorias en el estado de Acre

Resumo

Este trabalho teve como objetivo analisar os conteúdos de psicanálise ensinados nos cursos de psicologia do Acre por meio das ementas das disciplinas e bibliografias correspondentes, registradas nos projetos pedagógicos curriculares dos quatro cursos existentes no estado. Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa e fonte do tipo documental, que recorreu à análise de conteúdo para conduzir a interpretação dos dados. Os resultados indicaram ementas com ênfase no ensino freudiano e privilégio de publicações nacionais. Entre as lacunas identificadas, destaca-se a carência de conteúdos a respeito da pesquisa psicanalítica e da clínica para além do modelo clássico, o que convoca a implementação de mudanças que possam subsidiar as investigações e as práticas no contexto amazônico, além de fomentar o desenvolvimento desta abordagem tendo como horizonte o percurso formativo que a disciplina freudiana exige.

Palavras-chave:
psicanálise; psicologia; universidade

Abstract

This paper analyzes the psychoanalysis subjects taught in psychology programs in the state of Acre by the syllabus and bibliographies of the corresponding disciplines, available on the curricular pedagogical projects of the four existing programs. A descriptive and qualitative study was conducted based on documentary sources investigated by content analysis. The results indicated syllabuses that emphasize Freudian teachings and a preference for national publications. Lack of classes on psychoanalytic research and clinic beyond the classic model stands out amidst the identified gaps, calling for changes that may subsidize investigations and practices in the Amazon context, fomenting the development of this approach aiming at the formative journey that the Freudian discipline requires.

Keywords:
psychoanalysis; psychology; university

Résumé

Ce article analyse les contenus de psychanalyse enseignés dans les programmes de psychologie dans l’état d’Acre par les syllabus et les bibliographies des disciplines correspondantes, disponibles sur les projets pédagogiques curriculaires des quatre programmes existant. Une étude descriptive et qualitative a été menée sur la base de sources documentaires étudiée par analyse de contenu. Les résultats indiquent des syllabus qui mettent l’accent sur les enseignements freudiens et une préférence pour les publications nationales. L’absence de cours concernant la recherche et la clinique psychanalytiques au-delà du modèle classique ressort parmi les lacunes identifiées, appelant à des changements qui pourraient subventionner les investigations et les pratiques dans le contexte amazonien, favorisant le développement de cette approche visant le parcours formateur que la discipline freudienne exige.

Mots-clés :
psychanalyse; psychologie; université

Resumen

El presente trabajo tuvo como objetivo analizar los contenidos de psicoanálisis impartidos en los cursos de psicología en el estado de Acre, a través de los roles de las disciplinas y bibliografías correspondientes, registrados en los proyectos pedagógicos curriculares de los cuatro cursos existentes en el estado. Se trata de un estudio descriptivo, con enfoque cualitativo, y con una fuente documental que utilizó el análisis de contenido para dirigir la interpretación de los datos. Los resultados indicaron roles con énfasis en la enseñanza freudiana y el privilegio de las publicaciones nacionales. Entre los vacíos identificados, se encuentra una falta de contenido en materia de investigación psicoanalítica y clínica más allá del modelo clásico, lo que requiere la implementación de cambios que puedan subvencionar las investigaciones y prácticas en el contexto amazónico, además de potenciar el desarrollo de este enfoque teniendo como horizonte el camino formativo que demanda la disciplina freudiana.

Palabras clave:
psicoanálisis; psicología; universidad

O ensino da psicanálise nas universidades é alvo de controvérsias no meio psicanalítico. No Brasil, ele está presente nas graduações em psicologia desde sua fundação, na década de 1960 (Pinto & Vaisberg, 2001Pinto, E. B., & Vaisberg, T. M. J. A. (2001). Psicanálise e universidade: Perspectivas. Psicologia USP, 12(2), 137-145. doi: 10.1590/S0103-65642001000200011
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), e perdura até hoje. Existem psicanalistas que problematizam a entrada nessas instituições, pois consideram que, diferentemente de outros saberes ensinados nesses espaços, a transmissão da psicanálise não se restringe ao ensino, e é sustentada não somente pelo estudo da teoria, mas também pela supervisão e análise pessoal (Carneiro & Pinto, 2009Carneiro, H. F., & Pinto, P. J. (2009). A transmissão da psicanálise na universidade a partir do estudo de casos clínicos. Psicologia em Revista, 15(3), 172-188.). Há também quem acredite que, embora os estudos e supervisões clínicas na universidade sejam insuficientes para a formação do analista, elas podem ser um bom caminho construído nesse percurso (Figueiredo, 1997Figueiredo, A. C. (1997). Vastas confusões e atendimentos imperfeitos: A clínica psicanalítica no ambulatório público. Rio de Janeiro, RJ: Relume-Dumará.).

Freud (1919/2010)Freud, S. (2010). Deve a psicanálise ser ensinada na universidade? In Obras Completas de Sigmund Freud (P. C. L. Souza, Trad., Vol. 14, pp. 284-287). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1919), em seu texto “Deve-se Ensinar a Psicanálise nas Universidades?”, posiciona-se a respeito desta questão afirmando que a inclusão da psicanálise “no currículo acadêmico seria motivo de satisfação para um psicanalista, mas, ao mesmo tempo, é evidente que ele pode prescindir da universidade sem prejuízo para sua formação” (p. 285). Destaca-se que, diferentemente da configuração atual, naquela época a psicanálise encontrava-se excluída das universidades, sendo assim, era através da literatura, das reuniões em sociedades psicanalíticas e das trocas com os pares que se conquistava o necessário para a formação em termos teóricos. Quanto ao aspecto prático, podia-se obter experiências na análise pessoal e no tratamento de pacientes sob supervisão (Freud, 1919/2010Freud, S. (2010). Deve a psicanálise ser ensinada na universidade? In Obras Completas de Sigmund Freud (P. C. L. Souza, Trad., Vol. 14, pp. 284-287). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1919)).

Ainda no referido texto, Freud (1919/2010)Freud, S. (2010). Deve a psicanálise ser ensinada na universidade? In Obras Completas de Sigmund Freud (P. C. L. Souza, Trad., Vol. 14, pp. 284-287). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1919) assinala as contribuições que a psicanálise pode fornecer às universidades, mas salienta que o estudante universitário “jamais aprenderá realmente a psicanálise” (p. 287), afirmativa que parece apontar para a riqueza da experiência analítica, situada para além do conhecimento acadêmico. Uma vez que se considera que a formação do analista não se resume a um curso, mas a um percurso, “é suficiente que ele aprenda algo sobre e com a psicanálise” (p. 287), e a incompletude desta aproximação é uma marca que deve guiar o analista na busca do conhecimento.

Além das divergências quanto à legitimidade da interação entre psicanálise e universidade, observa-se que os cursos de psicologia vêm fornecendo acesso ao saber psicanalítico e configuram-se, por vezes, como o início do percurso em psicanálise. No caso do estado do Acre, haja vista a ausência de instituições psicanalíticas, eles são espaços privilegiados de disseminação deste conhecimento e oferecem as bases para um desenvolvimento em potencial neste campo.

Durante a realização desta pesquisa eram quatro os cursos de psicologia ofertados por instituições localizadas na capital Rio Branco, os quais tiveram início a partir dos anos de 2006, 2007, 2013 e 2016. Nestes cursos, além de teoria, a psicanálise pode ser utilizada como orientadora das intervenções nos estágios curriculares, bem como na posterior atuação profissional dos egressos que fizerem uso desse referencial, tendo estes a pretensão ou não de se tornarem analistas.

Diante desse contexto, justifica-se o desenvolvimento de estudos quanto à psicanálise no âmbito universitário, pois mesmo esta temática tendo sido consideravelmente trabalhada, observa-se nas publicações o predomínio de estudos teóricos que, em suma, apresentam o diálogo dos autores com as referências e seus respectivos posicionamentos (Coutinho, Mattos, Monteiro, Virgens, & Almeida Filho, 2013Coutinho, D. M. B., Mattos, A. S., Monteiro, C. F. D’., Virgens, P. A., & Almeida Filho, N. M. (2013). Ensino da psicanálise na universidade brasileira: Retorno à proposta freudiana. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 65(1), 103-120.), o que revela a necessidade de abordar essa temática a partir de outros modelos metodológicos. Destarte, espera-se, com este trabalho, responder à seguinte questão: quais as características dos conteúdos que têm sido privilegiados no ensino da psicanálise nos cursos de psicologia do estado do Acre? A fim elucidar esta problemática, estabeleceu-se como objetivo a análise dos conteúdos de psicanálise ensinados nos cursos de psicologia do estado do Acre a partir das ementas dos componentes curriculares e bibliografia correspondente, ambas registradas no projeto pedagógico curricular (PPC) de cada curso.

Método

Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, do tipo documental, que se propõe a descrever as características do objeto estudado, bem como indicar relação entre variáveis sem se comprometer com a explicação das razões de sua existência (Gil, 2008Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social (6a ed). São Paulo, SP: Atlas.). Para tanto, foi empregada como técnica de coleta de dados a pesquisa documental, cuja característica é a utilização de materiais que não passaram por “um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa” (Gil, 2008Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social (6a ed). São Paulo, SP: Atlas., p. 51). Neste caso, os projetos pedagógicos curriculares das quatro formações em psicologia ofertadas por Instituições de Ensino Superior (IES) acrianas configuraram-se como material de análise.

O projeto pedagógico curricular foi eleito como a fonte de dados mais adequada para responder à problemática de pesquisa, por ser um referencial teórico-metodológico que norteia a organização pedagógica e guia as ações dos gestores, professores e alunos (Sanches, 2007Sanches, R. C. F. (2007). Avaliação institucional e projeto pedagógico: Articulação imprescindível (Tese de doutorado, Universidade Estadual Paulista, Marília). Recuperado de https://bit.ly/3OMnzsQ
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). Destaca-se que a construção desta referência institucional deve contemplar “o conjunto de indicadores organizacionais e operacionais que direcionam a prática pedagógica do curso, sua matriz curricular, as ementas das disciplinas, a bibliografia de referência, o perfil desejado dos concluintes dentre outros aspectos” (Torres, Nicolini, Oliveira, & Andrade, 2015Torres, A. A. G., Nicolini, A. M., Oliveira, D. A., & Andrade, R. O. B. (2015). Qual o grau de engajamento dos docentes e das instituições de ensino superior (IES) na prática do projeto pedagógico do curso (PPC)? Trabalho apresentado no XV Colóquio Internacional de Gestão Universitária, Mar del Plata, Argentina., p. 2).

Neste trabalho foram tomadas como referência as ementas das disciplinas e suas respectivas bibliografias relacionadas à psicanálise presentes no PPC dos cursos de psicologia. Inicialmente buscou-se obter estes documentos por meio do site institucional das IES, como orienta o Ministério da Educação (MEC), mas tal possibilidade de acesso somente foi verificada em relação a uma instituição e, por isso, foi necessário contatar as demais via endereço eletrônico, por meio do qual se apresentou a pesquisa, seus objetivos e a solicitação de colaboração da universidade. Através desse contato, outras duas IES disponibilizaram o documento na versão digital, mas a quarta universidade somente concedeu o PPC impresso após visita ao campus.

Cabe assinalar que eram esperadas variedades nas propostas de estruturação do ensino presentes nos PPC das IES, pois, apesar dos aspectos comuns estabelecidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, eles foram construídos em realidades institucionais distintas, por conseguinte com filosofias, objetivos, prioridades e posicionamentos singulares, conforme o disposto em cada Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) (Sanches, 2007Sanches, R. C. F. (2007). Avaliação institucional e projeto pedagógico: Articulação imprescindível (Tese de doutorado, Universidade Estadual Paulista, Marília). Recuperado de https://bit.ly/3OMnzsQ
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). Nessa conjuntura, destaca-se que, das quatro instituições participantes, três são privadas e uma é pública, e algumas delas já passaram por reformulação em seu PPC, enquanto outras estão modificando o referido documento, logo, considerou-se o Projeto Pedagógico Curricular vigente no ano de 2019, como convém delimitar o estudo de caráter transversal.

Para o tratamento dos dados provenientes das ementas foi utilizada a proposta de análise de conteúdo de Bardin (1977/2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (L. A. Antero & A. Pinheiro, trads.). São Paulo, SP: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1977), p. 48), que a designa como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações” através das quais são procurados indicadores que possibilitem inferir conhecimentos quanto às condições de produção/recepção de mensagens, utilizando-se, para tanto, de procedimentos sistemáticos e objetivos descritivos (Bardin, 1977/2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (L. A. Antero & A. Pinheiro, trads.). São Paulo, SP: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1977)). Tais técnicas possuem como fases a pré-análise, a exploração do material, o tratamento dos resultados e interpretação (Bardin, 1977/2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (L. A. Antero & A. Pinheiro, trads.). São Paulo, SP: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1977)).

Nestes termos, inicialmente o analista escolhe e organiza os documentos, formula suas hipóteses e objetivos, elabora os indicadores para fundamentar sua interpretação e prepara o material. A partir de então, procede à exploração desse material, aplicando o planejamento elaborado durante a pré-análise, submetendo os dados às operações previstas. Por fim, sujeita os resultados obtidos à prova, visando comprovar a sua validade, para que possam ser feitas as inferências e interpretações (Bardin, 1977/2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (L. A. Antero & A. Pinheiro, trads.). São Paulo, SP: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1977)).

Segundo a autora, em sua maioria, os procedimentos de análise estão organizados em torno da categorização, que é “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (Bardin, 1977/2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (L. A. Antero & A. Pinheiro, trads.). São Paulo, SP: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1977), p. 147). Neste caso, empregou-se o critério semântico a fim de compor categorias temáticas que reuniram os elementos das ementas das disciplinas sob um título genérico, de acordo com suas similaridades (Bardin, 1977/2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (L. A. Antero & A. Pinheiro, trads.). São Paulo, SP: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1977)).

Ademais, no que tange aos aspectos éticos, este estudo seguiu as disposições da Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a qual estabelece as normas para a realização de pesquisas em Ciências Humanas e Sociais (CNS, 2016Conselho Nacional de Saúde (2016). Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais (CHS). Recuperado de https://bit.ly/3NoxDaC
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). Nesse contexto, salienta-se que uma das finalidades do PPC é a apresentação do curso à sociedade, portanto as pesquisas que o utilizam como objeto de análise não precisam passar pela apreciação do Sistema CEP/CONEP, haja vista o referido caráter público de suas informações e a ausência de prejuízos para as instituições participantes, identificadas nessa pesquisa como IES 1, IES 2, IES 3 e IES 4, para preservá-las.

Resultados e discussão

Inicialmente foram identificadas nos cursos de psicologia do estado do Acre 17 disciplinas que apresentam em sua ementa conteúdos referentes à psicanálise e outras 29 que trazem bibliografias psicanalíticas. As IES 1 e 4 inseriram em seu PPC os planos de curso das disciplinas, os quais permitiram identificar ainda 13 menções à psicanálise não explicitadas na ementa. Diante destes achados e com base no objetivo proposto para esse estudo, foram selecionadas como objeto de análise apenas as disciplinas contempladas no critério da ementa e sua bibliografia correspondente, considerada um orientador do ensino modificável somente quando o PPC do curso é reformulado, enquanto outros elementos podem ser alterados pelo docente responsável por ministrar o componente curricular, como ocorre com o plano de curso.

Após o processo de seleção das disciplinas, foram observadas bibliografias aparentemente não vinculadas à psicanálise. Diante disso, optou-se por submeter os títulos e seus respectivos autores à pesquisa em websites como Amazon Brasil, Domínio Público e Google Books, de modo a examinar sinopses e sumários, com a finalidade de descobrir quais obras realmente contemplavam o ensino da psicanálise e seriam consideradas no estudo.

As 17 disciplinas que apresentam em sua ementa conteúdos referentes à psicanálise receberam as seguintes nomenclaturas: Psicanálise, Tópicos Especiais em Psicologia, Psicologia da Sexualidade, História da Psicologia, Teorias da Personalidade I, Teorias Psicanalíticas I, Teorias Psicanalíticas II, Teorias e Técnicas Psicoterápicas III, Matrizes do Pensamento em Psicologia - Psicanálise, Teorias e Técnicas Psicoterápicas Especiais, Psicanálise, Psicomotricidade, Psicopatologia II e Psicoterapia Psicodinâmica. Os resultados apontam a concordância quanto à nomenclatura das disciplinas destinadas à história da psicologia nas IES 1, 2 e 3. Já nas IES 2, 4 e 3 também foram percebidas equivalências entre os nomes dos componentes curriculares referentes a Teorias da Personalidade. Destaca-se que embora exista pluralidade no tocante à nomenclatura, em termos de conteúdo as universidades possuem semelhanças, havendo inclusive fragmentos textuais idênticos em algumas ementas.

A respeito da carga horária das disciplinas, verificou-se nas IES 1, 2, 3 e 4 cargas horárias de 360h, 300h e 240h nas duas últimas instituições (Tabela 1), valores que nesta ordem correspondem a 9%, 7,2%, 5,9% e 6% da carga horária total dos cursos. Salienta-se que foram notadas distinções quanto ao caráter das disciplinas (obrigatórias ou optativas), e a IES 1 é a que apresenta maior carga horária quando somados os cinco componentes curriculares ofertados, contudo, dois destes são optativos, enquanto a IES 2 oferece o mesmo quantitativo de disciplinas, mas todas de caráter obrigatório, embora com a carga horária menor. Já as IES 3 e 4 dispõem respectivamente de quatro e três componentes curriculares obrigatórios. Desse modo, os resultados indicam que, em geral, são os alunos da segunda instituição que entram mais em contato com o ensino da psicanálise, pois no primeiro curso nem todos vão eleger as mesmas optativas.

Tabela 1
Quantidade de disciplinas e carga horária

As disciplinas que mencionam a psicanálise em sua ementa não são necessariamente específicas de psicanálise e podem abordar outros conteúdos. Sendo assim, foi possível identificar que a universidade com a maior quantidade de componentes curriculares exclusivamente psicanalíticos é a IES 2, com três disciplinas e 4,5% de sua carga horária total, seguida pela IES 3, com duas disciplinas correspondentes a 2,9% de carga horária. No mesmo nível, encontram-se as IES 1 e 4, com uma disciplina, mas com diferentes cargas horárias, respectivamente 1,8% e 2%. Os outros componentes curriculares, cuja ementa contempla a psicanálise, apresentam as contribuições da teoria e clínica psicanalítica acerca de determinadas temáticas, tais como história da psicologia, personalidade, psicopatologia, sexualidade e psicomotricidade. Também é preciso assinalar que o aluno tem a possibilidade de entrar em contato com o saber psicanalítico nos componentes curriculares de estágio, a depender de seu desejo e orientação.

É notório que a carga horária destinada aos conteúdos psicanalíticos é insuficiente diante da quantidade de assuntos a serem trabalhados, ainda que todas as disciplinas que tragam a psicanálise na ementa abordassem exclusivamente a teoria psicanalítica. Contudo, diferentemente do estudo realizado no seio das escolas de psicanálise, nos cursos de psicologia coexistem “psicologias”, as chamadas abordagens teóricas em meio às quais a psicanálise figura como apenas mais um saber (Leitão & Mendes, 2018Leitão, I. B., & Mendes, F. M. S. (2018). De que se trata ser freudiano pela psicanálise lacaniana? Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise em Freud e Lacan. Estilos da Clínica , 23(2), 381-405. doi: 10.11606/issn.1981-1624.v23i2p381-405
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). Sendo assim, existem limites impostos à sua carga horária, visto que o currículo precisa compreender múltiplos referenciais teóricos e manter-se generalista, conforme preconizam as Diretrizes Nacionais Curriculares da Psicologia (Conselho Nacional de Educação [CNE], 2011Conselho Nacional de Educação. (2011). Resolução nº 5, de 15 de março de 2011. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia estabelecendo normas para o projeto pedagógico complementar para a Formação de Professores de Psicologia. Recuperado de https://bit.ly/3y0wsZd
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).

A respeito do referencial teórico de psicanálise, percebeu-se que as universidades acrianas valorizaram as referências nacionais para a apresentação dos conteúdos aos discentes (Tabela 2). Entretanto, apesar da predominância de publicações brasileiras, é mister ressaltar que não foi verificada em nenhuma instituição a menção à psicanálise brasileira, nem mesmo quanto a seus aspectos históricos nesse país, em que adquire uma forma particular marcada por deslocamentos (Dunker, 2002Dunker, C. I. L. (2002). Inscrições da psicanálise na cultura brasileira: Modelos de tratamento e modos de subjetivação. Psicoanálisis y Cultura, (15).).

Tabela 2
Atualidade e origem das referências

Sobre as publicações atuais, importa assinalar que nas IES 1 e 2 há o predomínio de publicações do século XX, com 72,2% e 63,3%, e é inexistente o uso de referências dos últimos 5 anos anteriores à elaboração dos projetos pedagógicos curriculares. Principalmente na primeira instituição esses achados se mostram arbitrários, pois a quantidade de obras clássicas que poderiam justificar esses números não é relevante, o que torna pouco defensável a existência de tamanha falta de atualização das bibliografias. Em contrapartida, nas IES 3 e 4 observam-se publicações mais atualizadas e datadas em sua maioria do século XXI, com 91,3% e 85,7% respectivamente, o que condiz com a escassez de textos clássicos encontrados. Essas circunstâncias evidenciam a necessidade de revisar as referências propostas e apresentar aos alunos proporcionalmente literaturas clássicas e atuais a respeito dos conteúdos abordados.

Em consideração à análise dos conteúdos das disciplinas, foram estabelecidas cinco categorias analíticas agrupadas de acordo com as similaridades dos elementos (Bardin, 1977/2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (L. A. Antero & A. Pinheiro, trads.). São Paulo, SP: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1977)), as quais serão apresentadas a seguir.

Aspectos históricos da psicanálise

Refere-se aos elementos relacionados à história do movimento psicanalítico e a seu contexto de surgimento.

A presença de elementos reunidos nessa categoria foi observada nas ementas da maioria das universidades, exceto da IES 4. Entretanto, é preciso assinalar que, apesar de não existir menção explícita a esse tipo de conteúdo nas ementas das disciplinas desta instituição, ele está disposto em plano de curso. Acredita-se que esses resultados são um ponto positivo do ensino ofertado nos cursos de psicologia, visto que o contexto de inserção e difusão da psicanálise gerou implicações na formulação de seu arcabouço teórico-técnico e consequentemente precisa ser considerado quando a pretensão é inseri-lo em outras realidades sociais e culturais.

Metapsicologia freudiana

Reúne conteúdos referentes aos conceitos fundamentais da teoria psicanalítica e contempla elementos relacionados ao inconsciente, às pulsões, aos sonhos, ao narcisismo e ao aparelho psíquico em sua primeira e segunda tópica.

Elementos pertencentes à categoria “Metapsicologia Freudiana” foram identificados no ementário da maioria das universidades, com exceção da IES 4 que novamente dispõe desse conteúdo apenas no plano de curso. Convém frisar a observância de maior espaço destinado aos assuntos reunidos nessa categoria, o que aponta para o privilégio dado ao ensino freudiano nos cursos de psicologia acrianos e corrobora a permanência das ideias de Freud como marcos da índole da teoria e clínica psicanalítica, lançando as bases de seu desenvolvimento e progresso (Celes, 2010Celes, L. A. M. (2010). Clínica psicanalítica: Aproximações histórico-conceituais e contemporâneas e perspectivas futuras. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26, 65-80. doi: 10.1590/S0102-37722010000500006
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), não devendo ser destituídas do processo de ensino. Todavia, algumas de suas noções foram superadas, demandando que também sejam ministrados conteúdos que abordem a reinvenção do discurso psicanalítico.

Importa ressaltar que, em vista do referido caráter basilar das concepções freudianas, considera-se essencial o acesso dos acadêmicos a suas publicações, o que foi percebido em todas as instituições, embora de maneira distinta. Enquanto as IES 2 e 4 citam as obras completas nos PPC, a IES 1 apresenta cinco volumes da obra de Freud e a IES 3, somente um volume. Dessa forma, no que tange aos escritos freudianos, observa-se que a distribuição das produções ocorre de maneira arbitrária na maioria das instituições, pois enquanto na IES 3 há quantidade de volumes insuficiente ante o conteúdo proposto, nas IES 2 e 4 verifica-se abundância de publicações não condizentes com o previsto na ementa.

Cabe pontuar que as obras clássicas potencialmente propiciam a produção de novos saberes e configuram-se, portanto, como ponto de partida fundamental. À guisa de ilustração insere-se a construção elaborada por Lacan por meio de seu “retorno a Freud”, o qual “muda o rumo da teoria e da prática psicanalítica sem abandonar o campo freudiano” (Leitão & Mendes, 2018Leitão, I. B., & Mendes, F. M. S. (2018). De que se trata ser freudiano pela psicanálise lacaniana? Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise em Freud e Lacan. Estilos da Clínica , 23(2), 381-405. doi: 10.11606/issn.1981-1624.v23i2p381-405
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, p. 383). Nessa lógica, é notória a relevância do contato com as ideias originais também de maneira a fundamentar a compreensão de outros autores que edificaram suas produções a partir delas. Assim, considera-se essencial que na visitação e discussão dos conteúdos psicanalíticos exista a presença dos textos clássicos, a fim de permitir aos alunos uma introdução ao universo da psicanálise em diálogo com seus criadores.

Psicanálise pós-freudiana

Reúne as teorias dos autores pós-freudianos e a tradição das escolas psicanalíticas inglesa, francesa e americana.

Os elementos da categoria “Psicanálise Pós-Freudiana” foram contemplados nas ementas da maioria das universidades, e a IES 4 é, mais uma vez, a única que não explicita esse tipo de conteúdo em suas ementas, embora apresente uma autora pós-freudiana em seu plano de curso, a saber, Melanie Klein. Essa certamente é uma situação digna de ser reformulada, pois é a partir dos vários autores pós-freudianos que os acadêmicos podem ser ensinados a respeito das inovações teóricas e técnicas introduzidas na psicanálise (Barreto, 2016Barreto, R. A. (2016). Contribuições da psicanálise à neurologia. Estudos de Psicanálise, (46), 143-150.).

Destaca-se que Freud (1914/2012)Freud, S. (2012). Contribuição à história do movimento psicanalítico. In Obras Completas de Sigmund Freud (P. C. L. Souza, trad., Vol. 11, pp. 177-237). São Paulo, SP: Companhia das Letras . (Trabalho original publicado em 1914) deixou abertura para que tais inovações fossem inseridas, ao sustentar em seu texto “Contribuição à História do Movimento Psicanalítico” que qualquer corrente que enxergue a transferência e a resistência “como ponto de partida de seu trabalho pode se denominar psicanálise, mesmo quando chegue a resultados diferentes” dos seus (p. 186). Dessa forma, com os pós-freudianos são encontradas novas concepções que não abandonaram, mas ampliaram o campo da psicanálise.

Nesse cenário se insere a clínica psicanalítica infantil, desenvolvida mediante as contribuições dos pós-freudianos que legitimaram a análise com crianças e agregaram novidades à técnica do brincar (Dunker, 2006Dunker, C. I. L. (2006). Aspectos históricos da psicanálise pós-freudiana. In A. M. Jacó-Vilela, A. A. L Ferreira, & F. T. Portugual (Orgs.), História da psicologia: Rumos e percursos (pp. 387-412). Rio de Janeiro, RJ: NAU.). Psicanalistas como Melanie Klein, Anna Freud, Sabina Spielrein, Donald Winnicott, Françoise Dolto, Maud Mannoni e Arminda Aberastury, a despeito de suas divergências, ofereceram valorosas contribuições à psicanálise com crianças (Leitão & Cacciari, 2017Leitão, I. B., & Cacciari, M. B. (2017). A demanda clínica da criança: Uma psicanálise possível. Estilos da Clínica, 22(1), 64-82. doi: 10.11606/issn.1981-1624.v22i1p64-82
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). Nas universidades acrianas a clínica infantil foi explicitamente identificada apenas no ementário da IES 3, mas, como as demais instituições mencionam o estudo de autores pós-freudianos, há possibilidade de que esteja sendo contemplada.

Salienta-se que a abertura do campo psicanalítico às formas de subjetivação além da neurose também é tributária das contribuições da psicanálise pós-freudiana, que desenvolve os estudos e o manejo clínico no tratamento da psicose, antes considerado inadequado ao método psicanalítico (Freud, 1904/1996Freud, S. (1996). Sobre a psicoterapia. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 7, pp. 159-168). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1905)). De maneira similar, é com os pós-freudianos que as condições limítrofes se tornam objeto de interesse, pois estes analistas, ao se depararem com pacientes que não se adaptaram à clínica tradicional, foram convocados a promover o avanço da teoria (Santos, 2016Santos, P. F. (2016). A transferência e a contratransferência na clínica dos estados-limites: O afeto como um recurso de elaboração do trauma (Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, DF). Recuperado de https://bit.ly/3nloNj7
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). Isso posto, é reforçada a necessidade de os alunos conhecerem a psicanálise pós-freudiana, pois com ela as diferentes formas de subjetivação que orientam o curso do tratamento psicanalítico ganham densidade teórica e clínica.

Uma observação digna de nota é que a presença da psicanálise pós-freudiana nas ementas não resultou na inclusão das publicações destes psicanalistas nas bibliografias das IES 1 e 4, nas quais tais referências estão totalmente ausentes. Na IES 3, por sua vez, existe menção a uma obra de Winnicott, enquanto a IES 2 prevê o contato com publicações de Françoise Dolto, Georg Groddeck, Melanie Klein, Donald Winnicott e com as obras completas de Sándor Ferenczi. Essa escassez de fontes primárias percebida na maioria das universidades pode se tornar um prejuízo na maneira como os alunos acessam as ideias pós-freudianas, haja vista que ao conhecer suas diferentes teorias através da mediação de outros autores podem distanciar-se da ideia original do teórico e produzir interpretações equivocadas a respeito dos conteúdos, principalmente quando se trata de publicações que já passaram pelo processo de tradução.

Também foi notável nos ementários a presença de teóricos não pertencentes ao campo psicanalítico tais como Carl Gustav Jung e Alfred Adler. O primeiro aparece na ementa da disciplina destinada às teorias psicanalíticas da IES 2, enquanto o segundo também é mencionado no componente curricular da IES 4 como teórico de psicanálise. A IES 1, ainda que não apresente nas ementas esses autores, indica uma publicação de Jung na disciplina de psicanálise. Assim, a IES 3 é a única que não alude de maneira nenhuma a estes autores como sendo representantes da psicanálise, o que se mostra deveras coerente, pois historicamente as divergências suscitadas por eles “dão origem a novas teorias, a psicologia analítica e a psicologia do indivíduo, que se apresentam como externas e autônomas à psicanálise” (Dunker, 2006Dunker, C. I. L. (2006). Aspectos históricos da psicanálise pós-freudiana. In A. M. Jacó-Vilela, A. A. L Ferreira, & F. T. Portugual (Orgs.), História da psicologia: Rumos e percursos (pp. 387-412). Rio de Janeiro, RJ: NAU., p. 4).

Vale registrar que, como os referidos teóricos em algum momento fizeram parte do movimento psicanalítico, eles até poderiam estar presentes na discussão dos conteúdos históricos. Entretanto, diferentemente da realidade identificada nas IES, não devem receber o nome de psicanálise, conforme enfatizou Freud (1914/2012Freud, S. (2012). Contribuição à história do movimento psicanalítico. In Obras Completas de Sigmund Freud (P. C. L. Souza, trad., Vol. 11, pp. 177-237). São Paulo, SP: Companhia das Letras . (Trabalho original publicado em 1914), p. 227), defensor de que “cada qual tem o direito de pensar e escrever o que quiser; não tem o direito, contudo, de fazê-lo passar por aquilo que não é”. Diante disso, julga-se que a respeito do conteúdo referente às teorias psicanalíticas, a retirada desses autores poderia fornecer mais espaço para que fossem trabalhados os teóricos que de fato fazem parte da psicanálise. Ademais, a inserção de autores como Jung em disciplinas classificadas como psicanalíticas pode gerar a percepção de que o seu ensino esteja sendo contemplado na graduação, ao mesmo tempo que corrobora a abordagem deficitária de sua vasta obra.

Clínica em psicanálise

Nesta categoria encontram-se conteúdos relacionados à ética, à técnica, ao método e tratamento psicanalítico, ao manejo terapêutico a partir das estruturas clínicas e às adaptações da técnica a outros contextos.

A respeito da categoria “Clínica em Psicanálise”, foi possível identificar conteúdos na maior parte das universidades, com exceção da IES 1 que, apesar de contemplar os pressupostos psicanalíticos básicos como o aparelho psíquico e as formações do inconsciente, não explicita as formas de manejo de que dispõe o profissional na situação clínica. Nesta instituição, a falta de espaço atribuída aos aspectos clínicos na construção das ementas das disciplinas representa um ponto de incoerência, tendo em vista que a psicanálise tem as suas descobertas ancoradas na clínica, um de seus pontos de sustentação. Essa falta de articulação pode se tornar contraproducente, principalmente ante a possibilidade da atuação de orientação psicanalítica sugerida nos estágios curriculares.

Outro ponto perceptível no ementário da maioria dos cursos é a ausência da ética da psicanálise, disciplina mencionada apenas pela IES 3. Diante de tal resultado, acredita-se que esse conteúdo deveria estar disposto nas ementas das demais universidades, pois é a partir da categoria ética que se opera o tratamento psicanalítico (Santoro, 2006Santoro, V. C. (2006). Clínica psicanalítica e ética. Reverso, 28(53), 61-66.), o que a torna imprescindível aos alunos, principalmente quando pretendem levar a psicanálise para além do estudo teórico ao realizarem práticas orientadas por ela, seja no contexto universitário ou posterior atuação profissional.

Cabe destacar que a ética revela o contraste existente entre psicologia e psicanálise, pois enquanto a primeira orienta-se pela ética do bem-estar, a segunda coloca-se como uma ética do bem-dizer (Silva, Coelho, & Pontes, 2017Silva, J. A. P., Coelho, M. T. A. D., & Pontes, S. A. (2017). A psicanálise e a universidade: A experiência do estágio em psicologia clínica com orientação psicanalítica. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, 6(1), 44-49.). Isso gera implicações ao nível prático, uma vez que com a psicanálise busca-se decifrar o sujeito do inconsciente e não necessariamente o bem-estar, embora nela não haja oposição a ele (Santoro, 2006Santoro, V. C. (2006). Clínica psicanalítica e ética. Reverso, 28(53), 61-66.). Nesse contexto, reafirma-se a importância fundamental de se trabalhar a dimensão ética nos cursos, principalmente levando em consideração que “na formação do psicólogo clínico de orientação psicanalítica se trata, sobretudo, de suportar e assentir com a posição ética, teórica e técnica da psicanálise” (Silva et al., 2017Silva, J. A. P., Coelho, M. T. A. D., & Pontes, S. A. (2017). A psicanálise e a universidade: A experiência do estágio em psicologia clínica com orientação psicanalítica. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, 6(1), 44-49., p. 45).

Também foi possível identificar que apenas a IES 3 propõe em ementa conteúdos relacionados às adaptações da técnica aos contextos de atuação para além da clínica tradicional. Este é um ponto que merece atenção, dado que a possibilidade de prática orientada pela psicanálise disponível aos estudantes nos estágios difere do ideal clínico clássico, sendo necessário a eles dispor de conteúdos prévios aos estágios que permitam pensar a possibilidade de intervenção em diálogo com a realidade do espaço no qual se inserem. Ressalta-se que tal necessidade de adaptação permanece relevante mesmo após a conclusão do curso universitário, pois o psicólogo encontra-se nos espaços das políticas públicas e, dependendo de seu desejo, utiliza a psicanálise em seu trabalho.

No caso do Acre observa-se a inserção profissional para além do consultório privado em instituições de educação, saúde, justiça e segurança. Nesses campos o psicólogo de orientação psicanalítica precisa considerar não apenas as adaptações à técnica apropriadas ao seu contexto de atuação, mas também é convocado a pensar e intervir sobre as subjetividades tendo em seu horizonte as particularidades geográficas, religiosas, sociais, culturais e econômicas do estado, que não podem ser contempladas unicamente pela importação de um modelo de atuação e referências advindas de outras realidades.

Temas interdisciplinares

Contempla os conteúdos relacionados à psicanálise e a outros modelos teóricos que oferecem contribuições em relação a determinadas temáticas, como história da psicologia, personalidade, psicopatologia, sexualidade e psicomotricidade.

Na categoria “Temas Interdisciplinares”, foram percebidos em todas as IES os conteúdos relacionados às contribuições da psicanálise e de outras correntes teóricas quanto a certas temáticas. Observa-se que as universidades buscam promover a circulação de olhares variados a respeito dos objetos de estudo para além da psicanálise, o que reflete ao nível das bibliografias adotadas, haja vista que destas, 53,6% são exclusivamente de psicanálise, enquanto 46,3% apresentam juntamente conteúdos psicanalíticos, contribuições, discussões e perspectivas de outros saberes. Com estas disciplinas que abordam conteúdos interdisciplinares atende-se às disposições das Diretrizes Nacionais Curriculares da Psicologia a respeito de uma formação baseada no compromisso de incentivar a interlocução com perspectivas diversas (CNE, 2011Conselho Nacional de Educação. (2011). Resolução nº 5, de 15 de março de 2011. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia estabelecendo normas para o projeto pedagógico complementar para a Formação de Professores de Psicologia. Recuperado de https://bit.ly/3y0wsZd
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).

Acredita-se que a interação propiciada a partir desses conteúdos pode se mostrar positiva, devido à possibilidade de ampliar o diálogo da psicanálise com outros saberes e oportunizar a produção de novas leituras acerca dos fenômenos. Tal possibilidade encontra amparo na própria história da psicanálise, tendo em vista que desde os primórdios ela tem suas considerações influenciadas por conhecimentos advindos de disciplinas diversas dos campos das ciências naturais e humanas (Simanke, 2009Simanke, R. T. (2009). A psicanálise freudiana e a dualidade entre ciências naturais e ciências humanas. Scientiae Studia, 7(2), 221-235. doi: 10.1590/S1678-31662009000200004
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), não se constituindo como um saber fechado em si mesmo.

Os resultados também indicam uma possível falha na formação dos alunos quanto aos atravessamentos sociais e culturais do mundo contemporâneo, elementos previstos apenas pela IES 3. A ausência desses conteúdos pode ser considerada problemática, dado que temáticas como as novas configurações familiares, os estudos de gênero que compreendem o feminino, a homossexualidade, a transexualidade e a influência da tecnologia e do sistema capitalista nos modos de vida atuais são de fundamental importância para pensar a subjetividade contemporânea e não podem ser abarcados apenas pelas ideias freudianas clássicas. Destarte, a inserção desses conteúdos fornece elementos para refletir sobre a possibilidade e necessidade de reformular a teoria e clínica psicanalítica de maneira a acolher novas demandas, manter-se atual, por conseguinte “alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época” (Lacan, 1953/1998Lacan, J. (1998). Função e campo da fala e da linguagem. In Escritos (V. Ribeiro, trad., pp. 238-324). Rio de Janeiro, RJ: Zahar. (Trabalho original publicado em 1953), p. 322).

Outro aspecto negligenciado pelas instituições refere-se à pesquisa em psicanálise, que, embora seja um elemento fundamentalmente associado à clínica, está ausente em todas as ementas dos cursos de psicologia acrianos. Perante tal situação, remonta-se a afirmativa categórica de Freud (1912/1996Freud, S. (1996). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão , Trad., Vol. 12, pp. 66-74). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1912), p. 69) de que “uma das reivindicações da psicanálise em seu favor é indubitavelmente o fato de que, em sua execução, pesquisa e tratamento coincidem”. Nesse cenário, destaca-se que se encontram ausentes não apenas a referência à modalidade de pesquisa clínica, mas também aos outros modelos como a pesquisa em psicanálise empírica, teórica ou conceitual, bem como a previsão acerca de pesquisas sobre psicanálise.

Tal conjuntura é no mínimo paradoxal quando se considera que as universidades são sustentadas pelo tripé ensino, pesquisa e extensão. Diante disso, é mister ressaltar que evidentemente não se espera que elas disponham de todo o conhecimento psicanalítico, até porque este carrega em si uma dimensão impossível. Contudo, se na universidade não é passível de satisfação o tripé psicanalítico, seria coerente observar o princípio da inseparável ligação entre ensino, pesquisa e extensão disposto constitucionalmente e reafirmado pelas próprias Diretrizes Nacionais Curriculares da Psicologia (CNE, 2011Conselho Nacional de Educação. (2011). Resolução nº 5, de 15 de março de 2011. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia estabelecendo normas para o projeto pedagógico complementar para a Formação de Professores de Psicologia. Recuperado de https://bit.ly/3y0wsZd
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).

Considerações finais

Com este estudo, buscou-se analisar o ensino da teoria psicanalítica nos cursos de psicologia acrianos a fim de fornecer material para pensar as potencialidades e desafios decorrentes de sua presença na instituição universitária, considerando a realidade local em que está inserido. Acredita-se que esse tipo de proposta contribui para o fortalecimento da formação em psicologia no estado do Acre ao trazer consigo a possibilidade de mobilizar discussões a respeito do ensino da psicanálise nas instâncias responsáveis pela formulação curricular, com vistas à promoção de seu aprimoramento.

Entre as principais características dos componentes curriculares destacadas neste trabalho está a predominância do ensino freudiano e de publicações nacionais. Paralelamente, foram identificadas lacunas referentes à previsão de acesso às contribuições psicanalíticas acerca de temáticas contemporâneas, da clínica além do modelo clássico, da psicanálise brasileira, bem como da produção de conhecimento através da pesquisa.

Nesse cenário, avalia-se que as instituições fornecem aos alunos a oportunidade de aprender “algo sobre e com a psicanálise” (Freud, 1919/2010Freud, S. (2010). Deve a psicanálise ser ensinada na universidade? In Obras Completas de Sigmund Freud (P. C. L. Souza, Trad., Vol. 14, pp. 284-287). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1919), p. 287), o que na concepção freudiana seria o bastante a ser empreendido nesses espaços, haja vista que eles não formam analistas. Por outro lado, quando se considera a psicanálise como uma das principais abordagens oferecidas pelos cursos de psicologia brasileiros e consequentemente uma das mais elegíveis entre os profissionais (Bastos, Gondim, & Borges-Andrade, 2010Bastos, A. V. B., Gondim, S. M. G., & Borges-Andrade, J. E. (2010). O psicólogo brasileiro: Sua atuação e formação profissional. O que mudou nas últimas décadas. In O. H. Yamamoto & A. L. F. Costa (Orgs.), Escritos sobre a profissão de psicólogo no Brasil (pp. 257-271). Natal, RN: EDUFRN.), as propostas apresentadas se tornam carentes de melhorias em seu currículo.

Isso posto, consta o desafio de que o saber psicanalítico seja ensinado de uma forma sólida, em meio a outros saberes que devem ser contemplados, com a advertência de que, para além da transmissão do saber, a universidade figura como espaço precípuo da pesquisa e da produção do conhecimento, carecendo da implementação de mudanças que subsidiem as investigações no contexto amazônico e as práticas de orientação analítica.

Diante de tais constatações, a proposta de mais disciplinas optativas de psicanálise poderia ser um recurso que permitiria considerar as preferências e interesses dos alunos, sem privilegiar ao nível obrigatório a psicanálise em detrimento de outros saberes. Paralelamente, os grupos de estudos promovidos por atividades de extensão e pesquisa também podem trazer contribuições aos alunos que iniciam na universidade seu percurso em psicanálise, ainda mais quando se considera a complexidade das ideias de alguns teóricos psicanalistas que mediante discussão coletiva podem ser mais bem compreendidos.

No que tange aos egressos desses cursos que se orientam pela teoria psicanalítica, salienta-se a necessidade de manutenção do tripé psicanalítico, ao qual pode se somar a proposta de especialização na área, a fim de minimizar as lacunas decorrentes da formação e dar seguimento aos estudos. Convém registrar que existem universidades privadas no estado com cursos de pós-graduação lato sensu em psicanálise e que este pode ser um caminho formativo inclusive para quem não deseja se tornar analista, mas sustenta a transferência com a psicanálise em sua prática nas instituições.

Outra alternativa é a vinculação às escolas de psicanálise localizadas em outros estados, um recurso valoroso para aqueles que desejam seguir o caminho da formação de analista e que se coloca como uma possibilidade factível em tempos de pandemia, ocasião em que as medidas de isolamento impulsionam o uso da tecnologia no seio das escolas e centros formativos consolidados no país, borrando as fronteiras que antes se colocavam como obstáculo a esta integração. Ademais, seja a respeito da formação de analista ou de psicólogos e psicólogas que orientem sua prática pela psicanálise, permanece o compromisso com a qualidade de um curso que venha a ser basilar ao percurso formativo que a disciplina freudiana exige.

Por fim, em 2018 foi proposto o Projeto de Lei do Senado nº 101Projeto de Lei do Senado nº 101, de 2018. (2018). Regulamenta a profissão de psicanalista. Recuperado de https://bit.ly/3No4uvV
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, ainda em tramitação em 2022, para dispor sobre a regulamentação da psicanálise e determinar quem pode ser considerado psicanalista, definindo para tanto um curso de graduação em psicanálise. Logo, é imprescindível demarcar que, apesar da pós-graduação e do estudo teórico nas universidades possuírem um lugar relevante na realidade local, a psicanálise está para além de um saber profissionalizante e da lógica da educação formal. Dessa forma, qualquer tentativa de promover a submissão ao ensino universitário vai de encontro a ela, uma vez que a sua transmissão não é passível de ser capturada exclusivamente pelo seu ensino.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Set 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    20 Dez 2019
  • Revisado
    06 Jul 2021
  • Aceito
    09 Jun 2022
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