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O ideário de vida ao ar livre nas sociedades ginásticas teutobrasileiras (1880 -1938)1 1 Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.

Resumo

O artigo apresenta resultados de pesquisas sobre um ideário de vida ao ar livre no interior das sociedades ginásticas teuto-brasileiras nas regiões sul e sudeste do país, em que a natureza e seus elementos se mostraram como centrais em procedimentos educativos (escolares ou não), de saúde e de divertimento desse grupo imigrante, constantemente representado como “pioneiro” e “desbravador” da natureza brasileira. O objetivo é compreender as relações entre educação, cuidados do corpo e vida ao ar livre, presentes nas associações constituídas por este grupo entre o final do século XIX e a década de 1930, período em que se iniciaram as políticas de nacionalização do governo Vargas. As fontes utilizadas neste artigo são: periódicos; publicações festivas; estatutos; fotografias e recortes de jornais. Pretende-se, assim, contribuir para uma leitura do ideário de vida ao ar livre constituído por essas associações, consideradas pelos estudiosos da imigração como meramente “recreativas”.

Palavras-chave
natureza; vida ao ar livre; sociedades ginásticas; imigração alemã; educação do corpo

Abstract

This paper presents results from researches about an outdoor-living ideal found within the gymnastics societies created by German immigrants in South and Southeast Brazil. In these societies, nature and its elements appear as essential to educational procedures (inside or outside of schools), as well as to the healthcare and the amusement of this group of immigrants, who saw themselves as “pioneers” and “trailblazers” of the Brazilian nature. This paper’s goal is to comprehend the relations between education, healthcare, and outdoor living present in these associations created between the end of the 19th century and the 1930s, when the nationalization politics of the Vargas government were set in motion. The sources for this research are periodicals, festive publications, statutes, photographs, and newspaper clippings. Thus, this paper aims at contributing for the comprehension of the outdoor-living ideal constituted by these societies, considered by immigration researchers as merely “recreational”.

Keywords
nature; outdoor life; gymnastics societies; German immigration; education of the body

1 - Associações ginásticas teuto-brasileiras: entre a recreação, a saúde e a educação

Os estudos sobre imigração alemã no Brasil frequentemente evocam o associativismo como uma característica comum às áreas por ela colonizadas. Como apontado por Frederick Luebcke (1987)Luebke, F. C. (1987). Germans in Brazil: a comparative history of cultural conflict during World War I. Baton Rouge, Louisiana: Louisiana State University Press., “sociedades foram criadas onde quer que teuto-brasileiros fossem numerosos o suficiente para organizá-las e mantê-las” (p. 47). De fato, conforme indicam os estudos de Giralda Seyferth (1999, 2000), associações fundadas por alemães no Brasil podem ser encontradas antes mesmo do início de sua imigração sistemática para nosso país. É o caso da Gesellschaft Germania, criada em 1821, no Rio de Janeiro, por comerciantes oriundos de diferentes territórios europeus, identificados com a língua e a cultura alemã.

Apesar de os indícios apontados por Seyferth corroborarem, de certa forma, a afirmação um tanto generalista de Luebcke de que bastavam os teuto-brasileiros serem suficientemente numerosos para se organizarem em associações, observa-se que esta tendência associativa está muito mais ligada a questões relacionadas ao nível de formação dos imigrantes, às regiões de onde vinham e àquelas nas quais se instalavam em nosso país. Foi somente a partir de meados do século XIX, quando indivíduos com maior grau de formação e oriundos de meios urbanos começaram a se instalar nas colônias do Brasil, que o associativismo teuto-brasileiro se desenvolveu com maior força. Como aponta Erneldo Schallenberger (2009)Schallenberger, E. (2009). Associativismo cristão e desenvolvimento comunitário. imigração e produção social do espaço colonial no sul do Brasil. Cascavel: Edunioeste., o associativismo teuto-brasileiro “adquiriu forma e expressão na complexa formação urbana entre os intelectuais e os segmentos vinculados ao comércio e à indústria” (p. 207).

São diversas as finalidades das associações fundadas por esses imigrantes em nosso país. As sociedades beneficentes (Hilfsvereine), escolares (Schulvereine) e paroquiais (Kirchvereine) eram frequentemente as primeiras a ser criadas, sendo comum sua atuação conjunta. Muitas sociedades escolares, por exemplo, estavam ligadas a associações paroquiais, tanto católicas quanto luteranas. Essas instituições, que claramente supriam as principais demandas iniciais desses imigrantes – assistencialismo, educação, atendimento religioso (especialmente no caso dos protestantes) – não foram, entretanto, as predominantes. Segundo Seyferth (1999)Seyferth, G. (1999). As associações recreativas nas regiões de colonização alemã no Sul do Brasil: Kultur e etnicidade. Travessia. 12(34), 24-28., as associações mais numerosas nas áreas de colonização alemã eram as classificadas pela autora como “recreativas”, destacando-se as de cantores, de atiradores e de ginastas, as chamadas Turnvereine. Fazem parte também desse conjunto de associações aquelas que tinham como objeto central os divertimentos em meio à natureza, – como os grupos de caminhada em São Paulo e Curitiba, e as associações de caça, especialmente na região de Blumenau.

Assim como as sociedades de atiradores e de cantores, as sociedades de ginastas foram criadas e estruturadas a partir de um modelo já conhecido e que começara a se estabelecer na Alemanha principalmente a partir dos anos 1840. Em seu país de origem, esses ginastas estiveram intimamente ligados aos movimentos políticos e às lutas pela unificação dos estados germânicos. Ao chegarem ao Brasil, embora não tenham se envolvido com a mesma intensidade na vida política, contribuíram para o desenvolvimento do associativismo e, principalmente, para a manutenção do ideal de germanidade2 2 A germanidade (Deutschtum) é uma noção construída a partir do nacionalismo alemão do início do século XIX e engloba elementos como a língua, a cultura e a lealdade à nação alemã como constitutivos da nacionalidade (Seyferth, 1982). Ela deriva diretamente do conceito de Volkstum, cunhado por Friedrich Ludwig Jahn como um substituto para expressões relativas à nacionalidade que ele considerava “de origens estrangeiras”, como “National” (“nacional”), “Nationalität” (“nacionalidade”), “Nationaleigentümlichkeit” (“particularidade nacional”). em nosso país.

As primeiras sociedades ginásticas teuto-brasileiras datam do final da década de 1850, tendo se estabelecido nas cidades de Joinville e Rio de Janeiro. Conforme levantamento realizado por Lothar Wieser (1991)Wieser, L. (1991). Deutsches Turnen in Brasilien: Deutsche Auswanderung und die Entwicklung des deutsche-brasilisches Turnwesen bis zum 1917. Londres: Arena Publications., até o início da Primeira Guerra Mundial foram fundadas 55 Turnvereine nas regiões sul e sudeste do Brasil. Um levantamento realizado pela Turnerbund Porto Alegre no ano de 1932 indica a existência de 57 Turnvereine nessas regiões, concentradas majoritariamente no Rio Grande do Sul.

As Turnvereine tinham como objetivo o fortalecimento corporal, espiritual e moral de seus associados por meio da prática regular do Turnen, sistematização de exercícios físicos criada por Friedrich Ludwig Jahn no início do século XIX, e desenvolvida no manual Die Deutsche Turnkunst (1967), publicado originalmente em 1816, em coautoria com Ernst Eiselen3 3 Um estudo amplo sobre o Turnen no Brasil foi desenvolvido por Quitzau (2011, 2016), no qual a autora analisa os desdobramentos da ginástica na Alemanha e no Brasil, trabalhando com os primeiros manuais de ginástica produzidos naquele país, na passagem do século XVIII para o século XIX. Para um estudo sobre o Turnen na Alemanha, ver Krüger (1996, 2010); sobre sua disseminação em outros países, como os Estados Unidos, ver Hofmann (2001, 2015). . Durante as oito décadas que se passaram desde a fundação da primeira sociedade ginástica teuto-brasileira e o início das políticas de nacionalização que recaíram sobre as associações criadas por imigrantes, elas buscaram atuar em nosso país como postos avançados da germanidade e alcançar a maior quantidade possível de indivíduos pertencentes às colônias em que estavam inseridas. Tendo como objeto central de sua atuação principalmente a juventude teuto-brasileira, buscaram trabalhar, sempre que possível, em constante diálogo com outras associações, especialmente as escolares, disponibilizando suas instalações e seus instrutores e, em alguns casos, tornando-se diretamente responsáveis pela educação física de meninos e meninas matriculados em escolas alemãs (Quitzau, 2011Quitzau, E. A. (2011). Educação do corpo e vida associativa: as sociedades ginásticas alemãs em São Paulo (fins do século XIX, primeiras décadas do século XX). Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., 2016Quitzau, E. A., & Soares, C. L. (2016). Um manual do século XVIII: culto à natureza e educação do corpo em “Ginástica para a Juventude”, de Guts Muths. Revista Brasileira de História da Educação. 16(1), 23-50. Recuperado em 25 de março 2016, de www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/article/view/540/pdf_90.
www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/arti...
).

O trabalho em cooperação com as escolas tornava as atividades das sociedades ginásticas ainda mais intensas. Durante a semana, suas instalações estavam em constante uso, uma vez que recebiam os estudantes durante o dia e, à noite, tornavam-se locais de reunião de seus associados, que se encontravam para as sessões de ginástica nas quais treinavam seus corpos em exercícios nas barras paralelas, no cavalo, nas argolas e em outros aparelhos. Aos finais de semana, esses associados voltavam a se reunir, mas dessa vez a céu aberto, nas chamadas praças de jogos, locais ao ar livre, arborizados, em que podiam praticar corridas, saltos, lançamentos, nado e novos jogos que, ao longo do século XIX e do início do século XX, foram paulatinamente incorporados pelos ginastas, como o punhobol4 4 O punhobol (Faustball) era um jogo muito comum nas sociedades ginásticas teuto-brasileiras. É similar ao voleibol – a rede é colocada em uma altura menor e a bola deve ser sempre golpeada com a mão fechada. , o futebol e o handebol (Figura 1).

Figura 1
Apresentação na praça de jogos da Turnerschaft von 1890 in São Paulo (Turnerschaft von 1890, 1931)

Ao estabelecermos que nosso artigo busca estudar as relações entre educação, cuidados do corpo e vida ao ar livre no contexto do associativismo teuto-brasileiro, indicamos, embora de maneira implícita, um recorte geográfico que se estende pelas regiões sul e sudeste do Brasil, áreas que receberam as maiores concentrações de alemães ao longo dos mais de 100 anos em que imigraram para nosso país. Entretanto, faz-se necessário também estabelecer marcos temporais que nos permitam um aprofundamento do olhar sobre a questão aqui colocada.

O presente artigo poderia se estender desde o ano de 1858, quando a primeira sociedade ginástica teuto-brasileira foi fundada, até o ano de 1938. Entretanto, optamos, aqui, por um recorte ligeiramente menor, que envolve desde a década de 1880, período em que o associativismo teuto-brasileiro, e especificamente o associativismo ginástico, começou a ganhar força e se ampliar, até o momento em que essas associações foram obrigadas a se nacionalizar5 5 A partir de 1938, o governo de Getúlio Vargas publicou uma série de Decretos-Lei que visavam à nacionalização de instituições fundadas por imigrantes no País. Dentre eles, destacam-se os de número 383 e 406, que proibiram, respectivamente, a fundação de organizações e partidos políticos estrangeiros no Brasil, e o ensino de línguas estrangeiras para crianças menores de 14 anos. O segundo deles também instituiu a adoção de materiais didáticos apenas em português. , no final da década de 1930, e passaram por profundas mudanças estruturais.

Ao longo das seis décadas que compõem a delimitação temporal adotada, as associações aqui analisadas produziram diferentes tipos de materiais, que podem nos ajudar a compreender como se deram as relações entre educação, cuidados do corpo e vida ao ar livre em meio ao associativismo teuto-brasileiro. Assim, entendendo que “tudo o que pode ser interrogado por um historiador com a ideia de nele encontrar uma informação do passado” (Ricoeur, 2007Ricoeur, P. (2007). A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora Unicamp., p. 189) pode se tornar um documento para nossa pesquisa, e entendendo também que esses documentos são construções do tempo, selecionados, guardados ou mesmo destruídos por indivíduos e instituições, tanto de forma intencional como acidental (Le Goff, 1992Le Goff, J. (1992). História e memória (2a ed.). Campinas: Editora Unicamp.), faz-se necessário buscar, em meio à extensa gama de possíveis testemunhos históricos, aqueles que nos permitem uma aproximação com a problemática da educação, dos cuidados do corpo e da vida ao ar livre no associativismo teuto-brasileiro.

Os documentos são “uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa” (Le Goff, 1992Le Goff, J. (1992). História e memória (2a ed.). Campinas: Editora Unicamp., p. 535). No caso desta pesquisa, por não serem, em sua maioria, documentos de caráter “oficial”, são testemunhos que sobreviveram ao tempo por acasos, por ações subjetivas que permitiram sua preservação e acabaram levando-os a compor os fundos e as coleções dos acervos visitados. Isso, obviamente, configura certa limitação a este trabalho, uma vez que nem todas as sociedades ginásticas teuto-brasileiras deixaram vestígios que nos permitam compreender sua existência, suas ações ou, neste caso específico, o ideário de vida ao ar livre que possivelmente as permeava.

Por outro lado, da mesma forma que sua sobrevivência, ao passar do tempo, resulta de ações nem sempre intencionais, o fato de indivíduos terem produzido os diferentes registros aqui utilizados indica os intentos de criação de uma memória coletiva e de uma preocupação com a posteridade por parte daqueles que viveram no período estudado e buscaram registrar não apenas as diferentes práticas que compunham sua vida associativa, mas também os preceitos que norteavam sua existência. O corpus documental aqui selecionado resulta, portanto, de acasos do tempo e de um esforço dessas instituições “para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias” (Le Goff, 1992Le Goff, J. (1992). História e memória (2a ed.). Campinas: Editora Unicamp., p. 548).

Analisamos aqui documentos referentes às associações de ginástica, constituídos principalmente por: 1) periódicos ginásticos: editados pelos próprios clubes, circularam, em sua maioria, durante a década de 1930. Nessa categoria incluímos também o Deutsche Turnzeitung, órgão oficial da Deutsche Turnerschaft, da Alemanha, em que foram encontrados significativos indícios da vida ao ar livre nas sociedades ginásticas teuto-brasileiras; 2) revistas comemorativas: publicadas por ocasião de festas como celebrações de jubileus e outras datas especiais; 3) estatutos; 4) fotografias; 5) recortes de jornais em língua alemã que circularam no Brasil.

Os recortes de jornais aqui elencados trazem relatos de alguns passeios realizados pelas sociedades ginásticas teuto-brasileiras e apontam para o espaço que tinham para promover as atividades que organizavam. Entre os jornais em língua alemã que circularam no Brasil no período recortado para este artigo, destacamos: 1) Deutsche Zeitung (Porto Alegre); 2) Der Urwaldsbote (Blumenau); 3) Deutsches Volksblatt (São Leopoldo); 4) Kolonie Zeitung (Joinville); 5) Koseritz Deutsche Zeitung (Porto Alegre); 6) Neue Deutsche Zeitung (Porto Alegre); 7) Deutsche Post (São Leopoldo); 8) Der Kompass (Curitiba); Deutsche Zeitung (São Paulo).

A documentação aqui utilizada foi encontrada nas seguintes instituições, públicas e privadas: 1) Instituto Martius-Staden, São Paulo ; 2) Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, Blumenau; 3) Museu Antropológico Diretor Pestana, Ijuí; 4) Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, São Leopoldo; 5) Arquivo Histórico de Joinville, Joinville; 6) Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro; 7) Biblioteca do Institut für Sportwissenschaft, da Westfälische Wilhelms-Universität Münster (WWU-Münster), Münster/Alemanha; 8) Zentralbibliothek der Sportwissenschaft der Deutschen Sporthochschule Köln, Colônia/Alemanha; 9) Deutsche National Bibliothek, Leipzig/Alemanha; 10) acervos das sociedades ginásticas.

Retomando a noção posta por Ricoeur (2007)Ricoeur, P. (2007). A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora Unicamp. de que algo se torna um documento para a compreensão do passado, desde que possa ser interrogado pelo historiador – noção esta que encontramos já em Bloch (2002)Bloch, M. (2002). Apologia da história ou o oficio de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. ou também em Le Goff (2012)Le Goff, J. (2012). História e memória. Campinas: Editora Unicamp. –, o fato de os documentos acima descritos terem sido produzidos no período delimitado por esta pesquisa não significa, pura e simplesmente, que eles sejam automaticamente fontes. Ao contrário de um testemunho oral, dirigido diretamente a um ouvinte, um documento, ainda que feito com a intenção de sobreviver à passagem do tempo, é apenas um rastro daquele que o produziu e, portanto, se tornará inteligível apenas para aqueles que sejam capazes de interrogá-los (Ricoeur, 2007Ricoeur, P. (2007). A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora Unicamp.).

É importante termos claro que estes testemunhos não são espelhos de um passado, que os fatos não “dormem” nos documentos até serem despertados pelo historiador, mas são construções estabelecidas por aqueles que os guardaram e por aqueles que os interrogam. O documento, portanto, “não está simplesmente dado, como a ideia de rastro deixado poderia sugerir. Ele é procurado e encontrado. Bem mais que isso, ele é circunscrito, e nesse sentido constituído, instituído documento pelo questionamento” (Ricoeur, 2007Ricoeur, P. (2007). A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora Unicamp., p. 189). Ele é resultado deste processo de localização e interrogação, do confronto com outros registros da realidade em que foram produzidos. É somente a partir deste processo que se consegue extrair dos textos e das imagens as bases sobre as quais se pode estabelecer uma interpretação das relações entre educação do corpo e vida ao ar livre no âmbito do associativismo teuto-brasileiro. Cada documento, portanto, é um testemunho escrito a ser colocado em diálogo com outros vestígios.

Neste processo de construção do conhecimento histórico a partir dos documentos deixados pelas instituições que estudamos, o ato do questionamento se torna, portanto, fundamental. Há, neste sentido, uma interdependência entre documento, fato e questionamento: somente é possível estabelecer as inter-relações entre ideias e acontecimentos, garantir a inteligibilidade das informações presentes nos documentos a partir do momento em que são questionados, em que nos aproximamos deles com hipóteses, com perguntas fundamentadas. Essa necessidade do confronto com outros documentos, do questionamento, da interrogação indica, portanto, que se faz necessário um referencial bibliográfico que nos permita analisar esses diferentes materiais no que se refere às relações entre educação, cuidados do corpo e vida ao ar livre no associativismo teuto-brasileiro.

Se partimos de sociedades criadas para a prática da ginástica alemã, do Turnen, como eixo norteador para entender as relações aqui apontadas, é necessário, inicialmente, construir uma compreensão das relações constituídas entre ginástica e natureza na Alemanha. Um dos trabalhos centrais para este procedimento são os manuais de ginástica escritos por Guts Muths6 6 Sobre o lugar da natureza na sistematização de Guts Muths, ver Quitzau e Soares (2016). e Jahn, que fundamentaram a constituição dessa prática na Alemanha ao longo de todo o século XIX. Importante para a compreensão do Turnen e de suas relações com a natureza e a vida ao ar livre são, especialmente, os escritos de Keith Thomas (2010)Thomas, K. (2010). O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1500-1800). São Paulo: Companhia das Letras. a respeito das mudanças nas ligações entre indivíduo e natureza, da paulatina transformação desse espaço em um local de educação, cura e divertimento.

Se os estudos de Thomas nos permitem compreender as transformações das relações entre o homem e o mundo natural, buscamos especialmente em Corbin (1986Corbin, A. (1986). Le miasme et la jonquille: l’odorat et l’imaginaire social, XVIII-XIX siècles. Paris: Flammarion., 2001Corbin, A. (2001). L’homme dans le paysage. Paris: Textuel., 2005Corbin, A. (2005). Le ciel et la mer. Paris: Bayard., 2010Corbin, A. (2010). Le territoire du vide. L'Occident et le désir de rivage (1750-1840) Paris: Flammarion., 2013aCorbin, A. (2013a). La douceur de l'ombre - L'arbre, source d'émotions, de l'Antiquité à nos jours. Paris: Fayard., 2013b)Corbin, A. (Org.). (2013b). La pluie, le soleil et le vent. une histoire de la sensibilité au temps qu’il fait. Paris: Aubier., Rauch (2001)Rauch, A. (2001). As férias e a natureza revisitada (1830-1939). In A. Corbin, História dos tempos livres (pp.91-136). Lisboa: Teorema. e Vigarello (1996)Vigarello, G. (1996). O limpo e o sujo, uma história da higiene corporal. São Paulo: Martins Fontes. o entendimento sobre como as novas sensibilidades produziram novos usos dos elementos da natureza em diferentes aspectos da vida individual e em sociedade, desde a higiene até o divertimento. A esses autores, agrega-se também Williams (2007)Williams, J. A. (2007). Turning to nature in Germany: hiking, nudism and conservation, 1900-1940. Stanford: Stanford University Press., com estudos específicos sobre as caminhadas ao ar livre, o nudismo e o escotismo na Alemanha do início do século XX. Cabe destacar, ainda, os estudos de Sallas (2013)Sallas, A. L. F. (2013). Ciência do homem e sentimento da natureza: viajantes alemães no Brasil do século XIX. Curitiba: Editora UFPR. sobre a produção de viajantes alemães, como Von Martius, Rugendas e Wied-Neuwied, a respeito da fauna e da flora brasileiras, que certamente contribuíram para a formação da imagem que os alemães faziam da natureza local e influenciaram o olhar dos ginastas teuto-brasileiros em suas incursões em nossas florestas e montanhas, especialmente no final do século XIX.

2 - Um ideário de vida ao ar livre se constrói

Os exercícios ao ar livre praticados nas praças de jogos dessas associações, em sua maioria, eram elementos constituintes da ginástica alemã desde seus primeiros esboços, ainda no final do século XVIII. Quando Johann Christoph Friedrich Guts Muths (1928)Guts Muths, J. C. F. (1928). Gymnastik für die Jugend. Dresden: Wilhelm-Limpert. elaborou seu manual de ginástica, na década de 1790, pensou sua sistematização como um retorno regrado à natureza, como uma prática que se dava necessariamente ao ar livre. Esta noção fica muito clara em Gymnastik für die Jugend (1928), ao afirmar que “nosso ginásio é, como somente poderia ser, o ar livre. Queremos acostumar nossos garotos à natureza mutável, ora alegre, ora sombria – para que, então, grandes construções?” (p. 210).

A natureza é um aspecto central na sistematização de Guts Muths, que insiste na necessidade de uma educação do corpo ao ar livre. Ao longo de sua obra, apresenta um apreço pela natureza que nos indica o quanto estava em sintonia com as ideias que se disseminavam pela Europa do século XVIII. Novas e mesmo inéditas representações da natureza e de seus elementos foram produzidas nesse século em que surgia como benéfica, generosa, benfazeja e bela. Cabe aqui, portanto, retomar o lugar que o pensamento de Jean-Jacques Rousseau ocupa na obra de Guts Muths, no que concerne a este tema, uma vez que o autor genebrino é considerado como o porta-voz de ideias de uma natureza restaurada. É particularmente na obra Emílio, publicada em 1762, que Rousseau desenvolve, de modo mais preciso e detalhado, o lugar da natureza e seus elementos na educação das crianças e dos jovens. É também nessa obra que enuncia, através da apreensão do sentimento e das sensações, o lugar da natureza física como capaz de educar integralmente o ser humano7 7 Ver, entre outros, a dissertação de mestrado de Rachel de Souza (2016), intitulada “Educação do corpo pela natureza na obra Emílio de Jean-Jacques Rousseau”. Nesse trabalho a autora explorou de modo sistemático e monográfico a relação que Rousseau estabelece com a natureza física como educadora do ser humano. .

Essas noções e os conceitos desenvolvidos por Rousseau contribuem para a constituição de um novo olhar em relação à ideia de natureza, algo que Lenoble (1990)Lenoble, R. (1990). História da ideia de natureza. Lisboa: Edições 70. explicita em sua obra, ao escrever que “a Natureza volta a ser, mais uma vez, a Mãe fecunda dos homens, que recomeçam a pedir-lhe uma regra dos costumes. Durante esse tempo, a ciência continua, por vias sempre mais seguras, a sua exploração metódica da Natureza” (p. 301).

Conforme Villaret (2016)Villaret, S. (2016). Naturismo e educação corporal (fim do século XIX e início do século XX): uma “natureza” em movimento. In C. L. Soares, Uma educação pela natureza: a vida ao ar livre, o corpo e a ordem urbana (pp. 69-90). Campinas: Autores Associados, a obra de Rousseau

fornece não somente uma argumentação canônica concernente às virtudes educativas da natureza, mas também formaliza uma proposição de educação integral que confere lugar de honra aos exercícios corporais. É necessário aqui considerar a influência que tiveram as obras de Jean-Jacques Rousseau não somente na França, mas nos países germânicos. Testemunha de uma tendência concernente às representações da natureza, os escritos rousseaunianos se difundem largamente no seio das elites intelectuais de toda a Europa, e em particular, no coração dos estados alemães e do Império Austro-húngaro. (p. 72)

A obra de Rousseau contribui com o florescimento do movimento filantropinum, iniciado por Johann Bernhard Basedow, segundo o qual a educação das crianças devia estruturar-se distante das cidades e em contato com a natureza. Do mesmo modo, os escritos de Rousseau também influenciaram e favoreceram as ideias em torno das curas naturais, que alcançaram seu auge no século XIX em países como a Alemanha, onde a água, o ar e o sol, ao lado de mudanças alimentares e das vestimentas, passaram a configurar novas terapias (Villaret, 2016Villaret, S. (2016). Naturismo e educação corporal (fim do século XIX e início do século XX): uma “natureza” em movimento. In C. L. Soares, Uma educação pela natureza: a vida ao ar livre, o corpo e a ordem urbana (pp. 69-90). Campinas: Autores Associados). Foi com base nos escritos de Rousseau e no trabalho que realizava no interior de um filantropinum que Guts Muths (1928)Guts Muths, J. C. F. (1928). Gymnastik für die Jugend. Dresden: Wilhelm-Limpert. elaborou sua obra acerca dos exercícios físicos em meio à natureza. Sua ginástica seria responsável por introduzir o aprendiz ao ar livre, onde em meio aos exercícios ele se esquece da chuva e do vento, o calor e o frio fortalecem os nervos, músculos e pele, e ele se acostuma com diferentes formas de fadiga corporal. (p. 177)

Correr, lançar, arremessar, equilibrar-se, saltar em meio às árvores e em terrenos de diferentes características topográficas, eram exercícios básicos da proposição de Guts Muths (Figura 2) e considerados extremamente salutares, especialmente quando realizados em contato com o ar frio que, assim como a água fria, contribuiria para o fortalecimento de nervos, músculos e tegumentos.

Figura 2
– Crianças em exercícios de escalar

Percebem-se nesta obra indícios de uma transformação da atitude humana em relação ao mundo natural, e Guts Muths expressa aquela mais próxima dos primeiros passos da ciência moderna, no que se refere aos exercícios físicos em meio à natureza. Isso porque, de um lado, temos concepções e noções carregadas de simbolismo religioso; de outro, aquelas produzidas pela ciência, ou, ainda, as que se fazem a partir da singela relação dos seres humanos com as múltiplas formas e usos da natureza e seus elementos. Ao mesmo tempo, observa-se também o uso dos elementos da natureza como metáfora para o corpo humano, a ponto de Guts Muths (1928)Guts Muths, J. C. F. (1928). Gymnastik für die Jugend. Dresden: Wilhelm-Limpert. comparar a relação entre corpo e mente com a vida e o crescimento das plantas, afirmando:

destrua as raízes das plantas mais saudáveis que elas inclinarão e definharão. Na verdade, muitas qualidades esplêndidas de nossa mente estão enraizadas no corpo; seus vértices, que adornam nosso ser espiritual, nossa alma, definharão se negligenciarmos o solo dessas belas plantas e, assim, destruirmos suas raízes. (p. 89)

Existem, assim, naturezas percebidas e vividas de acordo com o que é possível conhecer e conceber em cada período. Thomas (2010)Thomas, K. (2010). O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1500-1800). São Paulo: Companhia das Letras. afirma que entre os anos de 1500 e 1800 teriam ocorrido transformações profundas “na maneira pela qual homens e mulheres, de todos os níveis sociais, percebiam e classificavam o mundo natural ao seu redor” (p.19). Esse período marcaria, também, o surgimento de novas sensibilidades8 8 Sobre o tema da sensibilidade na história, trabalhamos com Barran ([s.d.]); Corbin, (1986, 1994, 2000), particularmente, com os estudos de Corbin sobre uma história da sensibilidade em relação à natureza e seus elementos (1991, 2001, 2005, 2010, 2013a, 2013b); Corbin, Courtine e Vigarello (2016, 2v.); Febvre (1989, 2000, 2003), Haroche (2008); Huizinga (2010); Vigarello (2014), entre outros. tanto em relação aos animais, quanto às plantas e, mais amplamente, à paisagem. Como escreveu Schama (1996)Schama, S. (1996). Paisagem e memória. Campinas: Companhia das Letras., “é evidente que o próprio ato de identificar (para não dizer fotografar) o local pressupõe nossa presença e, conosco, toda a pesada bagagem cultural que carregamos. Afinal, a natureza selvagem não demarca a si mesma, não se nomeia” (p. 17).

Trata-se, portanto, de um período que insiste em “libertar” a natureza do domínio dos demônios, dos perigos e de uma estética da feiura, como sublinhou Villaret (2005)Villaret, S. (2005). Histoire du naturismo en France depuis le siècle de Lumières. Paris: Vuibert., restaurando-a a serviço da educação, da saúde e dos divertimentos, tal qual concebeu Guts Muths, cujas ideias e ideais permaneceram, de certa forma, no ideário de vida ao ar livre que se constituiu no interior das sociedades ginásticas aqui estudadas.

Uma das ideias que se desenvolveram no século XVIII e permanecem na configuração daquilo que denominamos de “ideário de vida ao ar livre”, é de ser a natureza boa e generosa, fonte de virtudes, bondade e beleza. Dessa compreensão surgem inúmeras possibilidades educativas, assim como procedimentos terapêuticos, além de diversificadas formas de divertimento que, pouco a pouco, se consubstanciam em proposições bastante precisas e são disseminadas por diferentes instituições, bem como pela imprensa em seus diferentes formatos. O ideal de retorno à natureza encontrado no manual de Guts Muths não é visto, entretanto, nos escritos de Friedrich Ludwig Jahn, que fundamentaram o desenvolvimento do Turnen na Alemanha ao longo de todo o século XIX e ainda serviram como base para as ações das sociedades ginásticas teuto-brasileiras. Embora Jahn também levasse seus Turner para praticarem exercícios ao ar livre, sua relação com a natureza era muito mais intervencionista: se, para Guts Muths, ela oferecia os obstáculos a serem superados por seus aprendizes, para Jahn ela oferecia os materiais para a construção dos aparatos a serem utilizados nas sessões de ginástica. O estabelecimento de praças de ginástica ao ar livre parece estar, para este autor, muito mais relacionado à sua intenção de transformar o Turnen em uma prática pública, visível a todos, do que a um retorno regrado, visando à obtenção de benefícios físicos e morais que poderiam derivar do contato com os elementos da natureza. Ainda que Jahn estabelecesse critérios claros no que diz respeito aos tipos de árvores que deveriam circundar as praças ginásticas, em seu manual a natureza não ocupa lugar central.

Apesar de ter suas origens como uma prática ao ar livre, quando o Turnen chegou ao Brasil, já estava transposto aos ambientes fechados dos ginásios. No momento em que as Turnvereine começaram a ganhar vida em nosso país, isso acontecia em espaços alugados, salões de hotéis e pátios de escolas que, paulatinamente, foram sendo trocados por prédios próprios, adquiridos com recursos angariados pelos ginastas. Entretanto, da mesma forma que se esforçavam para adquirir um prédio que lhes servisse como sede, onde pudessem, além de treinar seus corpos, constituir bibliotecas, espaços de reuniões e de apresentações teatrais e musicais, buscavam ainda obter um espaço para construção de suas praças de jogos, onde poderiam se exercitar ao ar livre.

Exercitar-se e jogar ao ar livre era entendido por essas associações como um elemento importante no combate aos males que as cidades em pleno desenvolvimento poderiam trazer, especialmente para a população mais jovem. As corridas, os saltos e o nado, que já faziam parte das primeiras sistematizações sobre a ginástica na Alemanha, apareceram nas sociedades teuto-brasileiras como um complemento às sessões de ginástica que aconteciam em ambiente fechado, como um contraponto à vida no incipiente ambiente urbano-industrial, cheio de vícios em potencial, que se mostrava extremamente fértil para o desenvolvimento de males físicos e morais.

Conforme afirma Soares (2016)Soares, C. L. (2016). Três notas sobre natureza, educação do corpo e ordem urbana (1900-1940). In C. L. Soares, Uma educação pela natureza: a vida ao ar livre, o corpo e a ordem urbana (pp.9-46). Campinas: Autores Associados., ao tratar da cidade de São Paulo, nas primeiras décadas do século XX, uma nova ordem urbana em ascensão constituiu novas relações com a natureza, evocando “o ar puro e a vida ao ar livre como pedagogia do corpo e como terapêutica das doenças causadas pelos novos ritmos urbanos em que o esgotamento nervoso, a tuberculose e outros problemas pulmonares se fazem presentes [ênfase no original]” (pp. 18-19). Essas noções sobre a vida ao ar livre são encontradas com frequência também no âmbito das sociedades teuto-brasileiras, ainda que justificadas com base em uma literatura em língua alemã, e não nos escritos de médicos e higienistas brasileiros.

Os poucos estudos sobre o associativismo ginástico no Brasil, como o realizado por Wieser (1991)Wieser, L. (1991). Deutsches Turnen in Brasilien: Deutsche Auswanderung und die Entwicklung des deutsche-brasilisches Turnwesen bis zum 1917. Londres: Arena Publications. e aqueles desenvolvidos por Quitzau (2011Quitzau, E. A. (2011). Educação do corpo e vida associativa: as sociedades ginásticas alemãs em São Paulo (fins do século XIX, primeiras décadas do século XX). Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., 2013Quitzau, E. A. (2013). Different clubs, similar purposes? Gymnastics and sports in the German colony of São Paulo/Brazil at the turn of the Nineteenth Century. The International Journal of the History of Sport. 30(9), 963-975. Recuperado em 25 de março de 2016, de http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/09523367.2013.792807.
http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.10...
, 2016)Quitzau, E. A. (2016). Associativismo ginástico e imigração no Sul e Sudeste do Brasil (1858-1938). Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., embora tenham se debruçado sobre aspectos mais relacionados à organização dessas associações e às suas relações com a germanidade, já apontam para a temática da vida ao ar livre como um elemento importante no cotidiano das Turnvereine e em seu projeto de educação da população teuto-brasileira, especialmente de sua juventude.

3 - Exercícios físicos, caminhadas ao ar livre e praças de jogos

A documentação produzida pelas sociedades ginásticas teuto-brasileiras revela que as práticas corporais ao ar livre constituíam nesses espaços um importante complemento ao Turnen, possibilitando-lhe tornar-se uma forma de educação do corpo ainda mais múltipla, harmoniosa e benéfica. Nadar, pedalar, remar, jogar – enfim, exercitar-se ao ar livre, em meio às árvores e sob o sol dos trópicos apresentava-se nesses contextos como atividades salutares tanto do ponto de vista higiênico quanto da sociabilidade. Aliás, há indícios de que essas práticas, por vezes, aproximavam homens e mulheres, permitindo-lhes que as realizassem conjuntamente, como é possível observar em alguns registros fotográficos de Porto Alegre e do Rio de Janeiro.

Figura 3
Membros da Turnerbund Porto Alegre jogando Tamburinball na praça de jogos da associação. Nota-se que as equipes são mistas, formadas por mulheres e homens. (Turner-Bund Porto Alegre, 1917, p. 21)
Figura 4
Membros da Deutscher Turn- und Sportverein Rio de Janeiro em excursão aos Castelos, Serra dos Órgãos (1932)

As atividades realizadas no âmbito da praça de jogos das sociedades ginásticas parecem ter apresentado grande importância como complementos ao Turnen; entretanto, grande atenção era dada ainda a outras duas práticas, que extrapolavam os limites dessas associações e apresentavam um contato mais direto e profundo com a natureza brasileira: as caminhadas ao ar livre e o escotismo9 9 O escotismo é um tema que merece uma análise mais detalhada e, por isso, não será tratado neste artigo. , sendo esse último, pelos indícios encontrados até o momento, limitado ao contexto rio-grandense.

As caminhadas ao ar livre (Wanderungen), que faziam parte de uma categoria mais ampla denominada Turnfahrten (viagens ginásticas), parecem ter sido uma prática presente desde a fase inicial da constituição das sociedades ginásticas teuto-brasileiras. Há registros de incursões à natureza por parte dos ginastas já na década de 1860, quando um grupo de membros da Turnverein Rio de Janeiro se aventurou a escalar o Pão de Açúcar (Quitzau, 2016Quitzau, E. A. (2016). Associativismo ginástico e imigração no Sul e Sudeste do Brasil (1858-1938). Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.).

Em associações como a Turnerschaft von 1890 in São Paulo e a Turnerbund Porto Alegre, as Turnfahrten compunham um dos itens de seus relatórios anuais de atividades e eram previstas em seus estatutos como meios para atingir os objetivos da associação, ou seja, o fortalecimento físico, moral e espiritual de seus associados. Na Deutscher Turn-und Sportverein Rio de Janeiro, formou-se um grupo denominado Bergfreunde (“Amigos das Montanhas”), dedicado à realização de passeios frequentes – majoritariamente a pé – pelos arredores da então capital nacional. Em Blumenau, no início do século XX, os ginastas faziam excursões anuais pelas montanhas próximas à cidade. Nos relatos desses passeios, há detalhadas descrições dos elementos da natureza, das dificuldades impostas pelos percursos e, especialmente, dos “sinais de civilização” introduzidos pelos “pioneiros” alemães desde meados do século XIX. O mais antigo desses relatos encontrados data de 1904, de um passeio realizado na chamada Spitzkopf.

Quanto mais alto escalávamos — era de fato uma escalada, – mais a floresta perdia seu caráter tropical. As palmeiras desapareceram por completo, árvores gigantes eram cada vez mais esporádicas, mesmo a mata de corte era cada vez menor. Em seu lugar aparecia o incômodo mato alto. Uma verdadeira praga eram os caravatos [sic] (piolhos do mato), que parecem ter previsto nossa chegada.... O último trecho até o cume foi recebido com vivas. Chegamos pouco depois de duas horas. A floresta tinha acabado, em seu lugar apareceram arbustos definhados e espinhos. Os olhos foram ofuscados pela passagem da escuridão da mata para a claridade do sol. Em cinco horas e meia tínhamos completado a subida.

Na direção do interior, os olhos passeiam pelo interminável caminho de floresta, que apenas de vez em quando é interrompida por alguma pequena clareira. Como marcas de queimadura em roupas de pele, assim aparecem os homens em meio às plantas nesse gigante tapete de mata selvagem .... No geral, tudo o que se vê é floresta...

(Eine Turnfahrt nach dem Spitzkopf bei Blumenau in Süd-Brasilien, 1904Eine Turnfahrt nach dem Spitzkopf bei Blumenau in Süd-Brasilien. (1904). Deutsche Turnzeitung, 34, 829-830., pp.829-830)

A mata densa pela qual os ginastas passavam ao longo da subida oferecia momentos de beleza e deslumbre, porém, no cume, quando a natureza adquiria um aspecto mais árido, outro elemento ocupava o cenário: o panorama do vale, cuja paisagem era composta por sinais de ocupação humana, mais especificamente, por evidências da assiduidade e da persistência que seriam características do “trabalho alemão”, enfim, da germanidade. A vista proporcionada pela Spitzkopf tornou-se a referência para comparação em outras excursões realizadas pelos blumenauenses, como a subida da Hundeberg (1905)Eine Turnfahrt nach dem Hundeberg. (1905). Deutsche Turnzeitung, 39, 691. e da Bugerkopf (1910)Eine Turnfahrt nach dem Bugerkopf in Brasilien. (1910). Deutsche Turnzeitung, 27, 509-510.. Se na Bugerkopf o panorama fora “decepcionante” e “limitado” (Eine Turnfahrt nach dem Bugerkopf in Brasilien, 1910Eine Turnfahrt nach dem Bugerkopf in Brasilien. (1910). Deutsche Turnzeitung, 27, 509-510., pp.509-510), na Hundeberg

a relação entre mata nativa e terras assentadas parece muito diferente de quando vista da Spitzkopf. Esta sem dúvida é prevalecente, pois o observador ganha uma noção do que foi conseguido aqui, em meio século, com a dedicação e a persistência alemãs.

Em minha opinião, a vista da Hundeberg, se não é mais ampla, é ao menos mais grata do que a da Spitzkopf, pois a imagem é mais detalhada.... A altura da Hundeberg é de 760 metros, ou seja, fica 200 metros abaixo da Spitzkopf. Mas a vista não é menos bela, e quem, como nós, tiver a sorte de conseguir um bom tempo, terá os esforços da subida suficientemente recompensados.

(Eine Turnfahrt nach dem Hundeberg, 1905Eine Turnfahrt nach dem Hundeberg. (1905). Deutsche Turnzeitung, 39, 691., p. 691)

Esta relação entre natureza e civilização, constante nos relatos das Turnfahrten, em especial a noção do alemão como “pioneiro” e “civilizador”, se faz presente, ademais, em alguns relatos do Rio Grande do Sul, especialmente em 1924, ano do centenário da imigração alemã no Brasil, em que emerge o discurso de que o imigrante alemão teria enfrentado animais selvagens e os mais diferentes perigos que a densa floresta brasileira poderia oferecer, transformando-a num local ricamente cultivado, erguido a partir de seu trabalho árduo, esquecendo-se de que essas mesmas terras já eram ocupadas por nações indígenas e suas culturas próprias.

Na selva, é o afiado machado no punho do colono teuto-brasileiro que, ininterruptamente nos últimos 100 anos, transformou essa natureza selvagem em campos frutíferos.... Como os fazendeiros de origem italiana cultivam seu vinho e o transformaram numa fonte de renda, assim também fizeram os alemães com seus produtos das criações de porco. (100 Jahre Deutsche Kolonisationsarbeit in Rio Grande Do Sul, 1924100 Jahre Deutsche Kolonisationsarbeit in Rio Grande do Sul. (1924). Deutsche Turnblätter – Monatliche Mitteilungen des Turner-Bundes in Porto Alegre, 9(2), 37-39., p. 37)

Os passeios na natureza realizados pelas sociedades ginásticas inseriam-se numa lógica comum dentro dessas instituições: a necessidade de se conhecer o local em que se vive, a Heimat10 10 Scouting is a matter that deserves a closer examination; therefore, we will not deal with it in this paper. que haviam adotado, para poder amá-la. Esta noção era referenciada a Jahn, que em seu Deutsches Volkstum (1810) dedica um capítulo ao que poderíamos traduzir como “caminhadas patrióticas” (Vaterländische Wanderungen), que possibilitariam ao indivíduo ampliar seu conhecimento sobre a pátria e seus conterrâneos. Os membros da Turnverein São Sebastião do Cahy parecem ter cultivado com afinco em seus passeios essencialmente a noção de conhecer a terra em que se vive, sem atentar-se muito, entretanto, ao ato de caminhar na natureza. Durante os anos 1930, há registros de grandes viagens realizadas por esses ginastas que, apesar de acontecerem com meios de transportes como caminhões e ônibus, compartilhavam com os passeios a pé o ideal de conhecer a terra em que viviam.

Apesar de as excursões da Turnverein São Sebastião do Cahy serem executadas de outra forma, a natureza, seus desafios e suas belezas eram, todavia, o tema central dos relatos encontrados. Os ginastas ficaram maravilhados com a “primorosa, romântica região” do parque do Caracol, na cidade de Canela; com o panorama de um vale, rumo a Alfredo Chaves, que lhes permitia, a partir de seu caminhão, observar que ao longe, “no meio do verde, contorcia-se uma listra prateada, o Rio das Antas, que dilacerava seu caminho através de rochedos e fendas para, depois, poder formar o Rio Taquari” (Neue Deutsche Zeitung, 1936, [n.p.]); com o “prazeroso banho de mar” na cidade de Torres (Eine Turnfahrt nach Torres, 1938Eine Turnfahrt nach Torres. (1938). Recorte de jornal sem identificação., [n.p.]); com a travessia de balsa do Rio da Prata, que parecia ser um verdadeiro pedaço do céu. Água cristalina, cinza brilhante, rodeada por árvores verde-escuras, cujos troncos eram refletidos nas águas prateadas, como nós ao nos cuidarmos na frente do espelho no domingo de manhã. Calma e silenciosa, a balsa deslizava conosco sobre o Prata. (Neue Deutsche Zeitung, 1936Neue Deutsche Zeitung (1936)., [n.p.])

O fato de relatos desses passeios em meio à natureza (fossem eles a pé ou com veículos motorizados) terem sido publicados em jornais teuto-brasileiros e alemães11 11 Heimat is often translated to “homeland” or “home”, always with a strong emotional charge (Magalhães, 1998). , aponta o lugar ocupado por esta prática no interior das sociedades ginásticas e do associativismo teuto-brasileiro de maneira mais ampla. Há indícios de que esses passeios, por vezes, eram abertos ao público, como revelam anúncios de Turnfahrten encontrados em jornais teuto-brasileiros de Santa Catarina, indicando destino, data, ponto de encontro e horário de saída, o que permitiria a participação de não associados nessas atividades. No caso específico do Rio Grande do Sul, um papel similar passou a ser desempenhado nas sociedades ginásticas teuto-brasileiras pelo escotismo, que, organizando-se a partir de departamentos autônomos dentro dessas associações, buscava educar a juventude teuto-brasileira a partir de atividades em meio à natureza, como caminhadas e acampamentos. Tendo o propósito de atingir a juventude da colônia de uma forma mais ampla, esses departamentos permitiam que seus grupos fossem frequentados também por aqueles que não tinham condições de fazer parte da sociedade ginástica à qual estavam vinculados.

Figura 5
Anúncio de Turnfahrt às cachoeiras de Piraí, realizada pela Turnverein Joinville, publicado no jornal Kolonie Zeitung em 28 de junho de 1898.

Entre as instituições identificadas pelos estudos sobre imigração como “recreativas”, as sociedades ginásticas foram as mais numerosas. Contudo, elas não foram as únicas a ter na educação, na saúde e nos cuidados do corpo o centro de sua ação. Um olhar mais amplo sobre o associativismo teuto-brasileiro aponta para outras associações que tinham sua centralidade nos cuidados com o corpo e, mais especificamente, em sua educação junto à natureza. Além dos já mencionados escoteiros rio-grandenses, que se organizaram dentro das sociedades ginásticas, grupos de caminhadas em meio à natureza e mesmo uma associação de cura por meios naturais – a Naturheilverein Porto Alegre (Sociedade de Cura pela Natureza de Porto Alegre) – foram organizados pelos teuto-brasileiros e parecem ter mantido certa proximidade com as sociedades ginásticas12 12 Many of the reports from Blumenau were found in the Deutsche Turnzeitung, an official organ of the Deutsche Turnerschaft, located in Germany. (Tesche, 2015Tesche, L. (2015). A organização das ligas e dos clubes alemães, a formação de atletas no Rio Grande do Sul: o Turnen em questão. In Anais do 28 Simpósio Nacional de História. Recuperado em 30 de janeiro de 2016, de http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1427018411_ARQUIVO_AFORMACAODEATLETASNORSATEESTADONOVO.pdf.
http://www.snh2015.anpuh.org/resources/a...
).

Olhar para as práticas ao ar livre organizadas pelas sociedades ginásticas, bem como para a atuação de outras entidades que tinham como objeto central a vida ao ar livre e as curas pela natureza, nos permitem uma compreensão mais ampla sobre as formas de sociabilidade dos teuto-brasileiros nas regiões sul e sudeste do País. Buscamos, assim, extrapolar os limites dos cenários associativos esportivo e escolar e possibilitar uma maior aproximação com outras práticas de divertimento, saúde e cuidados com o corpo por parte deste grupo de imigrantes.

4 - Vida ao ar livre, regeneração do corpo e saúde

A partir do amplo conjunto de diferentes registros produzido por essas associações foi possível perceber que a ginástica, apesar de ser seu objeto central e o principal meio de educação do corpo para seus associados, não conseguiria atingir plenamente seus objetivos voltados para a preservação da saúde, caso se mantivesse restrita às sessões semanais que aconteciam à noite, nos ginásios fechados. Assim, os jogos e os exercícios físicos ao ar livre emergem nessas instituições como um complemento vital nesse programa de educação e saúde, levando, por exemplo, os porto-alegrenses a afirmar que o “Turnen sem caminhadas é como sopa sem sal, algo pela metade” (Im Anfang war das Wandern, 1929Im Anfang war das Wandern! (1929). Deutsche Turnblätter – Monatliche Mitteilungen des Turner-Bundes in Porto Alegre, 16(6), 2-3., p. 2), e os curitibanos a defender a necessidade de compra de um terreno para construção de sua praça de jogos, afirmando que

enquanto o Turnen é quase exclusivamente cultivado à noite em ginásios fechados, os esportes são praticados na natureza livre de Deus, favorecidos pelo ar e pelo sol, que por si só já exercem os melhores benefícios sobre o corpo humano que podemos imaginar. Por isso, é nosso desejo adquirir um terreno, o mais rapidamente possível, que seja adequado aos nossos objetivos esportivos e que torne oportuna, também, a prática de esportes aquáticos. (Wichtige Vereinsinteressen, 1929Wichtige Vereinsinteressen. (1929). Vereins-Zeitung des Teuto-Brasilianischen Turnvereins Curityba, 1(4), 1., p. 1)

As fontes consultadas nos trazem indícios de que o exercício físico ao ar livre tinha um papel quase tão importante no interior dessas instituições quanto a própria ginástica. Nesses contextos, jogos em praças abertas e, principalmente, excursões a pé em meio à natureza que rodeava as cidades em que essas associações se localizavam, se tornavam, ao que parece, procedimentos centrais de cura, regeneração do corpo e ainda divertimento, especialmente por representar uma oposição e um contraponto à vida nas cidades em crescimento.

Isto porque, nas primeiras décadas do século XX, traços de uma natureza benevolente, bela e generosa, cara ao pensamento de Rousseau, pareciam ainda permanecer no Brasil, em especial nas capitais ou em cidades mais populosas. Ali, é possível perceber a existência de um ideário de vida ao ar livre, onde uma natureza transformada pela mão humana educava indivíduos urbanos e produzia, assim, uma nova sensibilidade, como é o caso dos teuto-brasileiros, que criaram nesses lugares novas atitudes humanas no contato com a natureza.

Os indícios – presentes nas fontes consultadas – de uma relação mais próxima com a vida ao ar livre como parte de um procedimento de saúde vão ao encontro das ideias defendidas por educadores, cientistas, artistas, urbanistas, médicos e muitos outros profissionais que trabalhavam, no Brasil, na configuração de novos projetos educativos, em que um ideário de vida ao ar livre parece ocupar lugar privilegiado nas primeiras décadas do século XX. E neste quadro de referências o ar puro e o sol, assim como os banhos de rio e de mar, eram elementos evocados com frequência e considerados em distintos procedimentos (Corbin, 2013bCorbin, A. (Org.). (2013b). La pluie, le soleil et le vent. une histoire de la sensibilité au temps qu’il fait. Paris: Aubier.; Dalben, 2009Dalben, A. (2009). Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., 2014Dalben, A. (2014). Mais do que energia, uma aventura do corpo. as colônias de férias escolares na América do Sul (1882-1950). Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.; Schossler, 2013Schossler, J. C. (2013). História do veraneio no Rio Grande do Sul. Jundiaí: Paco Editorial.).

A água, por exemplo, é um elemento que aparece constantemente ligado tanto ao aspecto do divertimento quanto à recuperação corporal. Banhos em rios e cachoeiras aparecem como momentos de pausa, aliviando o cansaço gerado pelas caminhadas e, principalmente, pelo intenso calor. Ali, elas serviam tanto como refresco e fonte de reidratação quanto como local de banho, contribuindo para o revigoramento do corpo e permitindo a continuidade da caminhada. Ação similar tinham as águas pluviais: quando amenas e sem o acompanhamento de trovões e relâmpagos, as chuvas apareciam como um prazeroso presente da natureza aos ginastas que vagavam por suas trilhas. Quando fortes, os obrigavam a procurar abrigo, o que não necessariamente significava algo ruim: procurar locais cobertos e reunir-se em torno de fogueiras para se manter aquecido fazia com que as chuvas se transformassem, frequentemente, nas “horas mais divertidas e aconchegantes do dia” (Erste Oficielle Tour unserer Wandergruppe “Bergfreunde” nach dem “Taquara”, 1932Erste Oficielle Tour unserer Wandergruppe “Bergreunde nach dem “Taquara”. (1932). Deutsche Turn- und Sportverein Rio De Janeiro Vereins-Zeitung, 76, 7., p. 7).

No caso da Turnerschaft von 1890 in São Paulo, a relação com as águas das chuvas não foi tão festiva, mas a de um obstáculo a ser superado. Numa São Paulo ainda com ares rurais, as precipitações de verão quase se tornaram um empecilho para o desenvolvimento da instituição, pois suas primeiras atividades

começaram na época das chuvas, e às vezes era agradável observar como as famílias brasileiras, que todos os finais de tarde se ocupavam com os cuidados dos rebanhos, olhavam admirados os ginastas que, apesar da chuva torrencial e do chão encharcado, executavam seus exercícios até o fim. A única proteção eram 11 guarda-chuvas para um grupo de 12 homens, e essa proteção bastava, pois quem estava no aparelho não podia usar guarda-chuva.

Essas condições desfavoráveis, entretanto, fizeram com que a quantidade de ginastas que visitavam a Turnplatz diminuísse, passando de uma média de 20 pessoas para um pequeno grupo de 12 homens.

(Die Turnerschaft von 1890 in São Paulo tritt mit diesem Jahre in das sechste Jahr ihres Bestehens, 1896Die Turnerschaft von 1890 in São Paulo tritt mit diesem Jahre in das sechste Jahr ihres Bestehens. (1896). Deutsche Turnzeitung, 45, 925., p. 925)

Preservar a vida, manter a saúde, desafiar-se e, ao mesmo tempo, divertir-se, eram ações que exigiam uma educação bastante específica no que diz respeito aos lugares que se construíam para tal. Assim, a vida ao ar livre identificada nos documentos produzidos pelas sociedades ginásticas teuto-brasileiras, especialmente desde fins do século XIX até a década de 1930, se mostra bastante evidente. Consideradas como “recreativas” e identificadas como as mais numerosas (Seyferth, 1999Seyferth, G. (1999). As associações recreativas nas regiões de colonização alemã no Sul do Brasil: Kultur e etnicidade. Travessia. 12(34), 24-28.), tais sociedades ainda são pouco estudadas pelos historiadores da educação e da imigração alemã. Some-se a esta lacuna a delimitação das práticas corporais junto à natureza em suas singularidades13 13 According to Tesche (2015), the Naturheilverein Porto Alegre was one of the founders of the Swimming League (Schwimmverband) in Porto Alegre at the end of the 19th century, with the Turnerbund and Ruderclub (Rowing Club) .

  • 1
    Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.
  • 2
    A germanidade (Deutschtum) é uma noção construída a partir do nacionalismo alemão do início do século XIX e engloba elementos como a língua, a cultura e a lealdade à nação alemã como constitutivos da nacionalidade (Seyferth, 1982Seyferth, G. (1982). Nacionalismo e identidade étnica. a ideologia germanista e o grupo étnico teuto-brasileiro numa comunidade do Vale do Itajaí. Florianópolis: Fundação Victor Konder.). Ela deriva diretamente do conceito de Volkstum, cunhado por Friedrich Ludwig Jahn como um substituto para expressões relativas à nacionalidade que ele considerava “de origens estrangeiras”, como “National” (“nacional”), “Nationalität” (“nacionalidade”), “Nationaleigentümlichkeit” (“particularidade nacional”).
  • 3
    Um estudo amplo sobre o Turnen no Brasil foi desenvolvido por Quitzau (2011, 2016), no qual a autora analisa os desdobramentos da ginástica na Alemanha e no Brasil, trabalhando com os primeiros manuais de ginástica produzidos naquele país, na passagem do século XVIII para o século XIX. Para um estudo sobre o Turnen na Alemanha, ver Krüger (1996Krüger, M. (1996). Körperkultur und Nationsbildung. Schorndorf: Hofmann., 2010)Krüger, M. (Org.). (2010). Johann Christoph Friedrich GutsMuths (1759-1839) und die philantropische Bewegung in Deutschland. Hamburg: Czwalina.; sobre sua disseminação em outros países, como os Estados Unidos, ver Hofmann (2001Hofmann, A. R. (2001). Aufstieg und Niedergang des deutschen Turnens in den USA. Schorndorf: Hofmann., 2015)Hofmann, A. R. (2015). The American Turners: their past and present. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, 37(2), 119-127. Recuperado em 02 de fevereiro de 2016, de http://rbce.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/2094/1045.
    http://rbce.cbce.org.br/index.php/RBCE/a...
    .
  • 4
    O punhobol (Faustball) era um jogo muito comum nas sociedades ginásticas teuto-brasileiras. É similar ao voleibol – a rede é colocada em uma altura menor e a bola deve ser sempre golpeada com a mão fechada.
  • 5
    A partir de 1938, o governo de Getúlio Vargas publicou uma série de Decretos-Lei que visavam à nacionalização de instituições fundadas por imigrantes no País. Dentre eles, destacam-se os de número 383 e 406, que proibiram, respectivamente, a fundação de organizações e partidos políticos estrangeiros no Brasil, e o ensino de línguas estrangeiras para crianças menores de 14 anos. O segundo deles também instituiu a adoção de materiais didáticos apenas em português.
  • 6
    Sobre o lugar da natureza na sistematização de Guts Muths, ver Quitzau e Soares (2016)Quitzau, E. A., & Soares, C. L. (2016). Um manual do século XVIII: culto à natureza e educação do corpo em “Ginástica para a Juventude”, de Guts Muths. Revista Brasileira de História da Educação. 16(1), 23-50. Recuperado em 25 de março 2016, de www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/article/view/540/pdf_90.
    www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/arti...
    .
  • 7
    Ver, entre outros, a dissertação de mestrado de Rachel de Souza (2016)Souza, R. R. (2016). Educação do corpo pela natureza na obra Emílio de Jean-Jacques Rousseau. Dissertação de Mestrado em Educação, Faculdade de Educação, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., intitulada “Educação do corpo pela natureza na obra Emílio de Jean-Jacques Rousseau”. Nesse trabalho a autora explorou de modo sistemático e monográfico a relação que Rousseau estabelece com a natureza física como educadora do ser humano.
  • 8
    Sobre o tema da sensibilidade na história, trabalhamos com Barran ([s.d.])Barran, P. (n.d.) Historia de la Sensibilidad en Uruguay (T. 3). Montevideo: Ediciones de la Banda Oriental S.R.L.; Corbin, (1986Corbin, A. (1986). Le miasme et la jonquille: l’odorat et l’imaginaire social, XVIII-XIX siècles. Paris: Flammarion., 1994Corbin, A. (1994) Les cloches de la terre: paysage sonore et culture sensible dans les campagne au XIXe siecle. Paris: Albin Michel., 2000Corbin, A. (2000). Historien du sensible, entretiens avec Gilles Heuré. Paris: La Découverte.), particularmente, com os estudos de Corbin sobre uma história da sensibilidade em relação à natureza e seus elementos (1991, 2001, 2005, 2010, 2013a, 2013b); Corbin, Courtine e Vigarello (2016, 2v.)Corbin, A., Courtine, J.-J., & Vigarello, G. (2016). Histoires des émotions (2 vol.). Paris: Seuil.; Febvre (1989Febvre, L. (1989). Combates pela história. Lisboa: Presença., 2000Febvre, L. (2000). O Reno. História, mitos e realidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira., 2003)Febvre, L. (2003). Le problème de l’incroyance au XIVème siècle: La réligion de François Rabelais. Paris: Albin Michel., Haroche (2008)Haroche, C. (2008). L’avenir du sensible, les sens et les sentiments en qusetion. Paris: PUF.; Huizinga (2010)Huizinga, J. (2010). O outono da Idade Média: estudo sobre as formas de vida e de pensamento dos séculos XIV e XV na França e nos Países Baixos. São Paulo: Cosacnaify.; Vigarello (2014)Vigarello, G. (2014). Le sentiment de soi: histoire de la perception du corps. Paris: Seuil., entre outros.
  • 9
    O escotismo é um tema que merece uma análise mais detalhada e, por isso, não será tratado neste artigo.
  • 10
    Heimat é comumente traduzida como “terra natal”, “lar”, trazendo em si uma grande carga emocional (Magalhães, 1998Magalhães, M. B. (1998). Pangermanismo e Nazismo: a trajetória alemã rumo ao Brasil. Campinas: Editora da Unicamp.).
  • 11
    Muitos relatos de Blumenau foram encontrados no Deutsche Turnzeitung, órgão oficial da Deutsche Turnerschaft, sediada na Alemanha. ».
  • 12
    Conforme Tesche (2015)Tesche, L. (2015). A organização das ligas e dos clubes alemães, a formação de atletas no Rio Grande do Sul: o Turnen em questão. In Anais do 28 Simpósio Nacional de História. Recuperado em 30 de janeiro de 2016, de http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1427018411_ARQUIVO_AFORMACAODEATLETASNORSATEESTADONOVO.pdf.
    http://www.snh2015.anpuh.org/resources/a...
    , a Naturheilverein Porto Alegre foi uma das fundadoras da Liga de Nado (Schwimmverband) em Porto Alegre no final do século XIX, juntamente com a Turnerbund e o Ruder-Club (Clube de Remo).
  • 13
    Conforme indicam os estudos de Soares (2015, 2016)Soares, C. L. (2015). Uma educação pela natureza: o método de educação física de Georges Hébert. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. 37(2), 151-157. Dossiê “Práticas e Prescrições sobre o corpo: a dimensão educativa dos métodos ginásticos europeus”. Recuperado em 07 de julho de 2015, de http://www.scielo.br/pdf/rbce/v37n2/0101-3289-rbce-37-02-0151.pdf.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Abr 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    02 Fev 2017
  • Revisado
    22 Maio 2017
  • Aceito
    08 Jun 2017
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