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Intelectuais mediadores e a internacionalização de saberes: Kumlien e a ginástica sueca (1895 - 1921) 1 1 Editor responsável: André Luiz Paulilo. https://orcid.org/0000-0001-8112-8070 2 2 Normalização, preparação e revisão textual: Vera Lúcia Fator Gouvêa Bonilha - verah.bonilha@gmail.com 3 3 Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (APQ-02013-18), Revisão e Tradução financiados com recurso ProEx/Capes, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 4 4 Tradução para o inglês: Viviane Ramos - vivianeramos@gmail.com

Intelectuales mediadores y la internacionalización de los saberes: Kumlien y la gimnástica sueca (1895-1921)

Resumo

Entre os séculos XIX e XX, um intenso movimento de internacionalização tomou lugar no Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (GCI), apostando, entre outras ações, no trânsito de sujeitos da Suécia para outros países. Ludvig Gideon Kumlien (1874-1934), sueco, se mudou para Paris e realizou diferentes ações para divulgar a ginástica sueca. Objetiva-se aqui, mobilizando a noção de intelectuais mediadores, analisar as estratégias de divulgação empreendidas por Kumlien na França entre os anos de 1895 e 1921. Como fontes, recorreu-se a jornais franceses e manuais de ginástica. Concluiu-se que Kumlien, no encontro com uma nova cultura, traçou estratégias para driblar as resistências, mas não abandonou o modus operandi dos sujeitos formados no GCI.

Palavras-chave
ginástica sueca; Kumlien; História da Educação; História da Educação Física; educação do corpo

Resumen

Entre los siglos XIX y XX, un intenso movimiento de internacionalización sucedió en el Instituto Central de Gimnástica de Estocolmo (GCI) que invirtió, entre otras acciones, en el traslado de ciudadanos suecos a otros países. Ludvig Gideon Kumlien (1874-1934), sueco, se trasladó a Paris y realizó diferentes acciones para la divulgación de la gimnástica sueca. Objetivamos, trayendo a la luz la noción de intelectuales mediadores, analizar las estrategias de divulgación empleadas por Kumlien en Francia entre los años de 1895 y 1921. Como fuentes, utilizamos los periódicos franceses y manuales de gimnástica. Concluimos que Kumlien, cuando se ha encontrado con una nueva cultura, ha trazado estrategias para escapar de las resistencias; pero no ha abandonado el modus operandi de los sujetos formados en el GCI.

Palabras clave
Body Education; Kumlien; Historia de la Educación; Historia de la Educación Física; Educación del Cuerpo

Abstract

Between the 19th and 20th centuries, a strong movement of internationalization took place at the Stockholm Central Institute of Gymnastics (GCI), relying, among other actions, on the mobility of individuals from Sweden to other countries. Ludvig Gideon Kumlien (1874-1934) moved from Sweden to Paris and developed different actions to promote Swedish gymnastics. By mobilizing the notion of mediating intellectuals, our objective was to analyze the dissemination strategies undertaken by Kumlien in France between 1895 and 1921, using French newspapers and gymnastics manuals as sources. We conclude that Kumlien, in his encounter with a new culture, designed strategies to overcome the resistance against the Swedish gymnastics; however, he did not abandon the modus operandi of the individuals trained by the GCI.

Keywords
Swedish Gymnastics; Kumlien; History of Education; History of Physical Education; Body Education

Introdução

Pessoas de profunda e excelente formação intelectual e educacional, que professam sua arte com uma espécie de fanatismo, que se consideram apóstolos, possuidores de uma certa verdade, para o triunfo de que estão dispostos a submeter-se a todas as tribulações5 5 Gens de culture intellectuelle profonde, d'éducation excellente qui professent leur art avec une espèce de fanatisme, qui se considèrent comme des apôtres, en possession d'une vérité certaine, pour le triomphe de laquelle ils sont disposés à subir toutes les tribulations. .

(Roux, 1899Roux, H. (1899, jul. 17). Gymnastique. Le Figaro., p. 1, tradução nossa)

Esse pequeno excerto foi retirado da reportagem intitulada Gymnastique, publicada na primeira página do jornal francês Le Figaro em julho de 1899 e de autoria do jornalista francês Hugues Le Roux. Nela, Le Roux relata o concurso nacional de ginástica realizado no Jardin des Tuileries, em Paris. Considerando o contexto de constituição de territórios nacionais no continente europeu, a reportagem surpreende, ao celebrar a primeira participação de uma ginástica estrangeira, afirmando que os franceses deveriam praticar (e ensinar) tal ginástica6 6 Desde fins do século XVIII, na Europa, diferentes propostas de se educar o corpo foram elaboradas e, em sua maioria, foram chamadas de ginástica – dentre elas a ginástica sueca e a francesa (Soares, 1998). Seus nomes vinculados aos territórios nos quais foram produzidas revelam o contexto de suas proposições, marcado pelos nacionalismos, pelos conflitos territoriais e seus objetivos formativos, que não eram restritos aos civis, mas estendiam-se aos soldados capazes de lutar em defesa de suas nações (Andrieu, 1999). Esse corpo deveria ser educado a partir de uma perspectiva científica e, portanto, foram negados elementos vinculados ao prazer e ao divertimento (Cabral, 2016). Ao longo do tempo, as diferentes sistematizações travaram disputas na tentativa de eleger qual seria a mais adequada na formação dos corpos. . Tratava-se de uma exibição de ginástica sueca dirigida por Ludvig Kumlien.

Ludvig Kumlien (1874-1934)Kumlien, W. C. (1983). The Kumlien Family Directory., responsável pela exibição celebrada por Hugues Le Roux, era médico-ginasta e ambos se conheceram em Estocolmo, Suécia, no verão de 1893, como veremos adiante. Dois anos após esse encontro, em 1895, Kumlien mudou-se para Paris, onde passou grande parte de sua vida, empreendendo diferentes ações no sentido de divulgar a ginástica sueca em terras francesas (Bonifácio, 2019Bonifácio, I. M. A. (2019). Itinerários de Ludvig Gideon Kumlien e a (re)produção da ginástica sueca (1895-1921). [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais.). No jornal Le Figaro, Kumlien era descrito como “promotor e apóstolo incansável da ginástica” (Bernardini, 1908Bernardini, L. (1908, nov.). La Colonie suédoise à Paris. Le Figaro., p. 1).

As pessoas às quais Hugues Le Roux se refere no fragmento que dá início a este artigo, são os médicos-ginastas que, assim como Kumlien, eram profissionais que, formados pelo Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (GCI), se tornavam aptos ao ensino da ginástica sueca. Mais do que isso, eram seus fervorosos defensores, como descreve Le Roux. Diferentes autores versaram sobre o traço missionário dos alunos do Instituto, “apóstolos” de Ling, dos seus escritos e da ginástica proposta por ele (Ljunggren, 2011Ljunggren, J. (2011). ¿Por qué la gimnasia de Ling? El desenrrollo de la gimnasia sueca durante el siglo XIX. In P. Scharagrodsky (Org.), La invención del “homo gymnasticus”: Fragmentos históricos sobre la educación de los cuerpos en movimiento en Occidente (pp. 37-52). Prometeo.; Moreno, 2015Moreno, A. (2015). A propósito de Ling, da ginástica sueca e da circulação de impressos em língua portuguesa. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 37(2) 128-135.; Pereira, s/d; Posse, 1891Posse, N. F. (1891). How gymnastics are taught in Sweden: the chief cha-racteristics of the Swedish system of gymnastics: two papers. T.R. Marvin & Son. http://libcdm1.uncg.edu/cdm/compoundobject/collection/PEPamp/id/7236/rec/1
http://libcdm1.uncg.edu/cdm/compoundobje...
). Na mesma perspectiva, outros autores creditam aos médicos-ginastas a ampla circulação da ginástica sueca no mundo (Bazoge et al., 2011Bazoge, N., Saint-Martin, J., & Attali, M. (2011). Promoting the Swedish method of physical education throughout France for the benefit of public health (1868-1954). Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 23(2), 232-243.; Pfister, 2003Pfister, G. (2003). Cultural confrontations: German Turnen, Swedish gymnastics and English sport – European diversity in physical activities from a historical perspective. Culture, Sport, Society. 6(1) 61-91.).

Desde sua fundação, em 1813, o GCI destinou-se a essa formação. Ao longo do tempo, sobretudo após a morte de Pier Henrik Ling (1776-1839) – precursor do referido método –, diferentes iniciativas para divulgar essa ginástica foram realizadas. A principal aposta foi o trânsito de sujeitos (Moreno & Baía, 2019Moreno, A., & Baía, A. C. (2019). Do Instituto Central de Ginástica (GCI) de Estocolmo para o Brasil: Cultivo e divulgação de uma Educação Do Corpo. Educação em Revista, (35), 1-31.). Tanto estrangeiros procuravam o GCI para se formarem ou fazerem cursos, quantos os suecos se mudavam para outros territórios com o objetivo de ensinar e divulgar essa ginástica. Em termos numéricos, Moreno e Baía (2019)Baía, A. C., Bonifácio, I. M. A., & Moreno, A. (2019). Tratado pratico de gymnastica sueca de L. G. Kumlien: itinerários de um manual no Brasil (1895-1933). Revista Brasileira de História da Educação, 1(19), 1-23. contam que, em 1900, o GCI recebeu cerca de 60 estrangeiros e, em 1913, esse número saltou para 142.

Hugues Le Roux tomou contato com a instituição em 1893, quando de sua viagem à Estocolmo, a convite do Rei da Suécia e Noruega, Oscar II, com o objetivo de “produzir informações sobre a ginástica de Ling e seus admiráveis resultados do ponto de vista da regeneração física e da cultura moral da raça7 7 une enquête sur la gymnastique de Ling, et sur les admirables résultats que cette méthode a produits au double point de vue de la régénération physique et de la culture morale de la race. ” (Roux, 1901Roux, H. (1901). Avant-Propos. In L. G. Kumlien, & E. André, E. La gymnastique suédoise: Manuel de la gymnastique rationelle a la portée de tous et à tout âge (pp. 5-13). Flammarion., p. 5)8 8 Viagem essa que teria sido resultado de um convite feito pelo Rei da Suécia e Noruega, Oscar II, aos Ministros de negócios estrangeiros e de instrução pública da França. Esses destinaram a Le Roux a missão de ir a Suécia conhecer a ginástica de Ling e atestar os resultados do método (Roux, 1901). . Foi nessa ocasião que Le Roux conheceu Ludvig Kumlien, retornou convencido de que essa era a ginástica mais adequada a ser desenvolvida na França e empreendeu diferentes ações em parceria com o sueco no sentido de divulgá-la.

Em território francês, Kumlien divulgou a ginástica sueca, principalmente, por meio de três ações: exibições de ginástica, atividades de ensino e publicações. A publicação de manuais destacou-se em relação às demais iniciativas, em função da possibilidade de circular em diferentes territórios – Argentina, Brasil, Espanha, Itália, México e Portugal – e de serem traduzidos para diversas línguas9 9 Na França, Ludvig Kumlien publicou os manuais: La Gymnastique Suédoise (1901), La Gymnastique pour tous (1906) e Cour Complet d’éducation physique (1909). . Do francês, foi traduzido para, pelo menos, três idiomas: o espanhol, o português e o italiano. Xavier Flix e Javier Betrán (2012)Flix, X. T., & Betrán, J. O. (2012). Las cien obras clave del repertorio bibliográfico español de la educación física y el deporte en su proceso de legitimación e institucionalización (1807-1938). Revista General de Información y Documentación, (22),119-168. classificaram um dos manuais de L. G. Kumlien como uma das 100 obras que mais ajudaram a legitimar e institucionalizar a Educação Física nos círculos acadêmicos, sociais e profissionais na Espanha. Foi categorizada por eles entre as obras que tiveram uma contribuição importante para além do âmbito acadêmico, mas também no âmbito popular, de uso privado ou doméstico.

Não por acaso, Kumlien escolheu o território francês para realizar suas ações. Por lá, efervescia um extenso debate sobre os modos pelos quais a educação física10 10 Esse termo aparece nas fontes, contudo não era usado referindo-se à educação física tal qual conhecemos hoje, mas como educação do corpo, educação do físico. aconteceria nas escolas entre o final do século XIX e início do século XX. Estava em discussão não apenas qual método seria adotado ‒ se seria criado um método nacional ou se adotariam uma proposta estrangeira ‒, mas também a quem se vincularia a educação física ‒ ao exército ou ao âmbito civil (medicina, cientistas e escola) (Andrieu, 1999Andrieu, G. (1999). La Gymnastique au XIX Siècle ou a naissance de l’education physique (1789-1914). Editions Actio.; Bazoge et al., 2011Bazoge, N., Saint-Martin, J., & Attali, M. (2011). Promoting the Swedish method of physical education throughout France for the benefit of public health (1868-1954). Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 23(2), 232-243.; Pereira, s/d; Sarremejane, 2006Sarremejane, P. (2006). L’héritage de la méthode suédoise d’éducation physique en France : les conflits de méthode au sein de l’Ecole normale de gymnastique et d’escrime de Joinville au début du XXème siècle. Paedagogica Historica, 42(6) 817-837.).

Este artigo tem como objetivo analisar as estratégias de divulgação da ginástica sueca realizadas por Ludvig Kumlien. Para tanto, mobilizamos como fontes jornais franceses, manuais de ginástica escritos por Ludvig Kumlien, em parceria ou não, e um livro da família Kumlien. Os jornais foram localizados na plataforma digital da Biblioteca Nacional da França (Gallica)11 11 Realizamos uma busca na Gallica com o termo “Kumlien” e “Kunliem” que resultou em 142 pastas (104 de jornais ou revistas; 38 de livros). Cada uma delas continha um certo número de arquivos que variaram significativamente. Todos eles foram lidos a fim de identificar se se tratavam ou não de Ludvig Gideon Kumlien. De forma geral, localizamos jornais franceses que noticiavam as ações de Kumlien em Paris, menções de sua presença em eventos, bem como matérias que falavam sobre ele – suas ações no seu Instituto, atuação como professor, entre outros. Além disso, localizamos diferentes livros que, em sua maioria, utilizavam os manuais de Kumlien como referência ou continham anúncios da publicação dos manuais de Kumlien. Estes, por sua vez, também foram encontrados nesse acervo. . Por sua vez, os manuais de ginástica também foram encontrados no acervo digital referido anteriormente e nos acervos físicos da Biblioteca Nacional do Desporto (Lisboa/Portugal), Biblioteca da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e na Biblioteca Nacional da Suécia (Estocolmo)12 12 Ao todo, localizamos 13 manuais nos diferentes acervos. Trata-se, em geral, das publicações em francês de Ludvig Kumlien nos anos de 1901, 1906 e 1909, e suas respectivas edições e/ou traduções para o espanhol e para o português. Embora não tenhamos citado todas essas obras ao longo do texto, elas nos ajudaram a compreender as ações realizadas por Ludvig Kumlien no sentido de divulgar a ginástica sueca. . Nesse último, localizamos também o livro escrito por membro da família Kumlien que descreveram sua genealogia desde o século XVIII13 13 O livro The Kumlien Family (1983) foi escrito por Wendell Clarke Kumlien, filho do primo paterno de Ludvig Gideon Kumlien, e faz a genealogia da família Kumlien. O impresso está disponível na Biblioteca Nacional da Suécia. .

Esta pesquisa circunscreve-se temporalmente entre 1895, ano em que Ludvig Kumlien se mudou para Paris, e 1921, ano em que localizamos uma ação (que pode ter sido a última), para divulgar/ensinar a ginástica sueca: a publicação de uma última edição de seus manuais.

As mediações de médicos-ginastas: um campo em expansão

A ginástica proposta por Ling no Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (GCI) foi se consolidando, paulatinamente, a partir da Suécia para diferentes territórios mais ou menos distantes. Nesse processo, o Instituto tomou para si a responsabilidade de estudar, continuar e divulgar o método de Ling, tornando-se o epicentro da ginástica sueca no mundo (Moreno, 2015Moreno, A. (2015). A propósito de Ling, da ginástica sueca e da circulação de impressos em língua portuguesa. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 37(2) 128-135.; Moreno & Baía, 2019Baía, A. C., Bonifácio, I. M. A., & Moreno, A. (2019). Tratado pratico de gymnastica sueca de L. G. Kumlien: itinerários de um manual no Brasil (1895-1933). Revista Brasileira de História da Educação, 1(19), 1-23.). Aos poucos, foi se estabelecendo um processo de internacionalização desse método ginástico, tendo como principal aposta o trânsito de homens e mulheres, naturais da Suécia ou estrangeiros, formados no GCI (Baía et al., 2020Baía, A. C., Moreno, A., & Bonifácio, I. M. A. (2020). A internacionalização da ginástica sueca e sua presença no Brasil na primeira metade do século 20. In P. F. A. Athayde, & I. D. Wiggers (Orgs.), Produção de conhecimento na Educação Física: pesquisas e parcerias do centro da rede cedes no distrito federal (pp. 173-191). Editora Unijuí.).

Ludvig Kumlien integrou esse movimento de internacionalização, tendo se mudado para Paris e, por lá, empreendendo diversas ações de ensino e divulgação da ginástica sueca. Mas não foi o único. Muitos outros homens e mulheres, que se formaram no GCI, se mudaram para outros países e por lá também realizaram movimentos de promoção da ginástica de Ling (Bolling & Yttergren, 2015Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455.). Tendo em vista a formação comum entre os alunos do GCI, haveria algum padrão de ações realizadas por esses sujeitos?

Para tanto, traçamos paralelos entre as iniciativas de divulgação realizadas por Ludvig Kumlien e as realizadas por outros sujeitos, anteriores e contemporâneos, que também o fizeram. São eles: August Georgii e Martina Bergman‐Osterberg14 14 Deve-se levar em conta as especificidades temporais e locais que cada um dos sujeitos viveu. .

Georgii foi um dos discípulos de Ling, o qual, após sua morte, ficou responsável pelas aulas no Instituto. De acordo com Sarremejane (2006)Sarremejane, P. (2006). L’héritage de la méthode suédoise d’éducation physique en France : les conflits de méthode au sein de l’Ecole normale de gymnastique et d’escrime de Joinville au début du XXème siècle. Paedagogica Historica, 42(6) 817-837., Georgii teria sido enviado, na década de 1840, pelo governo sueco para divulgar a ginástica sueca pela Europa e para “estudar nos centros mais ativos da civilização, o estado das ciências” (p. 819). Ele visitou, Paris e Londres, onde realizou as ações de divulgação que discutiremos a seguir. Posterior a ele, na década de 1880, Martina Bergman‐Osterberg mudou-se para Londres, onde, a partir da ginástica sueca, advogou pelo treinamento físico das mulheres, garantindo a elas uma nova profissão e oportunidades (Bloomfield, 2005Bloomfield, A. (2005). Martina Bergman-Osterberg (1849–1915): creating a professional role for women in physical training. History of Education, 34(5) 517-534.).

Comum a todos foi a fundação de um Instituto nos locais para os quais se deslocaram. O primeiro deles foi Georgii que, tendo morado em Londres, fundou um Instituto em 1850 (Quin, 2014Quin, G. (2014). Approche comparée des pratiques médicales de “massage” et de “gymnastique”: à la fin du XIXème siècle et au début du Xxème siècle (Angleterre, France, Allemagne, Suisse). Histoire des Sciences Medicales, (2), 215-224.). Na mesma cidade, Osterberg criou a sua escola em 1885 (Bloomfield, 2005Bloomfield, A. (2005). Martina Bergman-Osterberg (1849–1915): creating a professional role for women in physical training. History of Education, 34(5) 517-534.). Posteriormente, na França, Kumlien iniciou as atividades de seu Instituto em 1899 (Roux, 1901Roux, H. (1901). Avant-Propos. In L. G. Kumlien, & E. André, E. La gymnastique suédoise: Manuel de la gymnastique rationelle a la portée de tous et à tout âge (pp. 5-13). Flammarion.). O Instituto de Kumlien tinha como atividade principal ofertar seções de ginástica e/ou massagem; Osterberg, além das seções, também utilizava seu espaço para formar professoras de ginástica.

Além de terem seus próprios Institutos, tanto Martina como Kumlien, atuaram em Instituições de Ensino e/ou escolas. Martina Osterberg, em 1881, participou do Conselho Escolar de Londres, o que permitiu introduzir a ginástica sueca em 300 escolas e capacitar 1000 professores para atuar com a citada ginástica (Bloomfield, 2005Bloomfield, A. (2005). Martina Bergman-Osterberg (1849–1915): creating a professional role for women in physical training. History of Education, 34(5) 517-534.). Ludvig Kumlien, por sua vez, atuou como professor de ginástica na École des Roches15 15 A École des Roches foi um protótipo da Escola Nova na França e tinha como objetivo formar as elites francesas. Mais informação (Duval, 2006). em Paris entre 1913 e 1924 e teve uma sessão de exercícios propostos por ele adotada nas escolas parisienses.

Georgii, em sua viagem por países europeus para divulgar a ginástica sueca, publicou um manual em Paris (1847) e dois em Londres, sendo um em 1850 e outro em 1852. Devido à sua vinculação mais marcante com a ginástica médica, seus manuais estavam mais preocupados com esse ramo de intervenção (Andrieu, 1999Andrieu, G. (1999). La Gymnastique au XIX Siècle ou a naissance de l’education physique (1789-1914). Editions Actio.; Quin, 2014Quin, G. (2014). Approche comparée des pratiques médicales de “massage” et de “gymnastique”: à la fin du XIXème siècle et au début du Xxème siècle (Angleterre, France, Allemagne, Suisse). Histoire des Sciences Medicales, (2), 215-224.; Sarremejane, 2006Sarremejane, P. (2006). L’héritage de la méthode suédoise d’éducation physique en France : les conflits de méthode au sein de l’Ecole normale de gymnastique et d’escrime de Joinville au début du XXème siècle. Paedagogica Historica, 42(6) 817-837.). Também em Londres, Osterberg publicou um manual “simples e direto” em 1887, além de escrever outros manuscritos que não foram publicados. Ela utilizou esse manual tanto na formação de professores de ginástica em seu Instituto, quanto em outros espaços não escolares. A simplicidade era uma característica de sua obra (Bloomfield, 2005Bloomfield, A. (2005). Martina Bergman-Osterberg (1849–1915): creating a professional role for women in physical training. History of Education, 34(5) 517-534.). Kumlien, por sua vez, publicou na França três manuais: o primeiro em 1901, o segundo em 1906 e o terceiro em 1909.

Promover exibições de ginástica foi uma estratégia muito utilizada por Ludvig Kumlien. Localizamos exibições desde 1897, dois anos após sua chegada em Paris, até 190416 16 O primeiro registro localizado está no prefácio de seu manual La Gymnastique Suédoise e o último diz respeito a notícias em jornais franceses disponíveis no acervo digital da Biblioteca Nacional da França (Gallica). . Elas aconteceram dentro de seu Instituto e em outros espaços privados, como o salão de festas do jornal Le Figaro, e em espaços públicos abertos. Segundo Bloomfield (2005)Bloomfield, A. (2005). Martina Bergman-Osterberg (1849–1915): creating a professional role for women in physical training. History of Education, 34(5) 517-534., Martina Osterberg do mesmo modo valeu-se dessa estratégia. A autora relata uma exibição realizada por ela na Exposição de Higiene de South Kensington em 1882. As exibições de ambos os sujeitos contaram com a participação de membros dos governos dos respectivos países. Estabelecer contato com autoridades governamentais e com outras vinculadas à escola e ao campo médico, entre outros espaços, figurou como estratégia para ambos.

Além das exibições, identificamos a participação desses sujeitos em congressos internacionais de educação física – eventos que aconteceram com certa regularidade entre fins do século XIX e início do século XX na Europa (Park, 2008Park, R. J. (2008). Sharing, arguing, and seeking recognition: International congresses, meetings, and physical education, 1867-1915. The International Journal of The History of Sport, 25(5) 519-548.). Martina Osterberg, por exemplo, participou de duas edições do Congresso Internacional de Educação Física realizadas em Paris nos anos de 1900 e 1913. Nesse período, Ludvig Kumlien já morava na capital francesa, mas não localizarmos fontes que nos permitissem afirmar sobre a sua participação nos eventos. Bonifácio (2019)Bonifácio, I. M. A. (2019). Itinerários de Ludvig Gideon Kumlien e a (re)produção da ginástica sueca (1895-1921). [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais. afirma que Kumlien teceu uma crítica acerca da discussão ocorrida no congresso de 1913, o que pode ser um indício de sua participação. Martina Osterberg participou ainda do Congresso Internacional das Mulheres em 1899, onde falou sobre o papel das mulheres como educadoras físicas (Bloomfield, 2005Bloomfield, A. (2005). Martina Bergman-Osterberg (1849–1915): creating a professional role for women in physical training. History of Education, 34(5) 517-534.).

Com isso, podemos perceber que esses sujeitos tomaram o ensino e a prática da ginástica sueca como uma profissão, e se empenharam na sua divulgação, como um compromisso. A ação comum a todos por onde passaram, de fundação de um Instituto – lugar que se configura tanto como um espaço de prática, como também de formação de novos professores – é reveladora desse compromisso. Fundar um Instituto em outro território era, inclusive, simbólico, do ponto de vista de instituir um local destinado à prática e, em alguma medida, inspirado no GCI. Nesses espaços, faziam referência ao Instituto, a Ling e a todos os princípios amplamente vinculados à ginástica – racionalidade, cientificidade, cuidado com os excessos, a necessidade de se ter uma formação para poder ensinar a ginástica, entre outros.

Ao realizarem diversas intervenções – exibições, ofertas de aulas, fundação de institutos, entre outros – era comum contar com a presença de um representante do GCI ou, de outra forma, eram eles mesmos quem representavam o Instituto de Estocolmo.

Diante disso, havia uma espécie modus operandi entre os formados e as formadas no GCI, ao empreenderem ações de ensino e divulgação da ginástica sueca. Seriam estes modos ensinados na formação ofertada pelo GCI? Ou seriam os modos disponíveis na época que foram mobilizados por eles? Apesar de ainda não termos elementos para responder a tais questões, acenamos para uma formação acentuadamente direcionada para divulgar esse método de ginástica.

Embora os (as) médicos(as)-ginastas, ao divulgar a ginástica sueca, estivessem convencidos da necessidade de espraiá-la pelo mundo e tenham assumido essa responsabilidade, outros elementos também podem ter sido motivadores para que empreendessem tal ação. Mesmo que os alunos do Instituto tenham tomado para si a missão de divulgar a ginástica que aprenderam, a rentabilidade dessa atuação possibilitava exercer essa profissão em diferentes lugares do mundo, tendo em vista que mudar para outros países exigia um certo investimento financeiro, como nos explicam Bolling e Yttergren (2015)Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455.:

Inicialmente, foi, sobretudo, a ginástica médica que despertou o interesse das pessoas e deu ao graduado da GCI a oportunidade de ganhar a vida tanto na Suécia como no exterior. Institutos de fisioterapia de vários tipos foram criados em cidades e balneários e spas. Uma razão importante para muitas pessoas se dedicarem à fisioterapia era financeira. Fisioterapia poderia ser um negócio lucrativo.

(p. 1440, tradução nossa)17 17 It was initially above all medical gymnastics that aroused people’s interest and gave the RCIG graduate the opportunity to make a living both in Sweden and abroad. Physiotherapy institutes of various kinds were set up in towns and in seaside resorts and spas. An important reason for many people devoting themselves to physiotherapy was financial. Physiotherapy could be profitable business.

Bolling e Yttergren (2015)Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455. mostram como grande parte das alunas formadas no GCI mudaram-se para outros países. Lydie Bergroth é um exemplo disso. Depois de formada, retornou para a Finlândia, mas pouco depois mudou-se para Paris, onde atuou com a ginástica médica em balneários e spas, e morou por 39 anos. Lá, em 1937, foi premiada com a Legião Francesa de Honra por seu trabalho como fisioterapeuta (Bolling & Yttergren, 2015Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455.). Ainda segundo os autores, ao menos 146 mulheres, entre 1893 e 1911, após se formarem no GCI, mudaram-se para diferentes países do mundo.

Além do fator financeiro, os poucos obstáculos formais para a realização do trânsito entre os países também podem ter sido fatores, se não de motivação, ao menos de facilitação. No século XIX, o aperfeiçoamento das comunicações pelo trem e pelo vapor possibilitou maior e mais livre trânsito entre as pessoas de diferentes territórios. Em 1860, por exemplo, a obrigatoriedade dos viajantes suecos e de outros países a portar um passaporte foi removida (Bolling & Yttergren, 2015Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455.).

Com isso, indiciamos sobre outras motivações que podem ter influenciado o trânsito realizado por esses diferentes sujeitos, ainda que convencidos do traço “missionário” presente no GCI. Essa aposta no trânsito dos sujeitos (não apenas os suecos, mas também os estrangeiros) viabilizou a circulação da ginástica sueca por diferentes partes do mundo. Apesar de citarmos aqui somente sujeitos que transitaram em continente europeu, não significa que essa circulação tenha ficado restrita a esse território18 18 Bolling e Yttergren (2015) citam ao menos 20 países diferentes nos quais as médicas-ginastas atuaram. Moreno e Baía (2019) também dizem sobre essa circulação, sobretudo no Brasil, mas também em outras partes do mundo. .

Ademais, os(as) médicos(as)-ginastas nas suas diferentes ações de divulgação, direta ou indiretamente vinculados à intervenção social, se constituíram como sujeitos da comunicação de ideias e de produção de conhecimentos sobre a ginástica sueca nos espaços em que estavam inseridos. Em outras palavras, os(as) médicos(as)-ginastas eram uma espécie de intelectuais mediadores (Gomes & Hansen, 2016Gomes, A. M. C., & Hansen, P. S. (2016). Intelectuais, mediação cultural e projetos políticos: uma introdução para a delimitação do objeto de estudo. In A.M.C. Gomes, & P. S. Hansen (Orgs.), Intelectuais mediadores: práticas culturais e ação política (pp. 7-37). Civilização Brasileira.) do método sueco pelo mundo.

O intelectual que atua como mediador cultural produz, ele mesmo, novos significados, ao se apropriar de textos, ideias, saberes e conhecimentos, que são reconhecidos como preexistentes. (...), aquilo que o intelectual “mediou” torna-se, efetivamente, “um outro produto”: um bem cultural singular [ênfases no original].

(p. 18)

Explicar os sujeitos permite entender mudanças e transformações culturais e políticas dos objetos e, nesse caso, das ideias e das práticas sobre a ginástica sueca. Nesse sentido, Angela de Castro Gomes (1993)Gomes, A. C. (1993). Essa gente do Rio... os intelectuais cariocas e o modernismo. Estudos Históricos, 6(11), 62-77., inspirada em Jacques Julliard, aponta que as ideias não circulam, elas mesmas, pelas ruas, mas são portadas por sujeitos e/ou grupos sociais.

Portanto, assinalamos o desejo de que outros estudos nesse sentido sejam realizados, dedicando-se aos aspectos formativos do GCI ou até mesmo a outras trajetórias que sejam reveladoras desse processo, buscando, com isso, ampliar o conhecimento relacionado aos processos históricos da conformação da Educação Física no Brasil e no mundo.

Trânsitos: o ponto de partida e os primeiros contatos de Ludvig Kumlien com a ginástica

Ludvig Gideon Kumlien (1874-1934) era sueco, natural de Eskilstuna, e terceiro filho dentre os sete tidos por Georg Viktor (1831-1902) e Anna Gustava Alfrida Mellin (1846-1924) (Kumlien, 1983Kumlien, W. C. (1983). The Kumlien Family Directory.). Seu pai foi contador em uma empresa de fabricação de armas e rifles em Eskilstuna, local no qual, desde fins do século XVIII, se concentrava o processamento de ferro e aço na produção de fechaduras, facas, tesouras, espadas, entre outros utensílios. Mais tarde, a partir da fabricação de armas, mas, sobretudo, de armas de fogo de percussão, desenvolveu-se, ao longo do século XIX, uma cidade industrial que contou, pouco a pouco, com a presença de outras fábricas, maior especialização, divisão de trabalho e grande investimento dos fabricantes em maquinários19 19 Todas as informações sobre a história de Eskilstuna foram retirados do site da cidade: https://www.eskilstuna.se/uppleva-och-gora/bibliotek-arkiv-och-lokalhistoria/lokalhistoria---eskilskallan/sok-i-arkiv/eskilstunas-historia/fristaden-och-eskilstunas-utveckling-till-en-industristad.html. Todos esses escritos são baseados em fontes mobilizadas por eles. .

Ao mesmo tempo, diferentes movimentos – popular, operário, reavivamento – tiveram início; além deles, também a vida associativa, tendo surgindo em fins do século XIX as primeiras associações de ginástica e outras práticas. Nesse momento inicial, a ginástica protagonizou certo pioneirismo, mas aos poucos dividiu espaço com outras práticas, sendo seus primeiros atletas oriundos da “classe média” (Carlberg, 2017Carlberg, T. (2017). Idrottsrörelse med folklig förankring. <https://www.eskilstuna.se/uppleva-och-gora/bibliotek-arkiv-och-lokalhistoria/lokalhistoria---eskilskallan/sok-i-arkiv/historiska-artiklar/idrott/idrottsrorelse-med-folklig-forankring.html>
https://www.eskilstuna.se/uppleva-och-go...
). Além dos espaços associativos, Posse (1891)Posse, N. F. (1891). How gymnastics are taught in Sweden: the chief cha-racteristics of the Swedish system of gymnastics: two papers. T.R. Marvin & Son. http://libcdm1.uncg.edu/cdm/compoundobject/collection/PEPamp/id/7236/rec/1
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afirma que tanto na faculdade como nas escolas, a prática da ginástica era obrigatória.

A quinta irmã de L. G. Kumlien, Anna Svea Augusta Kumlien (1879-1970), aparece no livro da família tendo como profissão gymnast, termo que pode ser traduzido como ginasta ou atleta de ginástica (Kumlien, 1983Kumlien, W. C. (1983). The Kumlien Family Directory.). Essa informação aponta tanto a participação, ou o acesso da família como um todo a esses espaços associativos, quanto um determinado envolvimento e/ou investimento da família e de Anna Kumlien com essa prática corporal.

Com isso, acreditamos que esse núcleo da família Kumlien possa ter tido uma aproximação com a prática da ginástica devido à sua condição social e econômica que permitia a eles, ao menos, o acesso a esses espaços. Esse possível contato com a ginástica, nas escolas e nos espaços associativos, pode ter sido importante para motivar, inspirar e influenciar Anna Kumlien a se tornar ginasta e Ludvig Gideon Kumlien a se tornar médico-ginasta.

Formar-se como médico-ginasta exigiu que L. G. Kumlien traçasse o seu primeiro itinerário e mudasse de Eskilstuna para Estocolmo, local no qual era ofertada a referida formação. Para aqueles interessados em ingressar no Instituto, Hans Bolling e Leif Yttergren (2015)Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455. afirmam que era exigido a aprovação em exames comprobatórios do domínio de determinados conhecimentos, tais quais: cristianismo, história, geografia, aritmética, francês, alemão, inglês e ciências. Posse (1891)Posse, N. F. (1891). How gymnastics are taught in Sweden: the chief cha-racteristics of the Swedish system of gymnastics: two papers. T.R. Marvin & Son. http://libcdm1.uncg.edu/cdm/compoundobject/collection/PEPamp/id/7236/rec/1
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dizia que, além dos exames, ainda havia a possibilidade de se apresentar um “certificado de maturidade” expedido pelos colégios/ginásios20 20 Hans Bolling e Leif Yttergren (2015) não dizem sobre a possibilidade de ingressar no Instituto com um certificado de maturidade. .

O grau conferido aos alunos pelo Instituto de Estocolmo era o gymnastik-direktor, mestre de gymnastica ou mais comum, sjukgymnast ou medico gymnasta. Eles dedicavam-se à teoria completa da ginástica, à anatomia (com dissecação), à fisiologia, à higiene, à cinesiologia, à patologia, entre outros (Posse, 1891Posse, N. F. (1891). How gymnastics are taught in Sweden: the chief cha-racteristics of the Swedish system of gymnastics: two papers. T.R. Marvin & Son. http://libcdm1.uncg.edu/cdm/compoundobject/collection/PEPamp/id/7236/rec/1
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). Eram oferecidas três formações: ginástica militar (ao final do primeiro ano), ginástica pedagógica (ao final do segundo ano) e ginástica médica (ao final do terceiro ano)21 21 Essa estrutura de formação se alterou ao longo do tempo (reformas em 1864, 1887 e 1934). A formação que acreditamos ter sido percorrida por Kumlien foi definida em 1887, e separou a formação no Instituto em militar, pedagógica e médica. (Pereira, s/d., p. 508). . Aos homens era resguardado o direito de cursar apenas uma das formações, ou de trancar o curso ao longo dos três anos; por outro lado, para as mulheres, eram ofertados somente dois anos de curso que não incluía a ginástica militar, e eram direcionadas a se formarem em dois anos sem interrupções. Em todas as formações, era exigido que os alunos realizassem uma espécie de estágio disponibilizado nas dependências do Instituto (Bolling & Yttergren, 2015Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455.; Posse, 1891Posse, N. F. (1891). How gymnastics are taught in Sweden: the chief cha-racteristics of the Swedish system of gymnastics: two papers. T.R. Marvin & Son. http://libcdm1.uncg.edu/cdm/compoundobject/collection/PEPamp/id/7236/rec/1
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).

Posse (1891)Posse, N. F. (1891). How gymnastics are taught in Sweden: the chief cha-racteristics of the Swedish system of gymnastics: two papers. T.R. Marvin & Son. http://libcdm1.uncg.edu/cdm/compoundobject/collection/PEPamp/id/7236/rec/1
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indica que, na Suécia, a atuação com a ginástica, seja nas escolas seja nos institutos, era restrita aos sujeitos formandos no GCI, e que possíveis exercícios irregulares eram fiscalizados. A única exceção, ainda segundo ele, era para as escolas livres do interior que não tinham condições de pagar pelo professor de ginástica. A elas eram fornecidos seminários com curso básico de ginástica para que os professores a aplicassem “de maneira inteligente”; contudo, não eram considerados professores de ginástica., Posse (1891)Posse, N. F. (1891). How gymnastics are taught in Sweden: the chief cha-racteristics of the Swedish system of gymnastics: two papers. T.R. Marvin & Son. http://libcdm1.uncg.edu/cdm/compoundobject/collection/PEPamp/id/7236/rec/1
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ainda afirma que os médicos, mesmo formados, deveriam procurar o Instituto de Estocolmo, caso tivessem interesse em ensinar ginástica ou fazer massagem como especialidade. Não era exigido passar por todo o percurso formativo indicado anteriormente, mas minimamente pelo curso da ginástica médica.

Assim, formado como médico-ginasta, Ludvig Kumlien mudou-se em 1895 para Paris, na França, e por lá realizou diferentes movimentos de divulgação da ginástica sueca. Provavelmente uma primeira motivação dessa mudança tenha sido conferir à visita de Hugues Le Roux à Suécia, em 1893, um “resultado prático”. Nessa viagem, Le Roux conheceu Ludvig Kumlien e, convencido dos benefícios promovidos pela ginástica de Ling, identificou em Ludvig o “obreiro” da missão que o Rei Oscar II deu a ele no momento de sua partida: “É preciso que sua tarefa tenha um resultado prático” (Roux, 1901Roux, H. (1901). Avant-Propos. In L. G. Kumlien, & E. André, E. La gymnastique suédoise: Manuel de la gymnastique rationelle a la portée de tous et à tout âge (pp. 5-13). Flammarion.). Dois anos mais tarde, em 1895, Kumlien mudou-se para Paris.

No momento da visita de Le Roux à Suécia, Ludvig Kumlien tinha 19 anos; era, provavelmente, recém-ingresso no GCI e, tendo sido admitido, algum conhecimento de francês ele dispunha. Só há registros de seu casamento datados em 1902, quando já estava na França, aos 23 anos, com a também professora de ginástica Gunhild Elisabeth Follin (1878-1968) (Kumlien, 1983Kumlien, W. C. (1983). The Kumlien Family Directory.). A mudança, somente dois anos após a visita de Le Roux, pode ter sido em função do tempo necessário para concluir sua formação no Instituto de Estocolmo. Ser jovem, solteiro e aluno do Instituto podem ter sido características que contribuíram para que ele fosse visto por Le Roux como um potencial “obreiro” de sua missão.

Todavia, ainda restam dúvidas de que a mudança de Kumlien para Paris tenha sido apenas resultado da visita de Le Roux à Suécia que, convencido dos seus benefícios, quis levar um sujeito para divulgá-la em território francês. Essa narrativa parece-nos, inclusive, muito conveniente de estar presente no prefácio de uma de suas obras, tendo em vista que um dos objetivos desse impresso era convencer o leitor a praticar as lições de ginástica sueca contidas nele. Para tanto, constrói o argumento de que o autor do manual, seguro da eficácia da prática que divulga, decide sair em missão de seu próprio país para levar tão eficaz ginástica a outros territórios.

Com isso, não estamos desconsiderando que o contato entre os dois sujeitos tenha tido uma influência importante na mudança de Ludvig Kumlien para Paris, seja para despertar para essa ideia, seja para acionar esse gatilho. Mas quais outros fatores podem ter contribuído para tal?

De acordo com Bonifácio (2019)Bonifácio, I. M. A. (2019). Itinerários de Ludvig Gideon Kumlien e a (re)produção da ginástica sueca (1895-1921). [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais., a existência de familiares de Kumlien na França pode ter influenciado também essa mudança, sendo eles um apoio importante para tal. Além dos familiares, Bonifácio (2019)Bonifácio, I. M. A. (2019). Itinerários de Ludvig Gideon Kumlien e a (re)produção da ginástica sueca (1895-1921). [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais. aponta ainda os próprios interesses do GCI em que a ginástica sueca circulasse na França. Um sintoma disso foi a viagem de Hugues Le Roux como resultado do convite feito, por parte do Instituto de Estocolmo, ao governo francês para que conhecessem o GCI e sua ginástica.

Enfim, diferentes foram os fatores que motivaram a mudança de Ludvig Kumlien. Além dos que influenciaram os demais médicos-ginastas (rentabilidade da atuação, facilidade dos trânsitos), estavam em jogo interesses pessoais (de ordem financeira, profissional e pessoal), assim como os próprios interesses do GCI em fazer com que sua ginástica circulasse e fosse praticada em diferentes países.

As mediações de Ludvig Kumlien

Em território francês, identificamos, ao longo das nossas buscas, três iniciativas principais de divulgação da ginástica sueca realizadas por Ludvig Kumlien; são elas: as exibições de ginástica, a escrita de manuais, e o ensino da ginástica em instituições (fundação do seu próprio Instituto de ginástica e ter assumido como professor de ginástica em uma escola). Todos eles foram noticiados e/ou anunciados em jornais franceses.

Ao desembarcar em Paris, Ludvig G. Kumlien deparou-se com um intenso debate sobre os modos que a educação física francesa deveria acontecer. Nele envolveram-se muitas instituições e sujeitos, franceses e estrangeiros, munidos das sistematizações que acreditavam ser as mais adequadas e que se pretendiam oficiais. O governo francês, buscando solucionar a discussão, principalmente por meio dos Ministérios da Instrução Pública e da Guerra, propôs diversas comissões que realizaram movimentos, desde a elaboração de relatórios, até o envio de sujeitos em missão para outros países (Andrieu, 1999Andrieu, G. (1999). La Gymnastique au XIX Siècle ou a naissance de l’education physique (1789-1914). Editions Actio.; Pereira, s/d; Sarremejane, 2006Sarremejane, P. (2006). L’héritage de la méthode suédoise d’éducation physique en France : les conflits de méthode au sein de l’Ecole normale de gymnastique et d’escrime de Joinville au début du XXème siècle. Paedagogica Historica, 42(6) 817-837.). Além disso, sediou numerosos congressos internacionais, e parte deles compreendeu o debate da educação física (Park, 2008Park, R. J. (2008). Sharing, arguing, and seeking recognition: International congresses, meetings, and physical education, 1867-1915. The International Journal of The History of Sport, 25(5) 519-548.).

Para se inserir na discussão em defesa da ginástica sueca, L. G. Kumlien realizou diferentes ações para divulgá-la, tendo Hugues Le Roux como seu principal parceiro. Ambos formaram, pouco a pouco, uma importante rede de parcerias, composta por médicos, pessoas envolvidas com esportes, cientistas, editores, jornalistas, políticos, membros da École de Joinville22 22 Fundada em 1852, a École de Gymnastique de Joinville Le Pont tinha como objetivo formar monitores capazes de ensinar a ginástica militar. Em 1872, acrescentou-se o termo “normal” ao nome, o que significou que sua formação então passou a ter como objetivo formar instrutores de ginástica e não apenas preparar soldados. Outra alteração nesse mesmo foi a inserção da Esgrima, para além do ensino da ginástica (Lanoux, 2015). , entre outros (Bonifácio, 2019Bonifácio, I. M. A. (2019). Itinerários de Ludvig Gideon Kumlien e a (re)produção da ginástica sueca (1895-1921). [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais.), com o objetivo de divulgar e defender a ginástica sueca. Com cada um deles, Kumlien e Le Roux estabeleceram um certo grau de parceria. O médico Dr. Michaux, por exemplo, esteve envolvido em exibições, assim como o jornalista Emile André que, além disso, escreveu sobre Kumlien em jornais. Do mesmo modo, o jornalista Rauol Fabens e o editor Per Lamm relacionaram-se com eles para a escrita dos manuais. Em sua maioria, estabeleceram parceria com jornalistas (mas não apenas eles), os quais possibilitaram a ampla presença de Kumlien nesses impressos. Nesse momento, a imprensa francesa vivia uma grande expansão, e sua circulação era tamanha que ultrapassava, inclusive, suas próprias fronteiras (Mollier, 2008Mollier, J. (2008). O surgimento da cultura midiática na Belle Époque: a instalação de estruturas de divulgação de massa. In J. Mollier. A leitura e seu público no mundo contemporâneo: ensaios sobre História Cultural (pp. 175-195). Autêntica.).

Essa rede de parceiros estabelecida por Kumlien permitiu que traçasse e executasse diferentes estratégias nessa iniciativa de divulgação. Assim que chegou em Paris, suas ações estavam mais preocupadas em se apresentar e mostrar sua ginástica para os diferentes sujeitos envolvidos com a educação física francesa. Portanto, acreditamos terem sido as exibições a sua principal aposta (Baía et al., 2019Baía, A. C., Bonifácio, I. M. A., & Moreno, A. (2019). Tratado pratico de gymnastica sueca de L. G. Kumlien: itinerários de um manual no Brasil (1895-1933). Revista Brasileira de História da Educação, 1(19), 1-23.). Ainda que tenham sido a aposta inicial, localizamos registros das exibições de ginástica em jornais franceses ainda até aproximadamente 1904, sendo que essa última conquistou certo destaque na imprensa haja visto a “audiência de elite” presente no evento (Figura 1).

Figura 1
Reportagem sobre L. G. Kumlien na Armée et marine: revue hebdomadaire illustrée des armées de terre et de mer

Entre outros jornais, tal exibição foi noticiada na Armée et marine: revue hebdomadaire illustrée des armées de terre et de mer, um semanário que publicava conteúdos do interesse do exército e da marinha francesa23 23 A revista Armée et marine: revue hebdomadaire illustrée des armées de terre et de mer foi criada por Julles-Marie-Armand (1834-192), conhecido como Julles de Cuverville, um oficial da marinha francesa. Ele fundou a revista em 1899, momento em que se tornou chefe do Estado Maior da Marinha francesa e, em 1901, tornou-se senador. Sobre a revista, não temos mais informações além de que era uma revista semanal ilustrada, destinada ao exército e à marinha francesa. . Nessa publicação, chamou-nos a atenção não apenas o tamanho da reportagem, mas também o da foto do Ludvig Kumlien. Acreditamos que isso pode sinalizar o possível diálogo estabelecido entre Kumlien e os sujeitos envolvidos com a marinha e exército no tocante à ginástica e à importância da exibição realizada naquela oportunidade.

Essa exibição aconteceu no salão de festas do jornal francês Le Figaro e reuniu sujeitos importantes – do esporte, da medicina e do exército –, envolvidos no debate da educação física francesa (Manoury, 1904Manoury, P. (1904, abr. 18). La Gymnastique Suédoise au “Figaro”. Armée et Marine: revue hebdomadaire illustrée des armées de terre et de mer.). Destacamos, ainda, a participação de correspondentes de jornais suecos, o Cônsul Geral da Suécia e Noruega, do inspetor de educação física das escolas da cidade de Paris, do diretor da École de Joinville Le Pont, entre outros; assim como de seus parceiros na divulgação da ginástica sueca: Dr. Michaux, Hugues Le Roux, Emile André. Além disso, a exposição foi aberta pelo Professor Poirer, da Faculdade de Medicina de Paris.

Ainda no sentido de alcançar os diferentes sujeitos, o Instituto, fundado quatro anos após a sua chegada, ofertou as diferentes práticas da ginástica sueca, não apenas aquela vinculada à escola, mas atendendo também aos interessados em ginástica médica, e sem restrições de público (Bonifácio, 2019Bonifácio, I. M. A. (2019). Itinerários de Ludvig Gideon Kumlien e a (re)produção da ginástica sueca (1895-1921). [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais.). Ambas as estratégias se apresentaram como uma espécie de cartão de visita, tanto de Kumlien quanto da ginástica que pretendia divulgar. Essas ações foram, aos poucos, viabilizando sua entrada em diferentes espaços.

Um exemplo disso é uma publicação de G. de Lafreté no La vie au grand air, em 19 de novembro de 1899 (Figura 2), que teve sua continuação publicada em 28 de janeiro de 190024 24 La Vie au grand air foi uma revista ilustrada de atualidades esportivas, comandada por Pierre Lafitte (1872-1938). Criada em 1898 com frequência bimensal, passou a ser semanal em 1899, tendo novas publicações aos sábados. As imagens, as fotografias ou as composições foram a principal aposta desse impresso, que tinha cerca de 70% de suas edições ilustradas; ou seja, das 16 páginas, de 10 a 14 eram ilustradas (Gervais, 2007). . Ambas contam com diferentes imagens do que acreditamos ser o GCI. Na reportagem, o autor relata que o seu primeiro contato com a ginástica sueca foi no Instituto de Kumlien, e que ficou surpreso com tamanha diferença entre esta e a ginástica francesa. Lafreté (1899)Lafreté, G. (1899, nov. 19). La gymnastique suédoise. La Vie au grand air. relata sobre a estrutura do Instituto de Kumlien, o seu convencimento pela ginástica sueca e tece uma defesa sobre ela. Assim como ele, o Coronel Dérué25 25 Tenente-Coronel François Jules Dérué era envolvido com a prática da esgrima e a publicação de obras sobre a ginástica, o exército e a esgrima. E atuou como Inspetor de educação física nas escolas da cidade de Paris. , Hugues Le Roux, e Phillipe Tissié26 26 Philippe Tissié (1852-1935) era médico e aprofundou seus estudos na ginástica sueca, tornando-se um de seus defensores em território francês. (Bazoge et al., 2011; Soares,1998, p. 134). da mesma maneira se convenceram da eficiência da ginástica de Ling.

Figura 2
Reportagem sobre L. G. Kumlien no La Vie au grand air

Na continuação dessa publicação, Lafreté (1900)Lafreté, G. (1900, fev. 22). Le sport et la femme. La Presse. destaca a organização do Instituto criado por Kumlien e a possibilidade de mulheres e crianças praticarem ginástica sueca no referido local. Além dessa publicação, os anúncios e as reportagens localizados nos jornais franceses foram reveladores dos diferentes públicos, contemplados com as atividades oferecidas e, ao que parece, Kumlien conquistou uma significativa clientela, tendo em vista o funcionamento de duas unidades do Instituto desde 1900, ano seguinte à sua fundação.

Após um determinado momento, os manuais passaram a ser uma estratégia mobilizada, dado que esses impressos conquistaram um lugar importante nas escolas francesas. Em alguma medida, as obras publicadas por Kumlien foram também sintomáticas dos rumos tomados pelo debate acerca da educação física francesa. No momento em que a ginástica sueca conquistou relativo prestígio, o manual publicado teve-a como título La Gymnatisque Suédoise em 1901. Posteriormente, quando se percebe uma certa resistência com relação a uma proposta estrangeira, o foco é dado ao fato de se tratar de um modelo ginástico que poderia ser executado por todos. Assim, o manual foi nomeado como: La Gymnastique Pour Tous (1906). Por fim, quando outras sistematizações de práticas corporais também conquistam espaço, Kumlien propôs defender uma educação física que contemplasse não apenas a ginástica, nomeando seu manual como Cour Complet d’Éducation Physique (1909).

Diante disso, as ações de divulgação da ginástica sueca realizadas por Ludvig Kumlien possibilitaram-lhe atuar como um intelectual mediador. Isto é, ao olharmos para os diferentes movimentos de divulgação da ginástica empreendidos por ele, compreendemos que, ao mesmo tempo em que ele comunicou essas ideias, também as produziu no contato com uma nova cultura e novos espaços. Dado o alcance de suas intervenções, cabe afirmar que Ludvig Kumlien conquistou uma centralidade importante na circulação da ginástica sueca na França e em outros países.

Além disso, ter tecido essa rede de contatos permitiu a Kumlien inserir-se, além de nos jornais, em diferentes espaços, como nos Ministérios franceses, nas editoras, em Joinville, entre outros, e conquistar um certo reconhecimento social, tendo em vista os prêmios que ele e/ou suas obras receberam, ou ainda as referências, nos jornais, feitas a ele, como um professor conhecido (Bonifácio, 2019Bonifácio, I. M. A. (2019). Itinerários de Ludvig Gideon Kumlien e a (re)produção da ginástica sueca (1895-1921). [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais.). Propiciou, do mesmo modo, a circulação de sua ginástica, por meio de suas exibições, de suas aulas e dos manuais.

A escrita de manuais, por sua vez, apresentou-se como uma estratégia central para a ampla circulação de Kumlien (Baía et al., 2019Baía, A. C., Bonifácio, I. M. A., & Moreno, A. (2019). Tratado pratico de gymnastica sueca de L. G. Kumlien: itinerários de um manual no Brasil (1895-1933). Revista Brasileira de História da Educação, 1(19), 1-23.), haja vista o contexto francês de expansão significativa na produção dos manuais escolares, utilizados obrigatoriamente pela população francesa em período de instrução desde 1890 (Mollier, 2008Mollier, J. (2008). O surgimento da cultura midiática na Belle Époque: a instalação de estruturas de divulgação de massa. In J. Mollier. A leitura e seu público no mundo contemporâneo: ensaios sobre História Cultural (pp. 175-195). Autêntica.). Os manuais publicados por Ludvig Kumlien e seus parceiros foram traduzidos para outros idiomas – espanhol, português, italiano – e publicados em outros países – Espanha, Argentina, Brasil, Portugal, Itália. Isso fez com que um número maior de pessoas conseguisse ler jornais, livros e manuais, impressos que foram as apostas de Kumlien.

Assim, o território francês se apresentou como um terreno fértil para as iniciativas de divulgação realizados por Ludvig Kumlien, abrindo as portas para que as ações empreendidas na França circulassem em diferentes territórios e idiomas. Do mesmo modo, as parcerias estabelecidas – com jornalistas, autores de manuais, políticos, entre outros – foram centrais na circulação de suas ideias, notoriedade nos espaços sociais e na realização de suas ações; ou seja, nas suas diferentes mediações.

Em suma, Kumlien dedicou boa parte de sua vida ao ensino e à divulgação do método sueco de ginástica e, para tanto, empreendeu diferentes ações para alcançar seus objetivos, desde a tessitura de uma rede de companheiros até a diversificação de ações, tencionando atingir os diferentes públicos e driblar as possíveis resistências. Com isso, acreditamos que, as suas estratégias de divulgação nasceram, ao se deparar com um terreno em disputa – como a Paris encontrada por ele –, ainda que tivesse grande inspiração em sua formação no GCI.

Considerações finais

Tivemos como objetivo analisar as estratégias de divulgação empreendidas por Ludvig Kumlien na França entre os anos de 1895 e 1921. Ter sido aluno do GCI inseriu Ludvig Kumlien no movimento realizado pelo Instituto de Estocolmo de divulgar a sua ginástica expressivamente através do trânsito de sujeitos. Ainda que tivesse um traço “missionário”, a formação ofertada pelo GCI possibilitava atuações rentáveis a seus alunos na Suécia e em outros países, e algumas ações da coroa facilitaram o trânsito extraterritorial desses sujeitos.

Além disso, mesmo depois de formados e residentes em outros territórios, o Instituto mantinha contato com seus alunos, e as iniciativas realizadas por eles, em outros lugares, apresentaram similaridades com as promovidas por Ludvig, o que aponta se tratar de modus operandi comum entre eles. Apesar de haver um “traço missionário” na formação promovida pelo GCI, os trânsitos desses sujeitos, de modo geral, e o trânsito de Kumlien, de modo mais específico, tenham sido motivados por diferentes interesses: pessoais, do Instituto, profissionais, entre outros.

Ao desembarcar em terras francesas, Kumlien realizou três ações principais: exibições de ginástica, atividades de ensino da ginástica e a publicação de manuais. Tecer uma rede de contato, com sujeitos pertencentes a diferentes grupos envolvidos no debate da educação física francesa, configurou-se como uma estratégia importante para a inserção de Kumlien em diferentes espaços, de modo que ele e uma de suas obras receberam reconhecimentos oficiais. Outra estratégia traçada por esse grupo foi a publicação de reportagens, anúncios e notas de presença em jornais franceses, destinados aos mais diferentes públicos e com significativa circulação em território francês.

Concluímos que Kumlien, no encontro com uma nova cultura, traçou estratégias para driblar as resistências, todavia não abandonou o modus operandi dos sujeitos formados no GCI. Portanto, ao tratarmos sobre o papel dos intelectuais mediadores na circulação da ginástica sueca, mais especificamente o papel e as estratégias de Ludvig Kumlien, acreditamos estar diante de um processo que não foi homogêneo e uniforme, apesar de os sujeitos partirem de um mesmo espaço formativo, o GCI. Tratou-se, de outro modo, de uma circulação múltipla, diversa e que compreendeu as singularidades dos sujeitos e dos territórios nos quais estavam inseridos. Tais particularidades próprias de cada sujeito começaram desde as motivações individuais para atuarem como médicos-ginastas, até as diferentes ambiências encontradas em cada território.

Por fim, analisá-lo como um intelectual mediador possibilitou romper com a dicotomia da existência de sujeitos criadores/originais e sujeitos vulgarizadores/divulgadores, que, de certo modo, separa os processos culturais correlatos e hierarquiza os sujeitos neles envolvidos. Em outras palavras, significa olhar para a ginástica sueca como uma prática plural e diversa a depender de suas mediações e mediadores; e não como uma prática única e criada por um sujeito “extraordinário”.

  • 2
    Normalização, preparação e revisão textual: Vera Lúcia Fator Gouvêa Bonilha - verah.bonilha@gmail.com
  • 3
    Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (APQ-02013-18), Revisão e Tradução financiados com recurso ProEx/Capes, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
  • 4
    Tradução para o inglês: Viviane Ramos - vivianeramos@gmail.com
  • 5
    Gens de culture intellectuelle profonde, d'éducation excellente qui professent leur art avec une espèce de fanatisme, qui se considèrent comme des apôtres, en possession d'une vérité certaine, pour le triomphe de laquelle ils sont disposés à subir toutes les tribulations.
  • 6
    Desde fins do século XVIII, na Europa, diferentes propostas de se educar o corpo foram elaboradas e, em sua maioria, foram chamadas de ginástica – dentre elas a ginástica sueca e a francesa (Soares, 1998Soares, C. L. (1998). Imagens da educação no corpo. Autores Associados.). Seus nomes vinculados aos territórios nos quais foram produzidas revelam o contexto de suas proposições, marcado pelos nacionalismos, pelos conflitos territoriais e seus objetivos formativos, que não eram restritos aos civis, mas estendiam-se aos soldados capazes de lutar em defesa de suas nações (Andrieu, 1999Andrieu, G. (1999). La Gymnastique au XIX Siècle ou a naissance de l’education physique (1789-1914). Editions Actio.). Esse corpo deveria ser educado a partir de uma perspectiva científica e, portanto, foram negados elementos vinculados ao prazer e ao divertimento (Cabral, 2016Cabral, P. L. C. (2016). A aliança dos contrários: A ginástica protagonizada no circo (Brasil, 1840-1880). [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais.). Ao longo do tempo, as diferentes sistematizações travaram disputas na tentativa de eleger qual seria a mais adequada na formação dos corpos.
  • 7
    une enquête sur la gymnastique de Ling, et sur les admirables résultats que cette méthode a produits au double point de vue de la régénération physique et de la culture morale de la race.
  • 8
    Viagem essa que teria sido resultado de um convite feito pelo Rei da Suécia e Noruega, Oscar II, aos Ministros de negócios estrangeiros e de instrução pública da França. Esses destinaram a Le Roux a missão de ir a Suécia conhecer a ginástica de Ling e atestar os resultados do método (Roux, 1901Roux, H. (1901). Avant-Propos. In L. G. Kumlien, & E. André, E. La gymnastique suédoise: Manuel de la gymnastique rationelle a la portée de tous et à tout âge (pp. 5-13). Flammarion.).
  • 9
    Na França, Ludvig Kumlien publicou os manuais: La Gymnastique Suédoise (1901), La Gymnastique pour tous (1906) e Cour Complet d’éducation physique (1909).
  • 10
    Esse termo aparece nas fontes, contudo não era usado referindo-se à educação física tal qual conhecemos hoje, mas como educação do corpo, educação do físico.
  • 11
    Realizamos uma busca na Gallica com o termo “Kumlien” e “Kunliem” que resultou em 142 pastas (104 de jornais ou revistas; 38 de livros). Cada uma delas continha um certo número de arquivos que variaram significativamente. Todos eles foram lidos a fim de identificar se se tratavam ou não de Ludvig Gideon Kumlien. De forma geral, localizamos jornais franceses que noticiavam as ações de Kumlien em Paris, menções de sua presença em eventos, bem como matérias que falavam sobre ele – suas ações no seu Instituto, atuação como professor, entre outros. Além disso, localizamos diferentes livros que, em sua maioria, utilizavam os manuais de Kumlien como referência ou continham anúncios da publicação dos manuais de Kumlien. Estes, por sua vez, também foram encontrados nesse acervo.
  • 12
    Ao todo, localizamos 13 manuais nos diferentes acervos. Trata-se, em geral, das publicações em francês de Ludvig Kumlien nos anos de 1901, 1906 e 1909, e suas respectivas edições e/ou traduções para o espanhol e para o português. Embora não tenhamos citado todas essas obras ao longo do texto, elas nos ajudaram a compreender as ações realizadas por Ludvig Kumlien no sentido de divulgar a ginástica sueca.
  • 13
    O livro The Kumlien Family (1983) foi escrito por Wendell Clarke Kumlien, filho do primo paterno de Ludvig Gideon Kumlien, e faz a genealogia da família Kumlien. O impresso está disponível na Biblioteca Nacional da Suécia.
  • 14
    Deve-se levar em conta as especificidades temporais e locais que cada um dos sujeitos viveu.
  • 15
    A École des Roches foi um protótipo da Escola Nova na França e tinha como objetivo formar as elites francesas. Mais informação (Duval, 2006Duval, N. (2006). L’Ecole des Roches, phare français au sein de la nébuleuse de l’Education nouvelle (1899–1944). Paedagogica Historica, 42(1-2) 63-75.).
  • 16
    O primeiro registro localizado está no prefácio de seu manual La Gymnastique Suédoise e o último diz respeito a notícias em jornais franceses disponíveis no acervo digital da Biblioteca Nacional da França (Gallica).
  • 17
    It was initially above all medical gymnastics that aroused people’s interest and gave the RCIG graduate the opportunity to make a living both in Sweden and abroad. Physiotherapy institutes of various kinds were set up in towns and in seaside resorts and spas. An important reason for many people devoting themselves to physiotherapy was financial. Physiotherapy could be profitable business.
  • 18
    Bolling e Yttergren (2015)Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455. citam ao menos 20 países diferentes nos quais as médicas-ginastas atuaram. Moreno e Baía (2019)Baía, A. C., Bonifácio, I. M. A., & Moreno, A. (2019). Tratado pratico de gymnastica sueca de L. G. Kumlien: itinerários de um manual no Brasil (1895-1933). Revista Brasileira de História da Educação, 1(19), 1-23. também dizem sobre essa circulação, sobretudo no Brasil, mas também em outras partes do mundo.
  • 19
    Todas as informações sobre a história de Eskilstuna foram retirados do site da cidade: https://www.eskilstuna.se/uppleva-och-gora/bibliotek-arkiv-och-lokalhistoria/lokalhistoria---eskilskallan/sok-i-arkiv/eskilstunas-historia/fristaden-och-eskilstunas-utveckling-till-en-industristad.html. Todos esses escritos são baseados em fontes mobilizadas por eles.
  • 20
    Hans Bolling e Leif Yttergren (2015)Bolling, H., & Yttergren, L. (2015). Swedish gymnastics for export: a study of the professional careers and lives of swedish female gymnastic directors, 1893-1933. The International Journal of The History of Sport, 32(11-12), 1437-1455. não dizem sobre a possibilidade de ingressar no Instituto com um certificado de maturidade.
  • 21
    Essa estrutura de formação se alterou ao longo do tempo (reformas em 1864, 1887 e 1934). A formação que acreditamos ter sido percorrida por Kumlien foi definida em 1887, e separou a formação no Instituto em militar, pedagógica e médica. (Pereira, s/d.Pereira, C. M. F. (s/d). Tratado de Educação Física – Problema Pedagógico e Histórico (Vol. 1). Bertrand., p. 508).
  • 22
    Fundada em 1852, a École de Gymnastique de Joinville Le Pont tinha como objetivo formar monitores capazes de ensinar a ginástica militar. Em 1872, acrescentou-se o termo “normal” ao nome, o que significou que sua formação então passou a ter como objetivo formar instrutores de ginástica e não apenas preparar soldados. Outra alteração nesse mesmo foi a inserção da Esgrima, para além do ensino da ginástica (Lanoux, 2015Lanoux, R. C. (2015). A trajetória da escola de Joinville Le-Pont-França (1852-1939). [Trabalho de Conclusão de Curso]. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.).
  • 23
    A revista Armée et marine: revue hebdomadaire illustrée des armées de terre et de mer foi criada por Julles-Marie-Armand (1834-192), conhecido como Julles de Cuverville, um oficial da marinha francesa. Ele fundou a revista em 1899, momento em que se tornou chefe do Estado Maior da Marinha francesa e, em 1901, tornou-se senador. Sobre a revista, não temos mais informações além de que era uma revista semanal ilustrada, destinada ao exército e à marinha francesa.
  • 24
    La Vie au grand air foi uma revista ilustrada de atualidades esportivas, comandada por Pierre Lafitte (1872-1938). Criada em 1898 com frequência bimensal, passou a ser semanal em 1899, tendo novas publicações aos sábados. As imagens, as fotografias ou as composições foram a principal aposta desse impresso, que tinha cerca de 70% de suas edições ilustradas; ou seja, das 16 páginas, de 10 a 14 eram ilustradas (Gervais, 2007Gervais, T. (2007). L’invention du magazine: La photographie mise en page dans ”La Vie au grand air” (1898-1914). Études Photographiques, (20), p.50-67.).
  • 25
    Tenente-Coronel François Jules Dérué era envolvido com a prática da esgrima e a publicação de obras sobre a ginástica, o exército e a esgrima. E atuou como Inspetor de educação física nas escolas da cidade de Paris.
  • 26
    Philippe Tissié (1852-1935) era médico e aprofundou seus estudos na ginástica sueca, tornando-se um de seus defensores em território francês. (Bazoge et al., 2011Bazoge, N., Saint-Martin, J., & Attali, M. (2011). Promoting the Swedish method of physical education throughout France for the benefit of public health (1868-1954). Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 23(2), 232-243.; Soares,1998, p. 134).

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1
Editor responsável: André Luiz Paulilo. https://orcid.org/0000-0001-8112-8070

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    07 Ago 2020
  • Revisado
    18 Mar 2021
  • Aceito
    17 Maio 2021
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