Acessibilidade / Reportar erro

Uma história de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles: primeira edição, editora Giroflex, 1964 1 1 Editor responsável: Silvio Donizetti de Oliveira Gallo. https://orcid.org/0000-0003-2221-5160 2 2 Normalização, preparação e revisão textual: Leda Maria de Souza Freitas Farah leda.farah@terra.com.br

A history of Ou isto ou aquilo, by Cecília Meireles: first edition, Girolle book Publisher, 1964

Una historia de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles: primera edición, editorial Giroflé, 1964

Resumo

O objetivo do artigo é construir uma história da primeira edição de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, lançada pela editora Giroflé, em 1964, e indagar a respeito das condições de produção e circulação dessa edição bastante distinta das demais publicadas ao longo de 55 anos. Em uma pesquisa de natureza histórica, exploramos documentos inéditos, no esforço de construir uma história dessa edição à luz, principalmente, das contribuições oriundas de Roger Chartier. Ou isto ou aquilo (1964) é resultado do trabalho editorial inovador de uma equipe multidisciplinar de profissionais, sob a coordenação de Sidónio Muralha, e com ilustrações de Maria Bonomi. Um projeto coerente com as ideias defendidas por Cecília: oferecer uma educação literária e cultural de alta qualidade para as crianças.

Palavras-chave
Ou isto ou aquilo; Cecília Meireles; história do livro infantil; história da literatura

Abstract

The article’s objective is to build a history of Ou isto ou aquilo first edition, by Cecília Meireles, published by Giroflé book publisher in 1964, and inquire about its edition’s conditions of production and circulation, quite different from the others editions released over 55 years. In a historical nature research, we explored unpublished documents, in the effort to build a history of this edition in the light, mainly, of Roger Chartier’s contributions. Ou isto ou aquilo (1964) is the result of the innovative editorial work of a multidisciplinary team of professionals under Sidónio Muralha coordination, with illustrations by Maria Bonomi. A coherent project with ideas defended by Cecília: to offer a high quality literary and cultural education to children.

Keywords
Ou isto ou aquilo; Cecília Meireles; Children's book history; History of literature

Resumen

El objetivo del artículo es construir una historia de la primera edición de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, editada por la editorial Giroflé en 1964, e indagar sobre las condiciones de producción y circulación de esta edición, bastante diferente de las demás publicadas a lo largo de 55 años. En una investigación de carácter histórico, exploramos documentos inéditos, en un esfuerzo por construir una historia de esta edición a la luz, principalmente, de los aportes provenientes de Roger Chartier. O isto ou aquilo es el resultado del innovador trabajo editorial de un equipo multidisciplinario de profesionales bajo la coordinación de Sidónio Muralha y con ilustraciones de Maria Bonomi. Un proyecto coherente con las ideas defendidas por Cecília: ofrecer una educación literaria y cultural de calidad a los niños.

Palabras clave
Ou isto ou aquilo; Cecília Meireles; Historia de las ediciones y del libro; Literatura infantil

Por que ainda escrever sobre a primeira edição de Ou isto ou aquilo?

Quem já teve nas mãos a primeira edição da obra Ou Isto ou Aquilo, datada de 1964, de Cecília Meireles (1901-1964), fica desafiado a indagar sobre as condições de sua produção no polo editorial, já que ela se distingue (em muito) das demais (1969; 1977; 1987; 1990; 2002; 2012), as quais abrigam os conhecidos poemas da autora destinados ao público infantil.

Como sabemos, ao longo dos seus 55 anos de publicação, Ou isto ou aquilo encantou diferentes gerações de leitores, tendo recebido inúmeras reimpressões, realizadas por diferentes editoras (do Rio de Janeiro: Giroflé, Nova Fronteira e Civilização Brasileira; de São Paulo: Melhoramentos e Global). A obra foi “desenhada” por renomados ilustradores (Maria Bonomi, Rosa Frisoni, Beatriz Berman, Eleonora Affonso, Maria Fernanda Dias, Thais Linhares e Odilon Moraes). Algumas dessas edições foram e ainda são expostas em grandes livrarias como sugestão para presentear os pequenos, ou como material “escolar”, indicado como leitura obrigatória por professores e professoras; algumas delas, inclusive, foram financiadas por órgãos públicos, fazendo parte dos acervos distribuídos às escolas públicas do País através de programas de fomento à leitura. Todos esses projetos editoriais têm conseguido valorizar os versos criados pela autora e mantê-los à altura do que há de melhor no campo da literatura infantil.

A fortuna crítica sobre Cecília Meireles, construída ao longo da história e da teoria literária, tem contribuído e muito para a atualidade e o prestígio que Ou isto ou aquilo vem ocupando junto a seus leitores por décadas (Ferreira, 2021Ferreira, N. S. A. (2021). Um estudo das (sete) edições de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles. In E. S. Oliveira (Org.), 120 anos de Cecília Meireles (pp. 198-217). Schreiben. [E-book e impresso]. EISBN 978-65-89963-25-7. ISBN 978-65-89963-26-4.DOI: 10.29327/546141
https://doi.org/10.29327/546141...
). A obra tornou-se um clássico que, conforme Ítalo Calvino (1993, p. 11)Calvino, I. (1993). Por que ler os clássicos. Companhia das Letras., a faz parte daqueles “livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes)”.

É possível afirmar que Cecília Meireles é uma poeta amplamente inquerida e analisada3 3 Em uma consulta ao Catálogo de dissertações e de teses da Capes, por exemplo, identificamos como resultado para o termo “Cecília Meireles” um total de 16.358 trabalhos registrados desde 1987, data em que se inicia este Catálogo. https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/ pelo vasto conjunto que nos deixou de poemas, crônicas, peças de teatro, ensaios, conferências, estudos sobre literatura, educação, arte popular, folclore, cartas, trabalhos de tradução de autores da literatura ocidental e oriental, como registra Damasceno (1987)Damasceno, D. (1987). Poesia do Sensível e do Imaginário. In C. Meireles, Obra poética (pp.13-28). Nova Aguilar..

No entanto, têm sido poucos os trabalhos4 4 Ao registrar “Cecília Meireles”, como termo de busca no Scielo Scientific Electronic Library On-line, por exemplo, foram encontrados apenas dez artigos, sendo que apenas um deles (Ferreira, 2009) tem como objeto de estudo a obra em questão. Os artigos indagam pelas representações possíveis de serem inferidas em suas obras, propõem práticas de leitura literária, tematizam aspectos estéticos ou educacionais de sua produção. https://www.scielo.br focando apenas a obra Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, que é nosso objeto de estudo neste texto. Em menor número ainda são as referências que interrogam essa obra pela história de suas edições (Camargo, 1998Camargo, L. H. de. (1998). Poesia infantil e ilustração: estudo sobre Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles. [Dissertação de mestrado em Letras, Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas]. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643414.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
, Ferreira, 2009Ferreira, N. S. A. (2009). Um estudo das edições de Ou isto ou aquilo, Pro-Posições, 20(2), 185-203. https://doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012
https://doi.org/10.1590/S0103-7307200900...
, 2021, Ferreira & Maziero, 2023Ferreira, N. S. A., & Maziero, M. D. S. (2023, julho/setembro) Editora Giroflé: um lampejo de poesia e sonho no mercado de livros para a infância brasileira (1962-1964). Textura Revista de Educação e Letras, 25(63), 240-272. http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/7624/4712
http://www.periodicos.ulbra.br/index.php...
).

Neste texto, temos por objetivo construir uma história da primeira edição de Ou isto ou aquilo, lançada em 1964 pela editora Giroflé. Para isto, operamos com uma pesquisa de cunho histórico – mais especificamente da História Cultural – identificando, selecionando e acolhendo um conjunto de estudos acadêmicos já realizados sobre Cecília Meireles e sua ampla produção, além de documentos originais (cartas, entrevistas, folders, matérias de jornais, vídeos) disponíveis em diferentes instituições, especialmente aqueles sob a guarda da Fundação Sidónio Muralha em Curitiba, PR.

Nas últimas décadas os estudos oriundos da História Cultural (Burke, 2005Burke, P. (2005). O que é a história cultural? Zahar.; Chartier, 1990Chartier, R. (1990). História cultural - entre práticas e representações. Bertrand., entre outros) têm trazido, entre outras preocupações, a de compreender a história, ampliando e diversificando o uso das fontes, das escolhas temáticas e dos objetos de investigação social e conceitual, que são historicamente produzidos e determinados pelos interesses do grupo que os forja, sendo, portanto, próprios de um tempo ou de um espaço. Matérias de jornal, assim como os depoimentos orais recolhidos e registrados por alguém, por exemplo, podem ser inqueridos como documentos e interpretados como discursos proferidos e de acordo com a posição de quem os utiliza.

Metodologicamente, várias operações mobilizaram as fontes inventariadas neste trabalho. Ações, por exemplo, de (re)leitura, de interrogação, de organização, de descrição, identificação de pontos menos explorados ou exclusão de repetições; de levantamento de hipóteses, cruzamento de várias fontes e verificação de coerência entre elas; aproximação ou valorização de sentidos dispersos ou comuns; interpretação de cada documento ou do conjunto deles, enraizados que são em suas condições de produção (Ferreira & Santos, 2022Ferreira, N. S. A., & Santos, M. L. C. (2022). João Köpke (1852-1926): Fez-se mestre-escola, e mestre-escola morreu! In L. A. P. Menezes (Org.), Educadores paulistas: histórias de vida e ações no âmbito educacional (pp.198-217). Autores Associados. ). Operações acadêmicas que reconhecem a ressonância dialógica com aqueles que nos precederam e que nos “guiam” teórica e metodologicamente na construção do nosso objeto de pesquisa: organizar – pelos vestígios do passado e pelo olhar do presente – uma narrativa plausível e coerente, sobre a primeira edição de Ou isto ou aquilo.

Segundo estudos produzidos por Roger Chartier (1990)Chartier, R. (1990). História cultural - entre práticas e representações. Bertrand. e Robert Darnton (1992)Darnton, R. (1992). História da Leitura. In P. Burke. (Org.), A escrita da história. Novas perspectivas (pp.197-236). UNESP., a história de um livro pode ser narrada pelo circuito que este objeto cultural percorre, circuito este diferentemente configurado a cada nova edição, sujeito a tensões nos polos de sua produção, mediação, circulação e recepção. Desde a versão do texto conforme pensado pela autora até a sua concretização material, que passa pela linguagem visual e gráfica criada pelos ilustradores e agentes envolvidos no polo editorial – editor, impressor, técnico gráfico, revisor etc. –, há um processo totalmente orientado pela imagem pressuposta de seus leitores e de suas práticas de leitura, pelos mecanismos que selecionam, legitimam, fazem a mediação entre o público e a obra e põem em circulação o texto materializado em determinado suporte.

Assim, em condições de produção e de recepção bastante distintas daquelas da contemporaneidade, Ou isto ou aquilo pode ser interrogada pela forma inédita como foi estrategicamente idealizada, a fim de ser lançada no meio editorial como um projeto inovador do ponto de vista estético, artístico, pedagógico e cultural, como parece ter sido a intenção dos sujeitos envolvidos na preparação e no lançamento da edição de 1964. Quais condições podem ser reinterpretadas, de modo a ajudar a compor o cenário em que a primeira edição foi lançada no mercado editorial? Que ações foram pensadas, no polo editorial, para que Ou isto ou aquilo fosse apresentada aos seus leitores naquele projeto editorial da primeira edição? “Em que espelho ficou perdida” a face de Cecília, no momento da primeira edição? (Meireles, 1987Meireles, C. (1987). Ou isto ou aquilo (4. ª ed., Fernanda Correia Dias, Ilustr.). Nova Fronteira., p. 84).

Tão longe. /tão bom, /tão frio /o claro som /do rio /sombrio!

Na época da primeira edição de Ou isto ou aquilo, publicada pela editora Giroflé6 6 Cecília Meireles casou-se, pela segunda vez, com Heitor V. S. Grillo (1902-1971), engenheiro agrônomo e professor universitário. no Rio de Janeiro, em um amplo e acolhedor casarão, lugar cercado de árvores e de jardins, no Cosme Velho.

Aposentada como diretora desde 1951, Cecília não tinha mais a exigência de trabalhar para se sustentar financeiramente, como muitas vezes já fizera para dar conta de sua família após morte do primeiro marido7 7 Fernando Correia Dias (1892-1935) foi artista plástico luso-brasileiro, primeiro marido de Cecília Meireles entre 1922-1935, com quem teve três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda. (Sena, 2021Sena, Y. M. (2021). Olhinhos de Gato, de Cecília Meireles: história(s) de uma obra. [Tese de doutorado em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas].). Como muitas mulheres de 60 anos, podia desfrutar do convívio com as filhas e os seus cinco netos. Uma avó que contava e lia histórias para estes netos, que brincava com as palavras, em sua sonoridade e sentidos inusitados (Dias, 2002Dias, F. C. (2002). Para Fernandinha ler e contar estas histórias da avó, Cecília Meireles, para os seus irmãozinhos. In A. M. L. Mello (Org.), Cecília Meireles e Murilo Mendes (1901-2001) (pp. 347-358). Uniprom.).

Nos anos 60, Cecília Meireles já acumulara uma significativa produção literária, reconhecida pela crítica literária e instâncias legitimadoras, tendo recebido títulos e muitas honrarias. Já acumulara publicações em diferentes jornais de grande circulação do Rio de Janeiro e de São Paulo e continuava semanalmente a escrever uma crônica no Jornal Folha de S. Paulo. Também contava com edições de obras em grandes editoras com ampla circulação no País, além de estar envolvida em vários outros projetos para publicação. No ano de seu falecimento, foram dois lançamentos: Escolha o seu sonho, pela editora Record (RJ), e Ou isto ou aquilo, da editora Giroflé (SP).

Desde 1962, Cecília Meireles lutava contra um câncer de estômago, conforme lembra Sidónio Muralha, nos votos enviados à amiga e poeta, por ocasião do seu aniversário, 07 de novembro: “de todo o coração que muito em breve esteja completamente restabelecida e envio-lhe ... essas rosas que em doses homeopáticas concentre a explosão primaveril com que gostaria de festejar seu aniversário” (Muralha, 1963bMuralha, S. (1963b). Carta de Sidónio Muralha a Cecília Meireles em 07/11/1963. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1...
).

Segundo sua cronologia bibliográfica, Cecília Meireles faleceu em 9 de novembro de 1964, no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, às 14h50, no apartamento 1132, no último andar, 8 8 Por coincidência, “Último andar” é um dos poemas que compõe a obra Ou isto ou aquilo. Nele, o eu lírico descreve este lugar como aquele onde lá ele quer morar: “No último andar é mais bonito:/do último andar se vê o mar./É lá que eu quero morar./O último andar é muito longe:/custa-se muito a chegar./Mas é lá que eu quero morar./Todo o céu fica a noite inteira/sobre o último andar/É lá que eu quero morar./Quando faz lua no terraço/fica todo o luar./É lá que eu quero morar./Os passarinhos lá se escondem/para ninguém os maltratar:/no último andar./De lá se avista o mundo inteiro:/tudo parece perto, no ar./É lá que eu quero morar:/no último andar./No último andar é mais bonito:/do último andar se vê o mar./É lá que eu quero morar./O último andar é muito longe:/custa-se muito a chegar./Mas é lá que eu quero morar./Todo o céu fica a noite inteira/sobre o último andar/É lá que eu quero morar./Quando faz lua no terraço/ fica todo o luar./É lá que eu quero morar./Os passarinhos lá se escondem/para ninguém os maltratar:/no último andar./De lá se avista o mundo inteiro:/tudo parece perto, no ar./É lá que eu quero morar:/no último andar”. (Meireles, 1964) de frente para o mar. Seu corpo foi velado no Palácio da Cultura até as dez horas do dia seguinte e, depois disto, na Capela Real Grandeza. Seu enterro foi em 10 de novembro, no Cemitério São João Batista, e a lápide, em bronze, de seu traz a reprodução de sua assinatura e as datas de nascimento e morte, atendendo ao seu desejo.

A lua com quem a menina sonha/é o linho do sonho/ ou a lua da fronha?

Cecília Meireles manteve-se lúcida e trabalhando quase até os últimos dias. E, além do que foi publicado em vida, ela parece ter acumulado uma fecunda produção inédita que precisou ser organizada por Heitor Grillo, o primeiro a ser responsável por cuidar dos direitos autorais em nome das três filhas da autora.

Segundo Grillo (1965)Grillo, H. (1965). Carta de H. Grillo a Sidónio Muralha, em 12.05.1965. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1...
, logo após a morte de Cecília, ao organizar a biblioteca e colocar em ordem o vasto acervo literário que ela deixara, ele se surpreende:

só de poesia, ela nos deixou 3 livros inéditos, e mais 300 poemas sem títulos para os respectivos livros. E de prosa, há centenas de crônicas inéditas, além das já publicadas em jornais e que dariam vários volumes. Por aí, você vê, meu caro amigo, o que foi Cecília no seu trabalho literário. Era incansável e perfeita em tudo que fazia.

Difícil saber se parte desta produção foi escrita e elaborada nos anos 60, ou se foi acumulada ao longo do tempo, ainda em “estado bruto”, para futuras publicações; ou, ainda, se estava “parada” porque exigia o trabalho de seleção, organização e revisão dos originais com as editoras, ações que podem ter sido interrompidas ou conduzidas em ritmo mais lento diante de sua doença, nos últimos anos. Mas o volume do material indicia que a “incansável e perfeita” (Grillo, 1965Grillo, H. (1965). Carta de H. Grillo a Sidónio Muralha, em 12.05.1965. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1...
) escritora estava em uma fase muito produtiva, participando de uma rede de sociabilidade com muitos amigos artistas, escritores e intelectuais, conforme mostram suas publicações da primeira metade dos anos 60, quando Ou isto ou aquilo foi lançada.

Dentre toda essa volumosa produção, a escolha dos 20 poemas que comporiam a primeira edição de Ou isto ou aquilo (1964) talvez tenha tido a participação decisiva de Cecília Meireles. No entanto, pelo menos 16 outros poemas não foram publicados naquele volume, conforme destacado por Grillo (1965)Grillo, H. (1965). Carta de H. Grillo a Sidónio Muralha, em 12.05.1965. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1...
, e foram incorporados à segunda edição de Ou isto ou aquilo (1969), por uma decisão das herdeiras dos direitos autorais da obra, alcançando assim a quantidade de 36 poemas, tal como conhecemos nas edições atuais da obra.

Todos os poemas de Ou isto ou aquilo teriam sido criados neste período dos anos 60? Conforme Telma Abud (2012, p. 86)Abud, T. F. D. (2012). Either this ou aquilo: Traduzindo a poesia infantil de Cecília Meireles para o inglês. [Dissertação de mestrado em Estudos da Tradução, Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina]. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/99368.
https://repositorio.ufsc.br/handle/12345...
, Fernanda Dias, em e-mails trocados com Telma, afirmou que sua avó lhe contara que os poemas de Ou isto ou aquilo se referem ao núcleo familiar, especialmente aqueles inspirados nos netos, com quem convivia nos anos 60, o que sugere que possam ter sido criados nessa década. Como exemplo, entre outros, podem-se citar os poemas A Bailarina e Ou isto ou aquilo, os quais teriam sido compostos para a própria Fernanda, que queria ser bailarina e que gostava de colocar luva com anel. Enchente seria para Alexandre, irmão mais velho de Fernanda; Sonhos de menina, para Fafá, sua irmã mais nova; e Cantiga para adormecer seria para Luiz Fernando, um primo, filho de Maria Fernanda. Alguns outros poemas tiveram como fonte as próprias memórias de infância de Cecília Meireles, como a Velhinha do Nhem, que poderia ser a sua avó Jacinta, ou o poema As meninas, que pode ser uma referência às três filhas da poeta.

Segundo Maria Bonomi (2014)Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
, todo o livro seria um momento de passagem para outra vida de Cecília Meireles, porque cheio de alegorias com a morte (em “Último andar”, por exemplo), ou ainda um inventário de memórias da infância (“Leilão de jardim”).

Se, como leitores, não conseguimos dimensionar o quanto a arte imita a vida e em que momento o processo de criação se inicia e se conclui, sabemos que a arte sempre é recriada sob um ponto de vista: o do(a) autor(a). É um gesto ou um olhar, uma situação ou fala de alguém, uma paisagem real ou um flash de memória que aciona algo no artista e lhe fornece o material para ser trabalhado de forma poética e imagética. Um traço fugidio, um lastro delicado, uma cor que se liquefaz, um aroma que nos toca, a simplicidade de uma brincadeira, a risada que não se segura, pequenas felicidades e muitas perguntas, amarras do real e ficcional, oscilações do plano inteligente e imaginativo. E não seria isto a tradução intraduzível de Cecília Meireles? Não seria isto que nos afeta quando lemos Ou isto ou aquilo?

Uma poesia que enlaça a vida, que busca o sentido – sempre complexo e multifacetado – de irmandade e humanidade que nos ancora, percorre regiões, nos afeta e se desdobra no dilema de quem, por exemplo, valoriza um leilão de jardim, situação pitoresca, se vista pela ótica da sociedade contemporânea, movida pelo lucro e consumo desenfreados: “Quem me compra este caracol? Um lagarto entre o mundo e a hera? E este sapo que é jardineiro? E a cigarra e a sua canção? E o grilinho dentro do chão?” (poema Leilão de jardim, Meireles, 1964Meireles, C. (1964). Ou isto ou aquilo (1.ª ed., Maria Bonomi, Ilustr.). Giroflé.). Ou uma poesia que se desdobra em um narrador lírico que brinca com a tinta da ponte que suja a menina tonta, a qual “sentou-se na ponte, / muito desatenta. / e agora se espanta:/ quem é que a ponte pinta com tanta tinta?...” (poema Tanta tinta, Meireles, 1964Meireles, C. (1964). Ou isto ou aquilo (1.ª ed., Maria Bonomi, Ilustr.). Giroflé.), em um jogo de linguagem com dígrafos vocálicos, de forma bem-humorada e inteligente, em um tom de cumplicidade, sem a forte tendência de poetar para alfabetizar, tendência esta que ainda pode ser encontrada na produção voltada para o público infantil nos tempos de hoje.

O depoimento da neta Fernanda Correia Dias (Dias, 2002Dias, F. C. (2002). Para Fernandinha ler e contar estas histórias da avó, Cecília Meireles, para os seus irmãozinhos. In A. M. L. Mello (Org.), Cecília Meireles e Murilo Mendes (1901-2001) (pp. 347-358). Uniprom.) de que ela estava na casa da avó quando lá chegou um pacote de livros e que entre eles foi pedido a ela que buscasse aquele livrinho compridinho, listrado de amarelo e vermelho, sugere a captura do momento em que as mãos de Cecília Meireles acolhem a obra como objeto finalizado. Um trabalho editorial que, provavelmente, tenha levado pelo menos dois anos, desde a escolha dos poemas feita por ela para aquela edição e anunciados pela editora Giroflé em 1962, passando pela informação em carta de Sidónio Muralha, em 07/11/1963: “dentro de um mês o seu belo livro da Giroflê estará ilustrado e semanas depois entrará na máquina”, até, finalmente, a entrega do exemplar finalizado em sua casa em meados de 1964 (Dias, 2002Dias, F. C. (2002). Para Fernandinha ler e contar estas histórias da avó, Cecília Meireles, para os seus irmãozinhos. In A. M. L. Mello (Org.), Cecília Meireles e Murilo Mendes (1901-2001) (pp. 347-358). Uniprom.).

É o tempo do Giroflé: “vamos passear no jardim das flores, / Giroflé, Giroflá”

Criada pelo escritor Sidónio Muralha (1920-1982)9 9 Sidónio Muralha é reconhecido como um dos neorrealistas portugueses de primeira geração. Exilou-se por quase duas décadas no Congo, durante a ditadura de Salazar. No início dos anos 60, veio morar no Brasil e aqui ficou até a sua morte. , juntamente com outros dois portugueses, o escritor Fernando Correia da Silva (1931-2014) e o pintor Fernando Lemos (1926-2019), a editora Giroflé foi idealizada por volta de setembro de 1962, conforme mostram matérias de jornal publicadas, principalmente, em São Paulo. Para seus idealizadores, a ideia era oferecer uma literatura de qualidade à infância brasileira, com lançamentos mensais de livros com qualidade original. Segundo documentos produzidos para divulgação da Coleção Giroflé-Girafa, esta editora foi uma iniciativa coletiva que agregou, além de escritores, também pedagogos, psicólogos, arquitetos e artistas plásticos, alguns já consagrados e outros ainda iniciantes, em torno de um projeto conduzido de maneira lúcida, esclarecida e moderna.

Figura 1
"Cartilha 3" (Editora Giroflé, 1962)

Uma proposta inovadora e pioneira, que nasce com uma equipe a qual podemos qualificar como de alto calibre, participante de uma

dança de roda. E nunca tantos artistas e intelectuais se deram as mãos para formar um círculo à volta de uma ideia. E mais do que uma ideia: movimento. Movimento que condensa um pouco mais de cem palavras, a sua declaração de princípios: escrever um livro infantil é bom. Criar uma literatura infantil é melhor. E por ser necessário, urgente e útil foi nesse sentido que se orientaram as pesquisas e os esforços da equipe GIROFLÉ. ... A cada um de nós foi dado o privilégio de ser moderno. Responsáveis, que somos, devemos dar às crianças uma linguagem visual atual. Já pensaram em crianças que não fossem modernas?

(Editora Giroflé, 1962)

Cecília integra este grupo como autora do que parece ter sido o último livro lançado pela Coleção Giroflé-Girafa, editora infantil “à qual foi dado o nome Giroflé, palavra retirada do estribilho rítmico de uma tradicional cantiga de roda” (Folha de S. Paulo, 1962). O título da editora é associado também a uma obra dessa poeta e reconhecido pelo próprio Sidónio, na época de sua criação:

É o tempo do Giroflé que Cecília recorda, com palavras equilibradas, exatas e sonoras, no seu belo livro Giroflé, Giroflá, publicado em 1956, no Rio de Janeiro. É o tempo do Giroflé e mais tarde, muito mais tarde, chegaria o momento em que também a literatura infantil de língua portuguesa poderia dizer como Cecília: é o tempo do Giroflé.

(Editora Giroflé, 1962)

Não sabemos o que levou Cecília Meireles a publicar, em vida, Ou isto ou aquilo, na editora Giroflé. Mas podemos inferir que a autora mantinha muitas afinidades com o grupo que idealizou esta editora. A escolha do nome Giroflé pela editora, bem como sua participação em outros projetos culturais também coordenados por artistas portugueses, podem ser dois motivos que aproximaram Cecília desta iniciativa. Provavelmente não tenha sido pelo pagamento dos direitos autorais, que, como veremos, as herdeiras tiveram dificuldades para receber posteriormente.

De qualquer modo, na Giroflé a autora estava entre “velhos amigos”, ao lado de autores e artistas reconhecidos pelos seus trabalhos, juntamente com intelectuais de novas gerações que se tornariam famosos em seus campos de atuação nas décadas seguintes. O nome de Cecília Meireles, muito provavelmente, qualificou este projeto idealizado por seus colegas e amigos “empenhados em dar o melhor deles mesmos às crianças dos anos 60 ... em um renovador sentido estético e de vanguarda” (Muralha, 1976Muralha, S. (1965). Carta de Sidónio Muralha a Heitor Grillo em 28/02/1965. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1...
), não só do ponto de vista da linguagem literária escrita e plástica de alta qualidade artística, mas diríamos que, principalmente, como um projeto de formação cultural mais ampla para os pequenos. Livros produzidos seriamente, porque escrever para as crianças não é tarefa fácil e nem para amadores, como lembrava Cecília Meireles e como também pensava Sidónio Muralha, conforme texto de apresentação da editora em seu Folder: “Literatura infantil/Não será mais passatempo/ De escritores sentimentais/ Ela é/ Pesquisa /Teste/ Compreensão da psicologia da criança/ Sentido de humor/ Musicalidade/ Surpresa/ Elaboração artística”.

Assim, a Coleção Giroflé-Girafa integra coerentemente princípios que também Cecília Meireles defendera em sua trajetória como educadora, jornalista e escritora. A equipe multidisciplinar responsável pela editora fazia com que a literatura dialogasse com a educação escolar, com a cultura, com a arte. Havia neste grupo um empenho em estudar a psicologia da criança moderna, em integrá-la a uma educação cultural e artística de qualidade através da transformação do espaço escolar em mobilizador da formação do leitor. Por isso, além dos livros infantis, eram publicados boletins pedagógicos sob a coordenação de Miriam Fragoso, Fanny Abramovich e Tessey Hanstzchell, bem como uma coleção de cartões postais desenhados por crianças e atividades com jogos, brinquedos e cinema. “Principal exigência: qualidade” (Editora Giroflé, 1962).

A Giroflé coloca-se no mercado como um projeto editorial visualmente estético e intencionalmente elaborado, a serviço de um programa educacional e cultural enraizado na tradição da arte, da canção, da pintura, dos homens – que como os “pássaros emigram”, como as canções populares atravessam fronteiras ou palmilham a poeira das estradas, mudam um pouco de roupa ou de palavra, mas que, “sem mais atestados de bom comportamento, vacinas e passaportes”, aceleram corações, acendem os olhos, alegram e fazem dançar nossas crianças, daqui, de lá, de acolá (Editora Giroflé, 1962).

Nesse sentido, o projeto visual de Ou isto ou aquilo, pelas mãos da jovem Maria Bonomi10 10 Maria Bonomi (1935-) é uma renomada artista plástica ítalo-brasileira que trabalha como gravadora, escultora, pintora, muralista, curadora. Nos anos 60, ela já estava totalmente rendida à arte da xilogravura e reconhecida pela crítica no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. A ela, minha gratidão infinita pela disponibilidade em me fornecer, por comunicação pessoal (e-mails), informações, textos e vídeo referentes a Ou isto ou aquilo, em que ela participou como entrevistada ou que recuperou, pela memória, histórias sobre a produção da primeira edição obra de Cecília Meireles. , selou um encontro com Cecília Meireles, uma adesão coerente com um programa maior que buscava oferecer educação e cultura (de qualidade) à criança, com perspicaz sensibilidade para revisitar e dialogar com o mundo da infância, com canções, brincadeiras, lendas e histórias.

Rômulo rema no rio/ a romã dorme no ramo, /A romã rubra. (E o céu).

Teriam os poemas de Ou isto ou aquilo sido entregues à editora Giroflé e teria a própria editora providenciado a responsável pela sua ilustração no processo de transformação do texto em objeto-livro?

Maria Bonomi (2014)Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
relata, em entrevista a Leila Gouveia, que Cecília Meireles, ao entregar os poemas à editora, ficara encantada com as gravuras e os desenhos que apareciam no primeiro livro da Coleção Giroflé-Girafa – Sindicato dos Burros, de Fernando Silva – , e perguntara: “quem os fez?”, ao que Sidónio respondera: “Foi uma jovem artista de São Paulo”.

Assim, quando Cecília se encontrou no Rio de Janeiro com Maria Bonomi, ela lhe disse: “Tu vais ilustrar o meu livro” e, com poucas recomendações, complementou: “Livro para criança é chato. Queria um livro divertido”, e que os desenhos fossem instigantes, para que as crianças que ainda não sabiam ler pudessem “abrir o livro para olhar... para complementar”.

Gouveia (2014)Gouveia, l. (2014). Cecília e Maria: “Ou isto ou aquilo”. Nota breve sobre o vídeo [Homenagem a Cecília Meireles], em sua Nota breve sobre o vídeo [Homenagem a Cecília Meireles], enviada à autora deste artigo, revela que as duas produziram “uma alquimia mágica” nos encontros bem-humorados realizados em torno de Ou isto ou aquilo. Segundo Gouveia (2014)Gouveia, l. (2014). Cecília e Maria: “Ou isto ou aquilo”. Nota breve sobre o vídeo [Homenagem a Cecília Meireles], quando Maria Bonomi mostrou as primeiras xilogravuras que fizera, a poeta estava em São Paulo para tratamento quimioterápico no Hospital do Câncer. Disse a artista: “estendi as gravuras para que ela as visse, e rimos, rimos muito. Conversamos mais de duas horas. Lemos juntas alguns poemas”.

A parceria que se fez amistosa se estendeu em outras conversas e chás que se prolongaram na própria casa da poeta, no Rio. Talvez fortalecida pelo interesse por temas que elas tinham em comum (como a cultura popular brasileira), ou pelos laços bem-humorados, “ingênuos”, cheios de incompletudes e gentilezas ligando os versos e as gravuras, ou ainda pela admiração mútua que puderam expressar: “eu não estava diante de uma pessoa. Era como se fosse uma entidade” (Bonomi, 2014Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
).

A artista rememora que fez mais gravuras do que aquelas que hoje podemos encontrar na primeira edição, mas que eliminou todas aquelas das quais Cecília não gostara. Das matrizes selecionadas, Bonomi fez uma tiragem de 10 cópias em papel maior, mas que foram reduzidas pelo editor na passagem para a fabricação do livro (Bonomi, 2014Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
).

Ou isto ou aquilo (1964) guarda, então, 18 xilogravuras (de 30,5 x 10,8 cm), estampadas e distribuídas em páginas distintas dos poemas: nas ímpares, os primeiros 11 textos; nas pares, os 9 restantes. A obra distingue e praticamente isola a ilustração de um lado e o texto do outro, talvez querendo educar o olhar do leitor para uma apreciação estética11 11 O projeto estético-visual de Ou isto ou aquilo que determina a disposição da ilustração a ocupar uma página diferente daquela em que está o poema pode ser uma estratégia editorial (e pedagógica) que qualifica ambas as linguagens – da ilustração e dos poemas - como igualmente importantes e com uma função artística intencionalmente conduzida pela equipe de produção do livro. que acolha as singularidades de cada linguagem, de modo que seja afetado individualmente por cada uma delas.

Figura 2
Poema “Tanta tinta”, de Ou isto ou aquilo (1964)
Figura 3
Poema “A bailarina”, de Ou isto ou aquilo (1964).

Segundo Camargo (1998)Camargo, L. H. de. (1998). Poesia infantil e ilustração: estudo sobre Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles. [Dissertação de mestrado em Letras, Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas]. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643414.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
, essas ilustrações não têm a função de acompanhar os poemas como simples traduções do seu conteúdo lírico, tampouco são criações plenamente autônomas. São ilustrações belas, mas econômicas no número de elementos não descritivos e largas nos traços estilizados, em suas formas simples que, para nós, lembram às vezes aquelas que reconhecemos como próprias da literatura de cordel brasileiro. São ilustrações que estabelecem uma relação (lúdica) metafórica ou metonímica com os cenários ou personagens dos poemas, em uma linguagem visual estilizada, plena de traços, linhas e sulcos, em meio a cheios e vazios que a arte sempre nos inspira (Camargo, 1998Camargo, L. H. de. (1998). Poesia infantil e ilustração: estudo sobre Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles. [Dissertação de mestrado em Letras, Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas]. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643414.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
; Ferreira, 2009Ferreira, N. S. A. (2009). Um estudo das edições de Ou isto ou aquilo, Pro-Posições, 20(2), 185-203. https://doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012
https://doi.org/10.1590/S0103-7307200900...
, 2021Ferreira, N. S. A. (2021). Um estudo das (sete) edições de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles. In E. S. Oliveira (Org.), 120 anos de Cecília Meireles (pp. 198-217). Schreiben. [E-book e impresso]. EISBN 978-65-89963-25-7. ISBN 978-65-89963-26-4.DOI: 10.29327/546141
https://doi.org/10.29327/546141...
).

Poucas cores (quatro), em tons fortes e em combinações variadas, as xilografias dessa edição se apresentam em ocre sobre preto, amarelo sobre preto, branco sobre rosa, preto sobre branco (ou branco sobre preto), preto sobre azul, preto sobre verde e sobre branco e preto sobre verde, amarelo e rosa.

O que hoje poderia causar estranhamento – a ausência de um colorido bucólico que geralmente acompanha os livros infantis – parece ter sido uma intenção calculada de Maria Bonomi, para quem o uso da cor é um trabalho feito a posteriori: “a cor é literária, a cor é ponte... não é feita antes...ela acontece... quase um marketing da gravura” (Doria, 1995Dória, R. P. (1995). A xilogravura em Maria Bonomi e Renina Katz. Revista de História da Arte e Arqueologia, 2, 306-309., p. 308).

Segundo depoimento dado pela artista a Doria, 30 anos depois do lançamento dessa primeira edição, Maria Bonomi declara a respeito de seu trabalho:

Eu não sei mexer com muita cor....A cor me incomoda. Eu nunca pensei uma gravura colorida, raramente... Eu produzo uma gravura em preto e branco e depois vou começar a ver... “essa gravura, realmente, em vermelho...” e começo a trabalhar a cor a posteriori, como fundo musical... Eu não penso na cor antes, ela entra depois.

(Doria, 1995Dória, R. P. (1995). A xilogravura em Maria Bonomi e Renina Katz. Revista de História da Arte e Arqueologia, 2, 306-309., p. 309)

Coube a Fernando Lemos12 12 Fernando Lemos foi o responsável pelo formato retangular dos livros da Coleção Giroflé-Girafa e pela imagem das caixas de lápis de cor do material escolar, que foi logo reconhecido como um diferencial de boa qualidade (Lemos, 2003) e como uma estratégia orientada pela imagem de leitor infantil, mas também escolar. , também sócio fundador da editora e diretor gráfico, dar aos livros o formato “giroflé-giroflá” e o colorido às gravuras, feitas primeiramente em preto e branco para Ou isto ou aquilo, adequando-as à representação do gosto infantil previsto para aquela Coleção. Bonomi lembra que “o preto ficaria muito chato no livro. E Fernando Lemos fez no livro acontecer de jeito diferente” (Bonomi, 2014Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
). E ela exemplifica: “o preto da gravura original que acompanha o poema ‘Ou isto ou aquilo’ ganhou a cor lilás na contracapa da página de rosto que reproduz a mesma imagem”.

No livro, as capas de Ou isto ou aquilo (1964) em um desdobramento do mesmo desenho – um barco, um barqueiro com seus remos e um fruto/romã preso no tronco pelas ondas verticalmente onduladas – sugerem um jogo sutil de espelhamento de “ou isto ou aquilo”, em traços que se expandem pelas duas capas e que sugerem movimento do rio acima, ou seria do rio abaixo?

(Ferreira, 2009Ferreira, N. S. A. (2009). Um estudo das edições de Ou isto ou aquilo, Pro-Posições, 20(2), 185-203. https://doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012
https://doi.org/10.1590/S0103-7307200900...
)
Figura 4
Capas de trás e da frente de Ou isto ou aquilo (1964)

O índice é um convite de apreciação estética e bem-humorada, concretizando talvez as intenções de Cecília de criar um livro que não fosse chato para crianças. Cada título do poema é acompanhado de um fragmento da ilustração principal, construindo uma relação metonímica, um desafio em que o leitor terá que buscar a página, tendo como referência não um número, mas o laço no cabelo da menina trombuda, por exemplo:

Figura 5
Índice de Ou isto ou aquilo (1964)

Nas capas, no interior do livro ou no índice, essas xilogravuras, de fato, fogem da representação do gosto infantil usualmente presente nos livros de literatura para as crianças. Uma (re)criação do real, impregnado da cultura de nosso país. Gravuras sintéticas, abstratas ou figurativas sugerem novos sentidos entre a arte das imagens e a dos versos, ou, como Bonomi propõe na percepção de seu trabalho: nos traços-sulcos deixados “por cada instrumento”, no suporte-papel “como uma linguagem de jogos rítmicos, geométricos que lança a visão para fora do suporte, apreensão da emoção da gravura” (Doria, 1995Dória, R. P. (1995). A xilogravura em Maria Bonomi e Renina Katz. Revista de História da Arte e Arqueologia, 2, 306-309., p. 307).

As ilustrações não se aproximam do estereótipo do gosto infantil contemporâneo, mas também parecem não se afastar muito do universo de compreensão dos pequenos leitores. É possível que elas sejam do agrado dos leitores atuais, que se surpreendem com os traços, os volumes e as cores, ora marcados por detalhes ou por sobreposições, ora pelos exageros ou lacunas que desenham as personagens e os cenários, como é possível ver na boca torta da “Menina trombuda”, ou no tamanho do colar de Carolina; no caminhar de um burrinho de saia abraçado a um menino, ou na incompletude visual sugerida na “história em quadrinhos”, em que o leitor é convidado a continuar no poema “As meninas”, conforme destaca Maria Bonomi (2014)Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
, ao se referir a essa gravura.

É provável que essas gravuras estivessem dentro das expectativas dos envolvidos na Coleção Giroflé-Girafa em relação ao gosto dos leitores daquela época – pelo menos de uma parcela deles. Por exemplo, entre as cartas dos leitores publicadas no “Meninos Giroflando” (n.d.) – boletins lançados pela própria editora –, o garoto de 10 anos que assina como Sol Edery expressa o quanto gostou dos contos de Fernando Silva e “também dos desenhos de Maria Bonomi”. E Bonomi (2014)Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
relembra que, antes de levar as xilogravuras para Cecília Meireles, teria sido incentivada pela própria escritora a mostrá-las às crianças e que, por várias vezes, pôde perceber o encantamento delas, revelado, por exemplo, nas explicações guiadas pela imaginação, como: aqui “o sol vai pegar o sapo, o sapo morre e a estátua da primavera derrete”, referência ao poema “Leilão do Jardim”.

Fernanda Dias (2002)Dias, F. C. (2002). Para Fernandinha ler e contar estas histórias da avó, Cecília Meireles, para os seus irmãozinhos. In A. M. L. Mello (Org.), Cecília Meireles e Murilo Mendes (1901-2001) (pp. 347-358). Uniprom. rememora o estranhamento que teve ao ver as ilustrações desta primeira edição, depois de ter ido buscar o livro na biblioteca, a pedido de Cecília:

Voltei com o livrinho na mão. Ela percorreu as páginas do livrinho, buscando o que queria mostrar-me: primeiro encontrou A Bailarina. Leu e perguntou: “você sabe quem é essa menina?” Eu sorri, mas não respondi. “E esta?” Referindo-se ao poema que lia...Ou isto ou aquilo. Interrompi a leitura e disse... “sou eu!” Mas quando olhei para a gravura de um menino subindo uma escada, “eu não sou menino. Nem sou este do desenho”... Minha avó achou graça da minha observação e disse: “Não... Menino você não é não... isto é uma ilustração, não fui eu que desenhei, mas o poema é para você”.

(Dias, 2002Dias, F. C. (2002). Para Fernandinha ler e contar estas histórias da avó, Cecília Meireles, para os seus irmãozinhos. In A. M. L. Mello (Org.), Cecília Meireles e Murilo Mendes (1901-2001) (pp. 347-358). Uniprom., p. 355)

Na conversa afetuosa entre a avó e a pequenina neta, desencadeia-se uma aprendizagem do processo de produção de um livro em suas duas linguagens – visual e verbal – que são distintas, mas igualmente possíveis de serem lidas e apreciadas em sua relativa independência. Possíveis e passíveis de provocar estranhamentos dos leitores.

Na conversa quase cúmplice entre a poeta e a pequena leitora, não se explicita que o livrinho era fruto de um projeto de uma equipe de profissionais (da qual Cecília Meireles fazia parte) que acreditava, já naquela época, na importância de uma educação estética para formar o “bom” gosto artístico e cultural das crianças:

os artistas que integram a Giroflé, ao pesquisar uma linha de ilustrações para os textos, tiveram em conta não só estimular a imaginação da criança, mas paralelamente seu bom gosto artístico. ... Dentro de uma paginação ampla e colorida, as ilustrações caracterizam-se por seu espírito de síntese, dando assim oportunidade às crianças de mentalmente completar os seres ou objetos apenas sugerindo.

(Gazeta de S. Paulo, 1962Gazeta de S. Paulo. (1962, dezembro 07). [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1...
)

A própria Cecília, leitora privilegiada dessas ilustrações, demonstrou à artista o seu agrado por elas, “como as do Carneirinho, do Mosquito, das Duas velhinhas. E Cecília ia dizendo: “mas olha, olha. Perfeita! Perfeita! Tu fazes uma gravura dessas para mim?’”. Ao que lhe respondeu a artista: “Mas são todas suas, Cecília!” (Gouveia, 2014Gouveia, l. (2014). Cecília e Maria: “Ou isto ou aquilo”. Nota breve sobre o vídeo [Homenagem a Cecília Meireles]). De fato, Maria Bonomi entregou as matrizes das gravuras à família de Cecília Meireles, que poderia imprimi-las quando e na quantidade que quisesse, porque para a artista plástica tinha sido uma honra fazer o livro derradeiro da poeta, no momento de sua passagem para uma outra vida.

Segundo Bonomi (2014)Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
, a ilustração da qual ela mais gostou foi a do poema “Pescaria”, porque Cecília lhe havia pedido que não se representasse a rede – traiçoeira e cruel –, pois ela remete à pesca em que os peixes se debatem presos nela. O desenho deveria ser uma gentileza visual às crianças, quase a acolher os peixes, que felizes pulam à nossa mesa e que são o nosso alimento.

Figura 6
Ilustração do poema “Pescaria”, de Ou isto ou aquilo (1964)

E Bonomi (2014)Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
www.mariabonomi.com.br...
revela: “E, eu fiz o mar que é quase dedos, mãos. O mar não tem aquela violência. A última onda é horizontal e o peixe sobe vertical”, talvez a convocar os versos “as mãos do mar vêm e vão/ as mãos do mar pela areia/ onde os peixes estão/ as mãos do mar vêm e vão, / em vão.” E a artista complementa, ao rever sua gravura e ler o verso chora a espuma pela areia: “E isto é lindo!!”.

E a dedicatória a Sidónio, escrita de próprio punho por Cecília no livro Ou isto ou aquilo, parece ser uma manifestação não só de carinho para com seu editor, mas também um gesto elegante e modesto de reconhecimento, de que ela gostara do produto final:

Figura 7
Dedicatória autografada por Cecília para Sidónio Muralha

“Ao Caro Amigo e Poeta, Sidónio Muralha, esta lembrança, mais do seu próprio trabalho que dos pequenos versos da Cecília Meireles, 1964Meireles, C. (1964). Ou isto ou aquilo (1.ª ed., Maria Bonomi, Ilustr.). Giroflé.

De lá se avista o mundo inteiro: (...) é lá que eu quero morar.

Nos anos 60, Cecília Meireles já vivera grandes perdas pessoais, mas também passara por duas Guerras Mundiais e um período grande de ditadura, imposta por Getúlio Vargas (1930-1945). Tais situações marcaram sua vida de forma diversa, ora pela preocupação de perder cargos e não ter condições financeiras para o sustento de sua família, ora com momentos de tristeza e de indignação pelas censuras determinadas pelo governo, como aquela que pôs fim ao seu projeto Biblioteca Infantil Pavilhão Mourisco (Pimenta, 2001), sob a acusação de que ela estaria disponibilizando um acervo comunista para a infância ou, ainda, pela sua luta para enfrentar os obstáculos impostos a uma mulher que ousou participar de um mundo literário e jornalístico predominantemente masculino ou de filiação católica.

Nos últimos meses de sua vida, ela assistiu ao surgimento de mais uma ditadura militar (1964-1985) que, de certa forma, a atingiu novamente através da perseguição a alguns amigos e do fechamento ou cerceamento de seus projetos, do que é exemplo a divulgação de Ou isto ou aquilo, ou ainda a suspensão do programa de rádio Quadrante.

Para Saroldi (2001)Saroldi, L. C. (2001). Escolha o seu sonho. In M. S. Neves, Y. L. Lôbo, & A. C. V. Mignot (Orgs.), Cecília Meireles: A Poética da Educação. Loyola., nos anos iniciais da década de sessenta, ainda que o País tenha sido tocado de orgulho pelas vitórias de esportistas como Éder Jofre, no ringue, Maria Ester Bueno, no tênis, e pelas vitórias na Copa do Mundo, ou pela repercussão no ambiente cultural do Cinema Novo e da bossa nova, vivemos sob o impacto da inflação, do desemprego, de inquietação e instabilidade política e social, em meio à necessidade de reformas educacionais, políticas e sociais. Condições adversas para o investimento em novos empreendimentos, principalmente aqueles ligados ao mundo dos livros. Já por ocasião do primeiro ano da editora Giroflé, em 1962, matérias de jornais denunciavam:

O costume de oferecer presentes por ocasião do Natal sofreu um rude golpe, neste ano. Os preços de livros afugentam as compras . ... É verdade que a avalancha inflacionária atingiu todos os ramos da árvore verde das festas natalinas. ... Mas quando o livro, o indispensável livro do Natal, com suas histórias coloridas, também entrou na espiral inflacionária, o céu se tornou mais escuro.

(Pires,1962Pires, J. H. (1962, dezembro 27). Mundo dos livros. Jornal Diário da Noite.)

“Ventos frios de março/abril de 64” varriam o Brasil (Saroldi, 2001Saroldi, L. C. (2001). Escolha o seu sonho. In M. S. Neves, Y. L. Lôbo, & A. C. V. Mignot (Orgs.), Cecília Meireles: A Poética da Educação. Loyola., p. 231), anunciando tempos de censura e repressão explícitas, de incentivo à produção cultural e artística de conteúdo nacionalista, ideologicamente de direita e de alinhamento conservador à ordem vigente (ditadura militar), no discurso e nas práticas.

É neste contexto que Murilo Miranda dirige (1961-1963) a Rádio Ministério de Educação e Cultura, emissora oficial e pública, e cria o programa Quadrante, com o propósito de fazer chegar ao povo o melhor da nossa cultura (literatura, música, experiências, cursos), com cronistas como Manuel Bandeira (1886-1968), Carlos Drummond de Andrade (1903-1987), além de Cecília Meireles, que se revezariam em seus textos, uma vez por semana, com a voz do jovem Paulo Autran (1922-2007), conforme Saroldi (2001)Saroldi, L. C. (2001). Escolha o seu sonho. In M. S. Neves, Y. L. Lôbo, & A. C. V. Mignot (Orgs.), Cecília Meireles: A Poética da Educação. Loyola..

O programa registrou uma aceitação e um alto índice de audiência, mas isto não foi suficiente para que o governo militar deixasse de fechá-lo. Na noite de autógrafos do primeiro volume de Quadrante, a preocupação dominava os autores das crônicas reunidas nesse primeiro livro, porque a Rádio caíra “nas mãos de um senhor chamado Eremildo Viana que, se tinha cultura, não demonstrava. Ele queria mesmo era acabar com todo e qualquer programa que tivesse liberdade artística de escolha ou coisa assim. Então, ele acabou com o Quadrante” (Autran, 1999, p. 17, como citado em Saroldi, 2001Saroldi, L. C. (2001). Escolha o seu sonho. In M. S. Neves, Y. L. Lôbo, & A. C. V. Mignot (Orgs.), Cecília Meireles: A Poética da Educação. Loyola., p. 238).

A mesma ditadura militar parece também ter responsabilidade no “fechamento” da editora Giroflé. Embora Escolha o seu sonho e Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, não tenham registro de quaisquer problemas com a censura, provavelmente essas condições políticas podem ter afetado a recepção, a divulgação e a circulação de sua primeira edição. Conforme Hellen Buttler Muralha13 13 Hellen B. Muralha (1931-) é médica e foi professora universitária na UF Paraná. Foi casada com Sidónio Muralha de 1978 a 1982 (ano da morte dele). Muito tenho a agradecer a ela pela gentileza de me conceder uma conversa e disponibilizar os documentos guardados na Fundação Sidónio Muralha. Também agradeço aos funcionários a oportunidade de acesso a todos os documentos digitalizados da Fundação referentes à Editora Giroflé, via comunicação pessoal (por e-mail). (2020) declarou em entrevista ao jornal Portal, de Curitiba (PR), a editora Giroflé durou apenas três anos, e

em 1964, surgiu um Ato Institucional [nº 5] que começou a trazer expectativas sombrias, acrescidas a manobras de empresas fortes no mercado para dificultar a chegada das edições da Giroflé às livrarias. A fim de evitar a falência, esvaíram-se os dólares aportados por Sidónio e assim terminou a empreitada.

Fernando Lemos (2003)Lemos, F. (2003). Giroflé. In F. Lemos, & R. M. Leite, A Missão Portuguesa. Rotas entrecruzadas (pp. 161-192). Ed. Unesp EDUSC. relata que depois se descobriu que a distribuição dos livros feita nas livrarias ficara encalhada nos depósitos porque balconistas e funcionários foram pagos para retirar das prateleiras e esconder os livros da editora Giroflé. E a editora fechou dois anos após 1964, exigindo de seus fundadores muitos sacrifícios.

A possibilidade de que a Coleção Giroflé-Girafa pudesse ser adquirida pelo governo Federal para que fizesse parte das bibliotecas públicas escolares também ruiu com o golpe militar. Segundo Lemos (2003)Lemos, F. (2003). Giroflé. In F. Lemos, & R. M. Leite, A Missão Portuguesa. Rotas entrecruzadas (pp. 161-192). Ed. Unesp EDUSC., “o Prof. Darcy Ribeiro levou para o avião, na viagem rumo ao exílio repentino, a pasta com as promessas encomendadas e assinadas para o Instituto do Livro” (p.191). Rompia-se, assim, o sonho da equipe Giroflé de alcançar um público mais amplo, não elitista e que deveria ter acesso a livros de qualidade exigente:

quanto a mim que sou teimoso, termos impresso o livro em papel pesado e caro, com tendência de resto a valer cada vez mais. Um livro não deve ser objeto de luxo e nós teremos que reexaminar êste assunto mais tarde ou mais cedo. De preferência mais cedo para que o que produzimos possa chegar, como desejamos, a bairros menos privilegiados.

(Muralha, 1963aMuralha, S. (1963a). Carta de Sidónio Muralha a Fernando Lemos, em 22/03/1963. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha.)

Conforme o próprio Sidónio Muralha relata em carta a Heitor Grillo (28/02/1965), o ano de 64, além de castigá-lo duramente com a dor pelo desaparecimento de Cecília, ainda o levou a ter que lidar com a concordata para pagar a quem devia e encerrar as suas atividades, que não foram compreendidas e apoiadas como deveriam e por quem deveria. A Giroflé estava organizada pela participação de 80 pessoas, entre escritores, artistas plásticos, pedagogos e psicólogos, que a apoiavam “moralmente”, enquanto Sidónio Muralha havia entrado com milhões de cruzeiros. Por isso, fechar as portas da editora e presenciar o fechamento, em média, de 5 lojas comerciais por dia na cidade de São Paulo, o deixou desanimado com a situação econômica do nosso país: “o insucesso de Giroflê magoou-me mais do que o dinheiro que perdi” (Muralha, 1965Muralha, S. (1965). Carta de Sidónio Muralha a Heitor Grillo em 28/02/1965. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1...
).

Mas talvez essas condições sociais e políticas do nosso país na década de 60 do século XX não expliquem de todo as causas do fechamento da editora e do pouco retorno financeiro que os fundadores tiveram com ela. Por diversas vezes, Sidónio buscou avaliar a causa do “fracasso” da editora e propor adequações ao projeto editorial dos livros, lutando contra a sua “teimosia”, aquela em que ele se apoiava: renovar a literatura infantil em seu sentido estético e literário:

Na Sears, os livros estiveram expostos por alturas do Natal. Pessoas passaram, abriram, cheiraram os nossos livros, algumas abanaram-se com eles julgando que eram leques, outras perguntaram quantos lápis havia dentro. Mas nenhum comprou, o que faz acreditar que estamos no bom caminho, pois a nossa linguagem escrita e plástica só pode ser captada por crianças ou por aqueles adultos que cresceram no nosso século, que é o século de linhas despojadas e claras. As crianças são as melhores propagandistas do livro.

(Muralha, 1963aMuralha, S. (1963a). Carta de Sidónio Muralha a Fernando Lemos, em 22/03/1963. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha.)

Para Sidónio, a pouca aceitação dos livros vinha principalmente da incompreensão do público adulto, responsável por escolher e adquirir os livros para as crianças e incapaz de alcançar o pioneirismo de sua proposta. Mas havia também a questão do preço dos livros, considerando-se o fato de que foram comercializados em um tempo de economia em frangalhos. Para os fundadores da editora, a concepção de (boa) literatura infantil assumida pela equipe Giroflé dificultava sua aquisição pelo público: “a imagem impressa fica uma fortuna. A imagem exige cores, bom papel, impressão excelente, desenho artístico. E como fazer livros assim, com todas essas virtudes gráficas e estéticas, se não for possível vendê-los a altos preços?” (Pires, 1962Pires, J. H. (1962, dezembro 27). Mundo dos livros. Jornal Diário da Noite.).

O que, de fato, é possível inferir é que, mesmo com o esforço dos fundadores e da equipe de profissionais envolvidos, a editora não conseguiu angariar fundos para cumprir com seus pagamentos pelos direitos autorais, tendo o acerto com a família de Cecília Meireles se arrastado por dois anos após sua morte.

No período de 1965-1967, foram trocadas várias cartas sobre esse assunto entre Sidónio Muralha e Heitor Grillo, com longas justificativas do fundador da Giroflé por não conseguir cumprir com o pagamento às herdeiras de Cecília, como vemos na carta de 1965.

Como a Giroflé era, antes de mais, uma congregação de escritores à volta de uma ideia, nunca fizemos contratos, estabelecendo que a comissão de 10% (5% para o escritor e 5% para o desenhador) incidiria sobre o valor fixo que era, nos últimos acasos de 800c$, sendo este montante o que deveria voltar à Giroflé, em média, depois da venda de todos os volumes. Tudo isto escapava às normas tradicionais: mas todos estiveram de acordo, a finalidade primeira de Giroflé sendo levantar o nível da literatura infantil de língua portuguesa sem exagerar os preços e oferecendo aos leitores uma alta qualidade gráfica. Estou aguardando agora um contrato-tipo que pedi a pessoa amiga e no qual me basearei para lhe enviar o documento que me pediu. Dentro do preço acima de 800C$ que tinha estabelecido para os 4.500 exemplares impressos, fixarei como deseja, uma comissão de 10% o que corresponde a dizer que Giroflé deverá pagar aos herdeiros de Cecília, tão depressa lhe seja possível, uma soma de 280 contos (340 - 60 já pagos). Presumo que poderá fazê-lo no segundo semestre deste ano. Vou agora mais uma vez, tentar obter o tal contrato-tipo e muito em breve lhe enviarei o documento que necessita.

(Muralha, 1965Muralha, S. (1965). Carta de Sidónio Muralha a Heitor Grillo em 28/02/1965. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
https://drive.google.com/drive/folders/1...
)

Um desfecho não lucrativo para uma primorosa edição de Ou isto ou aquilo, que deve ter circulado pouco, chegando a um número pequeno de leitores infantis, e da qual raramente encontramos exemplares disponíveis em sebos e alfarrábios, mesmo tendo sido impressos 4.500 livros por ocasião da primeira edição.

Figura 8
Recibo de pagamento direitos autorais a Heitor Grillo

RECIBO

Na qualidade de inventariante do espólio de minha falecida esposa Cecília Meireles, recebi do Sr. Sidonio Muralha 100 (cem) exemplares do livro “Ou Isto ou aquilo” de Cecília, editado, sem contrato, pela Editôra Giroflé, de São Paulo.

O presente recebimento desses 100 (cem) exemplares é feito como pagamento, aos herdeiros de Cecília Meireles, dos direitos autorais a que teriam direito, pela edição já esgotada do citado livro.

Rio de Janeiro, em 14 de março de 1967.

Trabalhou todo o dia tanto! Desde a madrugada! Descansa entre as flores

Ao longo de toda a produção literária de Cecília Meireles destinada aos jovens leitores é possível revisitar projetos editoriais distintos produzidos para um único texto, como, por exemplo, Olhinhos de gato (Sena, 2021Sena, Y. M. (2021). Olhinhos de Gato, de Cecília Meireles: história(s) de uma obra. [Tese de doutorado em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas].) ou Ou Isto Ou Aquilo (Ferreira, 2009Ferreira, N. S. A. (2009). Um estudo das edições de Ou isto ou aquilo, Pro-Posições, 20(2), 185-203. https://doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012
https://doi.org/10.1590/S0103-7307200900...
, 2021), reafirmando a longevidade e o prestígio desta escritora, ao longo do tempo. São inclusões e mudanças de estratégias tipográficas e textuais que renovam e reinventam a apresentação do “mesmo” texto às distintas gerações de leitores, inclusões e mudanças estas que se caracterizam por outros códigos de interpretação, outras finalidades e práticas de leitura, outros usos e modos de ler. Mas também são projetos editoriais que se modificam, orientados pelas mudanças sociais, culturais e educacionais que envolvem as concepções de educação, infância e leitura (Ferreira, 2009Ferreira, N. S. A. (2009). Um estudo das edições de Ou isto ou aquilo, Pro-Posições, 20(2), 185-203. https://doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012
https://doi.org/10.1590/S0103-7307200900...
, 2021Ferreira, N. S. A. (2021). Um estudo das (sete) edições de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles. In E. S. Oliveira (Org.), 120 anos de Cecília Meireles (pp. 198-217). Schreiben. [E-book e impresso]. EISBN 978-65-89963-25-7. ISBN 978-65-89963-26-4.DOI: 10.29327/546141
https://doi.org/10.29327/546141...
) e os interesses das próprias editoras.

A primeira edição de Ou isto ou aquilo nos ajuda a construir as condições em que ela foi arquitetada e lançada como um projeto editorial distinto de convite à leitura: em seu formato, no tipo das ilustrações, na coleção em que ela se insere, entre outros.

Em condições sociais, políticas e econômicas adversas, apresentou-se como uma obra qualitativamente diferente, em relação ao que estava disponível no mercado dos livros de literatura infantil. Editada quando a autora estava com a saúde debilitada, a edição pode ter representado para Cecília uma feliz oportunidade de trabalhar com colegas-amigos que compartilhavam com ela princípios que defendera durante toda a vida: uma boa literatura, acompanhada de uma educação cultural e artística para as crianças.

Uma edição distinta das demais que a sucederam. Diferente. Mais bonita? Mais atraente? Superior às demais? Não é o caso de atribuirmos juízos de valor. Caberia às crianças daquela época, naquelas condições, acolhê-la (ou não) em suas mãos pequeninas: um objeto de desejo e de permanência consigo. Caberia a elas reconhecer-se neste livro como uma criança moderna, criativa, inteligente, bem-humorada e sensivelmente tocada, igualmente, pelas imagens poéticas de Cecília Meireles e pelas xilografias de Maria Bonomi, em um projeto intencionalmente criado por uma equipe, no polo editorial, com requinte e vigilância.

Talvez esta primeira edição de Ou isto ou aquilo possa ter sido um “amor à primeira vista” (Meireles, 1951Meireles, C. (1951). Problemas da literatura infantil (1.ª ed.). Belo Horizonte: Imprensa Oficial., p. 115), sempre recordado com carinho pela encadernação especial, pelas ilustrações, pela cor e textura dos papéis, como um objeto (cultural) que se inscreve na memória dos leitores. E lembrado pelos pequenos leitores nos versos guardados de cor, nas imagens poéticas, no discreto humor e intenso lirismo que os poemas inspiram, permitindo indagar sobre o “mistério que a criatura humana, desde o nascimento, pressente consigo, e conserva num zeloso silêncio. Depois é que a vida embrutece” (Meireles, 1951Meireles, C. (1951). Problemas da literatura infantil (1.ª ed.). Belo Horizonte: Imprensa Oficial., p. 115).

  • 2
    Normalização, preparação e revisão textual: Leda Maria de Souza Freitas Farah leda.farah@terra.com.br
  • 3
    Em uma consulta ao Catálogo de dissertações e de teses da Capes, por exemplo, identificamos como resultado para o termo “Cecília Meireles” um total de 16.358 trabalhos registrados desde 1987, data em que se inicia este Catálogo. https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/
  • 4
    Ao registrar “Cecília Meireles”, como termo de busca no Scielo Scientific Electronic Library On-line, por exemplo, foram encontrados apenas dez artigos, sendo que apenas um deles (Ferreira, 2009Ferreira, N. S. A. (2009). Um estudo das edições de Ou isto ou aquilo, Pro-Posições, 20(2), 185-203. https://doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012
    https://doi.org/10.1590/S0103-7307200900...
    ) tem como objeto de estudo a obra em questão. Os artigos indagam pelas representações possíveis de serem inferidas em suas obras, propõem práticas de leitura literária, tematizam aspectos estéticos ou educacionais de sua produção. https://www.scielo.br
  • 5
    Na escrita deste artigo, respeitaremos a ortografia vigente na época da publicação da primeira edição e dos documentos disponíveis na Fundação Sidónio Muralha.
  • 6
    Cecília Meireles casou-se, pela segunda vez, com Heitor V. S. Grillo (1902-1971), engenheiro agrônomo e professor universitário.
  • 7
    Fernando Correia Dias (1892-1935) foi artista plástico luso-brasileiro, primeiro marido de Cecília Meireles entre 1922-1935, com quem teve três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda.
  • 8
    Por coincidência, “Último andar” é um dos poemas que compõe a obra Ou isto ou aquilo. Nele, o eu lírico descreve este lugar como aquele onde lá ele quer morar: “No último andar é mais bonito:/do último andar se vê o mar./É lá que eu quero morar./O último andar é muito longe:/custa-se muito a chegar./Mas é lá que eu quero morar./Todo o céu fica a noite inteira/sobre o último andar/É lá que eu quero morar./Quando faz lua no terraço/fica todo o luar./É lá que eu quero morar./Os passarinhos lá se escondem/para ninguém os maltratar:/no último andar./De lá se avista o mundo inteiro:/tudo parece perto, no ar./É lá que eu quero morar:/no último andar./No último andar é mais bonito:/do último andar se vê o mar./É lá que eu quero morar./O último andar é muito longe:/custa-se muito a chegar./Mas é lá que eu quero morar./Todo o céu fica a noite inteira/sobre o último andar/É lá que eu quero morar./Quando faz lua no terraço/ fica todo o luar./É lá que eu quero morar./Os passarinhos lá se escondem/para ninguém os maltratar:/no último andar./De lá se avista o mundo inteiro:/tudo parece perto, no ar./É lá que eu quero morar:/no último andar”. (Meireles, 1964Meireles, C. (1964). Ou isto ou aquilo (1.ª ed., Maria Bonomi, Ilustr.). Giroflé.)
  • 9
    Sidónio Muralha é reconhecido como um dos neorrealistas portugueses de primeira geração. Exilou-se por quase duas décadas no Congo, durante a ditadura de Salazar. No início dos anos 60, veio morar no Brasil e aqui ficou até a sua morte.
  • 10
    Maria Bonomi (1935-) é uma renomada artista plástica ítalo-brasileira que trabalha como gravadora, escultora, pintora, muralista, curadora. Nos anos 60, ela já estava totalmente rendida à arte da xilogravura e reconhecida pela crítica no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. A ela, minha gratidão infinita pela disponibilidade em me fornecer, por comunicação pessoal (e-mails), informações, textos e vídeo referentes a Ou isto ou aquilo, em que ela participou como entrevistada ou que recuperou, pela memória, histórias sobre a produção da primeira edição obra de Cecília Meireles.
  • 11
    O projeto estético-visual de Ou isto ou aquilo que determina a disposição da ilustração a ocupar uma página diferente daquela em que está o poema pode ser uma estratégia editorial (e pedagógica) que qualifica ambas as linguagens – da ilustração e dos poemas - como igualmente importantes e com uma função artística intencionalmente conduzida pela equipe de produção do livro.
  • 12
    Fernando Lemos foi o responsável pelo formato retangular dos livros da Coleção Giroflé-Girafa e pela imagem das caixas de lápis de cor do material escolar, que foi logo reconhecido como um diferencial de boa qualidade (Lemos, 2003Lemos, F. (2003). Giroflé. In F. Lemos, & R. M. Leite, A Missão Portuguesa. Rotas entrecruzadas (pp. 161-192). Ed. Unesp EDUSC.) e como uma estratégia orientada pela imagem de leitor infantil, mas também escolar.
  • 13
    Hellen B. Muralha (1931-) é médica e foi professora universitária na UF Paraná. Foi casada com Sidónio Muralha de 1978 a 1982 (ano da morte dele). Muito tenho a agradecer a ela pela gentileza de me conceder uma conversa e disponibilizar os documentos guardados na Fundação Sidónio Muralha. Também agradeço aos funcionários a oportunidade de acesso a todos os documentos digitalizados da Fundação referentes à Editora Giroflé, via comunicação pessoal (por e-mail).

Referências

  • Abud, T. F. D. (2012). Either this ou aquilo: Traduzindo a poesia infantil de Cecília Meireles para o inglês [Dissertação de mestrado em Estudos da Tradução, Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina]. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/99368
    » https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/99368
  • Bonomi, M. (2014). Entrevista a Leila Gouveia. In A. M. L. Mello (Org.), Homenagem a Cecília Meireles [Vídeo apresentado no Colóquio Internacional de Poesia Moderna, PUC de Porto Alegre, RS]. www.mariabonomi.com.br
    » www.mariabonomi.com.br
  • Burke, P. (2005). O que é a história cultural? Zahar.
  • Calvino, I. (1993). Por que ler os clássicos. Companhia das Letras.
  • Camargo, L. H. de. (1998). Poesia infantil e ilustração: estudo sobre Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles. [Dissertação de mestrado em Letras, Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas]. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643414
    » https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643414
  • Conte, J. (2019, julho 20). Sidónio Muralha, o poeta viajante que aportou em Curitiba. Jornal Plural. Cultura. https://www.plural.jor.br/
    » https://www.plural.jor.br/
  • Chartier, R. (1990). História cultural - entre práticas e representações. Bertrand.
  • Damasceno, D. (1987). Poesia do Sensível e do Imaginário In C. Meireles, Obra poética (pp.13-28). Nova Aguilar.
  • Darnton, R. (1992). História da Leitura. In P. Burke. (Org.), A escrita da história. Novas perspectivas (pp.197-236). UNESP.
  • Dias, F. C. (2002). Para Fernandinha ler e contar estas histórias da avó, Cecília Meireles, para os seus irmãozinhos. In A. M. L. Mello (Org.), Cecília Meireles e Murilo Mendes (1901-2001) (pp. 347-358). Uniprom.
  • Dória, R. P. (1995). A xilogravura em Maria Bonomi e Renina Katz. Revista de História da Arte e Arqueologia, 2, 306-309.
  • Editora Giroflé (s.d.). Folder para divulgação [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
    » https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
  • Editora Giroflé (1962, novembro). Cartilhas 1; 2; 3 – Boletins pedagógicos de divulgação da Editora Giroflé [digitalizados]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
    » https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
  • Ferreira, N. S. A. (2009). Um estudo das edições de Ou isto ou aquilo, Pro-Posições, 20(2), 185-203. https://doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012
    » https://doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012
  • Ferreira, N. S. A. (2021). Um estudo das (sete) edições de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles. In E. S. Oliveira (Org.), 120 anos de Cecília Meireles (pp. 198-217). Schreiben. [E-book e impresso]. EISBN 978-65-89963-25-7. ISBN 978-65-89963-26-4.DOI: 10.29327/546141
    » https://doi.org/10.29327/546141
  • Ferreira, N. S. A., & Maziero, M. D. S. (2023, julho/setembro) Editora Giroflé: um lampejo de poesia e sonho no mercado de livros para a infância brasileira (1962-1964). Textura Revista de Educação e Letras, 25(63), 240-272. http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/7624/4712
    » http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/7624/4712
  • Ferreira, N. S. A., & Santos, M. L. C. (2022). João Köpke (1852-1926): Fez-se mestre-escola, e mestre-escola morreu! In L. A. P. Menezes (Org.), Educadores paulistas: histórias de vida e ações no âmbito educacional (pp.198-217). Autores Associados.
  • Gazeta de S. Paulo. (1962, dezembro 07). [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
    » https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
  • Gouveia, l. (2014). Cecília e Maria: “Ou isto ou aquilo”. Nota breve sobre o vídeo [Homenagem a Cecília Meireles]
  • Grillo, H. (1965). Carta de H. Grillo a Sidónio Muralha, em 12.05.1965. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
    » https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
  • Lemos, F. (2003). Giroflé. In F. Lemos, & R. M. Leite, A Missão Portuguesa. Rotas entrecruzadas (pp. 161-192). Ed. Unesp EDUSC.
  • Livros infantis (1962, novembro 25). Folha de São Paulo. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
    » https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
  • Meireles, C. (1951). Problemas da literatura infantil (1.ª ed.). Belo Horizonte: Imprensa Oficial.
  • Meireles, C. (1964). Ou isto ou aquilo (1.ª ed., Maria Bonomi, Ilustr.). Giroflé.
  • Meireles, C. (1969). Ou isto ou aquilo (2.ª ed., Rosa Frisoni, Ilustr.). Melhoramentos.
  • Meireles, C. (1977). Ou isto ou aquilo (3.ª ed., Eleonora Affonso, Ilustr.). Civilização Brasileira.
  • Meireles, C. (1987). Ou isto ou aquilo (4. ª ed., Fernanda Correia Dias, Ilustr.). Nova Fronteira.
  • Meireles, C. (1990). Ou isto ou aquilo (5.ª ed., Beatriz Berman, Ilustr.). Nova Fronteira; FNDE/MEC (Biblioteca da escola).
  • Meireles, C. (2002). Ou isto ou aquilo (6.ª ed., Thais Linhares, Ilustr.). Nova Fronteira.
  • Meireles, C. (2012). Ou isto ou aquilo. (7.ª ed., Odilon de Moraes, Ilustr.). Global.
  • Muralha, S. (1963a). Carta de Sidónio Muralha a Fernando Lemos, em 22/03/1963 [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha.
  • Muralha, S. (1963b). Carta de Sidónio Muralha a Cecília Meireles em 07/11/1963. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
    » https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
  • Muralha, S. (1965). Carta de Sidónio Muralha a Heitor Grillo em 28/02/1965. [digitalizado]. Fundação Sidónio Muralha. https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
    » https://drive.google.com/drive/folders/1-50HvdwqK1louflo1svuqaYwxB9pzjkq?usp=sharing
  • Pires, J. H. (1962, dezembro 27). Mundo dos livros. Jornal Diário da Noite
  • Releituras de Cecília Meireles. Cronologia Biobibliográfica da Poetisa. (s.d.). http://www2.assis.unesp.br/arquivocecilia/index3.html
    » http://www2.assis.unesp.br/arquivocecilia/index3.html
  • Saroldi, L. C. (2001). Escolha o seu sonho. In M. S. Neves, Y. L. Lôbo, & A. C. V. Mignot (Orgs.), Cecília Meireles: A Poética da Educação Loyola.
  • Sena, Y. M. (2021). Olhinhos de Gato, de Cecília Meireles: história(s) de uma obra. [Tese de doutorado em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas].
1
Editor responsável: Silvio Donizetti de Oliveira Gallo. https://orcid.org/0000-0003-2221-5160

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    01 Jun 2022
  • Revisado
    27 Ago 2022
  • Aceito
    31 Ago 2022
UNICAMP - Faculdade de Educação Av Bertrand Russel, 801, 13083-865 - Campinas SP/ Brasil, Tel.: (55 19) 3521-6707 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: proposic@unicamp.br